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ELETROMAGNETISMO

Mariana Sacrini
Ayres Ferraz
UNIDADE 2
Trabalho e energia
potencial
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Identificar que a energia potencial elétrica é análoga à energia po-


tencial gravitacional.
 Relacionar que toda variação de energia potencial elétrica é igual ao
trabalho realizado por um campo elétrico sobre uma carga.
 Reconhecer que a energia potencial elétrica é a base do que, costu-
meiramente, conhecemos como energia elétrica.

Introdução
Neste capítulo, você vai estudar sobre energia potencial elétrica. Primeira-
mente, você verá sobre as similaridades entre a energia potencial elétrica
e a energia potencial gravitacional. Depois, você poderá definir a energia
potencial em termos de trabalho. Verá também sobre conservação de
energia, como partículas podem ser aceleradas e como a energia potencial
transforma-se em energia elétrica.

Energia potencial gravitacional


versus energia potencial elétrica
Existem muitas semelhanças entre os fenômenos gravitacionais e os eletros-
táticos. Podemos citar as semelhanças entre a lei da gravitação de Newton e a
lei de Coulomb. A Tabela 1 mostra as principais características dessas leis. Se
observarmos suas formulações, notamos que estas são análogas. A principal
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diferença entre elas é que a força gravitacional é sempre atrativa, enquanto a


força eletrostática pode ser tanto atrativa como repulsiva.

Tabela 1. Características principais da lei da gravitação e da lei de Coulomb.

Lei da gravitação Lei de Coulomb

Formulação m1m2 q1q2


F=G F=k
r2 r2

Definição m1 e m2 são as massas das k é a constante eletrostática,


dos termos partículas em quilograma q1 e q2 são os módulos das
(kg), r é o módulo da cargas em Coulomb (C), r é
distância entre elas em o módulo da distância entre
metros (m), as cargas em metros (m), e
e G é a constante de F é o módulo da força em
gravitação universal, Newtons (N). A constante
G = 6,67 · 10 -11 N·m2/kg2. eletrostática k é equivalente
1
a = 8,99 . 109 N . m2/C2, e
4πε0
a grandeza ε0 é chamada de
constante de permissividade, e
seu valor é 8,85·10 -12 C2/N·m2.

Enunciado O módulo da força O módulo da força eletrostática


gravitacional entre duas entre duas partículas carregadas
massas é proporcional à é proporcional à multiplicação
multiplicação das massas e dos módulos das cargas e
inversamente proporcional inversamente proporcional
ao módulo da distância entre ao módulo da distância entre
as massas ao quadrado. as partículas ao quadrado.

Esquema

Fonte: Halliday, Resnick e Walker (1996a, 1996b) e Bauer, Westfall e Dias (2012).
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Como consequência das semelhanças comentadas no parágrafo anterior


entre as leis da gravitação e de Coulomb, podemos afirmar que qualquer
dedução e afirmação feita a partir da lei sobre gravitação pode ser transferida
para a eletrostática, e vice-versa (HALLIDAY; RESNICK; WALKER, 1996b).
Vamos ver um caso: imagine uma bola em queda livre nas proximidades da
Terra, como mostrado na Figura 1a. Podemos dizer que, enquanto a bola cai,
do ponto inicial i para o ponto final f, a sua energia potencial é transformada
em energia cinética. A Figura 1b mostra como seria o análogo eletrostático:
temos uma carga teste q0 sob a ação de um campo elétrico, como uma “queda
livre”. A carga movimenta-se de i para f pela a ação do campo elétrico. Devido
às semelhanças matemáticas entre as leis, como visto anteriormente, podemos
concluir que também existe um análogo em relação à transferência de energia
nesse caso. Ou seja, temos que conseguir encontrar uma energia potencial
elétrica U, dependente da posição da partícula no campo elétrico.

i i

m0 + q0

m0g q0E

f f

Gravitação Eletrostática
(a) (b)
Figura 1. Ação das forças gravitacionais e eletrostática. a)
Força gravitacional sobre uma massa teste em queda livre.
b) Força eletrostática sobre uma carga teste.
Fonte: Halliday, Resnick e Walker (1996b, p. 64).
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Energia potencial elétrica


Voltando para o exemplo mostrado na Figura 1, para o caso gravitacional,
podemos definir a diferença de energia potencial entre os pontos inicial i e
final f como:

∆U=Uf-Ui=-Wif

Onde Ui é a energia potencial gravitacional no ponto i, Uf é a energia poten-


cial gravitacional no ponto f, e Wif é o trabalho realizado pela força gravitacional
sobre a massa teste quando esta se move entre os pontos i e f. Já para o caso
eletrostático, por analogia, podemos definir a diferença de energia potencial
elétrica de uma carga teste q0 sob a ação de um campo elétrico quando essa
se move do ponto i para o ponto f: a diferença de energia potencial elétrica
entre os pontos i e f é o trabalho negativo realizado pela força eletrostática
durante o seu movimento.
Podemos também definir a energia potencial elétrica de uma carga teste em
um único ponto. Para isso, escolhemos o ponto inicial i a uma distância muito
grande e atribuímos o valor zero para a energia potencial nesse ponto. Assim:

U=-W∞f

Onde Ui=0 , Uf=U e W∞f é o trabalho realizado sobre a carga teste pelo
campo elétrico quando a carga move-se do infinito até o ponto f em questão.
A unidade de energia usada é o Joule (J), mas existe outra unidade chamada
elétron-volt (eV) também bastante usada. Um eV é igual à quantidade de
energia que um elétron adquire, acelerando do repouso por uma diferença de
potencial de um volt, e 1 eV = 1,6·10 -19J.
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A escolha de pontos no infinito será recorrente em estudos de eletromagnetismo.


Esse ponto é escolhido como um ponto de referência e, para este ponto, o valor da
energia potencial, como visto neste capítulo, é considerada zero.
Podemos pensar esse ponto como aquele longe o suficiente das cargas ou dos corpos
que estamos analisando. Assim, a ação de campos elétricos e as forças eletrostáticas
nesse ponto no infinito serão nulas.

Forças conservativas
As forças eletrostáticas, como as forças gravitacionais, são consideras conservativas. Mas
o que isso significa? Significa que o trabalho realizado por essa força é independente
da trajetória. Veja a figura a seguir.

h=H Ep = mgH

h=0 Ep = 0

Suponha que tenhamos um corpo de massa m e queremos movê-lo da posição


h=0, para a posição h= H. Para isso, temos diversos caminhos possíveis, como o 1 e o
2, mostrados na figura. Se calcularmos o trabalho, ou seja, a diferença entre a energia
potencial, entre as duas posições, ele será o mesmo para ambos os caminhos. Ou seja,
o trabalho só depende da posição inicial e final da massa.
Um teste que podemos fazer para determinar se uma força é conservativa é o
seguinte: se a partícula ou o corpo percorrer um caminho fechado, ou seja, o ponto
final da trajetória é igual ao ponto inicial, o trabalho deve ser igual a zero. Caso contrário
a força é não conservativa.
Assim, caso tivermos uma massa ou uma partícula carregada em um campo elétrico,
se elas percorrerem um caminho fechado, o trabalho realizado pelas forças gravitacional
ou eletrostática será zero.
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Suponha uma carga q=-2,0·10 -8C imersa em um campo elétrico E como mostrado
na figura a seguir.

d
E

A carga encontra-se inicialmente no ponto i e se deslocará verticalmente até o ponto


f, percorrendo uma distância d. Qual a diferença de energia potencial elétrica da carga
entre os pontos i e f? Considere E = 100 N/C e d = 20m.

Sabemos que o trabalho realizado por uma força é dado por:


W=F·d

Onde F é a força eletrostática e d o deslocamento da partícula.


A força eletrostática atuante na partícula é F = qE. Como o campo aponta para baixo,
e a carga é negativa, a força aponta para cima. Assim:

W = F ∙ d = qE ∙ d
= qEdcos (180°) = -qEd
= -(-2,0·10 -8)·100·20 = 4000,0·10 -8 = 4,0·10 -5 J.

Agora, a diferença de energia potencial elétrica da carga é:

∆U = -Wif = -4,0·10-5 J.

O sinal negativo indica que a energia potencial elétrica diminui quando a carga sobe.
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O trabalho realizado pela força eletrostática sobre uma partícula carregada será nulo,
se ela mover-se perpendicularmente ao campo elétrico.
Vimos que o trabalho é dado por:

W = F ∙ d = qE ∙ d = qEdcos(θ)

Assim, supondo que q, E e d sejam diferentes de zero, para o trabalho ser zero,
precisamos que cos (θ)=0. Ou seja, θ tem que ser igual a 90° para o trabalho ser nulo.

Conservação da energia
Vamos olhar novamente para o caso de uma partícula carregada em um campo
elétrico. Suponha que a partícula carregada foi abandona em um campo elé-
trico. Nessa partícula, atuará uma força eletrostática F = qE , que adquirirá
uma movimentação, como mostrado na Figura 2. A força F gera um traba-
lho na partícula, levando à sua movimentação. Assim, a energia potencial
transforma-se em energia cinética. Como as forças eletrostáticas, igualmente
as forças gravitacionais são conservativas, a energia mecânica total do sistema
conserva-se, ou seja, a soma das energias potencial e cinética é constante:

Emec=Epot+Ecin=cte.

Se quisermos, então, calcular a variação da energia entre os pontos A e


B, temos:

∆Emec=∆Epot+∆Ecin=0

Assim, a variação da energia potencial mais a variação da energia cinética


tem que ser zero. Ou seja, se a energia cinética aumenta, com a movimenta-
ção da partícula, a energia potencial tem que diminuir na mesma proporção,
∆Ecin=-∆Epot. Assim, quando colocamos uma partícula carregada em um campo
elétrico, a energia potencial é transformada em energia cinética.
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F F
B A B
A

E E
(a) (b)

Figura 2. Movimentação de partículas carregadas em um campo elétrico. a) A força ele-


trostática atuante na partícula positiva tem o mesmo sentido que o campo elétrico, e
ela tende a mover-se no sentido de A para B. b) A força eletrostática atuante na partícula
negativa tem sentido oposto ao do campo elétrico, e ela tende a mover-se de B para A.

O fenômeno mostrado acima é a base para os famosos aceleradores de


partículas, como o LHC (Large Hadron Collider) na Suíça ou o acelerador
do Laboratório Nacional de Luz Síncroton no Brasil. Nesses aceleradores,
são utilizadas partículas altamente aceleradas para estudos de estrutura da
matéria. Eles também produzem radiações eletromagnéticas, como raios-X,
que têm muitas aplicações em diversos campos da ciência, como química,
biologia e medicina.

Quer saber mais sobre aceleradores? Confira o vídeo a seguir:

https://goo.gl/isZMrX

A transformação da energia potencial em energia cinética também é muito


importante para a geração da energia elétrica que usamos no nosso dia a dia.
Esse é o princípio da geração de energia elétrica nas usinas hidrelétricas. A
energia potencial é armazenada pela represa de água que, quando aberta, a
água cai e gira turbinas que gerarão a energia elétrica.
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Quer saber mais sobre como é gerada a energia elétrica nas hidrelétricas? Confira o
vídeo a seguir:

https://goo.gl/JRAeDB

Neste outro link, temos informações sobre as mais diversas formas de gerar energia,
como o uso de carvão, biogás, etc.:

https://goo.gl/Rp2zyF

BAUER, W.; WESTFALL, G. D.; DIAS, H. Física para universitários. Porto Alegre: AMGH,
2012. (Eletricidade e Magnetismo).
HALLIDAY, D.; RESNICK, R.; WALKER, J. Fundamentos de física. 4. ed. Rio de Janeiro: LTC,
1996a. (Gravitação, Ondas e Termodinâmica, v. 2).
HALLIDAY, D.; RESNICK, R.; WALKER, J. Fundamentos de física. 4. ed. Rio de Janeiro: LTC,
1996b. (Eletromagnetismo, v. 3).

Leituras recomendadas
LORENA, S. Ampola de Crookes. InfoEscola, [2017?]. Disponível em: <https://www.
infoescola.com/fisica/ampola-de-crookes/>. Acesso em: 23 jan. 2018.
PILHAS e baterias. [S.l.]: UFRGS, [2000?]. Disponível em: <http://www.if.ufrgs.br/tex/
fis01043/20032/Viviane/comofuncionam.htm>. Acesso em: 23 jan. 2018.
Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.
Conteúdo:

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