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LOQ 4083 - Fenômenos de

Transporte I

FT I – 06
Introdução aos Fluidos em
Movimento (Cinemática dos fluidos)

Prof. Lucrécio Fábio dos Santos


Departamento de Engenharia Química
LOQ/EEL

Atenção: Estas notas destinam-se exclusivamente a servir como roteiro de estudo. Figuras e
tabelas de outras fontes foram reproduzidas estritamente com fins didáticos.
Objetivos

Ao terminar este roteiro você deverá ser capaz de:

Classificar o escoamento de um fluido;


Diferenciar escoamento laminar de turbulento;
Reconhecer trajetória, linha de corrente e tubo de corrente;
Descrever o movimento de um fluido, quanto à visão lagrangiana e
euleriana;
Relacionar velocidade e vazão em algumas aplicações de engenharia.

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Introdução

Cinemática dos fluidos

Estuda o movimento dos fluidos sem levar em conta suas causas.


Inicialmente estudaremos os fluidos ideais.

Todos os fluidos reais possuem viscosidade. Entretanto, há muitos casos de


escoamento em que é razoável desprezar os efeitos viscosos.

Há diferentes tipos de escoamento, como, por exemplo, os apresentados na


Figura 1.

3
Figura 1 – Possível classificação do escoamento
4
Regimes ou movimentos transiente e permanente

Regime permanente é aquele em que as propriedades do fluido num ponto


são independentes do tempo, ou seja:

V p 
0 0 0
t t t

Regime transiente ou variado é aquele em que as condições do fluido em


alguns pontos ou regiões de pontos variam com o passar do tempo.

V p 
0 0 0
t t t

5
Um exemplo prático é o escoamento
em um reservatório, conforme
apresentado na Figura 2:

NC: nível cte

Figura 2 – Escoamento em um reservatório


6
A Figura 3(a, b) mostra um reservatório de grandes dimensões, em que,
apesar de haver uma descarga do fluido, o nível não varia sensivelmente com
o passar do tempo, de forma que o regime pode ser considerado
aproximadamente como regime permanente.

(a)

(b)
Figura 3(a, b) – Reservatório de grande dimensão
7
Já, a Figura 4(a, b) mostra um reservatório em que a seção transversal
é relativamente pequena devido à descarga do fluido. Isso faz com
que o nível varie sensivelmente com o passar do tempo, havendo uma
variação significativa da configuração do sistema, caracterizando um
regime transiente ou variado.

(a)

(b)

Figura 4(a, b) – Reservatório de pequena dimensão


8
Escoamento laminar e turbulento
A existência desses dois tipos de escoamentos foi demonstrada por Osborne
Reynolds (1883) (Figuras 5 e 6).

Figura 5 – Aparato experimental


utilizado por Reynolds Figura 6 – Reprodução dos esquemas
feitos por Reynolds dos movimentos

a) Laminar;
b) Turbulento
c) Visualização da condição (b) com faísca elétrica
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Após investigações experimentais e teóricas, Reynolds concluiu que o critério
mais apropriado para classificar o tipo de escoamento de um fluido líquido se
resume à expressão (1):

 V D VD sendo:
Re   (1) V = velocidade média do fluido
  D = diâmetro interno do tubo
μ = viscosidade dinâmica do fluido
ρ = massa específica do fluido
ʋ = viscosidade cinemática do fluido

O significado fundamental do número de Reynolds é que este permite avaliar


o tipo do escoamento (a estabilidade do fluxo) e pode indicar se flui de
forma laminar ou turbulenta.

Reynolds verificou que a transição laminar-turbulenta ocorria para um


número de Reynolds denominado de crítico (Recrit), que não era único, já que
era afetado pelo grau de pertubação presente.
10
O valor normalmente aceito para o número de Reynolds crítico de projeto é
Recrit ≈ 2.300. Entretanto, dependendo das condições experimentais, Recrit
poderá ocorrer com valores bem mais elevados.

Na maioria das situações práticas de escoamento no interior de dutos,


admite-se os seguintes valores:

Re Movimento
< 2.300 Laminar
2.300 < Re < 4.000 Transição
Laminar
> 4.000 Turbulento

Transição

Turbulento
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Trajetória

Trajetória é o lugar geométrico dos pontos ocupados por uma partícula em


instantes sucessivos (Figura 9).

Figura 9 – Trajetória

Uma visualização da trajetória será obtida por meio de uma fotografia, com
tempo de exposição, de um flutuante colorido colocado num fluido em
movimento.

12
 Linha de corrente

Linha de corrente é a linha tangente aos vetores velocidade de


diferentes partículas no mesmo instante (Figura 10).

LC
Instante t

Figura 10 – Linha de corrente em um campo de escoamento

As linhas de corrente e as trajetórias coincidem geometricamente no regime


permanente.
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Tubo de corrente

É a superfície de forma tubular


formada pelas linhas de
corrente que se apóiam numa
linha geométrica fechada
qualquer (Figura 11).

Figura 11 – Tubo de corrente

Propriedades dos tubos de corrente


a) São fixos quando o regime é permanente;
b) São impermeáveis à passagem de massa, isto é, não existe passagem de
partículas de fluido através do tubo de corrente.
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Descrição do Movimento dos Fluidos

Descrição Lagrangiana

 O método de Lagrange descreve o movimento de cada partícula,


acompanhando-a em sua trajetória total.
 O observador desloca-se simultaneamente como a partícula.
 As partículas individuais são observadas como uma função do tempo.
 A posição, a velocidade e a aceleração de cada partícula são
apresentadas como:

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Descrição Euleriana

 O método de Euler consiste em adotar um intervalo de tempo, escolher


uma seção ou um volume de controle no espaço e considerar todas as
partículas que passam por esse local.
 Na descrição Euleriana do movimento, as propriedades do escoamento são
funções do espaço (pontos de observação) e do tempo:

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Velocidade e aceleração no escoamento dos fluidos

Ao lidarmos com fluidos em movimento, estaremos necessariamente


preocupados com a descrição de um campo de velocidade.

Num dado instante, o campo de velocidade é uma função das coordenadas


espaciais x, y e z, em regime transiente

O vetor velocidade pode ser escrito em termos dos seus três componentes
escalares. Denotando os componentes nas direções x, y e z por Vx, Vy e Vz ,
segue-se que:

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Para regime permanente, a velocidade e suas componentes escalares não
serão função do tempo, sendo somente funções do ponto.

(4)

Aceleração
A aceleração de uma partícula de um
fluido é encontrada considerando-se
uma partícula específica (Figura 12).

Figura 12 – Velocidade de uma partícula do fluido

18
19
mas:

(6)

20
As equações em coordenadas cartesianas ficarão, segundo suas
componentes em regime permanente:

21
No caso de fluido em regime transiente, deve-se considerar, em
relação às equações anteriores, a variação do tempo:

 v x v x v x  v x
ax   vx  vy  vz  
 x y z  t
 v y v y v y  v y
ay   vx  vy  vz  
 x y z  t (8)

 v z v z v z  v z
az   vx  vy  vz  
 x y z  t

22
Exemplo 01:
Num escoamento no plano Oxy, o campo de velocidades é dado por Vx = 2xt
e Vy = y2t. Determinar a aceleração no ponto P = (1,2), no instante t = 5s
(medidas em cm).
O movimento é transiente, pois Vx e Vy são funções do tempo.

Solução:

Vx  2 xt e Vy  y 2 t

 V Vx Vx  Vx


a x   x Vx  Vy  Vz  
 x y z  t

ax  2t(2xt) 
 0( y 2 t)  0  2 x

a x  2x  4 xt 2 23
Vy Vy Vy Vy
ay  Vx  Vy  Vz 
x y z t
 
a y  (0)2xt  2 yt y 2 t  y 2
a y  2 y3 t 2  y 2

No instante t  5s e P  (1,2)
a x  2 x  4 xt 2
a x  21  41(5) 2  102
a y  2 y3t 2  y 2
a y  22  5  2   404
3 2 2

24
Proposto:
Num escoamento no plano Oxy, o campo de velocidades é dado por Vx = 3x2t e
Vy = 2y2t. Determinar a aceleração no ponto P = (1,2), no instante t = 5s
(medidas em cm).
O movimento é variado (transiente), pois Vx e Vy são funções do tempo.

Resposta: a = 1670,6 cm/s2


25
Vazão

Define-se vazão em volume (Q) como sendo o volume de fluido que


atravessa uma certa seção do escoamento por unidade de tempo.

Vazão em volume, Q
Suponha uma torneira aberta e seja colocado um recipiente embaixo dela e
simultaneamente seja disparado o cronômetro (Figura 13). Admita-se que o
recipiente encha em 10s. Pode-se então dizer que a torneira enche 20 L em
10s ou que a vazão em volume da torneira é 20L/10s = 2 L/s.

V
Q  (9)
t

 m3 L m3 L 
 ; ; ; 
 s s h min 
Figura 13 – Esquema para medição de vazão
26
Vazão em massa, ṁ
É a massa do fluido que escoa num determinado intervalo de tempo.

 kg g kg g 
(10)  s ; s ; h ; min 

Vazão em peso, G
É a vazão em massa multiplicada pela aceleração da gravidade.

 N dina N dina 
(11)
 s ; s ; h ; min 

27
Velocidade média na seção

Suponha que um fluido esteja em movimento através da seção de área “A” a


uma distância “s” (Figura 14). O volume de fluido que atravessa a seção de
área A no intervalo de tempo t é V = sA.

Figura 14 – Movimento de um fluido através de uma seção

28
Existe uma relação importante entre a vazão em volume e a velocidade do
fluido, a qual é apresentada na expressão (15).

V s.A (12)
Q = = = V.A
t t

É claro que essa expressão só seria válida se a velocidade fosse uniforme na


seção.

Na maioria dos casos práticos, o escoamento não é unidimensional; no entanto, é


possível obter uma expressão do tipo da equação (15) definindo a velocidade média
na seção, conforme apresentado a seguir:

29
Adotando um dA qualquer no entorno de um ponto em que a velocidade
genérica é V, como mostra a Figura (15), tem-se:

dQ  VdA

Figura 15 – Elemento de área e


Logo, a vazão na seção A será: velocidade V

Q   VdA
A
(13)

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Define-se velocidade média na seção como uma velocidade uniforme que,
substituída no lugar da velocidade real, reproduz a mesma vazão na seção.

Logo:

Q   VdA  Vm A
A
(14)

Dessa igualdade, surge a expressão para o cálculo da velocidade média na


seção (Figura 16):

1
Vm 
AA VdA (18)

Figura 16 – Perfil da velocidade média


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Exemplo 02:
Para escoamento laminar em tubos, a velocidade é dada pela seguinte
expressão:

 r2 
V  Vmáx 1  2 
 R 

onde Vmáx é a velocidade no centro do tubo. Calcular a velocidade média, Vm ,


e a vazão em volume, Q.
Solução:
Equações básicas:

1 Q  Vm A
Vm 
AA VdA

A  R 2 ; dA  2π rdr
32
1
R
 r2   R2 R4 
2  máx 
Vm  V 1  2 2π rdr Vm  2Vmáx  2 
π R 0 4
 R   2R 4R 
2Vmáx  r2 
R
Vm  2
R 0  1  2 rdr
R 
Vmáx
R Vm 
2Vmáx  r2
r  4
2
Vm  2   
R 2 4R 2  0
2Vmáx  R 2 R4  Q  Vm A
Vm  2   
R  2 4R 2 

Vmáx π R 2
Q 
2
33
Exemplo 03:
Para escoamento turbulento em tubos a velocidade é dada pela
seguinte expressão:

1/7
 r
V  Vmáx 1  
 R

onde Vmáx é a velocidade no centro do tubo. Calcular a velocidade média, Vm ,


e a vazão em volume, Q.

Solução:
Equações básicas:

1
Vm 
AA VdA A  R 2 ; dA  2π rdr

Q  Vm A 34
1/7
 r
R
1
2  máx 
Vm  V 1   2π rdr
π R 0  R
1/7
2Vmáx  r
R
Vm 
R 0
2   1   rdr
R
r para r  0 ; u  1 r  R 1  u 
u 1   ; 
R para r  R ; u  0 dr   Rdu
0
u R 1  u  Rdu 
2Vmáx 1/7
Vm  2
R 1 
2Vmáx R 2  1/7 
 
0 0
Vm    u 1  u du    2Vmáx  u 1/7
 u 8/7
du
R 2
1  1

35
 0 1/7 0

Vm   2Vmáx   u du  1 u du 
8/7

1
 7 8/7 0 7 15/7 
0

Vm   2Vmáx  u  u 
 8 1 15 1
 7 7
Vm   2Vmáx  
 8 15 
  105  56   49 
Vm   2Vmáx    2Vmáx  
 120   120 

49 49π R 2
Vm 
60
Vmáx Q  Vm A Q  Vmáx
60

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Proposto 01:
Determinar a velocidade média e a vazão em volume de um fluido escoando
em um canal de largura b e altura h.
Resposta: Vm = 2/3Vmáx e Q = 2/3Vmáx bh

 y2  onde y é a coordenada vertical, com origem


V  Vmáx 1  2 
 h  no fundo do canal.

37
Proposto 02:
Determinar a velocidade média e a vazão em volume de um fluido
escoando em um duto circular de raio R, com perfil cônico de
velocidades.
Resposta: Vm = 1/3Vmáx e Q = 1/3Vmáx R2

 r
v  vmáx 1  
 R

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Proposto 03:
Determinar a velocidade média e a vazão em volume de um fluido
escoando entre placas planas e paralelas distanciadas de 2h.
Resposta: Vm = 2/3Vmáx e Q = 4/3Vmáx bh

 y 2  onde y é a coordenada vertical, com origem


V  Vmáx 1  2  no centro do canal.
 h 

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