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Revista Brasileira de Ensino de Fı́sica, v. 31, n.

2, 2306 (2009)
www.sbfisica.org.br

Ondas superficiais de gravidade


(Surface gravity waves)

Alcione S. Fernandes1 e Giselle M. Alves


Departamento de Fı́sica, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, PR, Brasil
Escola Técnica da Universidade Federal do Paraná, Curitiba, PR, Brasil
Recebido em 16/7/2008; Revisado em 22/1/2009; Aceito em 6/2/2009; Publicado em 26/6/2009

Neste artigo discutimos a propagação de ondas de pequena amplitude num lı́quido de profundidade constante
com base em uma equação de ondas. A solução geral mostra que a velocidade de propagação é dependente do
comprimento de onda de modo que ocorre o fenômeno da dispersão. Soluções para os casos de pequena e grande
profundidades são também obtidas.
Palavras-chave: ondas de gravidade, dispersão de ondas, ondas num lı́quido.

In this article we discuss the propagation of small amplitude waves in a liquid of constant depth based on a
wave equation. The general solution shows that propagation speed depends on the wavelength and consequently
there is waves dispersion. Solutions for shallow and the deep water are shown.
Keywords: gravity waves, wave dispersion, waves on the liquid.

1. Introdução Nestas equações %(r, t) representa a densidade do flu-


ido, v(r, t) a velocidade, p(r, t) a pressão e f a força
O estudo da propagação de ondas é fundamental para gravitacional especı́fica (força por unidade de massa).
a formação dos alunos dos cursos de fı́sica, matemática Suponhamos que o fluido, inicialmente em equilı́brio
e das engenharias. No seu desenvolvimento é possivel (% = %0 , v = 0 e p = p0 ), experimenta uma perturbação
aplicar várias técnicas matemáticas como o emprego de de modo a adquirir a velocidade de escoamento v̄(r, t),
uma teoria linearizada, ferramenta simples e extrema- com densidade e pressão dadas por
mente útil na resolução de problemas complexos, bem
como a obtenção da solução de equações diferenciais %(r, t) = %0 (r) + %̄(r, t) , (3)
com condições de contorno.
p(r, t) = p0 (r) + p̄(r, t) , (4)
Neste artigo desenvolvemos, com base em conceitos
acessı́veis aos alunos dos cursos iniciais de cálculo e com %̄/%0 ¿ 1 e p̄/p0 ¿ 1.
fı́sica, alguns aspectos da teoria da propagação de Vamos considerar que as perturbações das grande-
perturbações harmônicas na superfı́cie de um lı́quido zas de equilı́brio e seus gradientes são pequenos de modo
de profundidade constante e inicialmente em repouso. que seus produtos podem ser desconsiderados e somente
Uma abordagem computacional deste tema foi desen- os termos lineares são mantidos. Além disso, da Eq. (1)
volvida recentemente [1]. Informações descritivas [2] ou ∇p0 = %0 f no equilı́brio. Substituindo as Eqs. (3) e
mais avançadas [3, 4] são encontradas na literatura. (4) nas Eqs. (1) e (2), obtemos
Inicialmente, consideremos o escoamento de um flu-
∂ v̄
ido não viscoso e sujeito a uma força gravitacional. O %0 + ∇p̄ = %̄ f , (5)
movimento deste fluido ideal é descrito pela equação de ∂t
Euler [5] ∂ %̄
+ %0 ∇ · v̄ = 0, (6)
∂v ∂t
%( + v · ∇v) + ∇p = % f , (1)
∂t onde admitimos que a densidade de equilı́brio é aproxi-
e pela equação da continuidade madamente uniforme de modo que pudemos descartar
o termo de segunda ordem v̄ · ∇%0 .
∂% Se tomarmos o rotacional de ambos os membros da
+ ∇ · (%v) = 0 . (2) Eq. (5) e tendo em conta que a força gravitacional é
∂t
1 E-mail: alcionesf@ig.com.br.

Copyright by the Sociedade Brasileira de Fı́sica. Printed in Brazil.


2306-2 Fernandes e Alves

conservativa, obtemos (c) a amplitude ζ0 das ondas é muito menor que o


comprimento de onda (ζ0 /λ ¿ 1);
∂ (d) não são considerados os efeitos de tensão super-
(∇ × v̄) = 0 . (7)
∂t ficial, viscosidade e condutividade térmica.
Como ∇ × v̄ é proporcional à velocidade angular em Para ondas progressivas na direção x do plano xz
cada ponto do fluido e esta não muda com o tempo, (veja Fig. 1) não há dependência da coordenada y de
então a solução possı́vel para a Eq. (7) é modo que o nosso problema é bidimensional. Desta
forma, temos da Eq. (12) que
∇ × v̄ = 0 , (8)
∂2φ ∂2φ
+ 2 = 0, (13)
de modo que o fluido é irrotacional em todos os pontos. ∂x2 ∂z
Desta forma, podemos relacionar o campo de veloci- com as componentes das velocidades das partı́culas do
dades a um potencial escalar φ(r, t), através de lı́quido dadas por
∂φ ∂φ
v̄ = ∇φ , (9) vx = , vz = . (14)
∂x ∂z
com componentes
z
∂φ ∂φ ∂φ
λ
v̄x = , v̄y = , v̄z = . (10) c
∂x ∂y ∂z
x
Se considerarmos que o fluido é incompressı́vel, isto 0
ζ(x,t)
é, a densidade permanece constante, obtemos da Eq. (6)
que h
∇ · v = 0. (11)
Substituindo a Eq. (9) na anterior, resulta a equação
de Laplace ∇2 φ = 0 ou, em coordenadas cartesianas Figura 1 - Onda que se propaga na superfı́cie de um lı́quido com
profundidade h
∂2φ ∂2φ ∂2φ O primeiro passo é obter o potencial escalar φ(x, t)
+ 2 + 2 = 0. (12)
∂x2 ∂y ∂z da Eq. (13) e que está sujeito às seguintes condições de
contorno:
Portanto, um fluido irrotacional e incompressı́vel
(a) no fundo a componente vertical da velocidade
pode ser descrito por uma função potencial escalar que
do lı́quido é nula, ou seja
é solução da equação de Laplace e com componentes da
µ ¶
velocidade dadas pelas Eqs. (10). ∂φ
= 0. (15)
∂z z=−h
2. Ondas superficiais de gravidade (b) A superfı́cie livre do lı́quido é descrita por
z(x, t) = ζ(x, t) e a velocidade para as partı́culas da
Consideremos em seguida, a propagação de uma per-
superfı́cie é dada por
turbação provocada na superfı́cie livre de um lı́quido
µ ¶
com profundidade uniforme e sujeito a um campo gra- ∂φ ∂ζ
vitacional uniforme. Estas ondas progressivas longi- = . (16)
∂z z=ζ ∂t
tudinais são denominadas ondas superficiais de gravi-
dade[3]. As amplitudes perturbativas são considera- Se expandirmos o primeiro membro desta equação em
das pequenas em relação às grandezas de equilı́brio, série de Taylor em torno de z = 0, concluimos que
de modo que podemos reter apenas os termos lineares. µ ¶
∂φ ∂ζ
Uma situação adequada a estas condições é a de uma = . (17)
∂z z=0 ∂t
brisa suave ou a queda de uma pequena pedra na su-
perfı́cie de mar calmo. onde a aproximação linear foi usada. Esta é uma con-
Para estudar as ondas superficiais de gravidade num dição de contorno cinemática pois envolve a velocidade
lı́quido de profundidade uniforme h, vamos considerar da superfı́cie livre do lı́quido.
que: (c) Como a tensão superficial não é levada em conta
(a) o lı́quido é perturbado a partir do repouso, por então as pressões em ambos os lados da superfı́cie
exemplo, pela ação de um vento suave; assim as veloci- livre do lı́quido são iguais; além disso, como a pressão
dades e os deslocamentos das partı́culas são pequenos atmosférica é constante ao longo da superfı́cie livre
o que nos permite desconsiderar os seus produtos; podemos considerá-la nula sem perda de generalidade,
(b) o fluxo é irrotacional de modo que o campo de ou seja
velocidades do lı́quido deriva de um potencial escalar; p(ζ, t) = 0 , (18)
Ondas superficiais de gravidade 2306-3

e a equação de Bernoulli (A.8) torna-se Portanto, o potencial escalar (25) é dado por
µ ¶
∂φ ω cosh [κ(z + h)]
+gζ = 0. (19) φ(x, z, t) = ζ0 sen (κx − ωt) . (30)
∂t z=0 κ senh (κh)
Em resumo, o problema consiste em determinar o Após determinarmos o potencial escalar podemos
potencial escalar φ(x, z, t) para a equação de Laplace passar para a obtenção das demais variáveis que ca-
∂2φ ∂2φ racterizam o movimento do lı́quido como velocidades e
+ 2 = 0, (20) posições das partı́culas, freqüência angular e velocidade
∂x2 ∂z
de propagação da onda.
sujeito às condições de contorno
∂φ 4. Resultados
= 0, para z = −h , (21)
∂z
∂φ ∂ζ 4.1. Velocidades e trajetórias das partı́culas,
= , para z = 0 , (22) freqüência angular e velocidade de fase da
∂z ∂t
onda
∂φ
= −g ζ , para z = 0 . (23)
∂t As componentes da velocidade das partı́culas são dadas,
Após obtermos a função φ(x, z, t) podemos determinar através das Eqs. (14) e (30), por
as componentes da velocidade do lı́quido através das
Eqs. (14). Para isso, entretanto, é necessário explicitar
cosh[κ(z + h)]
a forma para a superfı́cie livre ζ(x, t). vx (x, z, t) = ωζ0 cos(κx − ωt),
senh(κh) (31)
senh [κ(z + h)]
3. A função φ(x, z, t) para perturbações vz (x, z, t) = ωζ0 sen(κx − ωt).
senh(κh)
periódicas
Consideremos que as partı́culas de fluido oscilam
Consideremos as perturbações periódicas da superfı́cie com pequenas amplitudes em torno da posição de
livre do lı́quido na forma de uma onda progressiva na equilı́brio (x0 , z0 ) e que diferem pouco das coordenadas
direção x (x, z); assim, podemos integrar no tempo as equações
ζ(x, t) = ζ0 cos (κx − ωt) , (24) (31) para obtermos
onde ζ0 é a amplitude constante da onda. Esta escolha
x − x0 = −a(z0 ) sen (κx0 − ωt),
pode ser justificada pelo fato de que uma perturbação (32)
z − z0 = b(z0 ) cos (κx0 − ωt)
arbitrária pode ser construı́da adicionando compo-
nentes sinusoidais através de uma série de Fourier.
de modo que as trajetórias das partı́culas são elipses
Comparando a equação anterior com as Eqs. (22)
descritas por
e (23) verificamos que o potencial escalar deve ser da
forma (x − x0 )2 (z − z0 )2
φ(x, z, t) = Φ(z) sen (κx − ωt), (25) + = 0, (33)
a2 (z0 ) b2 (z0 )
onde a amplitude Φ(z) e a relação de dispersão ω =
ω(κ) devem ser determinadas. com semi-eixos maior e menor que dependem da pro-
Substituindo a Eq. (25) na (20), obtemos a equação fundidade de acordo com
diferencial linear de segunda ordem para a amplitude cosh [κ(z0 + h)]
a(z0 ) = ζ0 ,
d2 Φ(z) senh (κh) (34)
− κ2 Φ(z) = 0 , (26) senh [κ(z0 + h)]
dz 2 b(z0 ) = ζ0 .
senh (κh)
com solução geral
Da condição de contorno (23) e Eq. (24) obtemos
Φ(z) = a eκz + b e−κz , (27)
a freqüência angular ω como função de κ, denominada
onde a e b são constantes de integração. Da Eq. (25) relação de dispersão, como
temos
1/2
ω(κ) = [κg tgh (κh)] . (35)
κz −κz
φ(x, z, t) = (a e + be ) sen (κx − ωt) , (28)
Para a velocidade de fase ω/κ, temos
e utilizando as condições de contorno (21) e (22) resulta
· µ ¶¸1/2
ω ζ0 ω ζ0 e−2 κ h gλ 2πh
a= , b= . (29) c(λ) = tgh , (36)
κ 1 − e−2 κ h κ 1 − e−2 κ h 2π λ
2306-4 Fernandes e Alves

onde utilizamos κ = 2π/λ. A Eq. (36) está represen- Utilizando a equação de Bernoulli (A.8), obtemos
tada pela curva (a) da Fig. 2.
O movimento ondulatório apresenta, então, as ∂φ
δp = −% , (39)
seguintes caracterı́sticas: ∂t
(a) a Eq. (36) representa uma relação dispersiva
pois a cada comprimento de onda corresponde uma ve- que, juntamente com as Eqs. (30) e (35) resulta
locidade de propagação diferente, de modo que as ondas na seguinte expressão para as variações na pressão do
se dispersam no lı́quido; lı́quido que ocorrem pela passagem da onda
(b) na curva (a) da Fig. 2 observamos que, para uma
dada profundidade h, a velocidade de fase cresce rapi- cosh [κ(z + h)]
damente com o comprimento de onda λ e tende para o δp(x, z, t) = ζ0 %g cos (κx − ωt) . (40)
cosh (κh)
valor limite (gh)1/2 , como será mostrado na seção 5.2;
(c) as Eqs. (32) mostram que as fases dos movi- Desta forma, com um sensor colocado na profundi-
mentos (argumentos das funções sinusoidais) indepen- dade −z medimos a pressão local p(x, z, t) e, através
dem da profundidade z0 ; assim, as partı́culas executam da Eq. (38), determinamos as variações de pressão
movimentos oscilatórios em fase, isto é, em cada ins- δp(x, z, t) que podem ser confrontadas com a Eq. (40)
tante, se para um dado x0 uma delas está no topo da para obtermos, por exemplo, as amplitudes ζ0 das on-
trajetória então todas estarão; das que se propagam na superfı́cie.
(d) as Eqs. (34) indicam que os semi-eixos das tra-
jetórias elı́pticas diminuem com a profundidade e, no
fundo (z0 = −h), o movimento das partı́culas é hori-
5. Aproximação dos resultados para
zontal pois b(z0 ) = 0.
Ao desprezarmos o termo v̄ · ∇v̄ consideramos que diferentes profundidades
vx ∂vz /∂x ¿ ∂vz /∂t na equação de movimento (1); com
as Eqs. (31) verificamos então, que os nossos resultados Nesta seção, vamos adaptar os resultados gerais obti-
são válidos para dos para locais com grandes ou pequenas profundidades
ζ0 ¿ λ , (37) h relativas ao comprimento de onda λ da onda que se
propaga.
isto é, para situações em que a amplitude da per-
turbação é muito menor que o comprimento da onda
que propaga, como foi observado no item (c) da seção 5.1. Ondas em águas profundas
2.
Inicialmente, vamos analisar quais são as caracterı́sticas
4.2. Variações de pressão das ondas que se propagam em regiões em que a pro-
fundidade é muito maior que o comprimento de onda,
A pressão hidrostática na profundidade −z 2 é p0 (z) = isto é, em que κh = 2πh/λ À 1.
−% gz desde que consideramos a pressão atmosférica Na Fig. 3 verificamos a função tghx → 1 para
nula e z < 0 abaixo da superfı́cie livre do lı́quido. Sendo grandes valores de x. No entanto não é necessário
δp(x, z, t) = p(x, z, t) − p0 a perturbação na pressão, que x seja muito grande para que isto ocorra; por
temos que exemplo, para x = κh = 1, 75, que corresponde a
p(x, z, t) = −% gz + δp . (38) h/λ = 0, 28, já obtemos tghx = 0, 94. Com esta aproxi-
mação, podemos escrever a equação para a velocidade
(b)
(c) de fase (36)
1,0
(a)
µ ¶1/2
0,8 gλ
c(λ) = , para λ ≤ 3, 6 h. (41)
c 2π
(gh) 0,6
1/2

Esta equação está representada pela curva (b) da Fig. 2


0,4 e exibe o fato que as ondas com maiores comprimentos
de onda se deslocam mais rapidamente, isto é, apresen-
0,2 tam o fenômeno da dispersão.
λ Se estamos sentados à beira da praia e percebemos
0 h a chegada de cristas de ondas em intervalos regulares,
5 10 15 20
por exemplo, de T = 8 s, então, da Eq. (41) e de
Figura 2 - Velocidade de fase das ondas na superfı́cie do lı́quido: c = λ/T , concluimos que o o comprimento de onda
(a) profundidade qualquer, (b) águas profundas, (c) águas rasas. correspondente é
2 As coordenadas z e z0 só precisam ser distinguidas quando tratamos do movimento das partı́culas, como na seção 4.1.
Ondas superficiais de gravidade 2306-5

e, da mesma maneira que para o raio, para a profun-


didade z = −λ/2 seu valor cai a 4 por cento do valor
3 na superfı́cie. Assim, um detector colocado no fundo
de um lago não poderá detectar variações na pressão
x devido às ondas superficiais de gravidade cujos compri-
2
e nh mentos de onda sejam muito menores que o dobro da
x s
cosh profundidade do lago.
1
tgh x 5.2. Ondas em águas rasas
Em seguida, vamos analisar as caracterı́sticas das on-
x das que se propagam em regiões em que a profun-
0 0,5 1 1,5 2
didade é muito menor que o comprimento, isto é,
Figura 3 - Funções hiperbólicas.
κ h = 2πh/λ ¿ 1.
Para pequenos valores de x, tgh x ' x e, da Fig. 3
que, para x ≤ 0, 45 esta já é uma boa aproximação.
g T2
λ= ' 100 m , (42) Assim, a velocidade de fase (36) pode ser aproximada
2π por
e velocidade de fase c ' 45 km/h. Observemos que c = (gh)1/2 , para λ ≥ 14 h (46)
este comprimento de onda se refere às regiões distantes
a qual independe do comprimento de onda, aumenta
da praia, onde devemos ter a profundidade h ≥ 28 m;
com a profundidade do lı́quido e está representada pela
próximo da praia o comprimento de onda será muito
curva (c) da Fig. 2. Portanto, para águas rasas de-
menor (veja seção 5.2), embora o perı́odo da onda per-
vemos ter, efetivamente, λ À h enquanto que no caso
maneça inalterado, de modo análogo ao de ondas eletro-
de águas profundas não necessariamente precisamos ter
magnéticas que passam através de meios com ı́ndices de
λ ¿ h (veja Eq. (41) para a validade das aproximações
refração diferentes.
utilizadas.
Para águas profundas as trajetórias das partı́culas
Para ondas que chegam em uma praia com profun-
de lı́quido são dadas, através das Eqs. (32) e (34) e com
didade h = 1 metro com intervalos regulares de 8 s, a
senh x ≈ cosh x ≈ ex , por
velocidade de propagação é de c = 11 km/h e o com-
x − x0 = −ζ0 eκz0 sen (κx0 − ωt), primento de onda é λ = 25 m. Neste exemplo, as ondas
(43) apresentam uma redução de 75 por cento na velocidade
z − z0 = ζ0 eκz0 cos (κx0 − ωt),
de propagação e no comprimento de onda quando pas-
as quais representam circunferências centradas em sam de águas profundas para regiões com pouca pro-
(x0 , z0 ) e raios r(z) = ζ0 eκz que decrescem com a pro- fundidade (veja seção 5.1).
fundidade, como mostrado na Fig. 4(a). Para uma Para pequenos valores de x, senh x ' x e cosh x ' 1;
profundidade igual à metade do comprimento de onda, assim, as componentes de velocidade (31), são aproxi-
temos que madas por
r(−λ/2) 1 ω ζ0
= π ' 0, 04 , (44) vx = cos (κx − ωt),
r(0) e κh ³ z´ (47)
de modo que o raio da trajetória é apenas 4 por cento vz = ωζ0 1 + sen (κx − ωt),
h
do seu valor na superfı́cie.
Para a variação de pressão nesta situação, temos das sendo a componente vertical nula para z = −h.
Eqs. (40) e (24), Integrando as Eqs. (47) em relação ao tempo, obte-
mos para as trajetórias das partı́culas
δp(x, z, t) = ζ0 %geκz cos (κx − ωt) = %gζ(x, t)eκz , (45)
ζ0
x − x0 = − sen (κx0 − ωt),
(x0, x 0) (x0, x 0) 






















κh
³ z0 ´ (48)
z − z0 = ζ0 1 + cos (κx0 − ωt),
          
          

h
































que representam elipses com centro em (x0 , z0 ) em que
(b) o semi-eixo maior é constante e o semi-eixo menor
               
               

diminui com a profundidade até se anular para z0 = −h,






























































como ilustrado na curva (b) da Fig. 4.
Para esta região, a variação linearizada para a
                   

(a)
pressão (40) torna-se
Figura 4 - Trajetórias das partı́culas em (a) águas profundas e
(b) rasas. δp(x, t) = % g ζ0 cos (κx − ωt) , (49)
2306-6 Fernandes e Alves

que independe da profundidade. Com a Eq. (24) rees- onde v(r, t) representa as componentes da velocidade
crevemos a equação anterior como do fluido. Se a força externa especı́fica é conservativa
δp(x, t) = % g ζ(x, t) , (50) podemos relacioná-la ao potencial escalar ϕ(r, t) por

cuja forma é a mesma da pressão hidrostática %gz. f = −∇ϕ . (A.2)


Neste caso, ao contrário do que ocorre quando vale a
aproximação de águas rasas Eq. (45), um sensor de Para um fluxo irrotacional, a identidade vetorial
pressão colocado em z = −h pode, em princı́pio, detec- v × (5 × v) = 5(v 2 /2) − (v · 5)v = 0, permite es-
tar as flutuações na pressão, uma vez que a forma de crever que µ 2¶
v
δp não é atenuada pela função eκz . v · ∇v = ∇ , (A.3)
2
6. Considerações finais de modo que, com as Eqs.(A.2) e (A.3), temos para a
Eq. (A.1)
No desenvolvimento deste trabalho pudemos mostrar · µ 2 ¶¸
∂v v
que, através de um potencial escalar que é solução de % +∇ + ∇p = −%∇ϕ . (A.4)
uma equação de onda, é possı́vel determinar as veloci- ∂t 2
dades e trajetórias das partı́culas de um lı́quido incial- Podemos introduzir o potencial escalar φ(x, t) para
mente em repouso e com profundidade constante, per- velocidade através da Eq. (9) e, para um fluido incom-
corrido por uma perturbação sinusoidal na superfı́cie pressı́vel (% = const.), temos para a equação anterior
lı́quida bem como, as flutuações de pressão nos dife-
· ¸
rentes pontos do fluido. Verificamos, através de uma ∂φ 1 2 p
teoria linearizada, que as ondas com pequenas ampli- ∇ + (∇φ) + + ϕ = 0 , (A.5)
∂t 2 %
tudes que se propagam no lı́quido, o fazem com dife-
rentes velocidades que dependem da profundidade lo- ou seja,
cal. Este fato permite-nos compreender, por exemplo, ∂φ 1 p
2
porque as frentes de onda chegam à praia praticamente + (∇φ) + + ϕ = F(t) , (A.6)
∂t 2 %
paralelas à linha da praia. Quando as ondas prove-
nientes das regiões mais profundas, portanto com com onde a função F(t) não depende da posição e pode ser
maiores velocidades de fase, se aproximam das regiões absorvida pela redefinição do potencial φ(r, t) de modo
mais rasas, experimentam uma diminuição de veloci- que o campo de velocidades da Eq. (9) permanece inal-
dade, de modo que as ondas sofrem seguidas refrações terado.
e passam a propagar-se numa direção que é perpendi- Para o campo gravitacional
cular à linha da praia, como mostrado na Fig. 5.
v2 > v 1 ϕ = gz , (A.7)

é a energia potencial gravitacional por unidade de


massa e a Eq. (A.6) pode ser escrita como
∂φ 1 2 p
+ (∇φ) + + gz = 0 , (A.8)
∂t 2 %
v1
que é a forma da equação de Bernoulli dependente do
tempo, aplicável a um fluido incompressı́vel, não vis-
coso situado num campo gravitacional e que experi-
menta um fluxo irrotacional.

Referências
                                         

Praia
                                         

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de Ensino de Fı́sica 29, 4 (2007).


                                         

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denominada equação de Euler, é Janeiro, 1982).
µ ¶
∂v
% + v · ∇v + ∇p = % f , (A.1)
∂t

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