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Descrição do movimento Equação de continuidade

Cinemática da partícula fluida

J. L. Baliño

Escola Politécnica - Universidade de São Paulo

Apostila de aula
2017, v.1

J. L. Baliño EPUSP
Cinemática da partícula fluida 1 / 16
Descrição do movimento Equação de continuidade

Sumário

1 Descrição do movimento

2 Equação de continuidade

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Descrição do movimento Equação de continuidade

Descrição lagrangiana
Descrição lagrangiana: acompanhando às partículas ou sistemas de
partículas. As leis de conservação estão naturalmente enunciadas em
uma descrição lagrangiana. Função incógnita: r (t, r0 ), onde r é a
posição no tempo t da partícula que esteve em r0 no tempo de
referência t0 (usualmente t0 = 0, a condição inicial).
 
∂r
V (t, r0 ) = (velocidade)
∂t r0
   2 
trajetória ∂V ∂ r
r (time t) a (t, r0 ) = =
∂t r0 ∂t2 r0
r0 (time t0)
(aceleração)
Para qualquer variável intensiva χ,
χ = χ (t, r0 ). Para uma partícula de
identidade fixa, a posição e o tempo
não são variáveis independentes.
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Descrição euleriana
Descrição euleriana: em termos de campo. Não estamos interessados
no que acontece com uma partícula (pois existem muitas delas) senão
com o que acontece em uma determinada região do escoamento.
Para qualquer variável intensiva χ = χ (r, t), onde a posição r e o
tempo t são variáveis independentes. Exemplos: massa específica,
velocidade, pressão, temperatura, tensor de tensões, etc.
Notar que mantendo o tempo fixo, temos uma fotografia instantânea
de χ em todo lugar.
Notar que mantendo a posição fixa, temos a evolução temporal em um
ponto (medidor ideal de χ).
Nenhum dos casos anteriores se corresponde com a descrição
lagrangiana. Para expressar variações temporais lagrangianas
(acompanhando às partículas) quando as variáveis estão expressadas
como campos, devemos realizar operações matemáticas.
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Tensor gradiente de velocidade


Consideremos um campo de velocidade V = V (r, t). Se
V = (u, v, w) e r = (x, y, z) a diferença de velocidades entre duas
partículas infinitesimalmente próximas (afastadas em
dr = (dx, dy, dz) para um instante de tempo fixo resulta:
∂V ∂V ∂V ∂V
dV = dx + dy + dz = · dr
∂x ∂y ∂z ∂r
Em forma matricial:
     ∂u ∂u ∂u

du   dx   ∂x ∂y ∂z
 dv  = ∂ui  dy  onde ∂ui
=
 ∂v ∂v ∂v 
∂x ∂y ∂z
∂xj ∂xj

dw dz ∂w ∂w ∂w
∂x ∂y ∂z

∂V
O operador ∇V = é o tensor gradiente de velocidade.
∂r
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Derivada material
Para um campo escalar χ (r, t) o diferencial pode ser escrito como:
∂χ ∂χ ∂χ ∂χ
dχ = dt + dx + dy + dz
∂t ∂x ∂y ∂z
∂χ ∂χ ∂χ
= dt + · dr = dt + ∇χ · dr
∂t ∂r ∂t
Se estabelecemos o vínculo dr = V dt, o diferencial é a variação na
direção da linha de corrente, resultando a derivada material ou
D
substancial, escrita como Dt :
∂χ Dχ ∂χ
Dχ = dt + ∇χ · V dt ⇒ = + ∇χ · V
∂t Dt ∂t
O primeiro termo (não-nulo em escoamentos transientes) é conhecido
como derivada local, enquanto o segundo termo (não-nulo quando
existe uma variação espacial de χ na direção do vector velocidade) é
conhecido como derivada advectiva.
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Aceleração
A aceleração resulta a derivada material do campo de velocidade:
DV ∂V
a= = + ∇V · V
Dt ∂t
O primeiro termo (não-nulo em escoamentos transientes) é conhecido
como aceleração local, enquanto o segundo termo (não-nulo quando
existe uma variação espacial da velocidade na direção do vector
velocidade) é conhecido como aceleração convectiva. A aceleração
convectiva introduz termos não-lineares. É comum ver a notação
∇V · V = (V · ∇) V, pois em coordenadas cartesianas:
∂V ∂V ∂V
∇V · V = u +v +w
∂x ∂y ∂z
A componente x da aceleração convectiva resulta:
∂u ∂u ∂u
(∇V · V)x = u +v +w
∂x ∂y ∂z
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Tensor taxa de deformação e vorticidade


O tensor gradiente de velocidade pode ser decomposto em uma
componente simétrica (tensor taxa de deformação ) e anti-simétrica
(tensor de vorticidade ω) :
1  1
∇V + ∇V T + ∇V − ∇V T

∇V =
2 2
=+ω
Em coordenadas cartesianas:
 
  xx xy zx
1 ∂ui ∂uj
ij = + ; {ij } =  xy yy yz 
2 ∂xj ∂xi
zx yz zz
 
  0 ωxy ωzx
1 ∂ui ∂uj
ωij = − ; {ωij } =  −ωxy 0 ωyz 
2 ∂xj ∂xi
−ωzx −ωyz 0
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Movimento geral
O movimento geral de uma partícula de fluído é a superposição de: a)
translaçao; b) distorção e c) rotação.

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Taxa de deformação de cisalhamento


O ponto B foi para B0 em translação. Os pontos A e C foram
respectivamente para A0 e C0 . Os ângulos de rotação do eixo x no
sentido anti-horário e do eixo y no sentido horário (respectivamente
dα e dβ) resultam:
" !#
∂v
∂x dx dt ∂v
dα = lim arctan ∂u
= dt
dt→0 dx + ∂x dx dt ∂x
∂u
" !#
∂y dy dt ∂u
dβ = lim arctan ∂v
= dt
dt→0 dy + ∂y dy dt ∂y
A variação específica do comprimento diferencial dx na direção do
eixo x resulta:
" #
∂u
δ (dx) dx dt ∂u
= lim ∂x = dt
dx dt→0 dx ∂x
Notar que a variação temporal da velocidade contribui com termos de
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Taxa de deformação de cisalhamento e longitudinal


A taxa de deformação de cisalhamento é definida como a metade da
taxa com que o ângulo entre os eixos γ (inicialmente igual a π2 )
diminui ao longo do tempo. Da figura, resulta:
   
1 Dγ 1 dα dβ 1 ∂u ∂v
− = + = + = xy
2 Dt 2 dt dt 2 ∂y ∂x
A taxa de deformação específica longitudinal resulta:
1 D ∂u
(dx) = = xx
dx Dt ∂x
Desta maneira, os elementos extra-diagonais do tensor taxa de
deformação representam taxas de deformação angulares nos planos
correspondentes, enquanto os elementos diagonais representam taxas
de deformação específica longitudinais ao longo dos eixos
correspondentes.
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Tensor vorticidade e velocidade angular


A velocidade angular de rotação Ωz na direção anti-horária da
bissetriz BD (inicialmente com um ângulo π4 ) resulta:
   
1 dα dβ 1 ∂v ∂u 1
Ωz = − = − = (∇ × V)z = −ωxy
2 dt dt 2 ∂x ∂y 2
 
1 ∂w ∂v 1
Ωx = − = (∇ × V)x = −ωyz
2 ∂y ∂z 2
 
1 ∂u ∂w 1
Ωy = − = (∇ × V)y = −ωzx
2 ∂z ∂x 2
Assim, a velocidade angular da partícula resulta a metade do vector
vorticidade ω = ∇ × V:
1 1
Ω= ∇×V = ω
2 2
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Propriedades do tensor taxa de deformação


Pela propriedade de simetria:
Existem três invariantes do tensor taxa de deformação:
I1 = xx + yy + zz = ∇ · V
I2 = xx yy + yy zz + zz xx − 2xy − 2yz − 2zx
I3 = det 
Existem três eixos principais 1, 2 e 3, nos quais a matriz
associada é diagonal:
  0 0

11
{ij } = 0 22 0
0 0 33
I1 = 11 + 22 + 33
I2 = 11 22 + 22 33 + 33 11
I3 = 11 22 33
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Propriedades do tensor taxa de deformação


Para um volume δV limitado pela superfície fechada δA, a derivada
material pode ser escrita como:
Z Z
D
(δV) = V · n̆ dA = ∇ · V dV
Dt δA δV
R
Para δV → 0, δV ∇ · V dV → ∇ · V δV, da onde resulta que o
divergente do campo de velocidade mede a taxa de dilatação
volumétrica específica da partícula:
1 D
∇·V = (δV)
δV Dt
Como consequências, a rotação e a taxa de deformação angular não
contribuêm à variação do volume da partícula. Aliás, ∇ · V = 0 para
partículas de volume constante (incompressíveis).
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Equação de continuidade
Da equação de conservação da massa em forma integral para um
sistema de partículas:
Z Z
∂ρ
dV + ρ (V · n̆) dA = 0
V ∂t A
Transformando o termo de fluxo com o teorema de Gauss e
substituindo: Z Z
ρ (V · n̆) dA = ∇ · (ρV) dV
AZ  V 
∂ρ
+ ∇ · (ρ V) dV = 0
V ∂t
Como o volume de integração é arbitrário, resulta a equação de
continuidade:
∂ρ
+ ∇ · (ρ V) = 0
∂t
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Equação de continuidade
Das identidades:
∇ · (ρ V) = ρ ∇ · V + V · ∇ρ

∂ρ Dρ
+ V · ∇ρ =
∂t Dt
surge a forma alternativa:

+ ρ∇ · V = 0
Dt
1 Dρ
∇·V =−
ρ Dt
A forma da equação de continuidade é a mesma para qualquer sistema
no qual seja medida a velocidade (inercial ou não-inercial).
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