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Operações Unitárias I – Notas de Aula

Prof: Sérgio Henrique Bernardo de Faria

3 – Escoamento em Meios Porosos

3.1 – Introdução

⇒ Escoamento de fluidos através de uma fase sólida móvel ou estacionária


⇒ Principais objetivos  Promover o contato íntimo entre as fases envolvidas
no processo (fase fluida gasosa e/ou líquida com a fase
estacionária/partículas ou entre diferentes fases fluidas).

Exemplos: Filtração, adsorção, leito fixo, leito fluidizado

Leito Fixo: Fluido passa través de um leito de partículas finas, em baixas


velocidades, apenas percolando através dos espaços vazios existentes entre as partículas
estacionárias.

Figura 1 – Leito Fixo ou coluna de recheio.

3.2 – Variáveis

3.2.1 – Densidades

massa substância
ρ = densidade verdadeira =
volume da substância
massa sólido no leito
d bulk = densidade bulk =
volume total ocupado pelo leito

1
3.2.2 – Porosidade (εε)

Está relacionada com o volume disponível entre as partículas sólidas (é a fração


de vazios do leito):

volume de vazios Vvazios Vt − Vsólido


ε= = = ⇒
volume total Vt Vt

Vsólido
ε = 1− (1)
Vt

Obs: ε  corresponde a um “grau de compactação” do leito  0 ≤ ε ≤ 1

Exemplo 01:
Para a determinação da porosidade de um leito utilizou-se o seguinte
experimento: Numa proveta de diâmetro interno di = 3,1 cm foram adicionados 50 ml
de água. A seguir, as partículas sólidas foram adicionadas até que a altura da água fosse
idêntica a altura do sólido, medindo-se esta altura como h = 12,5 cm. Calcule a
porosidade deste leito.

3.2.3 – Superfícies específicas

área superficial total do leito


a = superficie específica do meio =
volume total do leito

mas: At = N ⋅ Ap e Vsólido = N ⋅ Vp (não é o volume do leito!!)

Vsólido
destas duas: At = ⋅ Ap
Vp

Vsólido
⋅ Ap
Vp Vsólido A p Vsólido A p Ap
= (1 − ε ) ⋅
At
então: a = = = ⋅ = ⋅
Vt Vt Vp Vt Vt Vp Vp

finalmente: a = (1 − ε ) ⋅ a s (2)

Ap
sendo: a s = (superfície específica da partícula) (3)
Vp

Exemplo 02:

2
Um leito é composto de cilindros com D = 0,02 m e altura h = 2D. A densidade
bulk do leito é 962 kg/m3 e a densidade do cilindro maciço é 1600 kg/m3. Calcular a
superfície específica do leito.

3.2.4 – Raio hidráulico e diâmetro equivalente

⇒ Duto circular:

Q
fluido

R
D = 2R

⇒ Duto não circular  Diâmetro = ???

Deq = ??
Q
fluido

Utilizar diâmetro equivalente  D eq = 4R H

área disponível ao escoamento na direção perpendicular ao fluxo


R H = raio hidráulico =
perímetro molhado

Exemplo 03:
Determinar o raio hidráulico de um duto tubular completamente desobstruído
com diâmetro interno “D”.

3.2.5 – Relação entre RH, ε, a.

 Vvazios 
 Vt 
⋅ = 
A escoamento L V Vvazios Vt
RH = ⋅ = vazios ⇒ RH =
Pmolhado L A molhada A molhada Vt  A molhada 
 Vt 

ε
⇒ RH = (4)
a

3
3.2.6 – Velocidade superficial (q) e intersticial (u)

vazão volumétrica Q
q = velocidade superficial = =
área da seção transversal A

Q q ⋅ A L q ⋅ Vt q q
No leito poroso: u = = ⋅ = = =
A vazios A vazios L Vvazios  Vvazios  ε
 Vt 

q
u= (5)
ε

3.2.7 – Reynolds para leito poroso

ε
Com as definições: a = (1 − ε ) ⋅ a s (2) e RH = (4)
a

ε
RH =
Obtém-se:
(1 − ε) ⋅ a s (6)

ρ⋅q⋅D
Reynolds, duto desobstruído: Re =
µ
ρ ⋅ u ⋅ D eq ρ ⋅ q ⋅ 4 ⋅ R H
por analogia, para leito: Re = = , utilizando-se a equação (6):
µ µ⋅ε

ρ⋅q⋅4 ε 4⋅ρ⋅q
Re = ⋅ ⇒ Re mp =
µ ⋅ ε (1 − ε ) ⋅ a s µ ⋅ (1 − ε ) ⋅ a s
(7)

S  6 4 ρ ⋅ q ⋅ φ ⋅ Dp ( )
Substituindo a definição a s =  p  = , obtém-se: Re mp = ⋅
V 
 p  partícula φs ⋅ D p 6 µ ⋅ (1 − ε )

6 4 ρ ⋅ q ⋅ Dp
Se as partículas forem esféricas: a s = ⇒ Re mp = ⋅
6 µ ⋅ (1 − ε )
(8)
Dp

Obs: Os modelos da literatura adotam equações (7) e (8) na seguinte forma:

ρ ⋅ q ⋅ (φ ⋅ D p )
⇒ Re mp =
µ ⋅ (1 − ε )
(7.1)

4
ρ ⋅ q ⋅ Dp
⇒ Re mp =
µ ⋅ (1 − ε )
(8.1)

Com a seguinte faixa de Reynolds:

⇒ Remp < 2 - Laminar

⇒ 2 < Remp < 100 - transição

⇒ Remp > 100 - turbulento

3.3 – Perda de carga em leitos fixos

As equações que descrevem o escoamento em um meio poroso ou em leito fixo


são descritas a seguir, para dois regimes de escoamento:

REGIME LAMINAR: Escoamento Lento  baixa velocidade  leitos estacionários

3.3.1 – Equação de Darcy

1º trabalho experimental de fluido em meios porosos foi feito por Darcy, em


1830:

∆P µ
Equação de Darcy: = ⋅q (9)
L k

Obs: k  obtido experimentalmente ou estimado por correlações

Exemplo 04:
Os dados experimentais mostrados a seguir foram obtidos para o escoamento de
água em um leito de comprimento 2,3 m e diâmetro 20 cm, preenchido por esferas de
diâmetro 0,794 mm. Determinar a permeabilidade do leito. Dados: µ água = 0,898cP e
ρágua = 1 g cm3 .

(
Q cm3 s ) (
∆P dina cm 2 )
1000 1,06 ⋅10
6

2000 2,12 ⋅106


3000 3,18 ⋅106
4000 4,24 ⋅106

3.3.2 – Equação de Carman-Kozeny

5
∆P 32µ
Equação de Hagen-Poisewille para tubos cilíndricos: = 2 ⋅q
L D

Analogia entre fluxo através de um tubo e o fluxo através de poros de um leito de


∆P k '⋅µ
partículas: = 2 ⋅u
L' D eq

q
Mas: u = e L' α L ⇒ L' = k ' '⋅L , aplicando estas duas definições na
ε
equação anterior:

∆P k '⋅µ q ∆P k '⋅k ' '⋅µ q ∆P µ


= ⋅ ⇒ = ⋅ ⇒ = ⋅q ⇒
k ' '⋅L (4R H ) ε
2
L (4R H )2 ε L 16 ⋅ R H ⋅ ε
2

 k '⋅k ' ' 

∆P µ
= ⋅ q , com β = fator de forma para o escoamento para o meio poroso
L RH ⋅ε
2

 β 
 

Por analogia com a equação de Darcy, a permeabilidade do meio dada por


R2 ⋅ε
Carman-Kozeny fica: k = H
β

ε
RH =
Utilizando a equação 6:
(1 − ε) ⋅ a s (6)

2
 ε 
  ⋅ε
 (1 − ε ) ⋅ a s  ε3
Obtemos: k = ⇒ k= (10)
β β ⋅ (1 − ε ) ⋅ (a s )
2 2

⇒ A equação (10)  Conhecida como equação de Carman-


Kozeny para a predição da permeabilidade do meio.

S  6
Substituindo a definição a s =  p  = , obtém-se:
V 
 p  partícula φs ⋅ D p

ε 3 ⋅ (φs ⋅ D p )
2
ε3 ε3
k= ⇒k = ⇒k = (11)
β ⋅ (1 − ε ) ⋅ (a s ) β ⋅ (1 − ε ) ⋅ 36
2 2 2 2
 6 
β ⋅ (1 − ε ) ⋅  
2
 φ ⋅D 
 s p

A constante β é conhecida como constante de Kozeny e normalmente aceita


como sendo igual a 5, logo:

6
ε3 ⋅ (φs ⋅ D p )
2

k= (12), com Dp = diâmetro de Sauter


180 ⋅ (1 − ε )
2

6 ε3 ⋅ D 2p
Obs: Para partículas esféricas: a s = ⇒ k= (13)
180 ⋅ (1 − ε )
2
Dp

Substituindo a equação (12) na equação de Darcy:

∆P µ ∆P 180 ⋅ (1 − ε ) ⋅ µ
2

= ⋅q ⇒ = 3 ⋅q
ε ⋅ (φs ⋅ D p )
2 (14)
L k L

Exemplo 05:
O leito do exercício anterior é preenchido por partículas esféricas de diâmetro
0,794 mm e apresenta porosidade igual a 0,393. Estime a permeabilidade do meio por
Carman-Kozeny.

REGIME TURBULENTO

Para o escoamento em altas vazões:

(∆P/L)

a r
line
não

2
ar
line
1

∆P µ
1 – Região Darcyniana – comportamento linear: = ⋅q
L k

∆P
2 – Região não Darcyniana – comportamento não linear: = α1 ⋅ q + α 2 ⋅ q n
L

3.3.3 - Equação de Carman

7
Carman (1937) propôs uma expressão escrita em termos de um número de
Reynolds modificado para leitos porosos (Remp):

ε3
⋅ ∆P = 5 ⋅ (Remp ) −1 + 0,4 ⋅ (Remp ) − 0,1 (15)
a s ⋅ (1 − ε) ⋅ L ⋅ ρ ⋅ q 2
ρ⋅q
com Reynolds modificado: Re mp =
µ ⋅ (1 − ε) ⋅ a s

Esta equação corresponde à curva “A” da figura seguinte:

Fonte: Coulson & Richardson

3.3.4 – Equação de Sawistowski

Sawistowski propôs uma modificação na equação de Carman, que é mais


adequada a recheios ocos, (curva “B” da figura anterior):

8
ε3
⋅ ∆P = 5 ⋅ (Remp )−1 + (Re mp ) − 0,1 (15)
a s ⋅ (1 − ε) ⋅ L ⋅ ρ ⋅ q 2

3.3.5 – Equação de Ergun

Equação semi-empírica, válida para os regimes Laminar e Turbulento,


corresponde à curva “C” na figura anterior.

∆P (1 − ε) 2 ⋅ µ ⋅ q (1 − ε) ⋅ ρ ⋅ q 2
= 150 ⋅ 3 + 1,75 ⋅ 3
ε ⋅ (φ ⋅ D p )
(16)
L 2
ε ⋅ φ ⋅ Dp

O primeiro termo da equação de Ergun é predominante para o regime laminar,


enquanto que o segundo tem maior importância para valores mais elevados de
Reynolds, devido ao termo quadrático de velocidade.

Comparando-se com a equação de Darcy:

ε3 ⋅ (φ ⋅ Dp )
2

k Ergun = (17)
150 ⋅ (1 − ε) 2

De maneira geral, pode-se descrever o comportamento de um Leito Fixo


ajustando-se a forma da equação abaixo, obtida por meio de dados experimentais.

∆P
= α1 ⋅ q + α 2 ⋅ q n (18)
L

Exemplo 06:
∆P
Determine as constantes “α1” e “α2” da equação geral = α1 ⋅ q + α 2 ⋅ q 2 para
L
escoamento de água em leito de areia com os seguintes dados:

Fluido: ρ = 1g/cm3, µ = 1,177 . 10-3 Pa . s


Leito: Comprimento = 2,1 cm, diâmetro = 4,6 cm, ε = 0,28

Dados de velocidade superficial e queda de pressão:

q (m/s) 0,0633 0,0747 0,1018 0,1266 0,1520 0,1773 0,2026 0,2393


∆P (Pa) 6552,8 8319,31 13825,53 20198,34 28091,02 37356,93 47849,39 65194,64

9
3.3.5 – Equação de Ergun para fluidos compressíveis

A equação de Ergun pode escrita em função da velocidade mássica (G’) do


fluido.

G '⋅(φ ⋅ D p )
Re mp = , com velocidade mássica: G ' = q ⋅ ρ
µ ⋅ (1 − ε )
Reynolds do meio poroso:

Equação de Ergun em função de Remp e G’:

∆P ⋅ ρ ⋅ (φ ⋅ Dp ) ε3 150
⋅ = + 1,75
L ⋅ (G ')
(17)
2
(1 − ε) Re mp

A equação de Ergun nesta forma é útil, pois a velocidade superficial do fluido


“q” muda entre a entrada e a saída do leito, a velocidade mássica G’ entretanto,
permanece constante. A equação (17) pode ser aplicada a fluidos compressíveis,
utilizando-se para isto a massa específica média do fluido entre a entrada e a saída do
leito.

 P1M gás   P2 M gás 


 + 
ρ1 + ρ2  RT   RT 
ρ= = (18)
2 2

Exemplo:
Ar a 311K entra em um leito poroso a 1,1 atm (pressão absoluta) com vazão de
0,358 kg/s. Calcule a queda de pressão no leito. Dados: R = 8,314 kPa ⋅ m3 kmol ⋅ K

Fluido:
• massa molar média = 28,97 g/mol
−5
• µ = 1,9 ⋅ 10 Pa ⋅ s

Leito:
Dp = 12,7 mm, φ = 1
Comprimento = 2,44 m, diâmetro = 0,61 m, ε = 0,38

3.4 – Efeito de parede

Para o leito fixo:

⇒ Maior empacotamento na região “central” do leito


⇒ Menor empacotamento próximo às paredes do container
⇒ Formação de canais preferenciais para o escoamento do fluido

10
2
 S 
Utiliza-se fator de correção experimental: f w = 1 + c 
 2S 

Sc  superfície do recipiente
S  volume do leito

Sendo, a nova equação obtida:

∆P (1 − ε) 2 ⋅ µ ⋅ q (1 − ε) ⋅ ρ ⋅ q 2
fw ⋅ = 150 ⋅ 3 + 1,75 ⋅ 3
ε ⋅ (φ ⋅ D p ) ε ⋅ φ ⋅ Dp
2
L

3.5 – Escoamento bifásico em meios porosos

⇒ Líquido descendo a coluna

⇒ Gás subindo a coluna

⇒ Para a estimativa da máxima queda de pressão: ∆P = 0,115 ⋅ Fp0, 7

Com: Fp  fator de empacotamento ft −1 ( )


∆P  queda de pressão (in H 2 O ft )

Sendo os valores do fator de empacotamento (Fp) obtidos da literatura (Tabela 10.6-1 no


final do texto)

⇒ Correlação para a queda de pressão

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Fonte: Geankoplis, p.658

Fonte: Geankoplis, p.660

 G L   ρG 
Eixo horizontal (parâmetro de escoamento):   ⋅  
 G G   ρL 

(
Com: GL  velocidade mássica do líquido lb s ⋅ ft 2 )
(
GG  velocidade mássica do gás lb s ⋅ ft 2 )
(
ρG  densidade do gás lb ft 3
)
(
ρL  densidade do líquido lb ft 3 )
12
0,5
 ρG 
Eixo vertical (parâmetro de capacidade): v G   ⋅ Fp0,5 ⋅ ν 0,05
 (ρL − ρG )

Com: vG  velocidade superficial do gás (ft s )


( )
Fp  fator de empacotamento ft −1
ν  viscosidade cinemática do líquido (cSt )

Para efeito de projeto, normalmente utiliza-se vG = 0,5 vG(inundação)

Exemplo:
Amônia é absorvida de uma corrente de ar que entra numa torre de recheio a 25
o
C e 1,0 atm (pressão absoluta) por uma corrente de água pura. A vazão de ar é 1440
lb/h. As condições de projeto são especificadas a seguir. Determine a queda de pressão
no leito. Dados: R = 8,314 kPa ⋅ m3 kmol ⋅ K

Recheio/correntes:
• Anéis de Pall com 1in de tamanho nominal
 GL 
•   = 2
 GG 

gás:
• massa molar média do ar = 28,97 g/mol

água:
• µ = 0,8937cP
• ρ = 0,99708 g cm3

Referências:

Coulson, J., M.; Richardson, J., F.; “Chemical Engineering - Particle Technology and
Separation Processes”, Vol. 2, 5a Ed., Editora Butterworth-Heinemann, 2002

McCabe, W., L.; Smith, J., C.; Harriot, P.; “Unit Operations of Chemical Engineering”,
5a Ed., Editora McGraw-Hill, 1993

Geankoplis, C., J.; “Transport Processes and Separation Process Principles”, 4a Ed.,
Editora Prentice-Hall, 2003

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Tabela para Fp: Fonte Geankoplis p. 659

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