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ESCOLA POLITÉCNICA DA USP

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA

PQI 3302 OPERAÇÕES UNITÁRIAS DA INDÚSTRIA QUÍMICA I

FLUIDIZAÇÃO

1. CARATERIZAÇÃO FÍSICA

2. LEITO FIXO

3. LEITO FLUIDIZADO

4. VELOCIDADE MÍNIMA PARA FLUIDIZAÇÃO

5. TIPOS DE FLUIDIZAÇÃO

6. EXPANSÃO DO LEITO

7. CLASSIFICAÇÃO DE MATERIAL PARTICULADO

8. APLICAÇÃO DA FLUIDIZAÇÃO

9. TRANSPORTE PNEUMÁTICO DE SÓLIDOS

10. EXERCÍCIOS

BIBLIOGRAFIA
• Massarani, G. Fluidodinâmica em Sistemas Particulados, e-papers, 2002.
• McCabe,W.L; Smith, J.C.; Harriott, P. Unit Operations of Chemical Engineering,
McGraw Hill, 6th ed. , 2001.
• Perry, R. H.; Green, D. W. Perry’s Chemical Engineering Handbook, McGraw-Hill, 6th
ed., 1997.
• Gomide, R.; Operações com Sistemas Granulares, Edição do Autor, 1983.
• Foust, A.S.; Wenzel, L. A,; Clump,C. W.; Maus, L.; Andersen,L. B. Princípios das
Operações Unitárias, Guanabara Dois, 2ª ed. ,1982.
• Gupta, S. H.; Momentum Transfer Operations, McGraw-Hill, 1979.
1. CARATERIZAÇÃO FÍSICA
Considere um leito de material particulado através do qual escoa um fluido no sentido
ascendente. Aumentando-se a velocidade do fluido observa-se que a perda de carga aumenta
devido à força de arraste nas partículas, e que pode ocorrer a movimentação das partículas e até
mesmo a suspensão destas no leito.
Considera-se que o leito é fluidizado ou, em outras palavras, que as partículas do leito estão
completamente suspensas com características fluidodinâmicas similares às de um fluido mais
denso. Nesta condição o material do leito pode ser drenado por tubos e válvulas como um
líquido. Esta condição é uma das principais vantagens de um leito fluidizado (Figura 1).

Figura 1 – Comportamento típico de um leito fluidizado

2. LEITO FIXO

As partículas do leito descrito acima, antes de se fluidificar, não se movimentam e o leito está
na condição denominada de leito fixo. O escoamento de um fluido com uma dada velocidade
em um leito fixo de partículas implica numa queda pressão – perda de carga no leito – expressa
pela equação de Ergun:
2
ΔP 150V0 µ (1 − ε ) 1,75 ρV02 (1 − ε )
= 2 2 +
L φ s Dp ε3 φ s Dp ε3
(1)
Sendo V0 , ε, φ s , ΔP / L, Dp , respectivamente: velocidade superficial (vazão/área da secção do
€ leito), porosidade do leito, esfericidade da partícula, perda de carga por altura de leito e tamanho
médio da partícula DP = 1/Σ (xi/DPi).
O primeiro termo da equação corresponde à equação de Kozeny-Carman, estudada em filtração,
predominante para Repb < 1 (laminar) ; o segundo termo prevalece para Repb > 1.000
(turbulento). Com o Reynolds modificado para leito fixo (packed bed ou fixed bed)
Repb = (ρ V0 Dp ) / (1−ε)µ
Dp : diâmetro esférico equivalente ou diâmetro de Sauter Dp = 6 x (Volume da partícula/Área
da partícula)
ρ: densidade do fluido
V0 : velocidade superficial ( V0 = Q / A onde Q é a vazão volumétrica do fluido e A é a área da
seção reta do leito)
ε : porosidade do leito (ε é a relação entre o volume vazio e o volume total)

2
Às vezes se utiliza o conceito de velocidade intersticial Vi = V0 / ε que é a velocidade entre os
poros do leito.

3. LEITO FLUIDIZADO

A Figura 2 apresenta a perda de carga em um leito em função da velocidade superficial. O leito


está aberto na parte superior e o gás é alimentado uniformemente no fundo, através de uma
placa porosa ou distribuidor.

Figura 2 – Perda de carga em leito fluidizado em função da vazão. D. Kunii and O. Levenspiel,
Fluidization Engineering (Melbourne, Fla.: Robert E. Krieger Publishing Co., 1977).
Para velocidades inferiores à de fluidização tem-se, no caso de partículas pequenas, escoamento
laminar em leito fixo. Com o incremento da velocidade observa-se um aumento da perda de
carga, em conformidade com a equação de Ergun, até que se atinge a condição de fluidização
incipiente. A partir deste ponto, incrementos de velocidade implicam em movimentação das
partículas e expansão do leito, sendo que a perda de carga no leito mantém-se constante, apesar
do aumento de velocidade. A queda de pressão no leito é contrabalançada pelo seu peso
aparente.
O arraste do material ocorre para velocidades altas, superiores à velocidade terminal da
partícula. Com a redução da velocidade do gás, durante a fluidização, o comportamento do leito
é o mesmo do que verificado quando do aumento da velocidade. No ponto correspondente ao
início da fluidização observa-se uma ligeira expansão do leito em relação à condição inicial do
leito.

4. VELOCIDADE MÍNIMA PARA FLUIDIZAÇÃO

Na condição de fluidização, sabe-se que a perda de carga no leito é igual ao peso aparente do
leito, conforme a seguinte expressão:
DP = (1 - e )r p gL - (1 - e )rgL

( )
ΔP = (1 − ε ) ρ p − ρ gL
(2)

Para a condição de fluidização incipiente, que corresponde à velocidade superficial do gás Umf
€ e porosidade do leito ε , pode-se aplicar a equação de Ergun em (2), resultando a equação (3).
m
3
2
150U mf µ (1− ε m ) 1, 75 ρU mf 1
(ρ p − ρ ) g = φ 2 D2 ε 3 + φ D ε 3
s p m s p m (3)
Simplificando-se, para Repb < 1, tem-se para a velocidade mínima para fluidização o seguinte
resultado:

U mf ≈
(ρ p −ρ g ) ε m3
φ s2 Dp2
150 µ (1 − ε m ) (4)
Equações empíricas para Umf indicam um expoente para o diâmetro da partícula ligeiramente
inferior a 2. A condição de Repb baixo é comum, principalmente para partículas “pequenas”,
€ na faixa de até 300 µm.
No caso de Repb > 1.000, tem-se da simplificação da equação (3):
' φ D ρ − ρ gε 3 *1/ 2
U mf ≈)
s p p (m
, )
) 1,75 ρ ,
( + (5)
Para 1 < Rep < 1.000, o valor de Umf é obtido da solução da equação (3).
Para a verificação do arraste de partículas é importante avaliar a relação entre a velocidade
€ terminal Vt e a mínima para fluidização Umf . No regime de Stokes esta relação é expressa por:

Vt
=
(
gDp2 ρ p − ρ 150 µ ) (1 − ε m )
3
U mf 18 µ (
g ρ p − ρ φ s2 Dp2 ε m )
Vt 8,33(1 - e m )
=
U mf fs2e m3 (6)

No caso de um leito de esferas, que corresponde a εm= 0,45, a velocidade terminal é cerca de
50 vezes maior que a velocidade de mínima de fluidização. Assim, o arraste tende a ser muito
baixo. No caso de um leito composto de uma ampla faixa de tamanho de partículas, o arraste
deve ser verificado e equipamentos para a recuperação de partículas devem ser previstos.
Para partículas “grandes”, Repb > 1.000, tem-se a seguinte expressão:
1/2 1/2
Vt " gDp ( ρ p − ρ ) % " 1, 75ρ %
= 1, 75$ ' $ 3
'
U mf $# ρ '& $# gDp ( ρ p − ρ ) ε m '&

Vt 2,32
= 3/ 2
U mf e m (7)
Neste caso, para εm= 0,45, a velocidade terminal é cerca de 8 vezes a de mínima fluidização.

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5. TIPOS DE FLUIDIZAÇÃO
A Figura 3, obtida do Perry, ilustra os diferentes regimes de escoamento de fluido no sentido
ascendente através de leito: leito fixo, fluidização particulada, regime de borbulhamento,
escoamento “slug”, regime turbulento, fluidização rápida e transporte pneumático.


Figura 3 - Regimes de fluidização.

O conceito e cálculo da velocidade mínima de fluidização aplica-se tanto para gases como para
líquidos. No entanto, para velocidades maiores, os comportamentos são distintos nos dois casos.
Por exemplo, no caso da fluidização de um leito de areia com água, as partículas se deslocam
de forma praticamente independente e quanto maior a velocidade do fluido mais intenso o
movimento da partícula. Para uma dada velocidade observa-se que a densidade do leito é
uniforme. Observa-se, também, que a expansão do leito é significativa para altas velocidades.
Este comportamento é denominado fluidização particulada.
No caso de fluidização de leito de sólidos com gás, geralmente se observa a formação de bolhas
de gás ao longo do leito; pequena fração do gás escoa nos canais por entre as partículas. Nas
regiões sem bolhas a porosidade é praticamente igual à da condição de fluidização incipiente.
A este tipo de fluidização com bolhas são atribuídos diferentes denominações: “aggregative
fluidization”, “boiling fluidization” e, o mais usual, “bubbling fluidization” – fluidização
borbulhante.
O comportamento de leitos com bolhas depende do número de bolhas e do tamanho destas, que
por sua vez dependem: da natureza, do tipo e tamanho das partículas, do tipo de distribuidor,
da velocidade superficial e da altura do leito. As bolhas tendem a coalescer conforme ascendem
no leito, podendo ocupar praticamente todo o diâmetro do leito. No caso de leitos de diâmetro
menor pode ocorrer o “slugging” causada pela coalescência das bolhas e no escoamento do gás
de forma pulsada.
Para velocidade de gás muito superior à mínima de fluidização, ocorre a transição da fluidização
por borbulhamento para a turbulenta e rápida. Este fenômeno ocorre quando a expansão do leito
é muito alta. A fase gás é contínua e são observadas pequenas regiões de alta e baixa densidade
de leito. A velocidade correspondente à esta transição para a fluidização turbulenta é da ordem
de 0,3 a 0,6 m/s.
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Para velocidades de gás ainda maiores, as partículas são arrastadas pelo gás e podem ser
recuperadas por ciclones e, assim, retornarem para o fundo do leito. Este sistema é chamado de
leito recirculante. Trata-se praticamente de um transporte pneumático.

6. EXPANSÃO DO LEITO
Na fluidização o leito se expande com o aumento da velocidade do fluido, e como a queda de
pressão é constante, a perda de carga por unidade de altura decresce com o aumento da
porosidade, conforme equação (2).
Na fluidização particulada a expansão do leito é uniforme e a sua porosidade pode ser expressa
empregando-se a equação de Ergun (3) e a equação (2), no caso de regime laminar:
ε3 150V0 µ
=
(1 − ε ) g( ρP − ρ)φ s2 Dp2 (8)
Observa-se que ε3/(1-ε) é proporcional à velocidade superficial V0 , com V0 > Umf .

€ Calculando-se o volume de particulado do leito na condição de mínima fluidização (εm e Lm) e


em outra condição de altura L e a porosidade ε, tem-se:
L A (1 − ε ) = Lm A (1 − ε m )

L = Lm
(1 − ε m )
(1 − ε ) (9)

Para fluidização em líquido e para partículas maiores a equação (8) não é válida, sendo
necessário a adoção de correlações empíricas específicas.

Na fluidização em leito borbulhante, a expansão do leito decorre principalmente do volume das
bolhas, pois a fase densa pouco se expande. A equação abaixo expressa a velocidade superficial
do gás em função da velocidade superficial na fase densa V0M e da velocidade média das bolhas
ub , sendo fb a fração do leito ocupada pelas bolhas.
V0 = f b ub + (1 − f b )V0M
(10)
Como todo o sólido está praticamente na fase densa, a altura do leito expandido multiplicada
€ pela fração da fase densa fornece a altura na condição de mínima fluidização, expressa por:
Lm = L (1 - f b )
(11)
Substituindo a equação (11) em (10), tem-se:
L u b - V0 M
=
Lm u b - V0 (12)
Nota-se, da equação (12), que para ub >> V0, a expansão do leito não é significativa. De fato a
expansão do leito é geralmente de 20 a 50%, no caso da fluidização por borbulhamento; muito
diferente da fluidização particulada, na qual a é muito maior.

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7. CLASSIFICAÇÃO DE MATERIAL PARTICULADO
Geldart (1973) estabeleceu uma classificação de material particulado, no que se refere à
fluidização em ar em condições ambiente, amplamente utilizada por profissionais da área. Na
figura 4 apresenta-se o diagrama com a classificação de Geldart, relacionada ao tamanho da
partícula e à diferença de densidade sólido - gás (no caso, ρS – ρG ). Deve-se observar que este
diagrama corresponde à operação em condições ambientes e onde o fluido é o ar.
Na Tabela 1 apresentam-se características dos quatro grupos (A, B, C e D) de partículas.
Grupo A: material constituído de partículas pequenas que a baixas velocidades fluidiza o leito,
mas sem borbulhamento. A fluidização com bolhas (bubbling fluidization) surge apenas em
velocidades altas.
Grupo B: material que apresenta fluidização com borbulhamento desde o início.
Grupo C: particulado muito fino (poeira), cuja coesão entre as partículas impede a fluidização.
Group D : material composto de partículas muito grandes ou muito densas que formam um leito
do tipo jorro (‘spouted bed’) ao invés da fluidização típica.

Figura 4 - Classificação de material particulado conforme propriedades de fluidização –


Geldart.

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Tabela 1 - Características dos quatro grupos ( A, B, C e D) de partículas.

8. APLICAÇÕES DA FLUIDIZAÇÃO
A principal vantagem da fluidização é a agitação vigorosa do sólido em contato com o fluido
que escoa pelo leito. A mistura do sólido proporciona uma uniformidade na temperatura,
mesmo em processos extremamente endotérmicos ou exotérmicos. As taxas de transferência de
calor e massa entre fluido e sólidos são altas neste tipo de operação.
Dentre as dificuldades associadas à operação destaca-se o problema de abrasão decorrente da
interação do material sólido com os internos do leito. Outra dificuldade é o arraste, e eventual
perda, do material mais fino no processo. Daí a necessidade de um sistema de ciclones, filtros
e outros equipamentos para retenção do particulado.
Dentre as aplicações da fluidização destacam-se: reações gás-sólido, reações catalisadas por
sólidos (craqueamento de frações de petróleo), secagem de sólidos, adsorção de gases, e
combustão de sólidos.

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Figura 5 - Regimes de escoamentos em leitos.

9. EXERCÍCIOS

1) Os seguintes dados foram obtidos por Leva et al. (1951) para a fluidização com ar de
catalisador Fischer-Tropsch, nas condições e parâmetros: 7.234 g de sólidos, 91ºF, pressão
atmosférica, diâmetro do tubo 4” e densidade do sólido 5 g/cm3 .

Velocidade Queda de pressão Altura de leito


mássica do gás no leito (lbf/ft2) (ft)
(lb/ft2 h)
228 200 1.51
194 190 1.40
160 187 1.34
142 184 1.29
127 181 1.26
109 179 1.22
94.7 166 1.21
82.8 137 1.21
69.1 115 1.21

9
55.3 90.6 1.21
41.2 67.5 1.21
27.6 45.6 1.21
14.2 22.8 1.21
7.95 11.4 1.21

a. Determinar (DPfs) efetivo do sistema a partir dos dados de leito fixo. (1,53 . 10-4 m)
b. Determinar através dos dados experimentais a porosidade e a velocidade na mínima
fluidização. (0,528 e 0,13 m/s)
c. Estimar a relação entre as velocidades de arraste e de mínima fluidização, através de
correlações fornecidas pela literatura, para fs = 1. (26,7)

2) Deseja-se projetar um sistema de fluidização destinado à secagem de produto químico.


Dados: diâmetro do secador 30 cm, carga de sólido 39 kg, porosidade na mínima fluidização
estimada em 0,48; partículas de 90 µm, esfericidade 0,8 e densidade 2,1 g/cm3 .
Para uma velocidade superficial de ar 2 vezes maior que a de fluidização mínima, estimar:
a. A altura do distribuidor formado por esferas de aço com diâmetro 200 µm tal que a
queda de pressão através deste seja 10% da queda de pressão no leito fluidizado;
porosidade 0,38.
b. A potência do soprador.
As propriedades do ar devem ser calculadas a 150o C e 1 atm.

3) A coluna de resina de troca iônica é lavada por meio de uma corrente ascendente de água a
qual acarreta uma expansão do leito e o consequente arraste das impurezas retidas. Estimar o
valor da velocidade superficial do fluido tal que a altura do leito seja o dobro daquela do leito
fixo. A resina é constituída de partículas praticamente esféricas de 0,3 mm de diâmetro e
densidade 1,2 g/cm3 . A porosidade do leito de mínima fluidização é estimada em 42%. A
lavagem é feita a 25 ºC.

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