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UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina

Depto De Eng. Química e de Eng. De Alimentos


EQA 5313 – Turma 645 – Op. Unit. de Quantidade de Movimento

FLUIDIZAÇÃO

A fluidização baseia-se fundamentalmente na circulação de sólidos


juntamente com um fluido (gás ou líquido) impedindo a existência de
gradientes de temperatura, de pontos muito ativos ou de regiões
estagnadas no leito; proporcionando também um maior contato superficial
entre sólido e fluido, favorecendo a transferência de massa e calor.
A eficiência na utilização de um leito fluidizado (Figura 1) depende
em primeiro lugar do conhecimento da velocidade mínima de fluidização.
Abaixo desta velocidade o leito não fluidiza; e muito acima dela, os sólidos
são carregados para fora do leito.

Aplicações de leitos fluidizados

1. Reações Químicas;
A.Catalítica
B.Não Catalíticas
- Homogêneas
- Heterogêneas
2. Contato Físico;
A. Transferência de Calor
- Para o, e do, leito fluidizado
- Entre gases e sólidos
- Controle de temperatura
- Entre pontos do leito
B. Mistura de Sólidos
C. Mistura de Gases
D. Secagem de Sólidos ou Gases
E. Acreção
F. Cominuição
G. Classificação de Sólidos
H. Adsorção- Dessorção
I. Tratamento Térmico
J. Recobrimento

Em operações da indústria de alimentos encontramos a sua


utilização em sistemas de torrefação de café; secagem e congelamento de
alimentos; recobrimento de doces, pastilhas, etc; sistemas de
microencapsulação, misturadores.

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Figura 1: Esquema geral do processo de fluidização.

Para o escoamento no leito fixo se o fluido escoa descendente a


queda de pressão será a mesma se escoar ascendente.
No escoamento ascendente quando o arraste de fricção sobre as
partículas a queda de pressão torna-se igual ao peso aparente das
partículas no leito (peso real menos a flutuação), as partículas se
arranjam dentro do leito de forma a oferecer menor resistência ao
escoamento e o leito começa se expandir. (inicia-se a fluidização)
Este processo continua com pequeno aumento da velocidade do
fluido, ficando a força de fricção constante e igual ao peso aparente das
partículas. Em velocidades maiores as partículas apresentam-se livres,
com mobilidade e a queda de pressão através do leito permanece
constante, sendo igual ao peso aparente do leito.
A Figura 2 ilustra as principais características de um leito fluidizado,
onde pode ser observado que leitos fluidizados transmitem forças
hidrostáticas e os sólidos menos densos flutuam mais próximos a
superfície. Na Figura 3 é mostrado o tipo de contato que pode ser obtido
em um leito fluidizado, dependendo se a fluidização é feita por gás ou
líquido. Em baixas vazões a fluidização com gás é similar a fluidização
com líquido. Entretanto, em altas vazões a fluidização com gás é diferente
da fluidização com líquido.

Figura 2 – Características de fluidização

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Figura 3 – Tipo de fluidização:

Fludização com líquido:


O leito expande com o aumento da velocidade do líquido tendo uma
expansão mais ou menos uniforme tanto em baixa como alta vazão, só
aumentando a agitação das partículas nas altas vazões (fluidização
particulada = fluidização com líquido)

Fluidização com gás:


Só é uniforme nas baixas vazões. Em altas velocidades ou vazões a
fluidização é agregativa, com formação de duas fases: emulsão e bolhas.
A fase de emulsão é a fase densa enquanto a de bolhas é a fase
descontinua.

• Na fluidização com gás bolhas passam através do leito como se o


leito estivesse em ebulição;
• Leitos longos pode formar “slugs” que é a coalescência de bolhas em
leitos estreitos (pequeno diâmetro);

Predição do tipo de fluidização

O tipo de fluidização pode ser determinado pelo Número de Froude.

'
v mf
Fr =
g.D p

Onde v’mf = velocidade mínima de fluidização

Se Fr < 1 fluidização partículada;


Se Fr > 1 fluidização agregativa

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Principais características da fluidização

• Mistura intima entre fase: contato muito bom entre fases;


• Transferência de calor é rápida: temperatura uniforme é rapidamente
atingida;
• Altas taxas de transferência de massa;
• Fácil controle de temperatura: aplicação para muitos processos de
reação exotérmicas onde controle de temperatura é importante;
• Boa fluidização significa ter leitos fluidizados sem canais preferenciais,
sendo importante a distribuição do fluido na entrada da base do leito.
Fluido bem distribuído dificulta a formação de canais preferenciais;

Sólidos não isométricos e sólidos que se aglomeram sempre


terão dificuldades de fluidizar.

Vantagens do leito fluidizado.

1. Comportamento dos sólidos similar a líquidos, pois permite operações


contínuas controladas automaticamente;
2. Rápida mistura dos sólidos fazem condições dentro do leito serem
isotérmicas (rápida troca de calor);
3. Circulação de sólidos entre 2 leitos possibilita transportar vasta
quantidade de calor produzida;
4. Serve bem para operações em larga escala;
5. T.M. e T.C. entre gás e partículas são altas, comparada a outros modos
de contato;
6. T.C. entre leito fluidizado e objetos imersos é alta. Conseqüentemente
trocadores de calor dento do leito requerer pequena área de troca
térmica.

Desvantagens do leito fluidizado

1. Difícil descrever o escoamento do gás, tem desvios grande do “plug-


flow” e “by-pass” de sólidos por meio de bolhas → Ineficiência de
contato;
2. Sólidos quebram-se e são arrastados pelo gás;
3. Erosão da tubulação e vasos pela abrasão de partículas pode ser séria.

Efeito da velocidade escoamento do fluido

Na Figura 4 é mostrada a variação da altura e a correspondente


variação da pressão ao longo do leito em função da velocidade superficial.

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Figura 4 - Gradiente de pressão e altura do leito versus
velocidade superficial.

A relação entre altura do leito e porosidade pode ser definida pela


relação:

L1 A(1 − ε 1 ) = L2 A(1 − ε 2 )
(1)

Queda de pressão e peso aparente do leito

Num leito fluidizado a força total de fricção sobre as partículas


deve ser igual ao peso efetivo do leito, ou seja, a força correspondente a
queda de pressão multiplicada pela área de secção transversal deve ser
igual a força gravitacional exercida pelas partículas menos a força de
empuxo correspondente ao fluido de deslocamento. Para um leito de
seção transversal A, comprimento L e porosidade ε têm-se para condição
de fluidização. Considerando que Lmf é a altura de mínima fluidização e εmf
a porosidade do leito na mesma condição podemos escrever:

(∆P) A = Lmf . A.(1 − ε mf ).( ρ P − ρ ).g(6

(∆P) (2)
= (1 − ε mf ) ⋅ ( ρ P − ρ ) ⋅ g
Lmf

Esta relação se aplica somente para o leito fluidizado, ou seja, desde


a mínima velocidade de fluidização até o transporte pneumático.

Velocidade mínima de fluidização

Na determinação da velocidade mínima de fluidização podem ser


observadas diferenças entre as velocidades medidas e calculadas que
podem ser originárias de vários fatores:
1. Canalizações: (força de arraste sobre sólidos se torna menor);
2. Ação de forças eletrostáticas ex.: fluidização de areia por gás;

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3. Aglomeração de partículas, quando pequenas partículas estão
presentes se aglomerando;
4. Fricção do fluido nas paredes do leito, quando o diâmetro do leito é
pequeno;
5. Efeito de parede.

Considerando que na maioria dos casos as partículas possuem forma


irregular é conveniente usar o fator de forma esférico (Φs) nas equações
que é razão da área superficial de uma esfera que possui o mesmo
volume da partícula e sua área superficial (para uma esfera Φs=1).
Portanto podemos substituir o diâmetro efetivo da partícula Dp pelo termo
ΦDp. Desta forma a equação de Ergun para determinar a queda de
pressão em leitos empacotados pode ser escrita como:

∆P µ.v' (1− ε )2 ρ.(v' )2 (1− ε )


= 150. 2 2 +1,75.
∆L ΦS Dp ε 3
ΦS Dp ε 3 (3)

onde ∆L = L, o comprimento do leito em metros.

A equação acima, substituída na equação 2, pode ser agora utilizada


para leitos empacotados para calcular a velocidade mínima de fluidização
v’mf, na qual a fluidização inicia, substituindo v’ por v’mf; ε por εmf e L por
Lmf; desta forma temos:

Dp2 ⋅ (vmf
'
)2 ρ 2 (1− ε mf )Dp ⋅ vmf
'
ρ Dp3 ρ (ρ p − ρ ) g
1,75. +150. − =0
Φε µ 3
S mf
2
Φε µ
2 3
S mf µ 2

Definindo o número de Reynolds como:

D p ⋅ v mf
'
⋅ρ
N Re,mf =
µ

A equação para a determinação da velocidade mínima torna-se:

( NRe,mf )2 (1− ε mf ) NRe,mf D3p ρ (ρ p − ρ ) g


1,75. +150. − =0
Φε 3
S mf Φε
2 3
S mf µ 2

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Quando NRe,mf < 20 ( partículas pequenas) o primeiro termo da
equação pode ser desprezado e quando NRe,mf > 1000 (partículas
grandes) o segundo termo pode ser desprezado.
Se os valores de εmf e/ou o fator de forma Φ não são conhecidos as
relações abaixo são validas para um conjunto extenso de sistemas.

1 (1 − ε mf )
Φ S ⋅ ε mf
3
≅ ≅ 11
14 Φ 2S ε mf
3

Substituindo na equação temos:

1/ 2
 D ρ (ρ p − ρ ) g  3

NRe,mf = (33,7) + 0,0408


2

p
− 33,7
 µ 2

Esta equação aplica-se a números de Reynolds na faixa de 0,001
a 4000 com uma variação média de 25%. Na literatura encontram-se um
conjunto extenso de equações para o cálculo dos parâmetros discutidos
neste tópico.

Exemplo: Partículas sólidas com 0,12mm, densidade de 1000 kg/m3 e


fator de forma 0,88 são fluidizadas com ar a 2 ATM a 25oC. A porosidade
nas condições de fluidização (εmf) é de 0,42.
i) Considerando que a seção transversal do leito tem 0,3 m2 e
contem 300 kg de sólidos, determine a altura mínima do leito.
ii) Qual é a queda de pressão nas condições mínimas de fluidização
iii) Qual é a velocidade mínima de fluidização
iv) Determine a velocidade considerando que não é informada a
porosidade e o fator de forma
v) Caso adicionarmos mais 300 kg de sólidos ao leito,qual é a
velocidade mínima de fluidização.

Propriedades do ar a 2 ATM e 25oC.


Viscosidade = 1,845 x 10-5 Pa.s; densidade = 2,374 kg/m3;

i) a altura que os sólidos ocupariam se a ε = 0 é L1 = 0,3 m3/0,30


m2 (seção transversal); logo L1 = 1m

L1 A(1 − ε 1 ) = Lmf A(1 − ε mf )

Lmf = 1,724 m
ii) para calcular a queda de pressão temos

(∆P) A = Lmf . A.(1 − ε mf ).( ρ P − ρ ).g

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∆P = 9776 Pa
iii) para calcular a vmf temos:

( NRe,mf )2 (1− ε mf ) NRe,mf D3p ρ (ρ p − ρ ) g


1,75. +150. − =0
Φε 3
S mf Φε 2 3
S mf µ 2

resolvendo temos Nre,mf = 0,07799

substituindo os valores temos então que vmf = 0,005029 m/s

iv) para esta condição temos a equação:

1/ 2
 D ρ (ρ p − ρ ) g 
3

NRe,mf = (33,7) + 0,0408


2 p
 − 33,7
 µ 2

e vmf = 0,004618 m/s

v) a velocidade será 5,03 x 10-3m/s

REFERÊNCIAS

1. Coulson, J.M, & Richardson. J.F “Chemical Engineering – Volume 2


Fourth Edition (Particle Technology and Separation Processes),
Pergamon Press, (1991).
2. McCabe, W.L, Smith, J.C. and Harriott, P. “Unit Operations of Chemical
Engineering, Fouth Edition, McGraw-Hill, (1985)
3. Kunii, D. & Levenpiel, O. “Fluidization Engineering”, Robert E. Krieger
Publisinh, (1977).
4. Geankoplis, C. J. “Transport Process and Unit Operations” Ed. Prentice
Hall ( 1993)

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