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Cinemática dos Fluidos

Curso de Graduação em Engenharia Mecânica


Departamento de Engenharia Mecânica
Escola de Minas
Universidade Federal de Ouro Preto
Prof. Luiz Joaquim Cardoso Rocha
Cap4. Cinemática dos Fluidos
Cinemática dos Fluidos: Métodos de análise de Lagrange e Euler.
Campo de aceleração – a derivada material. Trajetória, linha de corrente.
O teorema do Transporte de Reynolds.
Cinemática dos Fluidos

OBJETIVOS
Ao terminara leitura deste capítulo você deve ser capaz de:
Entender o papel da derivada material na transformação entre as descrições
lagrangiana e euleriana
Distinguir entre diversos tipos de visualizações de escoamento e métodos de
representação gráfica das características de um escoamento de fluido
Ter uma percepção das diversas maneiras pelas quais os fluidos se movem e se
deformam
Distinguir entre regiões rotacionais e irrotacionais do escoamento com base na
vorticidade do escoamento
Entender a utilidade do teorema de transporte de Reynolds
Cinemática dos Fluidos
O assunto chamado cinemática diz respeito ao estudo do movimento. Na
dinâmica dos fluidos, a cinemática dos fluidos é o estudo de como os fluidos
escoam e de como descrever o movimento de fluidos. Sob um ponto de vista
fundamental, existem duas formas distintas de descrever o movimento. A
primeira e mais familiar é aquela que você aprendeu nas aulas de física do
colégio — seguir a trajetória dos objetos individuais. Por exemplo, todos já
vimos as experiências de física nas quais uma bola em uma mesa de bilhar
ou um disco em uma mesa de ar de hóquei colide com outra bola ou outro
disco ou com a parede (Figura 4-1). As leis de Newton são usadas para
descrever o movimento desses objetos, e podemos prever com exatidão
aonde eles vão e como o momento e a energia cinética são trocados de um
objeto para outro. A cinemática dessas experiências envolve acompanhar o
vetor posição de cada objeto, xA, xB ... e o vetor velocidade de cada objeto,
VA, VB ... , como funções do tempo (Figura 4-2). Quando esse método é
aplicado ao escoamento de um fluido, ele é chamado de descrição
lagrangiana do momento do flui­do em homenagem ao matemático italiano
Joseph Louis Lagrange (1736-1813). A análise lagrangiana é análoga à
análise de sistemas que você aprendeu em suas aulas de termodinâmica; ou
seja, seguimos uma massa de identidade flxa.
Cinemática dos Fluidos
Sob o ponto de vista microscópico um fluido é composto de bilhões de moléculas que estão
continuamente se chocando, um pouco como as bolas de bilhar, mas a tarefa de acompanhar,
mesmo que seja um subconjunto dessas moléculas, é muito difícil, até para nossos
computadores mais rápidos e maiores. No entanto, existem muitas aplicações práticas para a
descrição lagrangiana, como o controle dos escalares passivos em um escoamento, cálculos da
dinâmica de gás rarefeito com relação à reentrada de uma nave espacial na atmosfera da Terra,
e o desenvolvimento dos sistemas de medição de escoamento com base na imagem de
partículas (como discutido na Seção 4-2). Um método mais comum para descrever o
escoamento de fluidos é a descrição euleriana do movimento de fluidos, que recebeu esse nome
em homenagem ao matemático suíço Leonhard Euler (1707-1783).
Na descrição euleriana do escoamento de fluidos, um volume finito chamado de domínio de
escoamento ou volu­me de controle é definido, através do qual o fluido escoa para dentro e para
fora. Não precisamos acompanhar a posição e a velocidade de uma massa de partículas de
fluido com identidade fixa. Em vez disso, definimos as variáveis de campo, funções do espaço e
do tempo, dentro do volume de controle. Por exemplo, o campo de pressão é uma variável de
campo escalar, e para escoamento de fluido tridimensional geral em regime não permanente em
coordenadas cartesianas
Cinemática dos Fluidos
Campo de pressão p= p( x , y , z , t ) (4.1)

Definimos o campo de velocidade como uma variável de campo vetorial e de


forma semelhante

Campo de velocidade V =V (x , y , z , t ) (4.2)

Da mesma forma, o campo de aceleração também é uma variável de campo vetorial

Campo de aceleração a=a (x , y , z , t) (4.3)

Coletivamente, essas (e outras) variáveis de campo definem o campo de escoa­mento. O campo


de velocidade da Equação 4-2 pode ser expandido em coorde­nadas cartesianas (x, y, z), (i,j,k)
como
V =(u , v , w)=u (x , y , z , t) i+ v (x , y , z , t ) j +w( x , y , z , t) k (4.4)

Uma expansão semelhante pode ser escrita para o campo de aceleração da Equação 4-3.
Cinemática dos Fluidos
Na descrição euleriana, todas essas variáveis de campo são definidas em qualquer local (x, y, z)
no volume de controle e em qualquer instante de tempo t. Na descrição euleriana não nos
importamos real­mente com o que acontece com as partículas individuais de fluido. Na
verdade, estamos interessados na pressão, velocidade, aceleração e outras propriedades
da partícula de fluido que esteja no local de interesse, no momento de interesse.
A diferença entre essas duas descrições fica mais clara quando se imagina uma pessoa em pé
ao lado de um rio, medindo suas propriedades. Na abordagem lagrangiana, ela joga uma sonda
que se move a jusante com a água. Na abordagem euleriana, ela ancora a sonda em um local
fixo na água.
Embora haja muitas ocasiões nas quais a descrição lagrangiana é útil, a des­crição euleriana
quase sempre é mais conveniente para aplicações da mecânica dos fluidos. Além disso,
medições experimentais em geral são mais adaptadas à descrição euleriana. Em um túnel de
vento, por exemplo, sondas de velocidade ou pressão em geral são colocadas em locais fixos do
escoamento, medindo V(x, y, z, t) ou p(x, y, z, t). Entretanto, embora as equações do movimento
da descrição lagrangiana que acompanham as partículas individuais de fluido sejam bem co­
nhecidas (por exemplo, a segunda lei de Newton), as equações de movimento do escoamento
de fluidos não são tão óbvias na descrição euleriana e devem ser cuida­dosamente deduzidas.
Cinemática dos Fluidos
EXEMPL0 4-1: Um Campo de Velocidade Bidimensional em Regime Permanente

Um campo de velocidade bidimensional, incompressível e permanente é dado por

V =(u , v )=(0,5+0,8 x) i+(1,5−0,8 y ) j (1)

onde as coordenadas x e y estão em metros e a velocidade está em m/s. Um ponto de


estagnação é definido como um ponto no campo de escoamento no qual a velocidade é
identicamente zero. (a) Determine se há muitos pontos de estag­nação neste campo de
escoamento e, nesse caso, onde? (b) Esboce os vetores velocidade em diversos locais do
domínio entre x de -2 a 2 m e y de 0 a 5 m; descreva qualitativamente o campo de escoamento.

SOLUÇÃO: Para determinado campo de velocidade, as posições dos pontos de estagnação


devem ser determinadas. Vários vetores velocidade devem ser desenhados e o campo de
velocidade deve ser descrito.

Hipóteses: 1 O escoamento é em regime permanente e incompressível. 2 O escoamento é


bidimensional, implicando uma componente nula z para a velocidade e nenhuma variação de u
ou v com z.
Cinemática dos Fluidos
Análise (a) Como V é um vetor, todas as suas
componentes devem ser iguais a zero para que o
próprio V seja zero. Usando a Equação 4-4 e definindo
a Equação 1 igual a zero

u=0,5+0,8 x=0 x=−0,625 m

v=1,5−0,8 y=0 y=1,875 m


Existe um ponto de estagnação localizado em
x = -0,625 m, y = 1,875 m.

(b) As componentes x e y da velocidade são


calculadas com a Equação 1 para vários locais (x, y)
da região especificada. Por exemplo, no ponto (x = 2
m, y = 3 m), u = 2,10 m/s e v = -0,900 m/s. O módulo
da velocidade (a velocidade escalar) naquele ponto é
2,28 m/s. Nesse e em uma variedade de outros locais,
o vetor velocidade foi construído com suas duas
componentes e os resultados são mostrados na Figura
4-4. O escoamento pode ser descrito com o um
escoamen­to de ponto de estagnação no qual o
escoamento entra pelas partes superior e inferior e se
espalha para a direita e a esquerda em torno de uma
linha
Cinemática dos Fluidos
CAMPO DE ACELERAÇÃO
No estudo da termodinâmica você deve ter visto que as leis fundamentais de conser­vação (como
conservação de massa e a primeira lei da termodinâmica) são expres­sas para um sistema de
identidade fixa (também chamado de sistema fechado). Nos casos em que a análise de um
volume de controle (também chamado de sistema aberto) é mais conveniente do que a análise
do sistema, é preciso reescrever essas leis fundamentais de forma que possam ser aplicadas ao
volume de controle. O mesmo princípio se aplica aqui. Na verdade, existe uma analogia direta
entre sis­temas versus volumes de controle na termodinâmica e nas descrições lagrangiana
versus euleriana na dinâmica dos fluidos. As equações do movimento do escoa­mento de fluidos
(como a segunda lei de Newton) são escritas para um objeto de identidade fixa, tomado aqui
como uma pequena porção de fluido, que chamamos de partícula de fluido ou partícula
material. Se tivéssemos que seguir o movi­mento de determinada partícula de fluido em seu
escoamento, estaríamos usando a descrição lagrangiana, e as equações do movimento seriam
diretamente aplicáveis. Por exemplo, definiriamos o local da partícula no espaço em termos de
um vetor posição material (xpartícula(t), ypartícula(t), zpartícula(t)). Entretanto, uma certa manipulação
matemática seria necessária para converter as equações de movimento em for­mas aplicáveis à
descrição euleriana.
Considere, por exemplo, a Segunda Lei de Newton aplicada a nossa partícula de fluido

Segunda Lei de Newton (4.5)


F partícula=m partícula a partícula
onde Fpartícula é a força resultante que age sobre a partícula de fluido, é sua massa e é sua
aceleração (Figura 4-6). Por definição, a aceleração da partícula de fluido é a derivativa no
tempo da velocidade da partícula
Cinemática dos Fluidos
Por definição, a aceleração da partícula de fluido é a derivativa no tempo da velocidade da
partícula
d V partícula
a partícula= (4.6)
dt
Entretanto, em qualquer instante de tempo t, a velocidade da partícula é igual ao valor local do
campo de velocidade no local (xpartícula(t), ypartícula(t), zpartícula(t)) da partícula, uma vez que a p artícula
de fluido se movimenta com o fluido, por defi­nição. Em outras palavras, Vpartícula(t) = V( (xpartícula(t),
ypartícula(t), zpartícula(t), t). Para tomar a derivada de tempo da Eguação 4-6, devemos usar a regra da
cadeia^ uma vez que a variável dependente (V) é uma função de quatro variáveis independentes
(xpartícula(t), ypartícula(t), zpartícula(t), t)
d V partícula d V ( x partícula , y partícula , z partícula , t )
a partícula= =
dt dt
∂V partícula dt ∂ V partícula dx partícula ∂ V partícula dy partícula ∂ V partícula dz partícula
= + + +
∂t dt ∂x dt ∂y dt ∂z dt
∂V partícula dt ∂ V partícula dx partícula ∂ V partícula dy partícula ∂ V partícula dz partícula
= + + +
∂t dt ∂x dt ∂y dt ∂z dt

∂ V partícula ∂V partícula ∂ V partícula ∂ V partícula


a partícula= +u +v +w (4.7)
∂t ∂x ∂y ∂z
Cinemática dos Fluidos
Na Equação 4-7, ∂ é o operador de derivada parcial e D é o
operador de derivada total. Considere o segundo termo do
lado direito da Equação 4-7. Como a aceleração é definida
como a obtida seguindo uma partícula de fluido (descrição
lagrangiana), a taxa de variação da posição x da partícula
com relação ao tempo é dxpartícula/dt = u (Figura 4-7), onde u é
a componente x do vetor velocidade definido pela Equação
4-4. Da mesma forma, dypartícula/dt = v e dzpartícula/dt = w. Além
disso em qualquer instante de tempo considerado, o vetor
posição material (xpartícula, ypartícula, zpartícula ) da paitícula de fluido
na descrição lagrangiana é igual ao vetor posição (x, y, z) na
descrição euleriana. Assim, a Equação 4-7 toma-se

∂V ∂V ∂V ∂V
a partícula ( x , y , z ,t )= +u +v +w (4.8)
∂t ∂x ∂y ∂z

onde também usamos o fato (óbvio) que dt/dt = 1. Finalmente, em qualquer instante de tempo t,
o campo de aceleração da Equação 4-3 deve ser igual à ace­leração da partícula de fluido que
ocupa o local (x, y, z) naquele instante t, uma vez que a partícula de fluido está, por definição,
acelerando com o escoamento do flui­do. Dessa forma, podemos substituir apartícula por a (x, y, z,t)
nas Equações 4-7 e 4-8 para transformar do sistema de referência lagrangiana para o euleriano.
Cinemática dos Fluidos
A aceleração de uma partícula de fluido egressa como variável de
campo:
D V ∂V ∂V ∂V ∂V ∂V
a( x , y , z , t)= = +u +v +w = +(V⋅∇ )⋅V (4.9)
Dt ∂t ∂x ∂y ∂ z ∂t
onde ∇ é o operador gradiente ou o operador del.

O operador gradiente ou o operador del, ∇ , é um operador vetorial


definido em coordenadas cartesianas como
∇= i ∂ + j ∂ + z ∂
∂x ∂y ∂z (4.10)

O primeiro termo do lado direito da Equação 4-9, ∂ V / ∂ t é chamado


de acele­ração local e é dfiferente de zero para escoamentos em
regime não permanente. O segundo termo, (V⋅∇ )⋅V é chamado de
aceleração advectiva (também chamada de aceleração convectiva);
este termo pode ser diferente de zero mesmo para escoa­mentos em
regime permanente. Ele representa o efeito de uma partícula de
fluido que se move (advectiva ou convectivamente) para um novo
local no escoamento, onde o campo de velocidade é diferente. Por
exemplo, considere o escoamento em regime permanente da água
através do bocal de uma mangueira de jardim (Figura 4-8)
Cinemática dos Fluidos
Em coordenadas cartesianas, portanto, as componentes do vetor aceleração são

∂u ∂u ∂u ∂u
ax= +u +v +w
∂t ∂x ∂y ∂z

∂v ∂v ∂v ∂v
a y= +u +v +w
∂t ∂x ∂y ∂z (4.11)

∂w ∂w ∂w ∂w
a z= +u +v +w
∂t ∂x ∂y ∂z

No sistema de referência euleriana, em regime permanente pode ser definido como sendo
quando as propriedades em qualquer ponto do campo de escoamento não variam com relação
ao tempo. Como a velocidade da saída do bocal é maior do que aquela da entrada do bocal, as
partículas de fluido claramente aceleram, embora o escoamento seja em regime permanente. A
aceleração é diferente de zero por conta dos termos da aceleração advectiva da Equação 4-9.
Observe que embora o escoamento seja em regime permanente do ponto de vista de um
observador fixo no sistema de referencia euleriano, ele não é em regime permanente no sistema
de referência lagrangiana movendo-se com uma partícula de fluido que entra no bocal e acelera
à medida que passa através dele.
Cinemática dos Fluidos
EXEMPLO 4 -2: A Aceleração de uma Partícula de Fluido através de
um Bocal

Laura está lavando seu carro, usando um bocal semelhante àquele


mostrado na Figura 4-8. O bocal tem 3,90 pol (0,325 pés) de
comprimento, com diâmetro de entrada de 0,420 pol (0,0350 pés) e
diâmetro de saída de 0,182 pol (ver Figura 4-9). A vazão em volume
através da mangueira de jardim (e através do bocal) é Q = 0,841
gal/min (0,00187 pé3/s) e o escoamento é estacionário. Estime o
módulo da aceleração de uma partícula de fluido que se movimenta no
eixo central do bocal.

SOLUÇÃO A aceleração seguindo uma partícula de fluído no eixo


central de um bocal deve ser estimada.
Hipóteses 1 O escoamento é em regime permanente e
incompressível. 2 A direção x é tomada ao longo do eixo central do
bocal. 3 Por simetria, v = w = 0 ao longo do eixo central, mas u
aumenta através do bocal.
Cinemática dos Fluidos
Análise: O escoamento é em regime permanente e você pode se sentir tentado a dizer que a
aceleração é zero. Entretanto, embora a aceleração local ∂ V /∂ t identicamente zero para este tipo
de escoamento em regime permanente, a aceleração advectiva (V⋅∇ )⋅V não é zero. Primeiro
calculamos a com ponente x média da velocidade na entrada e saída do bocal, dividindo a vazão de
volume pela área da seção transversal:
Q 4Q 4 (0,00187 pe ³ / s)
Velocidade de entrada: uentrada = = uentrada = =1,95 pe/ s
A π D2 π (0,0350 pe)
2

Da mesma forma, a velocidade de saída média é usaída = 10,4 pés/s. Agora cal­culamos a aceleração
de duas maneiras, com resultados equivalentes. Em primeiro lugar, um simples valor médio de
aceleração na direção x é calculado com base na variação da velocidade dividida por uma
estimativa do tempo de residência de um a partícula de fluido no bocal, Δ t=Δ x /Δ umed (Figura 4-10).
Pela definição fundamental da aceleração com o a taxa de variação da velocidade,
Δ u u saída−uentrada usaída −u entrada u ² −u ²entrada
Método A: ax= = = = saída
Δt Δ x / Δ umed 2 Δ x /(u entrada +usaída ) 2Δ x
O segundo método usa a equação das componentes do campo de aceleração em coordenadas
cartesianas, a Equação 4-11,
∂u ∂u ∂u ∂u ∂u Δ u u ² saída−u ² entrada
a x = +u +v +w =u =umed = =160 pe ²/ s
∂t ∂x ∂y ∂z ∂x Δx 2Δ x
Aqui vem os que apenas um termo advectivo é diferente de zero. Aproximamos a velocidade média
através do bocal como a média entre as velocidades de entrada e saída e usamos como
aproximação a diferença finita de primeira ordem para o valor médio da derivada du/dx no eixo
central do bocal:
Cinemática dos Fluidos
DERIVADA MATERIAL

0 operador diferencial total (d/dt) da Equação 4-9 recebe um nome especial, derivada materíal;
alguns autores também atribuem uma notação especial a ele, D/Dt para enfatizar que ele é
formado seguindo uma partícula de fluido à medida que ela se movimenta através do campo de
escoamento (Figura 4-12). Outros nomes para a derivada material incluem derivada total, de
partícula, lagrangiana, euleriana e substancial.
D ∂
derivada materíal = +(V⋅∇ ) (4.12)
Dt ∂ t
Quando aplicamos a derivada material da Equação 4-12 ao campo de velocidade, o resultado é
o campo de aceleração expresso pela Equação 4-9 que, portanto, às vezes é chamado de
aceleração material.
D V ∂V
a( x , y , z , t )= = +(V⋅∇ )V
aceleração materíal Dt ∂t (4.13)

A Equação 4-12 também pode ser aplicada a outras propriedades dos fluidos além da
velocidade, tanto escalares quanto vetoriais. Por exemplo, a derivada material da pressão pode
ser escrita como
D P ∂P
= +(V⋅∇ ) P
Dt ∂t
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4-2 - FUNDAMENTOS DA VISUALIZAÇÃO DO ESCOAMENTO

Embora o estudo quantitativo da dinâmica dos fluidos exija matemática avançada, é possível
aprender muito com a visualização do escoamento — o exame visual das características do
campo de escoamento. A visualização do escoamento não é ape­nas útil em experiências físicas
(Figura 4-15), mas em soluções numéricas também [dinâmica de fluidos computacional (CFD)].
Na verdade, a primeira coisa que um engenheiro faz ao usar a CFD e após obter uma solução
numérica é simular alguma forma de visualização do escoamento, para que possa ver o “quadro
geral”, em vez de apenas listar os números e dados quantitativos. Por quê? Porque a mente
humana foi feita para processar rapidamente uma quantidade incrível de informações visuais;
como dizem, uma figura vale mil palavras. Existem muitos tipos de padrões de escoamento que
podem ser visualizados fisicamente (experimentalmente) e/ou computacionalmente.
Cinemática dos Fluidos
Linhas de Corrente e Tubos de Corrente

Uma linha de corrente é um a curva que é tangente em todos os pontos ao vetor


velocidade local instantâneo.

As linhas de corrente são úteis como indicadores da direção instantânea do movimento dos
fluidos ao longo do campo de escoamento. Por exemplo, as regiões de escoamento de
recirculação e separação de um fluido de uma parede sólida são facilmente identifi­cadas pelo
padrão das linhas de corrente. As linhas de corrente não podem ser observadas
experimentalmente, exceto nos campos de escoamento em regime permanente, nos quais elas
são coincidentes com as linhas de trajetória e linhas de emissão, que serão discutidas a seguir.
Matematicamente, porém, podemos escrever uma expressão simples para uma linha de corrente
com base em sua definição.

Considere um comprimento de arco infinitesimal dr = dx i + dy j + dz k ao longo de uma linha de


corrente; dr deve ser paralelo ao vetor velocidade local V = u i + v j + w k por definição de linha
de corrente. Por meio de argumentos geométricos simples usando triângulos semelhantes,
sabemos que as componentes de dr devem ser proporcionais àquelas de V (Figura 4-16). Assim,
dr dx dy dz
equação de uma linha de corrente: = = = (4.15)
V u v w
onde dr é o comprimento de dr e V é a velocidade escalar, o módulo de V.
Cinemática dos Fluidos
Na Figura 4-16, a Equação 4-15 está ilustrada em duas dimensões por simplicidade. Para um
campo de velocidade conhecido, podemos integrar a Equação 4-15 para obter as equações das
linhas de corrente. Em duas dimensões (x, y), (u, v) a seguinte equação diferencial é obtida:

dy v
Linha de corrente no plano xy: ( )
dx ao longo de uma linha de corrente
=
u
(4.16)

Em alguns casos simples a Equação 4-16 pode ser resolvida analiticamente; no caso geral ela
deve ser resolvida numericamente. Em ambos os casos, uma cons­tante arbitrária de integração
aparece e a família de curvas que satisfaz a Equação 4-16 representa as linhas de corrente do
campo de escoamento.
Cinemática dos Fluidos
EXEMPLO 4-4: Linhas de Corrente no Plano xy — Uma Solução Analítica

Para o campo de velocidade bidimensional, incompressível e estacionário do Exemplo 4-1 trace


várias linhas de corrente na metade direita do escoamento (x>0) e compare aos vetores
velocidade desenhados na Figura 4-4. v=(1,5−0,8 y ) j+(0,5+0,8 x )i

SOLUÇÃO Uma expressão analítica das linhas de corrente deve ser gerada e está
representada graficamente no quadrante direito superior.

Hipóteses 1. 0 escoamento é em regime permanente e incompressível. 2. 0 escoamento é


bidimensional, implicando numa componente z nula para a velo­cidade e nenhuma variação de u
ou v com z.
Análise A Equação 4-16 se aplica aqui e, portanto, ao longo de um a linha
de corrente
dy v (1,5−0,8 y)
( ) = =
dx u (0,5+0,8 x )

Resolvemos essa equação diferencial por separação das variáveis:


C
y= +1,875
0,8(0,5+0,8 x )

onde C é um a constante de integração que irá assum ir diversos valores


para traçar as linhas de corrente. A Figura 4-17 mostra várias linhas de
corrente do campo de escoamento dado.
Cinemática dos Fluidos
Um tubo de corrente consiste em um conjunto de linhas de corrente (Figura 4-18), da mesma
forma que um cabo de comunicação consiste em um conjunto de cabos de fibra ótica. Como as
linhas de corrente são paralelas em todos os pontos à velocidade local, o fluido não pode cruzar
uma linha de corrente, por definição. Por extensão, o fluido dentro de um tubo de corrente deve
permanecer lá e não pode cruzar a fronteira do tubo de corrente. Você deve lembrar que tanto as
linhas de corrente quanto os tubos de corrente são quantidades instantâneas definidas em
determinado instante no tempo, de acordo com o campo de velocidade naquele instante. Em um
escoamento em regime não permanente o padrão das linhas de corrente pode variar
significativamente com o tempo. No entanto, em qualquer instante, a vazão em massa que passa
através de qualquer fatia de seção transversal de determinado tubo de corrente deve
permanecer a mesma. Por exemplo, em uma parte convergente de um campo de escoamento
incompressível, o diâmetro do tubo de corrente deve diminuir à medida que a velocidade
aumenta, para conservar a massa (Figura 4-19a). Da mesma forma, o diâmetro do tubo de
corrente aumenta em pontos divergentes do escoamento incompressível (Figura 4-19b).
Cinemática dos Fluidos
Linhas de Trajetória

Uma linha de trajetória é a trajetória real percorrida por uma partícula de fluído individual
em determinado período de tempo.

As linhas de trajetória formam o padrão do escoamento mais fácil de entender. Uma linha de
rajetória é um conceito lagrangiano, pois apenas seguimos o caminho de uma partícula de fluido
individual à medida que ela se movimenta ao longo do campo de escoamento (Figura 4-20).

Assim, uma linha de trajetória é igual ao vetor posição material


da partícula de fluido (xpartícula(t), ypartícula(t), zpartícula(t)), discutido na
Seção 4-1, acompanhado sobre algum intervalo de tempo finito.
Em uma expe­riência física, você pode imaginar uma partícula de
fluido sinalizadora que está mar­cada de alguma forma — seja
por cor ou brilho — para que ela possa ser facilmente
diferenciada das partículas de fluido vizinhas. Agora imagine
uma câmera com o obturador aberto por determinado período,
tinicial< t < tfinal na qual a trajetória da partícula é registrada; a curva
resultante é chamada de linha de trajetória.
Cinemática dos Fluidos
Um exem­plo intrigante é mostrado na Figura 4-1 no caso de ondas que se movimentam na
superfície da água de um tanque. As partículas sinalizadoras flutuantes brancas e neutras estão
suspensas na água, e uma fotografia de longa exposição é tirada durante um período de onda
completo. O resultado são linhas de trajetória de forma elíptica, mostrando que as partículas de
fluido agitam-se para cima e para baixo e para a frente e para trás, mas retomam à posição
original após a conclusão de um período de onda; não existe um movimento resultante para a
frente. Você já deve ter experimentado algo semelhante ao boiar para cima e para baixo nas
ondas do mar.

Se o campo da velocidade é em regime permanente, as partículas individuais e fluido seguirão


as linhas de corrente. Assim, para escoamento em regime perma­nente, as linhas de trajetória
são idênticas às linhas de corrente.
Cinemática dos Fluidos
Linhas de Emissão

Uma linha de emissão é o conjunto das posições das partículas de fluido que
passaram sequencialmente através de um ponto prescrito do escoamento.

As linhas de emissão são o padrão de escoamento mais comum


gerado por um experimento físico. Se você inserir um pequeno tubo
em um escoamento e introduzir uma corrente de fluido sinalizador
(tinta em um escoamento de água ou fumaça em um escoamento de
ar), o padrão observado é uma linha de emissão. A Figura 4-23
mostra um sinalizador sendo injetado em um escoamento em
corrente livre contendo um objeto, como o perfil de uma asa. Os
círculos representam as partículas individuais do fluido sinalizador
injetado liberadas em intervalos de tempo uniformes. À medida que
as partículas são forçadas para fora do caminho do objeto, elas
aceleram ao redor do ombro do objeto, como indica a maior distância
entre as partículas sinalizadoras indi­viduais naquela região. A linha de
emissão é formada conectando-se todos os círculos em uma curva
suave. Em experimentos físicos em um túnel de vento ou água, a
fumaça ou tinta é injetada continuamente, não como partículas
individuais, e o padrão de escoamento resultante é, por definição,
uma linha de emissão.
Cinemática dos Fluidos
Na Figura 4-23, a partícula sinalizadora 1 foi liberada em um instante anterior ao da
partícula 2 e assim por diante. A posição de uma partícula sinalizadora individual é
determinada pelo campo de velocidade em tomo dela partir do instante de sua injeção no
escoamento até o instante atual.
Se o escoamento é em regime não permanente, o campo de
velocidade na vizinhança muda e não podemos esperar que a
linha de emissão resul­tante se pareça com uma linha de
corrente ou com uma linha de trajetória em nenhum instante
dado. Entretanto, se o escoamento é em regime permanente,
as linhas de cor­rente, as linhas de trajetória e as linhas de
emissão são idênticas (Figura 4-24). Com frequência as linhas
de emissão são confundidas com as linhas de cor­rente ou
linhas de trajetória. Embora os três padrões de escoamento
sejam idênticos no escoamento estacionário, elas podem ser
bem diferentes no escoamento não estacionário. A principal
diferença é que uma linha de corrente representa um padrão
de escoamento instantâneo em determinado instante de
tempo, enquanto as linhas de corrente e linhas de trajetória
têm alguma idade e, portanto, um histórico de tempo
associado a elas. Uma linha de emissão é um instantâneo de
um padrão de escoa­mento integrado no tempo. Uma linha de
trajetória, por outro lado, é uma fotografia de longa exposição
da trajetória no escoamento de uma partícula individual em
algum período de tempo.
Cinemática dos Fluidos
Trajetória, Linhas de Corrente de Emissão e de Tempo
Trajetória: mostram o trajeto percorrido por uma partícula individual ao longo do tempo.

Linhas de Corrente: são uma família de curvas tangentes à velocidade do fluxo em um determinado
instante.

Linhas de emissão: são o lugar geométrico, em um determinado instante, de todas as partículas que
passaram por um dado ponto no espaço em um dado instante passado.
Linhas de tempo: são o lugar geométrico, em um determinado instante, de um conjunto de partículas
que formava uma linha num dado instante passado.
Cinemática dos Fluidos
4-5 - 0 TEOREMA DE TRANSPORTE DE REYNOLDS

Em termodinâmica e mecânica de sólidos quase sempre trabalhamos com um sis­tema


(também chamado de sistema fechado), definido como uma quantidade de matéria de
identidade fixa. Em dinâmica dos fluidos, é mais comum trabalhar com um volume de
controle (também chamado de sistema aberto), definido como uma região no espaço
selecionada para estudo. O tamanho e a forma de um siste­ma pode mudar durante um
processo, mas nenhuma massa cruza suas fronteiras. Um volume de controle, por outro
lado, permite que a massa escoe para dentro ou para fora de suas fronteiras, as quais são
chamadas de superfície de controle. Um volume de controle também pode se movimentar e
deformar durante um processo, mas muitas aplicações do mundo real envolvem volumes de
controle fixos e não deformáveis.

A Figura 4-52 ilustra tanto um sistema quanto um volume de


controle para o caso de um desodorante sendo aplicado por meio
de uma lata de spray. Ao analisar o processo do spray, uma opção
natural para nossa análise seria o fluido móvel e deformante (um
sistema) ou o volume definido pelas superfícies internas da lata
(um volume de controle). Essas duas opções são idênticas antes
do desodorante ser aplicado. Quando parte do conteúdo da lata é
descarregado, a abordagem via sis­tema considera a massa
descarregada parte do sistema e esta é seguida (uma tarefa sem
dúvida difícil). Assim, a massa do sistema permanece constante.
Cinemática dos Fluidos
Conceitualmente, isso é equivalente a anexar um balão vazio ao bocal da lata e deixar que
o spray infle o balão. A superfície interna do balão agora toma-se parte da fronteira do
sistema. A abordagem via volume de controle, porém, não se preocupa com o desodorante
que escapou da lata (além de suas propriedades na saída) e, portanto, a massa do volume
de controle diminui durante esse processo, enquanto seu volume permanece constante.
Portanto, a abordagem via sistema trata do processo de spray como uma expansão do
volume do sistema, enquanto a abordagem via volume de controle o considera uma
descarga de fluido através da superfície de controle do volume de controle fixo.

A maioria dos princípios da mecânica dos fluidos são adotados da


mecânica dos sólidos, na qual as leis da física que tratam de taxas
de variação no tempo de propriedades extensivas são expressas
para sistemas. Na mecânica dos fluidos, em geral é mais
conveniente trabalhar com volumes de controle e, portanto, existe a
necessidade de relacionar as variações em um volume de controle
com as variações em um sistema. A relação entre as taxas de
variação no tempo de uma propriedade extensiva para um sistema e
para um volume de controle é expressa pelo teorema de transporte
de Reynolds (TTR), que oferece a ligação entre as abordagens de
sistema e o volume de controle (Figura 4-53). O nome TTR é uma
homenagem ao engenheiro inglês, Osbome Reynolds (1842-1912),
que fez muito pelo avanço de sua aplicação na mecânica dos fluidos.
Cinemática dos Fluidos
Considere o escoamento da esquerda para a direita através de uma parte diver­gente (em
expansão) de um campo de escoamento como esboçado na Figura 4-54. Os limites superior
e inferior considerados são linhas de corrente do escoamento, e consideramos o
escoamento uniforme através de qualquer seção transversal entre essas duas linhas de
corrente. Escolhemos o volume de controle como fixo entre as seções (1) e (2) do campo de
escoamento. Tanto (1) quanto (2) são normais à direção do escoamento. Em algum instante
inicial t, o sistema coincide com o volu­me de controle e, portanto, o sistema e o volume de
controle são idênticos (a região sombreada da Figura 4-54).

Durante o intervalo de tempo Δt, o sistema se movi­menta na


direção do escoamento com velocidades uniformes V 1 na
seção (1) e V2 na seção (2). O sistema neste último instante é
indicado pela região hachurada. A região descoberta pelo
sistema durante esse movimento é designada como seção (I)
(parte do VC) e a região nova coberta pelo sistema é
designada como seção (II) (não é parte do VC). Assim, no
instante t + Δt, o sistema consiste no mesmo fluido, mas ocupa
a região VC - I + II. O volume de controle é fixo no espaço e,
portanto, permanece como a região sombreada, marcada VC,
em todos os instantes.
Cinemática dos Fluidos
Seja B uma propriedade extensiva qualquer (como massa, energia ou mo­mento) e seja
b = B/m a propriedade intensiva correspondente. Observando que as propriedades
extensivas são aditivas, a propriedade extensiva B do sistema nos instantes t e t + Δt pode
ser expressa como
B SIS , t =B VC ,t sistema de volume de controle coincidem em t

B SIS , t + Δt = BVC , t + Δ t − B I , t + Δt + B II , t + Δt

Subtraindo a primeira equação da segunda e dividindo por Δt temos

B SIS , t + Δt − B SIS , t B VC , t +Δ t −B I ,t +Δ t +B II , t + Δ t −BVC , t


=
Δt Δt
Tomando o limite Δt → 0, e usando a definição de derivada temos
∂ B SIS ∂ B VC Bt + Δ t
= − Ḃ I + Ḃ II Ḃ= lim
∂t ∂t Δt →0 Δt

Os fluxos entrando e saindo da propriedade B neste caso são fáceis de determinar, uma
vez que existe apenas uma entrada e uma saída, e as velo­cidades são normais às
superfícies das seções (1) e (2). Em geral, porém, podemos ter várias portas de entrada e
saída e a velocidade pode não ser normal à superfície de controle no ponto de entrada. Da
mesma forma, a velocidade pode não ser uni­forme.
Cinemática dos Fluidos
Em geral, porém, podemos ter várias portas de entrada e saída e a velocidade pode não ser
normal à superfície de controle no ponto de entrada. Da mesma forma, a velocidade pode
não ser uni­forme. Para generalizarmos o processo, consideramos a área de uma superfície
inflnitesimal dA, na superfície de controle e indicamos sua normal unitária exte­rior por n. A
vazão da propriedade b através de dA é ρbV•ndA que o produto escalar V•n fornece a
componente normal da velocidade. Em seguida, a vazão total através de toda a superfície de
controle é determinada por integração como (Figura 4-55):
Ḃ s − Ḃ e =∫ ρ b V⋅ndA (4.39)
SC

Um aspecto importante dessa relação é que ela subtrai


automaticamente o escoamento de entrada do escoamento de
saída, como será explicado a seguir. O produto escalar do vetor
velocidade em um ponto da superfície de controle pela normal
exterior naquele ponto é V • n = |V||n| cos θ = |V| cos θ, onde θ é o
ângulo entre o vetor velocidade e a normal exterior, como mostra a
Figura 4-56. Para θ < 90°, temos cos θ > 0 e, portanto, V • n > 0
para o escoamento de massa para fora do volume de controle e
para θ > 90°, temos cos θ < 0 e, portanto, V • n < 0 para o
escoamento para dentro de massa do volume de controle. Assim,
a quanti­dade infinitesimal ρ b V•n dA é positiva para a massa que
escoa para fora do volume de controle e negativa para a massa
que escoa para dentro do volume de controle, e sua integral em
toda a superfície de controle dá a taxa de saída total da
propriedade B pela massa.

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