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EXPERIMENTO 3 - PERFIL DE VELOCIDADE NUM TÚNEL DE VENTO

Eduardo Augêncio Diógenes de Oliveira Paiva, eduardoaugencio@gmail.com 1


Rafael Diogo Vieira Rodrigues da Silva, fael.diogo@hotmail.com1
Rafael Leandro De Paiva Cavalcante, rafaelnatalrn@yahoo.com.br1
Raphaela Cristine Teixeira da Silva, raphaelateixeira@ufrn.edu.br1
1
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Campus Universitário Lagoa Nova CEP 59078-970 Caixa Postal 1524.

Resumo: Buscando aplicar os conceitos estudados em sala e vistos na literatura, este experimento teve como objetivo
determinar experimentalmente, através do gráfico do perfil de velocidade, e analiticamente, através do cálculo do
número de Reynolds, o regime de escoamento do fluido (ar) que escoava por um tubo de vento de seção quadrada. Foi
medido o diferencial de pressão estática e de estagnação do ar durante o escoamento com o auxílio de um tubo de
Pitot para determinar o perfil de velocidade do fluido. Para classificar o tipo de escoamento foi calculado o número
de Reynolds e o de Mach, M = xx, para constatar que se tratava de um fluido incompressível. Analisando os
resultados obtidos, observamos que o fluido apresenta características de um regime de escoamento turbulento por ter
Re = xxx.

Palavras-chave: Bernoulli, Reynolds, tubo de Pitot, perfil de velocidade, número de Mach.

1. INTRODUÇÃO

Para hipótese de um fluido em regime permanente é necessário que o balanço de massas ou vazões em massa seja o
mesmo que entra e abandona as seções de entrada e saída do tubo de corrente. Como a energia não pode ser criada nem
destruída, apenas transformada, a equação da energia associada à equação da continuidade permite fazer este balanço e
resolver vários problemas práticos de engenharia como cálculo de determinação de potência de máquinas hidráulicas,
por exemplo.
À um fluido estão associados três tipos de energia, sendo elas: energia potêncial (Ep) por unidade de peso/carga
potencial, energia cinética (Ec) por unidade de peso/carga cinética ou velocidade e Energia de pressão (Epr) por
unidade de peso/carga de pressão. Quanto a Equação de Bernoulli, existem hipóteses simplificadoras que distanciam o
problema da realidade, no entanto ela é o alicerce que fundamenta a equação da energia geral.
Segundo Brunetti (2008), se entre duas seções do escoamento, o fluido for incompressível, sem atritos, e o regime
for permanente, se não houver máquinas nem trocas de calor, então as cargas totais se manterão constantes em
qualquer seção, não havendo ganho nem perdas de carga e assim a equação de Bernoulli pode ser aplicada dentro
dessas simplificações resultando, após aplicações conceituais nos trechos de estudo da seção do tubo de corrente, na Eq.
1 abaixo:

2 2
v 1 p1 v 2 p2
z 1+ + =z 2+ + (1)
2g γ 2g γ
Sendo z uma cota, será medida em unidade de comprimento, assim os demais termos também devem ser medidos
em comprimento, mesmo que cada parcela da Equação de Bernoulli tenha significado de energia por unidade de peso.
É a equação de Bernoulli que permite relação alturas (cotas), velocidades e pressões entre seções do escoamento do
fluido e assim determinar parâmetros para estudo do escoamento, caracterização, etc.
A equação citada tem como princípio fundamental que a pressão dinâmica e a de estagnação variam em diferentes
pontos ao longo da linha de corrente, mas a pressão estática permanece sempre constante. Essa equação pode ser
expressa por termos de pressões e após manipulação matemática adquire a seguinte forma:

2
k =P+[( ρ∗V )/2]+( ρ∗g∗h) (2)

Onde o k é a energia de pressão total, ρ densidade do fluido, V a velocidade em fluxo livre, h a altura e incluídos
em cada termo da Eq. (2) possui unidades de pressão, o que faz com que cada termo da expressão represente um tipo de
pressão; o primeiro termo P representa a pressão estática, [( ρ∗V 2)/2] a pressão dinâmica e (ρ∗g∗h) designa a
pressão hidroestática do fluido (ÇENGEL & CIMBALA, 2007).
A pressão total é a soma das pressões estática, dinâmica e hidroestática e a pressão de estagnação ( Pestag ),
responsável pela “parada do fluido” e obtida quando um fluido sofre aceleração até a velocidade zero sem atrito, é dada
pela Eq. (3):

2
Pestag =P+[(ρ∗V )/2] (3)

O Tubo de Pitot é um instrumento utilizado para medir a pressão de estagnação por meio de sonda apontado para
dentro do escoamento, onde a pressão de estagnação é mensurada e torna possível calcular a velocidade ao longo de
uma linha de corrente. Neste experimento utilizamos este equipamento acoplado à um túnel de vento que possuía um
manômetro de coluna inclinada que permitia a leitura do diferencial de pressão (pressão de estagnação menos a pressão
estática).

Figura 1. Túnel de Vento acoplado a um Tubo de Pitot e manômetro de coluna inclinado.

Reescrevendo a Eq. (3), obtemos a Eq. (4) em termos de velocidade

2
V =[2(Pestag −P)]/ ρ (4)

Para este caso, a diferença entre as pressões de estagnação e estática, respectivamente, que é igual à pressão
dinâmica, e dividindo-se essa diferença pelo peso específico do fluido manométrico, teremos a Eq. (5):

H= ΔP /γ H 2O (5)

Gostaríamos de ressaltar que o manômetro de coluna possuía uma defasagem de 12 mmH2O em suas marcações,
sendo este o valor tido como zero com o túnel de vento desligado.

Retomando o relatório anterior, o Çengel (2015), diz que o escoamento pode ser classificado em três tipos: laminar,
transiente e turbulento o número de Reynolds expresso pela Eq. (3):

Re = (ρ * ν * D) / μ (5)

Onde a velocidade média do escoamento (v) será expressa em (m/s), o diâmetro do tubo (D) em (m), viscosidade
(μ) em [kg/(m*s)] e a densidade (ρ) em(kg/m³).
Outra maneira de verificar se o escoamento é laminar ou turbulento é a análise do perfil de velocidade para um
escoamento interno em um conduto. Quando o escoamento laminar completamente desenvolvido, o perfil de
velocidade u(r) é inalterado na direção do escoamento, assim o componente da velocidade na direção normal ao
escoamento é zero. O escoamento turbulento é caracterizado por vórtices ao longo de todo o escoamento que fornecem
um mecanismo adicional para a transferência de momento e energia. Tais perfis podem ser vistos na Fig. (2):

Figura 2. Perfis de velocidade para o escoamento laminar e turbulento (Çengel et al, 2015)

Quanto ao Número de Mach (M), é expresso pela relação entre a velocidade do fluido numa seção e a velocidade do
som na mesma seção e é utilizado para classificar os escoamentos em tipos, tais como: M < 0,2 – incompressível, 0,2 <
M < 1 – escoamento subsônico, M = 1,0 – escoamento sônico e M > 1,0 – escoamento supersônico. Assim, para o
referido experimento, os escoamentos com números de Mach, M < 0,2, se aplica a Equação de Bernoulli para hipóteses
de fluido incompressível.

2. METODOLOGIA

Neste experimento foi utilizado uma bancada horizontal de Reynolds, que busca identificar o regime de escoamento
de um fluido (água) em uma tubulação transparente, semelhante ao realizado século atrás pelo engenheiro e físico
Osborne Reynolds. Experimentalmente o fluido é escoado pelo tubo de paredes transparentes com diâmetro de 0,3 m
até um reservatório graduado de base retangular, medindo 570mm x 290mm x 390mm (A x L x P). Foi injetado o fluido
corante através de um tubo capilar, tornando possível fazer uma análise macroscópica do regime de escoamento, por
meio do comportamento dos fios de corante ao decorrer do tempo. Esse procedimento foi feito duas vezes, modificando
o tipo de regime por meio de regulagem da válvula reguladora de vazão.

Figura 2. Bancada horizontal de Reynolds semelhante a utilizada no laboratório.


No decorrer do experimento, de acordo com o primeiro regime pré-estabelecido (laminar), a válvula reguladora de
vazão foi sendo gradativamente aberta até o ponto onde acreditamos que ele já estivesse ocorrendo, consequentemente a
velocidade do fluido no tubo foi aumentando a uma mesma taxa, acarretando uma mudança no traçado de tinta. Dessa
maneira, foi possível tirar a foto do perfil do traço de tinta na bancada. Do mesmo modo foi realizado para o segundo
regime pré-estabelecido, o turbulento, que também foi feita para a coleta de dados, para o cálculo da quantidade de água
utilizada durante o intervalo de tempo para os dois regimes.
Antes de calcular o número de Reynolds, precisamos determinar a velocidade do escoamento para os dois regimes.
Primeiramente vamos determinar a área da seção transversal (A) do tubo principal da bancada, de acordo com a Eq. (2),
e o volume de água (V) utilizado, conforme a Eq. (3). Depois de calculados, iremos encontrar a vazão volumétrica (Q)
no intervalo de tempo para os dois escoamentos, de acordo com a Eq. (4).

A = ( π∗D 2)/ 4 (2)

Onde D, é o diâmetro do tubo.

V =L 1∗L 2∗∆ z (3)

Onde L1 e L2 são as medidas da base do reservatório e ∆z a diferença de altura no tanque.

Q=V /t = v / A (4)
Tendo esses dados, e encontrando a velocidade do fluido (v) para os dois regimes, poderemos utilizar a Eq. (1) para
calcular o número de Reynolds e assim caracterizar os escoamentos.

Esses resultados e parâmetros foram exposto em uma tabela para que possamos buscá-los com mais facilidade
quando for calcular o número de Reynolds para as duas análises.

3. RESULTADOS

Após realizado os procedimentos descritos acima, foi possível obter as seguintes imagens do perfil de
comportamento do escoamento:
Figura 3. Perfil de comportamento do escoamento do fluido apresentado pelo traçador para o regime 1.

Figura 4. Perfil de comportamento do escoamento do fluido apresentado pelo traçador para o regime 2.

Analisando o comportamento do escoamento apresentado pela Fig. (3) podemos comparar com as figuras da
literatura, Fig. (1), e perceber que se assemelha com o comportamento que define o regime de escoamento laminar. No
entanto, ainda que visualmente seja aproximado com o tal escoamento é necessário calcular o número de Reynolds que
corrobora com a classificação afirmada por nós.
Esta afirmação pode ser verificada através do resultado para aplicação da Eq. (2) para a área de seção transversal
(A) da tubulação de ensaio. As Eq. (3) e Eq. (4) definem o volume final de água (V) no reservatório medido no
momento do experimento e a vazão volumétrica apresentada (Q), respectivamente. Dada a Eq. (4) também é possível
definir a velocidade (v) do escoamento.
Com tais dados montamos a Tab. (1) para análise dos parâmetros observados. Além disso, na Tab. (1) também
conterá os valores de densidade da água (ρ) e de sua viscosidade dinâmica (μ) encontrados nas páginas 33 e 44,
respectivamente, do livro Mecânica dos Fluidos: Fundamentos e Aplicações, 2006, dos autores Yunus A. Çengel e John
M. Cimbala.

Tabela 1. Dados previamente determinados por se tratar de um fluido conhecido, coletados durante o experimento
e, também, calculados para o regime 1.

PARÂMETROS VALORES SÍMBOLO


Diâmetro do Tubo (m) 0,030 D
Densidade da Água (kg/m 3 ¿ 998.00 ρ
Viscosidade Dinâmica à 20o C (kg/(m*s)) 0,001 μ
Altura Deslocada no Reservatório (m) 0.001 ∆H
Tempo (s) 54,00 t
Área do Tubo m 2 7,069*10−4 A
3 −4 V
Volume do Reservatório (m ) 1,131∗10
−6
Vazão Volumétrica (m 3 /s ) 2.094∗10 Q
Velocidade Média (m/s) 0,002962 v

Com isso, aplicando os valores dos parâmetros definidos na Eq. (1) e calculamos o número de Reynolds para o
regime 1.

ℜ=(998∗0,002962∗0,030)/0,001=88 ,68
Desse modo, assim como se apresenta macroscopicamente na Fig. (3), o regime de escoamento do fluido se
classifica como laminar. Portanto, a hipótese de se tratar de um regime de escoamento laminar é comprovada pelo
número de Reynolds.

Tabela 2. Dados previamente determinados por se tratar de um fluido conhecido, coletados durante o experimento
e, também, calculados para o regime 2.

PARÂMETROS VALORES UNIDADES


Diâmetro do Tubo (m) 0,030 D
Densidade da Água (kg/m 3 ¿ 998.00 ρ
Viscosidade Dinâmica à 20o C (kg/(m*s)) 0,001 μ
Altura Deslocada no Reservatório (m) 0.01 ∆H
Tempo (s) 26,00 t
Área do Tubo m 2 7,069*10−4 A
−3
Volume do Reservatório (m 3) 1,131∗10 V
3 −5 Q
Vazão Volumétrica (m /s ) 4 , 35∗10
Velocidade Média (m/s) 0,06154 v

Com isso, aplicando os valores dos parâmetros definidos na Eq. (1), é possível calcular o número de Reynolds:

ℜ=(998∗0,06154∗0,030)/0,001=1842 ,51

Desse modo, pode-se perceber que o regime de escoamento da Fig. (4) é laminar, portanto diferente do regime de
escoamento que previamente levando em hipótese (regime de escoamento turbulento).
4. DISCUSSÃO

Analisados os parâmetros objetivos desse relatório, podemos afirmar que o fluido no regime de escoamento 1, dado
pelo perfil apresentado na Fig. (3), estava escoando em regime laminar, hipótese confirmada pelo resultado do número
de Reynolds, Re = 88 , 68. Para o regime de escoamento 2, dado pelo perfil apresentado na Fig. (4) e o número de
Reynolds de Re = 1842 ,51 permanecendo dentro do intervalo dito na literatura para regime laminar, a hipótese
levantada que se tratava de um escoamento em regime turbulento é negada em virtude do número de Reynolds ser
menor que o limite superar para regime laminar de Re ≤ 2300.
Visto isso, reconhecemos que não atingimos o objetivo de caracterizar o escoamento em relação ao regime 2
(escoamento em regime turbulento, Re ≥ 4000). Para que tal objetivo fosse alcançado era necessário que fosse aberto
mais ainda a válvula reguladora de vazão e, assim, introduzido um maior volume de água suficiente para que o perfil de
escoamento turbulento pudesse ser determinado.

5. CONCLUSÃO

Conclui-se que os dados observados e utilizados para cálculos de caracterização dos regimes de escoamentos 1 e 2,
tanto as imagens dos perfis de escoamento mostradas pelas Fig. (3) e Fig. (4), dizem respeito às características de
regime laminar comprovados pelo cálculo do número de Reynolds e por se tratar de resultados inferiores à Re = 2300.
Dito isto, assim como foi discutido na seção anterior, o objetivo do laboratório em relação ao regime 2 não foi
alcançado uma vez que o perfil apresentado para hipótese de escoamento em regime turbulento não foi confirmado pelo
número de Reynolds.
Apesar disso, o objetivo maior, que é de aprendizagem, foi alcançado uma vez que a utilização do laboratório, o
conhecimento da bancada horizontal de Reynolds para análise de escoamento e sua caracterização, ferramental utilizado
e leitura de material didático para comparação de resultados permitiu a concretização do processo de aprendizagem
proposto na disciplina de Mecânica dos Fluidos.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ÇENGEL, Y.A. e Cimbala, J.M., 2007, “Mecânica dos Fluidos - Fundamentos e Aplicações”, McGraw-Hill
Interamericana do Brasil Ltda, 6 ed., São Paulo, Brasil.
BRUNETTI, Franco, 2008, “Mecânica dos Fluidos”, Pearson Prentice Hall, 2 ed., São Paulo, Brasil.
MUNSON, Bruce R., 2004, “Fundamentos da Mecânica dos Fluidos”, Edgard Blucher, 4 ed., São Paulo, Brasil.
WHITE, Frank M., 2011, “Mecânica dos Fluidos”, AMGH, 6 ed., Porto Alegre, Brasil.

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