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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS


DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA
LABORATÓRIO DE ENGENHARIA QUÍMICA I

DETERMINAÇÃO DO COEFICIENTE DE ATRITO EM DUTOS CIRCULARES

Acadêmicos: Gabriel Girotto Zanutto RA 112431


Pedro Henrique Siscato RA 117082
Victor Hugo Lopes Benedito RA 118234

Turma: 216/03
Professora: Isabela Dancini Pontes

MARINGÁ, 09 DE NOVEMBRO DE 2022.


1. Introdução

Em projetos de engenharia, comumente depara-se com problemas


envolvendo a determinação de diâmetro ou vazão de um sistema de tubos, a fim de
se minimizar os custos de construção e de operação, ou a avaliação da exigência
de potência em bombas e sopradores a partir da estimativa da queda de pressão de
um escoamento interno. Os efeitos de atrito são os grandes responsáveis pela
perda de carga e para estimá-la é preciso recorrer a dados experimentais e a
correlações envolvendo o fator de atrito e o efeito da rugosidade.
Para correlacionar a perda de carga de escoamentos em tubos, o engenheiro
francês Henry Darcy (1803–1858) realizou experimentos com escoamentos em
tubos, em 1857, estabelecendo pela primeira vez o efeito da rugosidade sobre o
atrito, correlação esta que ainda é efetiva até os dias de hoje.
O fator de atrito de Darcy é uma quantidade adimensional usada na equação
de Darcy-Weisbach, para a descrição de perdas por atrito em tubulação ou duto,
bem como para fluxo em canal aberto. Isso também é chamado de fator de atrito de
Darcy-Weisbach, coeficiente de resistência ou simplesmente fator de atrito
.Determinou-se que o fator de atrito depende do número de Reynolds para o fluxo e
do grau de rugosidade da superfície interna do tubo, especialmente para fluxo
turbulento. A seção transversal do tubo também é importante, pois os desvios da
seção circular causarão fluxos secundários que aumentam a perda de carga. Tubos
e dutos não circulares são geralmente tratados usando o diâmetro hidráulico [1].
Outro método mais usado para a determinação do coeficiente de atrito para
tubulações circulares e fluxo totalmente desenvolvido trata-se do diagrama de
Moody, que define esse parâmetro como função da rugosidade relativa e do número
de Reynolds [2].

2. Objetivos

Estimar o fator de atrito em várias vazões a partir de uma técnica


experimental e comparar os resultados com as previsões de diversas correlações da
literatura.
3. Revisão bibliográfica

O estudo do comportamento de escoamentos diversos em tubos circulares é


de grande interesse prático, pois é um conhecimento amplamente aplicado a
indústrias e outras instalações. Este estudo é importante pois leva em conta partes
da energia do escoamento que são dissipadas ao longo de uma linha, sendo
importantes no dimensionamento de tubulações e bombas.

Quando as fórmulas para o cálculo do escoamento são aplicadas ao caso


prático, é necessário a determinação de um volume de controle, ou seja, uma seção
do tubo na qual se deseja estudar o comportamento do escoamento. É importante
também assegurar propriedades constantes no sistema, como escoamento
permanente, área da seção transversal e inclinação do tubo constante ao longo do
volume de controle. Essas propriedades constantes facilitarão o desenvolvimento
dos cálculos.

Se aplicarmos um balanço de quantidade de movimento ao escoamento do


volume de controle, obteremos uma equação que leva em conta a aplicação de
forças de pressão, da gravidade e de cisalhamento na direção do escoamento,
resultando na seguinte equação.

Eq. 1

Desta forma, é possível observar que a perda de carga (hp) está relacionada
com a tensão de cisalhamento na parede do tubo. Em 1857, Henry Darcy realizou
experimentos envolvendo escoamentos em tubos e estabeleceu, pela primeira vez,
uma relação entre a rugosidade interna do tubo e o atrito. A expressão proposta por
Darcy é utilizada até os dias atuais, representada pelas equações 2 e 3.

Eq. 2

Eq. 3
Neste caso, o parâmetro adimensional ƒ é denominado Fator de Atrito de
Darcy. Já a grandeza Ɛ é a medida da altura da rugosidade da superfície interna do
tubo, medida importante para o escoamento turbulento em tubos. Além disso, o
“formato duto” indica que para dutos com seções não circulares o fator de atrito
varia consideravelmente.

Por outro lado, ainda existem outras definições para o fator de atrito, além de
fórmulas para o cálculo do fator de atrito expressas em termos de outras variáveis
do escoamento.

Para o método experimental, o Fator de Atrito será obtido através de uma


modificação da equação para o Fator de Atrito de Darcy, juntamente com o cálculo
do número de Reynolds para o escoamento. A Eq. 4 representa o fator de atrito por
Darcy e a Eq. 5 o número de Reynolds.

Eq. 4

Eq. 5

Além disso, a equação para o Fator de Atrito de Darcy pode ser manipulada,
isolando-se a variação de pressão no escoamento.

𝐿 2
Δ𝑃 = 𝑓𝑑 2𝐷
⍴< 𝑣 > Eq. 6

Além da equação de Darcy, existem diversas outras equações que nos


permitem calcular o fator de atrito para um dado escoamento. Uma parte das
equações nos permite calcular o fator de atrito para escoamentos turbulentos,
quando Reynolds é maior que aproximadamente 2300. Outra parte das equações
são voltadas para o cálculo do fator de atrito em regime laminar.

No caso do regime laminar, equações empíricas podem ser obtidas mais


facilmente, tanto para dutos circulares como para dutos não circulares, desde que o
escoamento seja laminar e tenha o perfil de velocidade completamente
desenvolvido. Neste caso, o fator de atrito para tubos varia somente inversamente
com o Número de Reynolds, como mostra a Eq. 7.

64
𝑓𝑙𝑎𝑚 = 𝑅𝑒
Eq. 7

Já para o escoamento turbulento, Prandtl deduziu uma equação ajustada que


descreve e é utilizada para escoamentos em tubos de parede lisa.

Eq. 8

Colebrook, em 1939, buscava cobrir a faixa de rugosidade transicional


combinando relações para paredes lisas e escoamentos completamente rugosos, o
que resultou em uma equação utilizada até os dias atuais e com grande
importância. A partir desta fórmula foi plotado um gráfico de grande importância
para a engenharia, o Gráfico de Moody para atrito em tubos. O gráfico plotado a
partir da equação tem uma boa precisão e pode ser utilizado para escoamentos em
tubos circulares, não circulares e escoamentos abertos. A equação é representada
pela Eq. 9.

Eq. 9

Outra equação relativamente comum na engenharia, e que será utilizada para


o experimento é a equação para o modelo de Newton (Eq. 10), utilizada para o
cálculo do fator de atrito em um escoamento em regime laminar.

16
𝑓= 𝑅𝑒
Eq. 10

Ainda existem outras equações que podem ser utilizadas para o cálculo do
fator de atrito em um escoamento, e cada equação possui suas vantagens e
desvantagens, levando em conta as variáveis utilizadas, precisão e condições de
contorno de cada uma dessas equações.
4. Materiais

● Cronômetro
● Água
● Caixa d’água
● Bomba
● Tubo de latão
● Válvulas controladoras de vazão
● Tubo PVC
● Manômetro

5. Métodos

O módulo didático utilizado está representado no fluxograma da Figura 1:


Figura 1 - Esquema do módulo do fator de atrito em Dutos Circulares

Fonte: [3].

Inicialmente todas as válvulas foram abertas e a bomba foi ligada,


bombeando a água proveniente da caixa d’água para um tubo. Ao longo do tubo,
abrindo e fechando as válvulas VE01, VE02, VE03 e VE04, pôde-se medir a perda
de carga entre P1 e P2 e entre P1 e P3. Fixando então a menor vazão possível
dentro da pressão limite da bomba utilizada (1kgf/cm2), abriu-se apenas as válvulas
VE01 e VE04 para medir a diferença de pressão entre P1 e P2 através do
manômetro. Tomou-se três medidas do tempo de enchimento de um volume
conhecido de 23,5L posicionando um tubo PVC dentro do medidor de vazão. Sendo
assim possível medir a vazão real.

Todos os dados coletados foram anotados em uma tabela, e, em seguida,


repetiu-se o processo mantendo apenas as válvulas VE01 e VE03 abertas, para
medir a diferença de pressão entre P1 e P3. Depois de medidas as vazões e as
pressões, aumentou-se a vazão mais duas vezes e o procedimento foi repetido.

6. Resultados e discussões.

No dia do experimento, a temperatura ambiente era 𝑇𝑎𝑚𝑏 = 32 °𝐶. Por meio

das tabelas termodinâmicas (WHITE) , obtemos:


3
ρ𝐻 𝑂 = 995, 2 𝑘𝑔/𝑚 ;
2

2
μ𝐻 𝑂 = 0, 000771 𝑁. 𝑠/𝑚
2

Consultando a literatura de Çengel (2013), obtemos a rugosidade para o tubo


2
de latão de: 𝑒 = 0, 00026 𝑚 e 𝑔 = 9, 8065 𝑚/𝑠 . O diâmetro interno do tubo foi
dado pelo fabricante: 𝐷𝑡 = 0, 015 𝑚. Portanto a rugosidade relativa é: 𝐸 = 0, 0173 .
2
Por meio do diâmetro do tubo, calculamos a seção transversal: 𝐴𝑐 = 0, 000177 𝑚 .

Seguindo o procedimento experimental, determinamos os tempos médios


3
que seriam necessários para preencher o volume do anel menor 𝑉 = 0, 0235 𝑚 ,
para 3 vazões diferentes. Os dados obtidos estão dispostos abaixo:
3
Tabela 1: Tempos necessários para o preenchimento do anel menor (𝑉 = 0, 0235 𝑚 ) para as 3
vazões.
Vazão Tempo 1 Tempo 2 Tempo
(s) (s) méd (s)

1 44,2 44,76 44,48

2 76,8 76,41 76,60

3 278,7 272,2 275,4


Fonte: Elaborado pelo autor.

Dividindo o volume pelos tempos médios de cada vazão, obtemos a vazão


volumétrica. Multiplicando pela seção transversal do tubo 𝐴𝑐, temos as velocidades

de cada vazão:

Tabela 2: Vazões volumétricas e velocidades calculadas.


Vazão vol. 𝑣
3
( 𝑚 /𝑠) 𝑚/𝑠

0,00053 2,990

0,00031 1,736

0,00009 0,483
Fonte: Elaborado pelo autor.

Seguindo o experimento, foram aferidas as variações de altura pelo


manômetro de água e em seguida, calculadas as pressões entre as seções de tubo
P1 - P2 e P1 - P3, para as três vazões:
Tabela 3: Variações de altura no manômetro e variações de pressão calculadas para as três vazões.
ΔP (Pa)

P1 - P2 P1 - P3
Vazão P1 - P2 P1 - P3
(cm) (cm)

1 21,20 44,50 2069 4343

2 8,52 17,60 832 1718

3 1,00 2,00 98 195


Fonte: Elaborado pelo autor.

Através da Equação 6 plotamos um gráfico da diferença de pressão em


função do quadrado da velocidade:

Gráfico 1: Diferenças de pressões em função da velocidade ao quadrado para as 3 vazões.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Através do coeficiente angular da reta, podemos obter o coeficiente de atrito


𝐿 2
experimental, visto que: Δ𝑃 = 𝑓𝑑 2𝐷
⍴< 𝑣 >
𝐿
Utilizando o coeficiente angular da reta: 471, 22 = 𝑓𝑑 2𝐷

2𝐷
𝑓𝐷,𝑒𝑥𝑝 = 471, 22. ⍴𝐿
= 0, 0142.
Utilizando as Equações 4, 8, 9 e 10, também obtivemos coeficientes de atrito
para as três vazões:

Tabela 3: Diferentes coeficientes de atrito calculados para as três vazões.


Vazão

Fator de 1 2 3
Atrito

Darcy 0,0146 0,0172 0,0252

Prandtl 0,0202 0,0229 0,0314

Moody 0,0461 0,0461 0,0463

Newton 0,0003 0,0005 0,0017


Fonte: Elaborado pelo autor.

Plotando os coeficientes de atrito por Reynolds, obtemos os 4 seguintes


gráficos:

Gráfico 2: Fator de atrito de Darcy por Reynolds.

Fonte: Elaborado pelo autor.


Gráfico 3: Fator de atrito de Prandtl por Reynolds.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Gráfico 4: Fator de atrito de Moody por Reynolds.

Fonte: Elaborado pelo autor.


Gráfico 5: Fator de atrito de Newton por Reynolds.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Considerando a rugosidade relativa 𝐸 = 0, 0173, teríamos a seguinte curva


para o coeficiente de atrito, no diagrama de Moody:

Gráfico 6: Diagrama de Moody.

Fonte: Adaptado da USP.


Comparando com o diagrama de Moody (Gráfico 6) com o calculado (Gráfico
4), vemos que o comportamento de decaimento polinomial é muito semelhante ao
que era esperado. A diferença de um para o outro está na rugosidade. Usamos uma
rugosidade teórica de um livro, que apesar do material do experimento ser o
mesmo, o tubo de latão já está oxidado, o que influencia na rugosidade do tubo.
Além disso, observamos que o comportamento de todos os coeficientes se
assemelha a um decaimento polinomial. As diferenças em módulo estão nas
considerações que são feitas de uma fórmula para a outra.

7. Conclusão

O experimento foi realizado com sucesso, sendo possível determinar tanto o


coeficiente de atrito experimental, através do gráfico, como também calculá-lo para
cada uma das vazões a qual o duto circular estava submetido. Cabe ressaltar que é
necessário escolher qual coeficiente de atrito utilizar para cada caso, alguns são
mais fáceis de calcular, por isso são escolhidos, porém nem sempre descrevem o
fenômeno que está acontecendo com precisão. Desta forma então, cabe ao
engenheiro analisar cuidadosamente sua escolha, levando em conta a precisão
desejada e o tipo de escoamento implementado (laminar ou turbulento).

8. Referências

[1] ÇENGEL, Yunus A. Mecânica dos fluidos. [S. l.: s. n.], 2012

[2] O que é o fator de atrito de Darcy? Disponível em:


https://www.thermal-engineering.org/pt-br/o-que-e-o-fator-de-atrito-de-darcy-definica
o/ Acesso em 07/11/2022.

[3] Universidade Estadual de Maringá. Apostila de Coeficiente de atrito em dutos


circulares. 2022.

ÇENGEL, Y. A. PROPERTY TABLES AND CHARTS (SI UNITS). 2013.

https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/5776986/mod_resource/content/2/Aula_8
_Perda_de_Carga.pdf

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