Você está na página 1de 13

Escoamento de água

Ano lectivo 2016/2017


Licenciatura em Engenharia Civil
Hidraúlica Geral

Joel Ribeiro (1150836)


Luís Campos (1151085)
Mariana Silveira (1151251)
Índice

Objectivo Pág. 2
Introdução Pág. 2
Material e equipamento Pág. 5
Procedimento experimental Pág. 7
Registo e análise de dados Pág. 8
Conclusão Pág.11
Bibliografia Pág.12

1
Objectivos

Com esta actividade pretende-se avaliar a lei de resistência para os


escoamentos laminar e turbulento. Para tal, irá usar-se o H7/7A - Pipe Friction
(Tubo de Fricção), um aparelho que permite determinar as alturas piezométricas
e o caudal directo de um fluído bem como possibilita o controlo do regime de
escoamento. Com os valores obtidos, será então possível calcular o valor do
número crítico de Reynolds e assim verificar a transição entre estes dois
regimes.

Introdução

De forma a estudar a lei da resistência consoante o tipo de escoamento é


essencial compreender o que diferencia um escoamento laminar e turbulento,
bem como é essencial perceber como se relacionam com o número de Reynolds.

Quando ocorre o escoamento de um fluído ocorre perda de carga. Esta


poderá ser de dois tipo: primária ou secundária. No caso da perda de carga se
dever essencialmente à fricção do tubo, ou seja, caso a perda de energia resulte
da rugosidade do tubo, ocorre uma perda de carga primária. Por outro lado, se
a perda de energia for devida a, por exemplo, obstruções ou estrangulamentos,
a perda de carga será secundária. O que define esta perda de energia será então
tensão de fricção ou de corte (𝜏) entre o fluído e a superfície do tubo.
Por sua vez, a tensão de corte de um escoamento depende do seu tipo:
laminar ou turbulento. No regime laminar, que ocorre para velocidades mais
reduzidas, os efeitos de rugosidade da parede são insignificante, já que se forma
uma camada viscosa, ou filme, junto das paredes do tubo. No regime turbulento,
que se dá para velocidades superiores, a perda de energia está associada à
rugosidade da superfície do tubo pois a camada viscosa é destruída pelos
pequenos turbilhões gerados pelo fluído. Desta forma, a resistência do fluído à
fricção a que é submetido à medida que flui ao longo de um tubo resulta numa
perda contínua de energia.

Figura 1: Perda de carga enter dois manómetros

2
Na figura 1 é possível visualizar um tubo para o qual existe uma perda de
carga ℎ, correspondente a uma diferença entre os níveis piezométricos de A e
B. Para este caso tem-se então que a taxa de perda de carga total ao longo do
tubo, cujo comprimento é 𝑙, é dada por:
dh
j=
dl

Como a perda de carga depende da tensão de corte e esta do tipo de


escoamento, realizaram-se diversas experiências de modo a determinar a lei da
resistência em tubos. Reynolds concluiu que tal dependia do tipo de escoamento
e este da velocidade do fluído, tendo definido um parâmetro que permite
diferenciar o tipo de escoamento. Este parâmetro, conhecido por número de
Reynolds, poderá ser calculado a partir da seguinte expressão:
UD
Re =
ν
em que 𝑈 é a velocidade média de escoamento, 𝐷 o diâmetro do tubo e 𝜈 é
o coeficiente de viscosidade cinemática.
μ
Uma vez que ν = 𝜌 a expressão pode também ser escrita da seguinte forma:
ρUD
Re =
μ
onde 𝜌 é a densidade do fluído e 𝜇 o coeficiente da viscosidade dinâmico.
Assim sendo, o escoamento será laminar ou turbulento conforme o valor de
Reynolds é inferior ou superior a um certo valor crítico (cerca de 2000).
Segundo a expressão de Poisseuille, as perdas de carga poderão ainda ser
escritas da seguinte forma:
λU 2
j=
D2g
na qual λ representa um factor determinado experimentalmente que varia
com o número de Reynolds e com a rugosidade do tubo, e 𝑔 a acelaração
gravítica. Como, para o regime laminar, vem que:
64
λ=
Re
A perda de carga neste regime toma a forma:
32𝜇𝑈
j=
𝑔𝐷2
Ou seja, para o regime laminar tem-se a seguinte lei:
j∝u

3
Já para o regime turbulento considera-se a expressão de Darcy-Weiscbach:
4fU 2
j=
D2g
onde 𝑓 depende do número de Reynolds e da rugosidade do tubo.
Desta forma, para este regime tem-se que:
j ∝ u2
Experimentalmente, verifica-se que para o regime turbulento:
j ∝ u2
sendo que 𝑛 apresenta valores entre 1,7 e 2.
É ainda de notar que o coeficiente de viscosidade dinâmico (𝜇) varia
consoante a temperatura e poderá ser calculado a partir da expressão:
0.0178
μ=
1 + 0.0337T + 0.000221T 2
Desta forma, é possível saber o valor de 𝜇 espcifico para a situação
laboratorial.

4
Material e equipamento

O H7/7A - Pipe Friction (Tubo de Fricção) foi o aparelho utilizado nesta


actividade laboratorial. Este aparelho permite determinar a perda de carga a
partir do registo da altura piezométrica e o caudal por medição directa de um
fluído em dois regimes: laminar e turbulento. A partir destes dados, é possível
então calcular o número crítico de Reynolds e, assim sendo, pode-se avaliar a
lei de resistência e demonstrar a alteração que ocorre na passagem do regime
laminar para o regime turbulento.

A
B

C/D

E F

Figura 2: Tubo de Fricção legendado

Como se pode observar na imagem, o aparelho utilizado é constituído por


uma válvula de ar (𝐴), parafusos para sangramento (𝐵), dois manómetros de
água (𝐶), manómetro em U de mercúrio (𝐷), tubo de ensaio (𝐸), ajustadores de
altura (𝐹) e uma torneira isolante (𝐺).
O tubo de teste está montado em linha recta sobre uma placa de base com
nivelamento ajustável. Nas duas extremidades inclui dois manómetros, um de
água e outro de mercúrio, bem como torneiras de pressão estáctica. O
manómetro de água mede as perdas de carga no escoamento laminar um pouco
além do ponto crítico de Reynolds, já o manómetro de mercúrio mede o mesmo
mas em escoamentos turbulentos.O manómetro de água inclui ainda uma
válvula de ar manual que permite ajustar a pressão interna e isolar o manómetro
de água. No tubo de teste, uma válvula ajusante controla com precisão do
caudal.

5
As características do aparelho são as seguintes:

Comprimento do tubo - L (𝑚) 524×10−3


Diâmtero do tubo - D (𝑚) 3×10−3
Área da Secção – A (𝑚2 ) 7,06×10−6
Altura entre a conduta e o nível da água no depósito (𝑚) 2
Altura de água no manómetro (𝑚) 320×10−3
Altura de mercúrio no manómentro (𝑚) 250×10−3
Tabela 1: Características geométricas do tubo de fricção

6
Procedimento experimental

Regime Laminar

1. Abrir a válvula reguladora de caudal.


2. Deixar a água descer do reservatório até à proveta por acção da
gravidade. Simultaneamente, usando um cronómetro, medir o tempo que um
determinado volume demora a encher a proveta.
3. Ler as alturas piezométricas registadas nos manómetros de água.
4. Repetir os passos anteriores alterando o caudal.

Neste caso em particular, realizaram-se cinco ensaios para os quais se


registaram o tempo para diferentes volumes de água. Para o primeiro se
cronometrou o tempo correspondente a 200𝑚L de água, no segundo e terceiro
ensaios o volume de água cronometrado foi de 300𝑚𝐿 e nos últimos dois de
400𝑚𝐿.

Regime turbulento

1. Abrir a válvula reguladora de caudal.


2. Deixar a água, que vem directamente da válvula de alimentação da banca
hidráulica, entrar na proveta, registando o tempo que demora a encher a mesma.
3. Ler as alturas piezométricas registadas nos manómetros de mercúrio.
4. Repetir os passos anteriores alterando o caudal.

Analogamente ao caso anterior, realizaram-se cinco ensaios. Contudo, os


volumes de fluído para os quais se registou o tempo de modo a determinar o
caudal variaram entre 400𝑚𝐿 e 800𝑚𝐿, tendo havido um acréscimo de 100𝑚𝐿
de ensaio para ensaio.

7
Registo e análise de dados

No decorrer desta actividade prática foi possível determinar o valor do


número de Reynolds para escoamento em regimes laminar e turbulento. De
modo a obter-se o caudal por medição directa, registou-se o tempo de
escoamento para um determinado volume de fluído. De modo a determinar a
perda de carga, efectou-se a medição da altura piezométrica atingida pelo fluído.
Os dados registados e os resultados obtidos permitiram então determinar o
número de Reynolds.
De facto, caudal directo pode ser obtido a partir da expressão:
𝜕𝑉
𝑄𝐷𝑖𝑟𝑒𝑐𝑡𝑜 =
𝜕𝑡
A partir do caudal, pode-se obter a velocidade do fluído, já que:
𝑄
𝑄 = 𝑈𝑆 (=) 𝑈 =
𝑆
Por sua vez, sabendo a velocidade, é possível calcular o número de
Reynolds:
ρUD
Re =
μ

Os valores de 𝜌 são dependentes do fluído. Para a água 𝜌 = 1000𝐾𝑔/𝑚3 e


para o mercúrio 𝜌 = 13600𝐾𝑔/𝑚3 . D é constante ao longo do tubo e neste caso
𝐷 = 0,003𝑚. Já 𝜇 depende da temperatura e portanto pode ser calculado
sabendo a mesma. No dia em que se realizou a actividade, 𝑇 ≈ 17,7℃, logo tem-
se que:
0.0178 0.0178
μ= 2
= ≈ 1,06×10−3
1 + 0.0337T + 0.000221T 1 + 0.0337×17,7 + 0.00022117,72
Tal como foi mencionado, as perdas de carga poderão ser obtidas sabendo
a diferença de altura piezométrica. Especificamente, para o regime laminar tem-
se que:
(ℎ1 −ℎ2)
𝑗=
𝐿
Já para o regime turbulento:
(ℎ1 −ℎ2 )(13,6 − 1)
𝑗=
𝐿
Sendo que 𝐿 é comprimento do tubo e corresponde a 0,524𝑚.
A tabela seguinte sumariza os dados registados e os resultados obtidos para
o regime laminar.

8
𝜕𝑉 (𝑚3 ) 𝜕𝑡 (𝑠) 𝑄𝐷𝑖𝑟𝑒𝑐𝑡𝑜 (𝑚3/𝑠) 𝑈 (𝑚/𝑠) 𝑅𝑒 ℎ1 (𝑚) ℎ 2 (𝑚) ∆ℎ (𝑚) 𝑗 (𝑚/𝑚)
0,0002 88,28 2,266E-06 0,321 899,79 0,361 0,299 0,062 0,118
0,0003 76,32 3,931E-06 0,556 1561,19 0,380 0,276 0,104 0,198
0,0003 58,38 5,139E-06 0,727 2040,94 0,394 0,256 0,138 0,263
0,0004 62,72 6,378E-06 0,902 2532,95 0,415 0,225 0,190 0,363
0,0004 56,68 7,057E-06 0,998 2802,87 0,430 0,207 0,223 0,426
Tabela 2: Dados obtidos e resultados obtidos para o regime laminar

Para o regime turbulento obteve-se a seguinte tabela.

𝜕𝑉 (𝑚3 ) 𝜕𝑡 (𝑠) 𝑄𝐷𝑖𝑟𝑒𝑐𝑡𝑜 (𝑚3 /𝑠) 𝑈 (𝑚/𝑠) 𝑅𝑒 ℎ1 (𝑚) ℎ 2 (𝑚) ∆ℎ (𝑚) 𝑗 (𝑚/𝑚)
0,0004 47,69 8,388E-06 1,187 45304,81 0,267 0,227 0,040 0,962
0,0005 45,84 1,091E-05 1,543 58916,51 0,279 0,214 0,065 1,563
0,0006 47,63 1,260E-05 1,782 68042,82 0,288 0,206 0,082 1,972
0,0007 47,16 1,484E-05 2,100 80174,43 0,304 0,190 0,114 2,741
0,0008 48,87 1,637E-05 2,316 88421,78 0,313 0,184 0,129 3,102
Tabela 3: Dados obtidos e resultados obtidos para o regime turbulento

Como se pode verificar, a velocidade e o número de Reynolds aumentam


gradualmente, sendo superiores no regime turbulento. Também se pode
constatar que a mudança entre regimes ocorre para um valor do número de
Reynolds compreendido entre 2000 e 4000. Desta forma, estes resultados são
bastante próximos do expectável. Observa-se ainda que a perda de carga
aumenta com o número de Reynolds. De modo a verificar se as leis da
resistência assumidas teoricamente se verificam experimentalmente traçou-se
ainda o gráfico seguintes, que mostra a variação da perda de carga com a
velocidade.

3,00

2,50

2,00
𝑗 (𝑚/𝑚)

1,50

1,00

0,50

0,00
0,00 0,50 1,00 1,50 2,00
𝑈 (𝑚/𝑠)

Gráfico 1: Perda de carga em função da velocidade

9
Como se pode verificar, há uma diferença no comportamento da função entre
os regimes laminar e turbulento. De modo a compreender esta diferença
traçaram-se gráficos específicos para cada regime. Desta forma, para o regime
laminar obteve-se o seguinte gráfico:

0,50
0,45
0,40 y = 0,4496x - 0,0414
0,35
𝑗 (𝑚/𝑚)

0,30
0,25
0,20
0,15
0,10
0,05
0,20 0,30 0,40 0,50 0,60 0,70 0,80 0,90 1,00
𝑈 (𝑚/𝑠)

Gráfico 2: Perda de carga em função da velocidade para o regime laminar

Já para o regime turbulento obteve-se o gráfico que se segue.

3,30
y = 0,2813x2 + 0,95x - 0,57
2,80

2,30
𝑗 (𝑚/𝑚)

1,80

1,30

0,80
1,10 1,30 1,50 1,70 1,90 2,10 2,30
𝑈 (𝑚/𝑠)

Gráfico 3: Perda de carga em função da velocidade para o regime turbulento

Acrescentaram-se aos gráficos as respectivas linhas de ajuste, de modo a


compreender melhor a relação entre as variáveis. Desta forma, como é possível
verificar, no regime linear há uma relação linear entre a perda de carga e a
velocidade, enquanto no regime turbulento há uma relação polinomial entre as
duas, ou seja, para o regime linear tem-se que j ∝ u e para o regime turbulento
j ∝ u2 . Assim sendo, os resultados obtidos aproximam-se dos esperados
inicialmente.

10
Conclusão

Esta actividade consistiu na verificação experimental das leis da resistência


no escoamento em regime laminar e em regime turbulento, bem como na
determinação do número de Reynolds.
Utilizando o o H7/7A - Pipe Friction (Tubo de Fricção), foi então possível
determinar a perda de carga e o caudal directo de um fluído nos dois regimes, o
que permitiu calcular o número de Reynolds bem como traçar gráficos a partir
dos quais se verificou a lei da resistência para os dois regimes.
Os resultados obtidos correspondem aos esperados inicialmente, já que se
verificou que a mudança entre o regime laminar e turbulento se dá para um
número de Reynolds compreendido entre 2000 e 4000. Para além disso, foi
ainda possível constatar que para o regime laminar a relação entre perda de
carga e a velocidade é linear, enquanto para o regime turbulento esta relação é
polinominal.
De facto, no regime laminar as velocidades são inferiores pelo que a força
de viscosidade é predominante e os efeitos da rugosidade da parede do tubo
são insignificantes. Com o aumento da velocidade e consequentemente do
número de Reynolds, a camada viscosa que cobre a parede do tubo é destruída
pelo que a força de inércia se vai tornando mais importante.
Ainda assim, os resultados obtidos poderiam ser mais precisos e mais
exactos. Analisando os gráficos traçados é possível verificar um salto entre os
dois regimes, bem como um desalinhamento dos dados. Tal poderá ser
consequência da má leitura das escalas dos dois manómetros e do cronómetro
bem como do facto do tubo poder conter seres vivos. A realização de mais
ensaios para cada regime, bem como um melhor controlo entre a mudança de
regime também poderiam ter ajudado na obtenção de mais e melhores
resultados.

11
Bibliografia

Novais-Barbosa, J. (1986) Mecânica dos Fluidos e Hidráulica Geral, Porto: Porto


Editora
Quintela, António de Carvalho (2014) Hidráulica, Lisboa: Fundação Calouste
Gulbenkian
(2004) H7/7a: Pipe Friction, TQ Education and Training, LTD

12

Você também pode gostar