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Guia de Laboratório – Mecânica dos Fluidos

Experiência: Perda de carga por fricção no interior de


uma tubagem de área constante - Aparelho
HM150.11

Elaboração: Sílvia Margarida Carvalho Santos

1 – INTRODUÇÃO

Fluxo dentro de tubos verifica-se no transporte de líquidos ou gases através de


condutas, extrusão de plásticos ou outros fluidos ou passagem de líquidos ou gases
através de filtros. Neste tipo de situações interessa em geral calcular a perda de
pressão que o fluido vai sofrer e relacioná-la com o caudal volumétrico (P vs. Caudal
volumétrico).

Para um fluido a escoar de um ponto 1 para o ponto 2, ao longo de uma linha de


corrente, vimos que a equação da energia pode ser escrita como:

em que W representa a perda irreversível de energia devido ao atrito. Se o


escoamento se der com pressão constante (por exemplo, caso do fluxo Couette) e
sem variação de velocidade (v1=v2) nem energia potencial (z1=z2) e se não houver
trabalho mecânico (Ws=0), então teremos:

U =U2 –U1 = q -W

O atrito vai-se então traduzir por uma dissipação térmica, com variação da energia
interna do fluido. É claro que se as perdas por atrito forem baixas e/ou se a
capacidade calorífica do fluido for elevada (caso de muitos líquidos), então U2≈U1 ou
seja, o estado térmico do fluido é praticamente inalterado (fluxo isotérmico).

Noutras situações, se não houver fornecimento de calor ao sistema (q=0) nem


realização de trabalho mecânico (Ws=0), para um fluido incompressível, temos:

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Se o escoamento for isotérmico, teremos:

ou seja, o fluido perde pressão (carga) devido ao atrito na parede. A perda de carga
será representada por:

Sendo a perda de pressão por atrito (“friction”).

A equação de Bernoulli surge então modificada:

1.1 – Factor de atrito (ou de fricção)

O cálculo das perdas de pressão por atrito, para escoamento dentro de condutas é
facilitado pelo uso de um parâmetro adimensional designado por factor de atrito, f.

A sua equação de definição é:

sendo a força de atrito na parede dada pelo produto do fluxo de quantidade de


movimento na parede pela área de contacto (“área molhada”): .

O produto AK traduz o produto da área molhada (A) por uma energia cinética por
unidade de volume (K). Para escoamento em condutas, K relaciona-se com a
velocidade média da secção v por:

Consideremos então um tubo de secção circular, colocado na horizontal, e façamos


um balanço de forças ao fluido em estado estacionário:

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Por outro lado, .

Igualando as duas expressões e resolvendo em ordem a f, obtemos:

Esta definição corresponde ao factor de atrito de Fanning, e relaciona f com a perda


de pressão por atrito para escoamento em tubos de secção circular.

O factor de atrito relaciona-se com o número de Reynolds, o que é fundamental em


projecto de tubagens e selecção de bombas.

Para fluxo laminar, já sabemos como se relaciona a perda de pressão por atrito, Pf,
com o caudal volumétrico:

Substituindo na expressão do factor de atrito de Fanning e rearranjando, vem:

Esta não é mais do que outra forma da equação de Hagen-Poiseuille.

No caso do fluxo turbulento há que definir outra grandeza, genericamente designada


por rugosidade.

A rugosidade tem que ver com o material de que o tubo é construído, bem como o
seu acabamento. Define-se rugosidade absoluta como a profundidade média da
irregularidade de uma superfície – neste caso a superfície interior do tubo, expressa
como um comprimento. Na prática o parâmetro de maior relevância é a rugosidade
relativa, definida como a razão entre a rugosidade absoluta e o diâmetro interno do
tubo, e que evidentemente é adimensional.

- rugosidade absoluta, 

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- rugosidade relativa,

Em fluxo turbulento, o factor de atrito é função do número de Reynolds e também da


rugosidade relativa (excepto no caso de tubos lisos, claro). Existem diversas
correlações empíricas ou semi-empíricas para a determinação do factor de atrito.

No caso de tubos lisos e com número de Reynolds na gama

2100<Re<105, é válida a equação de Blasius:

Para outras situações, opta-se em geral por consultar o diagrama de Moody – Figura 1
- onde se encontram condensadas as diversas correlações.

Assim, o dimensionamento de tubagens passa pela determinação de Re, a partir do


qual se determina o factor f.

A partir daqui, e sabendo f, determina-se a perda de carga por atrito, hf, que entra na
equação de Bernoulli modificada.

Figura 1: Diagrama de Moody.

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1.2 – O aparelho HM150.11

O equipamento de medição da perda de carga por fricção é formado por uma


moldura em aço com várias tubagens montadas em secções que se podem fechar
ou abrir individualmente, permitindo assim que se faça o estudo isolado de
determinadas secções sem que haja influência das outras secções. Esta unidade está
equipada com dois medidores de pressão e uma bomba para fazer circular a água
nas tubagens.

Figura 2: Unidade de medição de perda de carga por fricção (Fluid Friction


Apparatus)- HM150.11.
Legenda
1- Estrutura de aço tubular
2- Painel de suporte
3- Válvulas para desligar secções de peça
4- Câmaras anulares com sensores para leitura de pressão
5- Manómetro duplo
6- Sistema de medição ajustável (não disponível)
7- Objectos de medição – Medição de fluxo (não disponível)
8- Objectos de medição – Dispositivos para a abertura ou fecho do fluxo
9- Válvula de entrada
10- Descarga do fluido

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De 1 a sistemas de medida

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1.3 – Simbologia e unidades

Tabela 1: Símbolos e unidades.

Nomenclatura Símbolo Unidade

Tempo t s ou min
Volume V L ou m3
Densidade ρ Kg/m3
Caudal volumétrica Qv m3/s
Velocidade v m/s
Número de Reynolds Re -
Fator de atrito ou de fricção f -
Perda de carga experimental num tubo devido a hf(exp) dm ou m
fricção
Perda de carga teórica num tubo devido a fricção hf(calc) dm ou m
Queda de pressão ΔP N/m2
Temperatura T ºC
Viscosidade cinemática m2/s
Diâmetro da tubulação D cm ou m
Comprimento do tubo L cm ou m
Aceleração da gravidade g m/s2
Rugosidade ε mm
Rugosidade relativa ε/D -
Erro relativo %

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2 – OBJECTIVO

O principal objetivo deste trabalho experimental é o de avaliar a perda de carga


devida ao atrito no interior de um tubo (PVC), de secção recta, em função dos
diferentes caudais volumétricos aplicados ao escoamento da água.

Os objetivos específicos são:

 Avaliar os regimes (laminar ou turbulento) de escoamento da água ao longo


da tubagem;

 Determinar o factor de atrito para cada caudal volumétrico;

 Calcular a perda de carga teórica e comparar com a medida experimental;

 Calcular a queda de pressão ao longo do escoamento;

 Traçar um gráfico de perda de carga em função do caudal volumétrico.

3 – MATERIAIS E PROCEDIMENTOS

3.1– Materiais utilizados

- Unidade de medição de perda de carga por fricção - HM150.11;

- Cronómetro;

- Termómetro;

- Fita métrica;

- Diagrama de Moody .

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3.2 – Procedimento

1) Verifique que todo material necessário se encontra disponível;

2) Ligue os dois tubos flexíveis a cada uma das câmaras anulares presentes na
tubagem em estudo;

3) Abra completamente a válvula à entrada desta secção de tubagem em estudo


mantendo as outras secções fechadas;

4) Verifique que existe líquido suficiente no tanque e registe a temperatura da água


no interior;

5) Ligue o quadro eléctrico do equipamento;

6) Accione a bomba de circulação de água;

7) Abra ligeiramente a válvula de descarga situada no lado direito do equipamento


(esta válvula serve para regular os caudais de escoamento da água);

8) Depois de aproximadamente 3 min, feche a válvula de descarga e confirme que o


nível de líquido é o mesmo em cada lado do manómetro;

9) Efectue a primeira medição de perda de carga, abrindo ligeiramente a válvula de


descarga (primeiro caudal de água);

10) Em seguida feche a válvula do tanque de descarga e, quando o nível do


líquido subir até 10 litros, comece a cronometrar o tempo necessário para
preencher um volume de 10 litros (partindo de 10 até 20 L) que é o recomendado
pelo fabricante do equipamento. Estes dados servem para o cálculo do caudal;

11) Registe a perda de carga no manómetro duplo. Durante a leitura, leve em


consideração as oscilações geradas pela circulação do líquido (deve-se registar o
valor máximo atingido e o valor mínimo para posteriormente calcular-se uma média
dos dois valores);

12) Repita os procedimentos acima mencionados para diferentes fluxos de água,


bastando regular a válvula de descarga a diferentes posições de abertura;

13) Após ter terminado todas as medições, feche todas as válvulas abertas e
desligue o quadro geral do equipamento.

14) Verifique o diâmetro interno da tubagem.

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4 – DADOS E RESULTADOS EXPERIMENTAIS

4.1 – Dados

Tabela 2: Características da Tubagem.

Grandeza Valor

Dexterno 2 cm

L 0,8 m

ε 0,001 mm

Tabela 3: Viscosidade cinemática da água a diferentes temperaturas.

T (ºC)  (10-6 m2/s)

15 1,134

16 1,106

17 1,079

18 1,055

19 1,028

20 1,004

21 0,980

22 0,957

23 0,935

Para outras propriedades que necessite, use o Handbook of Chemistry and Physics.

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4.2 – Medições e cálculos

Tabela 4: Medições.

Nº de 1 2 3 4 5 6 7
medições
Tempo (min)

Volume (L)

Perda de
Carga: hf(exp)
(dm)

Tabela 5: Resultados obtidos experimentalmente.

Nº de 1 2 3 4 5 6 7
medições
t (s)

V (m3)

Q(m3/s)

v (m/s)

Re

hf(exp) (m)

hf(calc) (m)

ΔP (N/m2)

Er (%)

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Figura 3: Diagrama de Moody.

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4.3 – Outros dados/informações

Nesta folha deverá tomar nota dos dados e informações que considere relevantes
para desenvolvimento no relatório.

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4.4 – Questões a responder no relatório

1. Ilustre graficamente a relação existente entre a perda de carga e o caudal


volumétrico.

2. Analise os resultados obtidos experimentalmente para perda de carga.

3. Compare e explique as razões da diferença entre os resultados experimentais e


os teóricos para perda de carga.

4. Explique o impacto do Número de Reynolds nos resultados obtidos para a


perda de carga.

5. Explique o impacto do caudal volumétrico nos resultados obtidos para a perda


de carga.

6. Explique o impacto da viscosidade nos resultados obtidos para a perda de


carga.

7. Que outros parâmetros influenciaram, ou poderiam ter influenciado, os


resultados obtidos para a perda de carga?

Bom trabalho!!!

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