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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS


DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA
LABORATÓRIO DE ENGENHARIA QUÍMICA I

DETERMINAÇÃO DO PERFIL DE VELOCIDADE EM EM ESCOAMENTO


TURBULENTO

Acadêmicos: Gabriel Girotto Zanutto RA 112431


Pedro Henrique Siscato RA 117082
Victor Hugo Lopes Benedito RA 118234

Turma: 216/03
Professora: Isabela Dancini Pontes

MARINGÁ, 30 DE NOVEMBRO DE 2022


1. Introdução

Em tubulações retas pode-se observar o surgimento de perfis de velocidade


que ditam como o fluido se move no interior delas devido a dois principais fatores:
condição de não-deslizamento e a influência da viscosidade do fluido [1]. Esse perfil
é uma função do raio do tubo e seu formato será ditado pelo número de Reynolds.
A determinação do perfil de velocidade é de grande importância na área da
engenharia ao dimensionar um equipamento ou escolher o material mais adequado
para o mesmo.
A realização do experimento tem como objetivo efetuar medidas
experimentais de velocidade da água utilizando o Tubo de Pitot em um duto de
seção circular uniforme, operando em regime permanente.

2. Objetivos
Determinar, experimentalmente, o perfil universal de velocidade para o
escoamento em um tubo em regime turbulento e permanente, em diferentes
vazões.

3. Revisão bibliográfica
O perfil de velocidade para um escoamento é um gráfico que nos mostra
como a velocidade é distribuída ao longo do diâmetro de um tubo. Porém, essa
distribuição da velocidade pode variar de acordo com o tipo de escoamento sendo
estudado. Quando é possível determinar o perfil de velocidade de um escoamento,
é dito que este está totalmente desenvolvido, uma vez que não sofre mais variações
ao longo do escoamento. Também é importante lembrar que alguns elementos
podem causar perturbações no perfil de velocidade do escoamento, como curvas,
medidores e válvulas, bem como mudanças no diâmetro da tubulação.
Em um escoamento em regime laminar, o perfil de velocidade se apresenta
como uma parábola, onde a velocidade é previsível e é possível afirmar que a
velocidade no centro do tubo é o dobro da velocidade média. Porém, em um regime
turbulento, o perfil de velocidade se apresenta de uma forma diferente, devido à
complexidade envolvida no escoamento turbulento, neste caso, o perfil é mais
achatado e a velocidade no centro é cerca de 1,2 vezes a velocidade média do
escoamento.
Para o experimento realizado, o escoamento medido está em regime
permanente e turbulento, já como perfil de velocidade totalmente desenvolvido. Para
determinar a velocidade do fluido é utilizado um Tubo de Pitot que pode ser
posicionado em diferentes posições ao longo do diâmetro do tubo, medindo a
diferença entre as pressões estática (medida na parede do tubo) e a pressão total
(medida pelo Tubo de Pitot), com auxílio de um manômetro em U. Com a pressão
dinâmica em cada ponto do tubo é possível determinar o perfil de velocidade para
cada vazão medida.
A partir do trabalho pioneiro de Nikuradse, diversos outros autores se
propuseram a apresentar relações para a representação do perfil universal de
velocidade para um escoamento em regime permanente e turbulento em um duto
liso. Algumas das equações que serão utilizadas para fins comparativos no
experimento realizado serão as equações de Deissler (Eq. 1) e a equação de
Schlichting (Eq. 2).
Eq. 1

Eq. 2

Onde para ambas as equações e para a montagem do gráfico, temos que as


seguintes equações utilizadas para o cálculo. É importante lembrar que no
manômetro é utilizado CCl4 como fluido para medição, além da presença de água
que é o fluido contido na tubulação.

Eq. 3

Eq. 4

Eq. 5
Eq. 6

Além disso, para o experimento, teremos que calcular a velocidade média do


escoamento para cada vazão, utilizando a Eq. 3.

Eq. 7

Para o experimento, serão coletados dados para a montagem de um gráfico


+ +
de 𝑢 por 𝑙𝑛𝑦 para cada vazão estudada. A partir dos gráficos, pode-se obter as
equações de reta, que serão comparadas com as equações 1 e 2 para cada uma
das vazões. Também será calculada a velocidade média do escoamento a partir da
Eq. 3 e da equação de reta obtida a partir do gráfico para cada uma das vazões.

4. Materiais

Nesta prática experimental foi utilizado um módulo experimental, conforme


Figura 1, composto por: manômetro, reservatório para medir vazão, bomba, tubo de
Pitot e válvulas. Além disso, para complementar os cálculos futuros foi utilizado
adaptador para medir a vazão no reservatório, cronômetro e régua.

Figura 1: Esquema do experimento.


Fonte: [2]

5. Métodos

Inicialmente as válvulas foram abertas e a bomba de água foi ligada. No


reservatório, encaixou-se o adaptador no duto e aferiu-se a vazão do escoamento
no reservatório, para isso, anotou-se o valor do volume do recipiente e o tempo
gasto para enchê-lo. Com a vazão já estabelecida, mediu-se a diferença de pressão
estática entre os pontos V3 e V2 pelo manômetro. Em seguida, com as válvulas V3
e V4 abertas mediu-se as pressões estáticas fornecidas pelo Tubo de Pitot nas
diferentes dimensões do tubo. Tal procedimento foi realizado para três diferentes
vazões.

6. Resultados e Discussões

A temperatura registrada no dia do experimento foi de 𝑇𝑎𝑚𝑏 = 26 °𝐶.

Considerando as condições da temperatura e altura de Maringá, pela tabela


termodinâmica (ÇENGEL, Y. A., 2013), obtemos:
−3
ρ𝐻 𝑂 = 996, 8 𝑘𝑔. 𝑚 ;
2

−2
𝑔 = 9, 805 𝑚. 𝑠 .

Através de White (2007):


2
μ𝐻 𝑂 = 0, 0008806 𝑁. 𝑠/𝑚
2

E também:
−3
ρ𝐶𝐶𝑙 = 1582 𝑘𝑔. 𝑚 (REISLER, et al., 1972).
4

Seguindo o procedimento experimental, obtivemos dados referentes às


variações de altura, para os cálculos da pressão estática e também para as
pressões dinâmicas, que foram utilizadas posteriormente para calcular as
velocidades u e u+. Portanto, através das equações 3, 4, 5 e 6, para as três vazões,
temos:

Tabela 1: Dados experimentais e calculados pelas fórmulas dadas, para a vazão 1.

Vazão 1

V (m3) = 0,0235 ref (mm) = 12,5

Δh est. ΔP est. 𝜏0
tméd (s) Q (m3/s) u (m/s) Re
(m) (Pa) (kg/m.s2)

2285
59,29 0,00040 0,8075 0,032 184 1,640
0

u*

0,041

Δh man. u
r (m) y (m) y+ ln y+ u+
(m) (m/s)

0,0125 0,002 0,038 0,66 91,842 4,5201 16,31

0,0105 0,004 0,044 0,71 183,684 5,2132 17,55

0,0085 0,006 0,05 0,76 275,526 5,6187 18,71

0,0065 0,008 0,052 0,77 367,368 5,9064 19,08

0,0045 0,010 0,052 0,77 459,209 6,1295 19,08

0,0025 0,012 0,051 0,77 551,051 6,3118 18,89

0,0005 0,014 0,047 0,74 642,893 6,4660 18,14

-0,0015 0,012 0,043 0,70 551,051 6,3118 17,35


Fonte: Elaborado pelo autor.
Tabela 2: Dados experimentais e calculados pelas fórmulas dadas, para a vazão 2.

Vazão 2

V (m3) = 0,0235 ref (mm) = 12,5

Δh est. ΔP est. 𝜏0
tméd (s) Q (m3/s) u (m/s) Re
(m) (Pa) (kg/m.s2)

38,205 0,00062 1,2531 35461 0,082 471 4,204

u*

0,065

Δh man.
r (m) y (m) u (m/s) y+ ln y+ u+
(m)

0,0125 0,002 0,050 0,76 147,019 4,9906 11,69

0,0105 0,004 0,078 0,95 294,037 5,6837 14,60

0,0085 0,006 0,097 1,06 441,056 6,0892 16,28

0,0065 0,008 0,114 1,15 588,075 6,3769 17,65

0,0045 0,01 0,120 1,18 735,094 6,6000 18,11

0,0025 0,012 0,128 1,21 882,112 6,7823 18,70

0,0005 0,014 0,130 1,22 1029,131 6,9365 18,84

-0,0015 0,012 0,126 1,20 882,112 6,7823 18,55

-0,0035 0,01 0,129 1,22 735,094 6,6000 18,77

-0,0055 0,008 0,125 1,20 588,075 6,3769 18,48

-0,0075 0,006 0,119 1,17 441,056 6,0892 18,03

-0,0095 0,004 0,116 1,16 294,037 5,6837 17,80


Fonte: Elaborado pelo autor.
Tabela 3: Dados experimentais e calculados pelas fórmulas dadas, para a vazão 3.

Vazão 3

V (m3) = 0,046 ref (mm) = 12,5

ΔP est. 𝜏0
tméd (s) Q (m3/s) u (m/s) Re Δh est. (m)
(Pa) (kg/m.s2)

69 0,00067 1,3581 38434 0,062 356 3,178

u*

0,056

Δh man. u
r (m) y (m) y+ ln y+ u+
(m) (m/s)

0,0125 0,002 0,122 1,19 127,838 4,8508 20,99

0,0105 0,004 0,139 1,27 255,677 5,5439 22,41

0,0085 0,006 0,155 1,34 383,515 5,9494 23,66

0,0065 0,008 0,17 1,40 511,354 6,2371 24,78

0,0045 0,01 0,185 1,46 639,192 6,4602 25,85

0,0025 0,012 0,191 1,48 767,031 6,6425 26,27

0,0005 0,014 0,193 1,49 894,869 6,7967 26,41

-0,0015 0,012 0,193 1,49 767,031 6,6425 26,41

-0,0035 0,01 0,185 1,46 639,192 6,4602 25,85

-0,0055 0,008 0,176 1,42 511,354 6,2371 25,22


Fonte: Elaborado pelo autor.
Tabela 4: Dados experimentais e calculados pelas fórmulas dadas, para a vazão 4.

Vazão 4

V (m3) = 0,0235 ref (mm) = 12,5

tméd Q ΔP est. 𝜏0
u (m/s) Re Δh est. (m)
(s) (m3/s) (Pa) (kg/m.s2)

25,235 0,00093 1,8971 53687 0,185 1062 9,484

u*

0,098

Δh man. u
r (m) y (m) y+ ln y+ u+
(m) (m/s)

0,0125 0,002 0,159 1,35 127,838 4,851 23,97

0,0105 0,004 0,192 1,49 255,677 5,544 26,34

0,0085 0,006 0,235 1,65 383,515 5,949 29,14

0,0065 0,008 0,265 1,75 511,354 6,237 30,94

0,0045 0,01 0,292 1,83 639,192 6,460 32,48

0,0025 0,012 0,335 1,96 767,031 6,643 34,79

0,0005 0,014 0,345 1,99 894,869 6,797 35,31

-0,0015 0,014 0,355 2,02 894,869 6,797 35,81

-0,0035 0,014 0,345 1,99 894,869 6,797 35,31

-0,0055 0,014 0,335 1,96 894,869 6,797 34,79


Fonte: Elaborado pelo autor.

Ficou claro nas tabelas que todos os escoamentos são turbulentos, visto que
Re > 20000.
Portanto, podemos utilizar a literatura das equações de perfil de velocidade
para escoamento turbulento. Vamos plotar gráficos de u+ vs ln y+ para cada vazão.
Neste momento selecionamos apenas os valores correspondentes de
𝑟𝑚𝑖𝑛 = 0, 0005 𝑚 até 𝑟𝑚á𝑥 = 0, 0125 𝑚, para que a linearização do gráfico seja
efetiva. Pois se utilizássemos os valores seguintes, o raio começaria a diminuir e ao
invés de uma reta, teríamos uma curva polinomial. Sendo assim:

Gráfico 1: u+ vs ln y+, para a vazão 1.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Para o Gráfico 1 - coeficiente linear: 𝐴1 = 11, 26; coeficiente angular:

𝐵1 = 1, 2185.

Gráfico 2: u+ vs ln y+, para a vazão 2.

Fonte: Elaborado pelo autor.


Para o Gráfico 2 - coeficiente linear: 𝐴2 =− 7, 0076; coeficiente angular:

𝐵2 = 3, 7964.

Gráfico 3: u+ vs ln y+, para a vazão 3.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Para o Gráfico 3 - coeficiente linear: 𝐴3 = 6, 124; coeficiente angular:

𝐵3 = 3, 0017.

Gráfico 4: u+ vs ln y+, para a vazão 4.

Fonte: Elaborado pelo autor.


Para o Gráfico 4 - coeficiente linear: 𝐴4 =− 6, 4824; coeficiente angular:

𝐵4 = 6, 0813.

Utilizando as equações 1 e 2, que descrevem o perfil de velocidade universal,


temos: 𝐴𝑡𝑒𝑜, 𝑆𝑐ℎ𝑙𝑖𝑐ℎ𝑡𝑖𝑛𝑔 = 5, 5; coeficiente angular: 𝐵𝑡𝑒𝑜, 𝑆𝑐ℎ𝑙𝑖𝑐ℎ𝑡𝑖𝑛𝑔 = 2, 5;

e 𝐴𝑡𝑒𝑜, 𝐷𝑒𝑖𝑠𝑠𝑙𝑒𝑟 = 2, 8; coeficiente angular: 𝐵𝑡𝑒𝑜, 𝑆𝑐ℎ𝑙𝑖𝑐ℎ𝑡𝑖𝑛𝑔 = 2, 778.

Para efeito de comparação, construímos a seguinte tabela:

Tabela 5: Desvios percentuais médios experimentais, em relação aos teóricos..

Desvios Percentuais Médios

Vazão Schlichting Deissler

Vazão 1 78% 179%

Vazão 2 140% 193%

Vazão 3 16% 63%

Vazão 4 181% 225%


Fonte: Elaborado pelo autor.

Percebemos desvios bem altos dos dados experimentais em relação aos


teóricos. O erro aleatório associado que pode ter surtido efeito foi: precisão na
leitura no manômetro água-tetracloreto, devido à paralaxe. Quanto aos erros
grosseiros, podemos citar: má calibração do tubo de pitot, tubo de escoamento
degradado pelo intemperismo da água corrente e também a má vedação dos tubos
do manômetro.

Plotando um gráfico da velocidade de escoamento (u) pelo raio, obtemos os


perfis de velocidade para as quatro vazões:
Gráfico 5: Perfil de velocidade da vazão 1.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Gráfico 6: Perfil de velocidade da vazão 2.

Fonte: Elaborado pelo autor.


Gráfico 7: Perfil de velocidade da vazão 3.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Gráfico 8: Perfil de velocidade da vazão 4.

Fonte: Elaborado pelo autor.


Por meio das equações obtidas pelo ajuste polinomial dos perfis de
velocidade, podemos determinar a velocidade média através da equação 7, onde:
2 2
𝐴 = π𝑟 = 0, 00049 𝑚 ; 𝑑𝐴 = 2π𝑟𝑑𝑟

Pelo Gráfico 5, temos a velocidade média da vazão 1:

𝑅 0,0125
2
∫𝑣𝑑𝐴 ∫ (−1949,6𝑥 +18,843𝑥+0,7321)2π𝑟𝑑𝑟
< 𝑣1 > = 0
= 0
2 = 0, 74 𝑚/𝑠;
π𝑟
∫𝑑𝐴

Pelo Gráfico 6, temos a velocidade média da vazão 2:

𝑅 0,0125
2
∫𝑣𝑑𝐴 ∫ (−2124,5𝑥 −7,2359𝑥+1,2399)2π𝑟𝑑𝑟
< 𝑣2 > = 0
= 0
2 = 1, 01 𝑚/𝑠;
π𝑟
∫𝑑𝐴

Pelo Gráfico 7, temos a velocidade média da vazão 3:

𝑅 0,0125
2
∫𝑣𝑑𝐴 ∫ (−2049,9𝑥 +0,4724𝑥+1,4907)2π𝑟𝑑𝑟
< 𝑣3 > = 0
= 0
2 = 1, 34 𝑚/𝑠;
π𝑟
∫𝑑𝐴

Pelo Gráfico 8, temos a velocidade média da vazão 4:

𝑅 0,0125
2
∫𝑣𝑑𝐴 ∫ (−3044,9𝑥 +14,439𝑥+1,9889)2π𝑟𝑑𝑟
< 𝑣4 > = 0
= 0
2 = 1, 63 𝑚/𝑠.
π𝑟
∫𝑑𝐴
7. Conclusão

Através do experimento e da fundamentação teórica, foi possível calcularmos


o perfil de velocidade universal experimental e compararmos com os teóricos, de
Schlichting e Deissler. Infelizmente não obtivemos bons resultados para os perfis de
velocidade universais, tendo em vista os desvios percentuais evidenciados.
Contudo, obtivemos sucesso na obtenção da velocidade média por meio das
equações dos gráficos dos perfis de velocidade

8. Referências

1. INCROPERA, F. P.; DEWITT, D. P.; LAVINE, A. S.; BERGMAN, T. L.


Fundamentos da transferência de calor e de massa, 7a edição, Editora
LTC, Rio de Janeiro - RJ, 2014;

2. Universidade Estadual de Maringá. Apostila de Coeficiente de atrito em


dutos circulares. 2022.

3. ÇENGEL, Y. A. PROPERTY TABLES AND CHARTS (SI UNITS). 2013.

4. WHITE, F. M. Mecânica dos Fluidos. [S. l.: s. n.], 2007.

5. REISLER, Emil; EISENBER, Henryk; MINTO, Allen P. Temperature and Density


Dependence of the Refractive Index of Pure Liquids, Polymer Dept., The
Weizmann Institute of Science, Rehovot, Israel, p. 3-3, 14 jan. 1972. Disponível
em:
https://www.researchgate.net/publication/250839513_Temperature_and_den
sity_dependence_of_the_refractive_index_of_pure_liquids. Acesso em: 30 nov.
2022.

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