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CURVA CARACTERÍSTICA DE BOMBAS

E. A. R. FREIRE1, J. C. A de SOUSA1

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Universidade Federal do Maranhão, Centro de Ciências Exatas e Tecnológicas, Coordenação do
Curso de Engenharia Química.

RESUMO – O trabalho descreve o experimento de Curva Característica de Bombas,


tendo como escopo a análise da variação de pressão na entrada e na saída da bomba,
tendo em vista, a variação de vazão para o fluido de trabalho, água. O sistema consistiu
em um reservatório de água, bomba, vacuômetro, manômetro e pistões que controlassem
a vazão da água para a tubulação. Dessa forma foi possível construir a curva
característica da bomba experimentalmente e compara-la com a do fabricante e ainda
supor um sistema de tubulação que operasse juntamente com a bomba. A análise da
curva experimental foi similar comparada com a do fabricante o que revela a eficácia do
experimento e ainda comparou-se a curva da bomba experimental com a curva do
sistema hipotético e determinou-se o ponto de trabalho. Além disso, conseguimos
observar o fenômeno da cavitação.

PALAVRAS-CHAVE: bomba centrífuga, variação de pressão, vazão, altura útil, curva


do fabricante, ponto de operação.

1. INTRODUÇÃO

Máquina de fluido é o equipamento que promove a troca de energia entre um sistema


mecânico e um fluido, transformando energia mecânica em energia de fluido, ou vice-versa
(Souza, 1969). Estes equipamentos são acoplados a sistemas completos de tubulações para
transferir fluidos, no estado líquido, de um ponto a outro de acordo com o aumento da vazão do
escoamento. A vazão e a altura manométrica do fluido estão estritamente interligadas de acordo
com o sistema em análise.
As perdas por componentes da tubulação são tratadas como descontinuidades nas linhas de
corrente e nas linhas de energia, e são comumente chamadas de perda de carga. (Potter, 2014).
Devido a essas supressões, é possível observar uma diminuição da energia cinética do fluido, e,
por conseguinte, uma diminuição de sua pressão, ou ainda, em um sistema elevatório, a perda de
altura.

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Ao passar pela bomba, o fluido recebe uma quantidade de energia por unidade de peso, que
determina uma altura correspondente. Esta altura é denominada Altura Útil de Elevação. Já a
Altura Manométrica Total é a quantidade de energia por unidade de peso do fluido que este
precisa absorver para vencer o desnível da instalação, a diferença de pressão e a resistência da
tubulação.
Um gráfico da Altura Útil da Bomba em função da vazão é chamado de curva do sistema, e
as curva que relaciona a carga transferida pela bomba em função da vazão é denominada Curva
do Fabricante (Çengel & Cimbala, 2007). Este último gráfico deve ser fornecido pelo fabricante
da bomba, e de acordo com ele determina-se qual o melhor equipamento para o sistema a ser
construído.
No funcionamento de máquinas de fluxo, é possível perceber regiões onde ocorre rarefação
do líquido. Quando a pressão absoluta abaixa até a pressão de vapor do líquido, na temperatura
em que se encontra, tem início o processo de vaporização (GERMER, 2013).
Ponto de operação é a região onde um sistema-bomba funciona com a maior eficiência
possível e corresponde ao ponto em que a altura de carga da bomba e a altura de carga requerida
do sistema coincidem (FOX et al, 2014).
Portanto, este trabalho tem como escopo o estudo das curvas que determinam um sistema
constituído de uma bomba, determinar a curva do fabricante, além de familiarizar-se com seu
funcionamento, e entender o fenômeno da cavitação.

2. EQUAÇÕES
A altura útil do fluido é calculada por:

P2−P1 V 2−V 1
H= + +( Z 2−Z 1) (1)
γ 2g

Sendo:

H – Altura útil de elevação do fluido (m)

P2−P1 – Diferença de pressão entre um ponto e outro (Pa)

V 2−V 1 – Diferença de velocidade entre um ponto e outro (m/s)

Z2 −Z 1 – Diferença de altura entre um ponto e outro (m)

γ – Peso específico do fluido (N/m³)

g – gravidade (9,81 m/s²)

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E de acordo com a Equação (1) é possível construir a curva característica da bomba.

No entanto, as diferenças de velocidades e as diferenças de altura foram desprezadas em


nosso experimento, considerando o fluido com mesmo diâmetro na seção de sucção e descarga e
que não havia variação de energia potencial, portanto a equação se reduz a Equação (2):

P2−P1
H= (2)
γ

O peso específico ( γ ) é calculado de acordo com a Equação (3):

γ = ρ∗g (3)

Sendo:

ρ- massa específica do fluido (kg/m³)

3. CAMPANHA EXPERIMENTAL
A seleção dos materiais ocorreu conforme o roteiro experimental disponibilizado (De la
Salles, 2016).

3.1 Materiais:

Os materiais estão de acordo com a Tabela 1.

Tabela 1 – Materiais utilizados no procedimento

Bomba centrífuga ½ HP Dancor;


Termômetro digital;
Tanque para armazenar o fluido;
Válvulas à montante e à jusante do sistema;
Manômetros.

3.2 Procedimento Experimental:

Mediu-se a temperatura do fluido com o auxílio de um termômetro digital para que o


experimento fosse propriamente iniciado. O valor da temperatura foi anotado.

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Medir a temperatura

Variar vazão de saída

Observar os
manômetros

Anotar os valores de
pressão

Medir a temperatura
novamente

Figura 1 - Fluxograma do procedimento experimental.

Com a alimentação de fluido já ligada, foi-se regulando a vazão de saída com o


auxílio de duas válvulas. Observou-se o comportamento das pressões nos manômetros de entrada
e saída. Os valores observados foram anotados.

Por último, mediu-se novamente a temperatura do fluido e comparou-se com a inicial.


Os resultados foram guardados para as aqui presentes análises. O procedimento para a realização
do experimento está esquematizado na Figura 1.

4. RESULTADOS E ANÁLISE
A temperatura inicial do fluido foi de 31ºC, e, ao final do experimento, observou-se
uma alteração para 33ºC. Essa variação de 2 graus foi devido à força de atrito do fluido com a
tubulação, mas principalmente pela dissipação de calor que a bomba, que é uma máquina, tem,
uma vez que todas as máquinas não são 100% eficientes.

Na Tabela 2, é possível encontrar a relação entre as vazões, as pressões na entrada e


saída do sistema, a diferença de pressão, a variação absoluta de temperatura e a altura útil. O peso
específico foi calculado considerando-se a densidade da água à temperatura média de 32ºC que
equivale a 0,9950 kg/m³, e a aceleração da gravidade de 9,81 m/s².

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Tabela 2 – Relação entre as vazões, pressões e perda de carga do sistema .

Vazão P1 (105Pa) P2 (105 Pa) ΔP (105Pa) H (m)


(m³/h)
0 0 2,37 2,37 24.30
0.1 0 2,30 2,30 23.60
0.2 0 2,25 2,25 23.10
0.3 0 2,30 2,30 23.60
0.4 0 2,17 2,17 22.30
0.5 0 2,15 2,15 22.10
1 0 1,97 1,97 20.19
1.5 0,24 1,66 1,42 14.61
2 0,34 1,49 1,14 11.73
2.5 0,45 1,35 0,89 9.19
3 0,58 1,17 0,59 6.04
3.5 0,72 0,98 0,26 2.67

De acordo com esses valores, é possível inferir que a altura útil é inversamente
proporcional ao aumento da vazão do fluido, o que caracteriza a curva do fabricante e que a
pressão 1 e 2 diminuem conforme se aumenta a vazão, a pressão 1 é medida pelo vacuômetro e a
2 pelo manômetro. Essa relação se dá pela proporcionalidade inversa das duas grandezas dada a
γQ Δ P
fórmula de potência (P=¿ ¿. A potência da bomba, o peso específico e a eficiência se
σ
mantém constante então a vazão e a diferença de pressão se consolidam como inversamente
proporcionais O comportamento gráfico está representado na Figura 2.

Ao comparar-se os dois gráficos, observa-se um comportamento parecido das duas


séries, no entanto, em faixas ligeiramente distintas. Isso se deve às condições às quais o sistema
estava submetido, como temperatura e até a posição da tubulação, e acarreta variações nos
resultados.

5
30

25
Curva da
bomba
20 experimental
Curva do
15 fabricante

10

0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9

Figura 02 – Representação gráfica das curvas da bomba do fabricante e experimental.

Variou-se a vazão e, paulatinamente, percebeu-se a presença de outro fenômeno, a


cavitação, uma vez que a pressão interna no tubo estava abaixo da pressão de vapor da água.
Através do tubo de acrílico, constatou-se a presença de bolhas de ar, e à medida que aumentava-
se o fluxo, elas tornaram-se mais frequentes. A Figura 3 retrata o momento.

Existem diversas formas de evitar que o sistema entre em cavitação, como o aumento
do reservatório de fluido, diminuir a perda de carga, diminuir a pressão de vapor do fluido, ou,
mais comumente, aumentar a pressão dentro da tubulação.

Figura 3 – Fenômeno da cavitação observado no experimento.

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4.1 Sistema hipotético:

Queremos elevar um fluido (água) contido em um reservatório em Ri para um


reservatório superior R s de acordo com a Figura 4.

Rs
.

Hg = 20 m
L2D2

Ri L1D1

Figura 4 – Esquema do sistema adotado para comparação das curvas da bomba.

A altura geométrica entre os dois reservatórios é de 20 m. E sabendo que a H mé


calculada pela fórmula H m =20+0,3224 Q 2 e que se deseja calcular em uma faixa de Q entre 0 a
12 m 3 /h. Sabendo disso construiu-se a Tabela 3.

Tabela 3 – Vazão volumétrica e altura manométrica para o sistema hipotético

Q (m³/h) H(m)
0 20
0,1 20,00322
0,2 20,0129
0,3 20,02902
0,4 20,05158
0,5 20,0806
1 20,3224
1,5 20,7254
2 21,2896
2,5 22,015
3 22,9016
3,5 23,9494

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Além disso, pôde-se construir o gráfico da altura manométrica em função da vazão
volumétrica, como na Figura 5 e compará-lo com a curva obtida experimentalmente da nossa bomba. O
ponto ótimo de trabalho foi obtido e esse pode ser encontrado na intersecção das duas curvas, o qual foi no
ponto (0,989;20,02), ou seja em um ponto onde a vazão é 0,99 m ³/he H m =20,02m . Sendo assim, ao
abrir gradualmente o registro, começa o escoamento do fluido e as correspondentes perdas de
carga, diminuindo o valor da altura manométrica. Com o aumento da vazão de escoamento,
progressivamente a energia cinética vai aumentando e, consequentemente a pressão vai
diminuindo até atingir o equilíbrio, no ponto em que as curvas características da bomba e do
sistema se cruzam.

30

25

20

Curva do sistema
15 Curva da bomba

10

0
0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4

Figura 5 – Comparação entre a curva do sistema e a curva experimental da bomba.

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5. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

A prática de curva característica da bomba foi satisfatória, uma vez que pudemos
obter uma curva experimental da bomba muito próxima à curva do fabricante e assim verificar
que conforme aumentamos a vazão do fluido diminuímos a altura útil de elevação da bomba,
obtendo assim um formato decrescente como bem característico de uma bomba centrífuga.

Além disso, pudemos observar o fenômeno da cavitação, o qual foi explicado nos
resultados, e assim perceber a importância de se evitar o fenômeno, visto que, acarretam alguns
efeitos negativos como, produção de ruído, vibração que pode afetar o comportamento mecânico
da bomba, redução do rendimento da bomba e da altura manométrica.

Para o sistema hipotético conseguimos obter o ponto de trabalho, ou seja, o ponto


onde a bomba pode oferecer para o fluido a carga manométrica (H) precisamente igual a que o
fluido necessita para percorrer a instalação hidráulica com uma vazão Q.

Como recomendação, podemos montar em paralelo com o aparato do experimento


um aparato experimental com tubulações e acessórios para assim calcular as perdas de carga e
obter-se a curva do sistema. Ou ainda, não só avaliar a curva característica da bomba H(m) x Q
(m³/h), mas também avaliar o rendimento e NPSH (Net Positive Suction Head). Outra sugestão é
trabalhar nos mesmos pontos de vazão que a curva do fabricante disponibiliza, para que assim
seja possível observar melhor o experimento.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BERGMAN, Theodore L.; INCROPERA, F. P.; DEWITT, D. P.; et al. Fundamentos da


transferência de calor e de massa – 3. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2015.

ÇENGEL, Y. A.; CIMBALA, J. M.; Mecânica dos fluidos: fundamentos e aplicações. Porto
Alegre: AMGH, 2015.

DE LA SALLES, W.; LINAN, L. M.; Experiência de Reynolds. São Luís, 2016.

FOX, Robert W. Introdução à mecânica dos fluidos – 8. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2014.

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GERMER, Eduardo. Máquinas de Fluxo. Curitiba: UTFPR – CT, Curitiba, 2013.

MUNSON, Bruce R.; YOUNG, Donald F.; OKIISHI, Theodore H. Fundamentos da mecânica
dos fluidos. São Paulo: Blucher, 2004.

SOUZA, Z.; BRAN, R. Máquinas de Fluxo: turbinas, bombas e ventiladores. Rio de Janeiro: ed.
LTC, 1969.

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