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HIDRÀULICA II

NOTAS DE AULA

Profo Me. Vanderlei Cecchini Júnior

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DÚVIDAS: ENVIAR E-MAIL PARA

vanderjr@ifsp.edu.br

vandercecchini@hotmail.com

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CANAIS

ENERGIA OU CARGA ESPECÍFICA

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10.7.2 ELEVAÇÃO NO NÍVEL DE FUNDO


Considere, como na Figura 10.13b, um canal retangular de largura constante, portanto
com vazão unitária q constante, no qual, em uma determinada seção, há uma elevação
no fundo de altura ΔZ. Desprezando as perdas de carga, a equação da conservação da
energia entre as seções 1 e 2 é escrita como:

Deve ser observado que a energia específica E é sempre medida na seção em relação
ao fundo do canal. Como no caso da transição devida a uma redução na largura, serão
analisadas duas condições iniciais na seção de montante, seção 1.

Considerando o escoamento na seção 1 fluvial, na Figura 10.13a, a altura d'água


compatível com a energia disponível E, vale Y1 (ponto A). A altura d'água y2 na seção 2
é menor que y1, e maior que Yc e corresponde ao ponto B, pois E2=E1-ΔZ.
Considerando o escoamento na seção 1 torrencial, na Figura 10.13a, a altura d' água
compatível com a energia disponível E1 vale y1* (ponto A*). A altura d’água na seção 2
é maior que y1* e menor que Yc e corresponde ao ponto B*. Portanto, a altura d'água
decresce se o escoamento for fluvial e cresce se for torrencial, sem haver, em cada
caso, mudança de regime.

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Se a altura ΔZ na seção 2 for aumentada ainda mais, até que a reta E2 tangencie a
curva da energia específica desenhada para a vazão q = cte. (ΔZ= ΔZc e E2=Ec), a altura
d'água nesta seção será a altura crítica, independente do tipo de escoamento na seção
1 ser fluvial (A➔C) ou torrencial (A*➔C). Trata-se, portanto, de uma situação limite na
qual a energia disponível em 2 ainda é suficiente para veicular a vazão. Aumentando-
se ainda mais o nível do fundo em 2, conforme a Figura 10.13a, a reta E2 estará à
esquerda da reta Ec e não cortará a curva da energia desenhada para q = cte., portanto
não há solução matemática para o problema físico nas condições iniciais de montante.
Supondo que o escoamento em 1 seja fluvial, as perturbações originadas pela
transição propagar-se-ão para montante e a altura d'água deverá ajustar-se por si
mesma, até que condições críticas sejam produzidas na seção 2, seção de controle. Em
outras palavras, haverá alterações nas condições de montante pelo aparecimento de
uma curva de remanso com a altura d'água na seção 1 aumentada para o valor y1+,
ponto A+, até atingir uma energia E1+=Ec + ΔZ+, necessária para veicular a vazão
unitária q condizente com a altura de fundo da seção 2, ΔZ+ > ΔZc. Nesta situação, o
escoamento passará de fluvial a montante da transição para crítico na transição e, na
seqüência, para torrencial, retornando ao escoamento fluvial através de um ressalto
hidráulico se, a jusante, o canal for de fraca declividade. Desta forma, a condição limite

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de elevação de fundo na seção 2, para que o escoamento se processe sem que sejam
alteradas as condições de montante, é que o escoamento na seção 2 seja crítico e não
haja elevação da linha de energia a montante.

Se o escoamento na seção 1 for torrencial e ΔZ > ΔZc, haverá a formação de um


ressalto hidráulico a montante da transição e a perda de energia que ocorre no
ressalto torna impossível analisar o problema usando somente o diagrama de energia
específica y x E.

10.7.2.1 VERTEDOR RETANGULAR DE PAREDE ESPESSA


Do mesmo modo que a redução na largura de um canal retangular pode ser usada
como um medidor de vazão tipo calha venturi, uma elevação do fundo em um trecho
curto pode ser utilizada com a mesma finalidade.

A Figura 10.14 mostra um medidor de vazão denominado vertedor retangular de


parede espessa, que consiste basicamente em uma elevação do fundo do canal,
suficientemente grande para que as condições do escoamento a montante sejam
alteradas com a elevação do nível d'água (ΔZ > ΔZc). Isto, como foi visto
anteriormente, produz em cima do degrau o escoamento crítico e permite, pela
aplicação da equação da energia, determinar a vazão. Tal vertedor deve ter uma
soleira suficientemente longa para estabelecer em algum ponto dela o paralelismo dos
filetes (distribuição hidrostática), mas não exageradamente longa para não produzir
uma perda de carga por atrito que não satisfaça as hipóteses admitidas. O escoamento
a jusante, que será em um certo trecho torrencial, deve ser livre (não afogado) e o

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bordo de ataque do vertedor, arredondado, para não haver turbulência e


descolamento da lâmina.

Aplicando a equação da energia entre a seção 1, na qual a distribuição de pressão é


hidrostática, e a seção 2, de um canal retangular de largura b, para um referencial
passando em cima da soleira do vertedor, e desprezando a carga cinética de
aproximação, fica:

Equação que desenvolvida se torna:

Na Equação 10.34, h é chamado de carga sobre a soleira, e como as perdas de carga


foram desprezadas, a vazão é dita vazão teórica. Observe que a Equação 10.34 é da
mesma forma que a Equação 10.32 estabelecida para o escoamento em uma calha,
indicando que os dois fenômenos são essencialmente semelhantes.

10.8 OCORRÊNCIA DA PROFUNDIDADE CRÍTICA

Na seção 10.7 foi mostrado que uma transição no canal seja por elevação no fundo ou
redução na largura, pode gerar o escoamento crítico e alterar o tipo de escoamento,
desde que provoque a elevação da linha d'água a montante. A mudança do regime de
subcrítico para supercrítico ou vice-versa é feita com a passagem do escoamento por
condições críticas. No primeiro caso a mudança se dá de maneira gradual e a posição
da altura crítica pode ser estabelecida com alguma facilidade. No segundo caso devido
à presença do ressalto hidráulico isto é difícil.

A questão a ser colocada é, onde ocorre a profundidade crítica na transição gradual do


escoamento fluvial para torrencial? Um desenvolvimento matemático pode ser feito
para analisar as condições entre a vazão, a energia disponível e a geometria, que
promovam a ocorrência da altura crítica. Duas situações serão analisadas em um canal
retangular, na ausência de perdas de carga, e as conclusões podem ser estendidas para
outras geometrias. O primeiro caso corresponde à alimentação de um longo canal
retangular de largura b, com uma certa declividade de fundo, por um reservatório

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mantido em nível constante; e o segundo a um canal retangular e hotizontal de largura


uniformemente variada, como na calha venturi.

A Figura 10.15a ilustra a ocorrência da profundidade crítica na entrada de um canal de


forte declividade, lo > Ic e a Figura 10.15b a ocorrência da profundidade crítica nas
proximidades da saída (queda brusca), em um canal de fraca declividade, Io < lc,

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Supondo desprezíveis a perda de carga na passagem do reservatório para o canal e a


carga cinética de aproximação, o que significa dizer que a energia disponível é
somente a energia potencial H, o primeiro caso pode ser tratado matematicamente,
com H e q constantes, na forma:

Diferenciando esta equação com relação a x, distância medida ao longo do canal, vem:

Utilizando a Equação 10.1O, fica:

Esta equação demonstra as particularidades descritas na seção sobre transições, Seção


10.7.2, com o uso da curva y x q. Por exemplo, se o escoamento for subcrítico (Fr < 1) e
ocorrer uma elevação do fundo do canal (dZ/dx > O), a Equação 10.36 mostra que,
necessariamente, dy/dx < O, isto é, ocorrerá um abaixamento da linha d'água sobre o
degrau. O contrário ocorre se o escoamento for supercrítico.

Em relação ao canal de forte declividade alimentado pelo reservatório, com uma


transição feita por uma crista de curta distância (trecho horizontal), tem-se dZ/dx = O
e, como dy/dx ≠ O, pois a água está sendo acelerada para este ponto, a Equação 10.36
mostra que, necessariamente, Fr = 1. Isto é, o escoamento na entrada do canal (ponto
mais alto da crista) é crítico e a vazão unitária, dada pela Equação 10.18, é a máxima
compatível com a energia específica disponível H = E, que é a diferença de cotas entre
o nível d'água no reservatório, em uma região não perturbada pela transição, e a cota
de fundo do canal na seção de entrada. Esta característica é válida em situações
análogas, para seções diferentes da retangular, como será tratado posteriormente.
Após o escoamento passar pela altura crítica na entrada do canal, continua a ser
acelerado, atingindo o regime uniforme torrencial, seção 1, que perdura até a
extremidade final na queda brusca, seção 3, uma vez que o escoamento torrencial
ignora a presença da queda a jusante.

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Para o canal de fraca declividade, tem-se, na seção 1, suficientemente afastada da


entrada, o regime uniforme fluvial. Como este regime é controlado por jusante, o
escoamento uniforme ocorre na seção de entrada, seção 2. A vazão escoada pode ser
determinada compatibilizando-se as equações de resistência e da energia específica,
respectivamente:

Estas equações permitem determinar o par de valores Q e Yo que satisfazem o


problema.

Como o escoamento uniforme é fluvial, comandado por jusante e na saída do canal,


seção 3, não existe condicionamentos que possam refletir para montante, nesta seção
o escoamento vai ocorrer com a mínima energia específica, ou seja, em regime crítico.
Na verdade, devido ao efeito da curvatura das linhas de corrente no final do canal, a
altura crítica não ocorrerá exatamente na seção 3, no bordo da queda. Segundo Rouse
(48), para um canal horizontal ou de fraca declividade e seção retangular, a altura
crítica Yc ocorre a uma distância a montante da queda da ordem de 3 a 4·yc e a altura
d'água no bordo da queda, medida verticalmente, é aproximadamente dada por Y b =
0,715 Yc.

Portanto, uma queda vertical em um canal retangular de declividade fraca pode ser
usada como uma estrutura de medição de vazão, em que não se exija grande precisão,
medindo-se a altura d'água no bordo da queda, calculando-se a altura crítica e a vazão
unitária pela Equação 10.11.

Neste problema de um reservatório alimentando um canal, em princípio não se sabe


se o canal é de declividade forte ou fraca, pois não se conhece a vazão escoada. Assim,
inicialmente pode-se levantar a hipótese de que a declividade é forte, determina-se a
vazão pela Equação 10.18, se a seção do canal for retangular, e daí a altura crítica Yc e
a altura normal Yo, pela fórmula de Manning, e verifica-se que a hipótese é verdadeira
se Yo < Yc, caso contrário a declividade é fraca . Todas estas propriedades e
características são válidas para outras seções que não a retangular.

No caso de um canal retangular e horizontal com largura variável, isto é, b = b(x), a


energia específica em uma dada seção vale:

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Diferenciando a equação em relação a x, na ausência de perdas, fica:

Desenvolvendo a derivada, observando que tanto b quanto y são funções de x, chega-


se a:

Pela Equação 7.4, o número de Froude para uma seção qualquer é dado por:

Deste modo, a expressão anterior pode ser posta na forma

Pela equação precedente, quando o escoamento for crítico portanto Fr =


1, necessariamente deve-se ter db(x)/dx = O, isto é, ocorrerá escoamento
crítico na seção de mínima largura. Derivando-se a Equação 10.38, pode-
se mostrar que o regime crítico não ocorre na seção de máxima largura e
sim na de mínima, pois a derivada segunda é positiva.

10.9 CANAIS DE FORMA QUALQUER

As propriedades e características desenvolvidas na análise dos escoa-


mentos na seção retangular podem ser generalizadas para canais de
forma qualquer (trapezoidal, circular, triangular, parabólica etc.), e
observando que, para seções irregulares, seguindo a definição de energia
específica, o referencial deve passar no ponto mais baixo da seção e a

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distribuição hidrostática de pressão deve ser preservada.


Pela Equação 10.3, para α=1, a equação da energia específica em uma
determinada seção é dada por:

Para Q=cte., a condição de escoamento crítico é obtida como antes,


diferenciando a equação anterior em relação à altura d'água y.

A variação da área molhada A com a altura y pode ser obtida utilizando-


se a notação da Figura 10.16.

Sendo B a largura da seção na superfície livre, tem-se dA = Bdy e assim:

Observe que a Equação 10.41 é a correspondente da Equação 10.7 para a

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seção retangular, e que aquela passa a ser um caso particular desta.


Nas condições de regime crítico, dE/dy = O, portanto:

equação importante cuja raiz é a profundidade crítica para a seção em questão.


A relação A/B foi definida como altura
hidráulica ou altura média da seção e,
desta forma, a expressão do número de
Froude pode ser generalizada, em termos
da vazão, na forma:

Todas as conclusões relativas à ocorrência


do escoamento crítico em canais
retangulares são igualmente válidas em
canais de forma qualquer, desde que o
escoamento se processe dentro da calha,
sem extravasar para fora da seção.
Combinando-se as Equações 10.39 e
10.42, pode-se estabelecer a relação
entre a energia mínima Ec, em um canal
de forma qualquer, e a geometria do
escoamento. Na condição de regime
crítico, da Equação 10.42 vem:

Que substituída em 10.39 fica:

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equação geral que torna a Equação 10.12 um caso particular e mostra que
a carga cinética no regime crítico é metade da altura hidráulica da seção.

EXEMPLO 1

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EXEMPLO 2

EXEMPLO 3

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