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HIDRÁULICA II

NOTAS DE AULA

DÚVIDAS: ENVIAR E-MAIL PARA

vanderjr@ifsp.edu.br

Profo Me. Vanderlei Cecchini Júnior

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CANAIS
ESCOAMENTOS EM SUPERFÍCIE LIVRE

7.1 INTRODUÇÃO

O escoamento de água através de uma tubulação, sob condições de


conduto forçado, tem por principais características o fato de a tubulação ser
fechada, a seção ser plena, de atuar sobre o líquido uma pressão diferente da
atmosférica e o escoamento se estabelecer por gravidade ou por
bombeamento. Nos condutos livres ou canais, a característica principal é a
presença da pressão atmosférica atuando sobre a superfície do líquido, em
uma seção aberta, como nos canais de irrigação e drenagem, ou fechada,
como nos condutos de esgoto e galerias de águas pluviais. Neste caso, o
escoamento se processa necessariamente por gravidade.

Os canais podem ser classificados como naturais, que são os cursos


d'água existentes na Natureza, como as pequenas correntes, córregos, rios,
estuários etc., ou artificiais, de seção aberta ou fechada, construídos pelo
homem, como canais de irrigação, de navegação, aquedutos, galerias etc.

Os canais podem ser ditos prismáticos se possuírem ao longo do


comprimento seção reta e declividade de fundo constantes; caso contrário, são
ditos não prismáticos.

Os conceitos relativos às linhas de energia e piezométrica são utilizados


nos canais de forma análoga aos condutos forçados, observando que, devido à
presença da pressão atmosférica, a linha piezométrica geralmente, mas nem
sempre, coincide com a linha d' água. Nas aplicações mais comuns em que a
linha d'água coincide com a linha piezométrica, a carga de pressão p/y do
conduto forçado será substituída pela altura d'água y na seção considerada.

Apesar da similaridade no tratamento analítico dos dois tipos de


escoamentos, cabe observar que existe muito mais dificuldade de tratar os
condutos livres do que os condutos forçados.

Primeiramente, considerando o aspecto relativo à rugosidade das


paredes, para as tubulações usuais em condutos forçados, se têm rugosidades

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bem caracterizadas, já que os tubos decorrem de produção industrial, e a gama


de variação destes materiais é pequena (ferro fundido, aço, concreto,
P.V.C.etc).O mesmo não ocorre com as rugosidades dos canais, em que, além
dos tipos de materiais usados serem em maior número, é mais difícil a
especificação do valor numérico da rugosidade em revestimentos sem controle
de qualidade industrial ou, mais difícil ainda, no caso dos canais naturais.

No que concerne ao estabelecimento dos parâmetros geométricos da


seção (área, perímetro, altura d'água), é visível a maior dificuldade para os
canais, pois, enquanto os condutos forçados têm, basicamente, seções
circulares, os canais se apresentam nas mais variadas formas geométricas,
além do que esses parâmetros geométricos podem ainda variar no espaço e no
tempo.

Do ponto de vista da responsabilidade técnica, os projetos em canais


são mais preocupantes, já que, se um erro de 0,30 m no plano piezométrico de
uma rede de distribuição de água não traz maiores conseqüências, uma
diferença de 0,30 m no nível d'água em um projeto de sistema de esgotos ou
galerias de águas pluviais pode ser desastroso.

7.2 ELEMENTOS GEOMÉTRICOS DOS CANAIS

Tanto nos canais prismáticos como nos não prismáticos, uma série de
parâmetros é necessária para descrever geometricamente a seção e as
declividades de interesse. Conforme a Figura 7.1, os principais elementos
geométricos são:

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a) Área molhada (A) é a área da seção reta do escoamento, normal à


direção do fluxo.

b) Perímetro molhado (P) é o comprimento da parte da fronteira sólida da


seção do canal (fundo e paredes) em contato com o líquido; a
superfície livre não faz parte do perímetro molhado.

c) Raio hidráulico (Rh) é a relação entre a área molhada e o perímetro


molhado, e já foi discutido.

d) Altura d'água ou tirante d'água (y) é a distância vertical do ponto mais


baixo da seção do canal até a superfície livre.

e) Altura de escoamento da seção (h) é a altura do escoamento medida


perpendicularmente ao fundo do canal.

f) Largura de topo (B) é a largura da seção do canal na supeifície livre,


função da forma geométrica da seção e da altura d'água.

g) Altura hidráulica ou altura média (Hm) é a relação entre a área


molhada e a largura da seção na superfície livre. É a altura de um
retângulo de área equivalente à área molhada.

h) Declividade de fundo (Io) é a declividade longitudinal do canal. Em


geral, as declividades dos canais são baixas, podendo ser expressas
por Io=tg α =sen α.

i) Declividade piezométrica ou declividade da linha d'água (Ia).

j) Declividade da linha de energia (If) é a variação da energia da


corrente no sentido do escoamento.

7.3 TIPOS DE ESCOAMENTOS

Os escoamentos nos canais podem ter por parâmetros de


variabilidade o espaço e o tempo, isto é, características hidráulicas

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como altura d'água, área molhada, raio hidráulico podem variar no


espaço, de seção para seção, e no tempo.

Conforme já foi definido, tomando como critério comparativo o


tempo, os escoamentos podem ser permanentes e não permanentes
ou variáveis.

O escoamento ou regime é permanente se a velocidade local em um


ponto qualquer da corrente permanecer invariável no tempo, em
módulo e direção. Por conseguinte, os demais parâmetros hidráulicos
em uma mesma seção transversal, como profundidade, vazão, área
molhada etc., guardam um valor constante e existe entre as diversas
seções do canal uma "continuidade de vazão".

Ao contrário, o escoamento ou regime é não permanente se a


velocidade em um certo ponto varia com o passar do tempo. Neste
caso, não existe uma continuidade de vazão e as características do
escoamento dependem, por sua vez, das coordenadas do ponto
considerado e do tempo. Este tipo de escoamento ocorre, por exemplo,
quando da passagem de uma onda de cheia através de um canal.
Deve-se, entretanto, observar que o fato de o escoamento ser perma-
nente ou não depende da posição do observador em relação à
corrente, assim o escoamento de um rio em volta do pilar de uma
ponte é permanente para o observador postado sobre a ponte e não
permanente para o observador em um barco impelido pela corrente.

Tomando como critério comparativo o espaço, os escoamentos


podem ser uniformes e não uniformes ou variados. O escoamento ou
regime é uniforme desde que as velocidades locais sejam paralelas
entre si e constantes ao longo de uma mesma trajetória ; elas podem,
entretanto, diferir de uma trajetória para outra. As trajetórias são
retilíneas e paralelas, a linha d'água é paralela ao fundo, portanto a
altura d' água é constante e Io = Ia = If.

Quando as trajetórias não são paralelas entre si, o escoamento é


dito não uniforme, a declividade da linha d' água não é paralela à
declividade de fundo e os elementos característicos do escoamento
variam de uma seção para outra. Neste caso, a declividade de fundo
difere da declividade da linha d'água lo ≠ la.

O escoamento variado pode ser permanente ou variável, acelerado


ou desacelerado, se a velocidade aumenta ou diminui no sentido do
movimento.

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O escoamento variado, por sua vez, é subdividido em gradualmente


variado e rapidamente variado. No primeiro caso, os elementos
característicos da corrente variam de forma lenta e gradual, de seção
para seção, e no segundo, há uma variação brusca na altura d'água e
demais parâmetros, sobre uma distância comparativamente pequena.
Os escoamentos bruscamente variados serão estudados como
fenômenos locais, cujos principais exemplos são o ressalto hidráulico,
que é uma elevação brusca da superfície livre que se produz quando
uma corrente de forte velocidade encontra uma corrente de fraca
velocidade, e a queda brusca, que consiste em abaixamento
notável da linha d'água sobre uma distância curta.

A Figura 7.2 apresenta alguns tipos de escoamentos


permanentes em um canal uniforme e de declividade constante.

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Em resumo, os escoamentos em canais são classificados


como:

Ainda do ponto de vista classificatório, pode-se distinguir,


como nos condutos forçados, dois tipos de regime, laminar e
turbulento. As principais forças que atuam sobre a massa líquida
são a força de inércia, da gravidade, de pressão e de atrito, pela
existência de viscosidade e rugosidade, e são expressas, sendo L
uma dimensão geométrica característica, como:

O número de Reynolds é a relação entre a força de inércia e


a força viscosa e, no estudo dos canais, este adimensional é
expresso por:

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em que V é a velocidade média na seção considerada, Rh, o raio


hidráulico da seção e ν, a viscos idade cinemát ica da água.

Como para os condutos forçados circulares Rh = D/4 e para Rey


< 2000 caracterizava regime laminar, pela Equação 7.2, para os canais
tem-se Rey < 500 no regime laminar. A grande maioria das aplicações
práticas ocorre para números de Reynolds bem maiores que 500,
caracterizando escoamenjos turbulentos.

O número de Reynolds permite classificar os escoamentos livres


em três tipos, como se segue:

Outro adimensional muito utilizado em estudos de canais é o


número de Froude,1 definido como a raiz quadrada da relação entre a
força de inércia e a força de gravidade, e expresso por:

em que V é a velocidade média na seção, g, a aceleração da


gravidade e Lc, uma dimensão característica do escoamento. Nos
canais, é comum definir como dimensão característica a altura
hidráulica da seção, de modo que o número de Froude é apresentado
como:

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O número de Froude é utilizado para classificar os escoamentos


livres que ocorrem nas aplicações práticas em três tipos, como se
segue:

7.4 INFLUÊNCIA DA DECLIVIDADE DE


FUNDO

Considere as condições de escoamento em um canal


de grande declividade no qual não há aceleração normal e a
velocidade é uniforme na seção e paralela ao fundo, isto é,
as linhas de corrente são paralelas ao fundo do canal,
conforme a Figura 7.9.

Sobre o elemento de volume de espessura dx, largura unitária e


altura h, as forças atuantes na direção s são a componente do peso do

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elemento e a força de pressão na base. A condição de equilíbrio na


direção s impõe:

Como h = y.cosα, em que y é a altura do


escoamento medida verticalmente, vem:

Observe que, apesar de o escoamento ser paralelo e a


velocidade, uniforme, a distribuição de pressão dada pela
Equação 7.16, isto é, a carga de pressão p/y para qualquer altura
vertical é igual a esta altura multiplicada pelo fator de correção
cos2 α. Como em rios e canais a declividade de fundo, em geral,
não assume valores maiores que 0,01 m/m, o que corresponde a
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cos α= 0,9999, pode-se confundir a altura y, medida na vertical,
com a altura h, medida formando um ângulo reto com o fundo do
canal.
O mesmo não acontece, por exemplo, com o escoamento
no trecho retilíneo, e de grande declividade, de um vertedor de
uma barragem, como na Figura 7.2.
Portanto, no escoamento em canais, a superfície livre
coincide com a linha piezométrica, desde que a distribuição de
pressão seja hidrostática, isto é, se a curvatura vertical das
linhas de corrente e acelerações forem desprezíveis e o canal for
de baixa declividade.
No escoamento permanente gradualmente variado,
levando em conta que a alteração da altura d'água de seção a
seção é suave e a curvatura das linhas de corrente, pequena,
para efeito prático, o escoamento será assumido paralelo e a
distribuição de pressão, hidrostática.

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Desta forma, na grande maioria dos casos a serem estudados


em canais de fraca declividade, abertos ou fechados, existirá a
distribuição hidrostática de pressão e a linha piezométrica
coincidirá com a linha d'água. Para estas condições, a carga
piezométrica (p/y+ z) é constante na seção e a energia total, por
unidade de peso, em relação a um certo plano horizontal de
referência, assumindo que a distribuição de velocidade seja
uniforme (α= 1) e a distribuição de pressão, hidrostática (p = γ y), é
dada por:

Ex. Em um canal regular de seção trapezoidal de declividade


constante, com largura de fundo igual a 1,0 m, inclinação dos taludes
1H:1V (Z = 1 ), a altura d'água é igual a 0,80 m a velocidade média,
0,85 m/s. Verifique a influênceia das forças viscosa e da gravidade
avaliando os regimes do escoamento através da determinação dos
números de Reynolds e Froude.

Viscosidade da água (ν= 0,000001 m2/s.)

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