Você está na página 1de 15

FUNDAMENTOS DE

ENGENHARIAS
A essência da
engenharia
Igor Ribeiro

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

> Reconhecer os fundamentos da engenharia, suas características e apli-


cações.
> Identificar os elementos norteadores dos fundamentos da engenharia.
> Determinar os conhecimentos necessários para uma aplicação prática
da engenharia.

Introdução
Intrínseca à sobrevivência e à qualidade de vida é a capacidade do homem de
resolver problemas de forma otimizada nos mais variáveis segmentos. Podemos
mencionar as necessidades primordiais, como habitação adequada, ferramentas
para cultivo ou autodefesa, infraestrutura e transporte, como primeiros alvos.
Adicionalmente, há outras demandas que visam a otimizar recursos e tempo,
como máquinas fabris, computadores, internet, smartphones, desembocando
nas modernas inteligências artificiais. No vasto leque de problemas decorrentes
da vivência em sociedade e da interação com o meio ambiente, o engenheiro
avilta como a figura que, a partir do seu conhecimento, se dispõe a descrever,
abordar sistematicamente e apresentar soluções otimizadas para as situações-
-alvo de sua análise.
Conforme Holtzapple e Reece (2017), é precisamente a aplicação prática
de seu conhecimento que distingue a prática da engenharia das ciências e
matemáticas teóricas. Você deve se atentar, contudo, ao fato de que a prática
exercida pelo engenheiro se diferencia daquela dos profissionais técnicos pela
2 A essência da engenharia

formação holística e abrangente, pautada no conhecimento dos fenômenos


físicos visando à otimização, isto é, à redução de custo. Logo, engenhar é resolver
problemas usando a mínima quantidade de recursos possíveis no processo.
Restam ainda algumas questões-chave: quais são os alicerces que possibilitam
alcançar este objetivo? O que observar para garantir uma boa prática? Quais
são os conhecimentos adequados?
Neste capítulo, você vai estudar os fundamentos da engenharia e como eles
podem ser caracterizados, desenvolvidos e aplicados.

Fundamentos da engenharia
Ao engenheiro é atribuída a função de resolver problemas aplicando conhe-
cimentos de distintas escolas do conhecimento. A natureza do campo do
conhecimento abordado delimita o escopo de um particular segmento. Dessa
forma, o engenheiro químico, por exemplo, tem por objeto de estudo as inte-
rações atômicas e os processos de transformação da matéria. Já o engenheiro
mecânico lida com problemas relacionados a máquinas, dispositivos, entre
outras áreas correlatas à aplicação da mecânica e da termodinâmica clássica.
Contudo, a origem do termo engenharia nos remete essencialmente a um
contexto militar. Segundo Holtzapple e Reece (2017), a datação mais antiga
conhecida do termo engenheiro foi empregada por Tertuliano, conhecido autor
cristão, para descrever o aríete utilizado pelos romanos no ataque a Cartago
como ingenium. Mais tarde, o termo ingeniator passou a ser utilizado para a
pessoa responsável pelo desenvolvimento das diversas máquinas utilizadas
em guerra, como aríetes, pontes flutuantes, torres de assalto, catapultas, etc.
Com o passar do tempo, outra atribuição é acrescida, quando os locais com
máquinas destinadas a moagem de trigo, e posteriormente cana de açúcar,
recebem a designação de engenho (FREITAS, 2019). As primeiras escolas de
engenharia surgem apenas no século XVIII na Europa, e chegam ao Brasil no
século seguinte, visando a erigir uma infraestrutura de defesa com fortes,
navios, máquinas de guerra e estradas. A seguir, a Figura 1 ilustra a linha do
tempo desde a origem do termo até a primeira escola de engenharia brasileira.
Dado o amplo campo de atuação possível, as escolas politécnicas passam
a definir os saberes necessários para abordagem de problemas diversos.
Mascarenhas (2020), exibe o gradual surgimento das designações de enge-
nharia (civil, mecânica, naval, etc.) visando a uma abordagem politécnica,
com consequente delimitação do currículo. O estabelecimento do campo de
atuação foi consolidado na sequência por meio de medidas legais.
A essência da engenharia 3

IIngenium
i Ingeniator
I Construtor de Escolas de Primeira
engenhos engenharia escola de
Século III Século XIII
Europeias engenharia
Século XVI
Brasileira
Século XVIII
Século XIX

Figura 1. Cronologia da engenharia.

Concomitante ao cenário socioeconômico e às soluções requisitadas,


a engenharia desenvolvia-se, conforme analisado em Marinho (2015). O autor
traça um interessante paralelo entre a crescente necessidade do escoamento
da produção agrícola do café para os portos e o desenvolvimento da enge-
nharia civil em território nacional. Os profissionais empenhavam-se em cada
uma das etapas visando a otimizar a produção e o transporte, com o objetivo
de aumentar os lucros por meio da redução dos custos.
Em suma, do ponto de vista do desenvolvimento histórico, a engenharia
é gradualmente desenvolvida ante todo o espectro das demandas sociais
associadas a um determinado contexto. Logo, o engenheiro é o profissional
que produz soluções engenhosas nas mais diversas áreas do conhecimento
a partir de holístico conhecimento politécnico. As soluções vão desde má-
quinas de guerra, ou a vapor, construções, carros, componentes eletrônicos,
softwares, materiais, componentes químicos, entre outros. Essencialmente,
onde houver problemas a serem resolvidos, há campo de atuação para o
engenheiro.
Não obstante, o ser humano por natureza engenha, isto é, resolve pro-
blemas a partir dos seus conhecimentos. Por isso, é necessário maior refi-
namento nessa definição. Indissociável à prática da engenharia podemos
encontrar a gestão de recursos. Côrtes (2012) afirma que nenhuma solução
é estritamente técnica, requerendo, necessariamente, a análise de aspectos
econômicos. Desde o século XIX, Wellington (1887) define o engenheiro como
aquele que faz com um dólar aquilo que qualquer outro faria com dois. Nesse
prisma, necessariamente, os conhecimentos são aplicados visando tanto ao
atendimento das demandas técnicas para correto funcionamento e utilização
quanto aos aspectos de custos associados à determinada solução.
4 A essência da engenharia

Ademais, uma vez que a prática da engenharia necessariamente con-


some recursos ambientais, cada vez mais escassos, são exigidas maiores
observância e contemplação do quesito sustentabilidade. Vesilind, Morgan
e Heine (2018) traçam um apanhado histórico que demonstra como o cresci-
mento urbano gera danos, doenças e eventual escassez de recursos. Por isso,
a gestão dos impactos gerados sobre o meio ambiente ante um contexto
em que esses se tornam escassos é imperativa e não mais opcional para a
sobrevivência das gerações futuras. Finalmente, a Figura 2 exibe três funda-
mentos a serem observados.

Desempenho

Sustentabilidade Economia

Figura 2. Fundamentos da engenharia.

Nesta seção, foram discutidos os fundamentos da engenharia, a partir da


origem histórica, delimitando o engenheiro como um profissional que resolve
problemas objetivando o atendimento de critérios técnicos, a eficiente gestão
de recursos e a minoração dos impactos ambientais.

Características dos fundamentos


O engenheiro deve prezar por resolver problemas alcançando desempenho
técnico satisfatório, com a menor quantidade de custos associados e gerando
o menor impacto ambiental possível. Para tanto, a caracterização de cada
um desses pilares fornece substrato para você entender como dirigir a sua
prática de modo consistente.
A essência da engenharia 5

O desempenho
Ao formular a resposta para uma dada questão, o engenheiro busca soluções
eficazes, ou seja, que alcançam determinado objetivo. Espera-se que as pontes
projetadas resistam aos ventos, às variações térmicas e às demais ações,
fornecendo segurança aos veículos que trafegam sobre elas. Igualmente,
as curvas devem ser tão suaves quanto possíveis para evitarem riscos de
acidentes. Os carros que trafegam sobre elas têm inúmeros componentes
mecânicos que compõem um sistema com objetivos particulares e o objetivo
comum de fazer o veículo trafegar de modo tão seguro quanto possível.
As inúmeras engenharias enfrentam problemas particulares e multidisci-
plinares, cujas diretrizes de abordagem são estabelecidas pelo corpo de
profissionais.
Nesse senso, a delimitação do escopo de atuação é imprescindível para
aprofundamento das práticas ideais. Holtzapple e Reece (2017) fornecem uma
figura que sumariza as divisões mais usuais entre as engenharias, ilustrada
aqui na Figura 3. Nela, você pode observar que conforme novas demandas
surgem, especializações ocorrem com o intuito de aprofundamento em uma
particular área de estudo. O acúmulo de conhecimento e a observância de
critérios de segurança e durabilidade são condensados em códigos de pro-
jetos, manuais e diretrizes. Formam-se, então, os órgãos regulamentadores
que intentam verificar e fiscalizar o cumprimento dos critérios consolidados
pela comunidade técnica.
Uma vez que a ciência constantemente evolui, com frequência os docu-
mentos técnicos são atualizados para refletir compreensões consonantes.
Por isso, ao longo do curso, você verá a menção de diversas versões de ma-
nuais, normas e documentos para o projeto de um mesmo ativo que refletem
os requisitos mínimos compreendidos pela comunidade técnica. O projeto de
estruturas de concreto, por exemplo, é regido pela NBR 6118 na sua quinta
versão e, atualmente, encontra-se em consulta nacional para sua sexta edição.

As normas técnicas são formuladas por comissões de estudo da


Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e têm força de
lei. Nesse sentido, o engenheiro que exerce sua profissão sem obedecer aos
critérios normativos está sujeito à ação judicial.
6 A essência da engenharia

Física Química Biologia

3000 a.C. Engenharia


Civil

1000 a.C. Engenharia


Militar

1700 d.C.
Engenharia
Mecânica

1800 d.C.

Engenharia de Materiais

Engenharia
Agronomia
Elétrica

Engenharia Química
1900 d.C.
Engenharia
Aeroespacial

Engenharia
da Engenharia Engenharia Bioquímica
1950 d.C.
Computação Nuclear
Engenharia Biomédica

Época atual

Figura 3. Engenharias e campo de conhecimento.


Fonte: Adaptada de Holtzapple e Reece (2017).

Finalmente, salienta-se que a organização de conselhos próprios é impres-


cindível, uma vez que o desempenho exigido para um carro, para cervejas e
fertilizantes, hardware, produção de energia e os diversos campos exibidos
na Figura 3 diferem substancialmente em sua natureza, critérios e aplicações.
Contudo, o item desempenho satisfatório consistirá em inserir seus projetos
dentro de uma ampla estrutura que garanta eficácia e eficiência dentro de
horizontes temporais adequados.
A essência da engenharia 7

Economia
Vivemos em uma sociedade de recursos limitados e que naturalmente deseja
maiores lucros. Logo, estabelecidos os critérios de desempenho, o engenheiro
precisa escolher, dentre as soluções tecnicamente viáveis, aquela que melhor
satisfaz critérios econômicos. Por exemplo, caso seja necessária a utilização
de maquinário específico em um projeto, qual é a opção mais barata: o aluguel
ou a compra? Ou ainda pensando em diferentes opções de projeto de uma
máquina, qual tem os menores custos?
As questões relacionadas a custos têm se tornado mais prementes desde
o século XIX. Côrtes (2012) afirma que a ascensão do capitalismo industrial
impulsionou o nascimento de um profissional dentro da engenharia para
voltar-se especificamente para a economia, o engenheiro de produção.
Ao mesmo tempo, os engenheiros civis introduziam a análise econômica
que faltava aos projetos de engenharia no âmbito da infraestrutura, sobre-
tudo em ferrovias, pontes e estradas. Destaque-se nesse cenário a histórica
obra de Wellington (1887), The economic theory of the location of railways,
abordando critérios técnicos para otimizar a implementação de ferrovias em
território norte-americano.
Venanzi e Silva (2016) sumarizam os fundamentos da engenharia econômica
em alguns pontos-chave. Você deve conhecer e definir as alternativas para
alocação dos recursos. Um plano de contingência deve ser elaborado, como
forma de gerir os riscos associados aos imprevistos usuais. Ao efetuar essas
atividades, deve-se gerir as partes interessadas, buscando identificar inter-
-relações, e gerir as incertezas inerentes. Como ferramentas para alcançar
esses objetivos, efetua-se gestão econômica, de custos, de investimentos
e de riscos.
A gestão econômica visa a mensurar os custos associados a um dado pro-
jeto para tomada de decisão no que tange às inúmeras atividades necessárias
para implantação de uma dada solução. Por sua vez, a gestão de custo baseia-
-se no planejamento dos valores a serem gastos para que determinado fim
seja alcançado, ou seja, refere-se ao capital despendido inerente ao processo
de produção. A gestão de investimentos visa a sistematizar a aplicação de
capital tendo em vista o risco e o retorno nesse processo. Finalmente, a gestão
de riscos almeja mensurar, controlar e estabelecer limites toleráveis para os
diversos parâmetros que podem implicar retornos positivos ou negativos
ao longo de um projeto. As diretrizes para gestão financeira na engenharia
encontram-se representadas na Figura 4.
8 A essência da engenharia

Gestão Gestão de
econômica custos

Gestão de Gestão de
investimentos riscos

Figura 4. Conceitos-chave da engenharia econômica.

Sustentabilidade
Se inicialmente o intento do engenheiro era apenas fornecer a solução, gra-
dualmente evoluindo para contemplação de critérios econômicos mediante
a influência do capitalismo, as demandas mais recentes dizem respeito ao
esgotamento dos recursos e aos profundos impactos decorrentes de seu
consumo ou descarte dos produtos produzidos. Vesilind, Morgan e Heine (2018)
pontuam que no século XXI torna-se ainda mais claro que os ecossistemas
e o capital natural do nosso planeta não são inesgotáveis, de forma que as
soluções que contemplem o viés da sustentabilidade não mais constituem
um trade-off, ou seja, um fator a ser contrabalanceado na análise, mas antes
devem ser fatores imperativos.
A crise ambiental em que nos encontramos tem inúmeros causadores,
contudo, é possível citar três principais pontos, conforme Braga et al. (2005).

„ População: o rápido crescimento populacional aumenta constante-


mente a demanda por infraestrutura urbana, serviços e soluções de
engenharia de modo geral.
„ Recursos naturais: apenas recentemente, os governos, as empresas e
os órgãos responsáveis se atentaram ao fato de que a exploração, o
processamento e utilização desses recursos devem causar o mínimo
de dano possível ao meio ambiente, de modo que possibilite sua re-
posição ou recuperação.
„ Poluição: as demandas crescentes da população quando atendidas
sem contemplar processos adequados para utilização de recursos
naturais implicam poluição, reduzindo os recursos disponíveis para
determinadas finalidades e assim amplificando o problema.
A essência da engenharia 9

Um dos marcos para consideração da sustentabilidade na engenharia foi


uma conferência de 65 engenheiros e cientistas diversos em Sandestin, Fló-
rida. A agência de proteção ambiental dos Estados Unidos (USEPA) adotou os
princípios discutidos como princípios da engenharia verde (VESILIND; MORGAN;
HEINE, 2018). A seguir, o Quadro 1 sumariza esses princípios.

Quadro 1. Princípios da engenharia verde

Praticar a engenharia de processos e produtos de forma holística,


1 usar análise de sistemas e integrar estudos de avaliação de impacto
ambiental.

Conservar e melhorar os ecossistemas naturais, protegendo ao mesmo


2
tempo a saúde e o bem-estar humano.

3 Contemplar o ciclo de vida em todas as atividades da engenharia.

Assegurar que as fontes e rejeitos de material e energia sejam


4
inerentemente seguros e benignos na medida do possível.

5 Minimizar o esgotamento dos recursos naturais.

6 Esforçar-se para prevenir a geração de resíduos.

Desenvolver e aplicar soluções de engenharia, enquanto se tem


7
consciência da geografia local, das aspirações e culturas.

Criar soluções de engenharia além das tecnologias atuais ou


8 predominantes; melhorar, inovar ou inventar (tecnologias para alcançar
a sustentabilidade).

Fazer as comunidades e os grupos de interesse participarem de forma


9
ativa no desenvolvimento de soluções de engenharia.

Fonte: Adaptado de Vesilind, Morgan e Heine (2018).

Com isso, idealmente, as soluções concebidas devem prezar por esses prin-
cípios como forma de reduzir os impactos gerados nos projetos de engenharia,
Nesta seção, você aprendeu sobre os fatores norteadores dos fundamentos
da engenharia previamente levantados. Finalmente, devemos condensar os
conhecimentos necessários para exercer a engenharia ante as demandas do
século XXI.
10 A essência da engenharia

Habilidades necessárias para engenharia


Nós partimos da história da engenharia para termos uma visão mais am-
pla do que significa ser engenheiro nos paradigmas propostos atualmente.
Em seguida, após delimitarmos os fundamentos da engenharia, estreitamos
um pouco mais sobre características centrais de cada um deles. Contudo,
a aplicação dos conceitos levantados demanda a observação de algumas
particularidades para conciliar o campo teórico e o prático.
Uma baliza eficiente pode ser vislumbrada por meio das diretrizes esta-
belecidas pela Comissão de Credenciamento para Engenharia e Tecnologia
(ABET), dos Estados Unidos. Conforme, Holtzapple e Reece (2017), a comissão
avalia ao menos oito itens.

1. Habilidade para aplicar conhecimentos de matemática, ciência e


engenharia.
2. Habilidade para projetar e conduzir experimentos, assim como para
analisar e interpretar dados.
3. Habilidade para projetar um sistema, componente ou processo para
atender às especificações desejadas.
4. Habilidade para trabalhar em equipes multidisciplinares.
5. Habilidade para identificar, formular e solucionar problemas de
engenharia.
6. Entendimento das responsabilidades profissionais e éticas.
7. Habilidade para se comunicar eficientemente.
8. Conhecimento amplo, necessário para entender o impacto de soluções
de engenharia em um contexto global e social.

Você pode perceber que cada uma dessas habilidades pode ser ligada
aos fundamentos previamente apresentados. Por exemplo, o primeiro e o
quinto item associam-se aos campos de conhecimento necessários para
atingir desempenho, economia e sustentabilidade. Já o segundo item tange
à investigação científica em todo o seu arcabouço, desde a academia até
corriqueiras atividades de campo como testes para determinação de proprie-
dades e/ou averiguação da conservação de determinado objeto de estudo,
garantindo o desempenho.
O terceiro item traz um afunilamento do primeiro item, conforme já
discutido na segunda seção. Apesar do abrangente conhecimento que um
profissional de engenharia adquire, seus projetos devem necessariamente
atender às especificações técnicas estabelecidas pelo corpo de profissionais.
A essência da engenharia 11

Subentendido aqui está o fundamento de economia, uma vez que o projeto


de acordo com as diretrizes evita excessos. Adicionalmente, a observância
das recomendações em relação à gestão de recursos naturais e descarte
contempla o item sustentabilidade.
Os itens quatro, seis e sete trazem o componente da gestão de pessoas.
Corriqueiramente, os profissionais de engenharia integram equipes, exercendo
funções distintas, liderando ou sendo liderados. Além disso, podem participar
de empreendimentos nos quais seu campo de atuação é apenas uma fração
de um projeto maior, ou sendo o supervisor que garante que o produto atinja
as características necessárias. Qualquer que seja o cenário, as boas práticas
disponíveis no estado da arte para gestão de projetos devem ser observadas,
sendo componentes indissociáveis do desempenho desejado com economia.
Os produtos gerados devem ser claros, sem dubiedades, e deve-se garantir
que os responsáveis pela execução compreenderam corretamente cada uma
das etapas.
Ademais, o último item centra-se no fundamento da sustentabilidade,
evocando a necessidade de analisar os impactos das diversas alternativas
passíveis de implementação no ciclo de vida útil de qualquer projeto.

Suponha que uma equipe de engenharia civil, ao analisar o traçado


de uma ponte, tenha a possibilidade de fazer uma das extremidades
em diversos locais onde o solo oferece distintas capacidade de suporte. Quais
os pontos a serem considerados nessa implementação e como chegar à melhor
solução?
Inicialmente, o projeto deve ser efetuado de acordo com as diversas normas
pertinentes para aspectos de segurança e durabilidade da estrutura, para um
bom projeto geométrico da estrada e durabilidade da pavimentação. Uma vez
que existem distintos perfis de solo onde a estrutura pode estar assente, o
projetista deve efetuar diversas soluções, buscando mais de um tipo de fundação,
primando, inicialmente, por aquela que gere mais economia. Nesse quesito,
devem ser analisados os custos de materiais e mãos de obra.
Uma eficiente análise econômica só é possível quando os custos podem
ser pormenorizados. Logo, todos os projetistas e empreiteiros devem partici-
par desse planejamento, para que a solução mais econômica não apenas em
termos de materiais seja considerada, mas em termos de execução. Não pouco
frequente, ocorre a necessidade de se contornar contratempos associados a
um mau planejamento. Portanto, aquilo que pode gerar custos e retrabalho
deve ser pormenorizado, em trabalho com todos os profissionais centrais do
empreendimento.
12 A essência da engenharia

Além disso, cada uma dessas soluções inevitavelmente gerará impactos


ambientais, decorrentes da sua implantação e utilização. Durante o planeja-
mento do projeto, a análise do descarte de resíduos deverá ser contemplada.
Concomitantemente, qual é o impacto aos ecossistemas locais de cada uma
das soluções disponíveis? Por exemplo, a poluição decorrente da utilização da
estrutura pode ser minorada mediante a escolha do número de faixas adequado
ao volume diário estimado e ao tipo dos veículos esperados. Essa solução é viável?
Observe a multitude de variáveis para análise em um exemplo simplificado.
A prática real exige uma visão holística, integração e organização para garantir
que os objetivos estabelecidos sejam alcançados dentro do prazo proposto,
contemplando os fundamentos da engenharia.

A gestão de projetos é uma área com diversas ferramentas úteis para


garantir a qualidade do produto. Consulte o site do Instituto Mundo
de Gestão de Projetos para saber mais.

Neste capítulo, você aprendeu sobre o exercício da engenharia e os re-


quisitos para sua prática. Você pôde ver como o engenheiro deve associar
o coeso saber, contemplando os mais diversos aspectos para uma prática
responsável, eficaz e eficiente.

Referências
BRAGA, B. et al. Introdução à Engenharia Ambiental: o desafio do desenvolvimento
sustentável. São Paulo: Pearson, 2005.
CÔRTES, J. G. P. Introdução à economia da Engenharia: uma visão do processo de
gerenciamento de ativos de engenharia. São Paulo: Cengage Learning, 2012.
FREITAS, C. A. Introdução à Engenharia. São Paulo: Pearson, 2019
HOLTZAPPLE, M. T.; REECE, W. D. Introdução à Engenharia. Rio de Janeiro: LTC, 2017.
MARINHO, P. E. M. M. Companhia estrada de ferro D. Pedro II: a grande escola prática
da nascente Engenharia Civil no Brasil oitocentista. Topoi, v. 16, n. 30, p. 203-233, 2015.
MASCARENHAS, J. M. Construction history and the history of construction cultures:
between architecture and Engineering in Portugal. Buildings, v. 10, n. 65, p. 1-10, 2020.
VENANZI, D.; SILVA, O. R. (org.). Introdução à Engenharia de produção: conceitos e casos
práticos. Rio de Janeiro: LTC, 2016.
VESILIND, P. A.; MORGAN, M. S.; HEINE, L. G. Introdução à engenharia ambiental. São
Paulo. São Paulo: Cengage Learning, 2018.
A essência da engenharia 13

WELLINGTON, A. M. The economic theory of the location of railways an analysis of the


conditions controlling the laying out of railways to effect the most judicious expenditure
of capital. [S. l.]: Thomas Telford Publishing, 1887.

Leituras recomendadas
DESCARTES, R. Discurso do método. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
TEIXEIRA, M. O. A ciência em ação: seguindo Bruno Latour. História, Ciências, Saúde-
-Manguinhos, v. 8, n. 1, p. 265-272, 2001.

Você também pode gostar