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O ENGENHEIRO BIOMÉDICO E

A PROFISSÃO
AULA 1

Prof. Guilherme Ditzel Patriota


CONVERSA INICIAL

Nesta aula, vamos conhecer quem é o profissional de engenharia, quais


as suas áreas de atuação e quais os conhecimentos que você adquirirá no curso
para superar os desafios do trabalho. Nossa aula está dividida em 5 temas que
farão você sair do completo desconhecimento sobre a profissão e chegar ao bom
entendimento das atribuições de um profissional formado em engenharia.
Nossa aula abordará os seguintes temas:

• Tema 1 – Princípios e objetivos;


• Tema 2 – Papel do engenheiro na sociedade;
• Tema 3 – Perfil profissional;
• Tema 4 – Habilidades e competências; e
• Tema 5 – Campo de atuação.

O conteúdo foi pensado para que você acompanhe do início ao fim de


forma linear.

TEMA 1 – PRINCÍPIOS E OBJETIVOS

1.1 O que é engenharia?

Definir engenharia não é uma tarefa simples. Segundo Freitas (2020),


organizador do livro Introdução à engenharia, a engenharia é o resultado de um
longo processo evolutivo das faculdades humanas que se iniciou antes mesmo
da existência da escrita moderna. É a união do conhecimento científico e
humano para a resolução de problemas práticos e complexos.
A união de conhecimentos em física, matemática, ciências, filosofia e
artes culminam na criação da engenharia moderna que temos hoje. Física e
matemática são os conhecimentos mais básicos e necessários para um
engenheiro desempenhar bem o seu papel, mas é nas ciências aplicadas em
conjunto com as artes que um engenheiro modela um novo equipamento em 3D
ou cria uma aplicação de materiais para solução de algum problema (Cocican,
2017).
É na aplicação prática dos conhecimentos científicos que mora a real
razão da existência dos engenheiros. Para Krick (1979), iniciou-se durante o
Renascentismo, nos séculos XV e XVI, uma união entre os conhecimentos

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científicos e os especialistas que resolviam problemas com a criação de
ferramentas, procedimentos e construções que surgiram ao longo de séculos
anteriores. Famosos inventores como Galileu Galilei, mostrado na Figura 2,
responsável por descobertas com uso de telescópios recriados por ele, por
estudos avançados de parábolas, pelo experimento da torre inclinada de Pisa,
representado pela Figura 3, que demonstrou que objetos de massas diferentes
caiam com a mesma aceleração e Leonardo Da Vinci, responsável por inúmeros
estudos de máquinas, como o da Figura 1, e em biologia humana com uso de
cálculos matemáticos, são vistos até hoje como precursores do que hoje
chamamos de engenharia clássica (Mendes, 2021).

Figura 1 – Desenho de engenharia de Leonardo Da Vinci, de 1503

Crédito: Janaka Dharmasena/Shutterstock.

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Figura 2 – Imagem de Galileu Galilei retirada de seu livro Il Saggiatore ou O
Ensaiador, de 1623

Crédito: Everett Collection/Shutterstock.

Figura 3 – Representação do experimento da torre inclinada de Pisa, conduzido


por Galileu

Crédito: Nasky/Shutterstock.

Mesmo durante a primeira revolução industrial, no século XVIII, marcada


pela criação da máquina a vapor, o processo de união entre inventores e a
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aplicação do conhecimento científico foi visivelmente marcada por pequenas
experiências e diversas invenções de inventores que não possuíam o
conhecimento científico necessário para que suas máquinas funcionassem de
forma segura e precisa. Apenas com a inclusão dos conhecimentos científicos a
humanidade pôde evoluir da baixa eficiência do motor a vapor para os motores
e tantas outras tecnologias que temos hoje (Krick, 1979).
Hoje existem diversas formações, também chamadas de modalidades,
em engenharia, como engenharia mecânica, engenharia civil, engenharia
elétrica, engenharia biomédica, engenharia de produção, engenharia química,
engenharia de alimentos e muito mais.

1.2 Quais as características necessárias de um engenheiro?

Conhecendo a história da criação da engenharia no que temos hoje, fica


claro que, no mínimo, todo engenheiro deve possuir algumas habilidades em
comum.
Um excelente conhecimento das Ciências Exatas e grande inventividade
em aplicar estes conhecimentos para criação de soluções de problemas reais do
dia a dia são imprescindíveis, porém não as únicas características necessárias.
O engenheiro assume um importante papel social de responsabilidade
sob suas criações. Sendo assim, o profissional de engenharia deve possuir a
capacidade de assumir grande quantidade de responsabilidades sem esmorecer
nem se abalar diante de desafios que, muitas vezes, envolvam a segurança e
vidas humanas (Freitas, 2020).
Essa grande responsabilidade culmina em enormes pressões na rotina do
profissional, que deve saber trabalhar sob pressão e com prazos apertados.
Saber solucionar os problemas em pauta, da melhor forma possível, com o
menor custo e no menor tempo fazem parte do mantra do engenheiro: “fazer
mais, melhor e com menos” (Ohno, 1988).
Detalhista e minucioso, o profissional de engenharia, sempre com seu
mantra em mente, soluciona os problemas mais complexos com eficácia, sem
perder de vista seus prazos, mantendo assim sua eficiência. Entretanto, sem a
devida coleta das necessidades e posterior explicação de utilização da sua
criação, apenas resolver o problema não é suficiente (Cocican, 2017).
Sendo assim, a pessoa que se dedica à carreira de engenharia deve
possuir bons atributos de relacionamento interpessoal e de comunicação, além
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de habilmente interpretar a situação atual tanto econômica quanto social, para
que suas soluções sejam as mais abrangentes e duradouras possíveis.
Ainda, sem conhecimento interdisciplinar nem capacidade de liderar
grupos interdisciplinares, o engenheiro não seria capaz de solucionar problemas
em áreas como saúde, como faz o engenheiro biomédico, ou meio ambiente,
como no caso do engenheiro florestal (Freitas, 2020).
Por fim, saber aplicar seus conhecimentos nas diversas ciências como
matemática, física, química e biologia entre outras, em conjunto com o
pensamento lógico, resume bem as capacidades básicas de um profissional de
engenharia (Mendes, 2021).

1.3 Qual é a formação necessária?

Segundo o Parecer CNE/CES 1.362/2001 (Brasil, 2002), aprovado na


Resolução CNE/CES 02/2019 (Brasil, 2019), todo bacharel de engenharia,
independente da especialidade, deverá receber formação em três núcleos de
conteúdos distintos ao longo de no mínimo 4 anos de estudos:

• Núcleo de conteúdos básicos;


• Núcleo de conteúdos profissionalizantes; e
• Núcleo de conteúdos específicos.

Nos conteúdos básicos estão conhecimentos científicos primários como


física, matemática, economia, administração, química, humanidades,
comunicação, ciências sociais, ciências do ambiente, cidadania, entre outras.
Com esses conhecimentos, o estudante recebe a base para que seu
pensamento crítico e inventivo seja norteado de forma científica e socialmente
útil, mantendo a atenção ao respeito ambiental e sustentabilidade.
Com os conteúdos profissionalizantes, o futuro engenheiro se
aprofundará nos conhecimentos científicos de sua modalidade e iniciará sua
construção de modelo mental para uso dos conhecimentos adquiridos na
solução de problemas reais. É neste núcleo de conteúdos que o engenheiro
biomédico ou engenheiro químico ou demais modalidades receberá os
conhecimentos científicos da área da química, ou da saúde, ou de alimentos, ou
outras áreas, necessários para seu desenvolvimento como criador de soluções
para sua modalidade, aprendendo sobre química, ciência dos materiais,

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eletrônica, anatomia, biologia molecular, bioquímica, fisiologia, entre outros
assuntos.
Por fim, no núcleo de conteúdos específicos você aprenderá e exercitará
seu pensamento de engenharia para aplicação dos conhecimentos científicos na
solução de problemas na sua área de atuação. Matérias como Projetos de
circuitos digitais, Cálculo Estrutural, Imagenologia, Desenvolvimento Web e
Móvel para Telemedicina, Equipamentos Médicos Hospitalares, Big Data em
Saúde, Robótica, Processamento de Imagens, entre outras, o guiarão no
pensamento de engenharia da sua modalidade.
Saiba que durante todo o curso você receberá diversos conhecimentos
que juntos criarão suas ferramentas para sua vida profissional. Com as matérias
eletivas, que você poderá escolher qual cursar, você criará seu próprio caminho
e seu diferencial pessoal perante o mercado.
Por fim, a curiosidade e a vontade de aprender cada vez mais, sem parar,
farão de você um excelente profissional. Busque sempre novas leituras sobre os
assuntos que você mais se identifica e aprenda o máximo que você puder
durante o curso. Dessa forma, você sentirá maior confiança em assumir grandes
responsabilidades em sua atuação como engenheiro.

1.4 Principais atividades

Para a profissão de engenharia, dois documentos regulatórios são usados


para definir suas principais atividades.
O primeiro é a Lei n. 5.194/66 (Brasil, 1966b), art. 7º, que habilita
engenheiros a exercerem as atividades mostradas na Figura 4 a seguir.

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Figura 4 – Principais atividades de um engenheiro segundo o art. 7º da Lei n.
5.194 de 1966

Gestor com
responsabilidade Planejar e projetar Gerenciamento do
técnica nas áreas de equipamentos, parque tecnológico de
eletricidade, eletrônica, processos e estruturas instituições de
equipamentos médicos físicas médico- atendimento à saúde
e estruturas prediais em hospitalares. humana e animal
saúde.

Realizar e emitir laudos,


projetos, perícias,
estudos, análises, Ensinar, realizar Laudar e fiscalizar:
vistorias, pareceres, experimentações, obras, desenvolvimento
avaliações e divulgação ensaios, estudos de de novas tecnologias,
técnica de processos, metrologia e pesquisas procedimentos de
equipamentos e em sua área de fabricação e serviços
estruturas voltadas à formação. técnicos
saúde humana e
animal.

Gerenciar e dirigir
obras, serviços técnicos Executar serviços Realizar produção
e pesquisas / técnicos e obras na técnica especializada
desenvolvimentos de área de formação. ou industrial.
novas tecnologias.

Fonte: Brasil, 1966b.

O segundo é a Resolução n. 1.073/16 do Confea, art. 5º, parágrafo


primeiro (Confea, 2016), que adiciona mais algumas atividades, sendo elas
apresentadas na Figura 5.

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Figura 5 – Adições nas atribuições de um engenheiro dadas pela Resolução n.
1.073/16 do Confea, art. 5º, parágrafo primeiro

Coleta de dados,
Desempenho e Supervisão, anteprojeto,
execução de cargo ou coordenação e detalhamento,
função técnica. orientação técnica. dimensionamento e
especificação.

Realização de
Estudo de viabilidade
Consultoria, assessoria auditorias, inspeções,
ambiental e técnico-
e assistência. monitoramentos e
econômica.
arbitragens técnicas.

Treinamento,
Padronização,
desenvolvimento, Elaboração de
mensuração, controle
análise, divulgação orçamento.
de qualidade.
técnica e extensão.

Condução de equipes
e/ou execução de
Operação, instalação e
fabricação, produção,
Condução de serviço manutenção de
montagem, instalação,
técnico. equipamentos médico-
operação, restauração,
hospitalares ou não.
reparo, reforma ou
manutenção.

Fonte: Confea, 2016.

Você deve conhecer estas resoluções e leis, para que seu desempenho
como profissional seja realizado dentro das leis e sem prejuízo à sociedade.

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1.5 Áreas de atuação e especialidades

Um profissional pode escolher diversos caminhos dentro da engenharia.


Veremos mais à frente como é feito o registro de um engenheiro para que
ele possa exercer sua profissão e quais são as atribuições como engenheiro,
mas neste momento vamos apresentar aqui as principais áreas de atuação dos
engenheiros no Brasil.
No Brasil, para a atuação de um engenheiro, são definidas 8 áreas
distintas:

1.5.1 Construção civil e atividades conexas

Nesta área de atuação, o engenheiro poderá se especializar como


responsável técnico de obras, cálculos estruturais, estimativas de aumento no
uso de estradas e muito mais.

1.5.2 Aplicação, uso, geração e demais atividades relacionadas à


eletricidade

Nesta área de atuação, o profissional de engenharia poderá se


especializar em projetos equipamentos, criar plantas de geração de energia
elétrica, projetos sistemas de distribuição elétrica, trabalhar com a interação da
eletricidade e biologia, entre outras.

1.5.3 Química

Dentro da área de química, o profissional de engenharia poderá obter


especializações para atuação em processos produtivos com plásticos, petróleo,
alimentos, indústria têxtil e até manipulação de produtos radioativos.

1.5.4 Mecânica e metalurgia

Já na área de mecânica e metalurgia, o profissional poderá se especializar


em atividades voltadas para a indústria automotiva, aeronáutica, militar,
siderurgia, metalurgia, refrigeração e tantas outras indústrias e atividades
correlatas.

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1.5.5 Geologia e minas

Já em geologia e minas, os engenheiros especializados nessas áreas


poderão atuar em análise de solo, exploração de minérios e petróleo, estudo de
novos compostos, desenvolvimento e aplicação de novos materiais e tantas
outras atividades.

1.5.6 Agrimensura

Agrimensura é a sexta área de possível especialização de um engenheiro.


Nela, o profissional poderá atuar em cartografia, medições topográficas e áreas
correlatas.

1.5.7 Agronomia

Como especialista na área agrônoma, o engenheiro aplicará todos os


conhecimentos científicos aprendidos para resolução de problemas nas áreas
de produção agrícola, melhoria de processos de criação de animais, atuar na
indústria de alimentos e muito mais.

1.5.8 Engenharia de segurança do trabalho

Por fim, muitos engenheiros se especializam para atuar como engenheiro


de segurança do trabalho. Como essa é uma especialização extremamente
abrangente, englobando indústrias de todas as especializações, o profissional
pode buscar esta especialização em paralelo com qualquer outra mencionada
anteriormente. Sua atuação é de suma importância para garantir a segurança
dos demais profissionais no desempenho de suas funções.

1.6 Mercado de trabalho

Como vimos no tópico anterior, sobre áreas de atuação, o mercado de


trabalho para as áreas de engenharia clínica, manutenção predial e engenheiro
de aplicação são as que mais apresentam demanda.
Nos dois primeiros isto ocorre pois existem mais hospitais, clínicas,
hospitais veterinários, serviços de imagenologia e consultórios odontológicos do
que o número de profissionais habilitados para execução das atividades.

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Como vimos, se o número de hospitais no país é maior que 6.500
unidades, ao somarmos os demais já citados, como consultórios odontológicos
e serviços de veterinária, a demanda se multiplica, enquanto a oferta de mão de
obra cresce à uma taxa inferior ao necessário (SBEB, 2017).
Estima-se que exista uma demanda de mais de 50 oportunidades de
emprego para cada profissional atuando na área, mesmo após os ocorridos de
2020 e 2021, que aumentou o número de profissionais na área por conta das
divulgações da necessidade na mídia televisiva (CREA-PA, 2020).
Já para a área de engenheiros de aplicação, como estes são, muitas
vezes, responsáveis pela venda e treinamento das equipes de atendimento à
saúde na utilização dos equipamentos, o mercado de trabalho é tão grande
quanto para os citados anteriormente.
Como esses profissionais são requisitados toda vez que alguma empresa
ou profissional precisa adquirir um equipamento médico-hospitalar ou insumo, a
crescente demanda dos equipamentos causou um aumento expressivo nas
vagas disponíveis.
Nesse cenário, no início de 2020, a Associação Brasileira de Engenharia
Clínica emitiu diversas circulares, entre as quais uma que tratava justamente de
um apelo à comunidade de profissionais da área de vendas e aplicações. A
solicitação focava no aumento da sinergia no fornecimento de insumos e
equipamentos para unidades básicas de saúde (Abeclin, 2020).
Para além das atividades mencionadas anteriormente, ainda temos as
certificadoras e acreditadoras na área de saúde, como a ONA [S.d.].
A atuação dos profissionais de engenharia biomédica em serviços como
este vão desde fiscalização, avaliação, auditoria e inspeção a até consultorias
para melhoramento dos serviços e gestão do parque tecnológico da instituição
para obtenção da acreditação.
Como para um hospital a acreditação é de grande importância social, essa
demanda também é proporcional à quantidade de instituições de saúde.

TEMA 2 – PAPEL DO ENGENHEIRO NA SOCIEDADE

Até este momento, vimos o que é ser um engenheiro de forma geral e


quais os papéis que você poderá desempenhar profissionalmente.

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Entretanto, ainda não expusemos qual será o seu papel social e por quais
motivos um engenheiro possui tanta credibilidade perante a sociedade, a ponto
de receber a confiança de vidas humanas em suas mãos.
Para entendermos isso, primeiramente, é necessário conhecermos as
entidades que garantem nossa qualidade profissional.

2.1 Garantia de qualidade profissional

A qualidade de um profissional pode ser medida de muitas formas, porém


a garantia dessa qualidade só pode ser feita por meio de padrões e regras bem
definidos e leis que forcem o cumprimento destes.
Analisando nossas instituições de ensino, percebemos que todas estão
sujeitas às leis e padrões do ministério da educação de nosso país. Dessa forma,
é garantida uma padronização nos conhecimentos mínimos necessários para
cada tipo de profissional, e na engenharia biomédica não é diferente, como vimos
nas diversas leis citadas até o momento.
Porém, para que a atuação profissional seja realizada também dentro de
padrões e regras, é necessária alguma instituição pública de controle e
fiscalização.
Para que a sociedade tenha essa garantia com relação aos engenheiros,
existem o Confea e o CREA.

2.1.1 CREA/Confea

No Brasil, em 1966, a Lei n. 5.194/66 regulamentou as profissões de


engenheiro, arquiteto e agrônomo, criou os Conselhos Regionais de Engenharia,
Arquitetura e Agronomia (CREAs) e determinou que as entidades de classe
nacionais implantassem um código de ética, que foi criado e implantado pelo
Confea (Conselho Federal de Engenharia e Agronomia), em 1971 (Confea,
2020).
Essa ação aumentou tanto a importância dos profissionais de engenharia
quanto suas responsabilidades, garantindo que projetos executados sob a
responsabilidade de um engenheiro fossem reconhecidamente seguros, sob
pena de sanções administrativas e financeiras ao profissional, caso o projeto se
provasse inseguro social ou ambientalmente. Hoje nos referimos a esses dois
conselhos, nacional e regionais, por Sistema Confea/CREA (Confea, 2020).

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É importante observarmos que os profissionais de arquitetura deixaram
de integrar o Sistema Confea/CREA em 2011, com a criação do Conselho de
Arquitetura e Urbanismo (CAU) (Brasil, 2010).
Hierarquicamente falando, o Confea é responsável pela fiscalização
nacional e padronização das regulamentações referentes à atuação dos
profissionais registrados em cada conselho regional. Por sua vez, os conselhos
regionais (CREA) são responsáveis pela fiscalização da atuação dos
profissionais de engenharia e agronomia dentro de cada estado (Confea, 2020).
O Código de ética profissional (2020), em sua décima terceira edição, é o
principal documento regido pelo Confea e fiscalizado pelos CREAs de cada
estado. Nele consta as associações e entidades de classe signatárias do código
de ética, os endereços eletrônicos de todos os CREAs e os 14 artigos do código
de ética de nossa profissão, incluindo princípios éticos, deveres, condutas
vedadas, direitos, infração ética e regras e punições para processo ético
disciplinar.

Saiba mais

A leitura do Código de ética do Confea é obrigatória para todo engenheiro.


Acesse o link a seguir para conhecê-lo:
CONFEA – Conselho Federal de Engenharia e Agronomia. Código de
ética profissional da engenharia, da agronomia, da geologia, da geografia
e da meteorologia. 13. ed. Brasília: Confea, 2020. Disponível em:
<https://www.confea.org.br/midias/uploads-
imce/Cod_Etica_13ed_com_capas_para_site.pdf>. Acesso em: 20 jan. 2022.
Dois pontos são muito importantes a serem observados com relação à
atuação do sistema Confea/CREA.

1. A fiscalização exercida pelos conselhos regionais são para garantir que o


profissional esteja exercendo sua profissão em acordo com as normas e
código de ética vigentes e não para garantir direitos trabalhistas aos
profissionais. Para o segundo caso existem as entidades e associações
de classe, bem como sindicatos de cada categoria.
2. Não é o sistema Confea/CREA o responsável pela determinação nem
fiscalização do piso salarial profissional. Esta determinação é dada pela
Lei n. 4.950-A, de 1966, e é o mesmo até hoje.

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2.1.2 CREA e direitos trabalhistas dos engenheiros

A saber, o referido piso salarial para engenheiros em regime CLT


(Consolidação das Leis Trabalhistas) é calculado com base no salário mínimo
nacional, sendo um salário mínimo por hora diurna trabalhada por dia, até a 6ª
hora no dia. Para horas diurnas excedentes a isso, somam-se ao salário mínimo
mais 25% por hora. Caso o profissional trabalhe em período noturno,
acrescentam-se 25% em todos os valores dados anteriormente (Brasil, 1966).
Como exemplo, a Tabela 1 apresenta o cálculo de piso salarial para um
engenheiro contratado como engenheiro responsável em um determinado
projeto em regime CLT tiver contrato de trabalho de 6 horas diárias em período
diurno:

Tabela 1 – Tabela de cálculo de piso salarial para um engenheiro com carga


horária de 6 horas de trabalho em horário diurno, considerado entre 6h e 22h

Descrição Cálculo Valor Total


Salário mínimo em 2021 R$1.100,00
Horas diárias 6 horas
Valor mensal bruto 6 x 1.100 = R$6.600,00

Na Tabela 2, temos um exemplo de cálculo de piso salarial para um


profissional trabalhando 8 horas diárias com as mesmas condições do exemplo
anteriores:

Tabela 2 – Cálculo de piso salarial para profissional de engenharia com carga


horária de 8 horas diárias em período diurno

Descrição Cálculo Valor Total


Salário mínimo em 2021 R$1.100,00
Horas diárias 6+2 8 horas
Mínimo mais 25%: 1,25 x 1.100 R$ 1.375,00
Valor mensal bruto 6 x 1.100 + 2 x 1.375 R$9.350,00

Por fim, na Tabela 3 temos um exemplo de cálculo para um profissional


trabalhando 8 horas diárias em horário noturno, em contrato CLT:

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Tabela 3 – Cálculo de piso salarial para um engenheiro com carga horária de 8
horas em período noturno

Descrição Cálculo Valor Total


Salário mínimo em R$1.100,00
2021
Horas diárias noturnas 6+2 8 horas
Mínimo mais noturno 1,25 x 1.100 R$ 1.375,00
Noturno mais 25%: 1,25 x 1.375 R$ 1.718,75
Valor mensal bruto 6 x 1.375 + 2 x 1.718,75 R$11.687,50

2.1.3 Importância do registro no CREA E ART

Todas essas regras, leis, entidades de classe e conselhos de fiscalização


e normatização norteiam as atividades desempenhadas pelos profissionais de
engenharia, o que garante à sociedade a qualidade profissional.
Para que o profissional de engenharia e a sociedade sejam respaldados
por esse arcabouço regulatório, é necessário que o profissional esteja registrado
no CREA da região na qual o serviço, obra ou equipamento esteja sendo
executado, sem limite de registros estaduais diferentes que um profissional
possa ter. A atuação profissional de um engenheiro em estado federativo,
diferente de seu registro, é considerada exercício ilegal da profissão, passível de
multa e punições mais graves.
A execução de atividade de engenharia sem anotação de
responsabilidade técnica (ART) oficializada no CREA do estado também é
considerada um exercício ilegal da profissão e tanto o profissional de engenharia
quanto o contratante podem sofrer sansões legais. Dessa forma, o sistema
Confea/CREA garante para a sociedade o controle e a qualidade dos serviços
de engenharia e dos profissionais no país.

TEMA 3 – PERFIL PROFISSIONAL

Vimos anteriormente as atribuições de um engenheiro, definidas por lei,


porém nenhuma das descrições deixa claro qual o perfil profissional específico
de um engenheiro, pois são apenas descrições de papéis que podem ser
desempenhados de forma genérica.

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Para entendermos o perfil de um profissional de engenharia, faz-se
necessário analisarmos o mercado e as novas tecnologias emergentes.
O engenheiro é um profissional capaz de projetar, implementar, calibrar e
executar ensaios e em equipamentos e dispositivos voltados para diversas
áreas, como civil, eletrônica, robótica, saúde humana ou saúde animal, além de
coordenar e supervisionar equipes de trabalho em pesquisas científicas e
tecnológicas ou de estudos de viabilidade técnico-econômica para equipamentos
e serviços em sua área de atuação.
O foco na modalidade específica é justamente o que faz do engenheiro o
profissional ideal para criação de equipamentos, estruturas e processos
tecnológicos dos quais vidas humanas estejam dependentes, como pontes,
prédios, robôs de montagem, robôs de cirurgia, processos químicos, processos
alimentares e muitos outros.
Em sua atuação, o engenheiro poderá desenvolver novos processos e
novas metodologias para prestação de serviços que tragam maior eficiência aos
diversos processos existentes tanto para um único indivíduo quanto para toda
uma comunidade, sempre primando pelos princípios éticos e de segurança.
Sendo assim, é necessária uma boa capacidade de criação e inventividade.
Independentemente de sua área de atuação profissional, o perfil de um
engenheiro deve ser o de primar pela segurança dos seres humanos que
utilizarão o resultado de sua atividade, buscando sempre realizar o máximo
possível, no menor tempo possível e com o menor custo sem prejudicar a
segurança (Confea, 2020).

3.1 Perfil do egresso

O Parecer CNE/CES 1.362/2001 descreve o perfil do egresso de todos os


cursos de graduação em engenharia da seguinte maneira:

O perfil dos egressos de um curso de engenharia compreenderá uma


sólida formação técnico científica e profissional geral que o capacite a
absorver e desenvolver novas tecnologias, estimulando a sua atuação
crítica e criativa na identificação e resolução de problemas,
considerando seus aspectos políticos, econômicos, sociais, ambientais
e culturais, com visão ética e humanística, em atendimento às
demandas da sociedade. (Brasil, 2002)

Neste curto trecho do Parecer do Ministério da Educação, redigido em


2002, podemos perceber que o profissional de engenharia não apenas deve
estar apto a criar tecnologias como também deve ser capaz de aprender a utilizar
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novas tecnologias, o que demonstra a necessidade de atualização contínua de
seus conhecimentos.
Outro ponto importante dessa descrição de perfil de egresso dos cursos
de engenharia é o foco principal que um engenheiro deve ter, por exemplo, de
sempre utilizar seus conhecimentos e criatividade para resolução de problemas.
Não apenas uma resolução simples e sem cuidados às interfaces, mas
com um cuidado na resolução de problemas que deverá ir além da causa e
deverá repercutir através de toda uma atenção aos impactos ambientais, sociais,
políticos, econômicos e culturais que a solução pode causar.
Fica clara aqui a necessidade de atenção em fazer mais, melhor e por
menos, onde fazer mais é dado pela necessidade de atenção em diversos
aspectos que interagem com o problema, fazer melhor é explicitado na atenção
que o profissional deverá despender na análise dos impactos não apenas
sociais, mas ambientais, políticos e culturais. Por fim, fazer com menos é o
reflexo da responsabilidade social e necessidade da atenção ao impacto
econômico que a solução terá, buscando sempre reduzir este impacto.

3.2 Cargos no mercado profissional

A constante e rápida evolução tecnológica mundial faz do profissional de


engenharia uma mão de obra mais do que necessária.
Vimos, no início desta aula, que a primeira Revolução Industrial foi movida
pelos chamados engenheiros clássicos e marcada pela criação da máquina a
vapor.
Já entre 1850 e 1870 um grande movimento se deu em direção ao
aumento de eficiência da indústria, com a criação de técnicas de produção em
massa e linhas de produção. O surgimento de máquinas mais eficientes para
produção acabou por introduzir outras formas de fabricação, principalmente na
mecanização de produções antes manuais. O uso de eletricidade em conjunto
com o petróleo e as técnicas de fabricação em massa foram os elementos que
marcaram esta revolução industrial.
Com a evolução tecnológica, passamos da máquina a vapor para
máquinas elétricas e, logo em seguida, apenas cerca de 70 anos após o início
da segunda revolução industrial, o mundo testemunha a criação do silício e, com
ele, do computador. Surge assim a Terceira Revolução Industrial.

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Entre 1950 e a década de 1990 assistiu-se a muitos avanços na área de
eletrônica e computação, o que elevou a indústria a novos patamares. De
fábricas mecanizadas, passamos a ver fábricas altamente automatizadas e
robotizadas. Esses processos eram antes realizados por grandes equipes, mas
agora podiam ser gerenciados por um pequeno grupo e executado por braços
robóticos e outras automações. O uso de computadores fez com que tarefas
complexas passassem a ser rapidamente executadas e na criação de projetos
de produtos e peças, vimos os softwares de CAD (desenho assistido por
computador) e CAM (manufatura assistida por computador) se tornarem cada
vez mais acessíveis e de conhecimento obrigatório para engenheiros.
Com o alvorecer da internet, na década de 90, vimos um mundo de
possibilidades crescer exponencialmente à nossa frente. Ainda na década de
2000 o mundo não tinha um grande conhecimento sobre o que significaria a
internet para a indústria e para a engenharia, mas podíamos perceber o rápido
crescimento das tecnologias digitais.
A popularização do Wi-Fi, internet móvel, celulares com grande
capacidade de processamento inteligências artificiais foram destaques nesta
década de 2000 e ainda são a base que permitiu o surgimento da quarta
revolução industrial, a indústria 4.0.
Da década de 2010 até hoje, presenciamos o surgimento e popularização
de novos meios de produção, como as impressoras 3D, meios de transporte de
produção autônomos, como drones e robôs, criação de uma virtualização e
abstração de recursos antes extremamente caros, como servidores agora
transformados em serviços ofertados no que chamamos de nuvem, introdução
de máquinas e equipamentos comuns como geladeiras, televisores, lâmpadas,
entre outros com ligação à internet, o que chamamos de IoT (Internet of Things
ou internet das coisas).
São justamente estas tecnologias que estão marcando a indústria 4.0.
Com o rápido avanço no uso de inteligências artificiais para controle de
produção, tomadas de decisão e análise de dados, ainda teremos muitos
avanços pela frente, e você, como engenheiro, será parte dessa evolução.
Pensando nesse contexto, podemos listar alguns dos tipos mais comuns
de empresas e instituições que trazem as maiores oportunidades de cargos,
salários e crescimento profissional.

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Sendo o mercado de trabalho brasileiro muito diversificado e multicultural,
temos aqui empresas familiares, startups, multinacionais, grandes empresas
nacionais, empresas sem fins lucrativos, ONGs, estatais e muito mais. Vamos
ver algumas delas.

3.2.1 Startups

Startups são entidades que ainda não se tornaram uma empresa formal,
ou estão em processo de formalização, mas não possuem estruturas clássicas
de empresa, como setores bem definidos, serviços internos de recursos
humanos ou mapeamento e documentações internas de funcionamento.
Normalmente são empresas com um único produto ou serviço, ainda em
processo de desenvolvimento e é aí que um engenheiro pode encontrar seu
desafio para desempenho de função.
Nesses locais, você normalmente será chamado para compor uma equipe
de pequena e sem contratos formais de trabalhos, mas com participação em
sociedades ou recebimento por papéis da empresa, como ações ou
participações em vendas. Cargos de desenvolvimento de produtos é o tipo mais
comum, porém gestão também figuram entre as atividades desempenhadas por
engenheiros.
O engenheiro encontrará aqui um dos lugares mais informais para
trabalho, porém com a maior demanda de atividades, normalmente. Desafios
para criação de grandes inovações são normalmente feitas neste tipo de
organização.

3.2.2 Micro e pequenas empresas ou familiares

São caracterizadas por poucos funcionários (até 49 funcionários para


agropecuária, comércio e serviços e até 99 pessoas para indústria e construção)
e acúmulos de funções com salários mais modestos. Nesse tipo de empresas, o
engenheiro poderá desempenhar cargos de responsável técnico de algum
serviço ou fabricação de produto, ou de responsável técnico por estrutura de
comunicações ou de rede de computadores. Poderá ainda exercer cargo de
gestão ou de desenvolvimento de solução ou ainda todas essas atribuições
juntas.

20
Pequenas empresas são um ótimo ponto de início ou de mudança de
área.

3.2.3 Empresas de porte médio

São aquelas que possuem de 50 a 99 funcionários em caso de empresa


da área de agropecuária, comércio ou serviços e de 100 a 499 funcionários para
os setores de indústria e construção (Sebrae, 2020).
Nesse tipo de empresas, o profissional de engenharia encontrará salários
bem variados, porém com cargos não necessariamente de engenharia. Cargos
com nomes como analista, técnico, supervisor, gestor são usados para não
caracterizar o cargo de engenheiro. Dessa forma, o profissional de engenharia
raramente receberá um salário igual ou superior ao piso da categoria. Os
mesmos cargos desempenhados em uma empresa de pequeno porte podem ser
encontrados aqui, porém com maiores responsabilidades, na maioria dos casos.

3.2.4 Empresas de grande porte

São as que possuem 100 ou mais funcionários para os setores de


serviços, comércio e agropecuária, ou de 500 ou mais funcionários para os
setores de indústria e construção.
Não é raro encontrar uma equipe composta apenas por engenheiros
nesse tipo de empresa. Neste cenário, o engenheiro poderá ser o detentor da
responsabilidade técnica perante as atividades gerais ou compor quadro de uma
equipe de engenheiros e ser responsável técnico por projetos individualmente.
Nesse cenário enquadram-se também as multinacionais, que propiciarão
ao profissional de engenharia grandes oportunidades de crescimento, de
viagens e até imigração para outros países.
Para que você alcance grandes colocações dentro da organização, saber
uma língua além do português é imprescindível nesse tipo de empresa, em que,
além disso, os salários são normalmente equiparados ao piso da categoria ou
maiores, chegando a cifras bem expressivas, por conta de recebimentos em
moedas estrangeiras.

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3.2.5 Empresas estatais ou públicas

São aquelas empresas geridas e mantidas por governos nacionais,


podendo ser brasileiras ou até de outros países. Para as empresas estatais
brasileiras, os famosos concursos públicos são processos de contratação
obrigatórios para exercermos cargo de engenharia. Aqui encontramos bons
salários, normalmente maiores do que o piso da categoria, mas inferiores aos
das multinacionais.
Nessas empresas, os desafios são bem diversos e não raramente é
necessário se manter atualizado com cursos de pós-graduações, mestrados e
doutorados para que você seja elegível às promoções anuais de cargos internos.
Cargos como engenheiro de inspeção, perito, engenheiro e outros são
comuns e raramente existirão cargos de desenvolvimento de produtos ou
serviços, mas sim fiscalizações e manutenções.
Como você pôde observar, o engenheiro possui uma infinidade de
atividades que pode desempenhar e em inúmeros tipos de locais de trabalho.
É importante destacar que muitos profissionais optam por abrir sua própria
empresa e prestar serviços de engenharia para empresas estatais e empresas
privadas sob contratos de terceirização ou de licitações. Esse modelo também é
muito rentável, porém o profissional deve ficar atento com relação à não
existência de décimo terceiro pagamento, ausência de férias remuneradas e a
obrigações trabalhistas e de impostos, para não ter problemas financeiros
desnecessários.

TEMA 4 – HABILIDADES E COMPETÊNCIAS

Algumas das principais competências e habilidades que todo engenheiro


deverá adquirir até sua colação de grau são normalizadas também pela
Resolução CNE/CES 2/2019 (Brasil, 2019), do Ministério da Educação. De forma
resumida, o Parecer CNE/CES 1.362/2001 (Brasil, 2002) afirma que essas
competências são:

a. aplicar conhecimentos matemáticos, científicos, tecnológicos e


instrumentais à engenharia;
b. projetar e conduzir experimentos e interpretar resultados;
c. conceber, projetar e analisar sistemas, produtos e processos;
d. planejar, supervisionar, elaborar e coordenar projetos e serviços de
engenharia;
e. identificar, formular e resolver problemas de engenharia;
f. desenvolver e/ou utilizar novas ferramentas e técnicas;
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g. supervisionar a operação e a manutenção de sistemas;
h. avaliar criticamente a operação e a manutenção de sistemas;
i. comunicar-se eficientemente nas formas escrita, oral e gráfica;
j. atuar em equipes multidisciplinares;
k. compreender e aplicar a ética e responsabilidade profissionais;
l. avaliar o impacto das atividades da engenharia no contexto social e
ambiental;
m. avaliar a viabilidade econômica de projetos de engenharia;
n. assumir a postura de permanente busca de atualização profissional.
(Brasil, 2002)

Entretanto, essas não são as únicas competências necessárias para se


exercer uma profissão em engenharia. Conhecer os principais frameworks de
trabalho (regras padronizadas e boas práticas em se executar algo) também é
necessário.
O principal exemplo de framework que habilmente um engenheiro deve
conhecer e saber aplicar é o PMBOK (framework para gestão de projetos). Outra
demanda também crescente é conhecer metodologias ágeis (vários frameworks
para gestão de projetos de forma mais rápida e menos burocrática que o PMBOK
e focada em geração de sistemas computacionais, como o SCRUM).
Para que o engenheiro possa garantir sua eficiência, saber usar
metodologias de lean manufacturing, six sigma e método kaizen (técnicas de
aumento de produtividade com base no modelo de gestão criado pela Toyota
que visa a redução de erros a níveis extremamente baixos ou quase inexistentes)
é um grande diferencial e muitas vezes cobrado na indústria por meio de
certificações como green belt ou black belt do lean six sigma.
A busca por especializações em gestão também é sempre bem-vista pelo
mercado, sendo os MBAs os tipos mais comuns e que permitem ao engenheiro
alçar voos mais altos em sua carreira quando voltada para a gestão de empresas
de engenharia.
Queremos também enfatizar aqui que existe uma habilidade que está em
crescente alta de demanda no mercado, não apenas para profissionais de
engenharia, mas para muitas outras áreas, que é conhecer e saber aplicar
alguma linguagem de programação de alto nível em conjunto com técnicas
avançadas em programação voltadas para análise de grandes quantidades de
dados e inteligência artificial.
Percebemos, até aqui, que o engenheiro receberá uma grande
quantidade de conhecimentos ao longo de sua formação, mas que, por conta da
rápida evolução tecnológica da humanidade, você como profissional deverá
encarar esses conhecimentos recebidos como uma base para que seu

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aprendizado nunca pare, a fim de se manter sempre relevante e atual em relação
às novas técnicas e formas de solução de problemas.
Sendo assim, muitas outras habilidades e competências ainda serão
demandadas dada essa rápida evolução humana, porém você não deve perder
de vista sua base de formação e suas habilidades básicas: capacidade de utilizar
ciência para solução de problemas complexos, comunicação eficiente, ética
profissional e permanente curiosidade em busca de atualização profissional.

TEMA 5 – CAMPO DE ATUAÇÃO

O campo da engenharia é amplo e multidisciplinar. Nele um engenheiro


pode atuar como responsável em uma obra industrial e ser habilitado como
engenheiro civil ou ainda, ser um engenheiro de produção e atuar em melhorias
de processos em uma montadora de carros.
Todos os títulos profissionais possíveis para a formação de engenharia
registrados pelo sistema Confea/CREA são dados pela Tabela de Títulos
Profissionais, instituída pela Resolução 473/02 (Confea, 2002) e atualizada para
abranger as novas modalidades de profissionais que surgiram após sua criação.
Essa tabela agrupa os títulos profissionais em grupos, modalidades e
nível de formação (Confea, 2020).
Na Erro! Fonte de referência não encontrada., vemos os grupos
existentes na tabela do Confea:

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Figura 6 – Grupos de classificação dos títulos profissionais estipulados pelo
Confea

Grupo 1
Engenharia

Grupo 4 CONFEA Grupo 2


Especiais GRUPOS Arquitetura

Grupo 3
Agronomia

Fonte: Confea, 2020.

Observe que o grupo 2 não faz mais parte do sistema Confea/CREA e,


portanto, deixou de constar na tabela. O grupo 4 contém as modalidades
especiais, ou seja, aquelas que não puderam ser encaixadas nas demais
modalidades por serem multidisciplinares e por poderem ser desempenhadas
por mais de uma modalidade de engenharia.
Neste grupo 4, especiais, temos as seguintes engenharias:

• Engenheiro de Saúde e Segurança; e


• Engenheiro de Segurança do Trabalho.

Esses dois títulos podem ser adquiridos perante o sistema Confea/CREA


quando da comprovação de formação em curso de especialização ou de
matérias de graduação que componham as exigências para tal.

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Já para o grupo 1, temos as modalidades de engenharia que são
organizados conforme mostra a Erro! Fonte de referência não encontrada..

Figura 7 – Modalidade profissionais do grupo 1: Engenharias da tabela de títulos


profissionais do Confea

Modalidade 1
Civil

Modalidade 6 Modalidade 2
Agrimensura Eletricista

Grupo 1
Engenharia

Modalidade 5 Modalidade 3
Geologia e Mecânica e
Minas Metalúrgica

Modalidade 4
Química

Fonte: Confea, 2020.

Cada modalidade de engenharia contém os títulos profissionais que


podem ser solicitados após a graduação em um curso de engenharia. O
profissional deverá comprovar seus conhecimentos mediante apresentação de
histórico escolar.
Baseado em seu histórico, o sistema Confea/CREA lhe classificará em um
ou mais dos títulos existentes e que são organizados da seguinte forma (Confea,
2020):

5.1 Modalidade 1 – Civil


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• Eng. Ambiental;
• Eng. Civil;
• Eng. de Fortificação e Construção;
• Eng. de Operação – Construção Civil;
• Eng. de Operação – Construção de Estradas;
• Eng. de Operação – Edificações;
• Eng. de Operação – Estradas;
• Eng. Industrial – Civil;
• Eng. Militar;
• Eng. Sanitarista;
• Eng. Sanitarista e Ambiental;
• Eng. de Infra-Estrutura Aeronáutica;
• Eng. de Produção – Civil;
• Eng. Hídrico;
• Urbanista; e
• Eng. de Transportes.

5.2 Modalidade 2 – Eletricista

• Eng. de Computação;
• Eng. de Comunicações;
• Eng. de Controle e Automação;
• Eng. de Operação – Eletrônica;
• Eng. de Operação – Eletrotécnica;
• Eng. de Operação – Telecomunicações;
• Eng. de Produção – Eletricista;
• Eng. de Telecomunicações;
• Eng. de Transmissão;
• Eng. Eletricista;
• Eng. Eletricista – Eletrônica;
• Eng. Eletricista – Eletrotécnica;
• Eng. em Eletrônica;
• Eng. em Eletrotécnica;
• Eng. Industrial – Elétrica;
• Eng. Industrial – Eletrônica;
• Eng. Industrial – Eletrotécnica;
• Eng. Industrial – Telecomunicações;
• Eng. Biomédico;
• Eng. de Energia; e
• Eng. de Software.

5.3 Modalidade 3 – Mecânica e metalurgia

• Eng. Aeronáutico;
• Eng. Mecânico e de Armamento;
• Eng. de Operação – Aeronáutica;
• Eng. de Operação – Fabricação Mecânica;
• Eng. de Operação – Indústria da Madeira;
• Eng. de Operação – Máquinas e Motores;
• Eng. de Operação – Mecânica;
• Eng. de Operação – Mecânica Automobilística;
• Eng. de Operação – Mecânica de Manutenção;
• Eng. de Operação – Mecânica de Máquinas e Ferramentas;
• Eng. de Operação – Metalurgista;
• Eng. de Operação – Processo de Fabricação Mecânica;
• Eng. de Operação – Produção;
• Eng. de Operação – Refrigeração e Ar Condicionado;
• Eng. de Operação – Siderurgia;
• Eng. de Produção;
• Eng. de Produção – Mecânica;
• Eng. de Produção – Metalurgista;
• Eng. de Produção – Agroindústria;
• Eng. Industrial – Madeira;
• Eng. Industrial – Mecânica;
• Eng. Industrial – Metalurgia;
• Eng. Mecânico;
• Eng. Mecânico – Automação e Sistemas;
• Eng. Metalurgista;
• Eng. Naval;

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• Eng. Mecânico Eletricista;
• Eng. Acústico;
• Eng. Automotivo; e
• Eng. Aeroespacial.

5.4 Modalidade 4 – Química

• Eng. de Alimentos;
• Eng. de Materiais;
• Eng. de Operação – Petroquímica;
• Eng. de Operação – Química;
• Eng. de Operação – Têxtil;
• Eng. de Produção – Materiais;
• Eng. de Produção – Química;
• Eng. de Produção – Têxtil;
• Eng. Industrial – Química;
• Eng. Químico;
• Eng. Têxtil;
• Eng. de Petróleo;
• Eng. de Plástico;
• Eng. Bioquímico;
• Eng. Nuclear;
• Eng. de Bioprocessos e Biotecnologia.

5.5 Modalidade 5 – Geologia e minas

• Eng. de Minas;
• Eng. Geólogo;
• Geólogo; e
• Eng. de Exploração e Produção de Petróleo.

5.6 Modalidade 6 – Agrimensura

• Agrimensor;
• Eng. Agrimensor;
• Eng. Cartógrafo;

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• Eng. de Geodésia;
• Eng. em Topografia Rural;
• Eng. Geógrafo;
• Eng. Topógrafo;
• Geógrafo; e
• Eng. Agrimensor e Cartógrafo.

5.7 Modalidade 1 – Agronomia

No Grupo 3, temos agronomia, que também engloba os seguintes títulos


profissionais de engenharia:

• Eng. Agrícola;
• Eng. Agrônomo;
• Eng. de Pesca;
• Eng. Florestal;
• Meteorologista; e
• Eng. de Aquicultura.

Após conhecermos todas essas modalidades, percebemos que o campo


de atuação da engenharia é extremamente abrangente e vai de agricultura,
pesca e geologia até às clássicas mecânica, elétrica e civil, passando por
bioquímica, química, biotecnologia e biomédica.
Praticamente todas as áreas do conhecimento humano se beneficiam da
forma de solucionar problemas da engenharia e certamente muitas outras
modalidades serão acrescidas à tabela do Confea/CREA nas próximas décadas.

FINALIZANDO

O engenheiro é percebido pela sociedade como um profissional capaz de


usar todas as ferramentas e conhecimentos de engenharia em conjunto com as
ciências agrárias, mecânicas, elétricas, químicas, biológicas e outras, para
solucionar problemas antes impossíveis de serem resolvidos sem uma equipe
multidisciplinar grande e com pouca sinergia.
Vimos nesta aula que o engenheiro possui status de profissional habilitado
e de qualidade garantida por normas, leis e fiscalização de entidades públicas

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que o elevam ao patamar de detentor de razão técnica e credibilidade perante a
sociedade.
Também pudemos conhecer o código de ética e conduta que deverá
nortear todas as suas ações e tomadas de decisão enquanto profissional de
engenharia. É nesse código de conduta que reside o motivo de os engenheiros
de todo o país exercerem suas atribuições de forma padronizada e com alta
qualidade e é também por ele que a sociedade pode se apoiar e se defender
quando do exercício ilegal ou de conduta incompatível com o esperado de um
engenheiro.
Conhecemos aqui os conselhos de classe, CREAs, e seu papel em
fiscalizar a atuação dos engenheiros, bem como manter nosso acervo técnico,
as ARTs.
Entendemos que não são os CREAs nem o Confea que garantem nosso
piso salarial, mas sim as entidades de classe e sindicatos de categorias,
baseados em lei redigida e aprovada em 1966 e, até o momento, sem alteração
das proporções do piso salarial, mas com evolução em conjunto com o salário
mínimo nacional.
Descobrimos a importância do registro no CREA do estado em que
faremos nossa atuação profissional e que a emissão de ART é de suma
importância para o registro, oficialização e garantia social do serviço que iremos
executar, sendo que uma ART é parte do nosso acervo pessoal e pode ser usada
como comprovação de projetos realizados em currículo profissional ou portfólio.
Apresentamos o perfil do egresso esperado de um profissional de
engenharia e quais as nuances contidas no texto oficial do Ministério da
Educação brasileiro referentes às capacidades que o profissional deve
demonstrar perante a sociedade em sua atuação.
Por fim, fizemos a exposição do mercado de trabalho, das possibilidades
de atuação profissional e como profissionais de engenharias foram
imprescindíveis durante uma emergência de saúde mundial.
Agora é com você. Desejamos um excelente caminho de estudos e
conhecimentos para que seu desenvolvimento como engenheiro seja uma
experiência única, inesquecível e de grande valor profissional para seu futuro e
para a sociedade.

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REFERÊNCIAS

ABECLIN – Associação Brasileira de Engenharia Clínica. Circular 2020/03 -


Atitudes para cooperarcom as unidades de saúde. ABEClin, Rio de Janeiro, p.
2, 2020.

BRASIL. Lei n. 4.950-A, de 22 de abril de 1966. Diário Oficial da União, Poder


Legislativo, Brasília, 29 abr. 1966a.

_____. Lei n. 5.194, de 24 de dezembro de 1966. Diário Oficial da União, Poder


Legislativo, Brasília, 24 dez.1966b.

_____. Lei n. 12.378, de 31 de dezembro de 2010. Diário Oficial da União,


Poder Legislativo, Brasília, 31 dez. 2010.

BRASIL, Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Parecer


CNE/CES n. 1.362/2001, de 12 de dezembro de 2001. Diário Oficial da União,
Poder Legislativo, Brasília, 25 fev. 2002.

_____. Resolução CNE/CES n. 2, de 24 de abril de 2019. Diário Oficial da


União, Poder Legislativo, Brasília, 24 abr. 2019.

COCICAN, L. F. E. Introdução à engenharia. Porto Alegre: Bookman, 2017.

CONFEA – Conselho Federal de Engenharia e Agronomia. Resolução n. 473, de


26 de novembro de 2002. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília,
12 dez. 2002.

_____. Resolução n. 1.073/2016. Diário Oficial da União, Poder Legislativo,


Brasília, 22 abr. 2016.

_____. Código de ética profissional da engenharia, da agronomia, da


geologia, da geografia e da meteorologia. 13. ed. Brasília: Gerência de
Comunicação do Confea – GCO, 2020.

_____. Tabela de Títulos Profissionais Resolução 473, de 26 de novembro de


2002. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 27 nov. 2002.

ENGENHEIROS clínicos na linha de frente contra o Covid-19. CREA-PA, 28


mar. 2020. Disponível em:
<http://www.creapa.com.br/site/index.php/blog/noticias/4219-engenheiros-
clinicos-na-linha-de-frente-contra-o-covid-19>. Acesso em: 20 jan. 2022.

FREITAS, C. A. (org.). Introdução à engenharia. São Paulo: Pearson, 2020.

32
KRICK, E. V. Introdução à engenharia. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1979.

MENDES, D. Engenharia de produção: do paradigma inicial à sociedade 5.0.


Curitiba: InterSaberes, 2021.

OHNO, T. O Sistema Toyota de Produção: além da produção em larga escala.


Porto Alegre: Bookman, 1988.

ONA – Organização Nacional de Acreditação. Disponível em:


<https://www.ona.org.br/>. Acesso em: 20 jan. 2022.

SBEB – Sociedade Brasileira de Engenharia Biomédica. Onde e como estão


nossos engenheiros biomédicos. Rio de Janeiro: SBEB, 2017.

SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas. Anuário


do trabalho nos pequenos negócios 2018. Brasília: Sebrae, 2020.

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