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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO JOÃO DEL-REI

5º Período de Engenharia Civil


HIDRÁULICA - Profa. Clívia Dias Coelho

Roteiro da 1ª aula prática – Canais e Energia Específica

Grupo de no máximo 5 pessoas. Data do envio: 25/10/2023 até às 23h59 Valor: 2,0 pontos
Nomes:

1. Condutos livres: Escoamento em canais


1.1. Embasamento teórico
O escoamento em condutos livres é caracterizado por apresentar uma superfície livre na qual reina a
pressão atmosférica. Estes escoamentos têm um grande número de aplicações práticas na engenharia, estando
presentes em áreas como o saneamento, a drenagem urbana, irrigação, hidroeletricidade, navegação e
conservação do meio ambiente.
Canais são condutos nos quais a água escoa apresentando superfície sujeita à pressão atmosférica. As
fórmulas estabelecidas para o escoamento em condutos livres baseiam-se na expressão originalmente proposta
por Antoine Chézy, dada na Equação 1.

𝑣 = 𝐶√𝑅𝐼 Equação 1
Onde:
v – Velocidade média do escoamento;
C – Coeficiente de Chézy;
R – Raio hidráulico, dado pela razão entre a área molhada (A) e o perímetro molhado (P); e
I – Declividade de fundo do canal.
Vários autores a partir de estudos experimentais estabeleceram expressões para obtenção do valor de
(C), sendo a mais utilizada a expressão proposta por Manning, a qual é dependente do raio hidráulico (R) e da
rugosidade (n) das paredes do canal. A expressão de Manning está na Equação 2.
! !/#
𝐶= "
Equação 2

Combinando-se as Equações 1 e 2, tem-se as Equação 3 e 4.


#
𝑣 = 𝑅$/& 𝐼#/$ Equação 3
"

E:
'
𝑄 = " 𝑅$/& 𝐼#/$ Equação 4

A Equação 4, denominada fórmula de Manning, é válida para os escoamentos permanentes, uniformes


e turbulentos rugosos, com grande número de Reynolds.
Para canais retangulares de largura (b) e altura d’água (y) a área molhada (A) é dada pela Equação 5.
1
𝐴=𝑏∙𝑦 Equação 5
Já o perímetro molhado (P) é dado pela Equação 6.
𝑃 = 𝑏 + 2𝑦𝑦 Equação 6
1.2. Experimento: Determinação do coeficiente de rugosidade equivalente de um canal retangular.
Utilização do método do flutuador para determinação da velocidade de escoamento superficial.
Objetivo
Calcular o coeficiente de rugosidade do canal retangular para vários valores de vazões. Calcular a vazão
utilizando um método simplificado para estimar a velocidade superficial do escoamento no canal e comparar
com o valor lido no rotâmetro.
Materiais utilizados
- Trena;
- Medidor de profundidade;
- Rotâmetro.
Procedimento
Para cada vazão ajustada pelo registro da bomba centrífuga, efetuar medidas para a profundidade (y) da
altura d’água, sendo a declividade (I) mantida constante. Em seguida, calcular a vazão e comparar com a vazão
lida no rotâmetro.

Qrot. (L/min) I (m/m) y (m) b (mm) Δx (m) t (s)

53,75 1,175

Resultados
a) Descreva o método simplificado para estimar a velocidade superficial do escoamento no canal.

b) Complete a tabela abaixo.

A (m2) P (m) R (m) n nmédio vexp. (m/s) Qcalc. (m3/s)

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2. Energia específica
Toda a teoria a seguir tem como referência o livro: Hidráulica Básica do Rodrigo de Melo Porto.
2.1. Introdução
Muitos fenômenos que ocorrem em canais podem ser analisados utilizando o princípio da energia. A
energia total (H) por unidade de peso, em certa seção de um canal onde a distribuição de pressão é hidrostática,
é dada pela Equação 7.
($
𝐻 = 𝑍 + 𝑦 + 𝑎 $) Equação 7

Onde:
Z – Carga de elevação em relação a um plano de referência;
y – Carga de pressão. Altura da coluna d’água;
v2/2g – Carga cinética; e
ɑ – Coeficiente de Coriolis, cujo valor está compreendido entre 1 e 1,1. Leva em conta a variação de velocidades
que existe na seção. Na prática, adota-se o valor unitário, com aproximação razoável.
Passando-se a tomar como referência o próprio fundo do canal, a carga na seção passa a ser dada pela
Equação 8.
($
𝐸 =𝑦+ Equação 8
$)

Onde:
E – Energia ou carga específica. Representa a energia disponível em uma seção.
Este conceito simples é importante para estudar os problemas de escoamentos através de singularidades
em canais, como alteração da cota de fundo, alargamentos e estreitamentos.
Utilizando a equação de vazão (Q), tem-se a Equação 9.
*$
𝐸 = 𝑦 + $)'$ Equação 9

Onde:
A – Área molhada da seção transversal.
2.2. Variação da carga específica e da vazão
Para uma vazão (Q) constante, pode-se traçar a curva da variação da carga específica em função da
profundidade considerada variável. Seja um canal retangular de área (A) constante dada pela Equação 5.
A hipótese de o canal ser retangular permite o uso da aproximação bidimensional e a
possibilidade da utilização da vazão unitária (q) ou vazão específica, definida como a relação entre a vazão (Q)
e a largura (b) do canal, como apresentado na Equação 10.
*
𝑞= +
=𝑣∙𝑦 Equação 10

Assim, a Equação 9 pode ser reescrita, resultando na Equação 11.


,$
𝐸 = 𝑦 + $)- $ Equação 11

3
Considerando que (E) varia com (y), para um dado valor constante de q, pode-se construir um gráfico
da Equação 11, no plano E – y, apresentado na Figura 1.

Figura 1. Relação altura d’água-energia específica (vazão constante).


Observando a Figura 1, tem-se que para cada nível de energia prefixado, existem duas possibilidades
de veicular uma vazão (q) no canal retangular. O escoamento pode se dar com uma altura d’água y1, que
corresponde à raiz da Equação 11 que se encontra no ramo inferior da curva, ou pode se dar com uma altura
d’água y2, que corresponde à raiz da mesma equação que se encontra no ramo superior da curva. Estes dois
escoamentos têm características bem diferentes, o de altura y1 é chamando e escoamento rápido, torrencial ou
supercrítico e o de altura d’água y2 é chamado de escoamento lento, fluvial ou subcrítico e as profundidades y1
e y2 são chamadas de profundidades alternadas ou correspondentes.
É também de interesse prático o estudo de como a vazão unitária (q) varia com a altura d’água (y) para
uma dada energia específica constante, E = E0. A Equação 11 pode ser escrita como apresentado na Equação
12.

𝑞 = 𝑦42𝑔4𝐸. − 𝑦 Equação 12
A partir da Equação 12, chega-se a curva apresentada na Figura 2.

Figura 2. Relação altura d’água-vazão (energia específica constante).


Um ponto destaca-se nos gráficos das Figuras 1 e 2, aquele referente à energia mínima ou o seu
correspondente referente à vazão máxima. Evidentemente, estes pontos são correspondentes, já que ambos os
gráficos são a representação da mesma equação. A profundidade associada a estes pontos é denominada

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profundidade crítica (yc), a qual corresponde à fronteira entre os dois ramos da curva, e é um dos parâmetros
utilizados para a identificação do tipo de escoamento no canal.
2.3. Escoamento crítico
O escoamento crítico é definido como o estágio em que a energia específica é mínima para uma dada
vazão ou o estágio em que a vazão é máxima para uma dada energia específica.
Diferenciando a Equação 11, tem-se a Equação 13.
/0 ,$
/-
= 1 − )- % Equação 13

Em Hidráulica, um número adimensional muito importante no estudo de escoamento em canais é o


número de Froude, que é definido como a raiz quadrada da relação entre as forças de inércia e da gravidade e
cuja expressão está na Equação 14.
( ,
𝐹𝑟 = = Equação 14
√)- 2)- %

Substituindo na Equação 13, chega-se na Equação 15.


/0
/-
= 1 − 𝐹𝑟 $ Equação 15

Estudando o sinal da derivada da Equação 15, pode-se concluir que:


1. Se Fr < 1, o escoamento é subcrítico;
2. Se Fr > 1, o escoamento é supercrítico;
3. Se Fr = 1, o escoamento é crítico.
Em continuação ao estudo, tem-se:
#/&
,$
𝑦3 = : ) ; Equação 16

$
𝑦3 = & 𝐸3 Equação 17

&
𝐸3 = $ 𝑦3 Equação 18

𝑈3 = 4𝑔𝑦3 Equação 19

($-& 5+)'/% "$ )


𝐼3 = !/% '/% Equação 20
-& +

:
𝑞7á9 = =$; 𝑔𝐸 & Equação 21

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2.4. Experimento: Determinação da energia específica, tipo de escoamento, condições para o
escoamento crítico e das alturas alternadas.
Objetivo
Determinar a curva da energia específica e o tipo de escoamento, e, para a vazão em questão, determinar
a altura crítica, a energia específica crítica e a velocidade crítica. Determinar as a profundidades nas quais é
possível ter um escoamento de determinada vazão, com uma determinada energia específica.
Materiais utilizados
- Medidor de profundidade; - Rotâmetro.
Procedimento
Para a vazão ajustada pelo registro da bomba centrífuga e lida no rotâmetro, efetuar medidas para a
profundidade (y) da altura d’água, ao se variar a declividade de fundo do canal. Em seguida, calcular o número
de Froude, determinar o tipo de escoamento e as condições no escoamento crítico.

I (m/m) y (m) b (mm) Qrot. (L/min)

53,75

Resultados
a) Tipo de escoamento

q (m3/s.m) Fr E (m) Tipo de escoamento

b) Condições no escoamento crítico

yc (m) Ec (m) Uc (m)

c) Apresentar a curva de energia específica.


d) Determinar as profundidades alternadas para cada valor de profundidade (y) observada.

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y (m) yalternada (m)

2.5. Seção de controle


É importante em Hidráulica dos canais o conhecimento de seções nas quais alguma característica
determina uma relação entre altura d’água e vazão. Tais seções são chamadas de seções de controle, porque
controlam as profundidades do escoamento em trechos do canal a sua montante ou a sua jusante, dependendo
do tipo de escoamento que está ocorrendo. Para o regime crítico, pode ser estabelecida uma relação entre altura
d’água e vazão, portanto uma seção crítica é uma seção de controle. Tem-se também seção de controle natural
ou de canal, onde a profundidade tende a profundidade normal, e seção de controle artificial, sendo esta
condicionada a algum dispositivo, como uma comporta. O conceito pode ser exemplificado através de uma
estrutura de transbordamento de um reservatório mantido em nível constante, constituído por um vertedor de
crista espessa, como na Figura 3.

Figura 3. Conceito de seção de controle.


No trecho AC da curva de vazão, o elemento controlador do escoamento está a jusante da seção
correspondente, e o escoamento é fluvial. No trecho DC da curva de vazão, o elemento controlador do
escoamento está a montante da seção correspondente e o escoamento é torrencial.
Este fato tem uma importância prática significativa. O regime subcrítico é controlado por alguma
característica colocada a sua jusante e as perturbações originadas em determinada posição propagar-se-ão para
montante. No caso do escoamento supercrítico, este é controlado por uma característica colocada a sua
montante. Como exemplo das duas situações, tem-se a construção de uma barragem em um rio (regime fluvial),
condicionando a linha d’água a sua montante pelo aparecimento de um remanso de elevação que se faz sentir à
grande distância da barragem, seção de controle.
2.6. Experimento: Determinação de seções de controle ao longo do escoamento em um canal retangular.
Objetivo
Traçar o perfil da linha d’água ao longo do canal, indicando a posição da profundidade normal e da
profundidade crítica. Indicar as seções de controle ao longo do canal. Determinar a vazão a partir da seção de
controle crítica e comparar com o valor obtido no rotâmetro.

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Materiais utilizados
- Medidor de profundidade; - Comporta; - Rotâmetro.
Procedimento
Para determinada vazão ajustada pelo registro da bomba centrífuga e lida no rotâmetro, efetuar medidas
para a profundidade (y) da altura d’água ao longo do canal.

I (m/m) Q (L/min) x (m) y (m)

0,415

0,660

0,870

1,150

1,685

1,835

2,255

Resultados

a) Elabore um croqui do corte longitudinal do canal do laboratório de Hidráulica, mostrando as


profundidades hidráulicas (y, yc e yn). Apresentar as seções de controle. Apresentar os cálculos.

b) Para o regime crítico que ocorre em alguma seção do canal, calcule a vazão em trânsito. Compare
com o valor obtido no rotâmetro. Discorra sobre as prováveis causas das diferenças entre os valores
encontrados para a vazão. Apresentar os cálculos.

c) Classifique todos os tipos de escoamento que acontecem no canal:


- Quanto ao tempo e ao espaço;
- Quanto às forças gravitacionais, com base nos números de Froude.

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