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MECÂNICA DOS FLUIDOS I

Engenharia Mecânica e Engenharia Naval e Oceânica


Exame de Época de Recurso – 5 de Fevereiro de 2019, 11:30
Cada questão deve ser resolvida em folhas separadas
Duração: 2 horas e 45 min

Questão 1 (9 val)

A Figura 1 representa o esquema em alçado de um túnel de cavitação. Os túneis de cavitação são túneis de
água em que é possível regular a pressão na secção de ensaios, baixando-a abaixo da pressão atmosférica.

A secção de ensaios tem 0,9 m de diâmetro (𝐷2) e 4 m de comprimento (𝐿2 ). Precede-a uma contracção
(tubeira) e segue-se-lhe um difusor. As outras condutas têm 1,5 m de diâmetro (𝐷1), num total de
𝐿1 = 1+4+7+14+7 = 33 m de comprimento. Os troços verticais e horizontais do túnel estão ligados por
curvas a 90º. A água circula no túnel por acção de uma bomba axial accionada por um motor eléctrico. A
pressão na câmara de ar pode regular-se extraindo ou insuflando ar na câmara, de modo que o ponto A na
superfície livre da câmara de ar fique com a pressão desejada. A pressão estática no eixo da câmara de
ensaios pode ser medida através de manómetro em U de mercúrio (densidade 13,6 vezes a da água). Um
dos braços desse manómetro está ligado à secção de ensaios e o outro está aberto para a atmosfera, como
se mostra na Figura 1. Em igualdade de nível nos dois braços do mercúrio, este nível encontra-se 1 m abaixo
do eixo da secção de ensaios. Admita para a água 𝜌 = 1000 kg/m3 e para a pressão atmosférica 𝑝𝑎𝑡𝑚 =
105 Pa.

Figura 1

Considere que o factor de atrito das condutas rectilíneas pode ser calculado pela seguinte expressão
(fórmula de Kármán-Prandtl):
1 3,7 𝐷
= 2 log10
√𝑓 𝜀
em que 𝜀 = 0,00047 m representa a rugosidade equivalente da superfície das condutas e D representa o
𝑉2
diâmetro. Considere que as perdas de carga localizadas são dadas por 𝑘 , em que 𝑉 é a velocidade média
2𝑔
a montante de cada perda localizada. As perdas localizadas ocorrem nas curvas ( 𝑘𝑐 = 0,30 para cada
curva), na contracção (𝑘𝑛 = 0,04) e no difusor (𝑘𝑑 = 0,18).

a) (2,0 val) Com o fluido em repouso, antes de começar a operar o túnel, a pressão foi regulada para
se obter uma pressão absoluta de 30 kPa no eixo da secção de ensaios. Determine a diferença de
nível entre os dois braços do mercúrio e represente a respectiva posição.
Qual o valor da pressão do ar que tem de ser imposta no interior da câmara de ar?
b) (3,0 val) Se a velocidade máxima na secção de ensaios é de 10 m/s e que a bomba e o motor
eléctrico têm um rendimento total de 80%, calcule a potência eléctrica máxima consumida.
c) (2,0 val) Se a velocidade for 10 m/s à entrada da secção de ensaios, determine a pressão no ponto
A para que a pressão absoluta no eixo da secção de ensaios se mantenha 30 kPa.
d) (2,0 val) Calcule a componente horizontal da força que a água exerce sobre a parede da contracção,
nas condições da alínea anterior. (Se não resolveu a alínea anterior considere 𝑝A =64 kPa)

Questão 2 (3 val)

Um descarregador de cheias de uma barragem foi estudado num modelo reduzido. A escala dos
comprimentos é 1/20 e a densidade do fluido utilizado no modelo é 0,9 vezes a densidade da água da
barragem real. Considerando que a força gravítica é predominante neste tipo de escoamento e que as forças
viscosas podem ser desprezadas, determine:
a) (1,5 val) A velocidade do escoamento no protótipo (real) sabendo que a velocidade no modelo no
ponto homólogo é igual a 1,0 m/s;
b) (1,5 val) A escala das forças, isto é, a razão entre a força exercida no protótipo e a força exercida
no modelo, em zonas homólogas.

Questão 3 (4 val)

Considere um reservatório de grandes dimensões contendo ar aproximadamente em repouso à pressão


𝑝𝑅 = 482,4 kPa e à temperatura 𝑇𝑅 = 420 K. O reservatório descarrega para a atmosfera, patm = 101,3 kPa,
através de uma tubeira convergente-divergente desenhada para escoar um caudal mássico de ar de 1 kg/s
quando a pressão na secção de saída da tubeira convergente-divergente é igual à atmosférica. Determine:
a) (0,5 val) a velocidade 𝑉𝑠 do ar à saída da tubeira convergente-divergente;
b) (0,5 val) a área de saída da tubeira 𝐴s .

Suponha que a tubeira anterior é cortada após a garganta, na secção 2, de área 𝐴2 = (𝐴𝑔 + 𝐴s )/2, onde
𝐴𝑔 é a área da garganta da tubeira, continuando o ar a ser descarregado para a atmosfera. Determine:
c) (1,0 val) o valor da pressão, 𝑝2 , na secção 𝐴2 (se não resolveu a alínea anterior considere que a área
de saída da tubeira convergente-divergente era 𝐴s = 1,5 × 10−3 m2);
d) (0,5 val) o caudal mássico escoado, 𝑚2 .

Suponha que a tubeira anterior é cortada antes da garganta na secção 1, de área 𝐴1 = 𝐴2 , continuando a
descarregar para a atmosfera. Determine:
e) (1,0 val) a pressão, 𝑝1 , na secção 𝐴1 (se não resolveu a alínea anterior considere
𝐴2 =1,25 × 10−3 m2);
f) (0,5 val) o caudal mássico escoado, 𝑚1 .
MECÂNICA DOS FLUIDOS I
Engenharia Mecânica e Engenharia Naval e Oceânica
Exame de Época de Recurso – 5 de Fevereiro de 2019, 11:30
Cada questão deve ser resolvida em folhas separadas
Duração: 2 horas e 45 min

Questão 4 (4 val)  Considere o escoamento de um líquido incompressível e homogéneo entre a face


inferior de um tapete rolante e uma superfície plana inclinada, como representado na Figura 2. A distância
entre as duas superfícies é constante e igual a 𝑎. O ângulo que as superfícies fazem com o plano horizontal
é 𝜃. O tapete rolante é suficientemente largo para que se possa considerar escoamento plano longe da orla
do tapete. A velocidade do tapete é 𝑈 ⃗ . A viscosidade e a massa volúmica do fluido são 𝜇 e 𝜌,
respectivamente. Admita que a pressão na face do tapete em contacto com o fluido é uniforme e igual à
pressão atmosférica.

a) (1,0 val.) Escreva as equações diferenciais do movimento, simplificadas de acordo com as


hipóteses consideradas para o problema.
b) (0,5 val) Formule as condições de fronteira apropriadas para a integração das equações
diferenciais do movimento.
c) (0,5 val) Determine uma expressão para a distribuição de pressão no líquido.
d) (1,0 val.) Determine uma expressão para a distribuição de velocidade no líquido.
e) (1,0 val.) Calcule o caudal por unidade de largura que se escoa através de um plano x = constante.

Figura 2
Problema compressı́vel
3a O escoamento é permanente, unidimensional, adiabático e sem atrito. Na ausência de
ondas de choque o escoamento é isentrópico. As condições de estagnação no reservatório
de alimentação são pressão pR = 482, 4 kPa e temperatuta TR = 420 K. O fluido é ar,
γ = 1, 4. A tubeira convergente-divergente foi desenhada para escoar o caudal mássico de
ar ṁ = 1 kg/s com a pressão na secção de saı́da igual à pressão atmosférica, ps = patm =
101, 3 kPa. Em escoamento isentrópico a pressão de estagnação permanece constante ao
longo do escoamento. São aplicáveis as relações isentrópicas entre a relação de pressões e
entre a relação de temperaturas e o número de Mach:
γ
pR TR
  (γ−1)
= ,
ps Ts
! γ
pR (γ − 1) (γ−1)
= 1+ Mas 2 .
ps 2
Na secção de saı́da, s, o número de Mach, Mas , pode ser obtido das relações isentrópicas
anteriores, tomando pR = 482, 4 kPa, ps = 101, 3 kPa, TR = 420 K e γ = 1, 4, obtendo-
se Mas = 1.676 e Ts = 268.9 K. A velocidade do escoamento na secção de saı́da é então
Vs = Mas (γRTs )0.5 = 1.676 × (1, 4 × 287 × 268, 9)0.5 = 550.9 m/s.

3b A área da secção de saı́da é obtida através do balanço de massa. Na secção de saı́da, o


caudal mássico é ṁ = ρs Vs As . A massa especı́fica ρs é obtida da relação de estado para gas
perfeito

ps 101.3 × 103
ρs = = = 1.313 kg/m3 .
RTs 287 × 268, 9

A área da secção de saı́da é então 1 = 1, 313 × 550.9 × As , ou seja As = 1, 382 × 10−3 m2 .

3c Sendo o escoamento supersónico na parte divergente, ocorrem as condições crı́ticas na


garganta da tubeira. Nesta situação, a área da garganta é a área crı́tica, Ag = A∗ . A área
da garganta Ag pode então ser determinada pela relação isentrópica que traduz o balanço
de massa, relacionando as condições na garganta com as condições na saı́da da tubeira
γ+1
! 12 γ−1
As 1 1 + 12 (γ − 1) Ma2s

= 1 .
A Mas 2
(γ + 1)

Para Mas = 1.676 da relação anterior obtém-se As /A∗ = 1, 316, donde Ag = A∗ = 1, 382 ×
10−3 /1, 316 = 1, 050 × 10−3 m2 e A2 = (Ag + As ) /2 = (1, 050 + 1, 382) × 10−3 = 1, 216 ×

1
10−3 m2 .
Assume-se que as condições de pressão no reservatório e a pressão exterior se mantêm.
Nestas condições, o escoamento permanecerá isentrópico dentro da tubeira, ocorrendo ondas
de expansão fora da tubeira. O número de Mach do escoamento na secção 2, Ma2 , pode
ser determinado pela relação isentrópica que traduz o balanço de massa, relacionando as
condições na garganta com as condições na secção 2 da tubeira
γ+1
! 21 γ−1
A2 1 1 + 12 (γ − 1) Ma22

= 1 .
A Ma2 2
(γ + 1)

Substituindo A2 = 1, 216 × 10−3 m2 e Ag = A∗ = 1, 050 × 10−3 m2 , obtém-se Ma2 =


0, 627 ou Ma2 = 1, 472. Ignora-se a solução subsónica visto o escoamento ser supersónico.
Substituı́ndo Ma2 = 1, 472 na relação isentrópica

! γ
pR (γ − 1) (γ−1)
= 1+ Ma2 2 .
p2 2

obtém-se p2 = 136, 8 kPa.

3d As condições de estagnação de pressão e temperatura no reservatório e a área da garganta


são iguais às observadas nas alı́neas a) e b) do problema, pelo que o caudal mássico escoado
se mantém igual a ṁ = 1 kg/s.

3e No caso de a tubeira convergente-divergente ser cortada na secção de área A1 = A2 ,


antes da anterior garganta, a tubeira passa a ser uma tubeira convergente. Mantendo-se
as condições de estagnação de pressão e temperatura no reservatório e a pressão exterior,
observam-se as condições crı́ticas na secção de saı́da 1, ocorrendo ondas de expansão fora da
tubeira. O número de Mach será então Ma1 = 1 e a pressão p1 será a pressão crı́tica dada
por
!γ/(γ−1) !1,4/(1,4−1)
p∗ 2 2
= = = 0, 5283 .
pR γ+1 1, 4 + 1

A pressão será então p1 = p∗ = 0, 5283 × 482, 4 = 254, 9 kPa.


A temperatura na secção de saı́da da tubeira convergente (1) será T1 = T ∗ , dada por

T∗ 2 2
= = = 0.8333 .
TR γ+1 1, 4 + 1

2
Temos então T1 = T ∗ = 0.833 × 420 = 349.9 K. A massa especı́fica será então

p1 254, 9 × 103
ρ1 = = = 2.538 kg/m3 .
RT1 287 × 349.9

O caudal mássico será dado por ṁ = ρ1 V1 A1 = ρ1 (γRT1 )0.5 A1 = 2.538 (1, 4 × 287 × 349, 9)0.5 ×
1, 231 × 10−3 = 1, 171 kg/s.

3
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