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Mecânica Aplicada I

7 – Atrito
Introdução
O atrito é problemático e útil em muitas aplicações de engenharia, tais como pneus e travões.

Nos capítulos anteriores, assumiu-se que no contacto entre as superfícies:

• este era feito sem atrito – as superfícies podiam mover-se livremente


uma em relação à outra e a reacção entre superfícies era normal.

• ou que as superfícies eram rugosas – as forças tangenciais evitavam


o movimento apresentando o valor necessário para o efeito.

Na realidade, não existe nenhuma superfície perfeitamente sem atrito.


Quando se tentam mover duas superfícies em contato, desenvolvem-se
forças tangenciais, chamadas forças de atrito.

As forças de atrito são limitadas em intensidade e não impedirão o movimento


se forem aplicadas forças suficientemente grandes.

Existem dois tipos de atrito: atrito seco ou de Coulomb e atrito viscoso.

O atrito viscoso desenvolve-se entre camadas de fluido com movimento relativo,


sendo tratado na Mecânica dos Fluidos.

Neste capítulo o estudo limita-se ao atrito seco entre superfícies não lubrificadas.
As Leis do Atrito Seco. Coeficientes de Atrito
Num bloco em repouso numa superfície horizontal, as forças externas são o seu P P
peso 𝑃Ԧ e a reação da superfície 𝑁. Q

Aplica-se uma pequena força horizontal 𝑄, suficientemente pequena para que


o bloco permaneça em repouso. Pela equações do corpo livre identifica-se uma 𝑒
N N
força horizontal devido à reacção da superfície que anula 𝑄 - força de atrito estático 𝐹Ԧ𝑒 .
Equilíbrio Movimento
À medida que 𝑄 aumenta, a força de atrito estático 𝐹Ԧ𝑒 também aumenta até (estático) (cinético)
atingir um valor máximo 𝐹𝑚 – força de atrito estático máxima. 𝐹𝑚

Com o aumento de 𝑄, a força de atrito deixa de anular 𝑃, Ԧ o equilíbrio é quebrado,


e o bloco começa a escorregar, iniciando o movimento. 𝐹𝑒 𝐹𝑐
A força de atrito 𝐹Ԧ𝑐 – força de atrito cinético desce de intensidade, permanecendo
aproximadamente constante.
𝑄
Verifica-se experimentalmente que o valor máximo 𝐹𝑚 da força de atrito estático é
proporcional à componente normal da reacção da superfície:
𝐹𝑚 = 𝜇𝑒 𝑁
em que 𝜇𝑒 é o coeficiente de atrito estático. Da mesma forma:
𝐹𝑐 = 𝜇𝑐 𝑁
em que 𝜇𝑐 é o coeficiente de atrito cinético.
As Leis do Atrito Seco. Coeficientes de Atrito
Os coeficientes de atrito 𝜇𝑒 e 𝜇𝑒 :

• não dependem da área das superfícies em contacto;

• dependem fortemente da natureza das superfícies em contacto.

Valores aproximados dos coeficientes de atrito estático para várias superfícies secas:

Metal sobre metal 0,15 − 0,60


Metal sobre madeira 0,20 − 0,60
Metal sobre pedra 0,30 − 0,70
Metal sobre couro 0,30 − 0,60
Madeira sobre madeira 0,25 − 0,50
Madeira sobre couro 0,25 − 0,50
Pedra sobre pedra 0,40 − 0,70
Terra sobre terra 0,20 − 1,00
Borracha sobre betão 0,60 − 0,90

Tipicamente, os correspondentes valores dos coeficientes de atrito cinético serão cerca de 25% mais baixos:

𝜇𝑐 ≅ 0,75 𝜇𝑒
As Leis do Atrito Seco. Coeficientes de Atrito
Quatro situações distintas podem ocorrer quando um corpo rígido está em contacto com uma superfície
horizontal:

1. Sem Atrito 2. Sem movimento 3. Movimento iminente 4. Movimento


(𝑄𝑥 = 0) (𝑄𝑥 < 𝐹𝑚 ) (𝑄𝑥 = 𝐹𝑚 ) (𝑄𝑥 > 𝐹𝑚 )

Q
P Q P Q P Q P
𝑄𝑦 𝑄𝑦 𝑄𝑦
𝑄𝑥 𝑄𝑥 𝑄𝑥

Fe = 0 Fe Fm Fc

N N N N

𝑁 =𝑃+𝑄 𝐹𝑒 < 𝐹𝑚 = 𝜇𝑒 𝑁 𝐹𝑚 = 𝜇𝑒 𝑁 𝐹𝑐 = 𝜇𝑐 𝑁
𝐹𝑒 = 𝑄𝑥 𝐹𝑚 = 𝑄𝑥 𝐹𝑐 < 𝑄𝑥
𝑁 = 𝑃 + 𝑄𝑦 𝑁 = 𝑃 + 𝑄𝑦 𝑁 = 𝑃 + 𝑄𝑦
Ângulos de Atrito
Às vezes é conveniente substituir a força normal 𝑁 e a força de atrito 𝐹Ԧ pela sua resultante 𝑅:

1. Sem Atrito 2. Sem movimento 3. Movimento iminente 4. Movimento

P Q P Q P Q P
𝑄𝑦 𝑄𝑦 𝑄𝑦
𝑄𝑥 𝑄𝑥 𝑄𝑥

𝑅 𝑅 𝑅
R=N 𝜙 < 𝜙𝑒 N 𝜙 = 𝜙𝑒 N 𝜙 = 𝜙𝑐
N
N

𝐹 𝐹𝑚 𝜇𝑒 𝑁 𝐹𝑐 𝜇𝑐 𝑁
Ângulo de atrito: 𝜙 tan 𝜙 = tan 𝜙𝑒 = = tan 𝜙𝑐 = =
𝑁 𝑁 𝑁 𝑁 𝑁
Ângulo de atrito estático: 𝜙𝑒 tan 𝜙𝑒 = 𝜇𝑒 tan 𝜙𝑐 = 𝜇𝑐

Ângulo de atrito cinético: 𝜙𝑐


Exemplo
O ângulo de atrito pode revelar-se muito útil na análise e resolução de problemas de equilíbrio com atrito.
Considere o bloco em repouso no plano inclinado, sujeito apenas ao seu peso 𝑃Ԧ e à reação 𝑅 da superfície:
Ao aumentar o ângulo 𝜃 do plano inclinado:

1. Não há força de atrito 2. Sem movimento 3. Movimento iminente 4. Movimento

P 𝑃 sen 𝜃
P 𝜃 P
P
𝑃 cos 𝜃

𝜃=0 𝜙 = 𝜙𝑒
𝑁 = 𝑃 cos 𝜃
R=N 𝑁 = 𝑃 cos 𝜃 𝜙𝑐
𝑁 = Pcos 𝜃
𝑅 𝑅
𝜃 < 𝜙𝑒 𝐹 = 𝑃sen 𝜃 𝐹𝑚 = 𝑃 sen 𝜃 𝜃 > 𝜙𝑒 𝑅 𝐹𝑐 < sen 𝜃
𝜃 = 𝜙𝑒
Problemas que Envolvem Atrito Seco

P
Q P
Q P
Q

N
N N
1. Todas as forças aplicadas 1. Todas as forças aplicadas 1. O coeficiente de atrito
são conhecidas. são conhecidas. estático é conhecido.
2. O coeficiente de atrito 2. O movimento é iminente. 2. O movimento é iminente.
estático é conhecido. 3. Pretende-se determinar o 3. Pretende-se determinar a
3. Pretende-se determinar coeficiente de atrito intensidade e o sentido de
se o corpo permanecerá estático 𝜇𝑒 . uma das forças aplicadas.
em repouso ou deslizará.
Problema Tipo
Uma força de 100 N actua num bloco de 300 N colocado sobre um plano inclinado. Os
coeficientes de atrito entre o bloco e o plano são 𝜇𝑒 = 0,25 e 𝜇𝑐 = 0,20. Verifique se o
bloco se encontra em equilíbrio e calcule o valor da força de atrito. 100 N

Força necessária para o equilíbrio:


Admite-se que o movimento é no sentido ascendente, estando a força 𝐹Ԧ dirigida
para baixo: 300 N
3
∑𝐹𝑥 = 0: 100 N − 300 N − 𝐹 = 0 ⇒ 𝐹 = −80 N → A tendência do
5 movimento é
4 de descida.
∑𝐹𝑦 = 0: 𝑁 − 300 N = 0 ⇒ 𝑁 = 240 N
5 100 N
Força máxima de atrito:
A intensidade da força máxima de atrito é 𝐹𝑚 = 𝜇𝑒 𝑁 = 0,25(240 N) = 60 N
O equilíbrio só é possível se 𝐹 < 𝐹𝑚 . Uma vez que 𝐹 > 𝐹𝑚 , o equilíbrio não é 300 N
possível e o bloco apresenta movimento.

Valor efectivo da força de atrito:


A força de atrito cinético é 𝐹𝑐 = 𝜇𝑐 𝑁 = 0.20 240 N = 48 N. 100 N
𝑁 = 240 N
Note-se que as forças que actuam no bloco não estão em equilíbrio. A resultante é:
3 F = 48 N
𝑅 = 𝑅Ԧ𝑖, 𝑅 = 100 N + 48 N − 300 N = −32 N
5
Problema Tipo
𝑃
O suporte móvel representado pode ser colocado a qualquer altura do tubo de 80 mm
de diâmetro. Se o coeficiente de atrito estático entre o tubo e o suporte for de 0,25,
determine a distância mínima x para a qual a carga 𝑃Ԧ pode ser suportada.
Despreze o peso do suporte.
150 mm
Diagrama de corpo livre:
Quando 𝑃Ԧ é colocada à distância mínima 𝑥 do eixo do tubo, o suporte está prestes a
escorregar e as forças de atrito estarão a apresentar os seus valores máximos:
𝐹𝐴 = 𝜇𝑒 𝑁𝐴 = 0,25 𝑁𝐴
80 mm
𝐹𝐵 = 𝜇𝑒 𝑁𝐵 = 0,25 𝑁𝐵
𝑥 𝑃
Equações de equilíbrio:
𝑥 − 40 mm
∑ 𝐹𝑥 = 0: 𝑁𝐵 −𝑁𝐴 = 0 ⇒ 𝑁𝐵 = 𝑁𝐴

∑ 𝐹𝑦 = 0: 𝐹𝐴 +𝐹𝐵 − 𝑃 = 0 ⟺ 0,25𝑁𝐴 + 0,25𝑁𝐵 − 𝑃 = 0 ⟺ 2 × 0,25𝑁𝐴 = 𝑃 ⇒ 𝑁𝐴 = 2𝑃

∑ 𝑀𝐵 = 0: 𝑁𝐴 150 mm − 𝐹𝐴 80 mm − 𝑃 𝑥 − 40 mm = 0 150 mm

⟺ 150 𝑁𝐴 − 80 0,25𝑁𝐴 − 𝑃 𝑥 − 40 = 0 ⟺ 150 2𝑃 − 20(2𝑃) − 𝑃 𝑥 − 40 mm = 0

Dividindo tudo por 𝑃 e resolvendo em ordem a 𝑥 temos: 𝑥 = 300 mm


80 mm
Cunhas
𝑃
𝐹1 = 𝜇𝑒 𝑁1

𝑁1 −𝑁2

𝐹2 = 𝜇𝑒 𝑁2
𝑄 𝑄
𝐹2 = 𝜇𝑒 𝑁2
𝐹3 = 𝜇𝑒 𝑁3
𝑁2
𝑁3

• Cunhas - máquinas simples Corpo livre do bloco: Corpo livre da cunha:


usadas para elevar cargas
pesadas. ∑ 𝐹𝑥 = 0: −𝑁1 + 𝜇𝑒 𝑁2 = 0 ∑𝐹𝑥 = 0: 𝑄 − 𝜇𝑒 𝑁2
• A força necessária para levantar −𝑁3 𝜇𝑒 cos 6° + sen 6° = 0
o bloco é significativamente ∑ 𝐹𝑦 = 0: −𝑊 − 𝜇𝑒 𝑁1 + 𝑁2 = 0
menor do que o peso do bloco. ∑𝐹𝑦 = 0: −𝑁2 + 𝑁3 cos 6° − 𝜇𝑒 sen 6° = 0
• O atrito impede que a cunha
deslize para fora. ou: ou:
• Pretende-se determinar a força 𝑅1 + 𝑅2 + 𝑊 = 0 𝑃 − 𝑅2 + 𝑅3 = 0
mínima P para levantar o bloco.
Parafusos de Rosca Quadrada
• A sua análise é idêntica à análise de um bloco que escorrega sobre um plano Cabeçote
inclinado:
Parafuso
Parafuso S

Base

Base

• Avanço L – distância que o parafuso avança numa volta.

• Passo – distância medida entre dois filetes consecutivos.

• Parafuso de rosca simples: avanço = 1 × passo

• Parafuso de rosca dupla: avanço = 2 × passo

• Parafuso de rosca tripla: avanço = 3 × passo


Parafusos de Rosca Quadrada P
O filete é “desenrolado” e representado por um bloco assente sobre a base, Cabeçote
representada por um plano inclinado:
P Parafuso Parafuso
S

Base

Base

O ângulo de avanço 𝜃 do plano inclinado é calculado usando:

• o perímetro 2𝜋𝑟 para a distância horizontal (onde 𝑟 é o raio médio do parafuso),

• o avanço 𝐿 para a distância vertical. S

O momento da força 𝑄 deverá produzir o mesmo momento da força 𝑆: 𝑄𝑟 = 𝑆𝑎 ⇒ 𝑄 = 𝑆𝑎Τ𝑟 .

Q
Parafusos de Rosca Quadrada
Análise de um parafuso através de um bloco e um plano inclinado:

Movimento iminente para cima Movimento iminente para baixo Movimento iminente para baixo
(Parafuso a ser apertado) (Parafuso autoblocante) (Necessário aplicar força 𝑄)
(𝜙𝑒 > 𝜃) (𝜙𝑒 < 𝜃)
P P P
Q
Q Q
Q

R 𝜙𝑒
𝜙𝑒 R
𝜙𝑒
Problema Tipo
Um grampo é utilizado para segurar dois pedaços de madeira juntos. O grampo tem
uma rosca quadrada dupla de diâmetro médio igual a 10 mm com um passo de 2 mm.
O coeficiente de atrito entre roscas é 𝜇𝑒 = 0,30. Se um binário máximo de 40 N ⋅ m é
aplicado quando o grampo é apertado, determine (a) a força exercida nas peças de
madeira, (b) o binário necessário para desapertar o grampo.

a) Força exercido pelo grampo:


P
Parafuso de rosca dupla: 𝐿 = 2 × 𝑝𝑎𝑠𝑠𝑜 = 2 2 mm = 4 mm Q

Cálculo do ângulo de avanço 𝜃 e do ângulo de atrito estático 𝜙𝑒 :


R
tan 𝜃 = 𝐿Τ2𝜋𝑟 = 4 mmΤ10𝜋 mm = 0.1273 ⇒ 𝜃 = 7.3°
𝜙𝑒
tan 𝜙𝑒 = 𝜇𝑒 = 0.30 ⇒ 𝜙𝑒 = 16.7°

O momento da força 𝑄 deverá ser igual ao binário:


𝜃 + 𝜙𝑒 = 24°
𝑄𝑟 = 40 N ⋅ m ⇒ 𝑄 = 40 N ⋅ mΤ5 mm = 8 kN
R
P
A força 𝑃Ԧ exercida na madeira pelo grampo é dada pelo equilíbrio das forças
aplicadas:
tan 𝜃 + 𝜑𝑠 = 𝑄 Τ𝑃 ⇒ 𝑃 = 8 kNΤtan 24° = 17,97 kN Q = 8 kN
Problema Tipo
Um grampo é utilizado para segurar dois pedaços de madeira juntos. O grampo tem
uma rosca quadrada dupla de diâmetro médio igual a 10 mm com um passo de 2 mm.
O coeficiente de atrito entre roscas é 𝜇𝑒 = 0,30. Se um binário máximo de 40 N ⋅ m é
aplicado quando o grampo é apertado, determine (a) a força exercida nas peças de
madeira, (b) o binário necessário para desapertar o grampo.

b) Binário necessário para desapertar o grampo:


P = 17,97 kN
O movimento iminente é agora no sentido descendente do plano inclinado:

𝑄
tan 𝜙𝑒 − 𝜃 = ⇒ 𝑄 = 17,94 kN tan 9,4° = 2,975 kN
𝑃
𝜙𝑒
Binário = 𝑄𝑟 = 2,975 kN 5 mm

= 2,975 × 103 m 5 × 10−3 m = 14,87 N ⋅ m 𝜙𝑒 − 𝜃 = 9,4°

P = 17,97 kN
Chumaceiras Radiais. Atrito em Eixos
As chumaceiras radiais são utilizadas como apoio lateral em veios e eixos
em rotação.

Se a chumaceira radial estiver perfeitamente lubrificada, a intensidade do


atrito depende da velocidade de rotação, da folga entre o eixo e o apoio, e
da viscosidade do lubrificante, sendo alvo de estudo na Mecânica dos
Fluidos.

Quando o apoio não está lubrificado, podemos supor que o eixo e o apoio
contactam diretamente ao longo de uma única linha recta.

As forças que atuam no rolamento são o peso𝑃Ԧ P


das rodas e do eixo, o binário 𝑀 necessário para
manter o movimento e a reacção 𝑅 do rolamento.
𝜙𝑐
Ԧ
A reacção 𝑅 é vertical para equilibrar o peso 𝑃,
situando-se à direita de 𝑂 a uma distância tal
que o seu momento equilibra o binário 𝑀.
𝜙𝑐

Quando se inicia a rotação, o veio “trepa”


O ângulo entre a reacção 𝑅 e a normal à superfície
pelo apoio até ocorrer escorregamento. é igual ao ângulo de atrito cinético 𝜙𝑐 .
Chumaceiras Radiais. Atrito em Eixos
A intensidade do momento da reacção é: 𝑀 = 𝑟 𝐹 = 𝑟 𝑅 sen 𝜙𝑐 .

Para valores pequenos do ângulo de atrito, cos 𝜙𝑐 ≈ 1 ⇒ sen 𝜙𝑐 ≈ tan 𝜙𝑐 = 𝜇𝑐 ⇒ 𝑀 ≈ 𝑟𝑅𝜇𝑐

Em alguns problemas, pode ser mais conveniente fazer a linha de acção de 𝑅 passar por 𝑂, como quando o
veio não roda. Tal é conseguido adicionando à reacção 𝑅 um binário −𝑀.

A linha de acção de 𝑅 pode ser traçada com facilidade sabendo que esta tem de ser tangente ao círculo do
atrito do veio e do apoio, com centro em 𝑂 e raio

𝑟𝑎 = 𝑟 sen 𝜙𝑐 = 𝑟𝜇𝑐

P P P

𝜙𝑐
Chumaceiras Axiais. Atrito em Discos
As chumaceiras axiais são usadas para apoiar axialmente
veios e eixos em rotação.

Considere-se um eixo oco em rotação. O binário 𝑀 mantém o


eixo em rotação com velocidade constante, enquanto a força 𝐹Ԧ Chumaceira de impulso Chumaceira de colar
o mantém em contacto com o apoio de área 𝐴 = 𝜋(𝑅22 − 𝑅12 ).
Para uma pressão uniforme entre as duas superfícies
em contacto e para um elemento de área 𝛥𝐴:

Δ𝑁 = 𝑄𝛥𝐴Τ𝐴

A intensidade da força de atrito 𝛥𝐹 que actua em 𝛥𝐴 é

𝛥𝐹 = 𝜇𝑐 𝛥𝑁 = 𝜇𝑐 𝑄𝛥𝐴Τ𝜋(𝑅22 − 𝑅12 ).

A intensidade Δ𝑀 do momento de ΔF em relação ao eixo do veio é


2𝜋 𝑅2
𝑟𝜇𝑐 𝑄𝛥𝐴 𝜇𝑐 𝑄 2 𝑅23 − 𝑅13
𝛥𝑀 = 𝑟𝛥𝐹 = ⇒ 𝑀 = න න 𝑟(𝑟d𝑟d𝜃) ⇒ 𝑀 = 𝜇𝑐 𝑄 2
𝜋(𝑅22 − 𝑅12 ) 𝜋(𝑅22 − 𝑅12 ) 3 𝑅2 − 𝑅12
0 𝑅1

2
Num circulo completo de raio 𝑅: 𝑀 = 𝜇𝐶 𝑄𝑅.
3
Atrito em Rodas
Considere a roda sujeita ao seu peso 𝑃Ԧ e à força de reacção da superfície 𝑁. O contacto da roda com a
superfície é pontual e como não existe movimento relativo entre a roda e a superfície, o atrito é mínimo.
Contudo, existe sempre atrito:
• no eixo e também na periferia da roda em contacto com a superfície;
• devido à deformação da roda e da superfície, o que aumenta a superfície de contacto

Suponha-se que a roda se move para a direita sobre a acção da força 𝑄.


A força de atrito 𝐹Ԧ na superfície provoca a rotação da roda no sentido horário.
A resistência do apoio é representada por um binário de atrito 𝑀a , que se opõe à rotação.

Sob a acção da carga 𝑃,Ԧ tanto o chão como a roda se deformam P P P


ligeiramente, fazendo com que a superfície de contacto aumente.
Verifica-se experimentalmente que o ponto de aplicação 𝐵
Q Q
da resultante 𝑅 da reação se encontra à direita do ponto 𝐴.
a
A força 𝑄 necessária para manter o movimento a uma
Velocidade constante é facilmente calculada:

∑𝑀𝐵 = 0: 𝑃𝑏 − 𝑄𝑟 = 0 ⇒ 𝑄𝑟 = 𝑃𝑏

em que 𝑟 é o raio da roda e o coeficiente de resistência ao rolamento 𝑏 é a distância na horizontal do


contacto.
Problema Tipo
Uma roldana com 102 mm de diâmetro pode rodar em torno de um eixo fixo com 51 mm de diâmetro.
O coeficiente de atrito estático entre a roldana e o eixo é de 0,20. Determine (a) a menor força vertical 𝑄
necessária para começar a elevar uma carga de 2224 N, (b) a menor força vertical 𝑄 necessária para
equilibrar a carga, (c) a menor força horizontal 𝑄 necessária para elevar a mesma carga.
Movimento
iminente
a) Força vertical 𝑸 necessária para começar a elevar a carga

Quando as forças 𝑃Ԧ e 𝑄 são iguais, o contacto entre a roldana e o eixo tem lugar em 𝐴.
Com o aumento de 𝑄, a roldana roda ligeiramente em torno do eixo e o contacto tem
lugar em 𝐵, tendo-se:
𝑟𝑎 = 𝑟 sen 𝜙𝑒 ≈ 𝑟𝜇𝑒 = 25,4 mm 0,20 = 5,1 mm Q
O contacto situa-se em 𝐵 para que a componente de P = 2224 N R
Somando os momentos em relação a 𝐵: atrito da reacção 𝐵 crie momento (em relação a 𝑂) 56,1 mm 45,9 mm
contrário ao movimento iminente.
Movimento
iminente
∑ 𝑀𝐵 = 0: 51 mm + 5,1 mm 2224 N − 51 mm − 5,1 mm 𝑄 = 0 ⇒ 𝑄 = 2718 N

b) Força vertical 𝑸 necessária para equilibrar carga

À medida que 𝑄 diminui, a roldana roda em torno do eixo e o contacto dá-se agora em 𝐶.
Somando os momentos em relação a 𝐶:
P = 2224 N Q
∑ 𝑀𝐶 = 0: 51 mm − 5,1 mm 2224 N − 51 mm + 5,1 mm 𝑄 = 0 ⇒ 𝑄 = 1820 N R
46 mm 56 mm
Problema Tipo
Uma roldana com 102 mm de diâmetro pode rodar em torno de um eixo fixo com 51 mm de diâmetro.
O coeficiente de atrito estático entre a roldana e o eixo é de 0,20. Determine (a) a menor força vertical 𝑄
necessária para começar a elevar uma carga de 2224 N, (b) a menor força vertical 𝑄 necessária para
equilibrar a carga, (c) a menor força horizontal 𝑄 necessária para elevar a mesma carga.
Movimento
iminente
c) Força horizontal 𝑸 necessária para começar a elevar a carga

As três forças aplicadas no corpo livre têm de ser concorrentes, no ponto 𝐷 Q


de intersecção das duas linhas de acção conhecidas, das forças 𝑃Ԧ e 𝑄.
Sabendo que a linha de acção passa por 𝐷 e é tangente em 𝐸 ao círculo
do atrito de raio 𝑟𝑎 = 5,1 mm:
Porque está 𝐸 a
acima de O?
𝑂𝐸 5,1 mm R
sen 𝜃 = = = 0.0720 ⇒ 𝜃 = 4.1°
𝑂𝐷 50,1 mm 2 + 50,1 mm 2
P = 2224 N
A partir do triângulo de forças temos: Q

𝑃 2224 N
= tan(45° − 𝜃) ⇒𝑄= = 2567 N P = 2224 N
𝑄 tan 40,9°
R
Atrito de Correia
Considere uma correia plana que passa sobre um tambor cilíndrico.
Pretende-se determinar a relação que existe entre os valores 𝑇1 e 𝑇2 da força
de tracção nas duas partes da correia quando está na iminência de começar
a escorregar para a direita.

Para o corpo livre do elemento 𝑃𝑃′ da correia:


Δ𝜃 Δ𝜃 Δ𝜃
∑ 𝐹𝑥 = 0: 𝑇 + Δ𝑇 cos − 𝑇 cos − 𝜇𝑐 Δ𝑁 = 0 ⟺ Δ𝑇 cos = 𝜇𝑒 Δ𝑁
2 2 2

Δ𝜃 Δ𝜃 Δ𝜃
∑ 𝐹𝑦 = 0: Δ𝑁 − 𝑇 + Δ𝑇 sen − 𝑇 sen = 0 ⟺ Δ𝑁 = 2𝑇 + Δ𝑇 sen
2 2 2

Δ𝜃 Δ𝜃 Δ𝑇 Δ𝜃 Δ𝑇 sen Δ𝜃 Τ2
⇒ Δ𝑇 cos = 𝜇𝑐 2𝑇 + Δ𝑇 sen ⇒ cos = 𝜇𝑐 𝑇 +
2 2 Δ𝜃 2 2 Δ𝜃 Τ2

Para Δ𝜃 ≈ 0 temos: Δ𝑇 ≈ 0, cos Δ𝜃Τ2 ≈ 1; sen Δ𝜃Τ2 ≈ Δ𝜃Τ2


𝜇𝑐
𝑇2 𝛽
d𝑇 1
⇒ = 𝜇𝑒 𝑇 ⇒ d𝑇 = 𝜇𝑒 d𝜃 ⇒ න d𝑇 = න 𝜇𝑐 d𝜃 ⇒ ln 𝑇2 − ln 𝑇1 = 𝜇𝑐 𝛽
d𝜃 𝑇
𝑇1 0
𝑇2 𝑇2
⇒ ln = 𝜇𝑐 𝛽 ⇒ = 𝑒 𝜇𝑐 𝛽
𝑇1 𝑇1
Atrito de Correia
A fórmula obtida pode ser usada: 𝑇2
= 𝑒 𝜇𝛽
𝑇1
• quando existe escorregamento: 𝜇 ≡ 𝜇𝑐

• ou quando a correia está na iminência de escorregar: 𝜇 ≡ 𝜇𝑒 .

Na fórmula obtida:

• 𝑇2 é sempre a tensão maior: 𝑇2 > 𝑇1

• O ângulo de contacto 𝛽 é expresso em radianos: se o ângulo 𝛽 é 90°, então 𝛽 = 𝜋Τ2 = 1,5708 …

• O ângulo de contacto 𝛽 pode ser superior a 2 𝜋.

𝛽 = 2𝜋 + 𝜋 = 3𝜋
Problema Tipo
Uma correia plana liga a roldana 𝐴, que move uma ferramenta mecânica, à
roldana 𝐵, que se liga ao eixo de um motor eléctrico. Os coeficientes de atrito
entre ambas as roldanas e a correia são 𝜇𝑒 = 0,25 e 𝜇𝑐 = 0,20. Sabendo que
a tracção máxima permissível na correia é de 2669 N, determine o binário
203 mm
máximo que a correia pode exercer sobre a roldana 𝐴. 𝑟 = 25 mm

Roldana B

Dado que a relação entre tensões é proporcional ao produto 𝜇𝑒 𝛽 e o coeficiente


de atrito estático 𝜇𝑒 é igual nas duas roldanas, o escorregamento ocorrerá
primeiro na roldana 𝐵, para a qual 𝛽 é menor.

𝛽 = 120° = 2𝜋Τ3
𝑇2 2669 N
⇒ = 𝑒 𝜇𝑒 𝛽 ⟺ = 𝑒 0,25 2𝜋Τ3 = 1,688
𝑇2 = 2669 N 𝑇1 𝑇1

2669 N
⟺ 𝑇1 = = 1581 𝑁 𝑇2 = 2669 N
1,688

𝑇1
Problema Tipo
Uma correia plana liga a roldana 𝐴, que move uma ferramenta mecânica, à
roldana 𝐵, que se liga ao eixo de um motor eléctrico. Os coeficientes de atrito
entre ambas as roldanas e a correia são 𝜇𝑒 = 0,25 e 𝜇𝑐 = 0,20. Sabendo que
a tracção máxima permissível na correia é de 2669 N, determine o binário
203 mm
máximo que a correia pode exercer sobre a roldana 𝐴. 𝑟 = 25 mm

Roldana A

No diagrama de corpo livre da roldana A, o binário 𝑀𝐴 é aplicado à roldana pela ferramenta mecânica à qual
está ligada, sendo igual e oposto ao binário exercido pela correia:

෍ 𝑀𝐴 = 0: 𝑀𝐴 − 2669 N 203 mm + 1581 N 203 mm = 0


𝑇2 = 2669 N
𝑀𝐴 = 221 N ⋅ m

Nota 𝑇1 = 1581 N

Podemos confirmar que a correia não escorrega na roldana calculando o valor de 𝜇𝑒 necessário para impedir
o escorregamento em A:

𝛽 = 180° + 60° = 240° = 4𝜋Τ3 ⇒ 𝜇𝑒 𝛽 = 𝑇2 Τ𝑇1 = 2669 NΤ1581 N ⇒ 𝜇𝑒 = 0,125 < 0,25

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