Você está na página 1de 17

Universidade Federal do Rio Grande – FURG

Engenharia Civil Empresarial


Curso Geotecnia I

REDES DE FLUXO
Profª. Drª. Karina Retzlaff Camargo

Wellinton Gonçalves Vieira – 126841


Othon Guilherme – 133094

Rio Grande, 22 de outubro de 2023.


1. INTRODUÇÃO

Este trabalho tem como objetivo determinar as redes de fluxo em uma barragem de
terra e em um solo arenoso, que serve como fundação para uma cortina de estaca
prancha. A partir do traçado das redes de fluxo, será possível identificar a vazão percolada
através do solo, a distribuição da pressão neutra e a condição de liquefação na parcela de
solo ao redor da cortina estaca prancha. Para a realização deste trabalho, foram utilizados
dados de um ensaio, disponibilizado em vídeo, realizado em permeâmetro de parede rígida
à carga constante e à carga variável.

2. CORTINA DE ESTACA PRANCHA

A cortina de estaca-prancha representada na Figura 1 tem como solo de fundação a


areia ensaiada em laboratório. A partir disso, calcula-se:

Figura 1 - Cortina de estaca-prancha

a) O coeficiente de permeabilidade do solo arenoso pelos arranjos da carga


constante e variável com base nos dados do ensaio de laboratório.
● Dados do ensaio:

● Carga Constante:

Onde,

180.13 −3
𝐾1 = 176.72.159.46
= 1, 81𝑥10 𝑐𝑚/𝑠
183.13 −3
𝐾2 = 176.72.159.47
= 1, 80𝑥10 𝑐𝑚/𝑠
181.13 −3
𝐾3 = 176.72.159.46,5
= 1, 80𝑥10 𝑐𝑚/𝑠

Sendo o K a média entre esses valores:


𝐾1+𝐾2+𝐾3 −3
𝐾= 3
= 1, 80𝑥10 𝑐𝑚/𝑠
● Carga Variável:

● Dados do ensaio:

Onde,

13.12,56 140 −3
𝐾1 = 176.72.99
. ln 𝑙𝑛 86
= 4, 548𝑥10 𝑐𝑚/𝑠

13.12,56 86 −3
𝐾2 = 176.72.68
. ln 𝑙𝑛 59
= 5, 123𝑥10 𝑐𝑚/𝑠

13.12,56 140 −3
𝐾3 = 176.72.167
. ln 𝑙𝑛 59
= 4, 817𝑥10 𝑐𝑚/𝑠

4,548+5,123+4,78 −3
𝐾= 3
= 4, 82𝑥10 𝑐𝑚/𝑠

Conforme indicado no ensaio, devemos corrigir K em função da temperatura:

µ25 . 𝐾 9,11 . 4,82 −3


𝐾20 = µ20
= 10,27
= 4, 27𝑥10 𝑐𝑚/𝑠
b) Apresentação do traçado da rede de fluxo.

Desenho 1 - Traçado da rede de fluxo

c) Com o coeficiente de permeabilidade obtido a carga constante, calcule a vazão


total percolada por dia por baixo da cortina.

Após construída a rede de fluxo utilizamos a relação nf/nd para encontrar a vazão
total percolada que é dada pela fórmula:

𝑛𝑓
𝑄 = 𝐾. △𝐻. 𝑛𝑑

−3 4
𝑄 = 1, 80𝑥10 𝑐𝑚/𝑠 . 750𝑐𝑚 . 8
= 0, 675𝑐𝑚³/𝑠/𝑚
Como a barragem possui 50 metros de comprimento, basta multiplicar a vazão
encontrada por 5000 centímetros, que é o equivalente em metros da barragem. Sendo
assim:
𝑄 = 0, 675𝑐𝑚³/𝑠 . 5000 = 3375𝑐𝑚³/𝑠

Vazão por dia:

𝑄 = 3375𝑐𝑚³/𝑠 . 86400 𝑠𝑒𝑔𝑢𝑛𝑑𝑜𝑠 = 291600000𝑐𝑚³/𝑠

𝑄 = 291, 6 𝑚³/𝑑𝑖𝑎

d) Representar o diagrama de pressão neutra ao longo da cortina;

Para elaborar o diagrama da pressão neutra, foram selecionados nove pontos ao


longo da cortina de estacas-prancha, identificados como A até I, situados em linhas
equipotenciais. Em seguida, procedemos ao cálculo da perda de carga hidráulica em cada
linha equipotencial, com o propósito de determinar a carga hidráulica total em cada um
desses pontos previamente marcados. Isso nos permitiu, com base na direção do fluxo de
água e na posição relativa de cada ponto em relação ao nível de referência (a camada
impermeável de rocha), estabelecer a altura piezométrica e, consequentemente, encontrar
a pressão neutra.

A perda de carga hidráulica a cada equipotencial foi calculada a partir da equação:

Onde:
𝛥𝐻𝑖 = diferença de carga hidráulica entre duas equipotenciais;
𝛥𝐻 = diferença de carga hidráulica total;
𝜂𝑑 = número de quedas de potencial.

7,5𝑚
𝛥𝐻𝑖 = 8
= 0, 94𝑚
Assim, a carga hidráulica total em cada ponto ficam demonstradas nos cálculos
abaixo:

Onde:
𝐻 = carga hidráulica;
𝐻1 = maior valor de carga hidráulica;
𝜂𝑑 = número de quedas de potencial;
𝛥𝐻𝑖 = diferença de carga hidráulica entre duas equipotenciais.

E a carga piezométrica:
ℎₚ = 𝐻 – 𝑍

Onde:
ℎₚ = altura piezométrica;
H = carga hidráulica no ponto;
𝑍 = carga de altura.

Por fim, sabendo a altura piezométrica, calcula-se a pressão neutra em cada ponto:
𝑢 = ℎₚ. 𝛾𝑤
Onde:
𝑢 = pressão neutra;
ℎ𝑝 = altura piezométrica;
𝛾𝑤 = peso específico da água (10kN/m³).

Os cálculos realizados para o diagrama de pressão neutra, considerando o peso


específico da água como 10kN/m³, ao longo da cortina de estaca prancha são
apresentados a seguir:
● Ponto A

● Ponto B

● Ponto C

● Ponto D

● Ponto E

● Ponto F
● Ponto G

● Ponto H

● Ponto I
Desenho 2 - Diagrama de pressões neutras da Cortina de estaca prancha

e) Verificar a condição de segurança frente ao fenômeno de liquefação do terreno,


considerando o peso específico da areia igual a 18 kN/m³.

O fenômeno de liquefação acontece quando o fluxo é ascendente, uma vez que,


quando a força de percolação supera o peso do solo, as ligações iônicas podem ser
rompidas, levando o solo a se comportar como um líquido.
Isto ocorrerá quando o canal de fluxo representado na rede de fluxo possuir o menor
valor de L, exemplificado no desenho 3.
Desenho 3 - Comprimento do gradiente hidráulico

Para garantir as condições de segurança devemos obter o valor do gradiente


hidráulico crítico e o gradiente hidráulico na camada L do desenho 3 onde ocorre fluxo
ascendente.

Este valor é obtido através da fórmula:

𝑦𝑠𝑢𝑏
𝑖(𝑐𝑟í𝑡) = 𝑦𝑤

Onde,
γsub = Peso específico submerso do solo;
γw = Peso específico da água.

Como:
𝑦𝑠𝑢𝑏 = 𝑦𝑠𝑎𝑡 − 𝑦𝑤 = 18 𝑘𝑁/𝑚³ − 10 = 8𝑘𝑁/𝑚³
Logo, o nosso i crítico será:
8
𝑖(𝑐𝑟í𝑡) = 10
= 0, 8

Imediatamente a seguir, calcula-se o gradiente hidráulico na camada de solo onde o


fluxo de água é ascendente. Esse gradiente representa a diferença de potencial entre dois
pontos, dividida pelo comprimento entre eles:
∆𝐻𝑖
𝑖= 𝐿

Onde,

7,5𝑚
∆𝐻𝑖 = 8
= 0, 94𝑚

L = comprimento da diferença de potencial

Portanto,
0,94
𝑖= 1,8
= 0, 52

Baseado nestes resultados, onde 𝑖(𝑐𝑟í𝑡) > 𝑖, não ocorre o fenômeno de liquefação:

𝑖(𝑐𝑟í𝑡) > 𝑖
0, 8 > 0, 52

3. TRAÇADO DA REDE DE FLUXO

Desde o final do ano de 2022, o Grupo de Geotecnia da FURG e pesquisadores


parceiros estão realizando uma pesquisa sobre o uso de métodos geotécnicos e
geotecnologias como ferramenta de auscultação de uma barragem de terra chamada de
Barragem do Chasqueiro, localizada no interior de Arroio Grande/RS. Como uma das
etapas deste processo de auscultação, pede-se:
Figura 2 - Barragem do Chasqueiro

a) Traçar a rede de fluxo.

Para traçar a rede de fluxo em uma barragem de terra composta por material
homogêneo e anisotrópico, primeiramente foi necessário executar uma conversão das
coordenadas horizontais com o uso da Equação de Laplace. Adicionalmente, foram
empregados métodos de solução propostos por Casagrande (como a hipótese de Kozeny)
para identificar a linha de fluxo superior na barragem, tanto na configuração com filtro
quanto naquela com um ângulo de 90 graus.
Antes de poder calcular as medidas, deve-se fazer uma transformação de
coordenadas a partir da fórmula:

𝐾𝑧
𝑥𝑡 = 𝑥. 𝐾𝑥

Onde:
xt = medida transformada;
x = medida horizontal real;
Kz = coeficiente de permeabilidade vertical;
Kx = coeficiente de permeabilidade horizontal.
Assim descobrimos que o Xt da barragem é igual a 35,20m, pois, por uma relação
trigonométrica obtém-se a medida de 74,20m de tamanho real da barragem.

Além disso, também é necessário calcular o coeficiente de permeabilidade


equivalente:

𝐾𝑒𝑞 = 𝐾𝑥. 𝐾𝑧

A partir da transformação de coordenadas, a rede de fluxo é considerada com malha


quadrada e então a vazão é calculada substituindo-se o coeficiente de permeabilidade K
pelo Keq e utilizando a relação encontrada de canais de fluxo por número de quedas de
potencial no traçado da rede de fluxo com coordenadas horizontais transformadas.
Pela solução de Casagrande (hipótese de Kozeny), conforme as medidas horizontais
transformadas, deve-se primeiramente encontrar o ponto M como na figura 3:

Figura 3 - Solução de Casagrande (hipótese de Kozeny)


Posteriormente, é encontrada a medida a0, sendo a distância do filtro até o vértice
da parábola:
1
𝑎0 = 2
. ( 𝑑² + 𝐻² − 𝑑)
Onde:
a0 = distância horizontal do filtro até o vértice da parábola;
d = distância do ponto M até o filtro;
H = altura do nível d’água a partir da cota de referência.

Calculando com a fórmula do a0 e utilizando os valores transformados, se chegou ao


resultado de 1,10m. Além desses parâmetros, deve ser definida a correção da linha de
saída da água pelo filtro, correspondente a equação abaixo:

𝑎 = 𝑎' − 𝑘. 𝑎'
Onde:

k = f(β);
a’ = distância entre o ponto mais abaixo do filtro e a intersecção da parábola com a
linha de saída.

Onde o a foi calculado como 0,804m. A partir dos parâmetros de desenho definidos,
a rede de fluxo é traçada. A relação de canais de fluxo por número de quedas de potencial
encontrada foi de 0,6.
Desenho 4 - Rede de Fluxo Barragem do Chasqueiro

4. VAZÃO PERCOLADA

A determinação da vazão por metro no maciço de solo envolve o cálculo do


coeficiente de permeabilidade equivalente, a relação entre o número de canais de fluxo e
as quedas de potencial, além da diferença de carga hidráulica entre a base do talude a
montante e a jusante.
Como resultado desse processo, obtém-se um valor de 0,12 cm³/s.
REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 13292 02/2021: Solo -


Determinação do coeficiente de permeabilidade de solos granulares à carga constante.
Segunda edição, Rio de Janeiro: ABNT, 2021.
CAMARGO, Karina Retzlaff. Notas de Aula: Geotecnia 1. Universidade Federal do Rio
Grande, 2023.
PINTO, Carlos de Sousa. Curso Básico de Mecânica dos Solos. São Paulo: Oficina dos
Textos, 2018.

Você também pode gostar