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EDITORIAL1
Introdução
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Artigo apresentado ao Curso de Graduação em Design Gráfico da Faculdade SATC, como
requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Design Gráfico.
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Graduando em Design Gráfico pela Faculdade SATC. E-mail: leticiaoemerim@gmail.com
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Mestre em Design e Professor nos cursos Design Gráfico, Jornalismo e Publicidade e
Propaganda da Faculdade SATC. E-mail: denardi.davi@satc.edu.br
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NETO, Miguel Sanches. “Os 10 romances mais importantes da literatura brasileira”. Acessado
em 03/04/18.
[https://www.revistabula.com/3944-os-10-romances-mais-importantes-da-literatura-brasileira/]
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FERNANDES, Bruna. “Dom Casmurro na UERJ”. Acessado em 22/05/2018.
[https://blog.enem.com.br/dom-casmurro-na-uerj/].
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Conforme afirma Marcílio em seu resumo sobre a obra machadiana para o portal de educação
da globo. “Dom Casmurro”. Acessado em 24/02/18.
[http://educacao.globo.com/literatura/assunto/resumos-de-livros/dom-casmurro.html].
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1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
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Ressaca, dentro na narrativa do livro, vem de mar revolto, conforme explica Moriconi (2008) em
seu artigo.
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um partido neste inquérito, quem poderá dizer que conheceu a moça, uma vez
que a Capitu é uma projeção de Casmurro, que pode ou não ter apresentado ao
público sua história tal como ela é ou ter omitido fatos em seu favor. O
interessante desta obra é que enquanto Bento faz um recorte das suas memórias
e apresenta a sua vida, os leitores acabam por julgar Casmurro e toda a sua
trajetória, e não necessariamente Capitolina (MORICONI, 2008).
O amigo do casal – Escobar, a outra parte da acusação de traição –
morre afogado no mar, começam os desentendimentos entre Bentinho e Capitu.
A desconfiança se dá a partir do velório, quando Capitu observa o morto dentro
do caixão, e “deita os olhos de ressaca”. Neste instante, ocorre um insight na
cabeça de Bentinho e ele desconfia, cismando que Escobar e Capitu tiveram um
caso (MORICONI, 2008).
O menino, Ezequiel (suposto fruto da traição de Capitu) tinha a mania
de imitar os outros: imita José Dias, imita tio Cosme; mas quando Ezequiel imita
Escobar, Bentinho vê o amigo no menino por inteiro. E conforme a criança cresce,
a sua presença não faz mais nada pelo casal, a não ser separá-los. Ezequiel é
para Bentinho a carta anônima que comprova a traição do amigo com a esposa
(MORICONI, 2008).
Bento e Capitu decidem separar-se, e ela se muda para a Suíça com o
filho Ezequiel. Com a morte de Capitu, Ezequiel volta para o Brasil; não mais um
garoto, mas um homem feito – para morar com o pai. E ao reencontrar com o
garoto, Casmurro o descreve (1899, p. 137): “Era o próprio, o exato, o verdadeiro
Escobar. Era meu comborço; era filho de seu pai”.
A palavra casmurro não é atrelada à toa a imagem de Bento Santiago.
Conforme explica Caldwell (2001, p. 97), Bento “quer exorcizar alguns fantasmas.
Ele apostrofa com uma citação do Fausto: ‘Aí vindes outra vez, inquietas
sombras?’ Por que evocar essas sombras? Para trazer de volta sua juventude”. O
escopo de Santiago é revisitar o passado e contá-la sabendo que nenhum dos
acusados poderia defender-se das acusações.
São perceptíveis os vários elementos que sustentam o enigma de
Capitu que foram inseridos dentro da narração de Dom Casmurro. Tratar-se de
um livro publicado há mais de um século, é natural que a cultura da linguagem,
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“Grid” segundo Raposo (2015) é o elemento que estrutura a página e dá a base gráfica, o
formato da publicação, classificando as informações como título, subtítulo, legendas e numeração
de páginas.
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quando se repete várias vezes ao longo de um projeto, é como uma mesma nota
soando no mesmo ritmo e repetidas vezes; uma mesma estrutura em um projeto
gráfico se repete visualmente, não estimula o leitor a seguir com a leitura que é
influenciada “pela memória daquilo que acabaram de ver, assim como pela
curiosidade sobre o que vem em seguida.” (WHITE, 2006, p. 29). O que
determina o ritmo de uma editoração, além da ordem cultural de leitura (da
esquerda para a direita, da direita para a esquerda) é estabelecer surpresas ao
longo da leitura, como o uso de tipografias variadas dentro do grid do texto,
sempre alinhado ao contexto da obra. Um texto com letras miúdas e parágrafos
extensos pode fazer com que o leitor se canse, pois o esforço ocular exaustivo
faz com que o desinteresse pela leitura surja. Para que o livro consiga uma boa
imersão, faz-se necessário que o leitor tenha o mínimo de esforço na atividade,
onde a velocidade dos olhos correndo pela linha é condicionada pela extensão
das palavras, das linhas; do conjunto gráfico que elas compõem, o tamanho do
retângulo que estas formam, etc. (ARAÚJO, 2008).
A padronização gráfica conta com alguns elementos que são
essenciais para a identidade visual do impresso, a forma que um papel com tinta
se apresenta para o seu público, como por exemplo, a quantidade de tinta que
ue limitam e alinham o
ocupará o papel formando uma mancha gráfica, os grids q
corpo do texto, que elementos ornamentam a página (como ilustrações, notas de
rodapé, numeração de páginas, etc) e como eles estarão dispostos em relação ao
texto, influenciam na maneira na qual o leitor interage com o impresso, quando
até as áreas em branco fazem parte desta interatividade, uma vez que o impresso
é primeiro visto e depois lido. Neste caso, o uso do branco é importante para que
o leitor não se sinta “sufocado” com muitas informações dentro da página. Hoeltz
(2001, p. 7) explica que:
harmônica; deve aparecer com um propósito claro dentro de um livro, não apenas
como um apelo estético (HURLBURT, 2002).
É bastante comum dentro do mercado editorial, que o designer ou
diretor de arte recorra a um ilustrador, e não a um fotógrafo, para mostrar sob sua
ótica e o seu traço, com o propósito de colaborar com um determinado texto ou
publicação. (FUENTES, 2006). Com as imagens, um projeto editorial fica mais
interessante visualmente, pois estimula a emoção das pessoas por meio das
ilustrações. (RAPOSO, 2015). O texto alinhado com a imagem transmite
sensações além daquelas descritas e fazem com que o leitor se aprofunde na
história, perceba detalhes que passaram despercebidos ao longo do texto e, se
for o caso, dê um rosto e um corpo que acompanharão a imaginação do leitor ao
longo do texto.
É importante considerar também o tempo em que as ilustrações
aparecem durante a diagramação do livro, uma vez que a imagem tem um
impacto visual grande, e que não se tem esforço visual para ler um desenho.
Pode ser utilizada para transmitir uma emoção, levando em consideração o
contexto em que se está inserida. E isto está ligado à ideia de padrão dos
elementos visuais utilizados, que devem ser alinhados a ideia central da
publicação; isto é, as ilustrações devem acompanhar o texto de maneira que
influencie o leitor a seguir com a leitura (RAPOSO, 2015).
A união entre a ilustração e o projeto gráfico deve ocorrer como
quebra-cabeças, em que uma peça se encaixa à outra. Tamanha é a importância
deste encaixe que esta união pode trazer para o editorial a oportunidade de uma
comunicação não-verbal que funciona como ilusão, com credibilidade. Ou seja, o
texto alinhado ao gráfico de maneira em que o público perceba ambas e a
estética seja harmoniosa. Para que a ilustração se adeque bem ao projeto, é
importante considerar o momento em que esta aparece dentro da diagramação,
de forma que não quebre o ritmo editorial – apenas colabore com o fluxo de
informações dentro da publicação (FUENTES, 2007).
Uma publicação original não precisa ser diferente ou fora de um
padrão editorial dentro do mercado. Para uma publicação ser considerada boa,
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Neste caso, a tradução refere-se ao conceito de semiótica, que trata “a tradução de uma
informação por outra linguagem” (MACHADO, 2003, p. 163 apud. NAKAGAWA; NAKAGAWA,
2017, p. 3).
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2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
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MACHADO, Cassia Elek. “Livro clássico de 1960 sobre "Dom Casmurro" chega agora ao Brasil
Capitu ganha "advogada de defesa" californiana”. Acessado em 07/07/18.
[https://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq0911200211.htm]
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A análise destas edições vem com um intuito de traçar um paralelo entre o ritmo
editorial de edições já existentes em relação ao que poderia ser, levando em
consideração que esta obra é muito importante para a literatura nacional e ainda
é estudada por pesquisadores e profissionais da área de letras.
Finalmente, foi realizada a análise de capítulos e da narrativa do
personagem do livro Dom Casmurro, junto com o estudo de Caldwell e outros
autores citados na fundamentação teórica, a fim de levantar elementos que
podem ser trabalhados de uma maneira diferente dentro da construção da
diagramação do texto.
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A pesquisa citada pode ser acessada através do link:
[https://br.pinterest.com/leticiaemerim/dom-casmurro/]
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“Easter egg” é um termo utilizado na páscoa estadunidense, onde os pais escondem os ovos
para os filhos, com o propósito de fazê-los procurar. Acessado em 18/05/18
[https://canaltech.com.br/internet/Easter-Eggs-voce-sabe-o-que-sao/].
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MORAIS, Erik. “Shakespeare e Psicanálise – Inveja e ciúme em Otelo” acessado em
13/05/2018. [https://www.contioutra.com/shakespeare-e-psicanalise-inveja-e-ciume-em-otelo/]
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E por fim, quem deve ser realmente julgado são estes homens pelos leitores de
suas histórias.
XIV (quatorze) A inscrição O título do capítulo refere-se ao que Capitolina fez no muro de
sua casa com um prego: escreveu os nomes de Bento e
Capitolina, e a menina ao notar que Bento lera a inscrição, fica
em silêncio que denuncia o interesse dela por ele. Então,
ambos descobrem-se apaixonados.
XVIII (dezoito) Um plano Bentinho conta a Capitu a promessa de sua mãe de fazê-lo um
padre, e a menina explode proferindo ofensas a mãe de
Bentinho. Ao final do capítulo, Capitu elabora um plano para
salvar Bentinho de tornar-se um padre.
XXV (vinte e No Passeio Em um passeio, Bentinho súplica a ajuda de José Dias para
cinco) Público livrar-se do seminário, confessando que preferia estudar direito
em São Paulo ou ser cocheiro de ônibus; padre não. Com uma
possível viagem à Europa a fim de acompanhar o garoto em
seus estudos, José Dias promete falar com D. Glória. Neste
capítulo, José Dias “não planta apenas as sementes do amor
em Bentinho; ele planta também a suspeita de que Capitu
estaria tramando e acabaria por enganá-lo” (CALDWELL,
2001, p. 25).
XXXIII (trinta e O penteado Aqui, Capitu e Bento tem a sua primeira interação romântica
três) após a descoberta do amor recíproco. Bento penteia os
cabelos de Capitu, que está sentada em uma cadeira. Ela
inclina a cabeça para trás e ambos se beijam. Logo após, a
mãe de Capitu entra; Capitu faz uma cena que desvia a
atenção da mãe para o que realmente estava acontecendo e
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avisa que o padre espera por Bentinho para sua aula de latim.
XLVIII Juramento do Após fazerem as pazes, Capitu e Bentinho mudam os seus
(quarenta e poço juramentos, prometendo então que um casaria com o outro.
oito)
LVI (cinquenta Um seminarista Aqui é apresentada a vida ao seminário e ao personagem
e seis) Escobar, que veio a ser o melhor amigo e confidente de
Bentinho.
LXV (sessenta A dissimulação Aqui, Bentinho narra que tem se aproximado de Escobar e
e cinco) deseja contar a ele suas penas e esperanças. Capitu o
impede. Após, na casa de Bentinho, Capitu afirma que espera
que ele se ordene padre. Em um diálogo de ambos, eles
afirmam: “—Você tem razão, Capitu, concluí eu; vamos
enganar toda esta gente. —Não é? disse ela com
ingenuidade.” (ASSIS, 1899, p. 71).
LXXVIII Segredo por Bentinho confessa para Escobar a sua angústia: não pretendia
(setenta e oito) segredo ordenar-se padre por amar Capitu. Em troca, Escobar
confessa que também não pretende tornar-se padre, e que
desejava trabalhar no comércio.
LXXXI (oitenta Uma palavra A melhor amiga de Capitu, Sancha, adoece e a menina vai até
e um) a casa para cuidar dela. A conselho de D. Glória, Bentinho vai
até a casa visitar Sancha e Capitu.
XCIII (noventa Capítulo Bentinho e Escobar, ao seminário, brincam de fazer contas.
e três) XCIII/Ideias Escobar se apresenta como um excelente matemático, o que
aritméticas explica a sua paixão pelo comércio. Também nos é
apresentada a dimensão da riqueza que D. Glória possuia.
C (cem) No céu Bentinho conta que Capitu ansiava descer a serra e voltar para
o dia a dia. “tudo me mostrou que a causa da impaciência de
Capitu eram os sinais exteriores do novo estado. Não lhe
bastava ser casada entre quatro paredes e algumas árvores;
precisava do resto do mundo também.” (ASSIS, 1899, p. 103).
CIX (cento e Rasgos da Neste capítulo, Bento descreve Ezequiel aos seis anos de
nove) infância idade, como um rapaz que não desmente os sonhos que ele
projetou em um filho que gostaria de ter. Inclusive, notara no
menino alguns trejeitos que via na mãe dele, Capitu, quando
ela era criança. Ele relata também o esquecimento de Capitu
sobre a toada cantada por um negro que vendia doces na
infância de ambos. Porém, no capítulo LIX ele confessa que
não tem boa memória, e ainda assim cobra uma lembrança de
Capitu da infância.
CXI (cento e Embargos de Bentinho conta que os seus ciúmes, apesar do filho e dos
onze) terceiro anos, ainda continuavam presente. Conta também que um
costume do casal era ir ao teatro, e lembra de uma vez que foi
sem ela. Capitu dizia que não estava se sentindo bem para ir,
mas quis que o marido fosse. Bentinho volta no primeiro ato e
encontra Escobar na porta de casa. Ele afirma que vinha falar
com o amigo sobre um fato importante que ocorreu no
comércio, mas não queria incomodar o amigo. Bentinho
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CXLIII (cento e O regresso Os anos se passam, Capitu morreu e Ezequiel veio em busca
quarenta e do pai. Pela descrição de Bento, era quase como ver um
três) fantasma; ele via em Ezequiel o companheiro do seminário,
um retrato vivo de Escobar. Este capítulo pode ser comparado
ao capítulo XCVIII, que relata a volta de São Paulo para o Rio
de Janeiro, quando Bento se torna bacharel em direito. D.
Glória olha para ele e vê o seu falecido marido. Todos ao redor
concordam com a semelhança dele com o pai. E esta
característica falta entre Ezequiel e Bento. Bento não se vê no
garoto, muito pelo contrário; ele vê Escobar se sentando para
comer "com a cara metida no prato" (ASSIS, 1899, p. 137).
Portanto, dentro da construção deste capítulo, há as
confirmações das suspeitas de Bento.
Fonte: Da autora.
Fonte: Da autora.
Fonte: Da autora.
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Devido à época da narrativa, “pena” neste caso é um instrumento de escrita, como uma caneta.
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Fonte: Da autora.
para o outro, a fim de criar a expectativa no leitor de um beijo, algo que não
acontece, pois o pai da moça chega logo em seguida.
Fonte: Da autora.
Fonte: Da autora.
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Estes significados foram retirados da matéria “Confira o significado destas 30 flores antes de dar
uma de presente”. Acessado em 04/05/2018
[https://noticias.bol.uol.com.br/bol-listas/confira-o-significado-destas-30-flores-antes-de-dar-uma-d
e-presente.htm].
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Fonte: Da autora.
Fonte: Da autora.
Fonte: Da autora.
Fonte: Da autora.
Fonte: Da autora.
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Fonte: Da autora.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Agradecimentos
“seu nome
é a conotação
positiva e negativa
mais forte em qualquer língua
ou ele me acende ou
me deixa dias em agonia”
REFERÊNCIAS
ALI, Fatima. A arte de editar revistas. São Paulo: Companhia Editora Nacional,
2009.
MORICONI, Italo. Dom Casmurro: o claro enigma. Matraga, Rio de Janeiro, v. 15,
n. 23, p. 74-93, jul./dez. 2008.
PEREIRA, Lúcia Serrano. Um narrador incerto: Dom Casmurro: entre o estranho
e o familiar. 2003. 105 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Pós Graduação em
Letras, Instituto de Letras, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto
Alegre, 2003. Disponível em: <http://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/3304>.
Acesso em: 25 maio 2018.
WHITE, Jan V.. Edição e design. 2 ed. São Paulo: JSN Editora, 2005.
ANEXOS
Neste, Bento afirma que há em sua vida alguns “fantasmas” que o cercam,
fazendo uma citação de Fausto de Goethe. “Por que estas sombras estão
inquietas?” é uma pergunta levantada por Caldwell em seu estudo, onde a
II (dois) Do livro
autora afirma “a lenda diz que os fantasmas de homens assassinados
retornam para perseguir os seus assassinos; [...] Santiago é um assassino?
E quem eram esses fantasmas quando vivos?”.
Ao ouvir atrás da porta o seu nome, Bentinho fica escutando o que José
Dias, D. Glória, tio Cosme e prima Justina estão conversando. A denúncia
III (três) A denúncia em questão são os sentimentos de Bentinho pela vizinha, Capitu. E ele então
descobre os próprios sentimentos pela menina e que a denúncia é
verdadeira.
Glória. Neste capítulo, José Dias “não planta apenas as sementes do amor
em Bentinho; ele planta também a suspeita de que Capitu estaria tramando e
acabaria por enganá-lo” (CALDWELL, 2001, p. 25).
Ao visitá-la depois de conversar com José Dias, Bentinho lembra da
definição que ele dera aos olhos de Capitu. Bentinho então, os descreve:
XXXII (trinta e Olhos de “Retórica dos namorados, dá-me uma comparação exata e poética para dizer
dois) ressaca o que foram aqueles olhos de Capitu. Não me acode imagem capaz de dizer,
sem quebra da dignidade do estilo, o que eles foram e me fizeram. Olhos de
ressaca? Vá, de ressaca.” (ASSIS, 1899, p. 35)
Aqui, Capitu e Bento tem a sua primeira interação romântica após a
descoberta do amor recíproco. Bento penteia os cabelos de Capitu, que está
XXXIII (trinta sentada em uma cadeira. Ela inclina a cabeça para trás e ambos se beijam.
O penteado
e três) Logo após, a mãe de Capitu entra; Capitu faz uma cena que desvia a
atenção da mãe para o que realmente estava acontecendo e avisa que o
padre espera por Bentinho para sua aula de latim.
Aqui, Bentinho pensa em confessar a mãe que não tem vocação para ser
padre e o seu amor por Capitu. E afirma: “A imaginação foi a companheira de
XL (quarenta) Uma égua toda a minha existência, viva, rápida, inquieta, alguma vez tímida e amiga de
empacar, as mais delas capaz de engolir campanhas e campanhas,
correndo.” (ASSIS, 1899, p. 45).
Porém, logo que chega ao quarto da mãe, muda de ideia e não confessa. Diz
que teme a separação dele com a mãe e que só gosta dela. “Não houve
cálculo nesta palavra, mas estimei dizê-la, por fazer crer que ela era a minha
XLI (quarenta A audiência
única afeição; desviava as suspeitas de cima de Capitu. Quantas intenções
e um) secreta
viciosas há assim que embarcam, a meio caminho, numa frase inocente e
pura! Chega a fazer suspeitar que a mentira é muita vez tão involuntária
como a transpiração.” (ASSIS, 1899, p. 46).
haveria que nem levasse meias... Mas eu as via com elas... Ou então...
Também é possível…” (ASSIS, 1899, p. 63).
Neste capítulo, Bento afirma que não tem boa memória. Ele explica o que
LIX
Convivas de quis dizer com esta afirmação e após isto ainda escreve “E antes seja olvido
(cinquenta e
boa memória que confusão; explico-me. Nada se emenda bem nos livros confusos, mas
nove)
tudo se pode meter nos livros omissos.” (ASSIS, 1899, p. 64).
É o primeiro capítulo onde somos apresentados aos ciúmes de Bentinho.
Após perguntar de Capitu para José Dias, que o visitava no seminário, este
LXII responde “Tem andado alegre, como sempre; é uma tontinha. Aquilo
Uma ponta de
(sessenta e enquanto não pegar algum peralta da vizinhança, que case com ela…”
Iago
dois) (ASSIS, 1899, p. 67). Bentinho se imagina descendo o morro e indo até a
casa de Capitu e perguntar quantos beijos ela já tinha dado em rapazes da
vizinhança.
Aqui, Bentinho narra que tem se aproximado de Escobar e deseja contar a
LXV ele suas penas e esperanças. Capitu o impede. Após, na casa de Bentinho,
A
(sessenta e Capitu afirma que espera que ele se ordene padre. Em um diálogo de
dissimulação
cinco) ambos, eles afirmam: “—Você tem razão, Capitu, concluí eu; vamos enganar
toda esta gente. —Não é? disse ela com ingenuidade.” (ASSIS, 1899, p. 71).
LXVII D. Glória certa vez fica doente e manda chamar Bentinho. Ele, a caminho de
(sessenta e Um pecado casa, tem um pensamento pecaminoso de que se sua mãe morre, acaba o
sete) seminário. O pensamento é breve e logo ele se arrepende.
Escobar vai visitar Bentinho para saber se a mãe dele está bem. Bento
Visita de escreve que ambos estavam bem próximos, apesar de não tanto quanto
LXX (setenta)
Escobar vieram a ser; e ele lhe apresentou a casa após o jantar. Ao final do capítulo,
Capitu na janela pergunta quem era o rapaz.
LXXIII
O
(setenta e Um rapaz passa a cavalo por ali e observa Capitu na janela e ela faz o
contra-regra
três) mesmo. Isso desencadeia ciúmes violentos em Bentinho.
LXXV
(setenta e O desespero Correu de Capitu e de todos na casa, ficou sozinho no quarto imaginando-se
cinco) cravando as unhas no pescoço de Capitu até ver sair sangue.
LXXVI Bentinho fingiu não estar bem naquele dia para poder ficar em casa e
(setenta e Explicação conversar com Capitu. Após expor a sua angústia, ela explica que não houve
seis) nada e que ele era um rapaz que passou por ali assim como tantos outros.
LXXVIII Bentinho confessa para Escobar a sua angústia: não pretendia ordenar-se
Segredo por
(setenta e padre por amar Capitu. Em troca, Escobar confessa que também não
segredo
oito) pretende tornar-se padre, e que desejava trabalhar no comércio.
A melhor amiga de Capitu, Sancha, adoece e a menina vai até a casa para
LXXXI
Uma palavra cuidar dela. A conselho de D. Glória, Bentinho vai até a casa visitar Sancha e
(oitenta e um)
Capitu.
Gurgel, pai de Sancha, em um momento a sós com Bentinho, mostra-lhe um
LXXXIII
retrato da mãe da Sancha afirmando que esta é parecida com Capitu, até na
(oitenta e O retrato
amizade que ela tem com a Sancha. E afirma: “Na vida há dessas
três)
semelhanças assim esquisitas.” (ASSIS, 1899, p. 86).
XCVIII Após anos estudando direito em São Paulo, Bentinho retorna ao Rio de
(noventa e O filho é a Janeiro advogado, um homem feito e a cara do pai. Todos o contemplam
oito) cara do pai saudosos.
Bentinho afirma em voz alta que seria feliz. José Dias ri dele. Ambos
XCIX “Tu serás conversam sobre o seu namoro com Capitu, que não esfriou apesar da
(noventa e feliz, distância. Namoraram por cartas durante cinco anos, e agora pretendiam
nove) Bentinho!” casar. José Dias retira o que havia falado anteriormente sobre Capitu
afirmando que se enganou.
Bentinho conta que Capitu ansiava descer a serra e voltar para o dia a dia.
“tudo me mostrou que a causa da impaciência de Capitu eram os sinais
C (cem) No céu exteriores do novo estado. Não lhe bastava ser casada entre quatro paredes
e algumas árvores; precisava do resto do mundo também.” (ASSIS, 1899, p.
103).
Tudo corria bem, apesar do desejo de ambos de ter um filho que não vinha.
Neste capítulo, Bentinho conta de um baile que foram, e que Capitu usou um
CIV (cento e vestido que não cobria os braços. Descreve que “Eram os mais belos da
Os braços
quatro) noite, a ponto que me encheram de desvane acontecimento. Conversava mal
com as outras pessoas, só para vê-los, por mais que eles se entrelaçam aos
das casacas alheias.” (ASSIS, 1899, p. 105).
Bentinho descobre Capitu distraída em uma conversa de ambos. Ela conta a
CV (cento e Dez libras
ele que conseguiu economizar dinheiro com a ajuda de Escobar. Bentinho,
cinco) esterlinas
ao comentar com o amigo, disse que “Capitu era um anjo”.
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Neste capítulo, Bento descreve Ezequiel aos seis anos de idade, como um
rapaz que não desmente os sonhos que ele projetou em um filho que
gostaria de ter. Inclusive, notara no menino alguns trejeitos que via na mãe
CIX (cento e Rasgos da
dele, Capitu, quando ela era criança. Ele relata também o esquecimento de
nove) infância
Capitu sobre a toada cantada por um negro que vendia doces na infância de
ambos. Porém, no capítulo LIX ele confessa que não tem boa memória, e
ainda assim cobra uma lembrança de Capitu da infância.
Conforme o garoto cresce, Capitu e Bentinho descobrem um defeito no
CX (cento e Contado menino: ele gosta de imitar os outros. O modo de falar, o modo de andar.
dez) depressa Imita Tio Cosme, imita prima Justina e imita Escobar. Neste, imita os pés, as
mãos e o jeito do olhar.
Bentinho conta que os seus ciúmes, apesar do filho e dos anos, ainda
continuavam presente. Conta também que um costume do casal era ir ao
teatro, e lembra de uma vez que foi sem ela. Capitu dizia que não estava se
sentindo bem para ir, mas quis que o marido fosse. Bentinho volta no
CXI (cento e Embargos de
primeiro ato e encontra Escobar na porta de casa. Ele afirma que vinha falar
onze) terceiro
com o amigo sobre um fato importante que ocorreu no comércio, mas não
queria incomodar o amigo. Bentinho insistiu que entrasse - se Capitu
estivesse ruim, ele poderia ir embora. Capitu estava boa e disse que pareceu
estar pior para que ele não deixasse de ir ao teatro.
Após o enterro, Bento decide que não vai para casa logo de cara, para deixar
CXXIV (cento
que a cabeça cismasse a vontade. Fez as comparações entre os gestos e os
e vinte e Cismando
modos de portar-se entre Sancha e Capitu. Tudo o que ele revisava por meio
quatro)
de sua memória afirmaram-lhe que Capitu tinha agido de maneira suspeita.
CXXVII Este capítulo é dedicado para Sancha. Bento pede que ela não continue
(cento e vinte A D. Sancha lendo o livro e que o queime para não lhe dar tentação de abrir novamente.
e sete) Mas que, caso ela não queira ouvir os seus conselhos, a culpa seria dela.
Neste capítulo, Bento explica o motivo de ter construído uma casa que é uma
reprodução da sua infância ao invés de preservar a antiga. Ele descreve que
assim que a sua mãe faleceu, ele voltou a ver a casa, mas nada estava do
CXLII (cento Uma
jeito que a sua memória dizia para ele. Não reconheceu a sua identidade
e quarenta e pergunta
através dos móveis e dos cômodos daquela antiga casa. Ainda escreve "A
dois) tardia
razão é que, logo que minha mãe morreu, querendo ir para lá, fiz primeiro
uma longa visita de inspeção por alguns dias e toda a casa e o lavadouro,
nada sabia de mim" (ASSIS, 1899, p. 136).
Bento por fim encerra o seu julgamento de Capitu e expõe os motivos que o
levaram a ser "Casmurro" e um homem "calado e metido consigo". Isto é, o
livro veio para justificar-se para os outros sobre o seu comportamento
anti-social. E termina o livro "a saber, que a minha primeira amiga e o meu
CXLVI (cento maior amigo, tão extremosos ambos e tão queridos também, quis o destino
e quarenta e E bem, e o que acabassem juntando se e enganando-me... A terra lhes seja leve! Vamos
seis) resto? à “História dos Subúrbios." (ASSIS, 1899, p. 139).