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ESTÁGIO BÁSICO

SUPERVISIONADO
PRÁTICAS EM PSICANÁLISE

TRATAMENTO DE
ENSAIO E ENTREVISTAS
PRELIMINARES
Professor: Isaías Ferreira 1
PLANO DE AULA

OBJETIVOS:
• Vamos verificar a importância do diagnóstico estrutural diferencial

Texto Base:
Freud, S. Sobre o início do tratamento. In: Fundamentos da clínica
psicanalítica: Grupo Autêntica, 2017. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788551301999

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DIAGNÓSTICO EM PSICANÁLISE
Tendo em vista a importância do diagnóstico diferencial,
Freud (1913) propõe o chamado “tratamento de ensaio”,
que consistia numa recomendação que fazia ressonância
para o início da análise, no qual atendia o paciente por
uma ou duas semanas, visando estabelecer uma espécie de
sondagem, para só depois decidir se o aceitaria ou não em
análise.
Vale mencionar que Freud operava no campo
circunscrito das neuroses.
DIAGNÓSTICO EM PSICANÁLISE a –
Pequeno Hans
• Neste contexto delimitativo Freud (1913) comparava a análise
com um jogo de xadrez, no sentido de que as aberturas e os
finais são passiveis de uma apresentação sistemática.
• Portanto, para que fosse possível empreender uma
sistematização no interior do processo analítico era necessário
consolidar um diagnóstico diferencial adequado, sendo que
tudo dependia do manejo transferencial correto.
Freud considerava que existia razões diagnósticas para fazer
este tratamento de ensaio.
DIAGNÓSTICO EM PSICANÁLISE

• Portanto, a prática do “tratamento de ensaio” consistia


em conhecer o caso e decidir sobre a possibilidade
de sua analisabilidade e assim evitar a interrupção
precoce do processo analítico.
• Contudo, pode-se dizer que esse período de tratamento
preliminar está em si mesmo articulado com o início
da análise, pois considera a regra fundamental da
associação livre.
DIAGNÓSTICO EM PSICANÁLISE

Esse procedimento além de permitir ao analista conhecer o caso


e avaliar se seria possível aceitá-lo em análise, também
possibilitava o estabelecimento do diagnóstico diferencial (entre
neurose e psicose), algo imprescindível para a direção do
tratamento (FREUD, 1913).

Levantamento de hipóteses diagnósticas que seriam


confirmadas ou não no decorrer do percurso analítico.
DIAGNÓSTICO EM PSICANÁLISE
A preocupação de Freud em estabelecer o “tratamento de ensaio” para
só depois iniciar o processo de análise apontava para duas direções:
1. Em primeiro lugar, ratificar a responsabilidade do psicanalista no
tratamento analítico, isto é, advertir que a análise deve contribuir
para que o paciente resolva o sofrimento que o trouxe, na medida
em que Freud acreditava na reversibilidade dos sintomas.
2. E em segundo lugar, revela uma preocupação com a própria
reputação do método psicanalítico, pois um erro de diagnóstico
poderia configurar um desvio prático da própria direção do
tratamento (FREUD, 1913).
DIAGNÓSTICO EM PSICANÁLISE–
Pequeno Hans
• O indicador preliminar que definia a efetividade do tratamento de
ensaio era a maneira como se estabelecia a relação
transferencial, bem como seu subsequente manejo.
• O delineamento esperado nessa estratégia analítica consiste no
estabelecimento da transferência, a chamada mola propulsora
do tratamento.
• Nesse momento o analista acolhe a queixa do analisante,
possibilitando que através do laço transferencial uma demanda
de análise seja articulada pelo desejo de saber sobre a verdade
do seu sintoma.
DIAGNÓSTICO EM PSICANÁLISE a –
Pequeno Hans
• O analisante, portanto, endereça seu desejo de saber sobre a
verdade de seu sofrimento para o analista.
• O analista, portanto, na posição de sujeito suposto saber
permite a transformação da demanda inicial para a
transferência produtora do trabalho de associação livre.
• Certamente, o analista não deve se identificar com esse
lugar, que representa uma função inicial e não um lugar
fixo no interior de uma análise.
DIAGNÓSTICO EM PSICANÁLISE a –
Pequeno Hans
• Podemos dizer que se o diagnóstico representa a
pedra angular do tratamento analítico, as
entrevistas preliminares configuram o terreno
no qual se efetuam as considerações clínicas
necessárias para o início da análise.
Aqui fica evidente a importância da relação
transferencial para a entrada na análise.
DIAGNÓSTICO EM PSICANÁLISE a –
Pequeno Hans
• Com efeito, um dos empenhos de Lacan (1958/1998) em seu programa
de retorno a Freud foi o de recuperar o valor do tratamento de ensaio
transformando-o nas entrevistas preliminares.
• Ocorre uma mudança de nomenclatura, contudo, a inspiração é mantida,
já que as entrevistas preliminares indicam a necessidade de um termo de
trabalho prévio à análise, permitindo a viabilização do “diagnóstico
estrutural diferencial”, bem como do manejo transferencial adequado.
• A sua importância clínica permanece, pois na década 1970, ou seja, na
última fase do seu ensino, Lacan afirma que “não há entrada em
análise, sem as entrevistas preliminares” (LACAN, 1971-72/2000-01,
p. 27).
DIAGNÓSTICO EM PSICANÁLISE a
– a – Pequeno Hans
• Desse modo, a regra de ouro da psicanálise, a associação livre, está
permeada por dois momentos distintos, mas complementares: o
“diagnóstico estrutural diferencial” e a “entrada em análise”.
• As “entrevistas preliminares” em sua função diagnóstica implicam
uma distinção importante para a entrada em análise: o diagnóstico
estrutural diferencial entre neurose e psicose, ou entre neurose e
perversão.
• Depois será encaminhada outra distinção, agora, entre os tipos
clínicos no interior da neurose (histérica, obsessiva, fóbica), ou
entre os tipos clínicos no interior da psicose (melancolia, paranoia,
esquizofrenia etc.).
ESTRUTURA FENÔMENO
DIAGNÓSTICO CLÍNICA
ESTRUTURAL NEUROSE SINTOMA
DIFERENCIAL PERVERSÃO FETICHE
PSICOSE ALUCINAÇÃO
1. NEUROSE: No recalque se produz a negação da
castração. Neste sentido, o sintoma neurótico se manifesta
como um retorno do recalcado.

2. PERVERSÃO: No desmentido também se produz a


negação da castração, contudo, a manifestação de retorno
DIAGNÓSTICO EM principal seria o fetiche do perverso.
PSICANÁLISE
3. PSICOSE: Na psicose, por fim, temos o chamado
automatismo mental, cuja expressão mais evidente é a
Três modos de negação da alucinação. A função simbólica do pai não opera na
castração, isto é, da falta psicose, o que desencadeia os “distúrbios de linguagem,
constitutiva. vozes alucinadas, intuições delirantes, ecos de
pensamento, pensamentos impostos”. A certeza delirante
impõe-se como blocos monolíticos, não dialetizáveis –
tendo em vista que a dúvida é característica do neurótico
porque denota uma divisão subjetiva.
TIPOS CLÍNICOS

NEUROSE PERVERSÃO PSICOSE


HISTÉRICA SADISMO PARANOIA
OBSESSIVA MASOQUISMO ESQUIZOFRENIA
FÓBICA FETICHISMO MELANCOLIA
Estruturas clínicas - diagnóstico em psicanálise
“É um modo de estar na relação com o outro, é um modo de habitar a
existência”.
“Uma estratégia de defesa frente a castração”.
Neurose:
-Neurose Fóbica
-Neurose obsessiva
-Neurose histérica
Psicose:
-Psicose paranoica
-Psicose esquizofrênica
-Melancolia – “maníaco-depressivo”

Perversão:
- Sadismo
- Masoquismo
- Fetichismo
Neste caminho observa-se que o diagnóstico
em psicanálise além de ser estrutural é também
transferencial, e exige do analista a
consideração da posição do sujeito em relação
DIAGNÓSTICO EM ao seu sintoma, ao seu delírio ou ao seu
PSICANÁLISE fetiche.
De certa forma, a formulação de um
diagnóstico em psicanálise nos afasta das
caricaturas engendradas pelos manuais
classificatórios: os chamados padrões de
comportamentos disfuncionais (DUNKER,
2015).
O que a psicanálise tem a
oferecer ao sujeito em seu
DIAGNÓSTICO EM estatuto de singularidade é a
PSICANÁLISE proposta de levá-lo a se
interrogar a respeito de sua
dimensão sintomal, delirante
ou fetichista.
REFERÊNCIAS
a – Pequeno Hans
Freud, S. Sobre o início do tratamento (1913). In: Fundamentos da clínica
psicanalítica: Grupo Autêntica, 2017. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788551301999

LACAN, J. (1958/1998). A direção do tratamento e os princípios de seu poder. In:


LACAN, J. Escritos (p.591-652). Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor.

_________. (1971-72/2000-01). O seminário, livro 19: O saber do psicanalista.


Publicação para circulação interna. Recife: Centro de Estudos Freudianos do Recife.

QUINET, A. (1991/2009). As 4+1 condições de análise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar


Ed.

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