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escutem o papa."
Por isso, é de grande atualidade o congresso "A nova Europa: migrações, integração,
segurança", que inicia nessa quinta-feira, em Roma, durante o East Forum 2016, com uma série
de personalidades das mais diversas origens, mas de autoridade comum. Do ministro do Interior
italiano, Alfano, ao presidente do Unicredit, Giuseppe Vita, do procurador nacional antimáfia
Franco Roberti a Romano Prodi, de Ismail Yesil (presidente da Agência para as Situações de
Emergência do governo turco) a Giuseppe Scognamiglio, diretor da revista EastWest.
Sobre o tema das migrações, quisemos ouvir o professor Zygmunt Bauman. Sociólogo e filósofo,
é o mais agudo estudioso da sociedade pós-moderna e contou em páginas memoráveis a angústia do
homem contemporâneo, transformado de produtor em consumidor.
A sua metáfora da "sociedade líquida" (em que o indivíduo é cada vez mais forçado a se adequar
aos comportamentos dos grupos para não se sentir excluído) já se tornou proverbial. Nascido na
Polônia, de pais judeus, Bauman conheceu, quando jovem, a experiência da fuga diante da
perseguição e do exílio. Talvez, também por isso, o seu ponto de vista sobre o encontro-confronto
entre migrantes e Europa é original e contracorrente.
"Hoje, muitas vezes, confunde-se entre fenômenos muito diferentes", diz Bauman. "Um deles é a
emigração-imigração, de um lugar para outro lugar. Outra coisa bem diferente é a migração: que
move de um lugar, é claro, mas para onde? Os dois fenômenos têm raízes muito diferentes raízes,
mas efeitos muito semelhantes, porque são semelhantes as condições psicossociais dos locais de
chegada. Umberto Eco, bem antes do atual pânico das migrações, observou, nos seus 'Cinco
escritos morais', que a imigração pode ser controlada, limitada, planejada ou aceita, enquanto que
este não é o caso das migrações. Como todos os fenômenos naturais, as migrações não podem ser
controladas. Eco, então, se fazia uma pergunta crucial: ainda é possível distinguir a imigração da
migração quando o planeta inteiro está se tornando palco de um incessante deslocamento cruzado
de povos? E respondia: a Europa se tornará um continente multirracial ou 'colorido', agrade-nos ou
não."
Eis a entrevista.
De acordo com muitos estudos, por exemplo, os do Pew Research Center, de Washington, hoje,
os europeus são os mais hostis aos migrantes. Como se explica isso, em um continente que, no
passado recente, também enviou migrantes para todo o mundo?
Hoje, os europeus têm medo do futuro, perderam a confiança na capacidade coletiva de mitigar os
seus excessos e de torná-lo mais amigável. A palavra "progresso", que ainda usamos por inércia,
evoca emoções opostos àquelas que Immanuel Kant sentia quando cunhou o termo. O pensamento
do futuro, hoje, desperta em nós, mais frequentemente, a ideia de uma catástrofe iminente, mas não
a de uma vida mais confortável. E o estrangeiro representa tudo o que há de instável e de
imprevisível na nossa vida. Por isso, olhemos para os migrantes como a um sinal visível e tangível
da fragilidade do nosso bem-estar e das suas perspectivas.
Como diria o filósofo Michael Walzer, em primeiro lugar, é sempre contra os estrangeiros que os
moradores de um bairro "se organizarão para defender as suas políticas e culturas locais" e tentarão
transformá-lo em um "pequeno Estado". Mas é muito difícil, para não dizer impossível, construir
um Estado futuro livre de estrangeiros. Portanto, a imagem-guia desse esforço é quase sempre
recuperada do passado. O passado como era, mas, mais frequentemente, como pode ser imaginado:
todo "nosso", sem nuances, ainda não atacado pela importuna proximidade dos "outros". É a reação
típica da política, que, quando perde a capacidade de moldar o futuro, tende a se transferir para o
espaço da memória coletiva, que pode ser facilmente manipulada e dá uma sensação de onipotência
feliz. É uma ilusão? Sim, é claro. Mas é uma ilusão que mantém à baila um número sempre
crescente de europeus.
Na campanha do referendo para a Brexit, os moradores das áreas com menos imigrantes votaram
para levar a Grã-Bretanha para fora da Europa. Londres, cidade de infinitas diásporas culturais e
étnicas, votou para ficar. A suspeita, portanto, é de que a hostilidade contra os "aliens" foi gerada,
principalmente, pelo fato de não ter havido a oportunidade de desenvolver a capacidade de interagir
com as diferenças. Na falta desta, é fácil que os estrangeiros se tornem o símbolo das forças, reais
mas distantes e desconhecidas, que regulam o andamento do mundo e geram aquele sentimento de
precariedade que angustia tantos europeus.
A Europa e outras partes do mundo estão se enchendo de muros. Não é extraordinário que,
diante de fenômenos tão complexos, nos confiemos a instrumentos tão primitivos?
Vivemos a crise da separação entre poder e política: os poderes se livram do controle da política, e a
política perde, assim, o mais importante dos pressupostos para produzir ações efetivas. Mas, acima
dessa crise, há outra, a incongruência assinalada pelo sociólogo Ulrich Beck: já vivemos em uma
condição cosmopolita de interdependência e troca em nível planetário, mas a nossa consciência
cosmopolita ainda está nos seus primeiros suspiros. O sociólogo estadunidense William Fielding
Ogburn, em 1922, em plena época colonialista e imperialista, cunhou a expressão "atraso cultural"
para descrever o desconforto dos "selvagens" que eram expostos a uma forte pressão no sentido da
modernização, mas ainda eram inocentes em relação à mentalidade moderna.
É como se hoje fôssemos nós, os europeus, a levar o bastão na corrida de re
vezamento entre os continentes, o que gera ansiedade. O mercado, sob a forma de mercadorias e de
bens, nos oferece uma ampla gama de antidepressivos e de "antitudo". Ele quer empurrar cada um
de nós a esculpir um pequeno nicho consolador e bem equipado. Cada um por si, e os outros que se
arranjem. Assim, nos cegamos em relação à natureza do nosso problema, em vez de nos ajudar a
erradicar as suas causas.