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ALINE DIAS

ADVOGADA
TEL: 11 94982-7227
E-MAIL: alinediass91@gmail.com

EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) DE DIREITO


DA ____ª VARA DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DA COMARCA DE
SUZANO/ SP

BRUNO HENRIQUE RODRIGUES MEIRELES, brasileiro, divorciado,


autônomo, portador da cédula de identidade sob o nº 44.833.775-7-SSP/SP, e do
CPF/MF sob o nº 360.389.398-06, residente e domiciliado na Estrada dos Moares,
nº 999, Chácara Monte Carlos, Suzano/ SP - CEP 08640-670, por sua advogada
que esta subscreve, conforme instrumento de mandato em anexo (DOC. 01), vem,
respeitosamente, à presença de Vossa Excelência propor a presente

AÇÃO DE RESTITUIÇÃO DE VALOR C/C INDENIZAÇÃO POR DANO


MORAL

em face do BANCO PAN S.A., pessoa jurídica de direito privado, inscrita no


CNPJ sob o nº 59.285.411/0053-44, com sede sito à Avenida Paulista, nº 1.374, 12º
andar, na Cidade de São Paulo/ SP - CEP 01310-100.

I - DOS FATOS

O Autor é titular da conta corrente nº 014296684-5, mantida com a parte Ré


há pelo menos 01 (um) ano na agência 0001 (DOC. 02).

Ocorre que no dia 16.03.2022, por volta das 14h, após verificar a sua conta
bancária por meio do aplicativo em seu aparelho de celular, o Autor notou uma
diferença em seu saldo bancário, foi quando percebeu em seu extrato que haviam

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sido realizadas 02 (duas) transferências para uma conta bancária desconhecida,


uma no valor de R$ 98,00 (noventa e oito reais) e a outra no valor de R$ 2.999,99
(dois mil, novecentos e noventa e nove reais e noventa e nove centavos),
totalizando assim, a quantia de R$ 3.097,99 (três mil reais e noventa e sete reais e
noventa e nove centavos) - DOC . 03 e 04 - comprovantes.

As quantias foram creditadas indevidamente para uma conta bancária


pertencente ao Banco Bradesco, cujo titular desconhecido chama-se João Lucas de
Sousa.

Após constatar o ocorrido em sua conta bancária, o Autor entrou em contato


com a central de atendimento de seu banco, para informar o acontecimento, bem
como buscar esclarecimentos e o ressarcimento da quantia, já que tais
transferências foram realizadas para uma conta desconhecida, sem o seu
conhecimento e consentimento.

Em razão disso, conforme recomendação dada pelo próprio banco, ora Ré, o
Autor fez um boletim de ocorrência perante a autoridade policial, no intuito de
averiguar acerca da fraude em sua conta bancária (DOC. 05 - Boletim de
Ocorrência). Pois bem.

A partir de então iniciou-se uma tremenda batalha, leia-se - descaso, para


que com o Autor, que ao ligar para o banco, ficava aguardando na linha até alguém
poder atendê-lo, quando não o transferiam de setor para setor, para no final a
ligação cair e o mesmo iniciar todo procedimento novamente.

Passados dias sem o retorno da parte Ré, o Autor decidiu formalizar uma
reclamação perante o Reclame Aqui (DOC. 06/ 07), foi onde finalmente a parte Ré
se pronunciou, porém sem êxito no sentido de restituir as quantias extraviadas de
sua conta bancária.
Não tendo outra alternativa, o Autor, senão buscar via judicial que o seu direito seja
devidamente reparado.

II - DO DIREITO

A) DA APLICAÇÃO DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

Antes de adentrarmos propriamente na questão meritória, faz-se necessário


enfatizar a perfeita aplicabilidade do sistema protetivo previsto no Código de Defesa
do Consumidor ao contrato em questão. De acordo com a Súmula 297 do STJ, in
verbis:

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“O Código de Defesa do Consumidor é aplicável às


instituições financeiras”.

Destarte, Vossa Excelência, não subsiste a mais mínima dúvida acerca da


aplicação do Código Brasileiro do Consumidor, Lei nº 8.078, de 11 de setembro de
1990, aos contratos firmados entre as instituições financeiras e os seus clientes.

B) DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA

O Código de Defesa do Consumidor prevê, em seu artigo 6º, inciso VIII, que
diante da hipossuficiência do consumidor frente ao fornecedor, sua defesa deve ser
facilitada com a inversão do ônus da prova. É o que se postula na presente
demanda.

Neste sentido leciona o Ilustre Nelson Nery Jr. e Rosa Maria de Andrade
Nery:

…O processo civil tradicional permite a convenção


sobre o ônus da prova, de sorte que as partes podem
estipular a inversão em relação ao critério da Lei (CPC
333 par. único a contrario sensu). O CDC permite a
inversão do ônus da prova em favor do consumidor,
sempre que for ou hipossuficiente ou verossímil sua
alegação. Trata-se de aplicação do princípio
constitucional da isonomia, pois o consumidor, como
parte reconhecidamente mais fraca e vulnerável na
relação de consumo (CDC 4º, I), tem de ser tratado de
forma diferente, a fim de que seja alcançada a
igualdade real entre os partícipes da relação de
consumo. O inciso comentado amolda-se
perfeitamente ao princípio da isonomia, na medida em
que trata desigualmente os desiguais, desigualdade
essa reconhecida pela própria lei.
(Código Civil anotado e legislação extravagante. 2ª ed.,
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003, p. 914).

Considerando, sobretudo, a hipossuficiência técnica e econômica do Autor,


encontram-se caracterizados os requisitos do art. 6º, VIII, do CDC para se impor a
inversão do ônus probatório e, por conseguinte, promover o equilíbrio contratual
entre os litigantes. Assim, requer-se a inversão do ônus da prova.

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C) DO DANO MATERIAL E DO DANO MORAL

O Autor sofreu efetivamente o dano material no montante de R$ 3.097,99


(três mil e noventa e sete reais e noventa e nove centavos), decorrente das
transferências indevidas, os quais devem ser ressarcidos com juros e correção
monetária desde a data do desembolso.

Nesse contexto, o Superior Tribunal de Justiça assevera, de acordo com a


Súmula 479, in verbis:

“As instituições financeiras respondem objetivamente


pelos danos gerados por fortuito interno relativo a
fraudes e delitos praticados por terceiros no âmbito de
operações bancárias”.

No entanto, não se pode relegar a plano inferior ou atribuir a mero


aborrecimento do cotidiano o dano moral sofrido.

Principalmente pelo fato do banco não fornecer ao Requerente alguma


resposta conclusiva sobre o caso, tanto no que se refere à averiguação da fraude,
quanto no ressarcimento de seu prejuízo.

O dano moral configura-se não somente pelo desgosto e apreensão ao


descobrir o “desaparecimento” de seu dinheiro, mas também pela forma negligente
como foi tratado, sendo certo que empreendeu todas as tentativas de resolver o
problema de forma amigável, infelizmente sem êxito!!

O código de Defesa do Consumidor (Lei nº 8.078/90) prevê o dever de


reparação, posto que ao enunciar os direitos do consumidor, em seu art. 6º, traz,
dentre outros, o direito de “a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e
morais, individuais, coletivos e difusos” (inciso VI) e “o acesso aos órgãos judiciários
e administrativos, com vistas à prevenção ou reparação de danos patrimoniais e
morais, individuais, coletivos ou difusos, assegurada a proteção jurídica,
administrativa e técnica aos necessitados” (inciso VII).

Vê-se, desde logo, que a própria lei já prevê a possibilidade de reparação de


danos morais decorrentes do sofrimento, do constrangimento, da situação vexatória
e do desconforto em que se encontra o Autor.

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Na verdade, prevalece o entendimento de que “o dano moral dispensa prova


em concreto, tratando-se de presunção absoluta, não sendo, igualmente, necessária
a prova do dano patrimonial”.
(Carlos Alberto Bittar, Reparação Civil por Danos Morais, ed. RT, 1993, pág. 204).

A jurisprudência pátria corrobora este entendimento, senão vejamos:

2007.001.35375 - APELAÇÃO CIVEL DES. CELIA


MELIGA PESSOA - Julgamento: 31/07/2007 - DECIMA
OITAVA CÂMARA CIVEL

APELAÇÃO CÍVEL. INDENIZAÇÃO. DANOS MORAIS


E MATERIAIS. CONTA CORRENTE. SAQUES
INDEVIDOS. REVELIA. SENTENÇA DE
PROCEDÊNCIA. Contumácia do réu. Presunção de
veracidade dos fatos. Documento juntado com a peça
de defesa. Ausência de indícios de que os saques
foram realizados pelo correntista ou por terceiro de sua
confiança. Descumprimento de ônus processual.
Realização de saques indevidos, reputada como
verdadeira. Restituição da integralidade dos valores.
Dano moral. Supressão indevida de quantias. Conta
corrente na qual o consumidor recebe seu salário.
Afetação da dignidade humana. Insegurança
financeira. Súbita e indevida privação das quantias
indispensáveis à subsistência. Fato, que, por si só,
é hábil a acarretar aflições e angústias. Abalo na
esfera emocional do indivíduo. Sumiço do dinheiro,
que interfere no equilíbrio psicológico e afeta o
bem-estar da parte. Valoração. Critérios norteadores.
Repercussão do dano. Possibilidade econômica do
ofensor e da vítima. Valor fixado na sentença.
Consonância com lógica do razoável e com a média
dos valores aplicados em casos similares. Minimização
do abalo emocional. Cunho preventivo. Instituição de
elevada capacidade econômica. Sucumbência
recíproca. Inocorrência. Improcedência apenas da
devolução em dobro das quantias debitadas.
Sucumbência mínima. Súmula 326 do STJ.
DESPROVIMENTO DO RECURSO.

2007.001.26096 - APELAÇÃO CIVEL DES.


FERDINALDO DO NASCIMENTO - Julgamento:
10/07/2007 - DECIMA NONA CÂMARA CIVEL

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APELAÇÃO CÍVEL. RELAÇÃO DE CONSUMO.


SAQUES E DÉBITOS INDEVIDOS NA CONTA
CORRENTE DAS APELANTES. SENTENÇA DE
IMPROCEDÊNCIA. INTELIGÊNCIA DO ART. 14 DO
CDC. RESPONSABILIDADE OBJETIVA DOS
PRESTADORES DE SERVIÇO. Cabe ao prestador de
serviço demonstrar a inexistência de defeito no serviço
ou culpa exclusiva da vítima ou de terceiro para se
eximir da responsabilidade. A ausência de provas dos
autos não pode ser interpretada em desfavor do
consumidor, uma vez que o ônus da prova é do banco.
A fraude efetivada por terceiros é um risco do
empreendimento que deve ser suportado pelo
prestador de serviços, e não pelo consumidor,
parte mais frágil da relação que dificilmente
conseguiria comprová-las. Precedentes do STJ. No
caso em tela, presente o alegado dano moral, que
deve ser indenizado. Sentença monocrática que deve
ser reformada para reconhecer os pedidos das
consumidoras quanto ao ressarcimento do valor
indevidamente retirado da conta corrente e quanto ao
dano moral suportado. Quantum moral fixado em R$
7.000,00 (sete mil reais). RECURSO CONHECIDO E
PARCIALMENTE PROVIDO.

A importância da indenização vai além do caso concreto, posto que a


sentença tem alcance muito elevado, na medida em que traz consequências ao
direito de toda sociedade.

Sendo assim, deve haver a correspondente e necessária exacerbação do


quantum da indenização, tendo em vista a gravidade da ofensa à honra do Autor.
Os efeitos sancionadores da sentença só serão produzidos e alcançarão sua
finalidade se esse quantum for suficientemente alto a ponto de apenar a parte Ré e
assim coibir que outros casos semelhantes aconteçam.

III - DOS PEDIDOS

Diante do exposto, requer de Vossa Excelência:

a) A citação da Ré na forma do artigo 19 da Lei nº 9.099/95, para, sob pena de


revelia, comparecer à audiência pré-designada, a fim de responder à
proposta de conciliação ou apresentar defesa, oferecendo provas;

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b) Seja julgado PROCEDENTE o pedido, condenando a Ré ao pagamento dos


danos materiais no valor de R$ 3.097,99 (três mil e noventa e sete reais e
noventa e nove centavos), acrescidos de juros e correção monetária desde
o desembolso;

c) Seja julgado PROCEDENTE o pedido, condenando a Ré ao pagamento do


valor equivalente a 10 (dez) salários mínimos a título de danos morais;

d) Seja condenada aos honorários advocatícios de 20% do valor da


condenação, em caso de recurso;

Pretende provar o alegado por todos os meios de provas admitidos em


direito, em especial a documental e ao depoimento pessoal do Autor.

Dá-se a causa o valor de R$ 15.217,99 (quinze mil, duzentos e dezessete reais e


noventa e nove centavos).

Termos em pede e espera DEFERIMENTO.

São Paulo, 25 de abril de 2022.

ALINE DIAS
OAB/SP 377.933

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