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FACULDADE DE DIREITO
Autor:
Orientador:
Luanda, 2021
UNIVERSIDADE AGOSTINHO NETO
FACULDADE DE DIREITO
Luanda, 2021
Epígrafe
i
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus pela vida e proteção, vivemos em tempos
dificies tantas mortes e acidentes mas de todos o Senhor me guardou, devo tudo
especialmente a Ele.
Em seguida agradecer a minha familia em particular minha querida mãe dona
Imaculada Manuela que muito me tem apoiado, se continuo estudando é graças ao
esforço dessa Senhora incansavel; agradecer também de uma forma especial a minha
namorada Sarah Pambo por todo o apoio e o carinho incansável que sempre me dá, aos
ii
meus amigos em especial: Adilson Germano, Edmilton Fontes e Limas Nzamba, pela
força muito significante o apoio que me dão, aos ilustres colegas-amigos (Miguel,
Adriano, José, Edson Killer) e todos outros que direita indireitamente me apoiam para
que eu continue intacto nessa etapa da vida.
Por fim não menos importante agradecer ao ilustre professor Féliz Bazabana,
primeiro pelas aulas ministradas e a forma com que são ministradas, mediante a
siituações de infelicidade e depois enfermidade foram poucas mais as que assisti foram
de facto magnificas e agradecer também pela oportunidade da realização desse trabalho
foi uma viagem cheia de experiências academicas.
Aesses e outros quanto não mencionei o meu:
Muito Obrigado!
SIGLAS E ABREVIATURAS
CC – Código Civil
CRA – Constituição da República de Angola
Cfr. - Confrontar
CPA – Código do Procedimento Administrativo
CPC – Código do Processo Civil
iii
RESUMO
Subordinada ao tema “O facto e a norma – Teoria da força normativa dos
factos ” a presente dissertação visa analisar o impacto dessa teoria no modo de ser do
Direito. Partindo da tese que o Direito serve para regular o facto e não pode ignorar a
factualidade, portanto fizemos uma abordagem em detalhes da mesma mesma teoria da
força normativa dos factos, considerando que doutrinalmente podemos afirmar que essa
teoria é aquela que defende que há factos que ditam normas juridicas, teve duas
correntes ideologicas que tiveram na genese dessa teoria isso apartir dos anos 1913 que
iv
surgiu a obra de um Jurista classico na epoca Ehrlich – Fundamentos da Sociologia do
Direito, onde o mesmo entende que grande parte do direito não tem sua origem no
Estado e boa parte não é por ele criada é criado com base nas condutas aceitas na
sociedade, defende a factualidade como regulador e criador de normas jurídicas; alguns
anos depôs essa teoria foi combatida severamente por Kelsen em 2009; o mesmo separa
os simples factos dos factos jurídicos e acrescenta essencialmente diz que a
factualidade por si só não pode ditar o normativo, mediante esse antagonismo que no
fim se balança bem os dois lados vimos também o desenvolvimento do ponto de vista
doutrinal dessa teoria e como é encarada nos dias de hoje, sua força e aplicabilidade em
especial no ordenamento jurídico angolano.
Subordinated to the theme “The fact and the norm - Theory of the normative
force of facts” this dissertation analyzes the impact of this theory on the way of being of
Law. Starting from the thesis that the Law serves to regulate the fact and cannot ignore
the factuality, therefore, respond to an approach in detail of the same theory of the
normative force of facts, considering that doctrinally we can say that this theory is the
one that defends that there are facts that dictate legal norms, there were two ideological
currents that had in the genesis of this theory, starting in the 1913s, when the work of a v
classic jurist at the time Ehrlich appeared - Fundamentals of Sociology of Law, where
he understands that a large part of law does not have its origin in the State and a large
part is not created by it, it is created based on the conducts accepted in society, it
defends factuality as a regulator and creator of legal norms; a few years after this theory
was severely opposed by Kelsen in 2009; it separates the simple facts from the legal
facts and essentially adds that it says that factuality alone cannot dictate the normative,
through this antagonism that in the end balances well on both sides, we have also seen
the development of the doctrinal point of view of this theory and how is seen today, its
strength and applicability, especially in the Angolan legal system.
1
Platão em A República
2
No título original, Grundlegung der Soziologie des Rechts (EHRLICH, 1913).
3
No título original, Reine Rechtslehre (KELSEN, 1934).
4
Professores da faculdade de direito da Universidade Agostinho Neto, no livro O Direito Introdução e
Noções Fundamentais pág. 75
Para o presente trabalho procederemos a uma análise da histórica, social e
jurídica da teoria da força normativa, que, de um modo geral, podemos considerar que é
um fenómeno presente nos ordenamentos jurídico da maioria dos Estados modernos.
Problematização/Pergunta de partida
Sendo assim, de modo a definirmos um fio lógico que melhor situe a nossa
pesquisa, para o presente trabalho, vamos analisar a seguinte pergunta de partida: «será
que uma conduta que de facto se generaliza entre os membros de uma sociedade se 2
transforma em nova norma jurídica?
Hipótese
Objectivos da pesquisa
O trabalho tem os seguintes objectivos:
Objectivo Geral:
Contribuir para o desenvolvimento do conhecimento jurídico no que
tange a Teoria da força normativa dos factos.
Objectivos Específicos:
Apresentar as ideias que contribuíram para o desenvolvimento da teoria
da força normativa dos factos;
Mostrar a estrutura da teoria da força normativa dos factos numa
perspectiva actualista, bem como sua importância na estrutura da ordem
jurídica;
Fazer o enquadramento da teoria no ordenamento jurídico angolano
Justificativa
O presente trabalho foi elaborado com bases pesquisas académicas ainda que
incipiente e desenvolvido numa perspectiva avaliativa, este trabalho pode ser encarado
como parte de um esforço da formação e acréscimo ao entendimento que se deve ter
sobre a teoria da força normativa dos factos. Portanto é de suma importância ao jurista,
estudante, apreciador do Direito e aos profissionais das ciências auxiliares saber dessa
mesma teoria, contando que é uma realidade presente em muitos ordenamentos
jurídicos, tanto que retrata de criação de normais através da factualidade. 3
Face a isso, consideramos que o trabalho apresenta duas (2) relevâncias:
1.ª Relevância científico-académica: servir como um instrumento de pesquisa quando se
falar sobre O facto e a Norma – Teoria da força normativa dos factos, embora cientes de
obras de autor com reconhecida idoneidade também já tenham abordado sobre o mesmo
tema;
2.ª Relevância social: prestar um contributo à sociedade com vista à aquisição do
entendimento sobre esta mesma teoria, saber como uma conduta sendo ela generalizada
entre membros de uma determinada sociedade pode ser positivada tornando-se uma
norma, (como também não poderá).
Metodologia
Estrutura do trabalho
É, portanto, certo para qualquer jurista que o Direito parte do facto e existe para
regular o fáctico. Nas palavras de J. BAPTISTA MACHADO, refere o ilustre Professor
relativamente à teoria da força normativa dos factos: “Esta teoria afirma que há factos
que ditam as normas jurídicas, designadamente factos que ditam mudanças de regimes 5
5
legais . (…) Pelo que a indagação empírica exaustiva dos factos sociais poderia vir
eventualmente a tornar supérfluas as decisões fundadas em juízos de valor: o direito
deveria ser lido no facto social”.
Há, contudo, que refrear este entendimento, continuando na esteira do Professor,
tendo em conta dois limites:
1) Que uma conduta generalizada na sociedade, só poderá influenciar o Direito
vigente, se esta for tida pela sociedade como justa e correcta;
2) No fundo, que esta conduta seja compatível o “sistema normativo global”
institucionalizado, ou caso contrário, seja relevante ao ponto de mudar as concepções
base deste sistema normativo.
A este propósito, a Doutrina distingue os simples factos dos factos jurídicos.
ANA PRATA define os factos jurídicos enquanto “Qualquer facto, natural ou humano,
que produz efeitos de direito. Em sentido estrito, facto jurídico, por contraposição a
acto jurídico, é aquele que não consiste num acto de vontade humana”.6 BAPTISTA
MACHADO refere que “o facto jurídico é na verdade o elemento dinâmico que produz
alterações na vida jurídica ou no mundo do direito. É a tais factos que se referem as
hipóteses ou factispecies legais.”. O Professor distingue igualmente os puros factos
jurídicos – independentes da vontade do Homem, quer os exteriores a ele, leia-se os
factos naturais, quer os internos, como o conhecimento e a intenção; dos actos jurídicos
– que são actos dependentes da vontade humana.7 Assim, o tempo é seguramente
reconhecido enquanto o facto jurídico natural mais relevante. Os efeitos da sua
passagem urgem adaptar do Direito à realidade, o que se traduziu em institutos como a
5
Cfr. MACHADO, J. Baptista – Introdução ao Direito e ao Discurso Legitimador. 4.ª reimp. Coimbra:
Livraria Almedina, 1990. Pp. 44 e 45.
6
Cfr. PRATA, Ana – Dicionário jurídico. 5.ª ed. reimp. Coimbra: Almedina, 2011. Vol. I. P. 652.
7
Cfr. MACHADO, J. Baptista – Introdução ao Direito e ao Discurso Legitimador. op. cit. Pp.82
e 83.
prescrição ou a caducidade. Mas também levaram ao estudo da aplicação da lei no
tempo, e ao desenvolver de princípios como o da não retroactividade ou da protecção da
confiança e do existente. Com o evoluir do estudo do Direito, originaram inclusive o
acautelar de situações contra legem, que se consideram consolidadas pela mera
passagem do tempo – como a usucapião e a acessão; bem como, no Direito Público, da
protecção dos direitos adquiridos, que não podem ser retirados, por via da tutela das
expectativas jurídicas, e da confiança, criadas pela actuação da Administração, graças à
passagem do tempo. Remetemo-nos, no fundo, às sempre sapientes palavras de
COLAÇO ANTUNES: “O Direito transforma o tempo, porque tem necessidade de 6
existir num presente que é passado”.8
Na Filosofia do Direito, variadíssimas são as teses que, levando a teoria da força
normativa do facto ao seu exponente máximo, compreendem o Direito como uma
qualquer ciência natural, resultante de um método indutivo. Vejam-se as palavras de
MIGUEL RAELE a este propósito: “(…) a questão se resumia no programa já
enunciado por Augusto Comte ao vaticinar a substituição da «metafísica dos fazedores
de leis» pela «ciência positiva dos descobridores de leis». Foi essa a direcção seguida
por todas as formas de sociologismo jurídico, isto é, pelos naturalistas e realistas do
direito (…). A essa luz, direito só pode ser o direito em sua eficácia social, do qual as
regras jurídicas seriam signos, como sínteses explicativas de uma classe de resultados
cientificamente previsíveis”.9
Claro que também nos convém passar pelos pioneiros do assunto, para o efeito
de forma detalhada estaremos falando no ponto seguinte em forma de subtítulo:
8
6 Cfr. ANTUNES, Luís Filipe Colaço; colab. COUTINHO, Juliana Ferraz – A ciência jurídica administrativa:
noções fundamentais. Coimbra: Almedina, 2012. Pp. 356. 7
9
Cfr. RAELE, Miguel – Teoria Tridimensional do Direito: Teoria da Justiça, Fontes e Modelos de Direito.
5.ª ed. Lisboa: Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 2003. Pp. 37 e seguintes.
como tarefa da ciência do direito descrever o conteúdo do sistema de direito positivo
vigente. A escola histórica está estreitamente associada à ascensão dos doutrinadores, o
corpo de professores das faculdades de direito que, actuando com certa independência
em relação aos poderes políticos, passou exercer o protagonismo na produção e
disseminação da ciência do direito, contribuindo para a racionalização do trabalho
prático-profissional dos juristas.
Como foi apresentado a título de nota introdutória a teoria da força normativa
dos factos teve sua génese com base nos trabalhos de Eugen Ehrlich (1862-1922) e
Hans Kelsen (1881-1973). Todavia para maior compreensão vamos considerar nesse 7
próximo ponto aspectos relevantes de suas obras:
10
(EHRLICH, 1986, p. 16)
jurista naturalmente pode replicar que todos cumprem seus deveres somente porque
sabem que podem ser obrigados a cumpri-los através dos tribunais. Mas se ele se desse
ao trabalho de observar as pessoas em seu agir no dia-a-dia, facilmente se convenceria
de que estas pessoas nem pensam numa coação que lhes possa ser imposta por
tribunais. Via de regra agem como que por instinto e, quando este não é o caso, suas
justificativas são bem outras: poderiam ter problemas com seus parentes, perder seu
posto, perder sua clientela, ser estigmatizados como encrenqueiros, desonestos,
irresponsáveis. [...] o que as pessoas nesta situação fazem ou deixam de fazer, mesmo
que seja por obrigação jurídica, frequentemente é bem outra coisa, e em geral muito 8
mais do que consegue a coação oficial. 11
Na teoria desenvolvida por Ehrlich, fundado na sociologia, o direito não se
aprisiona nos códigos, não se resume em mera prescrição jurídica ou no chamado direito
legislado/positivado. Ao contrário, surge do agir humano, cuja eficácia pode ser aferida
todos os dias e independe da coerção estatal, Ehrlich entendeu que o Direito Vivo no
conteúdo de um documento não é aquilo que os tribunais no caso de uma disputa
jurídica declaram como obrigatório, mas somente aquilo que as partes, na vida real, de
fato observam.
13
Cunha (2008, p. 281)
14
(KELSEN, 2009, p. 8487).
distinguir causalidade de imputação, Uma outra distinção apontada por Kelsen (1999) é
que, na relação de causalidade, os elos que unem os eventos se desdobram em uma
cadeia infinita, ou seja, a consequência produzida por uma determinada causa é, por sua
vez, causa produtora de outro evento e assim sucessivamente. Da mesma forma, se
percorrermos esse trajecto em sentido inverso, a causa de um determinado evento é, por
sua vez, consequência provocada por uma causa mais remota e assim sucessivamente.
Com o princípio da imputação, tal não ocorre, já que a regra de “causação” é fruto da
vontade humana, pelo que a série de imputação é limitada, existe um ponto terminal.
10
1.3.3. – Ehrlich X Kelsen
15
Castro (2016, p. 53-54)
16
(1997, p. 93 apud SPAREMBERGER, 2003, p. 117-118)
senão a conceber o Direito positivo de acordo com a sua própria essência e a
compreendê-lo através de uma análise da sua estrutura”, sendo que a Teoria Pura do
Direito, por surgir em forte contradição com a ciência jurídica tradicional, revestida de
um carácter ideológico, revela-se “como verdadeira ciência do Direito”. Ao resumir os
pressupostos em que se fundam a Teoria Pura e o Direito Vivo, a pureza proposta por
Kelsen é uma delimitação da actividade de descrição do direito, sendo que Ehrlich se
permite “descrever a realidade social tendo objecto de estudo regularidades de
comportamento e abstrair, a partir destes comportamentos observados, regras que
comporiam o direito „vivo‟...”. 12
Oposto ao que se vê em Ehrlich, a sociologia como ciência do direito e a
necessidade da observação empírica do comportamento humano, em Kelsen o Direito
seria um conjunto de regras abstractas que se determinam mutuamente e, portanto, não
teria nenhum tipo de correspondência com a realidade empírica, nem com
comportamentos regulares observáveis. Se de um lado o Direito Vivo não se limita ao
texto legislado, positivado, mas que pode ser encontrado pela observação empírica do
comportamento humano, do agir das pessoas independentemente da ameaça de coação
estatal e que, por isso, permite reconhecer a existência de normas não prescritas, mas
observadas/cumpridas; de outro o normativismo jurídico, depurado de quaisquer
ideologias, dita uma ciência do direito cujo conhecimento se limita à análise de sua
própria estrutura em busca de desvendar seu objecto
17
Cfr. NEVES, A. Castanheira – Fontes do Direito: Contributo para a revisão do seu problema. Separata
do número especial do Boletim da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra – Estudos em
homenagem aos Professores Manuel Paulo Merêa e Guilherme Braga da Cruz. Coimbra, 1985. Pp. 19 e
20.
18
Cfr. GILISSEN, JOHN – Introdução Histórica ao Direito. 8.ª ed. Trad. HESPANHA, António Manuel;
MALHEIROS, Manuel Macaísta. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2016. Pp. 487 e 488.
relativas à organização e ao planeamento das cidades e à sua evolução, incluindo a
adaptação destas às necessidades dos seus habitantes.
2. Arquitectura urbana. 3. Modo de vida característico das grandes cidades. De
urbano+-ismo.”. 116 De forma eloquente, FERNANDO ALVES CORREIA qualifica o
urbanismo “como facto social [que] expressa o fenómeno secular do crescimento da
cidade, devido à atracão que a vida desta exerce sobre as populações rurais”. Pese
embora o Professor considere que o sentido da palavra urbanismo é ainda compreendido
como técnica, ciência e política.117 Por sua vez, MANUEL DA COSTA LOBO,
distingue os conceitos de “urbanologia” e “urbanístisca”, reconduzindo o primeiro à 14
“ciência que trata da análise e compreensão do espaço urbano, (…) quando visa o seu
estudo fundamentalmente retrospectivo de análise”, por contraposição ao urbanismo,
que “intente formular uma teoria sobre os planos e a sua condução”, ou seja, mais do
que o estudo das cidades, o estudo dos planos das cidades. Já a “urbanístisca” seriam
“as políticas e estratégias do domínio do planeamento urbano e regional (…) o que
permitirá usar a expressão planeamento urbanístico para o processo de intervenção a
uma escala tanto urbana como regional.”. 118 COLAÇO ANTUNES começa por
defender o entender do urbanismo como ciência ou arte de ordenação, relembrando que,
no Renascimento, o urbanismo era reconduzido à ideia de “ordenação estética da
cidade”. Contudo, com o desenvolver das cidades, foi ultrapassada a dimensão
meramente artística, e o urbanismo passou a ser entendido como técnica e ciência.
Atualmente caminhamos para um urbanismo “funcional-racionalista”, assente na
pluralidade de funções da cidade, que justifica o que o Professor qualifica, na esteira de
Stella Richter, a “urbanoplanocracia” atual. Ao que se seguiu, o urbanismo como
técnica: “com destaque para o alinhamento, o zonamento ou a cidade-jardim”.
Defendendo, em suma, uma nova conceção de urbanismo, que não descura o contexto
envolvente da cidade, e a sua expansão racional e sustentada, pese embora o Professor
descarte igualmente a noção mais ampla de “orbenismo” que defendemos infra.119
Considerando a raiz etimológica da palavra, urbanismo vem de urbe ou urbis, a
palavra latina para cidade, não podemos deixar de considerar que a concessão mais
correcta do ponto de sentido histórico-etimológico será a mais restrita. Contudo,
actualmente a evolução deste ramo do Direito, tem sido no sentido de ordenar o
território tout court, independentemente de se tratar uma cidade, vila ou aldeia, como
veremos infra, pela análise das normas que regulamentam este ramo de Direito.
Em termos históricos, FREITAS DO AMARAL começa por explicar que a
política urbanística, entendida como uma política pública, é tão velha como a história da
humanidade. Assim, normas de matriz urbanística, para garantir a segurança das
edificações, salubridade dos edifícios, qualidade estética e ordenamento racional do
território urbano são características, desde logo e sem surpresa diríamos, da “polis
grega” e da “civitas romana”. O Professor esclarece, ainda, que a intervenção do Estado
nestas matérias se verificou durante toda a Idade Média e Moderna e atingiu o seu
apogeu, com as cidades dos Estado Absoluto e da era do crescimento urbano
desenfreado do século XIX e XX, potenciado pela Revolução Industrial.126 A este
propósito, FREITAS DO AMARAL distingue o conceito de ordenamento do território –
com raiz francesa, na década de 50 do século passado, enquanto “procura de uma 15
melhor repartição geográfica, num dado país, da localização dos homens e das suas
actividades” – ou seja, repartição geográfica mais racional das actividades económicas,
descentralização dos serviços públicos, travagem do crescimento desenfreado das
grandes cidades, criação de novos pólos de crescimento urbano e industrial, entre
outros. Em suma, o Professor avança a definição de “acção desenvolvida pela
Administração Pública no sentido de assegurar, no quadro geográfico de um certo país,
a melhor estrutura das implantações humanas em função dos recursos naturais e das
exigências económicas, com vista ao desenvolvimento harmónico das diferentes regiões
que o compõem”. Pelo contrário, o urbanismo é de matriz urbana, ou seja, não há no
entender do Professor, urbanismo nacional ou regional – pelo que o urbanismo será o
“sistema de normas jurídicas que, no quadro de um conjunto de orientações em matéria
de Ordenamento do Território, disciplinam a actuação da Administração Pública e dos
particulares com vista a obter uma ordenação racional das cidades e da sua expansão.”
19
Usa-se essa expressão para designar uma lei reconhecida, aprovada e posta em vigor. Trata-se do
conceito de Direito Positivo, que é dentre varios conceitos entende-se como sendo o atributo as normas
juridicas quando são são reconhecidas e postas a vigorar uma determinada sociedade.
20
A questão da positivação do costume é um trabalho muito complexo, e difícil de tratar talvez na
Europa seja fácil, mas nós em África em particular Angola em particular é muito complexo, porque o
elemento da convicção de obrigatoriedade torna tudo complicado uns pode consciencializar que o
suposto acto é obrigatório, mas outros não, a determinação do elemento convicção de obrigatoriedade
das problemáticas aqui abordadas nesse trabalho quanto ao antagonismo observado
entre as teorias defendidas por Ehrlich e Kelsen; neste caso contando naquilo que é a
hermenêutica jurídica com base aos cuidados métodos de interpretação jurídica, fazendo
assim uma interpretação subjectiva21. O presente artigo da constituição em observação
nos mostra que o legislador entende até um certo ponto o posicionamento de Ehrlich X
Kelsen. Primeiro quanto ao posicionamento de Ehrlich a quanto defende que grande
parte do direito não tem sua origem no Estado e boa parte não é por ele criada. A lei
positivada, produto da tarefa do legislador, para Ehrlich não é e nem pode ser tida como
origem do direito. O agir humano não encontra vinculação directa a ameaça de coação 16
oficial imposta pelos tribunais. Antes pelo contrário, considera que em todo tempo o
homem está submetido à coação psicológica situada fora do campo do direito,
decorrente das relações estabelecidas pelo regramento social (e não legal), nesse sentido
observa-se claramente que Ehrlich entende embora de uma forma radical que são os
factos que ditam as normas jurídicas e a primeira parte do artigo 7º CRA o legislador
entende que o costume enquanto um facto social, tem a sua devida observação na lei
magna partindo do princípio que são os factos que ditam as normas jurídicas mas dentro
de um limite onde observamos a parte de Kelsen que eu em particular entendo não
apenas como uma contradição mas sim uma parte complementar da teoria de Ehrlich a
quando defende que na afirmação evidente de que o objecto da ciência jurídica é o
Direito, está contida a afirmação – menos evidente – de que são as normas jurídicas o
objecto da ciência jurídica, de tal maneira que a conduta humana importaria apenas a
partir do momento em que estabelecida no conteúdo da norma. A ciência jurídica é uma
ciência normativa, porquanto toma a norma como seu objecto. Nesse sentido vemos
também claramente que a segunda parte do artigo em consideração observa o princípio
torna difícil a positivação, por isso para evitar possíveis discriminações, o Direito limita-se a reconhecer e
validar a força do costume desde que não seja inconstitucional. É um exemplo o caso do Alargamento, o
direito reconhece, mas como vimos não positiva, ou seja, não estabelece o facto como uma norma
jurídica para evitar choques, Ora imaginemos que seja positivado, com certeza a lei também teria que
regular; ou uniformiza-se os dotes do Alambamento? Seria muito conflituoso, porque cada etnia pede
de acordo as suas convicções. Logo lembrando nas palavras do Dr. Filipe Nbumbo (Jurista e Professor da
Faculdade de Direito UCAN) a positivação do costume em Angola é uma quase utopia, devido a
diversidade de costumes que existem, por isso muitas vezes, o legislador, para evitar conflitos étnicos e
não pensar que dá preferência uma em relação a outra, limita-se a reconhecer, desde que não atentam
contra a constituição e a dignidade da pessoa humana, daí resulta está dificuldade, muito dos costumes
que temos são sazonais e dificilmente temos costumes globais e positivar costume sazonais poderia
estar a ferir-se interesses de grupos, como disse não conheço nenhum costume positivada pelas razões
que apresentei, mas acho que pode haver algumas.
21
Também designada como MENS LEGISLATORIS termo derivado do latim que significa espírito do
legislador, é a interpretação em o intérprete busca entender não a lei mas a vontade do legislador ao
legislar a mesma
defendido por Kelsen, a quanto diz que os factos (costume) validos e considerados
desde que não vão contra a lei, tanto que Kelsen observa que não é bem assim que os
factos jurídicos ditam as normas, o facto importa desde o momento que é normativado,
estendendo assim um limite na teoria da força normativa dos factos. Nisso responde a
problemática ou pergunta de iniciativa que esta na base desse trabalho: «será que uma
conduta que de facto se generaliza entre os membros de uma sociedade se transforma
em nova norma jurídica?
17
IV – CONCLUSÃO