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SOCIEDADE EDUCACIONAL DE SANTA CATARINA - UNISOCIESC

BRUNO ADRIANO BARTSCH

A PRECARIZAÇÃO DA DEMOCRATIZAÇÃO DO ACESSO À JUSTIÇA NO


BRASIL

BLUMENAU
2021
BRUNO ADRIANO BARTSCH

A PRECARIZAÇÃO DA DEMOCRATIZAÇÃO DO ACESSO À JUSTIÇA NO


BRASIL

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Sociedade


Educacional de Santa Catarina – UNISOCIESC, como requisito parcial à
obtenção de título de Bacharel em Direito.

Orientadora Msc. Juliana Perdoncini Correia Hoffmann

BLUMENAU
2021
DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a duas pessoas:


primeiramente, à minha mãe, que sempre esteve
presente nos melhores e nos piores momentos,
dedicando sua vida a me ensinar os valores e
princípios mais importantes.
À “Tata”, que me viu dar os primeiros passos, me
ouviu falar as primeiras palavras, sempre me
apoiou incondicionalmente e ensinou que família
não é apenas sangue.
AGRADECIMENTOS

Agradeço inicialmente a todos que de alguma forma contribuíram positivamente


no decorrer destes últimos cinco anos, tanto com atitudes, quanto com palavras.
À professora Marilu Antunes da Silva, pessoa que tanto admiro e exímia
educadora, com quem tive o prazer de aprender durante o ensino médio e início da
faculdade, sendo responsável por me apresentar uma visão diferente do mundo e
despertar em mim o sentimento de empatia. Serei sempre imensamente grato!
Ao professor Tiago Meyer Mendes, meu primeiro orientador, que acolheu
minhas ideias e contribuiu para aperfeiçoá-las.
À minha orientadora Juliana Perdoncini Correia Hoffmann, que me “acolheu” a
partir do momento em que o professor Tiago não pode continuar sendo meu
orientador.
Aos meus amigos, que sempre me incentivaram e compreenderam minha
ausência em momentos que foram importantes para eles, mas especialmente àqueles
que ouviram meus desabafos nos momentos de estresse e me incentivaram a não
desistir.
Por último, mas não menos importante, agradeço ao meu pai, que mesmo não
se fazendo presente, subsidiou meus estudos, o que me permitiu chegar até aqui.
“Tenho pensamentos que, se pudesse revelá-los e fazê-los
viver, acrescentariam nova luminosidade às estrelas, nova
beleza ao mundo e maior amor ao coração dos homens"
Fernando Pessoa
RESUMO

O presente trabalho visa realizar a abordagem histórica do acesso à justiça,


especialmente a instauração e desenvolvimento deste direito no Brasil,
transformando-se em um dos princípios que sustentam o Estado Democrático de
Direito. Ao discorrer a respeito dos aspectos sociológicos correlacionados ao princípio,
serão identificados os obstáculos sociais e organizacionais que figuram como
impedimentos para a democratização do acesso, com ênfase naqueles enfrentados
por pessoas hipossuficientes econômica e culturalmente para efetivarem seus
direitos. Busca-se evidenciar que a sistemática atual de judicialização das avenças
não tem se mostrado producente no que tange a função de difundir o acesso à justiça,
de modo que os métodos alternativos de resolução de conflitos e políticas públicas
voltadas para a área da educação serão apresentados como os pontos centrais para
solucionar o problema, devendo igualmente resultar na modificação da acepção
comum a respeito de “acessar a justiça”, que deve ceder o lugar ao conceito
contemporâneo, que contempla o acesso a uma ordem jurídica justa e não apenas a
possibilidade de acessar o Poder Judiciário.

Palavras-chave: Acesso à justiça; Democratização; Precarização; Meios alternativos


de resolução de conflitos.
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Representação esquemática do Índice de Acesso à Justiça e seus


componentes ............................................................................................................. 23
LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Relação de variáveis finais por tipo de Capital ........................................ 24


LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Tabela das duas primeiras Componentes Principais por tipo de Capital . 25
Tabela 2 - Resultados das variáveis finais do Capital Institucional Judiciário ........... 27
Tabela 3 – Escores totais e por Capital para cada tipo de Justiça ............................ 28
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 1
1 O PRINCÍPIO DO ACESSO À JUSTIÇA ............................................................. 3
1.1 BREVE HISTÓRICO DO ACESSO À JUSTIÇA NO MUNDO............................. 3
1.2 AS CONSTITUÇÕES BRASILEIRAS E A CONSAGRAÇÃO DO PRINCÍPIO DO
ACESSO À JUSTIÇA .................................................................................................. 4
1.3 ASPECTOS SOCIOLÓGICOS............................................................................ 7
2 A APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL NO ORDENAMENTO
JURÍDICO BRASILEIRO .......................................................................................... 11
2.1 LEGISLAÇÕES ................................................................................................. 11
2.2 HISTÓRIA E CONTRIBUIÇÕES DOS JUIZADOS ESPECIAIS........................ 17
2.3 ÍNDICE DE ACESSO À JUSTIÇA..................................................................... 21
3 PRECARIZAÇÃO DO ACESSO À JUSTIÇA..................................................... 31
3.1 HIPOSSUFICIÊNCIA CULTURAL E ECONÔMICA EM MEIO ÀS CLASSES
SOCIAIS .................................................................................................................... 31
3.2 SEGURANÇA JURÍDICA PROCESSUAL X ACESSO À JUSTIÇA .................. 33
3.3 ACESSO À JUSTIÇA NÃO É APENAS ACESSO AO PODER JUDICIÁRIO ... 36
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................... 41
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 43
ANEXOS ................................................................................................................... 49
INTRODUÇÃO

A Constituição de 1988 dispõe em seu preâmbulo que a justiça é um “valor


supremo”1 e sedimentou em meio aos demais direitos e garantias individuais arroladas
no artigo 5º, o direito de acesso à justiça, dispondo no inciso XXXV que “a lei não
excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito” (BRASIL, 1988).
Em que pese tal garantia, seria possível asseverar que, de fato, este direito é
assegurado a todos, e os cidadãos possuem pleno acesso à tutela jurisdicional, na
mesma medida?
Diante do gigantesco abismo compreendido entre as classes sociais no Brasil,
a democratização dos direitos e garantias fundamentais tem sofrido um processo de
precarização, a partir do qual as pessoas hipossuficientes economicamente e
culturalmente enfrentam obstáculos para concretizar e dispor de seus direitos sociais
básicos.
A pesquisa é de ordem qualitativa e o desenvolvimento deu-se por meio de
investigação de referencial bibliográfico e documental sobre a temática, em uma
perspectiva de identificar a origem das dificuldades que impedem as pessoas de
exercer e usufruir de seus direitos e garantias positivadas. Esses procedimentos
conduziram o trabalho, garantindo o compromisso traçado no projeto de pesquisa.
A pesquisa bibliográfica foi realizada por meio de consultas a livros, revistas,
artigos, dissertações e teses.
A criação de políticas públicas e realização de estudos, voltados
exclusivamente aos métodos previstos por seus idealizadores não tem se mostrado
suficiente para aferir a situação real do país em relação ao tema. Daí surge a
relevância de se investigar referenciais teóricos e apresentar propostas que viabilizem
a modificação do panorama atual.
No primeiro capítulo, busca-se abordar brevemente a história do acesso à
justiça no mundo, discorrer a respeito da instauração e desenvolvimento do princípio

1 O preâmbulo da Constituição de 1988, que dispõe que “[...] destinado a assegurar o exercício dos
direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade
e a justiça como valores supremos [...]” (BRASIL, 1988)
1
de acesso à justiça no Brasil em meio às sete constituições outorgadas e identificar
os aspectos sociológicos correlacionados ao referido princípio.
No segundo capítulo, foi realizada uma análise da conjuntura das disposições
normativas que versam a respeito deste direito e a forma como ocorre sua aplicação
no ordenamento jurídico brasileiro, promovendo a análise de um estudo publicado
pelo Conselho Nacional de Justiça, que teve por finalidade mensurar a efetividade do
acesso à justiça.
No terceiro capítulo, objetivou-se evidenciar a precarização do acesso à justiça,
demonstrando sua correlação com a hipossuficiência cultural e econômica em meio
às classes sociais, a relação entre a segurança jurídica e o princípio e que o acesso
não se limita ao ajuizamento de uma ação judicial para demandar a tutela do Estado
através do Poder Judiciário.
A construção do atual modelo processualista, que preza pela judicialização dos
conflitos não tem se mostrado eficaz, tampouco suficiente, porquanto, o Brasil clama
pela efetivação dos direitos e garantias positivados.
Desta forma, o presente trabalho sugere a revisão da acepção comum a
respeito de o que realmente significa dispor de “acesso à justiça” e o aperfeiçoamento
dos métodos alternativos de resolução de conflitos.

2
1 O PRINCÍPIO DO ACESSO À JUSTIÇA

1.1 BREVE HISTÓRICO DO ACESSO À JUSTIÇA NO MUNDO

A conceituação de “acesso à justiça” há muito é objeto de divergências


doutrinárias e jurisprudenciais, entretanto, ao passo em que os Estados e sociedades
se desenvolveram, em especial os modelos modernos, portanto, democráticos, o
referido tema surgiu em diferentes momentos e foi recebido por uma pluralidade de
formas distintas nos mais diversos ordenamentos jurídicos.
Desde a Antiguidade Clássica, a discussão relacionada ao acesso à justiça se
faz presente em meio às sociedades, ainda que de forma rudimentar e muito diferente
da atual.
Em Atenas, eram designados dez advogados, a cada ano, para a defesa dos
menos favorecidos (REZENDE FILHO, 1962 apud GONÇALVES, 2016, p. 3),
enquanto no Direito Romano, durante o período do “processo extraordinário”, em que
o Império assumiu o poder da jurisdição, surgiu em meio a sociedade a necessidade
de acessar serviços jurídicos, que passaram a ser ofertados pelo Império aos
cidadãos necessitados (STURMER, 2015).
Logo no início da Revolução Francesa, precisamente no ano de 1789 e a partir
dos ideais de liberdade2, igualde3 e fraternidade4, surgiu a Declaração dos Direitos do
Homem e do Cidadão, documento revolucionário que proclamou direitos e garantias
individuais, estabelecendo o princípio da igualdade formal e servindo de expoente
para diversas outras declarações de direitos posteriores, mas em especial, a
Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948.

2 Durante a Revolução Francesa, o ideal de liberdade constituía na reivindicação pela desconstituição


da monarquia e distanciamento das opressões, a fim de que todos os cidadãos fossem livres para
exercer os seus direitos naturais, desde que isto não implicasse em prejuízo a terceiros e ressalvadas
as vedações legais.
3 A igualdade reclamada era caracterizada pelo clamor por uma condição igualitária de direitos, de

modo que inexistisse distinções em meio aos cidadãos.


4 Por sua vez, a fraternidade era conceituada como uma ideia de união de todos aqueles que clamavam

pelas mudanças e as garantias de direitos.


3
Em que pese as diversidades entre o que no passado se entendia por “acesso
à justiça”, o entendimento de Mauro Cappelletti e Bryan Garth (1988, p. 8) prepondera
até os dias atuais:
A expressão “acesso à Justiça” é reconhecidamente de difícil definição, mas
serve para determinar duas finalidades básicas do sistema jurídico – o
sistema pelo qual as pessoas podem reivindicar seus direitos e/ou resolver
seus litígios sob os auspícios do Estado. Primeiro, o sistema deve ser
igualmente acessível a todos; segundo, ele deve produzir resultados que
sejam individual e socialmente justos [...] Sem dúvida, uma premissa básica
será de que a justiça social, tal como desejada por nossas sociedades
modernas, pressupõe o acesso afetivo.
Verifica-se, portanto, que em um Estado Democrático de Direito o acesso à
justiça somente será efetivo a partir do momento em que atender simultaneamente às
finalidades supracitadas, uma vez que são indissociáveis neste espectro. A partir
disto, necessário analisar a forma como o princípio se instaurou e desenvolveu no
ordenamento jurídico brasileiro.

1.2 AS CONSTITUÇÕES BRASILEIRAS E A CONSAGRAÇÃO DO PRINCÍPIO DO


ACESSO À JUSTIÇA

Historicamente, o acesso à justiça no Brasil se desenvolveu de forma lenta e a


passos curtos, que não remontam às primeiras constituições e legislações
infraconstitucionais.
A Constituição de 1824, outrora denominada Constituição do Império, que
muito embora tenha instaurado inovações no Poder Judiciário e instituído direitos
sociais e políticos, em especial os direitos a propriedade, liberdade de expressão e
religiosa5, nada versou a respeito de acesso à justiça.
Possivelmente a maior inovação instituída pela Constituição de 1824 no
ordenamento jurídico brasileiro foi a criação de um quarto poder do Estado, o Poder

5 “Art. 179 - A inviolabilidade dos Direitos Civis, e Políticos dos Cidadãos Brasileiros, que tem por base
a liberdade, a segurança individual, e a propriedade, é garantida pela Constituição do Império, pela
maneira seguinte [...] IV. Todos podem comunicar os seus pensamentos, por palavras, escritos, e
publica-los pela Imprensa, sem dependência de censura; com tanto que hajam de responder pelos
abusos, que cometerem no exercício deste Direito, nos casos, e pela forma, que a Lei determinar. [...]
V. Ninguém pôde ser perseguido por motivo de Religião, uma vez que respeite a do Estado, e não
ofenda a Moral Publica. [...] XXII. É garantido o Direito de Propriedade em toda a sua plenitude. Se o
bem público legalmente verificado exigir o uso, e emprego da Propriedade do Cidadão, será ele
previamente indenizado do valor dela. A Lei marcará os casos, em que terá lugar, esta única
excepção, e dará as regras para se determinar a indenização.” (BRASIL, 1824)
4
Moderador6, que nas palavras de Paulo Bonavides e Antônio Paes de Andrade (1991,
p. 97), ofuscava as disposições da Carta Magna, tendo em vista que conferia ao
imperador poderes para efetivamente sobrepô-las, criando uma espécie de “lei maior”.
Embora possa ser retratada como a maior inovação, isto não significa que foi
benéfica para a sociedade em geral, pois tal poder gerou um desequilíbrio na ordem
social, uma vez que o poder de tomar decisões se encontrava efetivamente
concentrado nas mãos de uma única pessoa e por conseguinte, a população não se
via representada diante dos atos arbitrários do monarca.
Durante todo o período compreendido entre a promulgação da Constituição de
1824 e a Proclamação da República em 1889, o Brasil viveu momentos turbulentos,
em que o exercício do Poder Moderador pontualmente ocasionou retrocessos para a
ordem social.
No mesmo sentido de sua predecessora, a Constituição de 1891, promulgada
dois anos após a proclamação da independência, porquanto a primeira do Brasil
enquanto República Federativa7, representou um importante marco para o
constitucionalismo brasileiro, todavia, não contemplou inovações no que tange ao
acesso ao Judiciário pela população (ARANTES, 2011).
Por intermédio da nova constituinte, o Estado aderiu ao modelo tripartite de
separação dos poderes, extinguiu formalmente o Poder Moderador8 previsto na
constituição anterior, passou adotar um sistema legislativo bicameral9, inovando em
relação a direitos e garantias fundamentais, como bem destacam Paulo Bonavides e
Antônio Paes de Andrade (1991, p. 251):
A República instituiu o casamento civil, de celebração gratuita, secularizou os
cemitérios, laicizou o ensino nos estabelecimentos públicos, separou o
estado da igreja, de tal modo que não houvesse subvenção oficial a culto ou
igreja nem relações de dependência ou aliança das profissões religiosas com
o Governo da União ou dos Estados; aboliu a pena de morte, criou o habeas
corpus, o mais célebre instrumento de proteção judicial do indivíduo sob

6 “Art. 10 - Os Poderes Políticos reconhecidos pela Constituição do Império do Brasil são quatro: o
Poder Legislativo, o Poder Moderador, o Poder Executivo, e o Poder Judicial.” (BRASIL, 1824)
7 “Art 1º - A Nação brasileira adota como forma de Governo, sob o regime representativo, a República

Federativa, proclamada a 15 de novembro de 1889, e constitui-se, por união perpétua e indissolúvel


das suas antigas Províncias, em Estados Unidos do Brasil”. (BRASIL, 1891)
8 “Art 15 - São órgãos da soberania nacional o Poder Legislativo, o Executivo e o Judiciário, harmônicos

e independentes entre si.” (BRASIL, 1891)


9 “Art 16 - O Poder Legislativo é exercido pelo Congresso Nacional, com a sanção do Presidente da

República. § 1º - O Congresso Nacional compõe-se de dois ramos: a Câmara dos Deputados e o


Senado Federal.” (BRASIL, 1891)
5
iminente perigo de padecer violência ou coação por ilegalidade e abuso de
poder.

Tão logo foi promulgada, iniciaram-se movimentos que clamavam pela reforma
da Carta Constitucional, tendo como destaque Ruy Barbosa, que afirmava que a
Constituição era incompatível com as medidas reclamadas pela questão social, de
modo que seria necessário promover uma reforma, a fim de conferir ao Poder
Legislativo poderes para adotar as medidas necessárias, ou seja, competência para
criar garantias, direitos e remédios (BARBOSA, 1999). Entretanto, somente em 1926
ocorreu a primeira reforma constitucional brasileira, por meio da edição de uma
Emenda Constitucional, que em nada contribuiu em relação aos direitos e garantias
fundamentais.
O primeiro marco na história constitucional brasileira no que concerne ao
acesso à justiça ocorreu ao ser promulgada a Constituição de 1934, que previa a
criação de um Código de Processo Civil10 e em seu artigo 113, inciso 32, dispôs que
“A União e os Estados concederão aos necessitados assistência judiciária, criando,
para esse efeito, órgãos especiais assegurando, a isenção de emolumentos, custas,
taxas e selos”.
Não obstante ao fato de que tal garantia tenha restado assegurada formalmente
pela Constituição, por se tratar de norma de eficácia relativa, o ordenamento jurídico
não comportou a implementação imediata e tampouco foi desenvolvido o projeto
relativo ao Código de Processo Civil no prazo estipulado, sendo que o primeiro códex
processual civil brasileiro surgiu apenas com a edição do Decreto-Lei nº 1.608, de 18
de setembro de 1939, inspirado no direito processual civil europeu (NICOLA, 2011) e
continha um capítulo destinado às disposições relativas a concessão do benefício da
justiça gratuita às pessoas hipossuficientes financeiramente11.
Superado o período ditatorial do Estado Novo (1937-1945), foi promulgada a
Constituição de 1946, que incorporou ao ordenamento jurídico brasileiro o direito

10 “Art 11 - O Governo, uma vez promulgada esta Constituição, nomeará uma comissão de três juristas,
sendo dois ministros da Corte Suprema e um advogado, para, ouvidas as Congregações das
Faculdades de Direito, as Cortes de Apelações dos Estados e os Institutos de Advogados, organizar
dentro em três meses um projeto de Código de Processo Civil e Comercial; e outra para elaborar um
projeto de Código de Processo Penal.” (BRASIL, 1934)
11 “Art. 68. A parte que não estiver em condições de pagar as custas do processo, sem prejuízo do

sustento próprio ou da família, gozará do benefício de gratuidade, que compreenderá as seguintes


isenções [...]” (BRASIL, 1939)
6
fundamental de acesso à justiça, criando o princípio da Ubiquidade da Justiça e
disposto no artigo 141, parágrafo 4º que “a lei não poderá excluir da apreciação do
Poder Judiciário qualquer lesão de direito individual”, o que representou um grande
avanço para o regime democrático e a tutela jurisdicional dos direitos individuais
(ARANTES, 2011).
Somente após a Ditadura Militar (1964-1983), período em que outra vez foram
afastados os ideais democráticos e cerceados os direitos sociais e políticos da
população, sobreveio a Constituição de 1988, amplamente conhecida como
“Constituição Cidadã”, redirecionando o Brasil aos trilhos do Estado Democrático de
Direito quando da sua promulgação.
Outrossim, é evidente a forma como este princípio fundamental foi instaurado
e se desenvolveu no ordenamento jurídico brasileiro, todavia, apesar de que as
disposições constitucionais e infraconstitucionais atuais possam ser interpretadas
como um viés progressista no que concerne ao acesso à justiça, existe uma
pluralidade de fatores que evidenciam a ineficácia do Estado em concretizar as
garantias positivadas, pelo que se faz necessário promover a análise dos demais
aspectos inerentes a efetiva democratização do acesso.

1.3 ASPECTOS SOCIOLÓGICOS

Diante do desgaste global ocasionado pela primeira guerra mundial somado


aos eventos que ocorreram ao redor do mundo durante a segunda guerra Mundial, no
período de 1939 a 1945, especialmente em decorrência das atrocidades promovidas
pelo Holocausto, representantes de 50 países se reuniram na cidade de São
Francisco, nos Estados Unidos da América, para elaborar e divulgar a Carta das
Nações Unidas, que após a ratificação do documento pela China, Estados Unidos,
França e União Soviética, resultou na criação da Organização das Nações Unidas,
em 24 de outubro de 1945.
A partir disto, durante a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas
de 1946 foi criada a Comissão de Direitos Humanos, com o intuito de discutir e elencar
os direitos mais básicos inerentes aos seres humanos, embasados nos princípios de
liberdade, igualdade e dignidade da pessoa humana, e no decorrer dos dois anos

7
seguintes, um comitê desenvolveu a Declaração Universal dos Direitos Humanos de
1948, proclamada em 10 de dezembro de 1948 por intermédio da Resolução 217 A
(III) e subscrita por 48 nações (PEREIRA; FREITAS, 2018).
Embora não seja dotada de força vinculante, a declaração visou a criação de
um compromisso internacional para que em qualquer circunstância fossem
assegurados à toda a humanidade os direitos ali contidos, estabelecendo assim um
patamar mínimo de dignidade para todos os seres humanos.
Flávia Piovesan (2014, p. 103) teoriza que a declaração atestou a
universalidade e acolheu a ideia de indivisibilidade dos direitos humanos a partir de
uma visão integral de direitos, posto que a observância dos direitos sociais,
econômicos e culturais está condicionada à garantia dos direitos civis e políticos e
vice-versa. Ainda, aduz que na esfera judicial preponderam três dimensões
relacionadas a proteção dos supracitados direitos, quais sejam:
1) o direito ao livre acesso à justiça; 2) a garantia da independência judicial
(direito de toda pessoa ser ouvida, com as devidas garantias e dentro de um
prazo razoável, por um juiz ou tribunal competente, independente e imparcial,
nos termos do artigo 8º da Convenção Americana de Direitos Humanos, do
artigo 14 do Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos e do artigo 10
da Declaração Universal); e 3) o direito à prestação jurisdicional efetiva, na
hipótese de violação a direitos (direito a remédios efetivos).

Do exposto, denota-se a evolução do conceito de acesso à justiça, em que o


modelo formal anterior (o qual contemplava exclusivamente a possibilidade de os
cidadãos demandarem uma prestação jurisdicional por parte do Estado através do
Poder Judiciário) progrediu, passando a ocupar concomitantemente a função de
efetivador dos direitos e garantias individuais, restando incorporado ao rol de direitos
fundamentais e se tornando um dos princípios basilares do Estado Democrático de
Direito. Por conseguinte, é possível afirmar que o acesso democrático à justiça é um
parâmetro instrumentalizador da justiça social.
Em linha com o pensamento de Mauro Cappelletti e Bryan Garth (1988, p. 8-
15), o acesso à justiça deve ser efetivo a fim de produzir resultados socialmente justos,
e acrescentam ser fundamental que os juristas reconheçam que a resolução dos
conflitos não está limitada ao âmbito judicial, merecendo reconhecimento os variados
mecanismos de processamento de litígios e que as pesquisas devem ser ampliadas

8
para além dos tribunais, utilizando métodos de análise da sociologia, da política, da
psicologia e da economia, para o aperfeiçoamento da ciência jurídica moderna.
De acordo com a análise realizada inicialmente por Cappelletti e Garth (1988,
p. 15), existiam obstáculos a serem superados, sendo estes: o econômico, que
compreende os elevadores valores das custas judiciais e honorários advocatícios; a
demora do Estado em prover uma decisão terminativa de mérito; a possibilidade das
partes, que se estende para além da disposição de maiores recursos financeiros,
englobando a questão da aptidão (ou falta dela) para reconhecer direitos, decorrente
das diferenças culturais, educacionais e socioeconômicas; as vantagens
desenvolvidas pelos litigantes “eventuais” e “habituais” e finalmente, os problemas
relacionados aos interesses difusos e coletivos da população.
Os supracitados juristas coordenaram o Projeto de Florença, através do qual
idealizaram as “três ondas renovatórias” para prover soluções práticas à problemática
de acesso à justiça, sendo estas: a assistência judiciária aos pobres, a representação
dos interesses difusos da população e o desenvolvimento de um novo modelo de
acesso à justiça, por meio de uma “ampla variedade de reformas” (CAPPELLETTI;
GARTH, 1988, p. 67-73).
Imperioso observar que em maior parte, os obstáculos identificados por
Cappelletti e Garth convergem em relação a um mesmo elemento: estão
correlacionados de forma intrínseca com a desigualdade social.
Neste sentido, Oliveira et al. (2009, p. 98), sugerem que as noções de justiça
e igualdade estão intimamente interligadas, sendo que os indivíduos excluídos das
relações sociais tendem a sofrer outros tipos de privações, porquanto, pessoas
hipervulneráveis socioeconomicamente estão mais propensas a terem seus direitos
cerceados, mormente devido à falta de conhecimento em relação aos seus direitos,
que enseja em dificuldades para compreenderem os problemas jurídicos que lhes
afetam e na mesma medida, possuem a mesma dificuldade para identificar o
mecanismo ideal para estabilização dos conflitos (GONÇALVES, 2016).
A precarização dos direitos econômicos e sociais decorrente do
desmantelamento do Estado Social instiga a procura pelo Judiciário (SANTOS, 2007
apud VITÓVSKY, 2017, p. 192), portanto, a tutela jurisdicional pode servir como um
mecanismo de inclusão social, combatendo as desigualdades entre as partes, sob os

9
aspectos político, econômico e social, objetivando a formação de uma sociedade livre,
justa e solidária (ARANTES, 2011).
Considerando que a instrumentalização da jurisdição se dá por meio do
processo, que possui como função social a distribuição da justiça, é inegável que a
prestação jurisdicional em tempo oportuno confere credibilidade ao Judiciário, pelo
que se mostra necessário o desenvolvimento de estratégias para o tratamento
qualitativamente adequado dos litígios (SPENGLER; SPENGLER NETO, 2011).
Ocorre que o Judiciário brasileiro passou a enfrentar um problema ligeiramente
distinto: diante de todas as possibilidades de demandar a prestação jurisdicional, o
problema se tornou a conclusão e não mais a propositura de uma ação, alcançando
um patamar em que o acesso deve se tornar qualitativo e não apenas quantitativo
(OLIVEIRA, 2013).
Entretanto, a identificação das vertentes principais do problema não deve
desviar o foco do tratamento das questões subsidiárias, pelo contrário, tais questões
devem ser pormenorizadas especialmente por conta de impedirem o pleno exercício
da cidadania.

10
2 A APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL NO ORDENAMENTO
JURÍDICO BRASILEIRO

2.1 LEGISLAÇÕES

Sem prejuízo às demais legislações infraconstitucionais que não serão


abordadas neste trabalho, notadamente algumas ocupam posições de destaque,
decorrentes de suas funções instrumentais e sociais.
Na esteira do processo de redemocratização do Brasil, foi promulgada a
Constituição de 1988, que indubitavelmente se sobressai em relação aos demais
dispositivos normativos em relação ao acesso à justiça, iniciando pelo seu preâmbulo
que dispõe que a justiça é um “valor supremo” (BRASIL, 1988)12 e em meio aos
demais direitos e garantias individuais, sedimentou o direito fundamental de acesso à
justiça instituído por meio das constituintes anteriores, em seu artigo 5º, inciso XXXV,
o qual preconiza que “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou
ameaça a direito” (BRASIL, 1988), ora resguardado sob a égide das cláusulas
pétreas13.
Igualmente foram estabelecidos os princípios do devido processo legal,
contraditório e ampla defesa e da assistência judiciária gratuita14, consignada a
criação dos Juizados Especiais nos âmbitos da justiça estadual e federal15 e

12 O preâmbulo da Constituição de 1988, que dispõe que “[...] destinado a assegurar o exercício dos
direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade
e a justiça como valores supremos [...]” (BRASIL, 1988)
13 A Constituição de 1988, por meio do artigo 60 veda a apreciação de propostas legislativas relativas

à modificação da forma federativa do estado, o voto secreto, universal e periódico, a separação dos
Poderes e os direitos e garantias individuais.
14 “Artigo 5º [...] LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal;

[...] LV - Aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são
assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes; LXXIV - o
Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de
recursos” (BRASIL, 1988)
15 “Art. 98. A União, no Distrito Federal e nos Territórios, e os Estados criarão: [...] I - juizados especiais,

providos por juízes togados, ou togados e leigos, competentes para a conciliação, o julgamento e a
execução de causas cíveis de menor complexidade e infrações penais de menor potencial ofensivo,
mediante os procedimentos oral e sumaríssimo, permitidos, nas hipóteses previstas em lei, a
transação e o julgamento de recursos por turmas de juízes de primeiro grau;” (BRASIL, 1988)
11
institucionalizadas as Defensorias Públicas, lhes atribuindo a condição de instituições
essenciais à função jurisdicional do estado16.
Imperioso destacar a posição ocupada pela Constituição em relação aos
demais dispositivos normativos devido ao Princípio da Supremacia da Constituição,
que lhe posiciona no topo da ordem hierárquica das normas, o que significa que todas
as normas jurídicas devem se submeter às suas disposições, sob pena de serem
declaradas inconstitucionais e seus efeitos não serem revestidos de eficácia.
Portanto, a relevância da Carta Magna em relação ao acesso à justiça se dá
em decorrência das garantias positivadas, mas não dispôs a respeito da forma como
o acesso deveria ser instrumentalizado.
Notadamente, a assistência judiciária às pessoas hipossuficientes
financeiramente foi contemplada pela Lei nº 1.060, de 05 de fevereiro de 1950, que
em seu parágrafo único do artigo 2º caracterizava como “necessitado” para fins de
concessão de assistência judiciária, todos “cuja situação econômica não lhe permita
pagar as custas do processo e os honorários de advogado, sem prejuízo do sustento
próprio ou da família” (BRASIL, 1950). Esta legislação ficou popularmente conhecida
como a “Lei de Assistência Judiciária”, a qual posteriormente foi incorporada pela
Constituição de 1988, que atribuiu ao instituto da assistência judiciária a qualidade de
garantia constitucional.
Regulamentada por lei orgânica própria, a Defensoria Pública é revestida de
autonomia funcional, administrativa e dotada de iniciativa orçamentária própria,
conferidas diante da edição das Emendas Constitucionais nº 45/2004 e 74/2013.
No que tange a função desta instituição, Ré (2011, p. 3/4) acertadamente
coloca:
A Defensoria Pública é instituição essencial à função jurisdicional do Estado,
incumbindo-lhe a orientação jurídica e a defesa, em todos os graus, dos
necessitados, na forma do artigo 5º, LXXIV. Ela representa a forma pela
qual o Estado Democrático de Direito promove a ação afirmativa,
ou discriminação positiva, visando à inclusão jurídica daqueles econômica
e culturalmente hipossuficientes, em observância ao disposto no artigo
5º, LXXIV, da Constituição Federal, que prevê o direito fundamental à
assistência jurídica, cujos titulares são aqueles que comprovarem

16“Art. 134. A Defensoria Pública é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado,
incumbindo-lhe, como expressão e instrumento do regime democrático, fundamentalmente, a
orientação jurídica, a promoção dos direitos humanos e a defesa, em todos os graus, judicial e
extrajudicial, dos direitos individuais e coletivos, de forma integral e gratuita, aos necessitados, na
forma do inciso LXXIV do art. 5º desta Constituição Federal” (BRASIL, 1988)
12
insuficiência de recursos, na forma prevista na Lei n.º 1060/50, que
estabelece o conceito jurídico de “necessitado”.

Dito isto, temos que as Defensorias Públicas ocupam a importante função de


instrumentalizar o assistencialismo jurídico às pessoas economicamente vulneráveis,
visando a redução das desigualdades sociais, a efetivação dos direitos humanos e a
promoção da garantia dos princípios constitucionais da ampla defesa e do
contraditório, na forma dos artigos 3º e 3º-A da Lei Complementar nº 80, de 12 de
janeiro de 1994 (Lei Orgânica da Defensoria Pública) (STURMER, 2015).
Durante o período de redemocratização do Brasil, foi promulgada a Lei º 7.347,
de 24 de julho de 1985, considerada a primeira legislação infraconstitucional que
instituiu um instrumento para defesa dos direitos difusos ou coletivos da população
por meio de representação: a Ação Civil Pública, instrumento processual que visa
obter a reparação por danos causados ao meio-ambiente, ao consumidor, a bens e
direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico.
Tal mecanismo sofreu modificações logo nos primeiros anos do período
democrático, de modo que o Ministério Público, a Defensoria Pública, a União, os
Estados, o Distrito Federal e os Municípios, autarquias, empresas públicas, fundações
ou sociedades de economia mista ou associações constituídas há ao menos um ano17
passaram a ter legitimidade ativa para representar os referidos interesses perante o
Poder Judiciário.
Diante da abordagem cronológica do tema, é de rigor acentuar que no período
de quinze anos compreendido entre o início da década de 1980 e a metade da década
de 1990 foram criados os Juizados Especiais, todavia, no momento a menção a estes
órgãos ocorrerá de maneira superficial, uma vez que serão abordados de maneira
aprofundada no subcapítulo seguinte deste trabalho.
Ainda no século XX, sob a égide da Constituição de 1988 foram promulgadas
novas legislações alinhadas com os princípios aportados pela Carta Magna ao
ordenamento jurídico brasileiro, que em muito contribuíram para o processo de
concretização do acesso à justiça no Brasil, iniciando pela edição da Lei nº 8.069, de
13 de julho de 1990 que criou o Estatuto da Criança e do Adolescente, que dispõe

17Vide art. 5º da Lei Federal nº 7.347/85 de 24 de julho de 1985, que relaciona em um rol taxativo as
entidades que possuem legitimidade ativa.
13
acerca da proteção integral às crianças e adolescentes, reconhecendo as crianças e
dos adolescentes como titulares de direitos e estabeleceu deveres os direitos e
deveres do Estado e dos cidadãos responsáveis por eles.
Importante destacar que o ordenamento jurídico brasileiro considera como
“criança” a pessoa de até doze anos incompletos e adolescentes as pessoas com
idade entre doze e dezoito anos, na forma do artigo 2º da Lei nº 8.069/90.
Por seu turno, a Lei nº 8.078 de 11 de setembro de 1990 instituiu o Código de
Defesa do Consumidor, que regulamentou as relações de consumo, reconheceu a
condição de vulnerabilidade dos consumidores em relação aos fornecedores de
produtos e serviços e impôs entraves às práticas abusivas praticadas pelos últimos
em detrimento dos primeiros.
Dentre as demais providências, um dos importantes destaques desta legislação
consumerista foi estabelecer que a representação em juízo dos interesses e direitos
dos consumidores seria exercida de forma individual ou coletiva, nesta última
hipótese, mediante as possibilidades arroladas no parágrafo único do artigo 81, quais
sejam:
I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste código,
os transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas
indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato;
II - interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste
código, os transindividuais, de natureza indivisível de que seja titular grupo,
categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por
uma relação jurídica base;
III - interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos os
decorrentes de origem comum. (BRASIL, 1990)

Na redação atual do artigo 82 desta lei, dada pela Lei nº 9.008, de 21 de março
de 1995, a legitimidade para representar os interesses relacionados no dispositivo
citado acima foi conferida às seguintes instituições: o Ministério Público; a União, os
Estados, os Municípios e o Distrito Federal; as entidades e órgãos da Administração
Pública, direta ou indireta, desde que especificamente destinados à defesa dos
interesses e direitos protegidos pelo Código de Defesa do Consumidor; as
associações legalmente constituídas há ao menos um ano, que incluam entre seus
fins institucionais a defesa dos interesses e direitos protegidos pelo mesmo diploma
legal.

14
Outro marco relevante foi a outorga da Emenda Constitucional nº 45/2004, que
ficou conhecida como “Reforma do Judiciário” e introduziu uma série de mudanças
significativas ao judiciário nacional, conforme Ribeiro (2008, p. 469/470):
A Emenda Constitucional 45/04 procurou não apenas ampliar, mas, ainda,
consolidar os processos de reforma já iniciados a partir das mudanças
citadas. Esta teve como objetivo a aumentar a capilaridade do sistema judicial
brasileiro, tornando-o mais acessível e ágil, viabilizando a solução
institucional de certos conflitos que, em razão do excesso de tempo e da
distância da justiça, terminavam por ser resolvidos na arena privada. Entre as
principais alterações introduzidas por essa legislação, no que diz respeito ao
funcionamento da justiça, destacam-se as seguintes: (i) razoável duração do
processo; (ii) proporcionalidade entre o número de juízes na unidade
jurisdicional e a efetiva demanda judicial e a respectiva população; (iii)
funcionamento ininterrupto da atividade jurisdicional; (iv) distribuição imediata
dos processos em todos os graus de jurisdição; e (v) criação do Conselho
Nacional de Justiça.

Ademais, a referida emenda adicionou o artigo 103-A e o parágrafo terceiro ao


artigo 102 da Constituição de 1988, instituindo os mecanismos das súmulas
vinculantes e repercussão geral. Por sua vez, as súmulas vinculantes tem por
finalidade a uniformização da jurisprudência pátria, atribuindo efeito vinculante às
decisões reiteradas do Supremo Tribunal Federal acerca de matérias de ordem
constitucionais, coibindo a livre interpretação por magistrados e operadores do direito,
enquanto o regime de repercussão geral imputou um filtro de admissibilidade aos
recursos direcionados às Cortes Superiores, limitando a apreciação dos recursos às
matérias de “questões relevantes do ponto de vista econômico, político, social ou
jurídico que ultrapassem os interesses subjetivos do processo” (BRASIIL, 2015), forte
no que dispõe o parágrafo primeiro do artigo 1.035 da Lei nº 13.105/15.
O Conselho Nacional de Justiça possui uma pluralidade de atribuições,
devidamente relacionadas no artigo 103-B da Constituição de 1988, mas dentre estas,
se sobressaem as inerentes à administração e estruturação do Poder Judiciário e a
expedição de atos regulamentares18, como portarias, resoluções, recomendações e
notas técnicas.
Este órgão foi responsável por editar a Resolução nº 125/2010, por meio da
qual foi criada a Política Judiciária Nacional de tratamento de conflitos de interesses,
objetivando aperfeiçoar e fomentar a aplicação dos métodos alternativos de resolução

18 Conforme o artigo 103-B, § 4º, inciso I, da Constituição de 1988.


15
de conflitos existentes, sendo que para institucionalizar esta política pública, no
mesmo ato foi determinada a instauração do Núcleo Permanente de Métodos
Consensuais de Solução de Conflitos, para viabilizar a resolução dos litígios na esfera
extrajudicial por meio da conciliação ou mediação.
O atual Código de Processo Civil foi inserido no ordenamento jurídico brasileiro
por meio da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015, possui enfoque na
desjudicialização das avenças e seguiu os ditames da Resolução nº 125 do Conselho
Nacional de Justiça, impondo através do artigo 165 a criação de centros de solução
consensual de conflitos nos tribunais, responsáveis por desenvolver programas
destinados a incentivar a expansão dos métodos de autocomposição e viabilizar a
realização de sessões e audiências de conciliação e mediação. Ainda, este código
manteve o instituto da arbitragem na forma prevista pela Lei nº 9.307/96, 23 de
setembro de 1996.
Ao criar instituições que comportam vias alternativas para a resolução dos
conflitos na esfera extrajudicial através da autocomposição ou do juízo arbitral, são
oportunizadas às partes formas mais céleres e eficazes para resolverem as avenças,
especialmente as de menor complexidade, as quais não demandam o acionamento
do juiz natural para aplicar a norma ao caso concreto. Isto oportuniza a redução da
sobrecarga da demanda do Poder Judiciário e, por conseguinte, facilita o acesso da
população à tutela jurisdicional do Estado nos casos complexos.
Com o advento do novo códex processualista civil, a aplicação do princípio da
inafastabilidade jurisdicional foi expandida, dispondo em seu artigo 3º que “Não se
excluirá da apreciação jurisdicional ameaça ou lesão a direito” (BRASIL, 2015), que
embora símile ao dispositivo constitucional citado anteriormente “A lei não excluirá da
apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito” (BRASIL, 1988), o que
se traduz na descentralização da atribuição anteriormente restrita ao Poder Judiciário,
quanto ao provimento de soluções para os litígios.
As legislações relativas à Ação Civil Pública, Estatuto da Criança e do
Adolescente, Código de Defesa do Consumidor e Estatuto do Idoso concatenadas
com a Defensoria Pública tratam da representação dos interesses difusos da
população.

16
Sob outra ótica, os Juizados Especiais desempenham uma importante função
ao tempo em que oportunizam a ampliação do acesso à prestação jurisdicional e
facilitam a resolução dos litígios não apenas por meio da simplificação dos
procedimentos judiciais, mas também por difundirem a resolução dos conflitos através
de meios alternativos.

2.2 HISTÓRIA E CONTRIBUIÇÕES DOS JUIZADOS ESPECIAIS

Os Juizados Especiais representam um importante marco do acesso à justiça


no Brasil, mormente porque aportaram ao ordenamento jurídico brasileiro o princípio
da informalidade e são regidos pelos princípios da simplicidade, oralidade, economia
processual e celeridade, além de possuírem enfoque na conciliação entre as partes e
instigarem a resolução consensual dos conflitos.
Convém destacar que a idealização e desenvolvimento desta instituição foi
norteada por expoentes norte-americanos, região em que este sistema foi criado ainda
na primeira metade do século XX, estabelecendo as chamadas Poor Man’s Court19, a
fim de atender às pequenas causas, com valores de até 50 dólares, que se
acumularam durante décadas na cidade de Nova Iorque, as quais posteriormente
passaram a ser chamadas de Small Claim’s Courts20 (CARNEIRO, 1985 apud
SADEK, 2010) ou Common Man’s Court21.
O modelo brasileiro teve origem a partir da experiência pioneira dos Conselhos
de Conciliação e Arbitragem, criados no Estado do Rio Grande do Sul em 1982, sob
a responsabilidade do juiz Antônio Tanger Jardim, na época, titular de uma das Varas
Cíveis da Comarca de Rio Grande, que contou com o com apoio da Associação dos
Juízes do Rio Grande do Sul e a partir de bons resultados, outros “Conselhos” foram
instalados em outras comarcas daquele estado, bem como, em outros Estados da
Federação (PINTO, 2002).
Com a edição da Lei nº 7.244, de 07 de novembro de 1984, fora oportunizado
aos Estados, Distrito Federal e Territórios, a criação dos Juizados de Pequenas

19 “Corte dos Homens Pobres”, traduzido do inglês.


20 “Corte de Pequenas Causas”, traduzido do inglês.
21 “Corte dos Homens Comuns”, traduzido do inglês.

17
Causas para processar e julgar causas de menor complexidade, sendo a ocupação
do polo ativo restrita às pessoas físicas, possibilitada a dispensa da assistência
obrigatória de um advogado e estabelecido que não seriam cobradas custas
processuais das partes, relativas ao tramite do processo no primeiro grau de
jurisdição.
A competência deste órgão era restrita ao julgamento e execução de causas
de menor complexidade, ora elencadas no artigo 3º da respectiva legislação (BRASIL,
1984):
Consideram-se causas de reduzido valor econômico as que versem sobre
direitos patrimoniais e decorram de pedido que, à data do ajuizamento, não
exceda a 20 (vinte) vezes o salário mínimo vigente no País e tenha por objeto:
I - a condenação em dinheiro;
II - a condenação à entrega de coisa certa móvel ou ao cumprimento de
obrigação de fazer, a cargo de fabricante ou fornecedor de bens e serviços
para consumo;
III - a desconstituição e a declaração de nulidade de contrato relativo a coisas
móveis e semoventes.
§ 1º - Esta Lei não se aplica às causas de natureza alimentar, falimentar,
fiscal e de interesse da Fazenda Pública, nem às relativas a acidentes do
trabalho, a resíduos e ao estado e capacidade das pessoas, ainda que de
cunho patrimonial. [...]

Na sistemática dos Juizados de Pequenas Causas surgiram soluções para dois


dos principais obstáculos econômicos do acesso à justiça: a isenção de custas
processuais e a relativização do pressuposto processual presente na Justiça Comum,
sendo viabilizado o acesso ao Judiciário sem advogados, consequentemente,
desincumbindo as partes de arcarem com despesas decorrentes do acionamento da
tutela jurisdicional do Estado.
Em outro plano, a fim de conferir efetividade para as resoluções dos litígios, a
lei inovou ao impor que deveriam prevalecer os institutos da conciliação e da
arbitragem, especialmente o primeiro, motivo pelo qual fora estabelecido no artigo 17
da Lei nº 7.244/84 que a sessão de conciliação deveria ocorrer no prazo de dez dias,
contados a partir do registro do pedido (BRASIL, 1984), ou seja, em prazo inferior ao
da contestação, que era de quinze dias, forte no que dispunha o artigo 297 do Código
de Processo Civil vigente à época (Lei nº 5.689, de 11 de janeiro de 1973).
Ao ser promulgada, a Constituição de 1988 não se limitou a meramente
recepcionar a Lei nº 7.244/84, mas diante dos resultados positivos apresentados pelos
Juizados de Pequenas Causas, estabeleceu em seu artigo 98, inciso I, a criação dos

18
Juizados Especiais Cíveis e Criminais e consignou que estes órgãos devem adotar os
procedimentos oral e sumaríssimo para as práticas dos atos processuais.
Objetivando regulamentar a norma constitucional, a Lei nº 9.099 foi sancionada
em 1995, revogando por completo a legislação anterior (Lei nº 7.244/84) e instituindo
os Juizados Especiais Cíveis e Criminais no âmbito da justiça estadual.
Nas palavras de Elpídio Donizetti (2015) a Lei nº 7.244/84 foi a primeira lei
federal a se ocupar da resolução judicial de causas mediante a aplicação de
procedimento mais simplificado e os resultados de seu aperfeiçoamento e
desdobramento resultaram no microssistema que gravita em torno da Lei nº 9.099/95.
Os procedimentos e práticas dos atos processuais no âmbito dos Juizados
Especiais ocorrem de forma ligeiramente distinta daqueles instituídos na Justiça
Comum, mormente em razão dos princípios norteadores citados anteriormente:
oralidade, simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade.
Seguindo a linha de seus órgãos predecessores, os Juizados Especiais Cíveis
são dotados de competência para processar e julgar causas cíveis de menor
complexidade, com valores até quarenta salários mínimos22, sendo facultado às
partes a representação por advogado nas causas de valor até vinte salários
mínimos23, enquanto na esfera criminal, os Juizados Especiais Criminais possuem
competência para promover o julgamento e execução de infrações penais de menores
potenciais ofensivos24.
O princípio da oralidade é embasado na exigência constitucional da
observância da forma oral no tratamento da causa, destinando-se a cumprir com
agilidade os atos processuais, tendo por objetivo o tornar o procedimento mais ágil e
possibilita que durante as audiências se reduza a termo apenas o que for essencial
ao processo, além de apresentar uma vantagem de ordem psicológica, uma vez que
é viabilizado às partes se pronunciarem diante do magistrado, causando a impressão
de que exercem influência decisiva no deslinde da demanda (CATALAN, s.d).

22 Conforme o artigo 3º da Lei 9.099/95 que dispõe quanto a competência dos juizados.
23 Conforme o artigo 9º da Lei 9.099/95.
24 Conforme as disposições dos artigos 60 e 61 da Lei 9.099/95, a competência do Juizado Especial

Criminal é restrita ao julgamento e execução das contravenções penais e crimes aos quais a lei
comine pena máxima não superior a dois anos, cumulada ou não com multa.
19
A instrumentalidade das formas é imposta pelo artigo 13 da Lei nº 9.099/95,
portanto, todos os atos processuais serão válidos, desde que preencham as
finalidades para as quais foram realizados, ainda que em dissonância com a norma
legal (PINTO, 2002), a partir deste conceito, é possível identificar uma correlação com
os princípios da simplicidade e informalidade.
A definição para o princípio da simplicidade é preceituada pelo afastamento de
questões e atos complexos no trâmite processual, enquanto o princípio da
informalidade estabelece que os atos processuais não devem ser apegados às formas
preestabelecidas, mas sim às informais, para a finalidade de desburocratizar o
processo e facilitar a abertura do acesso a uma ordem jurídica justa (ALTHAUS, 2011).
Nesta seara, a juíza Oriana Pinto (2012, online) exemplifica alguns dos diversos
procedimentos especiais dispostos na Lei 9.099/95, responsáveis por instrumentalizar
os princípios supracitados:
[...] o pedido deverá ser formulado de maneira simples e em linguagem
acessível (art. 14, § 1o); não se pronunciará nulidade sem que tenha havido
qualquer prejuízo (art. 13, § 1o); a citação em geral pode ser feita por oficial
de justiça independentemente de mandado ou carta precatória (art. 18, III);
as intimações podem ser feitas por qualquer meio idôneo (art. 19); todas as
provas serão produzidas em audiência, ainda que não requeridas
previamente; as testemunhas comparecerão, independentemente de
intimação (art. 34); a sentença pode ser concisa (art. 38); o julgamento em
segunda instância constará apenas da ata, com indicação suficiente do
processo, fundamentação sucinta e parte dispositiva - se a sentença for
confirmada pelos próprios fundamentos; a súmula do julgamento servirá de
acórdão (art. 46); o início da execução da sentença condenatória não
cumprida pode ser verbal e dispensa nova citação (art. 52, IV); a alienação
de bens penhorados pode ser entregue a pessoa idônea (art. 52, VII); é
dispensada a publicação de editais na alienação de bens de pequeno valor
(art. 52, VIII). [...]
Prevê a lei a dispensa do inquérito policial (art. 69) e do exame de corpo de
delito para o oferecimento da denúncia com a admissão da prova da
materialidade do crime por boletim médico ou prova equivalente (art. 77, §
1o) etc. Por isso, a lei afasta do Juizado as causas complexas ou que exijam
maiores investigações (art. 77, § 2o), como remete ao Juízo comum as peças
existentes quando não for encontrado o denunciado para a citação pessoal
(art. 78, § 1o, c/c o art. 66, parágrafo único) etc. Em consequência do princípio
da simplicidade, também se declara que "não se pronunciará qualquer
nulidade sem que tenha havido prejuízo" (art. 65, § 1o); que, na sentença é
"dispensado o relatório" (art. 81, § 3o) [...]

Chimenti e Santos (2011, p. 53), afirmam que alinhados aos princípios da


simplicidade e da informalidade, o princípio da economia processual objetiva conferir
o rendimento máximo da legislação mediante a menor quantidade de atos
processuais, impondo que o julgador seja extremamente pragmático na condução do
20
processo, devendo sempre buscar a forma mais simples e adequada para a prática
dos atos, a fim de evitar que resultem em novos incidentes processuais.
Considerando que toda a sistemática dos Juizados Especiais é embasada no
princípio da celeridade, a maior promessa da Lei nº 9.099/95 é a de conferir celeridade
sem violar o princípio da segurança jurídica. Desta forma, se pressupõe a
racionalidade na condução do processo, devendo ser evitada a protelação dos atos
processuais (CHIMENTI; SANTOS, 2011, p. 56).
O referido princípio não é privativo dos Juizados Especiais, uma vez que ele foi
incorporado ao rol de direitos fundamentais com a edição da Emenda Constitucional
nº 45/04, que adicionou o inciso LXXVIII ao artigo 5º da Carta Magna, o qual preconiza
que “a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração
do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação” (BRASIL,
2004), contudo, em outras esferas judiciais a salvaguarda do princípio da segurança
jurídica repousa na estrutura dos procedimentos processuais, nos quais as excessivas
formalidades figuram como protagonistas e contribuem para a morosidade do
Judiciário.
Em contrapartida, ao realizar o cotejo dos conceitos apresentados, se verifica
que para atingir os resultados idealizados relativos à efetiva solução dos conflitos no
sistema dos Juizados, não é apenas prescindível, mas preferível, que não ocorra a
estrita observância dos procedimentos.
Face a todo o exposto, não é necessário promover uma análise aprofundada
de todos os mecanismos, órgãos e instituições que viabilizam o acionamento da tutela
jurisdicional do Estado a fim de reconhecer que o ordenamento jurídico brasileiro é
suficientemente dotado de amparo constitucional e infraconstitucional para viabilizar
a resolução dos conflitos de mais diversas ordens, entretanto, isto evidencia tão
somente a existência de garantias formais, o que gera a necessidade de analisar a
eficácia do princípio de acesso à justiça sob a luz da efetiva prestação jurisdicional.

2.3 ÍNDICE DE ACESSO À JUSTIÇA

Objetivando apurar a eficácia do princípio de acesso à justiça no ordenamento


jurídico brasileiro, forçosamente se deve considerar uma pluralidade de fatores

21
sociais, mormente devido a impossibilidade de promover a quantificação dos
resultados exclusivamente a partir de dados quantitativos extraídos de relatórios
estatísticos do Judiciário.
Isto porque, segundo Araújo e Oliveira (2012, p. 531), os dados catalogados
advêm de informações disponibilizadas pelos próprios tribunais e muitas vezes não
refletem a realidade das unidades judiciárias. Como exemplo, sugeriram o seguinte
exercício hipotético:
imagine-se uma Vara em que a prática seja de não registrar como “concluso”
todos os processos que aguardam decisão ou sentença para evitar o
descumprimento oficial da meta mensal de conclusão. Se essa Vara informa
que não há qualquer processo concluso aguardando decisão há mais de 100
(cem) dias e o CNJ disponibiliza esse dado em sua página inicial, isso não
quer dizer que todos os processos que precisavam ser decididos
efetivamente o foram. Não só, se um processo concluso para decisão é
convertido em diligência por várias vezes consecutivas, por exemplo, isso
escapa dos dados dispostos na página do CNJ.

Ainda, o estudo “Justiça em Números”, relatório divulgado anualmente pelo


Conselho Nacional de Justiça, que contém detalhamentos estatísticos do Poder
Judiciário, estudo realizado a partir de três parâmetros: insumos, dotações e graus de
utilização; litigiosidade; e acesso à justiça e perfil das demandas. Entretanto, tais
parâmetros não são suficientes para retratar a realidade do Judiciário brasileiro, posto
que o conceito de “acesso à justiça” é concebido prioritariamente na acepção da
assistência judiciária gratuita, deixando de revelar quais aspectos da tutela
jurisdicional qualificada (adequação, tempestividade e efetividade) estão sendo
descumpridos em qualquer proporção, obstando a efetiva compreensão dos entraves
e deficiências existentes (ARAÚJO; OLIVEIRA, 2012).
A par desta realidade, o Conselho Nacional de Justiça em conjunto com o
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) desenvolveu o Índice
de Acesso à Justiça (IAJ), publicado em 22 de fevereiro de 2021, que contemplou as
mais diversas questões qualitativas, históricas, institucionais, políticas, econômicas,
culturais e sociais, a fim de elaborar um modelo estatístico para a finalidade de
mensurar o acesso à justiça pela população, tomando por base dados produzidos por
diversas fontes e agências brasileiras (CNJ, 2021).
O estudo contemplou 89 tribunais, sendo 27 Tribunais de Justiça Estaduais
(TJs), 27 Tribunais Reginais Eleitorais (TREs), 24 Tribunais Regionais do Trabalho

22
(TRTs), cinco Tribunais Regionais Federais (TRFs), três Tribunais de Justiça Militares
(TJMs) e o Superior Tribunal de Justiça (STJ), Tribunal Superior do Trabalho (TST) e
Superior Tribunal Militar (STM), ou seja, órgãos julgadores das justiças estadual,
criminal, eleitoral, militar, trabalhista e três dos cinco Tribunais Superiores.
De modo a abordar as questões propostas, foram idealizados dois Capitais
simbólicos: Capital Humano, englobando as vertentes de Cidadania e População, e
Capital Institucional, contemplando o Judiciário. Tais Capitais restaram subdivididos e
individualizados em diferentes dimensões, sendo estas (CNJ, 2021, p. 7):
[...] o reconhecimento de direitos e deveres, vulnerabilidade e acesso a
serviços públicos, as dimensões do Capital Humano (Cidadania); o Capital
Humano (População), por sua vez, apresenta uma única dimensão, que
engloba o perfil da população e sua dinâmica demográfica; por fim, o padrão
de resolução de conflitos, a distribuição e o acesso a serviços públicos e a
inovação tecnológica são dimensões do Capital Institucional (Judiciário)

O organograma extraído do estudo, ora colacionado a seguir, demonstra a


composição dos Capitais simbólicos supracitados.

Figura 1 - Representação esquemática do Índice de Acesso à Justiça e seus componentes

Fonte: Conselho Nacional de Justiça (2020).

A partir disto, foram mapeadas cerca de 50 características (variáveis) dos três


tipos de Capitais e diante da necessidade de reduzir a dimensão dos dados para
viabilizar a análise da construção social proposta, foi aplicada a técnica de Análise de

23
Componentes Principais (ACP)25, a fim de identificar os componentes (características)
principais (CNJ, 2021, p. 14).
Se faz necessário compreender um conceito para analisar os resultados, qual
seja:
As variáveis que compõem uma componente principal são correlacionadas
entre si, ao passo que as variáveis que fazem parte de componentes
principais diferentes não são associadas (têm correlação nula ou muito
baixa), fazendo com que as componentes principais sejam ortogonais, ou
seja, não correlacionadas. (CNJ, 2021, p. 14)

A respeito da aplicação desta técnica, Mingoti (2005, apud CNJ, 2021, p. 15),
aduz que “Em geral, as duas ou três primeiras componentes principais costumam
explicar mais de 80% da variabilidade dos dados originais e, então, aquelas com
variância pequena são descartadas”.
Mediante a identificação das correlações entre as variáveis principais de cada
Capital, se verificou que do total de 50 iniciais, 14 destas se mostraram relevantes
para a explicação do acesso à justiça, sendo cinco do Capital Cidadania, cinco do
Capital População e outras quatro do Capital Judiciário (CNJ, 2015, p. 20), ora
relacionadas no quadro a seguir.

Quadro 1 - Relação de variáveis finais por tipo de Capital

Fonte: Conselho Nacional de Justiça (2020).

25Este tipo de análise é mais conhecido por “PCA”, sigla em inglês de Principal Components Analysis.
(CNJ, 2021, p. 14)
24
A análise dos resultados gerados demonstrou que as variabilidades
acumuladas apresentadas pelas duas primeiras componentes principais de cada tipo
de Capital são superiores a 90%, portanto, as variáveis são altamente relacionadas
entre si.

Tabela 1 - Tabela das duas primeiras Componentes Principais por tipo de Capital

Fonte: Conselho Nacional de Justiça (2020).

No Capital Humano Cidadania, a Componente Principal 1 (CP1) se trata de


uma comparação entre as “Taxa de moradores de domicílios com água canalizada”,
“Taxa de nascidos vivos de mães entre 10 e 19 anos”, “Défice de altura para a idade”
(DAI) e “Défice de peso para a idade” (DPI), enquanto a Componente Principal 2 (CP2)
compara exclusivamente a taxa de analfabetismo entre pessoas maiores de 15 anos
de idade com as taxas de défice de altura para a idade, défice de peso para a idade e
de moradores domicílios com água canalizada. O estudo em análise apontou que “a
falta de investimento na alfabetização depõe contra os valores de Cidadania” (CNJ,
2021, p. 21/22) e afirmou que
os tribunais localizados nas regiões Norte e Nordeste do Brasil obtiveram
menores índices do Capital Cidadania, os quais são influenciados,
negativamente, pelos altos percentuais de analfabetismo de pessoas maiores
de 15 anos (a taxa é de 6,9% e 14,5%, respectivamente, na região Norte e
Nordeste).

Demonstrando, assim, que ao tratar do tema de acesso à justiça, o


analfabetismo e a deficiência social retratada pela falta de escolaridade se tratam de
aspectos preponderante.
Outro fator relevante apontado foi a taxa de nascidos vivos de mães entre 10 e
19 anos, que evidenciam a relação com os impactos sociais oriundos da gravidez
precoce, que geram entraves para que as jovens mães tenham acesso à educação e

25
ao trabalho formal, resultando em dificuldades socioeconômicas para ela e sua
família.
Por conseguinte, quanto maiores forem as taxas de analfabetismo de pessoas
maiores de 15 e taxas de nascidos vivos de mães adolescentes e as taxas de DAI e
DPI, menor será o escore dos Tribunais na Componente Principal 1 (CNJ, 2021, p.
22).
Ao adentrar na análise do Capital Humano População, o estudo verificou que
as variáveis “Coeficiente de Gini”, “Pessoas maiores de 50 anos”, “Taxa de
Escolarização” e “Cor/Raça Não Branca”, são bem correlacionadas na Componente
Principal 1.
A relevância do Coeficiente de Gini foi destacada pelo Conselho Nacional de
Justiça, que ressaltou que tal indicador “varia de 0 a 1 e quanto maior, pior, pois
expressa maior desigualdade”, porquanto, nas regiões em que a taxa de
escolarização é menor, o Coeficiente de Gini apresenta resultado inversamente
proporcional (CNJ, 2021, p. 24).
Na Componente Principal 2, foram comparadas todas as variáveis do Capital
em comento, sendo que taxa de mulheres na população auferiu o maior coeficiente
de relação em comparação com as demais.
Ao tratar da influência das variáveis no escore total dos tribunais, o CNJ
assevere que:
[...] o aspecto educacional é retratado como fundamental e, em uma
população cujo perfil é menos escolarizado, o escore total do respectivo
Tribunal será decrescido, caso a taxa de escolarização seja muito baixa.
(CNJ, 2021, p. 24)

Considerando que a deficiência social relacionada com a educação é atestada


como prejudicial para a efetivação do acesso à justiça, corrobora-se a assertiva
apresentada em relação ao aspecto sociológico apontado no capítulo “1.3” do
presente trabalho, no que tange ao desconhecimento de direitos por pessoas
hipervulneráveis socioeconomicamente, que resulta em dificuldades para que tais
pessoas compreendam os problemas jurídicos que lhes afetam e a partir disto,
identifiquem os mecanismos adequados para a estabilização dos conflitos.
No que concerne ao Capital Institucional Judiciário, na Componente Principal 1
as principais variáveis são “Taxa de varas e magistrados em relação à população” e

26
“Taxa de casos novos do 1º grau por 100 mil habitantes”, enquanto na Componente
Principal 2, a variável de “Tempo médio de decisão” se sobressai em relação às
demais, apresentando o maior coeficiente (CNJ, 2021, p. 25).
A existência de poucos magistrados e varas em relação ao tamanho da
população, assim como o elevado número de casos novos na primeira instância são
fatores que contribuem para o decréscimo do escore dos Tribunais, sendo que a
situação pode se agravar, caso o tempo médio de decisão seja demasiadamente
longo, variável que possui maior coeficiente de correlação na Componente Principal 2
(CNJ, 2021, p. 26).
A tabela a seguir apresenta as médias relativas às principais variáveis do
Capital Institucional Judiciário.

Tabela 2 - Resultados das variáveis finais do Capital Institucional Judiciário

Fonte: Conselho Nacional de Justiça (2020).

Os resultados finais, apresentando os escores por Capital para cada tipo de


justiça foram os seguintes:

27
Tabela 3 – Escores totais e por Capital para cada tipo de Justiça

Fonte: Conselho Nacional de Justiça (2020).

Verifica-se que dentre todos os tipos de Justiça, a Estadual possui a maior


quantidade de casos novos, ainda que não apresente o maior tempo médio de
decisão, mormente devido ao fato de que a respectiva taxa de magistrados é
substancialmente superior às das outras justiças.
Entretanto, a mera análise de tais dados é insuficiente para compreender as
realidades sociais de cada tribunal ou região, desta forma, os resultados analíticos
dos escores para cada tribunal devem ser analisados de forma individual, a fim de
vislumbrar suas especificidades e tentar alcançar conclusões satisfatórias.
A seguir, serão apresentados alguns apontamentos elaborados pelo autor, a
partir da análise dos resultados do índice de acesso à justiça nos Tribunais de Justiça
Estaduais por tipo de Capital, cujos resultados analíticos do estudo elaborado pelo
Conselho Nacional de Justiça constam na relação acostada ao Anexo – A do presente
trabalho.
Inicialmente, chama atenção o fato de que apenas três (TJES, TJGO e TJMG)
dos 27 Tribunais apresentaram simultaneamente escores superiores às médias
nacionais para todos os três tipos de Capital, enquanto o TJSE e o TJTO, na
contramão de tais resultados, apresentaram escores inferiores às médias nacionais,
nos mesmos quesitos.
Dos 22 Tribunais restantes, 15 auferiram resultados acima da média em dois
dos três tipos de Capital, enquanto os últimos sete alcançaram a média em apenas
um dos três Capitais. Nos Tribunais de Justiça dos Estados do Acre, Maranhão, Piauí
e Rio Grande do Norte a média nacional foi atingida apenas no Capital Judiciário e

28
por fim, os Tribunais dos estados do Amapá, Distrito Federal e Territórios e Mato
Grosso superaram a média dos Capitais apenas no Capital Cidadania.
Outros dois grupos se destacaram a partir de resultados individuais negativos
sob a ótica social.
No primeiro, composto pelos Tribunais de Justiça dos Estados da Bahia, Ceará,
Maranhão, Paraíba, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe, os escores individuais
atingidos do Capital Cidadania foram em patamares inferiores a metade da média
nacional, que é de 0,581 para este indicador, ou seja, os respectivos escores foram
inferiores ao valor de 0,2905, o que retrata a existência das deficiências sociais
relacionadas no rol de variáveis finais do Capital Cidadania, em especial o percentual
de analfabetismo e de domicílios com água canalizada, a gravidez precoce e défice
de peso para a idade. Frisa-se que apesar de o Tribunal de Justiça de Alagoas
apresentar o valor zero neste aspecto, o mesmo não foi considerado, pois o autor não
conseguiu identificar a razão que deu origem a tal resultado.
No segundo grupo, ao qual integram os Tribunais de Justiça dos Estados do
Acre, Amazonas, Amapá, Maranhão e Pará, igualmente os escores individuais foram
inferiores a metade da média nacional relativa ao Capital População, que é de 0,518,
portanto, os escores individuais foram inferiores ao valor de 0,259, demonstrando
deficiências interligadas com o aspecto da desigualdade social.
Vale ressaltar que o Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão aparece nos
dois grupos supracitados, mas em contrapartida, obteve o escore de 0,679 no Capital
Judiciário, superando a média nacional, que foi de 0,49.
Conforme exposto anteriormente, quantificar resultados a respeito do tema em
epígrafe não se trata de uma tarefa simples, portanto, ainda que o desenvolvimento
do estudo elaborado pelo Conselho Nacional de Justiça teve por finalidade
desenvolver um índice de acesso à justiça, quesito em que logrou êxito, verifica-se
que os escores finais apresentados não são suficientes para gerar conclusões
assertivas em relação à problemática do acesso à justiça no Brasil, diante da
pluralidade de fatores correlacionados aos problemas sociais e institucionais
existentes.
Entretanto, a partir da metodologia aplicada foi possível constatar que em meio
a pluralidade de deficiências sociais, cada uma apresenta influência diversa em

29
relação às dificuldades para democratizar o acesso, o que demonstra a necessidade
de a questão seja abordada a partir de estudos e projetos regionais, objetivando
diagnosticar os problemas específicos de cada região, a fim de idealizar e aplicar
soluções aptas a dirimir os entraves existentes.

30
3 PRECARIZAÇÃO DO ACESSO À JUSTIÇA

3.1 HIPOSSUFICIÊNCIA CULTURAL E ECONÔMICA EM MEIO ÀS CLASSES


SOCIAIS

Diante do gigantesco abismo compreendido entre as classes sociais no Brasil,


a efetivação dos direitos e garantias fundamentais tem sofrido um processo de
precarização, de modo que pessoas hipossuficientes cultural e economicamente
enfrentam obstáculos para concretizar e dispor de seus direitos sociais básicos.
O doutrinador José Afonso da Silva (2017, p. 288/289), aduz que os “direitos
sociais” compõem a dimensão de direitos fundamentais do homem e os conceitua
como prestações proporcionadas de forma direta ou indireta pelo Estado, a fim de
possibilitar melhores condições de vida aos mais necessitados e promover a
igualização de situações sociais desiguais, porquanto, estes direitos estão
correlacionados ao direito de igualdade, valendo como pressupostos do gozo de
direitos individuais, na medida em que criam condições materiais mais propícias ao
auferimento da igualdade real, que por sua vez, proporciona condição mais compatível
com o exercício efetivo da liberdade.
Boaventura de Sousa Santos (1986, p. 20) alude que quanto mais baixo o
estrato social ao qual pertencem os cidadãos, maior é distância em relação à
administração da justiça e que a explicação para isto não se encontra apenas nos
fatores econômicos, mas também nos sociais e culturais, ainda que alguns destes
últimos possuam correlação com a desigualdade econômica.
Em continuidade a este raciocínio, aduziu que os cidadãos detentores de
menores recursos econômicos tendem a conhecer menos os seus direitos e na
mesma medida, igualmente há tendência para que tenham dificuldades para
reconhecer que os problemas que lhes afetam são problemas jurídicos.
Neste sentido, quanto mais baixo é o estrato social de um consumidor, maior é
a probabilidade que desconheça seus direitos ao adquirir um produto defeituoso
(CAPLOWITZ, 1963 apud SANTOS, 1986, p. 21) e ainda que a violação do direito seja
identificada, há relutância em buscar a reparação por meio de vias judiciais, o que é
explicado a partir de dois fatores: experiências anteriores negativas com a justiça, em

31
especial relacionadas à prestação de serviços advocatícios, que via de regra
demandam uma prestação pecuniária e a insegurança para demandar a tutela
jurisdicional do Estado, diante do receio de sofrer represálias (SANTOS, 1986).
Considerando que a “hipossuficiência cultural” se traduz pela ausência de
conhecimento em relação aos próprios direitos, assim como dos meios cabíveis para
reparar eventuais violações, este aspecto guarda relação com a problemática da
educação.
Por outro lado, a hipossuficiência econômica na acepção legal é conceituada
pela ausência de recursos financeiros, conforme se verifica ao analisar os respectivos
dispositivos normativos, quais sejam o artigo 5º, inciso LXXIV, que dispõe que “O
Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem
insuficiência de recursos” (BRASIL, 1988, grifado), somado ao artigo 98 da Lei
13.105/15, que dispõe “A pessoa natural ou jurídica, brasileira ou estrangeira, com
insuficiência de recursos para pagar as custas, as despesas processuais e os
honorários advocatícios tem direito à gratuidade da justiça, na forma da lei” (BRASIL,
2015) ou, ainda, a redação original do atualmente revogado parágrafo único do artigo
2º da Lei 1.060/50, mencionado anteriormente neste trabalho.
Demonstrada a distinção entre ambos os gêneros de hipossuficiência,
necessário analisar outro fator que impõe entraves à efetivação do acesso à justiça.
O problema relacionado à educação se estende para além da hipossuficiência
cultural, posto que o sistema educacional brasileiro ainda se encontra ancorado ao
formalismo, na medida em que os profissionais operadores do Direito mantém a
acepção acadêmica do “Estado – Juiz” responsável por tratar os conflitos
(GONÇALVES, 2016). Sem dúvidas, este fator reflete no excesso de formalismo
presente no Poder Judiciário.
A este respeito, Horácio Wanderlei Rodrigues (1994, p. 125), discorre que:
Alguns dos problemas que se apresentam ao efetivo acesso à justiça, visto
como acesso à ordem jurídica justa, decorrem da má qualidade profissional
apresentada pelos diversos operadores jurídicos. O formalismo vigente tem
origem em grande parte não em problemas legais, mas em uma formação
positivista que não permite aos bacharéis em Direito trabalharem
competentemente com os instrumentos fornecidos pela hermenêutica e pelos
princípios gerais do Direito. Uma hermenêutica crítica, que viabilize essa
prática, através de uma interpretação instrumental, deve levar em
consideração os diversos escopos da jurisdição, os princípios da
instrumentalidade das formas e da economia processual, bem como os

32
princípios constitucionais do direito. O ensino jurídico tem grande parcela de
culpa nesse aspecto.

Ademais, ainda que o preâmbulo da Constituição Cidadã estabeleça que a


justiça se trata de um “valor supremo” e as garantias expressas no caput artigo 5º,
estabelecendo que todos são iguais perante a lei e que o direito de igualdade deve
ser garantido a todos os brasileiros e estrangeiros residentes no país (BRASIL, 1988)
e inciso XXXV do mesmo dispositivo, que dispõe “a lei não excluirá da apreciação do
Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito” (BRASIL, 1988), é inegável que as
parcelas da população com menos acesso à educação e detentoras de menores
recursos econômicos são exponencialmente mais afetadas e igualmente mais
propensas a não alcançarem soluções efetivas para os seus problemas, posto que o
desconhecimento de seus direitos e suas dificuldades econômicas não os compelem
a buscar pela assistência judiciária para buscar reparações ou efetivar seus direitos,
resultando em um estado permanente de défice sob a ótica social, distanciando estes
grupos da possibilidade de exercerem plenamente a cidadania.
Denota-se do exposto que mesmo nas situações em que a barreira cultural seja
superada, a dificuldade em auferir um acesso efetivo à justiça vai de encontro ao
problema organizacional da morosidade na entrega da prestação jurisdicional,
ocasionado, sobretudo, em decorrência do formalismo excessivo (SALLES, 2019),
comumente agasalhado sob a justificativa de que tal se faz necessário para a garantia
da segurança jurídica, portanto, igualmente, se verifica a necessidade de que os
operadores do direito modifiquem suas mentalidades, desprendendo-se deste modelo
em que o formalismo injustificado é preponderante.

3.2 SEGURANÇA JURÍDICA PROCESSUAL X ACESSO À JUSTIÇA

O princípio da segurança jurídica compõe a base de um Estado Democrático


de Direito e é constituído pelo “conjunto de condições que tornam possível às pessoas
o conhecimento antecipado e reflexivo das consequências diretas de seus atos e de
seus fatos à luz da liberdade reconhecida” (VANOSSI, 1982 apud SILVA, 2017, p.
436).

33
Segundo Canotilho (1998), citado por Nacarini (2004, p. 216), este princípio,
em seu sentido amplo, alicerceia todos os atos estatais, na medida em que os
pressupostos da segurança jurídica e da proteção da confiança são exigíveis perante
qualquer ato de poder, seja na esfera legislativa, executiva ou judicial, e conferem ao
indivíduo o direito de seus atos ou as decisões públicas incidentes sobre seus direitos,
posições ou relações jurídicas sejam validados pelas normas jurídicas vigentes, a fim
de resultar nos efeitos previstos e prescritos no ordenamento jurídico.
O ordenamento jurídico brasileiro não apresenta de forma expressa e bem
definida o conceito para a aludida segurança jurídica, todavia, alguns dispositivos
asseguram este direito ou impõem medidas institucionais para a sua manutenção,
como o inciso XXXVI do artigo 5º da Constituição de 1988, que preconiza “a lei não
prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada” (BRASIL,
1988), o inciso XXXIX do mesmo diploma, que estabelece que “não há crime sem lei
anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal” (BRASIL, 1988), o artigo
926 do atual Código de Processo Civil, que determina a uniformização da
jurisprudência dos tribunais, e também os institutos dos recursos repetitivos e súmulas
vinculantes dos Tribunais Superiores.
Atualmente, o direito processual, além de instrumentalizar a garantia dos
tradicionais direitos individuais, igualmente instrumentaliza a garantia dos direitos
difusos e coletivos, inclusos neste escopo os direitos políticos e sociais (RODRIGUES,
1994).
No âmbito processual, os procedimentos estabelecidos pelas legislações
atuam como mecanismos para conferir segurança aos atos processuais, entretanto,
em linha com as razões expostas anteriormente neste trabalho, é imprescindível
reconhecer que em muitas ocasiões são justamente tais procedimentos os
responsáveis por impor entraves ao acesso à justiça.
Ao integrar uma relação processual, os litigantes depositam sua confiança nos
órgãos do Poder Judiciário, o que gera uma expectativa de que os resultados sejam
efetivamente justos, mas de modo a gerar tais resultados, a totalidade dos integrantes
da relação processual, não apenas os litigantes, devem empreender todos os esforços
possíveis para que a atividade jurisdicional possa aperfeiçoar-se de forma produtiva,
útil e célere (MENDONÇA, 2013).

34
Considerando que todo direito tem por finalidade garantir o projeto político de
uma determinada sociedade, a jurisdição, enquanto manifestação do poder do Estado,
tem o processo como instrumento de concretização do supracitado escopo maior de
direitos (RODRIGUES, 1994).
O direito à justiça, é, portanto, direito à jurisdição, que se concretiza na medida
em que o processo se desenvolve de forma equitativa, ou seja, como um conjunto de
atos que se desenvolvam em consonância com os princípios fundamentais que
asseguram a igualdade das partes no exercício do contraditório (garantia da paridade
de armas), ao qual estão associados os princípios instrumentais como o da
publicidade, o da licitude das provas e dos meios utilizados para produzi-las, o da
motivação dos atos judiciais e o da audição da parte adversa (FREITAS, 1996 apud
MENDONÇA, 2013, p. 238).
Entretanto, em termos práticos, a realidade do Judiciário brasileiro é dissonante
em relação a esta ideia, mormente devido ao fato de que a aludida equidade não se
faz presente na maior parte das demandas judiciais diante de uma pluralidade de
razões distintas, como a demora para obter uma decisão de mérito, decorrente da
morosidade da prestação jurisdicional, por vezes oriunda da falta de servidores para
atender às demandas nos tribunais, ambos fatores que integram o problema
organizacional do Judiciário, mas também é possível que a demora resulte da prática
de atos protelatórios pelas partes no decorrer da fase de conhecimento ou que a
decisão proferida pelo juízo não seja satisfatória para algum dos litigantes e este opte
por interpor recursos, igualmente podendo utilizar do instrumento recursal meramente
como uma forma de protelar o trânsito em julgado da decisão e consequente
constituição da coisa julgada, sendo que tais possibilidades, em maior parte, são
oriundas do excessivo formalismo dos procedimentos judiciais.
Tendo em vista tais razões, comumente as partes se sujeitam a formalizar
acordos em condições absolutamente desfavoráveis para elas, em detrimento dos
seus direitos e garantias, ainda que sua pretensão encontre respaldo no ordenamento
jurídico pátrio, como uma maneira de se esquivar da morosidade. Por sua vez, as
pessoas hipossuficientes cultural ou economicamente são mais propensas a serem
afetadas nestas situações.

35
Desta forma, inegavelmente a segurança jurídica se trata de um dos pilares dos
ordenamentos jurídicos modernos, portanto, indispensável para o exercício da
jurisdição.
Em que pese tal assertiva, na realidade brasileira o formalismo excessivo dos
procedimentos judiciais é contraproducente no que concerne a efetivação do direito
constitucional de acesso à justiça, de modo que, para o tratamento qualitativamente
adequado dos litígios, o modelo dos Juizados Especiais tem se mostrado preferível,
uma vez que comporta um procedimento mais simplificado, nas hipóteses em que a
competência desta instituição engloba o conflito a ser solucionado e a segurança
jurídica é resguardada.

3.3 ACESSO À JUSTIÇA NÃO É APENAS ACESSO AO PODER JUDICIÁRIO

Importa destacar que o acesso à justiça não contempla apenas a possibilidade


de recorrer do Poder Judiciário para demandar a tutela jurisdicional do Estado, pois
conforme asseveram Cappelletti e Garth (1988, p. 13), o “acesso” não se trata apenas
de um direito social fundamental crescentemente reconhecido, mas também e
necessariamente o ponto central da processualística moderna, porquanto, seu estudo
pressupõe um alargamento e aprofundamento dos objetivos e métodos da ciência
jurídica moderna.
O efetivo acesso à justiça deve contemplar soluções justas e eficientes para os
conflitos que afligem a população, sobretudo devido a distância entre as camadas
mais baixas da pirâmide de estratificação social e o Poder Judiciário, oriunda dos
obstáculos econômicos, sociais e culturais que obstam o conhecimento a respeito dos
direitos individuais e coletivos, também devendo ser considerado o fato de que o
Estado não tem se mostrado capaz de atender de forma célere e satisfatória toda a
demanda que lhe é imposta através das ações que gradativamente se acumulam e
abarrotam o Judiciário.
Esta ideia é ratificada por Araújo e Melo (2014, p. 163), ao afirmarem que os
sistemas judiciários modernos têm o acesso à justiça como valor fundamental da
própria democracia e objetivam garantir e não meramente declarar os direitos dos
cidadãos, sendo que na hipótese de garantia plena deste direito, as demandas e

36
conflitos seriam apresentadas à justiça para resultar na diminuição da violência difusa
e por conseguinte, promover o equilíbrio das relações sociais.
Ao tempo em que a sociedade segue insistindo na sistemática de judicialização
das avenças, é seguro afirmar que isto resulta na agravação da precariedade da
situação do Judiciário brasileiro, afetando negativamente o resultado útil dos
processos, o que, por conseguinte, desestimula os cidadãos a buscarem a efetivação
de seus direitos e distancia ainda mais a população do pleno exercício da cidadania,
o que contribui para o desequilíbrio das relações sociais.
Coadunado a este raciocínio, Horácio Wanderlei Rodrigues (1994, p. 128)
apresenta argumentos contundentes, aduzindo que:
A solução para os problemas do acesso à justiça passa hoje também (talvez
prioritariamente) por outras instâncias que não a jurídico-processual. É
importante ter essa consciência, sob pena de não se caminhar do sentido de
equacioná-los. O processualista que não perceber esse aspecto, que não se
inserir no contexto político, econômico, cultural e social de seu tempo,
continuando a ver as questões de acesso à justiça apenas como problemas
a serem resolvidos através da criação de novos instrumentos técnico-
processuais ou da correção dos existentes, estará auxiliando na manutenção
e reprodução do status quo. É preciso que o sistema processual seja visto
não somente como um instrumento de solução de conflitos intersubjetivos
(aspecto inegavelmente importante) ou mesmo difusos, coletivos ou
individuais homogêneos, mas também e fundamentalmente como
instrumento político de realização da justiça.

Desta forma, se verifica que há muito tempo a doutrina chama atenção para o
fato de que a solução para o problema do acesso à justiça não está intrinsicamente
relacionada com reformas no âmbito processual, embora diante da complexibilidade
e mutabilidade do direito e das estruturas e relações sociais, é cediço que
pontualmente surge a necessidade de promover mudanças para a finalidade de
aperfeiçoar técnicas ou procedimentos judiciais.
Portanto, a acepção comum de “acesso à justiça” merece ser revisada, a fim
de que a ideia de acessar a justiça não seja exclusivamente interpretada como acesso
ao Poder Judiciário através de uma ação judicial, dando lugar ao conceito
contemporâneo retratado acima.
Neste sentido, de modo a conferir efetividade e celeridade para as resoluções
das avenças, devem ser explorados os meios alternativos de resolução de conflitos,
utilizando métodos de conciliação, mediação, negociação e arbitragem, diante do
novo expoente aportado ao ordenamento jurídico brasileiro com a edição da
37
Resolução nº 125/2010 do Conselho Nacional de Justiça e o advento do Código de
Processo Civil de 2015.
O ato normativo e o diploma legal supracitados deram preferência aos métodos
autocompositivos de conciliação e mediação, que apesar de soarem similares, tendo
em vista que em ambos ocorre a intervenção de um terceiro imparcial para auxiliar as
partes a alcançarem a composição consensual, são mecanismos diferentes, pelo que
se faz necessário distingui-los.
Salienta-se que a autocomposição é regida pelo princípio da autonomia da
vontade das partes e a participação em uma sessão de conciliação ou mediação é
uma faculdade conferida aos interessados em solucionar consensualmente suas
desavenças, portanto, em nenhum dos procedimentos o terceiro imparcial resolverá o
conflito impondo às partes uma solução de forma unilateral.
O artigo 165 do Código de Processo Civil apresenta a conceituação das
atividades a serem desempenhadas pelos mediadores e conciliadores, sendo que no
parágrafo segundo dispõe que o conciliador deverá atuar preferencialmente nos casos
em que não exista vínculo anterior entre as partes, podendo tão sugerir soluções para
os litígios, mas é vedada a prática de qualquer tipo de constrangimento ou intimidação,
de modo a coagir as partes a conciliarem.
O ministro Marco Buzzi (2014, p. 456), do Superior Tribunal de Justiça, ao
discorrer a respeito da conciliação, cita Dinamarco (2005), asseverando que:
Conciliação é acordo de vontades que resulta de concessões mútuas, em que
um terceiro imparcial ajuda, orienta e facilita a composição. O conciliador,
além de orientar pode sugerir soluções, desenvolve atividade de modo
imparcial, avalia a situação litigiosa propondo uma solução ao conflito,
enunciando as vantagens e desvantagens que a transação acarreta aos
litigantes

Se verifica, portanto, que o conciliador desempenha uma função ativa, podendo


apresentar sugestões e propostas para solucionar o conflito, diferentemente da figura
do mediador, que deve atuar preferencialmente nos casos em que existe vínculo
anterior entre as partes, devendo auxiliá-los a reestabelecer a comunicação,
compreender a questão e os interesses conflitantes e alcançarem por conta própria
uma solução consensual, que as beneficie mutuamente, de acordo com o que dispõe
o parágrafo terceiro do dispositivo citado anteriormente e o parágrafo primeiro da Lei
nº 13.140 de 26 de junho de 2015, que regulamenta o mecanismo da mediação.
38
Vale ressaltar que o artigo 168 do códex processualista dispõe que a sessão
de conciliação ou mediação pode ocorrer no âmbito extrajudicial ou judicial,
possibilitando às partes que escolham o terceiro interveniente (mediador ou
conciliador) ou optem que este seja designado pelo tribunal que exerce a jurisdição
sobre o respectivo conflito.
Notadamente, em se tratando de conciliação ou mediação judicial, o ajuste de
vontade das será submetido à homologação do juízo competente, mas no que
concerne à eficácia dos ajustes autocompositivos extrajudiciais, os legisladores
tiveram o cuidado de criar mecanismos para atribuir segurança jurídica às transações
e lhes conferir exequibilidade para garantir os respectivos cumprimentos, sendo
facultado às partes adotarem as medidas que julgarem necessárias para tanto.
O artigo 20 da Lei nº 13.140/15 preconiza que o procedimento da mediação
será encerrado mediante a lavratura de termo final, independentemente da celebração
de acordo, enquanto o parágrafo único deste mesmo dispositivo dispõe que “O termo
final de mediação, na hipótese de celebração de acordo, constitui título executivo
extrajudicial e, quando homologado judicialmente, título executivo judicial” (BRASIL,
2015), enquanto na hipótese de conciliação, a redução a termo da transação se trata
de uma faculdade das partes.
Em ambas as hipóteses de transação extrajudicial, o ajuste pode ser submetido
a homologação judicial por meio do procedimento de jurisdição voluntária, na forma
estabelecida pelos artigos 719 a 724 do Código de Processo Civil e diante da
possibilidade estabelecida pelo artigo 725, inciso VIII do mesmo diploma, que dispõe
“Processar-se-á na forma estabelecida nesta Seção o pedido de: [...] VIII -
homologação de autocomposição extrajudicial, de qualquer natureza ou valor”
(BRASIL, 2015).
Face ao exposto, o acesso à justiça não se restringe à possibilidade de ajuizar
uma ação judicial, na medida em que existem formas alternativas para alcançar
soluções justas e efetivas para os conflitos de interesses, a toda evidência, caso os
esforços da máquina pública sejam voltados para o aperfeiçoamento e disseminação
dos métodos alternativos, isto poderá resultar na modificação da acepção comum a
respeito do conceito de acesso à justiça, o que consequentemente ampliará as

39
possibilidades de efetivação dos direitos individuais e coletivos, o que, em verdade,
corresponde à finalidade real e contemporânea do princípio do acesso à justiça.

40
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Inicialmente, importa consignar que o Direito enquanto sistema de normas que


regulamenta as relações sociais deve ser constante objeto de estudo, particularmente
em relação ao ramo Constitucional, que é responsável pela estruturação dos Estados
e contempla as garantias e direitos sociais, políticos e econômicos.
O presente trabalho buscou apresentar brevemente o histórico do acesso à
justiça no mundo e demonstrar como o respectivo princípio se desenvolveu no
ordenamento jurídico brasileiro, sendo no primeiro momento a partir de um aspecto
formalista, que visava tão somente declarar direitos, estando ausente a pretensão de
realmente efetivá-los, de modo que o Estado se limitava a prover a possibilidade de
que a população demandasse a tutela jurisdicional do Estado a através de uma ação
judicial.
O conceito do princípio de acesso à justiça sofreu modificações no século XX,
em especial após as guerras mundiais, progredindo em relação à ótica formalista
anterior e dando lugar ao conceito contemporâneo, em que foi consolidado como um
dos princípios basilares de um Estado Democrático de Direito e ocupa a função de
instrumentalizador da justiça social.
Em que pese comumente seja atribuída ao Poder Judiciário a responsabilidade
pela demora na tramitação dos processos, foi possível verificar que tal
responsabilidade não é exclusiva.
A doutrina identificou obstáculos ao efetivo acesso à justiça, que estão em
maior parte relacionados com a desigualdade social, sendo que mediante a
abordagem realizada neste trabalho ao analisar a situação do Brasil, foi possível
verificar que a hipossuficiência cultural e econômica, que contempla o
desconhecimento dos direitos individuais e coletivos e a ausência de recursos
financeiros, representam o maior obstáculo a ser superado, fatores que estão
intrinsicamente correlacionados com a problemática da educação.
O primeiro estudo que teve por finalidade mensurar o acesso à justiça pela
população no Brasil, contemplando fatores qualitativos, históricos, institucionais,
políticos, econômicos, culturais e sociais foi elaborado pelo Conselho Nacional de
Justiça e publicado em fevereiro de 2021, mas embora seja pioneiro, a partir de seus

41
resultados não foi possível gerar conclusões assertivas em relação à problemática do
acesso à justiça em território nacional, diante da pluralidade deficiências sociais e dos
problemas institucionais existentes, posto que cada um destes fatores influencia de
forma diversa o problema.
Em contrapartida, fica evidente a necessidade serem realizados novos estudos,
motivo pelo qual se se sugere o desenvolvimento e implementação de novas políticas
públicas para esta finalidade específica e que neste primeiro momento,
preferencialmente o foco seja voltado para a realização de estudos regionais,
objetivando diagnosticar os problemas específicos de cada região, a fim de que
posteriormente sejam desenvolvidas soluções aptas a dirimir os entraves existentes.
O ordenamento jurídico brasileiro é devidamente amparado pelas disposições
normativas constitucionais e infraconstitucionais existentes para garantir o acesso ao
Poder Judiciário, mas conforme preconiza a doutrina, o desenvolvimento de novos
mecanismos e procedimentos judiciais não são suficientes para garantir o acesso à
justiça.
Constatou-se que há risco de agravação da precariedade da situação do Poder
Judiciário em decorrência da sistemática atual de judicialização das avenças e
excessivo formalismo dos procedimentos judiciais, que contribuem para a
manutenção do status quo das classes sociais na medida em que a parcela da
população que busca exclusivamente as soluções para os conflitos na esfera judicial
não encontra efetividade e desestimula os cidadãos a buscarem a efetivação de seus
direitos por esta via
Igualmente foi demonstrada a necessidade de que a acepção comum de
“acesso à justiça” seja revisada, a fim de que a sociedade passe a compreender que
o acesso não se limita a possibilidade de ajuizar uma ação para obter uma reparação
ou viabilizar a efetivação de um direito, portanto, sugere-se, por fim, que o esforços
da máquina pública sejam voltados para o aperfeiçoamento e disseminação dos
métodos alternativos de resolução de conflitos, somado ao desenvolvimento em
paralelo de políticas públicas voltadas para a área da educação, objetivando
conscientizar a sociedade no que concerne a finalidade real e contemporânea do
princípio do acesso à justiça.

42
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48
ANEXOS

ANEXO A – ÍNDICE DE ACESSO À JUSTIÇA NOS TRIBUNAIS DE JUSTIÇA


ESTADUAIS POR TIPO DE CAPITAL

Fonte: Conselho Nacional de Justiça (2020).

49

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