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FACULDADE DAMÁSIO

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM DIREITO DO


TRABALHO E PROCESSO DO TRABALHO

Diogo Francisco de Oliveira

DANO MORAL TRABALHISTA

São Paulo
2018
FACULDADE DAMÁSIO
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM DIREITO DO
TRABALHO E PROCESSO DO TRABALHO

Diogo Francisco de Oliveira

DANO MORAL TRABALHISTA

Monografia apresentada à Faculdade Damásio,


como exigência parcial para obtenção do título
de Especialista em Direito do Trabalho e
Processo do Trabalho, sob orientação do Prof.
Marlon Marcelo Murari.

São Paulo
2018
Diogo Francisco de Oliveira

DANO MORAL TRABALHISTA

TERMO DE APROVAÇÃO

Esta monografia apresentada no final do Curso


de Pós-Graduação Lato Sensu em Direito do
Trabalho e Processo do Trabalho, na
Faculdade Damásio, foi considerada suficiente
como requisito parcial para obtenção do
Certificado de Conclusão. O examinado foi
aprovado com a nota______________.

São Paulo, ____/______/2018.


Dedico a minha mãe Sonilda Maria, pois
confiou em mim e me deu esta oportunidade
de concretizar e encerrar mais uma caminhada
da minha vida. Sei que ela não mediu esforços
para que este sonho se realizasse, sem a
compreensão, ajuda e confiança dela nada
disso seria possível hoje.
AGRADECIMENTOS

Primeiramente a Deus, acima de tudo, pela


vida, força e coragem.
A minha mãe Sonilda Maria, que acima de
qualquer vontade, projeto pessoal e até mesmo
necessidade, priorizou o estudo e a educação
me proporcionando, mesmo com muitas
dificuldades, uma educação qualificada desde
as séries iniciais.
Em especial, à minha esposa Meireles, por
toda paciência, compreensão, carinho e amor,
e por me ajudar muitas vezes a achar soluções
quando elas pareciam não existir. Você foi a
pessoa que compartilhou comigo os momentos
de tristezas e alegrias. Por tantas vezes ao
longo desta caminhada ter escutado meus
desabafos, medos e angústias e, por vezes
mesmo sem entender direito do que se tratava
me fez acreditar que tudo daria certo, me
dando força e incentivo para continuar no meu
propósito de concluir o curso.
Ao meu orientador, professor Marlon Marcelo
Murari, que assumiu esse desafio junto comigo
e sem medir esforços nem horários me
proporcionou inúmeros aprendizados e
brilhantemente me conduziu a um resultado
satisfatório.
TERMO DE RESPONSABILIDADE

Eu Diogo Francisco de Oliveira, acadêmico do curso de Pós-Graduação Lato Sensu


em Direito do Trabalho e Processo do Trabalho, orientado pelo professor Marlon Marcelo
Murari, declaro para os devidos fins que o Trabalho de Conclusão de Curso atende às
normas técnicas e científicas exigidas na elaboração de textos, previstas no Manual para
Elaboração de Trabalhos Acadêmicos.

As citações e paráfrases dos autores estão indicadas e apresentam a origem da ideia


do autor com as respectivas obras e anos de publicação.

Declaro, ainda, minha inteira responsabilidade sobre o texto apresentado no


trabalho acadêmico (Monografia) desenvolvido.

São Paulo, ____ de _______________ de _____.

__________________________________________

Assinatura do Acadêmico
RESUMO

O assédio moral é caracterizado por condutas que evidenciam violência psicológica no local
de trabalho, que pode ser manifestado de diversas formas, por superiores hierárquicos, ou
colegas de trabalho, que visam desestabilizar emocionalmente o empregado, humilhá-lo,
constrangê-lo, perante si e seus colegas de trabalho, colocando em risco a continuidade da
relação laboral e a saúde do trabalhador. Nesse sentido, o trabalho desenvolvido teve como
intuito analisar o dano moral e seus elementos. Sendo assim, o objetivo principal desta
monografia foi estudar o Dano Moral Trabalhista advindo do assédio moral. Nesse contexto,
buscou-se na fundamentação teórica, analisar o dano moral e seus elementos. A análise do
assédio moral e os requisitos do dano moral trabalhista se fez necessário para melhor
compreensão da competência material. A realização desta monografia levou à reflexão sobre
os requisitos do dano moral trabalhista e buscou responder três problemas: Quais são as
espécies de dano moral trabalhista? O dano moral trabalhista advindo do assédio moral afeta
mais recorrentemente alguma classe social, gênero ou raça? Qual a relevância social em
discutir este dano na esfera trabalhista? A escolha do tema se justifica, pois, acredita-se que o
assédio moral tem várias facetas. Além de comprometer relações trabalhistas, a prática dessa
conduta também leva a graves consequências físicas e psicológicas. O estudo em foco
compreendeu elementos de pesquisa qualitativa, sendo que o mesmo utilizou uma pesquisa
exploratória com levantamento bibliográfico, propondo identificar os elementos do dano
moral, os requisitos para configuração do dano moral e suas consequências. A monografia foi
dividida em quatro capítulos. O primeiro contemplou um estudo sobre o Direito do Trabalho,
suas fontes e princípios. No segundo capítulo, estudou-se a responsabilidade civil, analisando
o dano moral e seus elementos, apresentando os elementos da responsabilidade civil e as origens
do dano moral. O terceiro capítulo discorreu sobre o assédio moral e os requisitos do dano
moral trabalhista, apresentando a competência para ações de reparação de dano moral,
conceituando assédio moral, analisando os requisitos do dano moral trabalhista. No quarto
capítulo foram apresentadas a competência material, as consequências do assédio moral e o
tratamento internacional quanto ao crime.

Palavras-Chave: Assédio Moral. Reparação. Dano Moral. Consequências.


ABSTRACT

Bullying is characterized by behaviors that show psychological violence in the workplace,


which can be manifested in various ways by hierarchical superiors or co-workers, aimed at
emotionally destabilizing the employee, humiliating him or embarrassing him before him and
their co-workers, putting at risk the continuity of the labor relationship and the health of the
worker. In this sense, the work developed had the purpose of analyzing the moral damage and
its elements. Therefore, the main objective of this monograph was to study the Moral Labor
Damage arising from bullying. In this context, it was sought in the theoretical foundation, to
analyze the moral damage and its elements. The analysis of bullying and the requirements of
labor moral damage became necessary for a better understanding of material competence. The
realization of this monograph led to the reflection on the requirements of labor moral damage
and sought to answer three problems: What are the kinds of labor moral damage? Does moral
harassment from harassment most often affect some social class, gender, or race? What is the
social relevance of discussing this harm in the labor sphere? The choice of theme is justified
because it is believed that bullying has many facets. Besides committing labor relations, the
practice of this conduct also leads to serious physical and psychological consequences. The
study in focus comprised elements of qualitative research, and it used an exploratory research
with a bibliographical survey, proposing to identify the elements of moral damage, the
requirements for the configuration of moral damage and its consequences. The monograph
was divided into four chapters. The first included a study on Labor Law, its sources and
principles. In the second chapter, civil liability was studied, analyzing moral damage and its
elements, presenting the elements of civil responsibility and the origins of moral damage. The
third chapter discussed moral harassment and the requirements of labor moral damage,
presenting the competence for moral damages reparation actions, conceptualizing moral
harassment, analyzing the requirements of labor moral damage. The fourth chapter dealt with
material competence, the consequences of bullying and international treatment of crime.

Keywords: Moral Harassment. Repair. Moral damage. Consequences.


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.......................................................................................................................11

1 DIREITO DO TRABALHO...............................................................................................12

1.1 Fontes do Direito do Trabalho............................................................................................13

1.2 Princípios do Direito do Trabalho.......................................................................................14

1.2.1 Princípio da proteção.......................................................................................................15

1.2.2 Princípio da irrenunciabilidade de direitos......................................................................17

1.2.3 Princípio da continuidade da relação de emprego...........................................................17

1.2.4 Princípio da primazia da realidade...................................................................................18

2 RESPONSABILIDADE CIVIL..........................................................................................19

2.1 Dos elementos da responsabilidade civil............................................................................24

2.1.1 A ação..............................................................................................................................25
2.1.2 Nexo causal......................................................................................................................27
2.1.3 Dano.................................................................................................................................28
2.1.3.1. Dano material..............................................................................................................30
2.1.3.2. Dano moral..................................................................................................................30
2.1.3.3 Dano Estético................................................................................................................31
2.1.3.4 As origens do dano moral.............................................................................................34
2.1.3.5 Dano moral direto e indireto.........................................................................................35
2.1.4 Conduta culpável.............................................................................................................37
2.2 Materialização do dano moral.........................................................................................38

2.3 A Legislação Brasileira e o dano moral..........................................................................39

3 ASSÉDIO MORAL E OS REQUISITOS DO DANO MORAL TRABALHISTA........41

3.1 Competência para ações de reparação de dano moral..................................................41

3.2 Assédio moral....................................................................................................................43

3.2.1 Controles audiovisuais.....................................................................................................46


3.2.2 Revista pessoal.................................................................................................................47
3.2.3 Aspectos extra laborais....................................................................................................48
3.2.4 Assédio sexual.................................................................................................................49
3.2.5 Rebaixamento funcional..................................................................................................50
3.4 Assédio moral horizontal e rescisão indireta..................................................................52

3.5 A reparação do dano sofrido............................................................................................53

3.6 Quantum indenizatório....................................................................................................55

4. COMPETÊNCIA MATERIAL, CONSEQUÊNCIAS DO ASSÉDIO MORAL E


TRATAMENTO INTERNACIONAL..................................................................................59

4.1. Divergência quanto à competência das ações................................................................59

4.2 Consequências físicas e psicológicas do assédio moral e acidente de trabalho


equiparado...............................................................................................................................61

4.3 Assédio moral e a rescisão do contrato de trabalho.......................................................64

4.4 Tratamento internacional................................................................................................67

4.5 Jurisprudência e assédio moral nas relações de trabalho.............................................70

CONCLUSÃO.........................................................................................................................76

REFERÊNCIAS......................................................................................................................78
11

INTRODUÇÃO

O assédio moral, tema objeto dessa reflexão é amplo, polêmico, interdisciplinar e


carente de legislação de regência. A doutrina e a jurisprudência são as fontes de estudo e
pesquisa disponíveis, além de projetos de lei tendentes a regulamentar o instituto.
O estudo do dano moral trabalhista é de suma importância, visto que tem o poder de
afetar inúmeros indivíduos direta ou indiretamente, pois que, a vítima desta sorte de dano não
consegue se desvencilhar de seus efeitos ao sair do âmbito da empresa, levando consigo
problemas ao seu convívio familiar, o que chega a destruir matrimônios. O trabalho é a base
de sobrevivência do cidadão e a ferramenta de sua satisfação pessoal, de seu sentimento de
adequação e utilidade. O trabalho é o meio que resulta na paz e na harmonia social. Não à toa,
Benjamin Franklin afirmava que "o trabalho dignifica o homem".
Nesse contexto, pretende-se elaborar um trabalho que apresente em uma linha de
raciocínio simplificada o dano moral trabalhista, suas formas, requisitos e peculiaridades, bem
como discussões relevantes acerca do tema. Sendo assim, o objetivo principal desta
monografia é estudar o dano moral trabalhista advindo do assédio moral.
Não reprimir o assédio moral é verdadeira afronta ao princípio da dignidade da
pessoa humana sobre o qual a República brasileira foi erigida e este mundo, como o
conhecemos, foi moldado. Se a escalada global de lucro alavancou os números de vítimas, por
outro lado, vê-se que a legislação internacional coaduna com a nacional, demonstrando uma
verdadeira consonância de proteção em várias esferas, o que não aconteceria caso o tema não
fosse de elementar relevância.
O estudo em foco compreenderá elementos de pesquisa qualitativa, sendo que o
mesmo utilizará uma pesquisa exploratória com levantamento bibliográfico, propondo
identificar os elementos do dano moral, os requisitos para configuração do dano moral e suas
consequências. A pesquisa bibliografia será desenvolvida a partir de artigos, doutrinas e
jurisprudências.
A monografia será dividida em três capítulos. O primeiro contemplará um estudo
sobre o dano moral e seus elementos, apresentando os elementos da responsabilidade civil e
as origens do dano moral. O segundo capítulo discorrer-se-á sobre o assédio moral e os
requisitos do dano moral trabalhista, apresentando a competência para ações de reparação de
dano moral, conceituando assédio moral, analisando os requisitos do dano moral trabalhista.
12

1 DIREITO DO TRABALHO

O Direito do Trabalho é o conjunto de princípios, regras e instituições atinentes à


relação de trabalho subordinado e situações análogas, visando assegurar melhores condições
de trabalho e sociais ao trabalhador, de acordo com as medidas de proteção que lhe são
destinadas.
De acordo com Martins (2000), o Direito do Trabalho contém princípios que são
colocações genéricas das quais derivam as demais normas. Com o conhecimento dos
princípios do Direito do Trabalho, nota-se um tratamento científico dado à disciplina,
justificando, também, sua autonomia. Tem o Direito do Trabalho inúmeras regras que versam
sobre a matéria. A maioria delas está contida na CLT.
No Direito do Trabalho, não existem apenas conjuntos de princípios e normas, mas
também de instituições, de entidades, que criam e aplicam o referido ramo do Direito. O
Estado é o maior criador de normas de Direito do Trabalho. O Ministério do Trabalho edita
portarias, resoluções, instruções normativas etc. A Justiça do Trabalho julga as questões
trabalhistas.
Martins (2000, p. 45), ressalta que o objeto do Direito do Trabalho é o estudo do
trabalho subordinado. Daí o emprego de duas teorias para conceituar a matéria em estudo: a
subjetiva e a objetiva. A teoria subjetiva toma por base os tipos de trabalhadores a que se
aplica Direito do Trabalho. Não se pode conceber, porém, que qualquer trabalhador será
amparado pelo Direito do Trabalho, como ocorre com o funcionário público e o trabalhador
autônomo, que são espécies do gênero trabalhadores, não sendo assistidos por nossa matéria.
O Direito do Trabalho estuda uma espécie de trabalhador: o empregado, que é o trabalhador
subordinado ao empregador, que não tem autonomia em seu mister. As teorias objetivistas
partem do ângulo da matéria a ser analisada e não das pessoas. O Direito do Trabalho estuda
não o trabalho autônomo, mas o trabalho subordinado.
Com o emprego da expressão situações análogas, pretendemos tratar das situações
que têm semelhança com o trabalho subordinado, mas que necessariamente não são iguais a
ele. O trabalhador temporário e o empregado doméstico não deixam de ser subordinados.
A finalidade do Direito do Trabalho é assegurar melhores condições de trabalho,
porém não só essas situações, mas também condições sociais ao trabalhador. Assim, o Direito
do Trabalho tem por fundamento melhorar as condições de trabalho dos obreiros e também
suas situações sociais, assegurando que o trabalhador possa prestar seus serviços num
13

ambiente salubre, podendo, por meio de seu salário, ter uma vida digna para que possa
desempenhar seu papel na sociedade. O Direito do Trabalho pretende corrigir as deficiências
encontradas no âmbito da empresa, não só no que diz respeito às condições de trabalho, mas
também para assegurar uma remuneração condigna a fim de que o operário possa suprir as
necessidades de sua família na sociedade. Visa o Direito do Trabalho melhorar essas
condições do trabalhador.
A melhoria das condições de trabalho e sociais do trabalhador é feita por meio de
uma legislação que, antes de tudo, tem, por objetivo proteger o trabalhador, que é considerado
o polo mais fraco da relação com seu patrão. Este é normalmente mais forte economicamente,
suportando os riscos de sua atividade econômica.
As medidas protetoras a serem observadas são previstas na própria legislação,
quando limita a jornada de trabalho, assegura férias ao trabalhador depois de certo tempo,
possibilita intervalos nas jornadas de trabalho, prevê um salário que é considerado o mínimo
que o operário pode receber etc.

1.1 Fontes do Direito do Trabalho

O estudo das fontes do Direito pode ter várias significações, como o de sua origem, o
de fundamento de validade das normas jurídicas e da própria exteriorização do Direito. Fontes
formais são as formas de exteriorização do direito. Exemplos: leis, costumes etc.
Fundamentado na obra de Martins (2000), o estudo mostra que as fontes materiais
são o complexo de fatores que ocasionam o surgimento de normas, envolvendo fatos e
valores. São analisados fatores sociais, psicológicos, econômicos, históricos etc., ou seja, os
fatores reais que irão influenciar na criação da norma jurídica valores que o Direito procura
realizar.
As fontes de Direito podem ser heterônomas ou autônomas. Heterônomas: são as
impostas por agente externo. Exemplos: Constituição, leis, decretos, sentença normativa,
regulamento de empresa, quando unilateral. Autônomas: são as elaboradas pelos próprios
interessados. Exemplos: costume, convenção e acordo coletivo, regulamento de empresa,
quando bilateral, contrato de trabalho.
Quanto à origem, as fontes podem ser: a) estatais, quando provenientes do Estado.
Exemplos: Constituição, leis, sentença normativa; (b) extras estatais: quando emanadas dos
grupos e não do Estado. Exemplos: regulamento de empresa, costume, convenção e acordo
14

coletivo, contrato de trabalho; (c) profissionais: são estabelecidas pelos trabalhadores e


empregadores interessados; convenção e acordo coletivo de trabalho.
Quanto à vontade das pessoas, as fontes podem ser: (a) voluntárias, quando
dependem da vontade das partes para sua elaboração. Exemplos: contrato de trabalho,
convenção e acordo coletivo, regulamento de empresa, quando bilateral; (b) imperativas,
quando são alheias à vontade das partes. Exemplos: Constituição, leis, sentença normativa.
Há fontes comuns a todos os ramos do Direito, como a Constituição, a lei etc. Há,
porém, fontes que são peculiares ao Direito do Trabalho, como as sentenças normativas, as
convenções e os acordos coletivos, os regulamentos de empresa e os contratos de trabalho.
Afirma-se, para justificar as fontes do Direito, que as normas de maior hierarquia
seriam o fundamento de validade das regras de hierarquia inferior.
O art. 8° da CLT dá orientação a respeito das fontes do Direito do Trabalho, ao
afirmar:
As autoridades administrativas e a Justiça do Trabalho, na falta de disposições legais
ou contratuais, decidirão, conforme o caso, pela jurisprudência, por analogia, por
equidade e outros princípios e normas gerais de direito, principalmente do direito do
trabalho, e, ainda, de acordo com os usos e costumes, o direito comparado, mas
sempre de maneira que nenhum interesse de classe ou particular prevaleça sobre o
interesse público.

Cumpre observar que não se pode afirmar, entretanto, que a analogia e a equidade
sejam fontes do Direito, mas métodos de integração da norma jurídica, assim como o seria o
Direito comparado. Quanto aos princípios gerais de Direito, entendemos que se trata de uma
forma de interpretação das regras jurídicas.
A jurisprudência não pode ser considerada como fonte do Direito do Trabalho. Ela
não se configura como norma obrigatória, mas apenas indica o caminho predominante em que
os tribunais entendem de aplicar a lei, suprindo, inclusive, eventuais lacunas desta última.

1.2 Princípios do Direito do Trabalho

O Direito do Trabalho, por ser um ramo específico do Direito, também tem


princípios próprios. De acordo com Cretella Júnior (apud Martins, 2000, p.73), “princípios de
uma ciência são as proposições básicas fundamentais, típicas, que condicionam todas as
estruturações subsequentes. Princípios, nesse sentido, são os alicerces da ciência”.
15

No âmbito doutrinário, são poucos os autores que tratam dos princípios do Direito do
Trabalho, e entre eles, não há unanimidade sobre quais seriam os princípios dessa disciplina,
dependendo da ótica de cada autor.
O autor que melhor estudou o assunto foi o uruguaio Américo Plá Rodriguez (1990,
p. 18), e elenca seis princípios como do Direito do Trabalho: (a) princípio da proteção; (b)
princípio da irrenunciabilidade de direitos; (c) princípio da continuidade da relação de
emprego; (d) princípio da primazia da realidade; (e) princípio da razoabilidade; (f) princípio
da boa-fé. O princípio da boa-fé nos contratos não se aplica apenas ao Direito do Trabalho,
mas também a qualquer contrato.
De acordo com Martins (2000, p.73), o princípio da razoabilidade esclarece que o ser
humano deve proceder conforme a razão, de acordo como procederia qualquer homem médio
ou comum. Estabelece-se, assim, um padrão comum que o homem médio teria em qualquer
situação.
O empregador é que deve fazer a prova de que a despedida foi por justa causa, pois
normalmente o empregado não iria dar causa à extinção do contrato de trabalho, justamente
porque é a forma de obter o sustento de sua família. Da mesma forma, o empregador é que
deve fazer a prova de que o empregado presta serviços embriagado, pois o homem comum
não se apresenta nessas condições. O mesmo se pode dizer do abandono de emprego. O
empregado, por presunção, não tem interesse em abandonar o emprego, visto que é dele que
irá conseguir seus proventos, com os quais sobreviverá. Assim, cabe ao empregador provar
que o empregado abandonou o emprego, pois o homem médio não abandonaria o emprego
sem nenhum fundamento.
Entretanto, essa regra da razoabilidade diz respeito à interpretação de qualquer ramo
do Direito, e não apenas do Direito do Trabalho. Naturalmente que é aplicada ao Direito do
Trabalho, mas não se pode dizer que se trata de um princípio do Direito Laboral, pois é
aplicada à generalidade dos casos, como regra de conduta humana. Assim, exclui-se os
princípios da razoabilidade e da boa-fé em relação àqueles que se entende ser os específicos
do Direito do Trabalho.

1.2.1 Princípio da proteção

Tem-se como regra geral que se deve proporcionar uma forma de compensar a
superioridade econômica do empregador em relação ao empregado, dando a este último uma
16

superioridade jurídica. Esta é conferida ao empregado no momento em que se dá ao


trabalhador a proteção que lhe é dispensada por meio da lei.
Pode-se dizer que o princípio da proteção pode ser desmembrado em três: (a) o in
dubio pro operario; (b) o da aplicação da norma mais favorável ao trabalhador (c) o da
aplicação da condição mais benéfica ao trabalhador.
Na dúvida, deve-se aplicar a regra mais favorável ao trabalhador ao se analisar um
preceito que encerra regra trabalhista, o in dubio pro operario.
A aplicação da norma mais favorável pode ser dividida de três maneiras:

(a) a elaboração da norma mais favorável, em que as novas leis devem dispor de
maneira mais benéfica ao trabalhador. Com isso se quer dizer que as novas leis
devem tratar de criar regras visando à melhoria da condição social do trabalhador;
(b) a hierarquia das normas jurídicas: havendo várias normas a serem aplicadas
numa escala hierárquica, deve-se observar a que for mais favorável ao trabalhador.
Assim, se o adicional de horas extras previsto em norma coletiva for superior ao
previsto na lei ou na Constituição, deve-se aplicar o adicional da primeira. A
exceção à regra diz respeito a normas de caráter proibitivo;
(c) a interpretação da norma mais favorável: da mesma forma, havendo várias
normas a observar, deve-se aplicar a regra mais benéfica ao trabalhador. O art. 620
da CLT prescreve que "as condições estabelecidas em convenção, quando mais
favoráveis, prevalecerão sobre as estipuladas em acordo". A contrário sensu, as
normas estabelecidas em acordo coletivo, quando mais favoráveis, prevalecerão
sobre as estipuladas em convenção coletiva. (MARTINS, 2000, p.76).

A condição mais benéfica ao trabalhador deve ser entendida como o fato de que
vantagens já conquistadas, que são mais benéficas ao trabalhador, não podem ser modificadas
para pior. É a aplicação da regra do direito adquirido (art. 5°, XXXVI, da CF), do fato de o
trabalhador já ter conquistado certo direito, que não pode ser modificado, no sentido de se
outorgar uma condição desfavorável ao obreiro.
O Enunciado 51 do TST bem estampa essa orientação: "as cláusulas regulamentares,
que revoguem ou alterem vantagens deferidas anteriormente, só atingirão os trabalhadores
admitidos após a revogação ou alteração do regulamento". Assim, uma cláusula menos
favorável aos trabalhadores só tem validade em relação aos novos obreiros admitidos na
empresa e não quanto aos antigos, aos quais essa cláusula não se aplica.
O in dubio pro operario não se aplica integralmente ao processo do trabalho, pois,
havendo dúvida, à primeira vista, não se poderia decidir a favor do trabalhador, mas verificar
quem tem o ônus da prova no caso concreto, de acordo com as especificações dos arts. 333 do
CPC e 818 da CLT.
17

1.2.2 Princípio da irrenunciabilidade de direitos

Martins (2000, p.77), explica que se tem como regra que os direitos trabalhistas são
irrenunciáveis pelo trabalhador. Não se admite, por exemplo, que o trabalhador renuncie a
suas férias. Se tal fato ocorrer, não terá qualquer validade o ato do operário, podendo o
obreiro reclamá-las na Justiça do Trabalho.
O art. 9° da CLT é claro no sentido de que "serão nulos de pleno direito os atos
praticados com o objetivo de desvirtuar, impedir ou fraudar a aplicação dos preceitos
trabalhistas".
Poderá, entretanto, o trabalhador renunciar a seus direitos se estiver em juízo, diante
do juiz do trabalho, pois nesse caso não se pode dizer que o empregado esteja sendo forçado a
fazê-lo. Estando o trabalhador ainda na empresa é que não se poderá falar em renúncia a
direitos trabalhistas, pois poderia dar ensejo a fraudes. É possível, também, ao trabalhador
transigir, fazendo concessões recíprocas, o que importa um ato bilateral.
Feita a transação em juízo, haverá validade em tal ato de vontade, que não poderá
ocorrer apenas na empresa, pois, da mesma forma, há a possibilidade da ocorrência de
fraudes. Em determinados casos, a lei autoriza a transação de certos direitos com a assistência
de um terceiro.

1.2.3 Princípio da continuidade da relação de emprego

Presume-se que o contrato de trabalho terá validade por tempo indeterminado, ou


seja, haverá a continuidade da relação de emprego. A exceção à regra são os contratos por
prazo determinado, inclusive o contrato de trabalho temporário. A ideia geral é a de que se
deve preservar o contrato de trabalho do trabalhador com a empresa, proibindo-se, por
exemplo, uma sucessão de contratos de trabalho por prazo determinado.
O Enunciado 212 do TST adota essa ideia ao dizer que "o ônus de provar o término
do contrato de trabalho, quando negados a prestação de serviço e o despedimento, é do
empregador, pois o princípio da continuidade da relação de emprego constitui presunção
favorável ao empregado".
18

1.2.4 Princípio da primazia da realidade

Dos ensinamentos de Martins (2000, p. 78), extrai-se que no Direito do Trabalho os


fatos são muito mais importantes do que os documentos. Por exemplo, se um empregado é
rotulado de autônomo pelo empregador, possuindo contrato escrito de representação
comercial com o último, o que deve ser observado realmente são as condições fáticas que
demonstrem a existência do contrato de trabalho. Muitas vezes, o empregado assina
documentos sem saber o que está assinando. Em sua admissão, pode assinar todos os papéis
possíveis, desde o contrato de trabalho até seu pedido de demissão, daí a possibilidade de
serem feitas provas para contrariar os documentos apresentados, que irão evidenciar
realmente os fatos ocorridos na relação entre as partes. São privilegiados, portanto, os fatos, a
realidade, sobre a forma ou a estrutura empregada.
19

2 RESPONSABILIDADE CIVIL

Entende-se que para o estudo do dano moral e sua perspectiva na


contemporaneidade, deve-se, primeiramente, examinar a responsabilidade civil, seu conceito,
seus elementos componentes e sua evolução. É adequado que, com o passar do tempo, o
instituto vem passando por diversas transformações e se nutrindo de novas necessidades. A
responsabilidade civil é compreendida na vida moderna de forma cada vez mais presente.
Com o desenvolvimento social, as relações humanas se multiplicam e se tornam mais
complicadas, determinando uma resposta jurídica para a solução de problemas novos
decorrentes das novas relações entre os indivíduos. A possibilidade de ocorrência de dano
causado por ação de outrem e as soluções apontadas pelo direito, na tentativa de retorno ao
statu quo ante, trazem o desafio da conceituação atual da responsabilidade civil.
De acordo com Delgado (2011, p. 33), a responsabilidade civil traduz a ideia de
obrigação de reparação decorrente da violação do dever de não lesionar o direito de outrem ou
de não lhe causar prejuízo. Portanto, a responsabilidade civil é o instituto que liga alguém às
consequências dos seus atos. 
Desse modo, entende-se que a responsabilidade civil é a obrigação que alguém tem
de reparar o prejuízo que causou por ação própria ou por ação de outra pessoa ou ente que
esteja sob sua dependência. É o caso da responsabilidade dos pais pelas ações danosas
praticadas pelos filhos menores. Ocorre também quando um objeto de alguma pessoa atinge
outra independentemente de que tenha sido arremessado ou ocorrido uma queda espontânea.
Consubstanciando, Rui Stoco (2004, p. 118), explica que é a imposição a alguém de
responder por seus atos que provocam dano ou prejuízo a outra pessoa é a própria tradução da
noção de justiça, algo que é próprio à natureza humana. 
De tal modo, a obrigação é pressuposto daquilo de que a responsabilidade é
consequência. É evidente o dever primário de não violação a bem, direito ou interesse alheio.
Transgredido o dever inicial e verificado o dano, surge a responsabilidade de reparar, que é a
consequência ou a resposta estatal à ação danosa.
Segundo Cavalieri Filho (2008, p. 20), para se ter ciência exata de quem é o
responsável pela reparação, deve-se questionar quem tinha o dever originário ou quem
possuía a obrigação. A resposta fornece a identificação daquele que possui a responsabilidade
pelo evento danoso. Faz-se, portanto, uma clara distinção entre obrigação e responsabilidade.
20

Com certeza, o que caracteriza a responsabilidade civil é a necessidade, cada vez


maior, de sua adequação à evolução social. Essa exigência ocorre ante a multiplicação de
fatores causadores e as possibilidades de danos, resultando na obrigação de reorganização e
reparação de prejuízo. Delineando-se uma linha evolutiva do instituto da responsabilidade,
observa-se que ela surgiu como direito de lesão àquele que causou o dano. Expressava-se na
vingança, conferindo o direito de reação àquele que sofreu prejuízo. Efetuava-se a retribuição
por parte da própria vítima ou de seu grupo. Em um passo seguinte, manteve-se a mesma
lógica de reposta igual e imediata, mas chancelada pela autoridade. Assim, a ação saiu do
domínio do indivíduo, transferindo-se ao Estado a obrigação de aferir a possibilidade de
retribuir o mal com o mal. Era a conhecida Lei de Talião: olho por olho; dente por dente, com
a proporcionalidade da resposta. 
Mas, um passo foi dado no sentido de conferir um benefício ao que sofreu o dano,
com a composição. Verificou-se que, no sistema adotado, eram dois os lesados, não havendo
sentido real na reação da vítima como forma de retribuição. Assim, na lição de Dias (2011,
p.19), a composição a ser conduzida pela autoridade determina uma prestação positiva ao
lesado e não uma reação retributiva ao agente. 
Cabe, por oportuno ressaltar que todas essas conquistas resultaram na Lex Aquilia,
originando a ideia da culpa como propagadora da obrigação da reparação. Além disso, gerou
uma resposta patrimonial ao prejuízo causado, com indenização proporcional ao ato gravoso e
não em valores fixos. Em seguida, observou-se a insuficiência da noção de culpa para impor
um dever reparatório, ampliando-se a incidência da responsabilidade civil sem investigação
do elemento subjetivo, como resposta à evolução das relações sociais. 
Posteriormente à análise dos distintos conceitos de responsabilidade civil, Diniz (2015,
p.100) afirma que:
Em sua essência, ela impõe a aplicação de medidas que obriguem o indivíduo ao
dever de reparar o dano causado a outrem. Esse dano pode ocorrer em razão de ato
próprio ou de pessoa por quem ele responde, quanto à coisa ou animal que esteja sob
sua guarda ou ainda quando há imposição legal de responsabilidade. Essa definição,
a exemplo de várias outras, indica um elemento comum, na tentativa de fixar-se um
conceito para o instituto, buscando abranger as variadas formas do dever
reparatório. 

Extraordinária é a reflexão que Dias (2011, p.39-40) faz sobre a matéria, depois de
analisar a evolução da responsabilidade civil através dos tempos. Atualmente, observa-se que
o legislador apresenta uma disposição de focar mais nos métodos de reparação do dano do que
na identificação do responsável por ele. Isto procede do alcance de circunstâncias qualificadas
como de responsabilidade objetiva e da ampliação do âmbito de atuação do Código de Defesa
21

do Consumidor, que traz a significação de novas formas de responsabilização dos


fornecedores como geradores de risco e responsáveis pelos danos dele decorrentes.
Continuando, o autor confirma ainda a existência de linhas de convergência nos
tribunais para os seguintes juízos: flexibilização do conceito de nexo causal; coletivização de
ações; multiplicação de danos passíveis de ressarcimento (como dano por nascimento
indesejado, por exemplo); alteração de patrimonialização da indenização (como em situações
de determinação judicial para retratação pública). E conclui destacando o avanço na
apreciação dos métodos de prevenção de danos. 
Nesse contexto, faz jus a ênfase das avaliações de Faria (2015, p.55-57), que depois
de analisar os elementos componentes do conceito de responsabilidade civil, afirma que, no
mundo moderno, o horizonte deve ser expandido para que se possa juntar ao instituto o
conceito de precaução e de prudência. Em última análise, existe a necessidade de se
estabelecer a obrigação de cuidado, tendo em vista a disparidade das relações e a ampla
possibilidade de se ocasionar prejuízo a terceiros. Os indivíduos, em suas diversas
manifestações individuais, profissionais e sociais, devem se regular pelo dever de cuidado,
que seria uma previsão do dever reparatório. Deve-se olhar para o futuro, para que as medidas
de prevenção sejam maiores e possam fortalecer as relações, reduzindo-se as necessidades de
reparação. Como registra Pereira (2012, p.19), “a responsabilidade civil, no novo milênio,
deve ser instrumento de justiça social”. 

2.1 Do dano moral e seus elementos

Dano moral é um termo que pode ser conceituado sob dois prismas, negativo e
positivo. Negativo, seria uma apreciação por exclusão, conforme o qual seria dano sem
caráter patrimonial, que não afeta o patrimônio da pessoa, não resulta em perda pecuniária,
mas tão somente causa dor, sofrimento ou humilhação à vítima.
O conceito positivo é apresentado por Cavalieri Filho (2012, p.90) com o seguinte
entendimento:

Atualmente o dano moral não mais se restringe à dor, tristeza e sofrimento,


estendendo a sua tutela a todos os bens personalíssimos - os complexos de ordem
ética -, razão pela qual pode-se defini-lo, de forma abrangente, como sendo uma
agressão a um bem ou atributo da personalidade. Em razão de sua natureza
imaterial, o dano moral é insusceptível de avaliação pecuniária, podendo apenas ser
compensado com a obrigação pecuniária imposta ao causador do dano, sendo esta
mais uma satisfação do que uma indenização.
22

Nesse contexto, observa-se que o dano pode apresentar-se independente de sua


natureza, tratando-se de um bem patrimonial ou extrapatrimonial, esse, integrante da
personalidade da vítima, causados por ofensas aos atributos físicos, psíquicos ou intelectuais
da pessoa, suscetíveis de gerar frustrações, vexame, indignação, revolta, dor, mágoa, entre
outros, incluindo, ainda, os danos causados aos valores culturais.
Comumente a doutrina define o dano moral sob a forma negativa, em contraposição ao
dano material ou patrimonial. Carlos Roberto Gonçalves (2010, p. 377) detalha ambos os
conceitos, primeiro o negativo e depois o positivo, em textual:

Dano moral é o que atinge o ofendido como pessoa, não lesando seu patrimônio. É
lesão de bem que integra os direitos da personalidade, como a honra, a dignidade, a
intimidade, a imagem, o bom nome etc., como se infere dos arts. 1º, III, e 5º, V e X,
da Constituição Federal, e que acarreta ao lesado dor, sofrimento, tristeza, vexame e
humilhação.
O dano moral não é propriamente a dor, a angústia, o desgosto, a aflição espiritual, a
humilhação, o complexo que sofre a vítima do evento danoso, pois esses estados de
espírito constituem o conteúdo, ou melhor, a consequência do dano.

Um conceito mais sintético de dano moral é elaborado por Maria Helena Diniz (2010,
p. 90): “O dano moral vem a ser a lesão de interesse não patrimoniais de pessoa natural ou
jurídica (CC, art.52; Súmula 227 do STJ), provocada pelo fato lesivo”.
Desse modo, entende-se que o dano é a lesão a qualquer bem jurídico que cause
prejuízo a alguém e implique a violação de um direito assegurado em consequência de ato ou
omissão praticado por outrem.
Maria Helena Diniz (2010, p. 84) complementa apontando que a definição do dano
moral se caracteriza como:

Qualquer lesão que alguém sofra no objeto de seu direito repercutirá,


fundamentalmente, em seu interesse; por isso, quando se distingue o dano
patrimonial do moral, o critério da distinção não poderá ater-se à natureza ou índole
do direito subjetivo atingido, mas ao interesse, que é pressuposto desse direito, ou ao
efeito da lesão jurídica, isto é, ao caráter de sua repercussão sobre o lesado, pois
somente desse modo se poderia falar em dano moral, oriundo de uma ofensa a um
bem material, ou em dano patrimonial indireto, que decorre de evento que lesa
direito extra patrimonial, como, por exemplo, direito à vida, à saúde, provocando
também um prejuízo patrimonial, como incapacidade para o trabalho, despesas com
tratamento. O direito à integridade corporal, que é um direito da personalidade, pode
sofrer um prejuízo patrimonial, caso em que a lesão ao interesse patrimonial será
representada pelas despesas (dano emergente) com o tratamento da vítima e pela sua
incapacidade de trabalho (lucro cessante), e um prejuízo extrapatrimonial, hipótese
em que se terá uma lesão ao interesse à segurança física que esse direito pressupõe e
que sofreu, por exemplo, uma depreciação em razão de dano estético pode provocar
complexos provenientes das deformações.

A autora ressalta ainda que do mesmo modo, se a pessoa sofrer injúria em artigo de
jornal que cause queda em sua competência, transformando seus negócios, levando-o à ruína,
23

ter-se-á dano moral e dano patrimonial indireto, pois incide, além do dano ao amor-próprio,
uma sensível diminuição de sua renda. Logo, nada impede a coexistência de ambos os
interesses como hipóteses de um mesmo direito, portanto o dano poderá prejudicar interesse
patrimonial ou extrapatrimonial. Realmente, o caráter patrimonial ou moral do dano não
sucede da natureza do direito subjetivo lesado, mas das sequelas da lesão jurídica, pois do
prejuízo causado a um bem jurídico econômico pode resultar perda de ordem moral, e da
injúria a um bem jurídico extrapatrimonial pode ocasionar dano material.
No mesmo sentido, Venosa (2003, p. 33) segue entendendo que:

O dano moral é o prejuízo que prejudica o ânimo psíquico, moral e intelectual da


vítima. Nesse campo, o prejuízo circula pelo imensurável, daí por que aumentam as
dificuldades de se estabelecer a justa recompensa pelo dano. Em muitas situações,
cuida-se de indenizar o inexprimível. Não é também qualquer aborrecimento
corriqueiro da vida que pode originar a indenização. (...) nesse campo, não há
fórmulas seguras para auxiliar o juiz. Cabe ao magistrado sentir em cada caso o
pulsar da sociedade que o cerca. A consternação como contraposição automática da
alegria é uma constante do comportamento humano universal.

Há tempos que se debate para verificar até onde acontece a ofensa moral, após
diversos estudos, encontra-se tal conclusão: “O dano moral, em sua aparência subjetiva,
resguarda os direitos de personalidade, como a intimidade, a vida privada, a honra, a liberdade
de pensamento, do uso do corpo, tudo o que envolve o ponto de vista interno do sujeito”, ou
seja, sua visão de si para si mesmo, tudo o que pode provocar sentimento de dor, de agitação
psíquica na pessoa, já que são direitos que abrangem o homem com ele mesmo. (TESTANI,
2006, p. 4).
De acordo com Humberto Theodoro Júnior (2001, p. 2), danos morais são os ocorridos
na esfera da subjetividade, alcançando os aspectos mais íntimos da personalidade humana ou
o da própria valoração da pessoa no meio em que vive e atua. No Direito do Trabalho, o
princípio da proteção à pessoa hipossuficiente veio para equilibrar a relação de trabalho e,
dessa maneira, tentar amenizar os possíveis casos de abusos do poder empregatício, inclusive
aqueles que caracterizem ofensa à moral do trabalhador.
Após conceituar o dano moral, passa-se a analisar os elementos da responsabilidade
civil para a caracterização do mesmo. Não se pretende, neste trabalho, fazer um exame
inovador dos pressupostos da responsabilidade civil, mas focar na análise do dano moral.
Com essa ressalva, passa-se a analisar os pressupostos tidos pela doutrina como essenciais
para o entendimento do conteúdo da responsabilidade civil: a ação, o dano, o nexo de
causalidade e a culpa.
24

2.1 Dos elementos da responsabilidade civil

O presente tópico traz uma breve apreciação sobre os elementos da responsabilidade


civil, buscando demonstrar que conhecê-los é fundamental ao exercício eficiente e eficaz dos
profissionais da área jurídica.
A responsabilidade civil surge quando uma obrigação não se cumpre, obrigação esta
que pode nascer da vontade dos indivíduos estabelecido num contrato ou da lei. A
necessidade pela busca de uma resposta ao dano causado à vítima foi constatada desde o
início das primeiras civilizações. Mas, no que consiste a responsabilidade civil?
Carlos Roberto Gonçalves (2010, p. 2) conceitua o instituto da responsabilidade civil
como:

O instituo da responsabilidade civil é parte integrante do direito obrigacional, pois a


principal consequência da prática de um ato ilícito é a obrigação que acarreta, para
seu autor, de reparar o dano, obrigação esta, de natureza pessoal, que se resolve em
perdas e danos.

Na mesma linha de pensamento, Maria Helena Diniz (2010, p. 36) aponta que:

A responsabilidade civil é a aplicação de medidas que obriguem uma pessoa a


reparar dano moral ou patrimonial causado a terceiros, em razão de ato por ela
mesmo praticado, por pessoa por quem ela responde, por alguma coisa a ela
pertencente ou de simples imposição legal.

Portanto, surge a obrigação de indenizar o prejuízo causado ou ressarci-lo, as


decorrentes de atos ilícitos, ações e omissões culposas ou dolosas do agente das quais resulta
dano a outrem.
A teoria da responsabilidade civil busca estabelecer em que circunstâncias uma pessoa
pode ser considerada responsável pelo dano sofrido por outra pessoa e em quais condições
será obrigada a repará-lo. Quando um fato causa um dano, este dano, por regra, deve ser
reparado. No entanto, não basta, para a constatação da responsabilização civil, que o ato
simplesmente ocorra e que cause o dano - há elementos que necessitam estar presentes para
que se configure um dano que deve, de fato, ser reparado.
Apesar da doutrina ser divergente entre os pressupostos necessários para a ocorrência
da responsabilidade civil, aponta-se quatro elementos indispensáveis para sua caracterização:
a “ação”, o “dano”, o “nexo de causalidade” e a “culpa”. A “ação” diz respeito a um ato
praticado no mundo concreto que causa um efeito sensível. O “dano” é um mal ou prejuízo
causado por um ato praticado. O “nexo de causalidade” é a relação lógica e perceptível entre a
25

prática do ato e o resultado deste. Por sua vez, a “culpa” é uma imputação feita a alguém que
pratica um ato de certa forma reprovável, sendo que existem diversos tipos de culpa.

2.1.1 A ação

A ação juridicamente relevante é o primeiro requisito para que se fale em


responsabilidade. Mesmo destituída do caráter ilícito, a responsabilidade surge quando se trata
de casos específicos de risco, conforme estabelece o parágrafo único do art. 947 do Código
Civil brasileiro: “Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica
obrigado a repará-lo”. A conduta humana pode se concretizar por ação, que tem conteúdo
positivo, ou por omissão, em caso de conduta negativa, voluntária, impregnada de culpa ou
dolo. Assim, para a constatação de responsabilidade por condutas omissivas são necessárias a
demonstração da obrigação de prática do ato e a prova de que o ato não foi praticado. Deve-se
também constatar que o dano seria evitado, se a ação devida tivesse ocorrido, conforme
lembra Flávio Tartuce (2014, p. 359).
Como elemento da responsabilidade civil, a ação pode ser abrangida como todo ato
humano, natural e imputável, onde também se compreendem os atos praticados por
negligência, imperícia e imprudência.
A ação se configura como um fazer, um movimento comissivo, positivo, a prática de
um ato que não deveria se realizar. Já a omissão se caracteriza por uma abstenção de conduta
que deveria ter sido feita. (CAVALIERI FILHO, 2012, p. 48). Para se configurar a omissão é
necessária a presença de dois elementos: o dever jurídico de praticar determinado fato e a
demonstração de que o dano poderia ter sido evitado se o agente não se omitisse.
(GONÇALVES, 2010, p. 38). A ação ou omissão, não necessariamente, deve ser praticada
pelo agente (ato próprio), pois poderá também ser fruto de ato de terceiro que esteja sob sua
responsabilidade.
Ressalta-se que é imprescindível a análise da culpa e da responsabilidade para se
definir as ações relevantes e que geram dever indenizatório. A regra geral, desde o início do
regramento ressarcitório no direito civil pátrio, tem por base atos ilícitos, decorrentes de ação
ilícita culposa, conforme estabelece o art. 186 do Código Civil brasileiro: “Aquele que, por
ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a
outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito”. 
Como leciona Diniz (2015, p.57), ato ilícito é o cometido com culpa em afronta à
regra legal, violando direito e causando prejuízo. Segundo esclarece, ilicitude e culpa são
26

conceitos distintos, apesar de se complementarem. A ilicitude observa a conduta do autor do


dano em sua objetividade, enquanto a culpa indica as facetas subjetivas do comportamento
humano e as circunstâncias que contribuíram para a concretização do evento danoso. Para que
se fale em responsabilidade decorrente de culpa, regra geral não se exige que ela decorra do
ato consciente e destinado à produção do resultado, que caracteriza o dolo. Basta a violação
de dever, resultante de imperícia, imprudência ou negligência.
Prosseguindo na ideia natural da culpa, em razão das novas exigências da sociedade
moderna, foi necessária a instituição da responsabilidade sem culpa, fundamentada no risco.
Surgiu, assim, o dever ressarcitório com a prática da ação, sem se buscar o elemento culposo.
Comprovando-se a ação, o dano e o nexo entre eles, o agente está obrigado a indenizar. É o
que ocorre em situações envolvendo as conhecidas relações de consumo. Nelas, surge a
necessidade de proteção ao indivíduo, que se encontra em posição de fragilidade perante o
fornecedor. Por esse motivo, dispensa-se a ocorrência de conduta culposa deste último, como
se observa do exame dos art. 12 e 14 do Código de Defesa do Consumidor in verbis:

Art. 12. O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o


importador respondem, independentemente da existência de culpa, pela reparação
dos danos causados aos consumidores por defeitos decorrentes de projeto,
fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou
acondicionamento de seus produtos, bem como por informações insuficientes ou
inadequadas sobre sua utilização e riscos.
§ 1° O produto é defeituoso quando não oferece a segurança que dele legitimamente
se espera, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais:
I - Sua apresentação;
II - O uso e os riscos que razoavelmente dele se esperam;
III - a época em que foi colocado em circulação.
§ 2º O produto não é considerado defeituoso pelo fato de outro de melhor qualidade
ter sido colocado no mercado.
§ 3° O fabricante, o construtor, o produtor ou importador só não será
responsabilizado quando provar:
I - Que não colocou o produto no mercado;
II- Que, embora haja colocado o produto no mercado, o defeito inexiste;
III - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro”.
Art. 13. “O comerciante é igualmente responsável, nos termos do artigo anterior,
quando:
I - O fabricante, o construtor, o produtor ou o importador não puderem ser
identificados;
II - O produto for fornecido sem identificação clara do seu fabricante, produtor,
construtor ou importador;
III - não conservar adequadamente os produtos perecíveis”.
Parágrafo único. “Aquele que efetivar o pagamento ao prejudicado poderá exercer o
direito de regresso contra os demais responsáveis, segundo sua participação na
causação do evento danoso”.
Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de
culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à
prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas
sobre sua fruição e riscos.
27

§ 1° O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o consumidor dele


pode esperar, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as
quais:
I - O modo de seu fornecimento;
II - O resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam;
III - a época em que foi fornecido.
§ 2º O serviço não é considerado defeituoso pela adoção de novas técnicas.
§ 3° O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando provar:
I - Que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste;
II - A culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.
§ 4° A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a
verificação de culpa.

E também o Código Civil, no parágrafo único do art. 927, já citado, traz preceito
semelhante, deixando expresso que a atividade, por si só e não por particularidade do agente,
é que deve ser capaz de provocar risco de dano. 

2.1.2 Nexo causal

O segundo elemento a ser analisado para a caracterização da responsabilidade civil é o


nexo causal como vínculo abstrato que une conduta e dano. Deve ser visualizado como um
condutor que acompanha a ação e a liga, de forma permanente, ao resultado. Esse elo existe,
até mesmo quando se tratar de responsabilidade objetiva. Conforme esclarece Flávio Tartuce
(2014, p. 371-372), na responsabilidade subjetiva, o elo é iniciado pela constatação da culpa.
Já na responsabilidade objetiva, o início da conexão situa-se na previsão da responsabilidade
sem culpa ou pela ação de risco.
Este requisito da responsabilidade civil é essencial à responsabilização, sendo a
relação lógica perceptível entre o ato e seu resultado. Caso não exista essa relação de
causalidade, não se admite a obrigação de indenizar. É impossível atribuir a alguém uma
responsabilidade se o resultado danoso não tem a mínima ligação lógica com um ato ou fato
praticado e seu agente.
Em verdade, o exame do nexo entre ação e resultado deve ser observado já de início.
Inexistindo esse fio condutor entre ambos, não se poderá falar em responsabilidade. Para
haver responsabilidade, é insuficiente que alguém tenha alguém suportado prejuízo e que
outrem tenha agido ilicitamente. A ligação entre ação e resultado deve estar presente e ser
demonstrada para que se perquira sobre a presença do dever de indenizar.
O nexo de causalidade determina a responsabilização civil do dano, logo, não deve
haver dúvida sobre a causa do dano, sobre a origem do dano. Segundo Carlos Roberto
Gonçalves (2010, p. 331), analisa-se o nexo causal com base em três teorias: a da
28

equivalência das condições, a da causalidade adequada e a que exige que o dano seja
consequência imediata do fato que o produziu.
O nexo causal é a relação que deve existir entre a ação ou omissão do agente e o dano
causado. Nexo significa ligação, vínculo, união. Causa, em responsabilidade civil, significa o
acontecimento que antecede o resultado lesivo.
Conforme prescreve Cavalieri Filho (2012, p. 71), tem-se que apurar se o agente deu
causa ao resultado antes de analisar se ele agiu ou não com culpa, pois não teria sentido culpar
alguém que não tenha dado causa ao dano. E ainda, conceitua nexo causal: “É o vínculo, a
ligação ou relação de causa e efeito entre a conduta e o resultado”.
Nesse contexto, entende-se que o nexo causal deve sempre ser analisado no caso
concreto, sob pena de não se poder chegar a uma conclusão segura, pois todos os detalhes do
caso devem ser observados.

2.1.3 Dano

Componente principal da responsabilidade civil, o dano é fundamental para sua


caracterização. Apenas quando ocorre resultado, prejuízo ou repercussão em patrimônio, seja
ele material ou imaterial, haverá que se falar em responsabilidade civil. Com efeito, dano é o
evento que causa a outrem prejuízo, perda ou decréscimo em seu patrimônio, ou que afete
negativamente a órbita imaterial das pessoas. A questão é facilmente visualizada quando o
dano é patrimonial, pois é palpável e resulta de algo visível e concreto. Porém, como será
visto ao longo deste trabalho, o dano moral, muitas vezes pouco visível, é aceito e
reconhecido, provocando, em muitos casos, prejuízo severo ao indivíduo, mesmo que não
compreensível. Se um indivíduo cometer um ato ilícito, mas não provocar dano a ninguém,
nesse caso não existe a responsabilidade civil, pois esta resulta da obrigação de indenizar, que
não poderá se efetiva onde não haja o que reparar.
Necessário se faz ressaltar que quando alguém é atingido, em sua honra e intimidade,
pela ação de outrem, não se espera que suporte as consequências negativas dessa ação.
Portanto, impõe-se a obrigação reparatória, independentemente do grau de visibilidade do
dano. Sem dano, como registra Cavalieri Filho (2008, p. 71) haverá enriquecimento indevido
para quem recebe e pena para quem paga, contrariando o primado da responsabilidade civil,
que é reintegração do estado anterior. Acrescenta, ainda, que dano é lesão a bem jurídico, seja
ele patrimonial ou moral, sedimentando o entendimento de que lesão indenizável tem
conteúdo misto, não se limitando à afetação de bem material e concreto. É preciso verificar a
29

imprescindível diferença entre dano material, moral e estético. Muitas vezes, são baralhados
os conceitos referentes a essas três espécies de dano, provocando insegurança jurídica.
Para Silva (2012, p.39), a diferença entre dano moral e material não deve se prender à
natureza do bem atingido, mas ao efeito, à consequência que produz na vítima. Pode ser
lesado um bem patrimonial, mas o efeito ser de ordem moral, como também pode ser lesado
um bem imaterial, mas o prejuízo verificar-se na esfera patrimonial. 
A natureza do direito subjetivo vitimado não é o elemento que permite dizer tratar-se
de dano moral ou material, mas sim a repercussão da lesão sofrida, o resultado percebido, a
consequência do ato de lesão praticado. Por vezes, a agressão a algum bem imaterial pode
gerar prejuízo tanto patrimonial como não-patrimonial, da mesma forma que a agressão a
algum bem material pode produzir prejuízo patrimonial e extrapatrimonial. Por esse motivo,
Diniz (2015, p.108) deixa registrado que a diferença entre dano moral e dano material decorre
da consequência do prejuízo causado ao lesado. 
Assim, por exemplo, uma lesão à integridade corporal, que é direito da personalidade,
pode resultar em dano patrimonial. Verificar-se-ia o que se denomina dano emergente,
traduzido pelas despesas suportadas, em razão da lesão, e em lucros cessantes. Estes
caracterizam-se como um dano patrimonial indireto, resultante da impossibilidade temporária
para o exercício de determinado trabalho. Poderia provocar, ainda, consequência imaterial de
repercussão moral, bem como dano estético, que é compreendido com conteúdo específico e
em si mesmo considerado. Alguns entendem que o dano estético está englobado no que se
denomina dano moral. Já outros distinguem o dano moral, o dano estético e o dano material,
embora admitam que podem ser cumulados e constatados em uma mesma situação e
decorrentes do mesmo fato. Para essa corrente, os efeitos da lesão seriam considerados
separadamente nessas três esferas de dano. Para a primeira linha de pensamento, o dano
estético deve ser englobado no conceito amplo de dano moral. Seus adeptos não admitem que
se dissocie e desmembre o dano estético do dano moral.
Quando se fala em dano, para muitos surge apenas a ideia do dano patrimonial, no
entanto, o dano pode ser material e moral, como ressalta Cavalieri Filho (2012, p. 96):

Define-se o dano como sendo a subtração de um bem jurídico, qualquer que seja a
sua natureza, quer se trate de um bem patrimonial, quer se trate de um bem
integrante da própria personalidade da vítima, como sua honra, a imagem, a
liberdade etc. Em suma, dano é lesão de um bem jurídico, tanto patrimonial como
moral, vindo daí a conhecida divisão do dano em patrimonial e moral.
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Registra-se que o dano material é aquele que atinge os bens, ocasionando redução
patrimonial ao prejudicado, e o dano moral é aquele que atinge a honra, a imagem da vítima,
sua liberdade etc.

2.1.3.1. Dano material

Quando há dano patrimonial, a indenização busca reparar integralmente o dano


causado à vítima, ou seja, restaurar o status quo, restabelecer o estado em que se encontrava
anterior à ocorrência do ato ilícito. Entretanto, em diversos casos se torna impossível
“regressar” ao estado anterior, desse modo, busca-se uma compensação em forma de
indenização monetária.
A avalição do dano tem em vista a redução patrimonial sofrida (dano emergente) ou o
que a impediu de crescer (lucro cessante). Assim apronta o artigo 402 do Código Civil: “Art.
402. Salvo as exceções expressamente previstas em lei, as perdas e danos devidos ao credor
abrangem, além do que ele efetivamente perdeu, o que razoavelmente deixou de lucrar”.
O ressarcimento do dano emergente procura devolver, suprir à vítima o valor de seu
patrimônio antes da ocorrência do dano. O lucro cessante busca compensar o lesado pelo
lucro que ele deixou de ter em razão do dano ocorrido.

2.1.3.2. Dano moral

O dano moral é o prejuízo que afeta o ânimo psíquico, moral e intelectual da vítima.
Sua atuação está na esfera dos direitos da personalidade. Nesta área, o prejuízo transita pelo
imponderável, por isso aumentam as dificuldades de se estabelecer a justa recompensa pelo
dano. Segundo Maria Helena Diniz (2010, p. 84): "Dano moral vem a ser a lesão de interesses
não patrimoniais de pessoa física ou jurídica, provocada pelo fato lesivo".
A caracterização e a mensuração do dano moral são mais complexas, sendo mais
difícil a sua avaliação, visto estar ligado ao ânimo da vítima, envolvendo questões
psicológicas da pessoa. E, portanto, não é qualquer aborrecimento simples da vida que pode
acarretar indenização.
Para que se possa configurar ou não o dano moral, o julgador vem buscando suporte
na jurisprudência e na doutrina, pois não existem critérios objetivos definidos em lei. Na
avaliação do dano moral é preciso que haja por parte do juiz, bom senso e também prudência,
31

considerando sempre o homem médio da sociedade, observando se configurado ou não a


lesão a um daqueles bens inerentes à dignidade humana previstos na Constituição Federal.

2.1.3.3 Dano Estético

A conceituação de dano estético não encontra eco unânime na doutrina nacional. Há


entendimento que se trata do mesmo dano moral, não se admitindo cumulação com este. De
outra sorte, existem doutrinadores que entendem que o dano estético está incluído no dano
moral, mas com a possibilidade de cumulação daquele com este, isso quando houver causas
inconfundíveis e possibilidade de apuração em separado.
Uma linha de doutrinadores diz que o dano estético está compreendido no que, em
sentido amplo, se entende por dano moral. Seria aquele uma espécie do que este último é
gênero, devendo toda gama de dano não-concreto estar contida no arcabouço maior que se
define como dano moral.
Outra vertente de pensamento entende que o dano estético afeta o indivíduo em suas
relações pessoais, profissionais e sociais de forma específica. Portanto, não pode ser
confundido com o dano moral stricto sensu. A imagem física deve ser considerada como um
bem a ser protegido e examinado distintamente. Nesse sentido, foi editada a Súmula nº 387 do
Superior Tribunal de Justiça, que afirma: “É lícita a cumulação das indenizações de dano
estético e dano moral”.
Silva (2004, p. 22), em seu entendimento, diz que:

O dano estético não atinge apenas a vaidade, mas a própria autoestima do indivíduo,
termina além da ofensa física: ofende a integridade humana. Exatamente por isso
está intimamente ligado aos direitos inerentes à pessoa: é a lesão a um direito de
personalidade. É preciso lembrar que o dano estético não passa de uma lesão a um
direito de personalidade, visto que ofende à integridade física e moral. Dessa forma,
está perfeitamente enquadrado no art. 5º, inciso X, da Carta Magna vigente, a qual
prevê a indenização dos direitos da personalidade através de uma reparação moral
e/ou patrimonial.

Diniz (2015, p. 100) afirma que o dano estético provoca uma alteração morfológica
nas pessoas, como deformidades ou marcas que resultem em alguma deformação no corpo da
vítima. Por sua vez, Andrade (2009, p. 81) define dano estético como o defeito, deformidade
ou alteração da aparência, gerando consequência estética desagradável ou constituindo causa
de complexo e desgosto. Portanto, o dano estético deve ser considerado como aquele que
produz alteração física permanente ou de longa duração no corpo humano e que não é passível
de correção, seja pelo tempo, seja por procedimentos médicos, provocando uma mudança
32

substancial na imagem do lesado. Os danos imateriais, tais como sofrimento, abalo e dor,
decorrentes da ação ilícita do agente, configuram o dano moral a ser ressarcido. 
Dessa forma, dano estético é aquele que atinge a aparência física do indivíduo. Pode
ser caracterizado como uma marca permanente, um corte que deixa significativa cicatriz e
também em caso de amputação de membros ou perda de órgão. Assim, o dano estético é
efetivamente o que resulta em alguma espécie de deformação visível e que, por isso, provoca
constrangimento na vítima. Ele estará caracterizado tão só quando fica constatado que o
indivíduo sofreu algum prejuízo em sua imagem, suportou uma piora significativa na
aparência, provocando desconforto em si mesmo e perante a sociedade. Em sentido contrário,
mesmo que tenha existido significativa mudança na aparência física, mas se for para melhor,
não se poderá falar em dano estético, embora a transformação não tenha sido desejada.
Segundo os esclarecimentos de Rizzardo (2007, p.223), para se caracterizar essa
forma de dano, deve-se observar a deformidade física ou perda de um sentido ou órgão, e a
repercussão no indivíduo, que se vê privado de sua imagem anterior, com inegável prejuízo
em sua aparência. Significa que, além de atingir o aspecto físico, o dano atinge também a
trajetória psicológica do indivíduo. Nessa linha de raciocínio, a cumulação de danos deverá
ser aceita quando, decorrentes do mesmo fato, tanto o dano estético como o dano moral
possam ser abrangidos distintamente. O fato que os ensejou foi o mesmo, mas a consequência
é o afeamento, bem como a repercussão moral decorrente do dano. 
Neste tipo de dano, de forma ainda mais intensa, surge o grande problema da fixação
dos valores reparatórios. Como se sabe, seja quando ocorre dano estético ou dano moral
propriamente dito, o arbitramento é realizado com embasamento em critérios abstratos. A
rigor, não se trata de efetiva indenização, pois é impossível o retorno da situação anterior. Em
outras palavras, os dois tipos de dano são insuscetíveis de apuração material ou financeira. Por
esse motivo, os critérios para a fixação indenizatória deverão ser explicitados, evitando-se que
os mesmos fundamentos utilizados para um o sejam para o outro, fato que poderia caracterizar
um bis in idem.
Deste modo, Silva (2004, p. 23), ao afirmar que o dano estético é uma lesão que deve
ter reparação moral ou material, acabou por afirmar a tese da não cumulabilidade do dano
moral com dano estético.

Certeiro para aqueles que acreditam ser o dano estético espécie do dano moral é não
concordar com a referida cumulação, porque, ao se reconhecer o dano estético como
parte integrante do dano moral, admite-se que são danos que possuem algo em
comum, sendo, portanto, ressarcíveis por causas iguais. Assim, de acordo com esse
entendimento, o juiz, ao adentrar a cumulação do dano estético com o dano moral,
33

estaria indenizando duplamente a mesma ofensa, ou seja, estaria contribuindo para o


fenômeno do bis in idem, já que o ressarcimento pelo dano moral envolve também a
ofensa à lesão estética.

Lopez (2004), tomando como ponto básico o sofrimento moral que o dano estético
acarreta, afirma que a lesão estética sempre é um dano moral, podendo, simultaneamente,
resultar em dano patrimonial caso haja prejuízo material. Mas, para ela não há como se falar
em prejuízo estético que também não seja prejuízo moral, pois a lesão à integridade física
deixa a pessoa menos feliz do que era antes. A autora acrescenta ainda que

O dano estético é sempre uma espécie de dano moral e, na maioria das vezes,
concomitantemente, também dano material, mas, se dele somente advierem
prejuízos de ordem econômica, fala-se em ofensa passageira à estética pessoal ou
em dano estético transitório. (LOPEZ, 2002, p. 55).

Embora a autora diga que dano estético é sempre uma espécie de dano moral, seu
entendimento é pela cumulação do dano estético com o dano moral. Assim, torna-se
necessária a seguinte indagação: Como aceitar essa cumulação, se dano estético também é
dano moral?
Lopez (2002) explica que o dano deformante à integridade física não é igual a
qualquer outro tipo de dano moral; é a mais grave e mais violenta das lesões à pessoa, porque,
além de gerar sofrimento pela transformação física (dano moral objetivo), gera um outro dano
moral, que ao primeiro se soma, que é o dano moral à imagem social. Assim se manifestou a
autora:
Não é possível, mas principalmente justa, a cumulação do dano estético com o dano
moral por serem dois tipos diferentes de danos morais à pessoa, ou seja, atingem
bens jurídicos diferentes. O dano estético (dano físico) é dano moral objetivo que
ofende um dos direitos da personalidade, o direito à integridade física. Não precisa
ser provado, é o damnum in re ipsa. O sofrimento e a dor integram esse tipo de
dano. O dano moral é o dano à imagem social, à nova dificuldade na vida de relação,
o complexo de inferioridade na convivência humana. Sem dúvida, há no dano
estético a destruição da integridade do corpo, e com isso a modificação para pior da
antiga aparência física (imagem) da sua vítima. O sofrimento é duplo e por isso pede
indenização dupla (grifos nossos). (LOPEZ, 2002, p. 56).

Desse modo, admite-se a cumulação do dano estético (dano físico) com o dano moral
(psíquico), que, embora provenientes do mesmo fato ilícito, são de ordens diferentes: um
puramente psíquico, outro visível.
Impende mencionar que a identificação do dano estético, de forma independente do
dano moral, deve ser entendida como legítima, visto que são atingidos bens distintos,
resultando em repercussões danosas diferentes. Não se pode, diante de uma inicial dificuldade
de precisão, enquadrá-lo como componente da mesma classe de dano moral. Para trazer maior
34

clareza ao raciocínio, cita-se o exemplo de um indivíduo que sofre um acidente


automobilístico de gravidade acentuada. Além dos efeitos traumáticos produzidos pelo
acidente, esse indivíduo perde o pé. Sem embargo da ocorrência de dano material, podem ser
visualizados dano moral e dano estético decorrentes do mesmo evento, mas com repercussões
diversas. 

2.1.3.4 As origens do dano moral

A progressiva evolução dos valores sociais, junto à distinta variação de


posicionamentos sobre o tema, faz-se indicar uma compreensão sobre a origem histórica do
Dano Moral. Registra-se que desde a sua existência a honra vem acompanhando o homem,
uma vez que é intrínseco ao ser humano zelar pela preservação de sua individualidade.
Nesse contexto, Matielo (2001. p. 45) ensina que:

A reparação do dano moral foi acolhida entre muitos povos de períodos passados.
Certamente, que não existia qualquer teoria aprofundada a respeito da matéria, e
sequer se refletia sobre a caracterização dos fatos de então como dano moral, na
definição que hoje se aplica o termo.

Na antiguidade, a desonra foi a primeira a fazer parte da civilização acerca da


responsabilidade por danos morais. Antes mesmo dos romanos, na Índia e na Babilônia,
encontravam-se, nos Códigos de Manu e de Hamurabi, algumas passagens que se relacionam
com o que, hoje, se concordou chamar a reparação do dano moral.
Portanto, a primeira noção de que se tem conhecimento na história da civilização,
acerca do dano e sua reparação, é através de um sistema codificado de leis, que surgiu na
Mesopotâmia, através de Hamurabi, rei da Babilônia (1792-1750 a. C.). Nesse código havia
de 282 (duzentos e oitenta e dois) dispositivos, a maior parte voltada para a proteção do mais
fraco nas relações sociais, mediante reparação equivalente à lesão incitada. Com o princípio
geral: “O forte não prejudicará o fraco”. (SANCHES, 2007. p. 12).
Neste sentido, ensina Matielo (2001. p. 45):

(...) no antigo Código de Hamurabi encontram-se dispositivos caracterizadores da


admissibilidade de pena a quem violasse a moralidade alheia. Aquela construção
reguladora da conduta humana, das primeiras de que se tem notícia, preocupou-se
com diversos aspectos das relações de convívio nas quais se pudesse enxergar
restrição de ordem moral como resultado de atitudes irregulares de alguém. Trazia
previsões sancionadoras diversas, de acordo com a natureza da agressão praticada.
35

É sobretudo importante assinalar que para compensar a ofensa e satisfazer a vítima,


submeter-se-ia o causador da lesão à pena, o que tornaria pública a sua condição de
difamador, conforme as convenções da época. O intuito era de reprimir o autor da lesão, não
com dinheiro obtido do mesmo para abrandamento do dano, mas de algum modo, amenizar a
dor da vítima, a qual sofreu humilhação do ofensor. Também, na Lei das XII Tábuas, do
século IV depois de Cristo, existia um dispositivo expressando a noção de reparação por
danos provocados: “Se alguém causa um dano premeditadamente, que o repare”.
Cumpre observar que o interesse com o prisma histórico do dano moral apresentou-se
de diversas maneiras, havendo diversos antecedentes históricos.

2.1.3.5 Dano moral direto e indireto

Para empreender qualquer tentativa de análise com relação à distinção do dano moral
em direto e indireto, é relevante recorrer à obra de Diniz (2010, p. 86-87), que conceitua da
seguinte maneira:

O dano moral direto consiste na lesão a um interesse que visa a satisfação ou gozo
de um bem jurídico extrapatrimonial contido nos direitos da personalidade (como a
vida, a integridade corporal, a liberdade, a honra, o decoro, a intimidade, os
sentimentos afetivos, a própria imagem) ou nos atributos da pessoa (como o nome, a
capacidade, o estado de família). O dano moral indireto consiste na lesão a um
interesse tendente à satisfação ou gozo de bens jurídicos patrimoniais, que produz
um menoscabo a um bem extrapatrimonial, ou melhor, é aquele que provoca
prejuízo a qualquer interesse não patrimonial, devido a uma lesão a um bem
patrimonial da vítima. Deriva, portanto, do fato lesivo a um interesse patrimonial.

Ratificando o pensamento a autora acima, Birolli (2004) explica que o dano moral
direto, ou dano moral puro, é aquele que lesa interesses protegidos pelo direito da
personalidade, como a vida, a integridade corporal, a liberdade, a honra, o decoro, a
intimidade, os sentimentos afetivos, a própria imagem, entre outros, ou contido nos atributos
das pessoas, tais como: o nome, a capacidade e o estado de família. Já o dano moral indireto
se apresenta quando, havendo lesão a um interesse patrimonial, acontece, ao mesmo tempo,
lesão a um bem denominado extrapatrimonial, ou seja, uma vez lesado um bem patrimonial
da vida este poderá refletir de maneira a provocar prejuízo a interesse não patrimonial.
Neste sentido, Bittar (2014, p.79) relaciona o dano moral reflexo àquele que atinge de
forma direta um bem de natureza patrimonial gerando efeitos também na esfera
extrapatrimonial. Entretanto, já apresenta a ideia de transcendência do dano a terceiros:

São puros os danos morais que se exaurem nas lesões a certos aspectos da
personalidade, enquanto os reflexos constituem efeitos ou extrapolações de
36

atentados ao patrimônio ou aos demais elementos materiais do acervo jurídico


lesado [...]. Existem danos diretos e indiretos, ou puros e reflexos, consoante se
manifestem como consequências imediatas ou mediatas do fato lesivo: assim, de um
dano sobre a personalidade podem advir reflexos patrimoniais e vice-versa [...].
Dizem-se, por fim, subjetivos ou objetivos os danos morais, quando se
circunscrevem à esfera íntima ou valorativa do lesado, ou se projetam no círculo de
seu relacionamento familiar ou social; por outras palavras, conforme se atinja a
esfera subjetiva ou de relações do interessado. (BITTAR, 2014, p. 79).

Do mesmo modo, constata-se que a designação direto ou indireto pode ser empregada
para qualificar o dano moral de acordo com a natureza do bem jurídico diretamente afetado
pela ação lesiva. Desta forma, pode-se assegurar que o dano moral é direto quando a lesão
atinge diretamente algum dos bens integrantes da personalidade, tais como a vida, a honra, a
intimidade, a integridade corporal e a imagem. De outro lado, diz-se que é dano moral
indireto quando é atingido bem patrimonial, mas com reflexos sobre bem de natureza
personalíssima.
Diniz (2010, p. 84), também apresenta este entendimento quando afirma que:

O dano moral vem a ser a lesão de interesses não patrimoniais de pessoa física ou
jurídica, provocada pelo fato lesivo. Qualquer lesão que alguém sofra no objeto de
seu direito repercutirá, necessariamente, em seu interesse; por isso, quando se
distingue o dano patrimonial do moral, o critério da distinção não poderá ater-se à
natureza ou índole do direito subjetivo atingido, mas ao interesse, que é pressuposto
desse direito, ou ao efeito da lesão jurídica, isto é, ao caráter de sua repercussão
sobre o lesado, pois somente desse modo se poderia falar em dano moral, oriundo de
uma ofensa a um bem material, ou em dano patrimonial indireto, que decorre de
evento que lesa direito extrapatrimonial, como, p. ex., direito à vida, à saúde,
provocando também um prejuízo patrimonial, como incapacidade para o trabalho,
despesas com tratamento.

Cumpre observar que a designação do dano moral como direto ou indireto é


igualmente usada para referenciar outra classificação que leva em consideração o fato de ter a
vítima sido ou não atingida diretamente pelo evento danoso. Neste ponto de vista, constitui-se
dano moral direto, por exemplo, o sofrido pela própria vítima, atingida em sua integridade
moral.
Assim, configura o dano moral indireto, também denominado reflexo ou em ricochete,
aquele suportado por terceira pessoa como reflexo de dano sofrido pela vítima imediata, como
por exemplo, o dano sofrido pela esposa e filhos em decorrência da morte do pai. Busca-se
qualificar o dano moral como indireto neste sentido, quando os prejuízos causados pelo dano
atingem não só a vítima direta, mas também às pessoas que possuem algum tipo de vínculo
com esta, como no exemplo já mencionado, dos cônjuges e filhos.
37

Nesse contexto, pode-se afirmar que os danos morais podem gerar efeitos para além da
figura da vítima direta, atingindo terceiro ligado a ela. Cabe destacar que, da mesma forma
que no dano moral propriamente dito, no dano moral indireto também devem estar presentes
os requisitos necessários para que o dano seja indenizável, devendo existir a efetiva
caracterização deste na relação da qual se pretende buscar a responsabilização e equivalente
indenização de seus efeitos.

2.1.4 Conduta culpável

Não basta que o agente causador do dano tenha agido de maneira ilícita, para que
exista a obrigação de indenizar. De acordo com o ordenamento jurídico brasileiro, a culpa é
fundamento da responsabilidade civil, embora exista alguns casos de responsabilidade sem
culpa.
A culpa pode ser tratada em sentido amplo, latu sensu, que compreende o dolo e a
culpa em sentido estrito, stricto sensu, na qual é caracterizada pela imprudência, imperícia ou
negligência. Ainda, Pereira (2006, p. 657) distingue dolo e culpa, o primeiro como infração
consciente do dever preexistente ou a infração da norma com a consciência do resultado, e a
culpa como violação desse dever sem a consciência de causar dano.
Corroborando, Maria Helena Diniz (2010, p. 42) leciona que:

A culpa em sentido amplo, como violação de um dever jurídico, imputável a


alguém, em decorrência de fato intencional ou de omissão de diligência ou cautela,
compreende: o dolo, que é a violação intencional do dever jurídico, e a culpa em
sentido estrito, caracterizada pela imperícia, imprudência ou negligência, sem
qualquer deliberação de violar um dever. Portanto, não se reclama que o ato danoso
tenha sido, realmente, querido pelo agente, pois ele não deixará de ser responsável
pelo fato de não se ter apercebido do seu ato nem medido as suas consequências.

A culpa é classificada na doutrina pela gravidade como levíssima, leve ou grave. Essa
distinção de graus é necessária para auxiliar no quantum indenizatório. Culpa levíssima é
aquela que a falta poderia ser evitada com atenção extraordinária, ou seja, com conhecimento
singular ou com alguma habilidade especial, perita.
Já a culpa leve é a falta que pode ser evitada com atenção ordinária, com o cuidado
próprio do homem comum. A culpa é grave quando imprópria ao homem comum, é a que o
agente atua com enorme falta de cautela, com descuido injustificável ao homem mediano.
Esta, também chamada de culpa consciente, é a que mais se aproxima do dolo eventual do
Direito Penal, pois nos dois casos há previsão do resultado, só que na culpa consciente, o
38

agente acredita que o evento não ocorrerá e no dolo eventual o agente assume o risco de
produzi-lo. (CAVALIERI FILHO, 2012, p. 62).
É importante observar que essa classificação é doutrinária, haja vista que o Código
Civil não faz distinção entre os graus de culpa. O legislador prevê a obrigação de indenizar
independente se o agente agiu com culpa levíssima ou até mesmo com dolo. E ainda, que a
indenização não será calculada pelo grau de culpa, mas sim pela extensão do dano, como
dispõe o artigo 944.
Art. 944. A indenização mede-se pela extensão do dano.
Parágrafo único. Se houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o
dano, poderá o juiz reduzir, equitativamente, a indenização.

Observa-se, que apesar do caput falar somente do dano, no parágrafo único, do art.
944 do Código Civil, o legislador menciona a gravidade da culpa. Neste caso, sendo conferido
ao juiz o poder de reduzir a indenização quando excessiva, caso mostre desproporção entre
seu valor e o grau da culpa do agente responsável. (GONÇALVES, 2010, p. 539).

2.2 Materialização do dano moral

Há uma certa dificuldade para se consolidar o dano moral, uma vez que o mesmo que
não é composto por materialidade, porém, há de se fixar um valor para a dor sofrida, ou um
interesse violado, seguindo o entendimento de Reis (2000, p. 15): “é inquestionável que os
padecimentos de natureza moral, como, por exemplo, a dor, a angústia, a aflição física ou
espiritual, a humilhação, e de forma ampla, os padecimentos resultantes em situações
análogas, constituem evento de natureza danosa, ou seja, danos extra patrimoniais”.
Complementando, Sílvio de Salvo Venosa (2003, p. 28), discorre que: “No dano
moral, leva-se em conta a dor psíquica ou mais propriamente o desconforto comportamental.
Trata-se, em última análise, de interesses que são atingidos injustamente. O dano ou interesse
deve ser atual e certo; não sendo indenizáveis, a princípio, danos hipotéticos. Sem dano, ou
sem interesse violado, patrimonial ou moral, não se corporifica a indenização. A
materialização do dano ocorre com a definição do efetivo prejuízo suportado pela vítima”.
Além da reparação do dano moral, a indenização serve, também, para conter a ação
lesiva do causador, conforme entendimento de Reis (2000, p. 63):

É inequívoca a conclusão de que, na área dos danos extrapatrimoniais, jamais


encontraremos uma perfeita equivalência entre a lesão e a indenização. Por mais
sensível e apurada que seja a avaliação do magistrado, nunca será possível
39

estabelecer um padrão de ressarcimento, porque, no campo do espírito humano,


sempre estaremos diante do imponderável e da incerteza na aferição dos valores de
cada pessoa. Todavia, não sendo possível aferir com precisão o valor que
corresponda a um perfeito pagamento dos danos sofridos pela vítima, a reparação
sempre será considerada como uma forma de compensação, ou mesmo uma pena
para conter a ação lesiva do agente causador.

O autor complementa, apontando que a falta de um valor correto não poderá em


hipótese alguma, ser causa de irresponsabilidade do lesionador, de forma a premiá-lo pelo seu
ato lesivo. A pena indenizatória terá que ser uma realidade sentida e alcançada pelo
magistrado, com o objetivo de impor ao delinquente o freio necessário no cometimento dos
seus atos ilícitos. Para isso, é necessário que o juiz, utilizando-se do seu arbitrium judicis,
exerça o poder que o Estado lhe conferiu de forma precisa, utilizando-se sempre do conceito
de razoabilidade.

2.3 A Legislação Brasileira e o dano moral

No que se refere ao dano moral, a Constituição Federal de 1988, trouxe intensas


mudanças, acarretando com isso o amadurecimento do sistema jurídico brasileiro. Essa
Constituição, adotou o princípio de reparação do dano moral, material ou à imagem conforme
disposto no artigo 5º, incisos V e X, in verbis:

Art. 5º – Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do
direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e a propriedade, nos termos
seguintes:
(...)
V – É assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização
por dano material, moral ou à imagem;
(...)
X – São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas,
assegurados o direito à indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua
violação.

Tradicionalmente, e antes da promulgação da Constituição Federal brasileira de 1988,


o direito brasileiro não fixava indenização para o dano moral, sendo tal indenização acolhida
de forma definitiva a partir da publicação desse instituto. Desse modo, Pereira (1998. p. 57)
comenta que “a Constituição Federal de 1988 veio pôr um fim a resistência à reparação do
dano moral”.
Registra-se ainda que analisando o dano moral no contexto constitucional, Sanches
(2007. p. 24) assegura que:
40

Lentamente, a legislação brasileira reconheceu a importância da questão – dano


moral – ao agrupar princípios imprescindíveis visando à sua reparação, até a
ascensão da matéria ao nível constitucional. A partir daí, tornou-se inofensiva, por
falta de utilidade prática, diante da doutrina maior, qualquer discussão quanto à
reparabilidade do dano moral, inclusive por meio de indenização.

Nesse contexto, necessário se faz observar o texto do artigo 5º da Constituição


Federal, que trata do direito de resposta, além da indenização por danos ocasionados quando
ofendidas a honra ou a imagem das pessoas. Observa-se que no inciso V desse artigo é
permitido o direito de resposta, proporcional ao agravo, concedendo-lhe também à pessoa que
teve a sua honra agravada o direito de indenização. Assim, se percebe que existe acumulação
entre dois direitos: o de resposta e o direito de buscar indenização judicial por danos
causados, tendo assim a manifestação de liberdade de pensamento.
Corroborando, Bastos (2001, p. 65) ensina que no inciso X do artigo 5º:

A inovação apresentada é a introdução do dano moral como fator desencadeante da


reparação. De fato, não faz parte da tradição do nosso Direito o indenizar
materialmente o dano moral. No entanto, esta tradição, no caso, há de ceder diante
da expressa previsão constitucional.

Um aspecto interessante neste inciso, é a previsão de que o dano moral em sua maior
amplitude, no sentido de lembrar em igual totalidade o dever de ressarcir sempre que houver a
comprovação do dano material ou imaterial decorrente de sua transgressão.
Ainda que a Constituição Federal tenha trazido mudanças quanto à reparação do dano
moral, este mesmo dispositivo, em seu art. 114, VI, aponta que compete à Justiça do Trabalho
processar e julgar as ações de indenização por dano moral ou patrimonial, decorrentes da
relação de trabalho. Portanto, nas relações trabalhistas, cabe à Justiça do Trabalho tal
competência.
41

3 ASSÉDIO MORAL E OS REQUISITOS DO DANO MORAL TRABALHISTA

De acordo com Paroski (2013, p. 97), na relação de trabalho, tem-se a vinculação de


dois sujeitos no contrato de trabalho que são empregador e o empregado, este se subordina
àquele, o que a princípio torna a relação desigual, pois não é similar aos demais tipos de
contrato, em que a regra é a igualdade entre os contratantes.
O dano moral na relação de trabalho é um dos temas mais debatidos atualmente no
âmbito doutrinário e jurisprudencial que vem ganhando espaço, pois trata de uma questão que
assola a humanidade.
É relevante destacar com base em Martins (2008, p. 63), que o dano moral praticado
pelo empregador ao empregado ocorre quando aquele no seu papel de controlar, disciplinar e
fiscalizar comete excessos atingindo assim a honra e desrespeitando a dignidade do
empregado. Nas relações de trabalho é necessário ter-se um respeito mútuo.
Quanto à reparação do dano moral na esfera trabalhista, Almeida (2009, p. 76), aponta
que é de suma importância para o campo do Direito do Trabalho, pois significa o avanço na
proteção nos direitos da personalidade do empregado, que devem ser respeitados pelo
empregador, sob pena de ser condenado a pagar indenização ao trabalhador que será fixada
considerando a necessidade de punir o ofensor de maneira que o mesmo não volte a reincidir
prejudicando os direitos do empregado.

3.1 Competência para ações de reparação de dano moral

O assédio moral ainda não está contemplado na legislação trabalhista, porém os


Tribunais do Trabalho têm decidido pela indenização do trabalhador assediado, a fim de
coibir outros casos de assédio, com base no direito à dignidade humana; à saúde mental e à
honra, previstos na Constituição, além do dever de reparação por ato ilícito, contido no
Código Civil.
A competência, como aponta Renato Saraiva (2005, p. 70), “[...] consiste no
poder/dever do Estado de prestar a tutela jurisdicional a todo aquele que tenha uma pretensão
resistida por outrem, aplicando a regra jurídica ao clamor”. Humberto Theodoro Júnior (2005,
p. 74) qualifica competência como “a função do Estado de declarar e realizar, de forma
prática, a vontade da lei diante de uma situação jurídica controvertida”.
42

Ao analisar a Constituição Federal de 1988, verifica-se em seus artigos 92, inciso IV e


111, que os tribunais e juízes do trabalho compõem uma jurisdição especial a que se concedeu
competência material especial para processar e julgar as ações provenientes da relação de
trabalho, compreendidos os entes de direito público externo e da administração pública direta
e indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios (art. 114, inciso I), bem
como as ações de indenização por dano moral ou patrimonial, decorrentes da relação de
trabalho (art. 114, inciso VI).
Segundo Sérgio Pinto Martins (2008, p. 117) “a competência em razão da matéria (ex
ratione materiae) vai dizer respeito aos tipos de questões que podem ser suscitadas na Justiça
Laboral, envolvendo a apreciação de determinada matéria trabalhista”.
A primeira parte do art. 114 da CF/88, recentemente alterado pela EC 45/2004, é o
ponto central da nova competência da Justiça do Trabalho. O inciso I do referido artigo traz a
expressão “ações oriundas da relação de trabalho” que, na acepção de Antônio Álvares da
Silva, significa dizer: “havendo prestações de trabalho em reciprocidade, e desta prestação
nascendo uma ação (pretensão juridicamente acionável), será a controvérsia decidida pela
Justiça do Trabalho”. (SILVA, 2005, p. 68).
O art. 114 da Constituição Federal de 1988, em sua redação originária, estabelecia a
competência da Justiça do Trabalho da seguinte forma:

Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho conciliar e julgar os dissídios individuais e


coletivos entre trabalhadores e empregadores, abrangidos os entes de direito público
externo e da administração pública direta e indireta dos Municípios, do Distrito
Federal, dos Estados e da União, e, na forma da lei, outras controvérsias decorrentes
da relação de trabalho, bem como os litígios que tenham origem no cumprimento de
suas próprias sentenças, inclusive coletivas. (BRASIL, 2003).

Com base neste dispositivo, a jurisprudência e a doutrina foram partilhadas em duas


posições, uns pugnando pela competência da Justiça do Trabalho para apreciar o pedido de
reparação do dano moral ocorrido na relação de emprego, outros atribuindo tal competência à
Justiça Comum.
Os argumentos para negar competência à Justiça Obreira consistiam, basicamente, na
alegação de que a matéria era de natureza civil e que a expressão “na forma da lei” indicava a
necessidade de lei especial para lhe atribuir tal competência. (BRASIL, 2003).
Para os defensores da Competência Laboral, outra interpretação deveria ser atribuída
ao art. 114 da Constituição Federal de 1988, de modo que tal dispositivo apenas estabelecia
que a Justiça do Trabalho era competente para julgar “outras controvérsias decorrentes da
43

relação de trabalho” – aqui incluindo-se o dano moral - a serem decididas na “forma da lei”,
nada obstante fosse a Lei Civil. (FELKER, 2006, p. 146).
Conforme observado anteriormente, o fato da solução da contenda reclamar a
aplicação de dispositivos pertencentes a outro ramo do Direito, não implica a
descaracterização da competência da Justiça do Trabalho, afinal, a própria CLT, em seu art.
8º, indica o Direito Civil como fonte subsidiária do Direito do Trabalho:

Art. 8º - As autoridades administrativas e a Justiça do Trabalho, na falta de


disposições legais ou contratuais, decidirão, conforme o caso, pela jurisprudência,
por analogia, por equidade e outros princípios e normas gerais de direito,
principalmente do direito do trabalho, e, ainda, de acordo com os usos e costumes, o
direito comparado, mas sempre de maneira que nenhum interesse de classe ou
particular prevaleça sobre o interesse público. Parágrafo único - O direito comum
será fonte subsidiária do direito do trabalho, naquilo em que não for incompatível
com os princípios fundamentais deste. (BRASIL, 2015, p. 36).

Com relação ao advento da EC 45/2004 e, respectiva, ampliação da competência da


Justiça do Trabalho, ficou claro que a especializada é competente para processar e julgar as
ações de indenização por dano moral ou patrimonial decorrentes das várias relações de
trabalho (art. 114, inc. VI), estando pacífico o tema entre os doutrinadores; contudo, a
jurisprudência ainda está a se formar quanto a essas relações de trabalho lato sensu.

3.2 Assédio moral

O assédio moral no ambiente de trabalho é caracterizado por várias ações executadas


por parte do empregador ou seus prepostos contra o empregado, como violência psicológica,
constrangimento, humilhação e perseguição.
O assédio moral juntamente com o dano moral, advém há muito tempo, porém foi
disciplinado em leis posteriormente. O assédio caracteriza-se por atos do empregado, em que
coloca o trabalhador em situações vexatórias, humilhantes com condutas negativas dos
superiores hierárquicos, objetivando a que o empregado desista do emprego. A repetição
destes atos é que culminam no dano, pois um ato separado talvez inofensivo, porém toma
maiores proporções pois é de forma repetitiva
O assédio moral, em doutrina, também é chamado de manipulação perversa ou
terrorismo psicológico, dentre os termos mais comumente empregados para sua definição. O
dicionário nos diz que “assédio” significa, entre outras coisas, insistência inoportuna junto a
alguém, com perguntas, propostas e pretensões, dentre outros sintomas. “Assediar”, por sua
44

vez, significa perseguir com insistência, que é o mesmo que molestar, perturbar, aborrecer,
incomodar, importunar. (PAROSKI, 2013).
Sobre o tema, Stephan (2013, p. 18) afirma que:

[...] O assédio moral significa uma ação continuada e constrangedora que atinge os
princípios e valores morais da vítima, através de tratamento inconveniente, ofensivo
à integridade moral e à dignidade da pessoa humana, compreendida como
fundamento da República Federativa do Brasil, conforme se depreende da leitura do
inciso III do art. 1º da Constituição vigente.

Assim, o assédio provém de diferentes fatores, mas também exibe este trabalhador a
situações que o constrangem, vexatórias e degradantes, e estas situações ocorrem de forma
continuada. Contudo, o assédio não pode se confundir com o simples aborrecimento diário
nas relações de trabalho, o que é comum entre todas pessoas, e não é capaz de sugestionar a
indenização prevista.
Assédio moral é a deliberada degradação das condições de trabalho através do
estabelecimento de comunicações não éticas (abusivas) que se caracterizam pela repetição por
longo tempo de duração de um comportamento hostil que um superior ou colega (s)
desenvolve (m) contra um indivíduo que apresenta, como reação, um quadro de miséria física,
psicológica e social duradoura. (ZIMMERMANN, 2002, p. 2).
O assédio moral é definido pelo magistrado José Carlos Rizk (2002)1 como:

A exposição dos trabalhadores a situações humilhantes e constrangedoras,


repetitivas e prolongadas durante a jornada de trabalho e no exercício de suas
funções, sendo mais comuns em relações hierárquicas autoritárias, onde
predominam condutas negativas, relações desumanas e antiéticas de longa duração,
de um ou mais chefes dirigidas a um subordinado, desestabilizando a relação da
vítima com o ambiente de trabalho e a Organização.

Desta forma, o assédio moral pode se manifestar por ações que não envolva palavras
ou escritos, como por exemplo, olhares, suspiros, desprezo e silêncio, bem como através de
ordens inofensivas, serviços improdutivos, sem qualquer utilidade prática, metas de
produtividade impossíveis de serem alcançadas, enfim, formas intensas de desprestígio que
podem ser utilizadas pelo empregador ou seu preposto.
O assédio moral tem se tornado uma prática comum nas empresas que se veem
obrigadas a manter funcionários que, de alguma forma, obtiveram estabilidade permanente ou
temporária, decorrente de lei ou decisões judiciais. Como não podem demitir o funcionário, as
empresas utilizam-se deste expediente antiético, para forçar o funcionário a pedir demissão.
1
RCO-TRT 17 Região n°1142.2001.006.00-9, Rel Juiz José Carlos Rizk, publicado no DO em 15.10.2002
45

Isso acontece nas reintegrações por determinação judicial, no retorno do afastamento por
acidentes de trabalho, no retorno da mulher após a licença maternidade, dentre outros.
Para delinear afirmação acima, importante ressaltar o que doutrina Hirigoyen (2010, p.
65):
Por assédio em um local de trabalho tem-se que entender toda e qualquer conduta
abusiva manifestando-se sobretudo por comportamentos, palavras, atos, gestos,
escritos que possam trazer dano à personalidade, à dignidade ou à integridade física
ou psíquica de uma pessoa, pôr em perigo seu emprego ou degradar o ambiente de
trabalho.

Desta forma, destaca-se que as vítimas deste assédio, na maioria das vezes, não se
manifestam, pois, dependentes do emprego, só se manifestam após sua demissão ou fim do
vínculo empregatício. É oportuno mencionar que como o assédio ocorre de forma contínua,
em ofensivas corriqueiras, sempre haverá uma situação de superioridade em relação a vítima.
Assim, a vítima sofre emocionalmente com o distúrbio psicológico causado pelo ofensor,
refletindo no seu desempenho no trabalho.
Na busca de compreensão, pode-se reportar à obra de Gomes, (apud Stephan, 2013,
p.33), que afirma:

O fato é que o assédio moral no ambiente de trabalho atinge a personalidade da


pessoa física, posto que se desenvolve através de atos e de procedimentos que
expõem a vítima a situações humilhantes e constrangedoras como forma de infração
ao princípio da dignidade da pessoa humana. Ademais, para que a conduta do
agressor seja juridicamente relevante, deve produzir um resultado ligado às
consequências suportadas pela vítima, não sendo importante a intenção do sujeito
ativo, bastando afetar direitos da personalidade do sujeito passivo, abrangendo o
direito à integridade física e moral, o direito de não sofrer discriminação, o direito de
livre expressão, bem como o direito da preservação da intimidade e da imagem,
entre outros.

Gomes (apud Stephan, 2013) deixa evidente que o assédio atinge absolutamente o
princípio da dignidade da pessoa humana, o que dentro das relações de trabalho é de suma
importância. E, afrontar a dignidade do trabalhador é retroceder enormemente nas relações de
trabalho, pois a elaboração das leis foi exatamente para combater este tipo de assédio, o qual
foi muito presente na época da escravidão. Observa-se que o assédio desestabiliza a condição
de trabalho da vítima. É importante destacar os atos mais comuns de assédio moral no
trabalho, conforme o entendimento do Ministério do Trabalho e do Emprego:

Instruções confusas e imprecisas ao (à) trabalhador(a); dificultar o trabalho; atribuir


erros imaginários ao (à) trabalhador(a); exigir, sem necessidade, trabalhos urgentes;
sobrecarga de tarefas; ignorar a presença do(a) trabalhador(a), ou não cumprimenta-
lo(a) ou, ainda, não lhe dirigir a palavra na frente dos outros, deliberadamente; fazer
46

críticas ou brincadeiras de mau gosto ao(à) trabalhador(a) em público; impor


horários injustificados; retirar-lhe, injustificadamente, os instrumentos de trabalho;
agressão física ou verbal, quando estão sós o(a) assediador(a) e a vítima; revista
vexatória; restrição ao uso de sanitários; ameaças; insultos; isolamento. (Portal do
Trabalho e Emprego).

Como observado nesse trabalho, o assédio moral caracteriza-se nas relações


hierárquicas autoritárias por parte do empregador, ou outra pessoa com poder de mando, com
o objetivo de prejudicar o trabalhador, provavelmente para este pedir a demissão, evitando
pagar os direitos trabalhistas. Além disso, tem também o intuito de prejudicar o clima no
trabalho, seja com gestos, palavras e/ou, comportamentos.
De acordo com Costa (2004, p. 28), no direito do Trabalho o dano moral pode ocorrer
nas fases pré-contratual (nas negociações que antecedem a relação de emprego), contratual
(ocorre durante a execução da relação de emprego) e pós-contratual (no momento de extinção
da relação de emprego ou nos momentos posteriores).
No ordenamento jurídico brasileiro, não existe norma especifica indicando os casos
em que ocorre o dano moral trabalhista. E, mesmo se existisse, não seria possível monopolizar
todas as presunções em que tais podem ocorrer. Dessa forma, partindo-se da garantia
constitucional, cabe à doutrina e à jurisprudência o dever de adaptá-lo aos casos da vida
cotidiana. À luz do exposto, apresenta-se de maneira sucinta, as seguintes hipóteses:

3.2.1 Controles audiovisuais

Não consta no ordenamento jurídico brasileiro impedimento quanto à utilização de


equipamentos tecnológicos, como as microcâmeras e os circuitos internos de televisão,
destinados à supervisão da atividade desenvolvida pelo trabalhador, pois é permitido ao
empregador, em consequência do seu poder de direção, a vigilância da prestação de serviços,
até mesmo por meio desses aparelhos. Entretanto, tal direito de direção é limitado, sendo
assim, não é dado ao empregador ultrapassar o limite do controle produtivo, atingindo as
esferas privadas do empregado.
É o pensamento de Morais (2003, p. 15):

Desse modo, se o objetivo da instalação dos aparelhos audiovisuais é o


acompanhamento do processo de produção, não devem eles estender-se à totalidade
do estabelecimento, devendo restringir-se aos locais onde o trabalho é desenvolvido.
Se se objetiva, por outro lado, a segurança do estabelecimento, o equipamento deve
ficar limitado às áreas de acesso. Em qualquer hipótese, todavia, é inadmissível a
sua instalação em áreas destinadas ao descanso ou ao uso exclusivo do empregado,
como é o caso dos banheiros; e, ademais, não pode ser realizado sem o
conhecimento dos empregados.
47

E, finalmente, ressalta-se que o empregador também pode exercer a fiscalização sobre


a internet e o e-mail, desde que estes sirvam para o desempenho do serviço. Deste modo,
estando o empregado ciente que o uso de tais recursos se destinam exclusivamente aos
assuntos da empresa, não haverá invasão de sua privacidade pela fiscalização do empregador,
nem tão pouco tal fiscalização caracterizará prova ilícita. Inclusive, caso haja uso indevido
pelo trabalhador, poderá ocorrer a rescisão do contrato de trabalho por justa causa. Contudo,
se houver autorização para que os empregados se valham de tais meios para assuntos
particulares, deverá ser respeitada a intimidade daqueles.

3.2.2 Revista pessoal

Devido à possibilidade de o empregador sofrer riscos em sua atividade econômica, ele


deve buscar a proteção de seu patrimônio. Desse modo, a doutrina e jurisprudência tendem ao
consentimento da realização da revista.
Posicionando-se pela aceitação da revista, Pamplona Filho (1999, p. 14), assim se
manifestou: “a determinação de revista pessoal de todos os empregados, indistintamente, pode
ser considerada lícita, pois decorrente do poder de fiscalização do empregador, que, por sofrer
os riscos da atividade econômica, deve buscar a salvaguarda de seu patrimônio”.
Continuando, o autor apontou as seguintes sugestões para sua aplicação sem ferir a
esfera extrapatrimonial dos empregados:

Primeiro, que todos os trabalhadores devam ter conhecimento da praxe do uso da


revista pelo empregador. Segundo, que a revista seja impessoal, vale dizer, dirigida a
todos os empregados, evitando a parcialidade e perseguições pelos prepostos da
empresa. Terceiro, que na empresa exista uma comissão paritária de representantes
de empregados e empregadores para organizar a revista dos empregados. Quarto,
que o empregado tenha conhecimento de que será vigiado durante a prestação dos
serviços mediante aparelhos audiovisuais e mecânicos. Quinto, que haja uma
regulamentação em normas coletivas, ordenando a fiscalização dos empregados.
(PAMPLONA FILHO, 1999, p. 14).

É importante observar que apesar de a maioria da doutrina e jurisprudência brasileira


assinalarem para a aceitação da revista, há autores como Símon (apud Moraes, 2003, p. 93),
que recrimina tal procedimento.

Ainda que, no Brasil, esse seja o entendimento doutrinário e jurisprudencial


predominante, parece difícil acreditar que, nos dias de hoje, com a grande evolução
tecnológica, não exista outra forma de controle sobre os produtos que saem
furtivamente da empresa. Ainda que não existissem essas formas – o que, repita-se,
é bastante questionável -, há meios, previstos na legislação criminal, de se apurar a
48

autoria de delitos como furto, e o empregador deve, portanto, lançar mão desses
meios. [...]. Percebe-se, portanto, que se trata de forma muito simplista e acomodada
de o empresário defender o seu patrimônio. E é, indiscutivelmente, atentatória à
dignidade da pessoa humana do trabalhador. (SÍMON, apud MORAES, 2003, p.
93).

Também Costa (2004, p. 28), se manifesta contrário a tal procedimento:

Na hipótese de revista pessoal poderá revelar-se o dano moral, [...] quando tal
instrumento de controle e defesa do patrimônio do empregador venha a causar
menoscabo à proteção da intimidade do empregado, mormente o do sexo feminino,
na entrada ou na saída do serviço, já que o estado de subordinação não o reduz à
condição inferior.

Nesse contexto, necessário se faz expor o art. 373-A, inciso VI, da Consolidação das
Leis do Trabalho:
Art. 373A. Ressalvadas as disposições legais destinadas a corrigir as distorções que
afetam o acesso da mulher ao mercado de trabalho e certas especificidades
estabelecidas nos acordos trabalhistas, é vedado: [...] VI - proceder o empregador ou
preposto a revistas íntimas nas empregadas ou funcionárias. (BRASIL, 1999).

Não obstante o dispositivo apresente, a priori, uma proteção à dignidade do


trabalhador, percebe-se que tal proteção é dirigida apenas à empregada, ferindo, em tese, o
princípio da igualdade previsto no art. 5ª caput e inc. I da CF. E assim se posiciona Gardênia
Borges Morais:
Com respeito ao art. 373-A, VI, da Consolidação das Leis do Trabalho, introduzido
pela Lei n. 9.799, de 26 de maio de 199, que proíbe sejam procedidas as revistas
íntimas nas empregadas ou funcionárias, pode-se afirmar que, por um lado,
apresenta-se como um avanço no sentido da existência de regulamentação expressa
a respeito do assunto, mas, por outro lado, não deixa claro o sentido da expressão
“íntima”, o que pode dar azo a diversas interpretações, além de, referindo-se
expressamente à vedação das revistas em mulheres, parece apresentar-se como
ofensora do princípio da igualdade.48

3.2.3 Aspectos extra laborais

É importante observar que existem situações nas relações de trabalho que apresentam
alguns limites, os quais, uma vez ultrapassados, invadem ilicitamente a intimidade e a vida
privada do trabalhador, originando assim o dano moral trabalhista. Trata-se da ação patronal
que ultrapassa os limites do local de trabalho, interferindo na vida do empregado fora de seu
ambiente de trabalho.
Dessa forma, não existe autorização para que o empregador proceda investigações na
vida privada do empregado, com o intuito de investigar seu relacionamento com a família,
com os amigos, sua forma de lazer, ou seja, investigar sua conduta extra laboral.
49

Interessante ressaltar que a Lei n. 9.029, de 13 de maio de 1995 tratou de reger atos
discriminatórios, tanto para efeitos admissionais, como para efeito da permanência da relação
de emprego. Em seus três primeiros artigos, a referida norma dispõe:

Art. 1º Fica proibida a adoção de qualquer prática discriminatória e limitativa para


efeito de acesso a relação de emprego, ou sua manutenção, por motivo de sexo,
origem, raça, cor, estado civil, situação familiar ou idade, ressalvadas, neste caso, as
hipóteses de proteção ao menor previstas no inciso XXXIII do art. 7º da
Constituição Federal. Art. 2º Constituem crime as seguintes práticas
discriminatórias:
I - A exigência de teste, exame, perícia, laudo, atestado, declaração ou qualquer
outro procedimento relativo à esterilização ou a estado de gravidez;
II - A adoção de quaisquer medidas, de iniciativa do empregador, que configurem;
a) indução ou instigamento à esterilização genética;
b) promoção do controle de natalidade, assim não considerado o oferecimento de
serviços e de aconselhamento ou planejamento familiar, realizados através de
instituições públicas ou privadas, submetidas às normas do Sistema Único de Saúde
(SUS).
Pena: detenção de um a dois anos e multa.
Parágrafo único. São sujeitos ativos dos crimes a que se refere este artigo:
I - A pessoa física empregadora;
II - O representante legal do empregador, como definido na legislação trabalhista;
III - o dirigente, direto ou por delegação, de órgãos públicos e entidades das
administrações públicas direta, indireta e fundacional de qualquer dos Poderes da
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. Art. 3º Sem prejuízo do
prescrito no artigo anterior, as infrações do disposto nesta lei são passíveis das
seguintes cominações:
I - Multa administrativa de dez vezes o valor do maior salário pago pelo
empregador, elevado em cinquenta por cento em caso de reincidência;
II - Proibição de obter empréstimo ou financiamento junto a instituições financeiras
oficiais. (BRASIL, 1995).

Assim, como se observa, algumas condutas são tipificadas como atos ilícitos
criminais, com pena correspondente (art. 2°), e ainda, são previstas sanções administrativas
aos lesantes (art. 3°). De qualquer sorte, são atos reconhecidamente ilícitos, sendo
amplamente admitido que o ofendido pleiteie reparação pelo dano moral suportado.

3.2.4 Assédio sexual

É notório que em uma relação de trabalho existe uma convivência entre colegas, nada
impedindo que dali nasça relacionamentos amorosos espontâneos, com vontade livre do casal
em se relacionar. No entanto, pode ocorrer que não haja correspondência por uma das partes,
vindo esta, a sofrer os efeitos da insistência da outra.
Como bem ressalta Pamplona Filho (1999, p. 14):
Caso esta circunstância se dê entre trabalhadores de nível hierárquico diferente e/ou
entre empregador e empregado, em que uma das pessoas tem o poder de decidir
50

sobre a permanência ou não da outra no emprego ou de influir nas promoções ou na


carreira da mesma, caracterizado estará o assédio sexual, se a conduta do assediante
ultrapassar os limites da razoabilidade, traduzindo-se em pressões ou ameaças –
explícitas ou implícitas – com o objetivo evidente de obter os favores sexuais do
assediado.

É importante ressaltar que, geralmente é o homem que figura como assediador da


mulher, sendo esta a vítima mais comum neste tipo de situação, contudo, cauteloso ao direito
da igualdade, não se pode abandonar a hipótese da mulher assediando o homem, pois não há
de progredir o discernimento no direito das pessoas de viverem sua sexualidade com total
liberdade, com livre escolha de companheiros e conveniências.

3.2.5 Rebaixamento funcional

O art. 468 da CLT assim prescreve:

Art. 468 - Nos contratos individuais de trabalho só é lícita a alteração das


respectivas condições por mútuo consentimento, e ainda assim desde que não
resultem, direta ou indiretamente, prejuízos ao empregado, sob pena de nulidade da
cláusula infringente desta garantia. Parágrafo único - Não se considera alteração
unilateral a determinação do empregador para que o respectivo empregado reverta
ao cargo efetivo, anteriormente ocupado, deixando o exercício de função de
confiança. (BRASIL, 2005).

Nesse contexto, observa-se que as alterações unilaterais do contrato de trabalho, onde


o empregado passa a exercer atividades de caráter inferior às anteriormente desempenhadas
por ele, são vedadas por lei, inclusive, permite a rescisão contratual, conforme estatui o art.
483, alínea “e” da CLT, in verbis: “Art. 483 - O empregado poderá considerar rescindido o
contrato e pleitear a devida indenização quando: [...] e) praticar o empregador ou seus
prepostos, contra ele ou pessoas de sua família, ato lesivo da honra e boa fama”. (BRASIL,
2005).
Sobre a hipótese de rescisão contratual preconizada no dispositivo acima exposto,
Pamplona Filho (1999, p. 14) assim se manifestou: “Conforme se verifica da simples leitura
do dispositivo consolidado, a hipótese de rebaixamento funcional do empregado é
inadmissível no direito trabalhista brasileiro, podendo gerar inclusive, possibilidade de
demissão indireta (art. 483, “e” da CLT)”.

3.3 Requisitos do dano moral trabalhista


51

A responsabilidade civil do empregador pela indenização decorrente de dano moral


pressupõe a existência de três requisitos: a prática de ato ilícito ou com abuso de direito (culpa
ou dolo), o dano propriamente dito (prejuízo material ou o sofrimento moral) e o nexo causal
entre o ato praticado pelo empregador ou por seus prepostos e o dano sofrido pelo trabalhador
(culpa empresarial).
Ordena o art. 186 do Código Civil: “Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão
voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, comete ato ilícito”. Deste artigo podem ser extraídos três elementos
essenciais da responsabilidade civil: a conduta, o dano e o nexo de causalidade. Vale ressaltar,
que há quem entenda, que deste artigo podem ser extraídos quatro elementos essenciais. O
quarto elemento seria a culpa.
A conduta - É a ação ou omissão humana que, voluntariamente, ocasiona dano ou
prejuízo a outrem.
O dano - Como o próprio nome já demonstra, para a caracterização do dano moral é
necessário que haja efetivamente o dano. Não há como configurar o dano moral quando a
conduta do empregador não causa algum dano ao empregado.
O nexo causal - É necessário que haja relação de causalidade entre a conduta do
empregador e o dano sofrido pelo empregado. Ou seja, trata-se da relação de causa e efeito,
que neste caso será eminentemente fática, no sentido de apurar se realmente a conduta do
empregador é causa ou tem relação com o dano sofrido pelo empregado.
A culpa empresarial - Por fim, é necessário para a caracterização do dano moral que
haja a culpa empresarial. A culpa do empregador se fundamenta nos mesmos critérios da
responsabilidade civil subjetiva, ou seja, negligência, imprudência ou imperícia. Assim, a
aferição da culpa do empregador deverá averiguar se houve negligência, imprudência ou
imperícia.
Sussekind et al (2005, p. 638), aponta que muitos são os atos discriminatórios que
podem gerar um dano moral passível de indenização como, por exemplo, a discriminação por
motivo de gravidez, raça, cor, estado civil, etc., mas além dessas existem outras formas de
discriminação que são chamadas de “listas de restrições”, essas listas circulam entre os
empregadores, contendo informações de empregados que entram com ações trabalhistas ou
participam de greves, essas listas são formas ilegais de seleção, e ferem dispositivos
constitucionais que asseguram o direito a greve e ao acesso ao judiciário para defesa de
direitos que julgue garantido.
52

Evidenciados nos autos os requisitos para a imputação da responsabilidade civil


subjetiva ao empregador, ou seja, a existência efetiva do dano, o nexo de causalidade e a
culpa do empregador (art. 186 c/c art. 927, do CCB), é devida a reparação pleiteada.

3.4 Assédio moral horizontal e rescisão indireta

O assédio moral horizontal, é aquele cometido entre empregados do mesmo nível


hierárquico. No assédio horizontal, o agressor pratica o ato ilícito, em muitas situações por
inveja de seu colega de trabalho que se destaca por alguma habilidade e pelo trabalho,
podendo vir a obter uma promoção, ou ainda por discriminação sexual, religiosa, ética,
política etc. O assediador expõe a vítima a situações de humilhação mediante comentários
ofensivos, boatos sobre a vida pessoal, acusações que denigrem sua imagem com o
empregador, minando seus planos de trabalho.
Segundos ensinamentos de Ferreira (2010, p. 53), o assédio moral numa relação
horizontal: “o fenômeno surge como uma combinação entre a hostilidade dos colegas de
mesmo nível hierárquico com a omissão e a conivência de superiores hierárquicos. Ainda,
pode ocorrer assédio horizontal como consequência do assédio descendente, pois alguns
empregados, seja por qual motivo for, acabam por imitar o tratamento hostil que o superior
hierárquico despensa a vítima.
Reconhecendo o mesmo entendimento, é a lição de Souza (2009, p. 137): “O assédio
moral horizontal, que ocorre entre funcionários do mesmo nível hierárquico - colegas de
trabalho de uma mesma área - é raro, mas acontece. São ocasionados por ciúme, inveja, falta
de afinidade, preconceito ou rivalidade profissional”.
Para Hirigoyen (2010, p. 113), o Assédio horizontal é frequente entre diversos
empregados que disputam o mesmo cargo ou promoção, ou seja, é o assédio moral que vem
dos colegas, companheiros de trabalho.
Conclui-se que o Assédio Moral horizontal é aquele que ocorre entre os próprios
colegas de trabalho, que executam tarefas no mesmo nível hierárquico, por motivos de
competição.
O colega de serviço assediante, como autor material do Assédio Moral responderá por
perdas e danos por sua conduta antissocial e ilícita, além de incorrer na penalidade mais grave
que é demissão por justa causa (CLT, art. 482, “b”, “j”. O mesmo Autor complementa
afirmando que a demissão do por justa causa do assediante não exime o empregador de
53

responder por perdas e danos mesmo que não tenha conhecimento dos fatos, pois a legislação
vigente adotou a responsabilidade objetiva, ou seja responde independentemente de culpa
pelo fato. (ALKIMIN, 2010, p. 64).
As empresas respondem pelos atos do agressor, seja pela sua omissão, tolerância ou
estímulo em busca da competitividade interna, esquecendo-se que são responsáveis pela
integridade psicológica e física de seus empregados.
A Consolidação das Leis do Trabalho não dispõe expressamente acerca da figura do
assédio moral. Todavia, ele pode configurar falta grave e ser motivo de justa causa para a
rescisão do contrato de trabalho - seja a falta praticada pelo trabalhador, seja pelo empregador
(rescisão indireta).
Em seu texto, a CLT regula que o contrato de trabalho poderá ser rescindido se ocorrer
algum dos casos descritos nas alíneas do artigo 483, prevendo indenização. Acerta também,
que se ocorrer culpa de ambas as partes, a indenização devida será reduzida pela metade,
como aponta o artigo 484 da mesma lei.
Como se sabe, as ações do assédio moral prejudicam tanto o lesado como os outros
trabalhadores, que são atingidos indiretamente pelos atos praticados pelo empregador. Nesse
sentido, estas condutas do empregador, são chamadas pelos doutrinadores de “agressões”,
pois atingem tanto trabalhador no ambiente de trabalho, como em sua vida pessoal.

3.5 A reparação do dano sofrido

Neste tópico, abordar-se-á os elementos que distinguem a indenização por dano moral,
considerando-se primeiramente que a reparação do dano é sanada através da satisfação
pecuniária de quem sofreu a lesão, ou seja, mesmo que a dor sofrida possa não ter mensuração
econômica, a reparação através do dinheiro serve para trazer ao lesado uma situação mais
confortável em sua vida a partir dos danos passados.

Cabe, por oportuno mencionar que o dano moral não tem um valor fixado na Lei,
entretanto, o que determina o dano, além de ser avaliado o tamanho da dor sofrida, e os casos
que servem de modelo e que estão concretizados na jurisprudência. Deste modo, o julgador
deve considerar tanto o caráter punitivo e a sua reparação pela dor ocasionada, ou seja, o juiz
deve considerar que a indenização pronunciada não poderá ir além da extensão do dano, o que
caracterizaria um enriquecimento ilícito do lesado.
54

Como se trata de patrimônio imaterial, a indenização pelo dano causado não possui
mensuração econômica, portanto, caberá ao juiz, tendo em vista alguns requisitos, bem como
casos que servem de paradigma, fixar o dano pelas lesões sofridas. A indenização sendo
devida, seu pagamento ocorrerá através do dinheiro, a fim de tentar proporcionar a vítima do
dano uma situação mais confortável.
A finalidade da indenização, se possível, é reparar o status quo ante, ou seja, deixar o
indivíduo prejudicado na mesma situação de antes da prática do dano moral. No entanto, isto
se torna muito difícil, pois não se trata de um dano certo e líquido, pois, afeta o psicológico, a
moral e a honra, e estes nunca voltarão a ser os mesmos aos quais existiam antes.
É importante ressaltar com base em Gonçalves (2011, p. 429) que:

Indenizar significa reparar o dano causado à vítima, totalmente, se possível,


devolvendo o status quo ante, isto é, restaurando ao estado em que se encontrava
antes do acontecimento do ato ilícito. Na reparação peculiar ocorre a entrega da
própria coisa ou de objeto da mesma espécie em substituição àquele que se
inutilizou ou pereceu, de modo a refazer-se a situação modificada pelo dano.

Cumpre observar que, para a indenização por dano moral, dificílimo é a volta do
estado anterior que a pessoa tinha, pois é um dano que não tem uma quantia fixada em lei para
cada prática prejudicial. Para a reparação deste dano, deve ser levado em consideração alguns
requisitos que servirão de subsídio ao juiz para que este implante a quantia necessária a fim de
proporcionar um conforto melhor ao ofendido, levando sempre em consideração o não
enriquecimento ilícito deste, o que será abordado em tópico próprio.
Nesse sentido, o dano tem como função tentar amenizar a dor sofrida, e o seu caráter
financeiro é em função de que o dano causado não consegue compreender algo líquido, certo
e determinável. Assim, Gonçalves (2011, p. 429), é brilhante ao afirmar que “na indenização
do dano moral, às vezes, ‘ante a impossibilidade da reparação natural’, isto é, da
reconstituição natural, na restitutio in integrum buscar-se-á, atingir uma situação material
adequada”.
Dentre as questões abordadas, vale deferi que o autor mostra que a indenização serve
para “proteger” e assentar o trabalhador diante de uma situação mais cômoda àquela em que
se encontra. Valendo lembrar que o dano moral na maioria das vezes não é impetrado em
juízo no momento de seu ato, mas, posteriormente à rescisão de seu vínculo, com ou sem justa
causa.
Ressaltando que o trabalhador só irá impetrar este dano, juntamente com as outras
verbas trabalhistas. Desta forma, deverá comprovar que o dano sofrido é decorrente deste ato,
55

seja comissivo ou omissivo, articulado por seu empregador, sendo este autenticado para
figurar no polo passivo de uma reclamatória que tenha como rogativa o dano moral.

3.6 Quantum indenizatório

Posteriormente ao restabelecimento da questão da reparabilidade dos danos morais no


ordenamento jurídico brasileiro, surgiu a dificuldade em se fixar o quantum indenizatório
devido à inexistência de critérios objetivos para o cálculo. Ressalta-se que o quantum
indenizatório é essencial para garantir que o dano moral não seja vulgarizado pelas múltiplas
demandas cíveis e trabalhistas, que tem a finalidade buscar uma reparação pelo dano moral
causado. Atualmente, a jurisprudência vem regularizando sobre a vulgarização deste dano,
não outorgando quando se trata de simples aborrecimento, sem depreciar a vida intima da
pessoa lesada.
Além disso, no campo trabalhista, o pedido de dano moral é quase indispensável
estar juntamente com as outras verbas demandadas. As argumentações de que o empregador
articulava ordens, ou ainda de que encarregava ao trabalhador atividades complicadas por
exemplo, não podem caracterizar o dano moral, pois está na totalidade de suas obrigações.
O que prevalece no ordenamento jurídico brasileiro, é que este dano seja atribuído
pelo juiz, ou seja, o valor a título de indenização por danos morais, em face de não possuir
medição econômica o julgador determina o valor considerando alguns critérios.
Nesse contexto, é importante destacar o que assegura Gonçalves (2011, p. 398):

Por outro lado, deve o juiz, ao fixar o valor, e à falta de critérios objetivos, agir com
prudência, atendendo, em cada caso, às suas peculiaridades e à repercussão
econômica da indenização, de modo que o valor da mesma não deve ser nem tão
grande que se converta em fonte de enriquecimento nem tão pequena que se torne
inexpressivo.

Deste modo, observa-se que a função do magistrado é fundamental para decifrar o


caso e fixar a indenização que se apresenta mais adequada para cada caso, ante a inexistência
de decisão em lei quanto ao quantum. Mesmo assim, Diniz (2002, p. 96) explica sobre a
importância do juiz para que seja estipulado o valor:

Amplo é o papel do julgador na reparação do dano moral, incumbindo, a seu


criterioso arbítrio, examinar cada caso, avaliando os elementos probatórios e
medindo as circunstâncias, selecionando o desagravo direto ou compensação não
econômica à pecuniária, sempre que possível, ou se não houver risco de novos
danos.
56

Deste modo, carece o juiz analisar situações como o peso do dano, a situação do
ofensor, a condição do ofendido, de modo que possa acatar o modo compensatório e o
punitivo que o dano moral tem como papel, a fim de impedir o enriquecimento ilegítimo e a
recidiva.
Registra-se ainda a compreensão de Nascimento (2004, p. 533) sobre o tema:

Conforme citação anterior, não há na CLT dispositivo legal fixando critérios de


cálculo de indenização de dano moral, de modo que as regras aplicáveis são as do
Código Civil (art. 944), de acordo com o qual “a indenização mede-se pela extensão
do dano, de modo que em cada caso concreto impõe-se verificar se o dano foi grave,
leve ou levíssimo.

Em vista disso, destaca-se ainda o artigo 769 da CLT: “Nos casos omissos, o direito
processual comum será fonte subsidiária do direito processual do trabalho, exceto naquilo em
que for incompatível com as normas deste título”. Então, aplicar-se-á as regras da fixação do
dano moral aquelas fixadas no CPC.
A inexistência de mecanismo expresso sobre a quantia a ser fixada, faz com que o
magistrado e se norteie por parâmetros, e por seu livre arbítrio, alcançando valor que
corresponda à indenização da dor sofrida, bem como a repreensão, sempre observando as
particularidades de cada fato. A ação inconveniente praticada ao trabalhador, é digna de uma
reparação, embora, esta não ocasione a mesma situação que detinha antes, pois o dano afeta a
propriedade imaterial de cada ser, podendo até mesmo a própria ofensiva alterar a sua
proporção diante de cada pessoa.
Sobre o tema, Melo (2012, p. 115) ressalta que o magistrado deverá analisar as
situações que envolvem cada caso, para não deixar nenhum item de fora. Confere-se:

Como já apontado, a fixação do quantum indenizatório a título de dano moral não


pode ser tabelada ou tarifada, devendo ser livremente fixado segundo o prudente
arbítrio do juiz que, considerando tudo quanto dos autos possa constar, analisando as
condições pessoais, políticas e econômicas das partes, bem como as circunstâncias
em que se deu a lesão, além do bem jurídico a ser protegido, adotará a postura que
se mostre mais coerente frente ao caso concreto.

Deste jeito, o magistrado concretiza o caso em que está em presença, e que deste
existe o pedido de indenização por dano moral, tendo a capacidade de aplicar o valor diante
do que foi impetrado e ratificado pelas partes. Aspectos como o nível de culpa, a seriedade do
dano, sua extensão e repercussão, são fatores fundamentais para fixar uma indenização que
atenda o aspecto punitivo e compensatória que se espera.
57

Gonçalves (2011, p. 402) citando Diniz, conceitua as regras para serem seguidas
quando do arbitramento:

a) Evitar indenização simbólica e enriquecimento sem justa causa, ilícito ou injusto


a vítima. A indenização não poderá ter valor superior ao dano, nem deverá
subordinar-se à situação de penúria do lesado; nem poderá conceder a uma vítima
rica uma indenização inferior ao prejuízo sofrido, alegando que sua fortuna
permitiria suportar o excedente do menoscabo;
b) Não aceitar tarifação, porque esta requer despersonalização e desumanização, e
evitar porcentagem do dano patrimonial;
c) Diferenciar o montante indenizatório segundo a gravidade, a extensão e a
natureza da lesão;
d) Verificar a repercussão pública provocada pelo fato lesivo e as circunstâncias
fáticas;
e) Atentar às peculiaridades do caso e ao caráter antissocial da conduta lesiva;
f) Averiguar não só os benefícios obtidos pelo lesante com o ilícito, mas também a
sua atitude ulterior e situação econômica;
g) Apurar o real valor do prejuízo sofrido pela vítima;
h) Levar em conta o contexto econômico do país. No Brasil não haverá lugar para
fixação de indenizações de grande porte, como as vistas nos Estados Unidos;
i) Verificar a intensidade do dolo ou o grau de culpa do lesante;
j) Basear-se em prova firme e convincente do dano;
k) Analisar a pessoa do lesado, considerando a intensidade de seu sofrimento, seus
princípios religiosos, sua posição social ou política, sua condição profissional e seu
grau de educação e cultura;
l) Procurar a harmonização das reparações em casos semelhantes;
m) Aplicar o critério do justum ante as circunstâncias particulares do caso sub judice
(LICC, art. 5º), buscando sempre, com cautela a prudência objetiva, a equidade.

Deste modo, o arbitramento do quantum indenizatório será feito por livre certificação
do magistrado, contudo sempre acatando o caráter punitivo e a compensação pela dor que o
empregado sofreu durante seu trabalho.
Alguns aspectos importantes a ressaltar, referentes às relações de trabalho, que
deverão ser analisados para o arbitramento do montante, são destacados por Lobregat (2001,
p. 122):
1) O tempo transcorrido entre o dano moral sofrido e o ajuizamento da ação tendente
à obtenção da indenização, porquanto – como se sabe – o tempo suaviza as dores,
cicatriza as feridas, aplaca as mágoas, enfim, vai apagando da lembrança os
acontecimentos ruins, uma vez que é da essência da natureza humana esquecer-se
dos maus momentos, de tal modo que tanto menor será o valor da indenização
quanto maior for o lapso temporal transcorrido;
2) O tempo de serviço prestado ao empregador, devendo ser maior o valor da
indenização quanto maior for o tempo de convivência, em face do conhecimento
mútuo e da ampliação de confiança derivada do passar dos anos;
3) O cargo e a posição hierárquica ocupados na empresa, devendo ser maior o valor
da indenização quanto maior for o tempo de convivência, em face do conhecimento
mútuo e da ampliação de confiança derivados do passar dos anos;
4) A situação econômica do ofendido, de tal forma que a indenização arbitrada não
se transforme em meio de enriquecimento indevido.
58

Nesse contexto, destaca-se que a compensação deverá ser paga em parcela única, pois
o pagamento a esta infração não evidencia pensão ao ofendido. E mesmo o pagamento em
parcela única deverá ser recomendado afim de não adiar a dor tolerada.
Diante de tais fatos, é relevante afirmar que a indenização prevê que para cada dano
sofrido, a lei necessitaria ressaltar os valores a serem indenizados. Assim, caberia ao juiz
somente o reconhecimento do dano moral, e lhe aplicar os valores preestabelecidos.
Impende mencionar que a referida indenização não foi admitida pela CF/88, haja vista
que em seu artigo 5º, V, a Carta Magna deixa manifestado que: “V - é assegurado o direito de
resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à
imagem”. Evidente é o texto legal, que resta claro ao magistrado, a necessidade de usar todos
os critérios para analisar a quantia, porém utilizando-se de seu livre arbítrio.
Florindo, citado por Lobregat (2001, p. 124), aponta que:

Uma vez verificado o dano moral e seus graves reflexos na vida do trabalhador, não
basta a indenização “in pecúnia” pelo dano, mister também se faz a entrega de carta
de boa referência, posto que a pecúnia tem efeito meramente compensatório, haja
vista que não é possível voltar ao “status quo ante”, sendo que os efeitos do dano
continuarão a existir, ainda que de forma diminuída, [...].

Assim, a reparação do dano em dinheiro haverá de existir, caso o dano seja provado,
porém, este poderá ser diminuído, quando o dano não causar efeitos graves no indivíduo
lesado. Há também outro fator que deve ser considerado pelo juízo, reduzindo o quantum
indenizatório é o espaço temporal que induz o empregado a mover a ação indenizatória por
dano gerado na messe trabalhista. Tendo em vista que o sofrimento não é eterno, e que com o
tempo, o indivíduo é capaz de superar este sofrimento.

4. COMPETÊNCIA MATERIAL, CONSEQUÊNCIAS DO ASSÉDIO MORAL E


TRATAMENTO INTERNACIONAL
59

A jurisdição, como acentua Saraiva (2005, p. 70) “[...] consiste no poder/dever do


Estado de prestar a tutela jurisdicional a todo aquele que tenha uma pretensão resistida por
outrem, aplicando a regra jurídica à celeuma”. Consubstanciando, Theodoro Júnior (2005, p.
74), qualifica jurisdição como “a função do Estado de declarar e realizar, de forma prática, a
vontade da lei diante de uma situação jurídica contestável”.
Este capítulo visa discorrer sobre a competência material, as consequências do assédio
moral e apresentar o tratamento jurídico do assédio moral na esfera internacional. Antes,
apresentar-se-á a divergência quando à competência das ações.

4.1. Divergência quanto à competência das ações

É válido iniciar a abordagem do tópico tratando da divergência da competência para


julgar os casos de indenização por assédio moral. Esta competência é indiscutivelmente da
Justiça do Trabalho, em decorrência da Emenda Constitucional nº 45 do ano de 2004 que
alterou, entre outros dispositivos, o art. 114 da Carta Magna.

Compete à Justiça do Trabalho conciliar e julgar os dissídios individuais e coletivos


entre os trabalhadores e empregadores, abrangidos os entes de direito público
externo e da administração pública direta e indireta dos Municípios, do distrito
Federal, dos Estados e da união e, na forma da Lei, outras controvérsias decorrentes
da relação de trabalho, bem como os litígios que tenham origem no cumprimento de
suas próprias sentenças, inclusive coletivas. (BRASIL, 2015).

Observando minuciosamente o artigo citado da vigente Constituição Federal, conclui-


se que, definitivamente, são três as regras constitucionais de competência material da Justiça
do Trabalho, que podem ser assim sistematizados: a) Competência material natural ou
específica; b) Competência material decorrente; c) Competência material executória.
Nesse contexto, a competência material específica nada mais é do que a atribuição da
Justiça do Trabalho para conhecer e julgar as desavenças individuais e coletivos entre
trabalhadores e empregadores. Assim, de acordo com essa regra da competência material
natural, é a Justiça do Trabalho o ramo do Poder Judiciário competente para decidir todas as
questões entre empregados e empregadores, os quais se acham envolvidos a todo esse título
(ou seja, com essa qualificação jurídica), numa relação jurídica de emprego.
Neste sentido Élisson Miessa (2014, p. 99) ensina que:
60

Com a inclusão do art. 114, VI, da CF/88, por meio da Emenda Constitucional nº
45/04, terminou a divergência acerca da competência da Justiça Trabalhista para
processar e julgar ‘as ações de indenização por dano moral ou patrimonial,
decorrentes da relação de trabalho’. Definiu-se, pois, que tais ações são de
competência dessa Justiça Especializada.

Harmonizado é, portanto, o entendimento de que a Justiça do Trabalho é competente


para julgar as ações de danos morais e materiais provenientes da relação de trabalho, se
incluindo nessa competência a ação em decorrência de assédio moral.
Em resumo, pode o trabalhador pleitear uma reparação perante o poder judiciário
sempre que forem violados seus direitos. Ressalvando, porém, que, embora haja certa
divergência doutrinária, prevalece que para responsabilizar alguém devem estar presentes os
seguintes elementos ensejadores da responsabilidade civil: conduta, dano, nexo causal e
culpa, sendo este último requisito às vezes dispensado como veremos adiante.
É importante expor o posicionamento de Flávio Tartuce (2014, p. 362) em
concordância com o exposto no parágrafo anterior:

A primeira conclusão é que, tradicionalmente, a doutrina continua considerando a


culpa genérica ou lato sensu como pressuposto do dever de indenizar, em regra.
Todavia, há doutrinadores que deduzem ser a culpa genérica um elemento acidental
da responsabilidade civil, como é o caso de Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo
Pamplona Filho, que apresentam somente três elementos para o dever de indenizar:
a) conduta humana (positiva ou negativa), b) dano ou prejuízo e c) nexo de
causalidade. De qualquer forma, ainda prevalece o entendimento de que a culpa em
sentido amplo ou genérico é sim elemento essencial da responsabilidade civil, tese à
qual este autor se filia. Desse modo, pode ser apontada a existência de quatro
pressupostos do dever de indenizar, reunindo os doutrinadores aqui destacados: a)
conduta humana; b) culpa genérica ou lato sensu; c) nexo de causalidade; d) dano ou
prejuízo.

Também, o art. 927 do Código civil que regulamenta a obrigação de indenizar


apresenta informações benéficas nesse sentido:

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica
obrigado a repará-lo. Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano,
independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade
normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para
os direitos de outrem.

Como desfecho, conclui-se que quando alguém viola direito e causa dano a outrem,
esta pessoa fica obrigada a indenizar o dano gerado, sendo em alguns casos necessário provar
a ocorrência da conduta, dano, nexo de causalidade e culpa em sentido amplo e em outros
casos necessário apenas a prova da conduta, dano e do nexo de causalidade, dispensando-se o
aferimento da culpa.
61

4.2 Consequências físicas e psicológicas do assédio moral e acidente de trabalho


equiparado

As consequências do assédio moral são desastrosas para todos: à vítima (com todo o
seu universo particular: família e sua vida social), o assediador, à empresa ou instituição e à
sociedade.
Inconscientemente a vítima sofre, sem entender o seu próprio sofrimento. Razão disso
é a sensação de perda da dignidade que a coloca na condição de não perceber a dominação
psicológica do agressor, nem a sua submissão. Essa situação é a principal causadora do
sofrimento psicológico que traz como consequências, entre outras: insônia; aparente cansaço,
condutas de dependência como a bulimia2, alcoolismo, toxicomania, estresse, ansiedade
generalizada, fadiga crônica, depressão, e distúrbios psíquicos diversos.
Quando a vítima toma conhecimento da realidade dos fatos, fica atemorizada,
desamparada, confusa e muitas vezes traumatizada. Hirigoyen (2010, p. 176) descreve esse
estado com sabedoria:
[...] é uma sensação de rompimento violenta, de estupefação, de transbordamento,
ou de desmoronamento, que certas vítimas descrevem como sendo quase uma
agressão física: é como um murro [...].

A vítima, diante dessa situação de confusão não consegue sair do emaranhado em que
se encontra. Por isso, quase sempre, vem a depressão. Muitas se isolam do grupo a que
pertencem. Nessa solidão, diante do sofrimento, sem coragem de pedir ajuda ou quando pede
não é levada a sério, a vítima não consegue reagir às agressões sofridas no seu ambiente de
trabalho. Surge daí a dificuldade para desempenhar suas funções com qualidade, seja na vida
particular, seja na vida profissional.
Nesse contexto, Hirigoyen (2010, p.183), descreve com sensibilidade os sentimentos
da vítima:
As agressões ou humilhações permanecem inscritas na memória e são revividas por
imagem, pensamentos, emoções intensas e repetitivas, seja durante o dia, com
impressões bruscas de iminência de uma repetição idêntica, ou durante o sono,
provocando insônias e pesadelos. As vítimas têm necessidades de falar dos
acontecimentos traumatizantes, mas a evocações do passado levam, todas as vezes,
às manifestações psicossomáticas equivalentes ao medo. Elas apresentam distúrbio
de memória e de concentração. Por vezes perdem o apetite, ou tem, pelo contrário,
condutas bulímicas, que aumentam seu consumo de álcool ou de fumo.

2
Distúrbio do apetite caracterizado por episódios incontroláveis, chamados de acessos de hiperfagia, que,
independentemente da anorexia nervosa, sobrevêm ao menos duas vezes por semana durante três meses ou mais.
62

Por outro lado, o agressor, possuidor de um comportamento psicopático, não tem


consciência do prejuízo que causa, portanto é um doente que precisa de tratamento e/ou ser
afastado do ambiente de trabalho. Isso é verdade mesmo quando o agressor é um grupo, pois
o grupo adota o comportamento de assediador nos termos do fenômeno mobbing.
Na caracterização do acidente de trabalho o elemento subjetivo, culpa ou dolo de
quem causou o infortúnio, é irrelevante, visto que se aplica a teoria do risco social, segundo a
qual a sociedade arca com o ônus do indivíduo incapacitado.
Já em relação ao elemento objetivo, Oliveira (2012, p. 47) ensina que:

O elemento objetivo para a caracterização do acidente de trabalho é a existência de


lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte ou a perda ou redução,
permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho. Lesão corporal é aquela
que atinge a integridade física do indivíduo, causando um dano físico-anatômico,
enquanto a perturbação funcional é a que, sem aparente lesão física, apresenta dano
fisiológico ou psíquico, relacionado com órgãos ou funções específicas do
organismo humano.

Nesse contexto, é importante ressaltar que para a caracterização do acidente de


trabalho, a enfermidade deve estar relacionada com o exercício do trabalho, por meio da
configuração do nexo causal.
Assim é, que Castro e Lazzari (2008, 75) ressaltam tal importância:

O nexo causal é, portanto, o vínculo fático que liga o efeito (incapacidade para o
trabalho ou morte) à causa (acidente de trabalho ou doença ocupacional). Decorre de
uma análise técnica, a ser realizada, obrigatoriamente, por médico perito ou junta
médica formada por peritos nesta matéria.

Com tal benefício, compete à perícia médica da Previdência Social a investigação do


nexo de causalidade entre a lesão, perturbação ou morte e o acidente ou doença, bem como
tipificar o evento como sendo decorrência do trabalho, segundo o artigo 337 do Decreto
3.048/99.
Neste sentido, inadequado seria esquecer da coexistência, que se equipara ao acidente
de trabalho. Isto é, a causa que, embora não tenha sido a única, contribuiu diretamente para a
morte do segurado, para redução ou perda de sua capacidade laborativa, ou produza lesão que
exija atenção médica para a sua recuperação, conforme o inciso I do artigo 21 da Lei n.
8.213/91.
Como bem pontua Cavalieri Filho (2012), acerca da coexistência do acidente de
trabalho:
63

A coexistência é outra causa que, anexando-se à principal, contribui para o


resultado. Ela não inicia e nem interrompe o processo causal, apenas o reforça, tal
como um rio menor que deságua em outro maior, aumentando-lhe o caudal.

Em outras palavras, coexistências são circunstâncias que contribuem para o


agravamento do dano, mas que não têm a virtude de excluir o nexo causal desencadeado pela
conduta principal, nem de, por si sós, produzir o dano. É o que pode acontecer com um
trabalhador que desenvolva no âmbito laboral, síndromes depressivas em decorrência de
práticas reiteradas de assédio moral, nas quais está no papel de vítima.
O art.19 da Lei n°8.213/91 define o acidente de trabalho como sendo o evento que
ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa ou pelo exercício do trabalho dos
segurados especiais (referidos no art.11, VII, do mesmo diploma legal), provocando lesão
corporal ou perturbação funcional que cause morte, perda ou redução, permanente ou
temporária, da capacidade para o trabalho.
São também consideradas acidente de trabalho, para efeitos legais, as doenças
ocupacionais que se podem dividir em doenças profissionais e doenças do trabalho.
Cabe considerarmos que se o empregador tem o dever de velar pela integridade física
de seus empregados, em termos de higiene, segurança e saúde no trabalho, podemos
facilmente depreender que qualquer agressão que atinja a saúde, integridade física ou mental
do obreiro poderá ensejar o dever indenizatório em face do acidente de trabalho sofrido. Este
dever de zelar decorre da norma insculpida na Constituição Federal, que garante aos
trabalhadores, dentre outros, o direito à redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de
normas de saúde, higiene e segurança.
A responsabilidade do empregador por acidente de trabalho é subjetiva, pois o mesmo
só poderá ser responsabilizado se tiver contribuído, por ação ou omissão culposa ou dolosa
para o evento lesivo.
Desta forma, o empregado para fazer jus à indenização por dano moral decorrente de
acidente de trabalho, deverá fazer a comprovação do acidente de trabalho, do nexo de
causalidade entre o dano e atividade desenvolvida, além da culpa do empregador que, por
ação ou omissão, possa ter contribuído para a ocorrência do evento danoso. Assim, a
obrigação do empregador indenizar o dano experimentado pelo empregado não decorre
simplesmente do risco do empreendimento ou da atividade, mas, sim de sua negligência ou
imprudência no trato das relações empregatícias.
Cumpre observar que temos duas indenizações distintas referentes ao acidente de
trabalho, uma de natureza previdenciária e outra, decorrente da responsabilidade civil do
64

empregador pelo evento lesivo advindo. A indenização a ser paga pela previdência decorre da
simples ocorrência do nexo causal entre o dano físico e o exercício do trabalho, uma
responsabilidade objetiva.
Aconselha-se, por fim, que não há que se falar em bis in idem, tendo em vista que a
indenização acidentária é decorrente do infortúnio, sem que se especule sobre as suas causas,
tendo caráter eminentemente alimentar. Já a indenização a ser paga pelo empregador, material
ou moral, se reconhecida sua culpa ou dolo, é informada pela legislação civil e tem caráter
essencialmente reparatório. Assim, nada obsta que o trabalhador ou seus familiares (no caso
de morte) recebam, por exemplo, indenização por dano material correspondente a pensão
vitalícia, independentemente da aposentadoria previdenciária por acidente de trabalho.
Um aspecto interessante que vale ressaltar, é quanto ao prejuízo que o assédio moral
pode causar. A empresa ou organização, tem prejuízos, pois fica na iminência de sofrer perdas
com pessoal; com aumento nas despesas previdenciárias, nas despesas com serviços jurídicos,
principalmente em defesas perante à Justiça (uma vez que o assédio moral é uma espécie de
quebra de contrato), na redução da produção ou na eficiência dos serviços prestados, e, outros
mais; com o desgaste perante o seu público alvo, clientes de sua produção ou serviços.
Perde, principalmente, a sociedade, pois os custos sociais são imensos, advindos da
manutenção de aparatos de saúde para atendimento da clientela assediada e com
aposentadorias precoces; por ter serviços e produtos com baixa qualidade e, o mais
importante, por ter parcela de sua população sofrendo, com reflexos na paz social esperada.
Dessa forma, o assédio moral atinge a sociedade como um todo. Por essa razão, deve
ser identificado, analisado e combatido com veemência, a fim de se minimizar os efeitos
prejudiciais à convivência humana.

4.3 Assédio moral e a rescisão do contrato de trabalho

Para configurar a rescisão de contrato de trabalho, advinda de um assédio moral, cabe


destacar cinco hipóteses, do art. 483 da CLT, que são as mais citadas em jurisprudências,
ressaltando que apesar disso, as outras hipóteses de rescisão contratual elencadas no mesmo
artigo da citada lei, também podem ser invocadas para o assédio moral, dependendo de cada
caso. (BRASIL, 1943).

Art. 483, da CLT – O empregado poderá considerar rescindido o contrato e pleitear


a devida indenização quando: a) forem exigidos serviços superiores às suas forças,
defesos por lei, contrários aos bons costumes, ou alheios ao contrato; b) for tratado
pelo empregador ou por seus superiores hierárquicos com rigor excessivo; c) correr
65

perigo manifesto de mal considerável; d) não cumprir o empregador as obrigações


do contrato; e) praticar o empregador ou seus prepostos, contra ele ou pessoas de sua
família, ato lesivo da honra e boa fama; f) o empregador ou seus prepostos
ofenderem-no fisicamente, salvo em caso de legítima defesa, própria ou de outrem;
g) o empregador reduzir o seu trabalho, sendo este por peça ou tarefa, de forma a
afetar sensivelmente a importância dos salários. § 1º – O empregado poderá
suspender a prestação dos serviços ou rescindir o contrato, quando tiver de
desempenhar obrigações legais, incompatíveis com a continuação do serviço. § 2º –
No caso de morte do empregador constituído em empresa individual, é facultado ao
empregado rescindir o contrato de trabalho. § 3º – Nas hipóteses das letras d e g,
poderá o empregado pleitear a rescisão de seu contrato de trabalho e o pagamento
das respectivas indenizações, permanecendo ou não no serviço até final decisão do
processo. (BRASIL, 1943).

A primeira hipótese, é a exigência de serviços superiores às suas forças, defesos por


lei, contrários aos bons costumes, ou alheios ao contrato (art. 483, a). A “força”, mencionada
acima, não deve ser analisada como força física especificamente, podendo ser entendida
também como capacidade profissional para desempenhar o serviço. Ao citar os serviços
alheios ao contrato, significa o exercício de atividades não acordadas no contrato.
Outra possibilidade de pleitear a rescisão indireta é com fulcro na alínea “B” do art.
483 da CLT (BRASIL, 1943), quando o trabalhador é tratado com rigor excessivo,
configurando o assédio moral. Significa que não podem haver repressões ou punições que
possam configurar perseguições. Objetiva-se analisar a proporcionalidade entre o motivo da
falta (se existe), e a sanção aplicada ao trabalhador.
O perigo de mal considerável, elencado na alínea “C” do art. 483, o qual ocorre
quando o trabalhador é obrigado a exercer tarefas impróprias para a sua segurança, também
pode ser determinante para a rescisão indireta advindo de um assédio moral.
O legislador especificou ainda, o não cumprimento das obrigações do contrato,
descriminado na alínea “D” deste artigo. Neste caso, deve-se analisar os princípios
contratuais, dispostos no Código Civil, que nos remete ao princípio da boa-fé entre as partes,
que neste caso, houve ruptura pelo empregador/assediador. Assim, ressalta-se que os
contratos são sempre pactuados levando-se em conta o princípio da boa-fé e da continuidade,
deste modo, o ato sofrido pelo empregado deve ser grave, a ponto de impossibilitar a
continuação do trabalho.
Entretanto, a forma mais genérica e comum de pleitear de requerer a rescisão indireta
do contrato de trabalho em virtude do assédio moral é a alínea “E” do já citado art. 483 da
CLT. Esta alínea é a mais invocada para pleitear a rescisão em virtude do assédio, pois trata
do próprio ato lesivo da honra e/ou da boa fama do trabalhador, ou seja, é o próprio
66

desrespeito do assediador para com o trabalhador, violando sua dignidade, e acarretando a


infração da alínea “E” do CLT.
Deste modo, Rufino (2006, p. 35) ensina que:

[...] a obrigação contratual do empregador de respeitar os direitos trabalhistas, além


da personalidade moral de seu empregado e os direitos relativos à sua dignidade, e
vice-versa, cuja violação implicaria na infração dos ditames contratuais e das leis
trabalhistas, ensejando o direito do empregado à indenização correspondente, além
da legitimação do direito obreiro de resistência, que se consuma com a recusa ao
cumprimento de ordens ilícitas.

Assim, com a transgressão de sua honra e ou a boa fama do empregado, este tem
direito a recusar as ordens de serviço, apesar da hierarquia existente, podendo rescindir o
contrato e pleitear sua devida indenização.
Importante mencionar que o afastamento imediato realizado pelo empregado,
culminado pela rescisão indireta, é a única forma de proteção dos seus direitos, já que não
existe nenhuma lei federal capaz de determinar alguma penalidade ou sanção para esta
prática, senão veja-se as palavras de Rufino (2006, p.91):

[...] a prática do assédio moral gera consequências jurídicas para o ofensor e,


também, para a vítima, pois, muito inexista no âmbito trabalhista nacional uma lei
específica sobre o fenômeno, o empregador deverá delimitar sua conduta em outras
regras de proteção jurídica, que impõem o “dever-se” nesta relação, o qual, se
violado, ensejará a respectiva sanção. De tal modo, apesar de inexistir uma norma
específica dispondo e identificando o assédio moral, suas consequências e sanções,
deverão ser aplicadas outras normas por analogia, impondo ao empregador o
cumprimento fiel à proteção jurídica de direitos dos trabalhadores, limitando sua
conduta, com ditames trabalhistas, como a implicância da rescisão indireta, previstas
na CLT.

Portanto, diante da inexistência de leis acerca do tema, a rescisão indireta pleiteada


judicialmente, com fulcro no art. 483, (alíneas “A”, “B”, “C”, “D”, ou ainda a “E”, por
exemplo), onde o assediador atinge a integridade psicológica da vítima. Assim, o inciso “E”
do tão citado art. 483 da CLT, é o mais importante e o mais abrangente para a vítima do
assédio moral invocar para pleitear a sua rescisão do contrato de trabalho, pode ser utilizada
como forma de interromper o assédio moral exercido sobre o trabalhador, cabendo ainda,
como já citado, a reparação pelos danos causados, como a perda do emprego (embora seja por
rescisão indireta), despesas com médicos e psicólogos, entre outros.
Como desfecho, é importante elucidar que, apesar da omissão legislativa acerca de
uma lei nacional sobre o tema, a CLT fornece mecanismos para evitar a continuação do
contrato de trabalho para o trabalhador vítima de assédio moral.
67

4.4 Tratamento internacional

As primeiras preocupações relativas aos direitos e obrigações existentes na relação de


trabalho, entre empregador e empregado, surgiram na Europa, berço da Revolução Industrial e
por consequente, das modernas relações de trabalho.
Sedo este um momento histórico essencial para a transformação das relações de
trabalho em relações de emprego, nas quais a dignidade do ser humano vinha tornando-se um
elemento fundamental que carecia de maior proteção do Estado para que a harmonia e
ambientes dignos de trabalhos fizessem-se presentes eficazmente em sua integridade,
afastando qualquer tipo de direito que pudesse ser lesado.
O preâmbulo da Declaração da Filadélfia, de 10/05/44, já demonstrava a preocupação
com as condições de trabalho a que as pessoas estavam expostas. Assim, diversas normas
foram instituídas jurídicas no sentido de eliminar ou, minimizar, as práticas lesivas à
dignidade humana, como por exemplo, em relação ao assédio moral no ambiente de trabalho.
Neste contexto, começaram a surgir os tratamentos legislativos relacionados a este
tema, buscando tipificá-lo e penalizar os agentes perversos que adotavam tal conduta no
ambiente de trabalho com o objetivo único de aniquilar psicologicamente as pessoas.
Conforme demonstra Barreto (2009), a Organização Internacional do Trabalho (OIT),
em meados dos anos 1920, já buscava por meio de suas Convenções e Recomendações lançar
proposições relativas à proteção do trabalhador para eliminar não somente as práticas
discriminatórias no ambiente de trabalho, como também, as atividades laborais que
degradavam a saúde do trabalhador.
É oportuno mencionar que, no âmbito da União Europeia encontram-se resoluções e
diretivas norteadoras das ações estatais com fulcro no combate das diversas formas de assédio
moral no trabalho, conforme citados, sem esgotar o assunto, alguns destes documentos:
 Diretiva do Conselho das Comunidades Europeias n. 89/391/CEE, de 1989, referindo-
se à aplicação de medidas destinadas a promover a melhoria da segurança e da saúde
dos trabalhadores.
 Resolução do Conselho das Comunidades Europeias, de 29 de maio de 1990,
referindo-se à proteção da dignidade das mulheres e dos homens no ambiente de
trabalho.
 Recomendação n. 92/131/CEE, de 1991, com objetivo de preservar a igualdade de
tratamento entre homens e mulheres no trabalho.
68

 Diretiva n. 2.000/78/CE do Conselho da União Europeia, de 2000, estabelecendo um


quadro geral de igualdade de tratamento no emprego e na atividade profissional.
 Resolução n. 2.339/01 do Parlamento Europeu sobre o assédio moral no local de
trabalho, admitindo que a insegurança das condições de trabalho é a principal razão da
crescente violência no ambiente de trabalho.
Compreende-se, desse modo, que o tratamento jurídico do assédio moral tanto pela
Organização Internacional do Trabalho quanto pela jurisdição europeia não é um assunto
novo, mas algo já objeto de debate desde meados dos anos 1920.
Do mesmo modo, Lima Filho (2009), doutrina que alguns países europeus, como
Suécia e França destacaram-se como Estados desbravadores a abordarem tal assunto em seus
ordenamentos jurídicos, criando, assim, um marco regulador do assédio moral no âmbito das
relações de trabalho. Posteriormente a estes países, a Bélgica editou normas jurídicas que
tratavam do mobbing (assédio moral).
Lima Filho (2009, p. 52), elucida bem o pioneirismo da Suécia:

O ordenamento jurídico sueco tem o privilégio de ter sido o primeiro a incorporar


em seu seio uma regulamentação normativa contra o assédio moral no âmbito das
relações laborais. A Lei de Seguridade e Saúde Laboral, de 21.09.1993, conceitua o
assédio moral no trabalho como recorrentes ações reprováveis ou claramente hostis
empreendidas contra trabalhadores individuais, de tipo ofensivo, de tal modo que
suponha o isolamento destes trabalhadores do coletivo que opera no lugar de
trabalho.

Na França, Lima Filho (2009), destaca a Lei nº 2002-73, de 17 de janeiro (Lei


Francesa de Modernização Social) que alterou o artigo 122-49 do Código do Trabalho e o
artigo 222-2 do Código Penal, estabelecendo que:

Nenhum trabalhador deve sofrer condutas repetidas de assédio moral que tenham
por objetivo ou efeito uma degradação de suas condições de trabalho, susceptível de
pôr em perigo seus direitos ou sua dignidade, de alterar sua saúde física ou mental
ou de comprometer seu futuro profissional.

Lima Filho (2009) registra que a Itália ainda é um dos países europeus que ainda não
possui uma lei específica acerca do assédio moral. Mas ressalta já tramita no Senado a
Proposição nº. 122 para regulamentar tal assunto.
O fundamento jurisprudencial para indenizar as vítimas de maltrato laboral oriundas
de situações de assédio, na Itália, tem sido estabelecida na Constituição da República e no
Código Civil.
Na Bélgica, segundo Lima Filho (2009), os fins previstos na Lei de 11.6.02 – artigo
32.3, o assédio moral é constituído pelas:
69

Condutas abusivas e repetitivas de toda origem, externa ou interna à empresa ou


instituição, que se manifestam principalmente mediante comportamentos, palavras,
intimidações, atos, gestos e escritos unilaterais que têm por objeto ou por efeito
atentar contra a personalidade, a dignidade ou a integridade física ou psíquica de um
trabalhador (ou de outra pessoa a que resulta aplicável a lei) por ocasião da execução
de seu trabalho, pôr em perigo seu emprego ou criar um entorno intimidante, hostil,
degradante, humilhante ou ofensivo.

Já a Espanha tem se desenvolvido bem em relação ao combate do assédio moral no


âmbito laboral, tendo em seu ordenamento jurídico algumas leis que tratam do assunto, como,
por exemplo: a Constituição de 1978, o Código Civil, as Leis n. 55/2003 e n. 62/2003, o
Estatuto dos Trabalhadores, a Lei de Infrações e Sanções da Ordem Social e a Lei de
Prevenção de Riscos Laborais.
Em comentário a esta questão, Lima Filho (2009, p. 59) aponta que, “na Espanha se
considera o assédio moral como um acidente de trabalho em virtude do que se encontra
expresso na norma do art. 115, nº. 1, da Lei Geral da Seguridade Social”.
No ordenamento jurídico português, existe assédio moral sempre que a dignidade do
sujeito passivo for afetada pelo perverso ou este proporcionar àquele um ambiente de trabalho
degradante, humilhante ou desestabilizador. É, assim, tratado no Código do Trabalho, como
um comportamento que afeta a dignidade do trabalhador.
De acordo com Lima Filho (2009, p. 60):

Em Portugal o assédio moral foi tratado como uma das situações de discriminação
do art. 24 do Código do Trabalho (Lei nº. 99/2003). Com base no disposto no nº. 2
da citada norma, a doutrina lusitana tem o assédio moral como um comportamento
que afeta a dignidade do trabalhador.

O novo Código de Trabalho de Portugal, sob a Lei 7/2009, aprovado em 09 de


fevereiro de 2009, mostra a brilhante evolução portuguesa ao legislar a respeito dos diversos
tipos de assédio no âmbito laboral. Localizado no Título II (Contrato de trabalho), Capítulo I
(Disposições gerais), Secção I (Contrato de trabalho), Subsecção III (Igualdade e não
discriminação), Divisão II (Proibição de assédio), está o artigo 29, o qual em seu item 1 define
o assédio como sendo:

Entende-se por assédio o comportamento indesejado, nomeadamente o baseado em


fator de discriminação, praticado aquando do acesso ao emprego ou no próprio
emprego, trabalho ou formação profissional, com o objetivo ou o efeito de perturbar
ou constranger a pessoa, afetar a sua dignidade, ou de lhe criar um ambiente
intimidativo, hostil, degradante, humilhante ou desestabilizador.

Ainda, conforme dispõe o artigo 28 da sobredita lei ao ato discriminatório aplica-se


sanção indenizatória ao sujeito ativo, conforme assim consta: “A prática de ato
70

discriminatório lesivo de trabalhador ou candidato a emprego confere-lhe o direito a


indemnização por danos patrimoniais e não patrimoniais, nos termos gerais de direito”.
Percebe-se que o legislador português evidencia de forma concreta a tendência à
repressão da prática do assédio moral no ambiente laboral, preocupando-se em tutelar a
melhoria das condições de trabalho, destinadas à promoção da saúde e segurança dos
trabalhadores.
Também a Argentina, por meio da Lei nº. 20.744 de Contrato de Trabalho, publicada
no Boletim Oficial em 21/05/1976, proíbe qualquer tipo de discriminação no ambiente
laboral.
Conforme Barreto (2009), no Chile não existe nenhuma lei específica a respeito do
assédio moral, o que não impede a atuação jurisprudencial dos Tribunais na tutela dos direitos
dos trabalhadores, sancionando hostilidades que causem danos à integridade física e psíquica
das vítimas no ambiente de trabalho. O Código do Trabalho do Chile, em seu artigo 171,
possibilita ao trabalhador a resolução do contrato por justa causa do empregador, com o
direito às indenizações legais e convencionais.
Cumpre observar com base em Barreto (2009), que no Uruguai também não existe lei
específica que trate da questão do assédio moral no ambiente de trabalho, o que não impede a
apreciação judicial dos casos de abuso cometidos pelos empregadores contra os empregados,
haja vista que a Constituição da República protege os habitantes do país em igualdade de
tratamento.

4.5 Jurisprudência e assédio moral nas relações de trabalho

A jurisprudência aborda um dos mais interessantes temas do direito trabalhista


moderno: o assédio moral no ambiente de trabalho. Doença com consequências orgânicas,
psicológicas e sociais, citadas nesse trabalho, que pode ser considerado um tema de máxima
relevância e se constitui em grande desafio aos estudiosos, uma vez que a questão adquire
múltiplas interfaces e permite análise multidisciplinar.
A jurisprudência é um canal de grande importância para compreensão de alguns casos
característicos contemporâneos nas relações de trabalho, mas de fundamental importância
para servir de modelo a casos semelhantes. Deste modo, pretende-se conferir alguns
apontamentos para que ilustre e complete o trabalho em tela.

Ementa: I - RECURSO DE REVISTA DO RECLAMADO. 1. JORNADA DE


TRABALHO. A necessidade de revolvimento de fatos e provas impede o
71

conhecimento da revista, nos termos da Súmula 126 do TST. Recurso de revista não
conhecido. 2. DANO MORAL. REVISTAS PESSOAIS EM TRABALHADORES.
REVISTAS ÍNTIMAS. REVISTAS ABUSIVAS EM PERTENCES DE
EMPREGADOS. ABUSO NO EXERCÍCIO DO PODER DIRETIVO. DANO
MORAL. CONFIGURAÇÃO. OBRIGAÇÃO DE INDENIZAR. CONSTITUIÇÃO
FEDERAL, ART. 5º, INCISOS V e X. Os princípios e garantias constitucionais
atuam, na contemporaneidade, em defesa do trabalhador, enquanto e em
contrapartida, estabelecem freios para a conduta patronal. A ordem inaugurada pela
Constituição Federal de 1988, quando dá destaque à dignidade da pessoa humana e
tutela intimidade, privacidade e honra, vedando tratamentos degradantes, revela
visível avanço em relação à situação pregressa: ergue a nível matricial a proteção
que a classe trabalhadora reclama desde a Revolução Industrial. Fazendo concreto o
ideal do Estado Democrático de Direito, este conjunto de princípios deita-se sobre a
legislação ordinária, relendo os limites da atuação patronal no exercício do poder
diretivo - de base restritamente contratual -, sobretudo naquilo que represente
desnecessária exposição e ofensa aos seus subordinados. Somente como exceção e
sob escasso olhar, o art. 373-A da CLT admite revistas, regra igualmente limitada
para as mulheres e, por influência do princípio isonômico, para os homens: ao
empregador incumbe adotar os meios que a tecnologia lhe oferece para defesa de
seu patrimônio, sendo-lhe vedado, mesmo com tal aparato, violentar a esfera privada
daqueles trabalhadores que contrata. Sendo a última de suas possibilidades, o
empregador poderá recorrer às revistas pessoais, desde que o faça sob condições,
mas sem jamais macular a privacidade e a intimidade dos empregados. O excesso a
tais parâmetros desperta a sanção constitucional e obriga à indenização do dano
moral, providência que empresta coerção e concretude ao pilar da dignidade da
pessoa humana e delega expressão máxima ao vetor eleito pela Constituição Federal.
Recurso de revista não conhecido. [...] III - RECURSOS DE REVISTA DO
AUTOR E DO RÉU. DANO MORAL. INDENIZAÇÃO. VALOR. CRITÉRIOS
PARA ARBITRAMENTO. A indenização por dano moral guarda conteúdo de
interesse público. O valor fixado deve observar a extensão do dano sofrido, o grau
de comprometimento dos envolvidos no evento, os perfis financeiros do autor do
ilícito e da vítima, além de aspectos secundários pertinentes a cada caso. Incumbe ao
juiz fixá-lo com prudência, bom senso e razoabilidade. Recursos de revista não
conhecidos. (BRASIL, 2015).

Analisando a ementa apresentada, verifica-se que o dano moral restou configurado


acerca de ato discriminatório do empregador, que empreendeu realizando a revista íntima em
seu funcionário. Importante ainda a ênfase que traz a ementa, acerca da concisa síntese
histórica que faz o magistrado, quanto à vedação de infração ao direito a honra, imagem,
dignidade humana, na qual o trabalhador busca desde a Revolução Industrial.
O TST apresentou o seguinte entendimento a respeito do assédio moral:

Ementa: AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA.


INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. ASSÉDIO MORAL. O Regional,
amparado no acervo fático-probatório, concluiu estar comprovada a prática reiterada
e sistematizada de assédio moral pela chefia da empresa, consubstanciada nas
agressões físicas e verbais sofridas pelo reclamante. Diante do quadro fático
delineado, cujo teor é insuscetível de reexame nesta instância superior, nos termos
da Súmula 126 do TST, os arestos colacionados se mostram inespecíficos, nos
termos da Súmula 296, I, do TST. Inviável, também, o exame da alegada violação
dos arts. 5º, X e LV, da CF e 422 do CC. Agravo de instrumento conhecido e não
provido. (BRASIL, 2013).
72

Desse modo, observa-se que o entendimento do TST se relaciona com o que foi
abordado no presente trabalho de pesquisa, uma vez que o assédio moral é entendido como
aquele ato reiterado, o qual foi praticado pelo superior (chefe), que através de agressões
verbais alcançou a esfera pessoal do trabalhador.
O TRT4 apresentou a seguinte jurisprudência quanto ao dano moral:

Ementa: INDENIZAÇÃO. DANOS MORAIS. EXPECTATIVA DE


CONTRATAÇÃO. RECUSA DE CONTRATAÇÃO APÓS EXAME DE SANGUE
ADMISSIONAL QUE APONTA ALTO ÍNDICE GLICÊMICO. A promessa de
contratação frustrada atenta contra o princípio da boa-fé objetiva. Tal princípio traz
ínsito um modelo de atitude, exigindo que as partes ajam de acordo com um padrão
moral. E restando incontroversa a expectativa de contratação da reclamante,
inclusive com abertura de conta-salário em Banco indicado pela empresa, e não
comprovado pela reclamada que as condições de trabalho se mostrariam prejudiciais
à saúde da reclamante, que sofre de diabetes, constitui-se o dever de indenizar.
Recurso da reclamante provido. (RIO GRANDE DO SUL, 2014).

Em virtude do que foi mencionado, observa-se que o exame admissional pode


sugestionar uma indenização, em caso de afronta à moral do futuro empregado, em muitas
vezes pelo fato do exame ser íntimo a ponto de causar algum constrangimento. No relato
acima, conforme esclarecido também nesse trabalho, aquele trabalhador que tenha a
expectativa de ser contratado, pois expressamente afirmado pelo empregador, tendo a
reclamante até mesmo feito a abertura de conta salário, e posteriormente não foi contratada
sem que a constatação de que as condições em que esta trabalharia comprometeria o
diagnóstico feito pelo médico.
Quanto ao entendimento de indenização, observa-se:

Ementa: INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. QUANTUM ARBITRADO.


Sabe-se que toda indenização, em princípio, tem por escopo o restabelecimento do
status quo ante mas, em se tratando de dano moral, resta inviável a reposição da
condição anterior. Assim, o valor da indenização pelo dano moral deve buscar duas
finalidades precípuas: compensar a vítima e punir o agressor. É importante balizar o
valor de forma que não se constitua causa de ruína do devedor, bem como que não
resulte para o credor melhora tão elevada na sua condição financeira a ponto de que
a indenização seja mais vantajosa do que a não ocorrência da lesão, para o que se
deve ter presente o nível socioeconômico das partes. Além disso, e por óbvio, é
necessário verificar-se a extensão e a gravidade do dano, bem como o grau de culpa
do ofensor. Considerando tais elementos, entendo por razoável reduzir o valor da
indenização por danos morais para o montante de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), o
que se afigura adequado para o ressarcimento no caso dos autos. HONORÁRIOS
ADVOCATÍCIOS. Não são devidos os honorários advocatícios por sucumbência
nas ações envolvendo controvérsia sobre relação de emprego, sendo apenas devidos
os honorários assistenciais, conforme art. 14 da Lei nº 5.584/70, quando concedida a
assistência judiciária gratuita. E, no caso, o reclamante não está assistido por
profissional credenciado junto ao Sindicato de sua categoria profissional. Recurso
provido para excluir da condenação o pagamento de honorários advocatícios. (RIO
GRANDE DO SUL, 2014).
73

Em relação ao aludido pressuposto, a ementa agrupa todos os aspectos abordados


anteriormente enquanto o modo da indenização. Tendo em vista que para a restituição de um
dano, o ideal seria a restituição integral, porém esta é impossível diante de um dano que não
possuí mensuração econômica.
Sobre o quantum indenizatório, observa-se a jurisprudência:

Ementa: AGRAVO DE INSTRUMENTO. MULTA AOS RECLAMANTES POR


EMBARGOS DECLARATÓRIOS PROTELATÓRIOS. Demonstrada a violação de
dispositivo constitucional, nos termos exigidos no artigo 896 da CLT. Agravo de
instrumento provido para determinar o processamento do recurso de revista.
RECURSO DE REVISTA. MULTA AOS RECLAMANTES POR EMBARGOS
DECLARATÓRIOS PROTELATÓRIOS. A aplicação da multa por embargos
declaratórios protelatórios aos autores, in casu, não merece prosperar, na medida em
que buscavam o pronunciamento do Regional quanto à incongruência entre os
acórdãos anteriores, não havendo coerência em se identificar intuito protelatório em
relação aos autores, interessados no rápido desfecho da demanda, salvo quando essa
intenção de retardar, não derivando do simples descabimento dos embargos, contém
fundamentação específica. Recurso de revista conhecido e provido.
INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. VALOR DA INDENIZAÇÃO.
DOENÇA PROFISSIONAL. CAUSA MORTIS. A jurisprudência desta Corte vem
admitindo a interferência na valoração do dano moral com a finalidade de ajustar a
decisão aos parâmetros da razoabilidade e da proporcionalidade contido no art. 5º,
V, da Constituição Federal. De fato, diversos são os critérios adotados para fixar a
indenização por danos morais, afinal ela não tem como único objetivo a
compensação do dano moral sofrido pelo trabalhador, mas também de servir como
uma razoável carga pedagógica a fim de inibir a reiteração de atos do empregador
que afrontem a dignidade humana. Na fixação da compensação pecuniária do dano
moral devem ser observados os princípios da razoabilidade, proporcionalidade e
equidade. Para tanto, devem ser adotados critérios e parâmetros que considerem o
ambiente cultural, as circunstâncias em que ocorreu o ato ilícito, a situação
econômica do ofensor e do ofendido, a gravidade do ato, a extensão do dano no
lesado e a reincidência do ofensor. Por outro lado, deve-se ficar atento para o
enriquecimento do ofendido e a capacidade econômica do ofensor, a fim de que o
valor estabelecido não seja tão grande que se converta em fonte de enriquecimento e
nem tão pequena que se torne inexpressiva. Na hipótese, são incontroversos os
seguintes elementos fáticos: que a exposição do ex-empregado à - sílica livre -
acarretou doença profissional, a qual foi uma das causas mortis do obreiro. A
quantia fixada não se mostra razoável e nem proporcional, devendo ser provido a
fim de que seja majorado o valor da condenação em face da violação do art. 944 do
Código Civil. Recurso de revista conhecido e provido. (BRASIL, 2013).

Nesse contexto, observa-se que a principal função da indenização pelos danos morais
é deixar a pessoa lesada em situação mais confortável, ante a impossibilidade de restauração
do status quo ante. Em contrapartida, dois aspectos de grande importância para que se
obtenção este papel, e que espere a justiça, é avaliar se o valor fixado conseguirá que o
ofensor não venha reincidir em suas ações ilícitas, bem como que a quantia não ultrapasse a
extensão do dano, vindo a caracterizar um enriquecimento ilícito da pessoa lesada.
Assim sendo, o dano moral e assédio moral fazem jus à indenização, através do
dinheiro, por aquele dano sofrido que envolve a sua esfera íntima, ferindo a sua honra e
moral. De outra face, deve ser analisado alguns critérios de fixação destes valores, para que
74

correspondam de forma justa a reparação do dano sofrido, e que venha também a coibir a
reincidência de novas lesões, servindo esta de exemplo, e não simplesmente compensatório.
Quanto à rescisão de contrato, observa-se a jurisprudência abaixo:

Ementa: ASSÉDIO MORAL. RESCISÃO INDIRETA DO CONTRATO DE


TRABALHO. Define-se o assédio moral - ou mobbing - como a atitude abusiva, de
índole psicológica, que ofende repetidamente a dignidade psíquica do indivíduo,
com o intento de eliminá-lo do ambiente laboral. Provando-se que os prepostos do
empregador arquitetaram um plano para que o trabalhador, diante da perseguição de
seus superiores, pedisse demissão ou cometesse algum deslize apto a atrair a
aplicação do art. 482 da CLT, resta configurado o comportamento empresarial
causador do assédio moral e da rescisão indireta do contrato de trabalho. Recurso
conhecido e desprovido. PROC 00687-2006-002-10-00-5 RO - AC 3ª T - 10ª
REGIÃO - Grijalbo Fernandes Coutinho - Juiz Relator. DOE/SP de 11/05/2007 -
(DT – julho 2007 – vol. 156, p. 91).

A legislação brasileira, apesar de não possuir um dispositivo específico e destinado a


restringir o assédio moral, possibilita a interpretação principiológica protetiva ao empregado e
a utilização das motivações previstas para a rescisão indireta do contrato de trabalho como
forma de libertar o trabalhador do ambiente de trabalho que prejudica seu bem-estar. Mas
ainda há muito o que avançar, especialmente na utilização de tutelas inibitórias e ações
coletivas.
Corroborando, Mara Vidigal Darcanchy (2006, p. 2) concluiu que:

O assédio moral é nocivo à saúde do trabalhador e, consequentemente, à da


sociedade. É como uma doença que se alastra e que se precisa combater e a arma é a
Justiça, que também precisa da solidariedade das pessoas para que possa agir.
Testemunhas são necessárias para que algum fato seja dado como verdade. A
eficácia jurídica depende da sociedade, precisa de denúncias e de comprometimento.

Assim, é imperioso afirmar que a jurisprudência analisada está em perfeita harmonia


com a doutrina e com a posição do Tribunal Superior do Trabalho, ambas unânimes em
considerar ofensiva toda e qualquer atitude do empregador e de seus prepostos em ofender os
direitos da personalidade do trabalhador, fundamentais e respeitados direitos humanos na
definição mais pura. A insuficiência de recursos financeiros do empregado, obrigado pelas
condições econômicas e pelo receio do desemprego, ficam ainda mais evidente diante da
ocorrência de assédio moral. Desta forma, cabe a todos os operadores do Direito velarem pela
adequada utilização do poder diretivo, restrito aos direitos da personalidade e dos princípios
da dignidade da pessoa humana e do valor social do trabalho, ambos fundamentais.
75

CONCLUSÃO

Através do trabalho, verificou-se que o dano moral decorre da agressão, ou da ofensa


aos bens que integram tanto a personalidade como a honra, a imagem, o nome e a dignidade
da pessoa humana.
Observou-se que durante muito tempo a doutrina discutiu sobre o tema, da
competência, em razão de ser decorrentes da responsabilidade civil, muitos doutrinadores
76

apoiavam que deveria ser julgado pela Justiça Comum. Em contrapartida, havia parte da
doutrina que afirmava ser da Justiça do Trabalho a competência para julgar essas ações. Os
que assim entendiam, declaravam que em razão das características específicas da relação de
trabalho, caberia a Justiça especializada a sua apreciação. Existia também conflito na
jurisprudência, com julgados nos dois sentidos, inclusive do mesmo tribunal superior.

E, finalmente, com a aprovação da Emenda Constitucional de nº 45/2004,


restabeleceu-se a questão que fixou a competência da Justiça do Trabalho, para julgar as ações
de indenização por dano moral, decorrentes da relação de trabalho.

A pesquisa mostrou que o assédio moral no trabalho pode resultar em uma ação de
reparação de danos a ser julgada pela Justiça do Trabalho e que, para que a ação seja julgada
procedente, deve a vítima demonstrar a conduta do assediador, o dano e o nexo de
causalidade, além da culpa em sentido amplo, nos casos em que a prova desta é exigida.

Destaca-se ainda que o assédio moral como coexistência de acidente do trabalho, deve
ser provado de forma robusta, em especial por meio de testemunhas e de uma criteriosa
perícia médica capaz de definir a doença sofrida pelo trabalhador como tendo sido agravada
pelo assédio que sofrera. Também cumpre ressaltar que tal conduta não afeta somente a
pessoa do trabalhador, transcendendo a outras searas como a familiar, a social, religiosa,
dentre outras, já que o assédio se caracteriza como conduta capaz de mitigar vários vínculos
sociais até então plenamente gozados pela vítima, dando ensejo à reparação civil por danos
morais.

É bem verdade que quando se fundamenta na defesa dos direitos do homem e nos
princípios constitucionais, o combate ao assédio moral na esfera trabalhista ainda demanda de
maior atuação legislativa no âmbito federal de modo a assentar a repressão pedagógica que se
espera aos empregadores ou seus prepostos, produzindo-se, deste modo, a paz social
defendida pelo Estado democrático de direito.

Como desfecho, é importante ressaltar que a luta contra a prática do assédio moral no
ambiente de trabalho, além da urgente necessidade de lei federal, atribuindo ao perverso,
sanções de natureza penal, trabalhista e civil, necessita de um desenvolvimento cultural
pautado no respeito à dignidade humana e aos direitos individuais e coletivos,
independentemente do nível de relação que se estabelece com a vítima.
77

REFERÊNCIAS

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