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Reflexões sobre Orientação Profissional


Vetor Editora, 4 semanas ago 0 5 min read 51
por Maria Luiza Junqueira
Imagem por wirestock em Freepik
A Orientação Profissional, Orientação Vocacional ou ainda Orientação para a
Carreira deve ser compreendida como um processo facilitador no desenvolvimento dos recursos
pessoais necessários para o enfrentamento das tarefas vocacionais, aquelas relacionadas aos
momentos em que é preciso fazer escolhas e tomar decisões relativas à carreira.
Um desses momentos acontece no final do ensino médio quando o jovem que optar por seguir
com os estudos deve decidir qual curso e de qual modalidade (técnico ou universitário) fazer –
embora ao longo da vida diversas situações exijam tomada (e retomada) de decisões, conforme já
nos alertava Donald Super (1963, 1990), importante teórico da Psicologia Vocacional em sua
teoria desenvolvimentista.

Os termos Orientação Profissional e Orientação Vocacional frequentemente são utilizados como


sinônimos. Mas, segundo Bohoslavsky (1998), autor consagrado por sua colaboração na área da
orientação, o termo vocacional responderia mais ao para que da escolha enquanto o termo
profissional ao o que escolher fazer. Penso que a escolha de uma profissão deve abarcar as duas
coisas: o que fazer e para que fazer, ou seja, ter um sentido que possa enriquecer a vida da
pessoa.

Para tanto, é necessário que se faça uma escolha madura, consciente e autônoma.
Uma escolha madura é sempre fruto de um processo de reflexão. Resulta da integração de um
conhecimento aprofundado de si mesmo com o maior conhecimento possível da realidade
(mundo do trabalho, cursos, universidades).
Mas essa escolha deve ser feita de tal modo que a atividade profissional escolhida também se
integre à vida que se viveu, que se vive e que se pretende viver.

Este é um momento complexo. Sabemos que a adolescência é uma etapa da vida marcada por
profundas transformações na identidade dos indivíduos (Erikson, 1976) e que os jovens ainda
não têm uma imagem consistente de si mesmos; estão passando por transformações de ordem
física, psíquica e social enquanto lidam com a construção de suas identidades adultas.

O processo de orientação pode auxiliar na definição e compreensão das suas identidades, pessoal
e profissional, ajudando-os a organizar o conhecimento que já têm de si e promover um
aprofundamento desse autoconhecimento, questionando a relação deles com eles mesmos
naquilo que lhes é desconhecido.

Vai possibilita-los refletirem sobre quem são, quem querem ser e como desejam viver, pois é na
vida que se insere o projeto profissional de cada pessoa. Como diz Donald Super, já citado neste
texto, “enquanto fazem a vida, as pessoas vivem uma vida”.
A Orientação Vocacional/Profissional pode ser feita em grupo ou individualmente. Inclui
entrevistas clínicas, avaliação psicológica e o uso de diversas técnicas e atividades que visam não
só ao diagnóstico, mas a promover o desenvolvimento vocacional do orientando e a ativação da
sua maturidade para a escolha da carreira. Implica uma postura ativa do orientando em atividades
reflexivas e práticas.

São partes essenciais do processo a clarificação de interesses, valores, aptidões, habilidades (bem
como a percepção de conflitos), ansiedades, influências, medos e expectativas quanto ao futuro.
Inclui ainda a busca de conhecimento sobre profissões e cursos, sobre o que se vai estudar, as
universidades que oferecem o curso de interesse e análise das grades curriculares. Informações
sobre o mercado de trabalho, campos de atuação e reflexões sobre o mundo do trabalho também
compõem a orientação.

Em suma, o processo consiste em conhecer, analisar e integrar os conhecimentos de si e da


realidade. O jovem vai aprender a escolher e a estabelecer critérios para essas escolhas.

A ideia do famoso “teste vocacional”, aquele teste que indica a profissão com precisão, é uma
ilusão. Porém, embora nenhum teste possa dizer exatamente qual a profissão ideal para uma
pessoa, eles são excelentes instrumentos de trabalho e ajudam a compor conhecimentos que
podem sim ser de muita ajuda para quem procura pela orientação; mas é importante saber que
não existe mágica e que os resultados obtidos nos testes devem ser integrados ao trabalho que
está sendo desenvolvido e ao conhecimento que está sendo construído.

O uso de instrumentos psicológicos auxilia os orientadores na avaliação dos participantes e no


planejamento das atividades. Entretanto, para fazer uso de instrumentos de avaliação psicológica
o orientador deve conhecer seus fundamentos teóricos e técnicos, compreender e aplicar a
técnica com os devidos cuidados éticos.

Além disso, é extremamente necessário verificar se o teste a ser utilizado encontra-se entre os
aprovados pelo Conselho Federal de Psicologia. O resultado de uma avaliação psicológica deve
estar sempre a serviço do orientando, ser-lhe útil, oferecer uma experiência de
autoconhecimento.

É difícil, mas pode acontecer de o adolescente finalizar um processo de Orientação ainda com
alguma dúvida, no entanto, com certeza não estará no mesmo ponto de desenvolvimento pessoal
e vocacional de quando o iniciou.

Terá adquirido competências e atitudes que lhe permitirão continuar a lidar com a tarefa e ser
capaz de fazer sua escolha no momento apropriado. Nesse sentido, uma escolha madura é aquela
possível para o momento.

Dependendo da situação em que o jovem se encontra em seu processo de desenvolvimento


vocacional (que vai continuar ao longo da vida), pode ser mais adequado, por exemplo, escolher
fazer um ano de cursinho preparatório e deixar amadurecer suas ideias do que iniciar qualquer
curso só porque os amigos estão entrando na faculdade. Afinal, como nos lembra Marques
(2005), existem momentos na vida em que a direção é mais importante que a velocidade.
Referências
Bohoslavsky, R. (1998). Orientação vocacional: a estratégia clínica. Martins Fontes.
Erikson, E. H. (1976). Identidade, juventude e crise. Zahar Editores.
Marques, E. (2005). Mude. Panda Books Editora Original.

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