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MESTRADO EM CRIMINOLOGIA E INVESTIGAÇÃO CRIMINAL

O Assédio Moral Laboral: Estudo de Caso dos Professores do Colégio


Triângulo Dourado, em 2023.

Trabalho apresentado como requisito avaliativo

para o Módulo de Sociologia Criminal.

Mestrando: António Maria Dala do Nascimento.

Orientador: Ph.D Martinho Katúmua.

Luanda, 2023
RESUMO
Assédio Moral Laboral nas instituições é um fenómeno contemporâneo e, um comportamento
irracional, repetido, em relação a um determinado empregado, ou a um grupo de empregados,
criando um risco para a saúde psicológica e para a segurança laboral, ou, pode-se entender como
na deliberada efectivação de violência no local de trabalho através do estabelecimento de
comunicações não éticas que se caracterizam pela repetição de um comportamento hostil. O
presente trabalho é um estudo de caso e teve como principal objectivo descrever como se
caracteriza o Assédio Moral Laboral nos professores do Iº Ciclo do Ensino Secundário do
colégio Triângulo Dourado, na qual determinou-se a modalidade de Assédio Moral Laboral
mais praticada, a frequência com que ocorrem os factos, o local em que predomina o assédio e
o factor que predomina para a ocorrência do Assédio Moral Laboral. O estudo classifica-se
como descritivo. Para recolha de dados, utilizou-se a observação e o inquérito por questionário
em uma amostra probabilística, constituída por 22 professores. O processamento dos dados foi
mediante o uso da estatística descritiva com a ajuda do programa Microsoft Excel,
configurando-se assim numa abordagem quantitativa dos dados. Os métodos de abordagem
utilizados durante todo estudo foram o dedutivo-indutivo e o hipotético-dedutivo.

Palavras-Chaves: Assédio Moral Laboral; professores; Colégio Triângulo Dourado;


Agressões.

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INTRODUÇÃO

O ambiente de trabalho deve ser equilibrado, proporcionando ao trabalhador não só o


bem-estar físico, mas também mental, pois a construção de um ambiente de trabalho seguro e
saudável deve ser o objectivo fulcral dos indivíduos e principalmente da empresa ou instituição.
Entretanto, o trabalho é um elemento central na vida de cada pessoa, funcionando como um
factor regulador da vida em sociedade. Por ser inerente a vida do ser humano, a experiência de
trabalho é uma importante esfera na construção da sua personalidade, sendo geradora de saúde,
portanto, quando executado em contexto adverso, pode acarretar consequências negativas para
a pessoa, como de sofrimento ou doenças.

Dentre as formas de agressão mais verificadas no seio do ambiente do trabalho nos dias
de hoje, predomina o Assédio Moral, de acordo com os inúmeros estudos desenvolvidos a partir
do grande número de pacientes com distúrbios psicológicos e a dificuldade de estabelecer
interrelações pessoais. De facto, sabe-se que o Assédio Moral Laboral sempre existiu, porém,
hoje o fenômeno ocorre com maior visibilidade e frequência.

No que concerne à profissão docente, actualmente é evidente uma perda de prestígio por
parte dos professores, como se fosse só mais uma ferramenta para a produção institucional,
encontrando-se a sua imagem social num estado de degradação. A massificação do ensino
trouxe grandes alterações à classe docente, originando um aumento brusco do número de alunos
e de escolas e, necessariamente de professores, com todos os problemas que daí advêm.

Picado (2005) na sua obra cientifica revela a existência de um grau elevado de


professores que adoecem e se afastam da actividade laboral em detrimento de agressões e
doenças (exemplo: síndrome de Burnout) causadas no ambiente de trabalho, seja pelo
empregador ou por colegas da mesma hierarquia.

Problematização

Os professores são um grupo profissional a quem é exigido grande contacto com os


outros para o desempenho da suas actividades laborais. Desta forma, as novas condições de
trabalho docente, as agressões, os controlos expressos e autoritário decorrentes da actividade
laboral, são apontados como causas do maior aumento de improdutividade e de doenças
ocupacionais como o stress, depressão e até mesmo burnout. Os possíveis actos agressivos
decorrentes da actividade laboral são entendidos como inerentes ao mundo competitivo das

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organizações, e são validados como sendo uma actividade perpetradas pelos próprios colegas
de trabalho, superiores hierárquicos e algumas vezes por subalternos.

O trabalhador que passa por estas situações de abusos e excessos, mostra-se uma pessoa
desmotivada e improdutiva, factos que podem comprometer a qualidade da vida em sociedade.

No colégio Triângulo Dourado (instituição de ensino que se destina a proporcionar um


ensino de qualidade), existem manifestações visíveis de assédio, situação que gera sentimentos
de indignidade, inutilidade e de desqualificação, refletindo em baixa autoestima pessoal e
profissional.

Portanto, mediante as explanações supracitadas o pesquisador visualiza dificuldades no


processo docente-educativo no colégio supracitado que levam a explanar a seguinte pergunta
de partida:

 Quais são as causas da desmotivação e improdutividade educativa dos professores do Iº


Ciclo do Ensino Secundário do colégio Triângulo Dourado?

A partir do diagnóstico fático e da observação ao processo, percebe-se um problema


multicausal, mas para o desenvolvimento desta pesquisa delimita-se como uma das causas o
assédio laboral, pelo que se assume como resposta provisória para a pergunta de partida a
seguinte hipótese.

 Hipótese: As manifestações de Assédio Moral Laboral no colégio Triângulo Dourado


constituem uma das causas da desmotivação e improdutividade dos professores
afectando o processo docente-educativo.

Justificativa

Costuma-se entender o Assédio Moral Laboral como uma conduta constantemente


abusiva, manifestada através de comportamentos que causam danos à integridade psíquica,
personalidade e integridade do indivíduo trabalhador. A actual frequência de casos no ambiente
institucional é causa preocupante para a sociedade angolana, isto porque é nela que se vai
verificar as suas consequências.

Embora, estudos sobre o Assédio Moral no trabalho existam em diversas áreas


organizacionais, há uma carência de pesquisas sobre este fenómeno em instituições de ensino
angolanas em relação entre colegas docentes e por parte da administração nessas instituições.
As várias facetas dessa forma de violência evidenciam questões da actuação profissional,

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questões pessoais e administrativas, sendo que essa violência traz consequências imediatas e
tardias ao docente.

Esta temática é de suma importância por acarretar consigo um problema de extrema


gravidade para a sociedade em si, fundamentado no facto de que os professores são os
profissionais que formam outros profissionais, ou seja, são os pilares primordiais para que o
resto dos indivíduos saibam uma pluralidade de competências, as quais, utilizarão para
contribuir na vida em sociedade.

Mediante isto, é necessário que os professores desempenhem as suas funções em um


ambiente laboral saudável, sem nenhuma forma de violência, para que então mantenham uma
boa produtividade e não venham a perigar a qualidade do ensino, que é um dos aspectos mais
importantes para uma boa construção social.

Objectivos da pesquisa

Em consonância com a composição lógica da temática em questão, tendo em conta o propósito


de determinar a finalidade da pesquisa, propõe-se como objectivo geral da pesquisa:

 Caracterizar as manifestações de Assédio Moral Laboral contra os Professores do Iº


Ciclo do Ensino Secundário do colégio Triângulo Dourado e que influenciam na
qualidade do processo docente-educativo.

De forma a se detalhar os mecanismos necessário para se alcançar o objectivo geral da pesquisa,


delimitam-se como objectivos específicos os seguintes:

• Fundamentar desde as teorias as causas e manifestações do Assédio Moral Laboral.


• Apontar a modalidade e manifestações de Assédio Moral Laboral que predominam
nos Professores do Iº ciclo do ensino secundário no colégio Triângulo Dourado e sua
incidência no processo docente-educativo.
• Identificar os factores que conduzem ao Assédio Moral Laboral nos Professores do Iº
ciclo do ensino secundário no colégio Triângulo Dourado.

Metodologia da pesquisa

A pesquisa em foco se apresenta como um estudo de caso realizado no colégio Triângulo


Dourado. Para o desenvolvimento da pesquisa trabalhou-se com os 22 professores que lecionam
no Iº ciclo do ensino secundário (7ª, 8ª e 9ª classe) no referido colégio, garantindo assim a
confiabilidade dos resultados dos dados levantados.

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Do ponto de vista da sua natureza é uma pesquisa básica, tendo em conta que visa gerar
conhecimentos sem pretensões de aplicação prática; quanto aos objectivos classifica-se como
pesquisa descritiva, porque, propõe-se a descrever as manifestações e as implicações do
fenómeno Assédio Moral no colégio Triângulo Dourado; segundo a forma de abordagem do
problema é quantitativa, visto que para a discussão dos dados foram utilizadas técnicas e
ferramentas estatísticas; e de acordo com os procedimentos técnicos apresenta-se como um
estudo de caso, ex-post-facto, que estuda a profundidade o fenómeno Assédio Moral Laboral
no colégio Triângulo Dourado no passado recente.

A pesquisa é guiada pelos seguintes métodos:

Métodos de abordagem (bases lógicas da investigação):

• Dedutivo-indutivo: aplicados na pesquisa para a partir das teorias gerais sobre o


Assédio Moral Laboral, particularizar no colégio Triângulo Dourado e, posterior a esta
particularização, obter uma visão geral que conduza as conclusões.

• Análise-síntese: no processo de percepção das relações entre as ideias sobre o desvio


de Assédio Moral, segundo a literatura estudada e a concreção da essência do
fenómeno para sua interpretação a partir das características dos dados registrado no
colégio Triângulo Dourado sobre este fenómeno.

Métodos de procedimento (meios técnicos da investigação):

• Observação directa não participante: como técnica utilizada de forma planificada para
tomar contacto com o ambiente em que ocorre o fenómeno Assédio Moral Laboral no
colégio sem intervir nas suas manifestações.

• Inquérito por questionário: como técnica, aplicado aos professores do colégio em


estudo para se captar as suas ideias em relação ao fenómeno Assédio Moral Laboral
no colégio Triângulo Dourado.

População e amostra
O estudo foi desenvolvido a partir de um censo com os 22 professores que lecionam no Iº ciclo
do ensino secundário (7ª, 8ª e 9ª classe) colégio Triângulo Dourado.

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CAPÍTULO I. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Neste capítulo se apresentará os conceitos teóricos desenvolvidos por outros autores sobre o
tema em estudo.

1.1. Conceito de Assédio Moral Laboral

O Assédio Moral Laboral tem diversos conceitos. Alguns doutrinadores ratificam a


importância da repetição nos ataques para que se configure o assédio, outros focam na
intensidade da violência.

De acordo com Hirigoyen (2002), nas últimas décadas as evoluções no mundo do


trabalho, articuladas as técnicas de restruturação produtiva, passaram a instaurar uma cultura
competitiva nas instituições, onde a solidariedade vem perdendo espaço para o individualismo,
o egoísmo, a perversidade, a inveja, as perseguições, gerando um ambiente de terror psicológico
que passou a impor, de forma individual ou colectiva, intenso padecimento, vergonha, silêncio,
medo e adoecimento dos trabalhadores.

Ao avaliar a influência da instituição sobre o comportamento das pessoas, coloca que a


maldade é uma questão de poder. No exercício do poder é possível, intencionalmente, infligir
a alguém o mal psicológico ou físico. O relacionamento interpessoal no ambiente de trabalho
reflete o grau de colaboração, participação e satisfação dos indivíduos e, neste sentido, é um
indicador da qualidade de vida. Nesses relacionamentos, podem ocorrer actitudes positivas e
negativas, que ofendem, humilham e deterioram as relações estabelecidas (Gallindo, 2009).

A terminologia Assédio Moral Laboral deriva do verbo inglês “to mob”, traduzindo
para a língua portuguesa tem como significado, maltratar ou atacar alguém. Dentro da
especificidade do contexto organizacional, o termo remete a vasta prática vexatória ou
persecutória de violência psicológica, realizada de forma arbitrária e repetida por um
empregador ou superior hierárquico, por colegas de trabalho de igual nível ou até por pessoas
do escalão laboral inferior, tendo como finalidade provocar a vítima um estado de profundo
mal-estar, isolamento e terror psicológico (Carvalho G. D., 2007).

Heinz Leymann (1990), caracteriza o Assédio Moral Laboral como uma comunicação
hostil e não ética, direcionada de um modo sistemático por um ou mais indivíduos contra um
alvo que, durante as agressões, é posto em uma posição desamparada e indefesa e é mantido
nesta condição por meio de acções hostis.

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Hirigoyen (2002) define o Assédio Moral no local de trabalho como a conduta abusiva
que, manifestada de forma repetitiva e prolongada, pode trazer danos à personalidade, à
dignidade, ou à integridade do trabalhador, quando exposto a situações humilhantes e
constrangedoras, além de buscar excluí-lo de sua função ou deteriorar o ambiente de trabalho
(Hirigoyen, 2002).

Trata-se, entretanto, de um fenómeno complexo e que pode se manifestar de várias


formas. O desconhecimento das pessoas perante à situação de violência, pode implicar
impunidade para o agressor e na dificuldade de combater a etiologia do problema. É importante
conhecer melhor as repercussões para prevenir essa violência que ocorre no ambiente laboral
(Barreto, 2003).

Para a Organização Mundial de Saúde (2004), o Assédio Moral no ambiente de trabalho


é um comportamento irracional, repetido, em relação a um determinado empregado, ou a um
grupo de empregados, criando um risco para a saúde e para a segurança. Um sistema de trabalho
pode ser utilizado como meio para humilhar, debilitar ou ameaçar o empregado. O assédio
costuma ser um mau uso ou abuso de autoridade, situação na qual as vítimas podem ter
dificuldades para se defender. As condições abusivas e reiteradas no local de trabalho deixam
o indivíduo num estado de angústia e desolação que, fatalmente, o levará a uma condição de
doenças psicológicas (Freitas & Heloani, 2008).

1.2. Configuração do Assédio Moral Laboral

Para a configuração do Assédio Moral, a conduta praticada pelo assediador tem que
ocorrer de maneira repetida e sistemática, e também com os ataques aparentemente inofensivos
que de certa maneira com o passar do tempo pode afetar a vítima, portanto não somente aquelas
condutas capazes de provocar lesão imediata que configuram o assédio (Hirigoyen, 2002).

Logo, não caracteriza o Assédio Moral um conflito temporal no ambiente de trabalho,


tão menos uma agressão pontual partida do superior hierárquico ou colega de serviço, posto
que, no conflito, há interesses contrapostos, preponderando o binômio ataque-resistência, nada
impedindo que pela repetição, uma das partes ceda e passe a ser vítima do Assédio Moral, ao
passo que no caso da agressão pontual, esta esgota-se em si mesma, não implicando perseguição
ou discriminação na relação de trabalho (Alkimin, 2008).

Para a conduta degradante e humilhante se caracterizar como Assédio Moral, tem que
ser praticada com uma devida frequência, de forma reiterada e sistemática. Portanto a

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necessidade da existência de um dano real, geralmente provocando grande sofrimento na
vítima, de natureza psicológica que ameaça a permanência da pessoa no emprego e a sua
integridade física, e psíquica no seu ambiente laboral (Hirigoyen, 2002).

1.3. Espécies de Assédio Moral

Partindo-se da ideia de que no assédio, há basilarmente dois sujeitos que compõem a


relação, neste caso o assediador e assediado e ainda considerando que o empregado e o
empregador podem transvestir-se de ambas as figuras, a doutrina dispõe existir três básicas
formas de manifestação do Assédio Moral, que variam conforme os agentes envolvidos.

Segundo Guedes (2003) o Assédio Moral no trabalho basilarmente classifica-se em:

a) Vertical descendente: Parte do superior hierárquico em relação aos seus subordinados.

b) Horizontal simples ou colectivo: Parte de um ou mais trabalhadores em relação ao


colega de serviço

c) Vertical ascendente: Parte de um ou mais trabalhadores em relação ao seu superior


hierárquico.

Embora seja mais comum o Assédio Moral Laboral partir de um superior para um
subordinado, também pode ocorrer entre colegas de mesmo nível hierárquico ou mesmo partir
de subordinados para um superior, sendo este último caso, entretanto, mais difícil de se
configurar. O assédio pode se dar por qualquer uma das modalidades.

O que importa, não é o nível hierárquico do assediador ou do assediado, mas sim a


prática de situações humilhantes no ambiente de trabalho, as características da conduta e a
repetição (Guedes, 2003).

1.3.1. Assédio Moral Vertical Descendente

O Assédio Moral Laboral vertical descendente é aquele praticado pelo empregador, é a


hipótese mais comum diante da subordinação (director, gerente, chefe, supervisor) em que a
vítima se encontra em relação ao assediador e se caracteriza por relações autoritárias,
desumanas, onde predomina os desmandos, a manipulação do medo, a competitividade, os
programas de qualidade total associado a produtividade (Guedes, 2003).

O sujeito agressor pode ter variadas denominações como: assediador, perverso,


acossador, sendo que normalmente esta figura recai em alguém que para demonstrar ter

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autoestima e poder, acha necessário rebaixar os outros, não admitindo suas falhas e não
valorizando suas ações, sendo arrogante, amoral e capaz de se apoderar de trabalhos alheios
com intuito de demonstrar uma sabedoria que não possui (Alkimin, 2008).

1.3.2. Assédio Moral Laboral Vertical Ascendente

Ocorre o Assédio Moral Laboral vertical ascendente, quando praticado pelo


subordinado contra seu superior. Podem-se distinguir diversas formas de Assédio Moral
vertical ascendente, como: a falsa alegação de assédio sexual (com o objectivo de atentar contra
a reputação de uma pessoa e desqualificá-la definitivamente) e as reações coletivas de grupo (a
cumplicidade de todo um grupo para se livrar de um superior hierárquico que lhe foi imposto e
que não é aceito (Hirigoyen, 2002).

Considera-se que esta forma de assédio pode ocorrer por haver uma insegurança ou até
mesmo uma inexperiência do superior hierárquico, no qual este não consiga manter o domínio
sobre os trabalhadores. O superior diante de postura autoritária para o exercício de seu comando
se excede nos poderes de mando e adopta posturas autoritárias e arrogantes, no intuito de
estimular a competitividade e rivalidade, ou até mesmo por cometer actos de ingerência pelo
uso abusivo do poder de mando acaba criando uma rivalidade é aí que os assediadores se
fortalecem para derrubá-lo do cargo (Alkimin, 2008).

1.3.3. Assédio Moral Laboral Horizontal

O Assédio Moral Laboral horizontal ocorre entre os próprios colegas de trabalho,


aqueles que possuem a mesma condição hierárquica da vítima, em razão da competitividade, e
da diferença salarial (Guedes, 2003).

O Assédio Moral Laboral horizontal é aquele cometido por colegas de serviço,


manifestando-se através de brincadeiras maldosas, piadas, grosserias, gestos obscenos,
isolamento, podendo ser resultante de conflitos interpessoais, que acarretam em dificuldades de
convivência, ou por competitividade/rivalidade para alcançar destaque dentro da empresa
(Alkimin, 2008).

Nota-se que o Assédio Moral horizontal pode ser praticado de forma individual, coletiva
contra determinado grupo de trabalhadores ou somente um indivíduo. Os factores que geram
essa perversão moral são provocados pelo excesso de competitividade entre os colegas de

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trabalho, a inveja, o interesse em promoções e em cargos superiores, talvez o medo de ser
passado para trás (Guedes, 2003).

1.4. Caracterização do Assédio Moral Laboral nos Professores Dentro do Ambiente


Escolar

Quanto ao Assédio Moral no ambiente escolar ele traduz-se a exposição dos professores
a situações degradantes, vexatórias, humilhantes, constrangedoras ocasionadas de forma
repetitivas e prolongadas durante toda a jornada de trabalho, bem como no exercício das
funções desse professor, predominando nas relações hierárquicas autoritárias e assimétricas, em
que prevalecem condutas negativas, relações de barbárie e fora de éticas de longa duração, de
um ou mais diretores dirigida a um ou mais professores, desumanizando e desestabilizando a
relação da vítima com o ambiente escolar e a organização desse ambiente, coagindo o professor
a desistir da escola e pedir demissão (Lima Filho, 2009).

1.5. Consequências do Assédio Moral Laboral

As consequências do Assédio Moral são vastas e englobam várias dimensões quer para
a vítima, quer para a organização e mesmo para a sociedade em geral. O facto de um indivíduo
ser alvo de Assédio Moral no trabalho pode transformar as suas percepções não só face ao seu
ambiente de trabalho, mas também à vida em geral, em situações ameaçadoras, envolvendo
medo, perigo e autoquestionamento relativamente ao sentido da vida (Mikkelsen & Einarsen,
2001).

Ainda assim, segundo Pacheco (2007), as consequências do Assédio Moral dependem


de alguns factores tais como a autoestima, a autoconfiança, o apoio prestado pelos colegas de
trabalho e pela família, a frequência com que se dão os comportamentos de assédio e a
intensidade desses comportamentos (Pacheco, 2007).

Uma vez que se verifica uma grande variedade de sintomas resultantes de


comportamentos de Assédio Moral no trabalho, torna-se impossível descrever todas as
consequências típicas destes comportamentos. Assim, a título exemplificativo e baseado em
estudos realizados, Pacheco (2007) descreve algumas das consequências que se manifestam nas
vítimas:

a) Consequências na saúde física e mental,


b) Danos no exercício das funções,

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c) Danos nas relações familiares,
d) Consequências na organização e,
e) Consequências na sociedade.

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CAPÍTULO II. ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS

No presente capítulo se observará a interpretação dos dados levantados à luz dos critérios de
autores estudiosos do tema. Tendo em conta uma abordagem quantitativa dos dados, se observa
também os resultados em tabelas e gráficos. Os dados foram colhidos por intermédio de
observações e inquéritos por questionários.

2.1. Caracterização da População e Amostra

O colégio Triângulo Dourado é uma organização escolar que se localiza em Angola, na


província de Luanda, munícipio de Belas, especificamente no bairro Benfica – Projecto Zona
Verde. O colégio funciona durante dois turnos escolares (Manhã e Tarde) e, abarca estudos do
Iº ciclo do ensino secundário (7ª, 8ª e 9ª classe), apresentando uma população de 22 professores
que se destinam a lecionar no mesmo ciclo, dentre os quais 14 do sexo masculino e oito do sexo
feminino, com idades que variam entre os 22 e 45 anos.

O pesquisador efectuou um estudo na totalidade da população, ou seja, um censo nos


professores dessa instituição que lecionam no Iº ciclo do ensino secundário (7ª, 8ª e 9ª classe),
mediante a aplicação de um inquérito por questionário, que serviu de instrumento fundamental
para o alcance dos objectivos previamente enunciados pelo pesquisador.

2.2. Apresentação e Interpretação dos Resultados

Apresentar-se-á a seguir a interpretação dos resultados obtidos, que surgem depois do


tratamento estatístico. O questionário foi preenchido pelo o total de 22 professores que lecionam
no Iº ciclo do ensino secundário. O mesmo apresenta um predomínio de perguntas fechadas de
múltiplas escolhas.

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Tabela 1.
Identificação das vítimas de Assédio Moral Laboral por sexo no colégio Triângulo Dourado

Resultados – Identificação das vítimas de Assédio Moral Laboral por sexo no Colégio
Triângulo Dourado
Vítimas Frequência Frequência Sexo Frequência Frequência
absoluta relativa absoluta relativa

Sim 20 90,9% Masculino 12 60%


Não 2 9,1% Feminino 8 40%
Total 22 100% Total 20 100%
Figura 1.
Identificação das vítimas de Assédio Moral Laboral por sexo no colégio Triângulo Dourado

Identificação das vítimas de Assédio Moral Laboral por sexo no


colégio Triângulo Dourado

40%

60%

Vítimas Sexo Masculino (12) Vítimas Sexo Feminino (8) Não Vítimas (2)

Os dados da tabela 1 indicam a alta prevalência dos factos de assédio na instituição


escolar, pois o 90,9% dos professores são assediados, segundo seus critérios, o que é um
indicativo da existência de um problema que pode constituir causa da desmotivação e
improdutividade dos professores e da afectação lógica do processo docente-educativo.

Os dados apresentam uma prevalência do gênero masculino como vítimas de assédio, o


que vem em correspondência com uma maior quantidade de homens que de mulheres na
instituição.

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Tabela 2.
Identificação do nível escolar dos professores vítimas no colégio Triângulo Dourado

Resultados – Identificação do nível escolar dos professores vítimas no Colégio Triângulo


Dourado
Nível escolar Frequência absoluta Frequência relativa
Licenciatura ou em fase de 17 85%
Graduação
Mestrado ou Mestrando 2 10%
Doutoramento ou 1 5%
Doutorando
Total 20 100%

Figura 2.

Identificação do nível escolar dos professores vítimas no colégio Triângulo Dourado.


Resultados – Identificação do nível escolar dos professores vítimas no
colégio Triângulo Dourado

85 %

10 %
5%

Licenciatura ou em fase de Graduação Mestrado ou Mestrando Doutoramento ou Doutorando

A Tabela 2 corresponde ao nível académico das vítimas de Assédio Moral Laboral no


colégio Triângulo Dourado. Constata-se que 17 vítimas são licenciadas ou estão em fase de
graduação da licenciatura, indicando 85% do valor global. Vê-se também que duas das vítimas
são mestres ou estão a cursar o Mestrado, representando 10%, e por fim, apenas uma vítima
está no nível de Doutoramento.

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O pesquisador entende que o nível de escolaridade também não é um factor que leva ao
assédio no colégio, o que constitui uma particularidade, pelo facto que geralmente segundo a
literatura consultada os professores com o menor nível académico são os mais vitimizados,
mas, no colégio Triângulo Dourado todos são assediados de uma forma ou outra.

Outro sim, está em correspondência com a análise da tabela anterior, que demonstra
como os mais jovens são maioritariamente vitimizados e o grau académico em muitas ocasiões
está em correspondência com a idade.

No caso do docente no doutoramento, acredita-se que o assédio vem pela via do abuso
de poder, pois não é comum que uma pessoa com alto nível de instrução permita o assédio.

Tabela 3.
Identificação da função dos professores vítimas no colégio Triângulo Dourado
Resultados – Identificação da função dos professores vítimas no Colégio Triângulo
Dourado
Função Frequência absoluta Frequência relativa
Professor Colaborador 9 45%
Professor Efectivo 6 30%
Professor - Coordenador 5 25%
Total 20 100%

Figura 3.
Identificação da função dos professores vítimas no colégio Triângulo Dourado

25%
45%

30%

Professor Colaborador Professor Efectivo Professor - Coordenador

A Tabela 3 evidência a distribuição da função laboral dos professores vítimas no colégio


Triângulo Dourado. Nota-se que nove dos professores vítimas possuem a função de Professor

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colaborador, representando 45%, seis vítimas encontram-se na função de Professor efectivo
representando 30% e por fim, cinco vítimas encontram-se na posição de Professor Coordenador,
indicando 25%.

Entende-se que os professores colaboradores são vítimas de Assédio Moral Laboral no


colégio porque eles tão numa posição menos favorecida em termos de contrato laboral, eles
apenas são prestadores de um serviço de colaboração que mesmo até nos termos da lei não se
verifica grandes garantias jurídicas. Mediante isso, com medo de perderem o trabalho, pelo
constante assédio praticado pelos colegas e superiores, submetem-se e são submetidos a
situações verdadeiramente humilhantes e violentas. No entanto o facto que 90,9% dos
professores serem assediados é um indicativo da generalização do crime no colégio que não
tem fronteira com idade, ocupação ou nível de escolaridade, pelo que se considera que
influencia negativamente no processo docente-educativo da instituição.

Tabela 4.

Identificação do agressor de Assédio Moral Laboral no colégio Triângulo Dourado

Resultados – Identificação do agressor de Assédio Moral Laboral no Colégio Triângulo


Dourado
Agressor Frequência absoluta Frequência relativa
Superior 11 55%
Colega (mesma posição) 9 45%
Subordinado 0 0%
Total 20 100%

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Figura 4.
Identificação do agressor de Assédio Moral Laboral no colégio Triângulo Dourado

–Identificação do agressor de assédio moral laboral no Colégio


Triângulo Dourado

55 %

45 %

0%

Superior Colega (Mesma posição) Subordinado

A Tabela 4 mostra a disposição da identificação dos agressores do Assédio Moral


Laboral contra os professores no colégio Triângulo Dourado, verificando-se que 11 das vítimas
que participaram na pesquisa indicaram que as agressões são perpetradas pelo superior
hierárquico, correspondendo a 55% do valor percentual, enquanto que nove dos professores
vítimas apontaram que as agressões são praticadas por colegas do mesmo nível hierárquico,
representando 45%, e por fim, nenhuma vítima apontou que sofreu agressões por parte de um
funcionário do colégio abaixo da sua posição laboral.

O pesquisador entende que tal como qualquer instituição conforme descreve a literatura
o colégio Triangulo Dourado também padece com maior frequência do tipo Assédio Moral
Laboral praticado pelo superior hierárquico, isto porque, é aquele praticado pelo empregador,
é a hipótese mais comum diante da subordinação em que a vítima se encontra em relação ao
assediador e se caracteriza por relações autoritárias, desumanas, onde predomina os desmandos,
a manipulação do medo.

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O facto do assédio ser perpetrado pelos superiores (responsáveis da instituição) é um
indicativo de falta de liderança, factor que leva à desmotivação do pessoal docente,
influenciando na qualidade do processo docente-educativo.

Tabela 5.
Identificação das modalidades de Assédio Moral Laboral praticadas no colégio Triângulo
Dourado
– Identificação das modalidades de Assédio Moral Laboral praticadas no colégio
Triângulo Dourado
Modalidades de Assédio Frequência absoluta Frequência relativa
Moral Laboral

Exclusão 1 5%
Humilhação 9 45%
Boatos 3 15%
Intimidação 7 35%
Total 20 100%

Figura 5.
Identificação das modalidades de Assédio Moral Laboral praticadas no colégio Triângulo
Dourado.
– Identificação das modalidades de assédio moral laboral
praticadas no colégio Triângulo Dourado

45%

35%

15%

5%

Exclusão Humilhação Boatos Intimidação

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Os dados referentes a Tabela 5 correspondem as modalidades de Assédio Moral Laboral
praticadas pelos agressores no colégio Triângulo Dourado. Adverte-se que a humilhação é
maioritariamente a conduta praticada pelos agressores existindo nove professores vítimas entre
os inquiridos que correspondem a 45%, seguido de sete vítimas que sofrem de intimidação
representando 35%, os boatos com 3 vítimas com 15% e para finalizar, apenas uma vítima que
apontou a exclusão como forma de agressão representando 5% do valor global.

Pode-se concluir que a humilhação é a forma de agressão mais praticada contra os


professores vítimas no colégio Triângulo Dourado porque geralmente o superior hierárquico
durante a sua chefia, o que pressupõem delegar tarefas aos seus subordinados, adopta condutas
agressivas na forma de tratamento aos professores e na forma de como delega as mesmas tarefas
para serem executadas. Sendo assim, muitas vezes o superior exterioriza essa conduta na
presença de colegas da vítima, actos que levam a desmoralizar, desacreditar e desestabilizar o
estado emocional dela.

Tabela 6:
Identificação dos factores que conduzem ao Assédio Moral Laboral no colégio Triângulo
Dourado

Resultados – Identificação dos factores que conduzem ao Assédio Moral Laboral no Colégio
Triângulo Dourado
Factores Frequência absoluta Frequência Relativa
Condições socio-económicas 3 15%
Autoritarismo 8 40%
Más relações interpessoais 4 20%
Deficiência física 2 10%
Ambiente laboral 3 15%
competitivo

Outro 0 0
Total 20 100%

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Figura 6.
Identificação dos factores que conduzem ao Assédio Moral Laboral no colégio Triângulo
Dourado
– Identificação dos factores que conduzem ao assédio moral
laboral no colégio Triângulo Dourado

40%

20%
15% 15%
10%

Condições socio-econónimas Autoritarismo Más relações interpessoais


Deficiência física Ambiente laboral competitivo

A Tabela 6 nos mostram a identificação dos factores que conduzem ao Assédio Moral
Laboral no colégio Triângulo Dourado. Pode-se constatar que oito vítimas apontaram que o
autoritarismo é o principal factor que conduz a existência de Assédio Moral Laboral,
correspondendo a 40%, seguido das más relações interpessoais que foram apontadas por quatro
vítimas, correspondendo a 20%. As condições socio-econômicas e o ambiente laboral
competitivo como factores que desencadeiam o assédio possuem ambos de igual modo 15%, e
por fim, apenas duas vítimas apontaram a deficiência física como factor que propicia a
violência, correspondendo a 10%.

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CONCLUSÃO
Mediante a recolha de dados por intermédio do questionário e observações, determinou-
se que a modalidade de Assédio Moral Laboral mais praticada é a humilhação.

As agressões de Assédio Moral Laboral mais frequente tendem a ocorrer três ou quatro
vezes na semana (às vezes) na sala de direção do colégio.

O factor que predomina para a ocorrência de Assédio Moral Laboral é o autoritarismo.

No colégio Triângulo Dourado o trabalho não é encarado como fonte de satisfação e


dignidade para o trabalhador, impedindo o seu desenvolvimento pessoal e profissional, isto,
dada as manifestações constantes de assédio nos professores, situação que gera uma
improdutividade educativa, afectando o processo docente educativo todo, pelo que a hipótese
foi corroborada.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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