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UNIVERSIDADE LICUNGO

FACULDADE DE EDUCAÇÃO

CURSO DE LICENCIATURA EM PSICOLOGIA SOCIAL E DAS ORGANIZAÇÕES

PEREIRA ÂNGELO CAETANO

O Papel dos Gestores Escolares Face ao Assédio Sexual


contra a Rapariga: Caso da Escola Secundária Geral de
Quelimane

Quelimane
2023
1

PEREIRA ÂNGELO CAETANO

O Papel dos Gestores Escolares Face ao Assédio Sexual


contra a Rapariga: Caso da Escola Secundária Geral de
Quelimane

Trabalho a ser entregue no


Departamento de Educação e
Psicologia, na cadeira de Metodologia
de Investigação Científica, leccionada
pelo docente:
Dr. Paulo Mussolo Calima

Quelimane
2023

Índice
Introdução...................................................................................................................................3
Problematização..........................................................................................................................4
2

Justificativa.................................................................................................................................4
Objectivo Geral...........................................................................................................................5
Objectivos Especificos................................................................................................................5
Hipóteses.....................................................................................................................................5
CAPÍTULO I: REVISÃO DA LITERATURA..........................................................................6
1.1. Conceitos..............................................................................................................................6
1.2. Assédio sexual no meio escolar...........................................................................................8
1.3. Formas verbais de assédio sexual........................................................................................9
1.3.1. Contacto físico sem relação sexual...................................................................................9
1.3.2. Factores que condicionam ao assédio sexual da rapariga na escola.................................9
1.4. Efeitos Do Assedio Sexual.................................................................................................10
1.4.1. Efeitos Psicológicos........................................................................................................10
1.4.2. Efeitos Físicos.................................................................................................................11
1.4.3. Efeitos Económicos........................................................................................................11
1.4.4. Efeitos na família............................................................................................................11
1.5. Dificuldades na denúncia...................................................................................................12
1.6. O Papel dos Gestores Escolares relativamente ao Assédio Sexual da Rapariga na Escola
...................................................................................................................................................12
CAPÍTULO II: METODOLOGIA...........................................................................................15
2.1. Tipos de Pesquisa...............................................................................................................15
2.1. Quanto a abordagem..........................................................................................................15
2.2. Quanto aos objectivos........................................................................................................15
2.3. Quanto aos procedimentos técnicos...................................................................................15
2.2. População e Amostra.........................................................................................................16
3.3 Instrumentos de recolha de dados.......................................................................................16
Referências Bibliográficas........................................................................................................18

Introdução

O Assédio Sexual contra a Rapariga na Escola é toda e qualquer conduta abusiva


manifestando-se sobretudo por comportamentos, palavras, actos, gestos, escritos que possam
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trazer dano à personalidade, à dignidade, à integridade física e psíquica de uma rapariga, ou


degradar o seu ambiente de estudo. E quando esta conduta acontece na escola, onde se deve
educar e orientar para a vida, a situação é ainda mais grave.

Segundo Amnistia Internacional (2007:21), as escolas são lugares onde as raparigas


devem aprender e crescer. No entanto, muitas raparigas em todo o mundo vão para a escola
receando pela sua segurança, temendo as humilhações e o tratamento violento, esperando
simplesmente superar um dia.

Na realidade moçambicana, o Assédio Sexual contra Rapariga na Escola, constitui um


dos dramas sociais que afectam a sociedade, porque, pois, reside nela, uma das principais
causas do aumento da taxa de desistência escolar por parte das raparigas. Quando a violência
interfere ou acaba com a educação de uma rapariga, as implicações para o seu futuro vão
desde a perda de oportunidades de emprego até à dependência financeira. Este é um problema
que tem afectado a educação e principalmente a gestão escolar que é constituída, geralmente
pelos gestores e pelos professores. São estes profissionais que acompanham a acção no
ambiente escolar e cabe-lhes o equacionamento dos problemas que surgem em busca de
soluções.

Por isso, pretende-se com a presente pesquisa, analisar a questão do Assédio Sexual
contra a Rapariga na Escola e o Papel dos Gestores Escolares na resolução do fenómeno,
partindo de uma análise da pesquisa bibliográfica das abordagens que já escreveram sobre o
tema.

Tendo em conta sua organização, a presente pesquisa está estruturada em 2 capítulos:


onde na qual o Capítulo I, discute sobre a fundamentação teórica, onde serão discutidos vários
aspectos relacionados ao tema em estudo; Capítulo II, faz menção sobre a metodológica de
pesquisa.

Problematização
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A problemática do assédio sexual nas escolas moçambicanas parece ser um assunto


bastante estudado, mas persistem alguns campos por serem analisados para que o assunto
deixe de ser preocupação.

Segundo Muchanga (2006:23), as escolas públicas em Moçambique onde se encontra


a estudar a maioria da população estudantil, estão longe de ser um local seguro para a
rapariga, uma vez que as mesmas convivem diariamente com os professores, alunos e pessoas
de conduta duvidosa, sendo que todos são apontados como os potenciais autores de assédio
sexual.

Alguns estudos desenvolvidos pela ACTIONAID, 2001; Save The Children, 2005;
WLSA, 2003, revelam que o baixo índice de permanência da rapariga na escola não so resulta
de factores sócio culturais, como também do facto de a escola não oferecer segurança para a
progressão da rapariga.

De acordo com os estudos expostos acima podemos assimilar que o assédio sexual
começa a surgir como barreira para o acesso e permanência da rapariga na escola, pois, este
mal afecta a integridade da rapariga e causa frequentemente problemas de aprendizagem.

Uma vez que o assunto foi largamente estudado, preocupa-nos como contributo, desta
pesquisa reflectir e sugerir alternativas para minimizar o efeito do problema através da busca
da resposta a seguinte questão: Qual é o Papel dos Gestores Escolares relativamente ao
Assédio Sexual contra a Rapariga na Escola?

Justificativa

A importância desta pesquisa reside no facto de não existir em Moçambique muitos


estudos que inserem o envolvimento da gestão escolar na questão do assédio sexual. É
importante notar que as acções dos gestores alcançam directamente o dinamismo do trabalho
escolar bem como o seu direccionamento na sociedade. É através da gestão escolar que atinge
o cenário existente na escola. Além disso, a questão do aumento dos índices de desistência
escolar que prejudica a educação das raparigas, no geral.

Tendo em conta que a escola tem como objectivo não só garantir a qualidade de vida
de seus educandos, bem como promover a cidadania, surge a preocupação de conhecer as
concepções dos professores e dos Gestores Escolares relativamente ao assédio sexual, e as
suas atitudes perante aos casos de assédio sexual envolvendo alunas. Assim, diante da
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gravidade que encerra o assédio sexual contra a rapariga, fica evidente que o contributo da
gestão escolar passa pela reflexão em torno do assunto.

Entretanto, para delinear programas que possam capacitar estes profissionais, parece
ser necessário conhecer primeiro o universo de informações que os professores detêm acerca
dos rudimentos básicos sobre o assédio sexual, num momento em que o governo decidiu
como prioridade no campo da educação, garantir a igualdade de acesso a escola á rapazes e
raparigas, torna-se necessário entender por que é que a realidade escolar para as raparigas é
mais hostil, perante a passividade de quem deve intervir.

Objectivo Geral

 Analisar o papel dos gestores escolares relativamente ao assédio sexual contra a


rapariga na Escola Secundária Geral de Quelimane.

Objectivos Específicos

 Descrever as manifestações do Assédio Sexual contra a Rapariga na Escola;


 Identificar os factores e os efeitos do Assédio Sexual contra a Rapariga na Escola;
 Analisar as percepções dos Gestores Escolares contra a Rapariga na Escola
Secundária Geral de Quelimane;
 Identificar as acções desenvolvidas pelos Gestores Escolares relativamente ao
acompanhamento das vítimas de Assedio Sexual;
 Sugerir directrizes tendentes a lidar com a questão do assédio sexual na Escola
Secundária Geral de Quelimane.

Hipóteses

- Primária: Os Gestores Escolares têm colaborado na intervenção do assédio sexual contra a


rapariga em contexto escolar;

- Secundária: Os Gestores Escolares não têm colaborado na intervenção do assédio sexual


contra a rapariga em contexto escolar.
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CAPÍTULO I: REVISÃO DA LITERATURA

Este capítulo apresenta a revisão da literatura atinente à discussão das ideias essenciais
e relevantes que, de certa forma, sustentam o tópico da pesquisa. A revisão da literatura versa
sobre o Abuso Sexual, Rapariga, Escola e o Assédio Sexual em especial da rapariga na escola,
trazendo algumas considerações sobre o Papel dos Gestores Escolares relativamente a esta
problemática.

1.1. Conceitos

Segundo Doron & Parot (2001:192) “o termo rapariga designa ser humano de género
feminino que se encontra na infância, uma fase de desenvolvimento que se situa o nascimento
e maturação, entre o nascimento e a energia da linguagem e puberdade.”

De um modo geral, pode-se considerar o termo rapariga uma menina que corresponde
a “terceira fase da infância “do estágio de desenvolvimento humano entre a segunda infância
e a adolescência, na qual posteriormente ocorre o crescimento fisiológico da rapariga e a
construção do pensamento. Por tanto, a rapariga tem uma capacidade de criar, apresentar
algumas hipóteses, tirar conclusões e construir uma visão do mundo a qual o rodeia.

Brino & Williams (2003:42) “definem o abuso sexual como qualquer interacção,
contacto ou envolvimento da pessoa em actividades sexuais que ela não compreende e não
consente, violando assim as regras sociais e legais da sociedade na maioria dos casos não
apresenta marcas físicas”.

De acordo com Queiroz (2001:86), “o abuso sexual é o caso em que um indivíduo é


submetido por um outro de modo a obter gratificação sexual. Envolve persuasão, indução,
coerção ou qualquer experiência sexual que interfira na saúde do indivíduo incluindo
componentes físicos, verbais e emocionais”.

Sobre estas considerações ressalta-se o facto de que, deve-se sempre considerar que se
trata de actividades sexuais inadequadas para a idade e o desenvolvimento psicossexual da
criança ou do adolescente, sendo sempre impostas por coerção, violência ou sedução, ou que
transgredirem os tabus sociais.

Segundo Arthur (1998:36) “o assédio é definido pelos comités sindicais como “a


busca de favores sexuais numa relação de poder, na maioria dos casos está envolvido o
professor, que sob pena de sanções, apresentadas de forma mais ou menos explícita, compele
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uma rapariga á práticas sexuais que não são do seu agrado, podendo culminar a humilhação e
reprovação da mesma caso haja recusa em ceder e por outro lado pode-se afirmar que se trata
de uma perseguição em forma de sedução”.

De acordo com os expostos acima a tentativa de sedução, todavia, não se confunde


com a perseguição sexual, já que em face da natureza humana, é impossível afastar a libido, o
interesse sexual entre dois seres. Contudo, o jogo de sedução deve afirmar-se nos limites da
razoabilidade de conduta, sem ferir melindres e sem utilização do posto ocupado como forma
de facilitação. A mera tentativa de sedução, não são condenáveis, muito menos, não se
confundem com a perseguição sexual. Igualmente a mera paquera, ou seja, a tentativa de
aproximação para um relacionamento amoroso, ou mesmo sexual, não constitui assédio
sexual. Sintetizando existem três elementos que distinguem a ‘Paquera’ ou ‘cantada’ do
assédio sexual; quais sejam, a chatice, a insistência e a coerção pelo uso do poder. Pois, se a
proposta é livremente aceite, e o assediado se envolve emocionalmente, não há que se falar
em assédio.

Na óptica de Robortella (1997:85), a simples intenção sexual, o intuito de sedução


contra a estudante não constitui assédio. Para a configuração de assédio sexual, é necessário
que haja sempre a intenção de negociar, de valer-se do posto funcional como um atractivo ou
como meio de extorsão de privilégio ou vantagens indevidas. A proposição feita sem a
intenção, sem a persistência e sem ameaça, também, não configura o assédio sexual, muito
menos, meros elogios ou comentários tipo "gostei do seu vestido" ou “como você está bonita”
ou ‘como você está sexy” tão pouco tipificam o assédio.

Segundo ACTIONAID (2008:32):

“ o assédio sexual na educação consiste em: Molestar ou atacar


sexualmente uma rapariga ou permitir que este acto ocorra na escola ou
fora dela, protagonizado por professores seus ou outros funcionários da
escola, em troca de benefícios materiais, nota para passar, matrícula,
pedido de favores sexuais entre outros; É o comportamento consistente
na explicitação de intenção sexual que não encontra receptividade
concreta da outra parte, comportamento esse reiterado após a negativa
(…) por óbvio, é materializado em um comportamento comissivo do
assediador (...).

Para tal, podemos considerar o assédio sexual como o pedido de favores sexuais do
professor com promessa de tratamento diferenciado dentro da sala de aulas em caso de
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aceitação e/ou de ameaças, ou atitudes concretas de represálias no caso de recusa, como a


reprovação ou por outra podemos assimilar que, o assédio sexual seria o professor abordar
repetidamente a aluna com a intenção de obter favores, mediante a imposição de vontade ou
autoridade.

1.2. Assédio sexual no meio escolar

Um estudo realizado pela ACTIONAID (2005:87) sobre o assédio sexual nas escolas
moçambicanas aborda as formas, manifestações e percepções da população estudantil,
concluiu que o assédio sexual não é encarado no contexto da violação dos direitos humanos
da mulher, mas sim da ruptura das expectativas relacionadas com o papel social atribuído à
mulher nas relações de género, onde a educação tradicional prevê a sua transacção como
objecto.

Osório (2007:23) faz uma análise do género e sexualidade entre os jovens do ensino
secundário e constata que o assédio sexual é amplamente conhecido, debatido e objecto de
rumores pelos/as jovens (de todas as idades) e é reconhecido como um acto visando
estabelecer uma troca de favores sexuais em troca do aproveitamento escolar das alunas.

Analisando o assédio sexual na perspectiva da corrupção, podemos considerar que de


uma das grandes formas de extorção no sector da educação em Moçambique ser por via do
sexo. Referida como extorção sexual: os professores usam a intimidação e a ameaça para
fazer com que as alunas lhes prestem favores sexuais em troca de uma passagem de classe.
Nalguns casos, a cobrança de sexo acontece quando determinada aluna não tem dinheiro para
pagar o professor. Caso a aluna se recuse chumba de classe, o que faz com que esta opte por
mudar de escola.

Mas também existem casos em que as alunas se envolvem nas situações de extorção
sexual com menos resistência, parecendo aceitar a situação com mais facilidade. Nestes casos,
as alunas discutem abertamente as formas de pagamento dos favores com o professor (acesso
prévio aos testes ou obtenção de notas positivas nas pautas) com vista a melhorar as suas
notas.

Segundo Matavele (2005:55), o assédio sexual apresenta-se em três situações


nomeadamente: a forma verbal, o contacto físico sem relação sexual e a relação sexual
forçada.
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1.3. Formas verbais de assédio sexual

As formas verbais de assédio incluem propostas e insinuações indecentes e geralmente


não são reconhecidas pelas abusadas como sendo assédio sexual, podendo-se considerar o
princípio de transição para outras formas de abuso que envolva o contacto físico e a relação
sexual.

A persuasão envolvendo a argumentação parece ser a forma mais frequente. Esta


persuasão é muitas vezes motivada por algum complexo de inferioridade e baixa auto-estima.

1.3.1. Contacto físico sem relação sexual

O contacto físico sem relação sexual inclui a tentativa de beijar com uso da força,
beijos com uso da força, carícias sem consenso e tentativa de manter relação sexual com uso
da força.

1.3.2.Factores que condicionam ao assédio sexual da rapariga na escola

Segundo Santos (1998:21), os factores que levam ao assédio sexual, tem-se que o
primeiro deles é o abuso do poder onde o professor mais desenvolvido físico e
psicologicamente possuem mais recursos para dominar uma aluna. Um segundo factor reside
nos traços da personalidade do perpetrador.

Os estados psicóticos ou perversos, depressão, baixo controle dos impulsos, problemas


neuróticos, baixa tolerância ao stress, bem como o uso do álcool e outras drogas são factores
relevantes para a compreensão desse problema. Porém, em muitos casos, o perpetrador sabe
que é uma acção errada para com a aluna e que isso constitui um crime e prejudica a aluna,
mas mesmo assim não consegue parar com essa nociva prática. Talvez seja para o agressor,
um alívio de tensão que conduz a compulsão e a repetição tornando-o dependente.

Três principais cenários são apresentados quando se aborda o assédio sexual nas
escolas. No primeiro cenário a rapariga apresenta dificuldades no seu aproveitamento escolar
e o professor oferece-lhe a oportunidade de ser aprovada em troca de relações sexuais. No
segundo cenário, a rapariga é chantageada pelo professor para manter relações sexuais, e caso
ela se recuse será reprovada (não importando o facto do seu aproveitamento ser positivo ou
negativo). O terceiro cenário envolve o professor a assaltar e violar sexualmente as raparigas.
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1.4. Efeitos Do Assedio Sexual

1.4.1. Efeitos Psicológicos

Segundo Bravo e Cassedy (1992:41), as vítimas de assédio sexual correm o risco de


depressão, principalmente devidas a todas as reacções emocionais que são sujeitas.

Os efeitos psicológicos na vítima são:

 Auto-culpa por parte da vítima

Resulta da aceitação do assédio por parte da vítima, já que esta atribui as responsabilidades a
si mesma para o que lhe está a acontecer, e a partir daí a situação começa a degradar-se).

 Humilhação (palavra frequentemente dita por quem foi vitima de assédio para
descrever o que sente/sentiu)

Provoca uma subvalorização da pessoa, nomeadamente nas suas qualidades, já que


esta vai achar que não participa das aulas da melhor maneira e vai encarar o que lhe está a
acontecer como um castigo. Associado a isto vem a perda do interesse pelas aulas, até mesmo
nas raparigas que gostam de aprender. Quando a rapariga perde o interesse pelas aulas, o
ambiente de estudo fica hostil, e muitas dessas vezes acabam por reprovação da aluna, e caso
não seja reprovada ou até abandonar a escola, o assédio vai mantendo-se.

 Raiva(que a vítima tem pode ter outro efeito, que é o de a levar a uma depressão).

A pessoa tem a raiva dentro de si, e por não a “deitar cá para fora” ela vai-se acumular.
Nessa acumulação segue-se os pensamentos de fraqueza por parte da vítima, levando-a para
uma situação de depressão. Esta depressão está associada aos seguintes efeitos: diminuição da
capacidade de concentração e pensamentos em suicídio.

O suicídio é o mais trágico desfecho para esta situação, nem sempre é consumado, ou
seja, muitas vezes são apenas pensamentos sobre a própria morte que a pessoa tem, como se
fosse a única forma de se libertar desta situação.

1.4.2. Efeitos Físicos

O stress tem efeitos directos na saúde do ser humano, tais como:

 Dores de cabeça;
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Por vezes as vítimas não associam estes problemas com o assédio que sofrem,
nomeadamente com o stress a que estão sujeitas. Mas maior parte destes sintomas são efeitos
do stress, da preocupação a que estão sujeitas.

1.4.3. Efeitos Económicos

Para além da questão emocional, as vítimas acabam por ter problemas económicos
graves. Muitas das vezes a pressão sobre a vítima é tanta que esta abandona a escola. Se não o
fizer continua a sofrer assédio, se o fizer perde o seu rendimento escolar, e em muitos casos é
um problema grave. As vítimas perdem o seu sustento futuramente, muitas das vezes ficam
sem conhecimento, sem oportunidades de emprego, dinheiro para o seu sustento. E a partir daí
os seus problemas se agravam cada vez mais.

1.4.4. Efeitos na família

Não é só a vítima que sofre, também a sua família vai sofrer indirectamente. Como
sabemos, os efeitos psicológicos que a vítima tem são permanentes, ou seja, não são
exclusivos dentro da escola. Estes afectam a família mais directa, sobretudo as pessoas que
partilham o mesmo lar com a vítima.

Um dos efeitos psicológicos anteriormente referidos foi a raiva que a vitima ganha ao
assediador. Portanto podemos por a hipótese que nem sempre a vítima descarrega no
assediador, ou seja, essa raiva interiorizada vai ser descarregada nas pessoas que estão mais
próximas.

1.5. Dificuldades na denúncia

Segundo Bravo e Cassedy, (1992: 53), muitas das vítimas sofrem em silêncio, o medo
de reprovar, repetir o ano, muitas das vezes torna-se mais importante que se dar ao luxo de
perder o seu rendimento.

É de salientar que para além destas dificuldades, a sociedade apresenta-se como um


medo para a vítima, nomeadamente no medo de ser apontada na rua por parte das outras
pessoas, ou que façam julgamentos morais desta. E existem três tipos de medo da vítima:
medo de ninguém acreditar; medo da humilhação; medo de prejudicar a carreira estudantil
e/ou reprovar.

Deste modo pode-se afirmar que os medos são barreiras enormes na denúncia. Para
além de a vítima correr o risco de ninguém acreditar na sua palavra ainda corre o risco de ser
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posta de parte na sociedade, acabando por humilhar por completo a pessoa. Por último
voltamos ao aspecto financeiro, o medo de reprovar ou abandonar as aulas.

1.6. O Papel dos Gestores Escolares relativamente ao Assédio Sexual da Rapariga na


Escola

Segundo Santos (2000:23), uma organização caracteriza-se por um grupo de pessoas


reunidas com metas e objectivos afins.

Segundo Kiesser e Kubicek (1977:86) citados por Visscher (1995) definem


organizações como sendo construções sociais duráveis direccionadas a um objectivo, com
uma estrutura formal através da qual as actividades dos membros da organização são
orientadas ao objectivo organizacional de forma coordenada. Neste sentido, quando uma
organização engloba valores e possui propósitos que atingem a interacção entre pessoas, tem-
se caracterizado por “instituição”.

Segundo Canterli (2004: 2), as instituições [...] são organizações que incorporam
normas e valores considerados valiosos para seus membros e para a sociedade. São produto de
necessidades e pressões sociais valorizadas pelos seus membros e pelo ambiente, preocupados
não apenas com lucros ou resultados, mas com a sua sobrevivência e perenidade. São guiadas
pelo senso de missão. Nas Instituições as forças e pressões sociais actuam como vectores que
moldam o comportamento das pessoas.

Analisando a escola sob esta óptica, veremos que ela assume características de uma
instituição, mas também não deixa de ser uma organização.

Para Capanema (1996:98):


A escola é uma instituição que apresenta características peculiares, que
dizem respeito a sua função social, traduzindo-se como “[...] um locus
privilegiado para a aquisição de conhecimento sistematizado que
desenvolve habilidades indispensáveis ao sucesso na vida pessoal e no
trabalho.

O ambiente escolar é um lugar onde as acções nelas desenvolvidas centralizam-se nas


relações entre as pessoas, considerando seus valores. Portanto, neste trabalho, adopta-se o
termo “instituição” para se referir à escola, julgando esta designação bem adequada ao tema
em debate: Assédio Sexual na Escola.
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No tocante à tomada de decisões na instituição escolar, percebe-se que ela está


vinculada à interacção entre pessoas, à forma como se comunicam e aos objectivos
pedagógicos pretendidos. É a gestão que irá administrar estes processos que se constituem de
etapas, de tarefas executadas com vistas a uma realização final. Quem administra e conduz
este caminho processual são os membros da gestão.

A cultura também é factor determinante no quadro da gestão das instituições. Pois ela
envolve valores, crenças, histórias, experiências, enfim, tudo aquilo que perpassa pela
experiência e criação humana.

Ademais, existem modelos diferenciados de gestão escolar e estes também dizem


respeito à cultura institucional. Levar em conta esta cultura significa respeitar as pessoas, seus
diferentes posicionamentos, sem perder de vista a missão da instituição. Cabe aos gestores a
tarefa de estabelecer acordos dentro deste espaço, conciliando diferentes concepções, abrindo
campos para a discussão, levando em conta as peculiaridades de cada um dos actores que
actuam no espaço educacional.

Na perspectiva de Brino e Williams (2003:84), em relação ao Papel dos Gestores


Escolares na abordagem do Assédio Sexual contra a Rapariga enfatizam que a escola é o lugar
ideal para a prevenção, intervenção e desafio deste fenómeno, pois, deve ter como objectivo a
garantia da qualidade de vida de seus alunos e a promoção da cidadania.

Para Senge (1998: 25), é difícil encontrar instituições – governamentais, educacionais


em qualquer lugar que estejam correspondendo às expectativas da sociedade, e as escolas são
espaços que não fogem a esta realidade.

E num mundo onde as mudanças ocorrem rapidamente, a criatividade, a adaptação ao


novo e a postura reflexiva podem favorecer a conduta e as acções dos gestores. No quadro
actual é necessário o reinventar do quotidiano, de modo a atender à vasta gama de problemas
e lacunas que surgem no ambiente escolar, onde se verificará certamente em escolas onde se
pratica uma espécie de re-centralização. Essas escolas que silenciam as vozes dos professores,
alunos, encarregados de educação e outros actores estarão certamente desprovidas da
contribuição da sua massa crítica o que dificulta a assunção de uma orientação para a
inovação e mudança no espaço escolar.
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Portanto, quando o assunto é gestão não há receitas prontas, nem sequer a figura dos
gestores “salvadores da Pátria”. Os problemas que permeiam a realidade educacional de
agora, inclusive a violência escolar, requerem a busca por um trabalho colectivo, uma postura
de co-responsabilidade, de construção do todo, numa perspectiva de união e de solidariedade,
educação para o exercício da cidadania, baseada no diálogo.

Segundo Carreira (2005:98), é importante que educadores, gestores, pais e alunos


tomem consciência de que é direito de todos estudarem num ambiente saudável, longe de
todos os tipos de violência que possam perturbar o processo de ensino e aprendizagem. Ja é
sabido que a maneira mais eficaz de combater a violência é desenvolvendo uma estratégia
compreensiva de prevenção a todos os níveis, em vez de simplesmente debruçar-se e remediar
situações recorrentes de violência os esforços devem em primeiro em assegurar que as
raparigas estejam prevenidas de qualquer forma de violência e que todas as dimensões de
violência e os mecanismos de prevenção sejam conhecidos por todos.
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CAPÍTULO II: METODOLOGIA

2.1. Tipos de Pesquisa

Segundo Gil (2002), “as pesquisas científicas são classificadas de acordo com três
critérios a destacar: quanto à abordagem, quanto aos objectivos e quanto aos procedimentos
técnicos”.

2.1. Quanto a abordagem

O estudo desenvolvido nesta pesquisa basear-se-á numa abordagem qualitativa.


Segundo Gil (2002), “nas pesquisas qualitativas, o conjunto inicial de categorias em geral é
reexaminado e modificado sucessivamente, com vista em obter ideais mais abrangentes e
significativos”. Assim sendo, percebe-se que a abordagem qualitativa não se preocupa com
representatividade numérica, mas, sim, com o aprofundamento da compreensão de um grupo
social, de uma organização, etc.

2.2. Quanto aos objectivos

A pesquisa desenvolvida enquadrar-se-á na Exploratória que, segundo Gil (2002),


“são desenvolvidas com o objectivo de proporcionar maior familiaridade com o problema,
com vistas a torná-lo mais explícito, e aprimoramento de ideias”. Uma das suas
características é de desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e ideias, com vistas a
formulação de problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores.

Com efeito, será feita a análise do papel dos gestores escolares relativamente ao
assédio sexual contra a rapariga na Escola Secundária Geral de Quelimane.

2.3. Quanto aos procedimentos técnicos

A pesquisa que pretende ser desenvolvida, enquadra-se na bibliográfica que, segundo


Gil (2002:71), “a pesquisa bibliográfica é desenvolvida a partir de material já elaborado,
constituído principalmente de livros e artigos científicos”.

No que diz respeito à sua vantagem, ela permitir ao investigador a cobertura de uma
gama de fenómenos muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar directamente.
Assim, a pesquisa por desenvolver baseia-se em alguns manuais para além do uso de diversas
técnicas de colectas de dados.
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2.2. População e Amostra

Segundo Ivala (2007:178), “Participantes da pesquisa são os indivíduos ou pessoas


sobre os quais no acto da colecta de dados, permitem nos obter dados e informações
relevantes colectados a partir de várias ferramentas (entrevista)”.

Para a realização deste estudo será investigada a Escola Secundária Geral de


Quelimane do nível médio (12ª classe), pois, segundo os estudos da Save The Children (2005)
e WLSA (2003), grande parte de raparigas abusadas encontra-se nestes níveis, sendo mais
rara a ocorrência do fenómeno no ensino básico.

Segundo estes estudos, a vulnerabilidade da rapariga do nível médio pode estar


associada ao facto da sua personalidade e convicções estarem em processo de
desenvolvimento. Procurar-se-á trabalhar com os gestores escolares, com os professores, com
os alunos, em número que justifique a representatividade da amostra. Assim, constitui a
população do presente estudo um universo de 162 pessoas que corresponde aos totais da
população da 12ª classe, da Escola Secundária Geral de Quelimane.

Segundo Gil (2002:30) “Amostra é uma parcela convenientemente seleccionada do


universo (população), é um subconjunto do universo”.

Deste universo populacional (162)será extraída uma amostra em número


representativo, sendo 40 alunas, 15 professores e 2 gestores escolares.

O critério de selecção da amostra será o de amostragem estratificada, a qual permite


identificar diferenças significativas de percepções entre sexo, dentre outras variáveis. Fazendo
menção de que a amostra incidiu para as 12ª classes.

3.3 Instrumentos de recolha de dados

Para Feyerabend (1993:54), “Os instrumentos são as ferramentas usados ao longo da


pesquisa para orientar a recolha de dados juntos aos participantes da pesquisa”.

Tendo em conta a abrangência do assunto tratado nesta pesquisa, para a recolha dos
dados será utilizado um instrumento de recolha de dados. Assim, será utilizada a entrevista
como instrumento de recolha de dados.
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Na visão de Morgan (1988:134), “Uma entrevista consiste numa conversa intencional,


geralmente entre duas pessoas, embora por vezes possa envolver mais pessoas dirigida por
uma das pessoas, com o objectivo de obter informações sobre a outra”.

As entrevistas serão direccionadas aos professores; aos alunos e aos gestores escolares
sobre a percepção que têm a respeito do assédio sexual. Para facilitar a busca de dados
condizentes à realidade investigada, tornou-se fundamental o uso auxiliar de uma entrevista
semi-estruturada (com perguntas previamente formuladas, sendo tipicamente abertas e cuja
ordem poderá ser, eventualmente, alterada de acordo com a sequência da entrevista, tendo em
conta as respostas dos entrevistados) visando o alcance unificado das informações colectadas.
18

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