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DOCUMENTO

EURACT
European Academy of Teachers
in General Practice

NETWORK ORGANISATION WITHIN WONCA REGION EUROPE – ESGP/FM

European Academy of Teachers in General Practice


(Network within WONCA Europe)
A Definição Europeia de
Medicina Geral e Familiar
(Clínica Geral/Medicina Familiar)
Versão Reduzida. EURACT, 2005

As Definições Europeias da Medicina Geral e Familiar (Clínica Geral / Medicina Familiar)


Os Aspectos Chave da Disciplina de Medicina Geral e Familiar
O papel do Especialista em Medicina Geral e Familiar
e
Uma descrição das Competências Nucleares do Especialista
em Medicina Geral e Familiar
Preparado para a WONCA EUROPA
(The European Society of General Practice/Family Medicine), 2002
DR. JUSTIN ALLEN*, PROFESSOR BERNARD GAY**, PROFESSOR HARRY CREBOLDER***,
PROFESSOR JAN HEYRMAN****, PROFESSOR IGOR SVAB*****, DR. PAUL RAM******,
EDITADO POR DR. PHILIP EVANS*******

INTRODUÇÃO
*Director de Educação Pós-Graduada em Clínica Geral. Centro de Educação
Pós-graduada, Universidade de Leicester, Reino Unido ste texto é uma versão

E
Ex-Presidente e actual membro do Conselho Executivo do EURACT
**Presidente do CNGE, Paris, França; Universidade de Bordéus, França reduzida da declaração
Membro do Conselho do EURACT da WONCA Europeia
***Universidade de Maastricht, Holanda publicada em 2002, dis-
****Universidade Católica de Lovaina, Bélgica
Membro do Conselho Executivo do EURACT ponível nos websites da WONCA e
*****Universidade de Liubliana, Eslovénia do EURACT. Foi produzido pelo EU-
Presidente da WONCA Europa RACT como documento curto e de
Ex-membro do Conselho do EURACT
******Universidade de Maastricht, Holanda fácil tradução, para apoio individual
*******Ex-Presidente da Wonca Europa aos Especialistas em Medicina Ge-
Ex-membro do Conselho do EURACT ral e Familiar (EMGF).
Produzida por um grupo de trabalho do Conselho do EURACT seguindo uma ideia do Esta declaração de consenso defi-
Dr. Luís Filipe Gomes (Representante de Portugal no Conselho do EURACT) ne simultaneamente a disciplina de

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Medicina Geral e Familiar (Clínica uma especialidade clínica orientada diferentes prestadores de cuidados
Geral/Medicina Familiar) e as res- para os cuidados primários. de saúde, a distribuição apropriada
pectivas funções profissionais, des- da informação e as disposições
crevendo também as competências As características da disciplina visando solicitar e obter os trata-
nucleares requeridas aos EMGF. de Medicina Geral e Familiar mentos assentam na existência de
Para além disso, delineia os elemen- Há onze características da disci- uma unidade coordenadora. A Me-
tos essenciais da disciplina académi- plina. Assim, a MGF: dicina Geral e Familiar pode ocupar
ca e fornece uma visão fundamen- a) é normalmente o primeiro ponto de este papel fulcral, se as condições es-
tada sobre aquilo que os EMGF Eu- contacto médico dentro do sistema truturais o permitirem. Desenvolver,
ropeus deverão proporcionar aos de saúde, proporcionando acesso com todos os profissionais de saúde,
seus pacientes de forma a que os aberto e ilimitado aos utentes e li- o trabalho de equipa face ao pa-
cuidados de saúde prestados sejam dando com todos os problemas de ciente, beneficiará a qualidade dos
da mais elevada qualidade e custo- saúde independentemente de idade, cuidados. Ao gerir a interface com as
-efectivos. Das definições contidas sexo ou qualquer outra característica outras especialidades, a disciplina
no presente documento poderão da pessoa em questão. garante que aqueles que necessitem
derivar as agendas para a educação, O termo «normalmente» é aqui de serviços de alta tecnologia sedea-
investigação e garantia de qualidade, utilizado para indicar que em algu- dos nos cuidados secundários,
de forma a assegurar que a Medici- mas circunstâncias – traumatismo poderão aceder a eles de forma apro-
na Geral e Familiar (MGF) se desen- major, por exemplo – não é este o priada. São papéis chave a desem-
volva de forma a ir de encontro às ponto de primeiro contacto. Mas não penhar pela disciplina, quer o de
necessidades em cuidados de saúde deve haver barreiras ao acesso, e os providenciar advocacia, protegendo
das populações no século XXI. EMGF devem lidar com todos os os pacientes do prejuízo que pode re-
tipos de pacientes, jovens ou idosos, sultar de rastreios, exames e trata-
homens ou mulheres, e com os seus mentos desnecessários, quer o de os
AS DEFINIÇÕES EUROPEIAS DE 2005 problemas de saúde. A Medicina orientar através das complexidades
Geral e Familiar é o primeiro recur- do sistema de saúde.
A DISCIPLINA E A ESPECIALIDADE so, e o essencial. Cobre um vasto le- c) desenvolve uma abordagem cen-
DE MEDICINA GERAL E FAMILIAR que de actividades determinadas pe- trada na pessoa, orientada para o
Torna-se necessário definir tanto a las necessidades e pela vontade dos indivíduo, a sua família e a comu-
Medicina Geral e Familiar enquan- pacientes. Esta perspectiva salienta nidade em que se inserem.
to disciplina, como o papel do Espe- as múltiplas facetas da disciplina e A Medicina Geral e Familiar lida
cialista em Medicina Geral e Fami- a oportunidade da respectiva uti- com as pessoas e os seus problemas
liar (EMGF). lização na gestão de problemas in- no contexto das circunstâncias das
Primeiro porque é indispensável dividuais e comunitários. suas vidas e não como patologias ou
definir os fundamentos académicos b) utiliza de forma eficiente os recur- «casos» impessoais. O ponto de par-
e o enquadramento sobre a qual a sos de saúde através da coordena- tida de todo o processo é o paciente.
disciplina assenta, por forma a in- ção de cuidados, através do trabalho É tão importante compreender a for-
fluenciar o desenvolvimento nos âm- com outros profissionais no contexto ma como os pacientes encaram e se
bitos educativo, de investigação e de dos cuidados de saúde primários, adaptam à sua doença, como lidar
melhoria de qualidade. Em seguida, bem como através da gestão da in- com o processo patológico em si. O
porque é necessário que a definição terface com outras especialidades, denominador comum é a pessoa
académica se transfira para a reali- assumindo um papel de advocacia com as suas crenças, medos, ex-
dade do EMGF, trabalhando com os do paciente sempre que necessário. pectativas e necessidades.
pacientes em diversos sistemas de O papel de coordenação é um as- d) possui um processo único de con-
saúde através da Europa. pecto essencial na relação cus- sulta, estabelecendo uma relação ao
A Medicina Geral e Familiar é to/efectividade em cuidados primá- longo do tempo, através de uma efec-
uma disciplina académica e científi- rios de qualidade, ao assegurar que tiva comunicação médico-paciente.
ca – com os seus próprios conteú- os pacientes recorram ao profissio- Cada contacto entre o paciente e
dos educacionais, investigação, base nal de saúde mais apropriado ao seu o seu médico contribui para uma
de evidência e actividade clínica – e problema específico. A síntese dos história em evolução e cada consul-

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ta individual pode desenhar-se a nhecimento dos pacientes e da co- decisão pode bem ser a de aguardar
partir da experiência previamente munidade. O valor preditivo positi- desenvolvimentos posteriores e rever
partilhada. O valor desta relação vo ou negativo de um sinal clínico ou mais tarde. O resultado de uma só
pessoal, que é, por si só, terapêuti- de um teste de diagnóstico tem um consulta fica-se muitas vezes pela
ca, é determinado pelas aptidões do peso diferente em Medicina Geral e identificação de um ou vários sinto-
EMGF no âmbito da comunicação. Familiar e em contexto hospitalar. É mas, por vezes pela ideia de uma
e) é responsável pela prestação de frequente os EMGF terem que tran- doença, raramente chegando a um
cuidados continuados longitudinal- quilizar os pacientes ansiosos por diagnóstico completo.
mente tal como determinados pelas causa de uma doença assegurando i) promove a saúde e o bem-estar
necessidades do paciente. primeiro que esta não está presente. através de intervenções apropriadas
A abordagem da Medicina Geral g) gere simultaneamente problemas e efectivas.
e Familiar deve ser constante desde agudos e crónicos de pacientes indi- As intervenções têm que ser apro-
o nascimento (e por vezes desde an- viduais. priadas, efectivas e, sempre que pos-
tes) até à morte (e, por vezes, até de- A Medicina Geral e Familiar tem sível, baseadas em clara evidência
pois). A MGF assegura a continui- de lidar com todos os problemas de científica. Intervir quando não é
dade dos cuidados através do segui- saúde de cada paciente individual. necessário pode causar dano ao pa-
mento dos pacientes durante toda a Não pode limitar-se à gestão da ciente e desperdiça valiosos recursos
sua vida. O processo clínico consti- doença actual, tendo o médico fre- de saúde.
tui prova explícita desta constância. quentemente que gerir problemas j) tem uma responsabilidade especí-
Configura a memória objectiva das múltiplos. O paciente muitas vezes fica pela saúde da comunidade.
consultas, mas apenas parte da consulta por queixas várias, aumen- A disciplina reconhece ter respon-
história comum do médico e do pa- tando o seu número com a idade. A sabilidade, quer pelo paciente indivi-
ciente. Os EMGF prestam cuidados resposta simultânea a várias exigên- dual, quer pela comunidade mais
durante períodos substanciais da cias torna necessária uma gestão alargada no que respeita às questões
vida dos seus pacientes, através de hierarquizada dos problemas que de saúde. Ocasionalmente, tal dará
muitos episódios de doença. São tenha em conta tanto as prioridades origem a tensão e poderá levar a con-
igualmente responsáveis por garan- do paciente como as do médico. flitos de interesse, que terão de ser
tir que os cuidados de saúde sejam h) gere afecções que se apresentam geridos adequadamente.
prestados 24 sobre 24 horas, requi- de forma indiferenciada num está- k) lida com problemas de saúde nas
sitando ou coordenando tais cuida- dio precoce do seu desenvolvimento, suas dimensões física, psicológica,
dos sempre que não os possam podendo requerer intervenção ur- social, cultural e existencial.
prestar pessoalmente. gente. A disciplina tem de reconhecer to-
f) possui um processo específico de O paciente apresenta-se frequen- das estas dimensões simultanea-
tomada de decisões determinado temente no início dos sintomas, e é mente e atribuir o peso apropriado
pela prevalência e incidência da difícil efectuar um diagnóstico nes- a cada uma. Os padrões de doença
doença na comunidade ta fase precoce. Esta forma de apre- e o comportamento a esta associa-
Os problemas de saúde apresen- sentação implica que decisões im- do variam em função destas ques-
tam-se aos EMGF na comunidade portantes para o paciente tenham tões, e muita infelicidade é causada
de uma forma muito diferente da- que ser tomadas com base em infor- por intervenções que não têm em
quela com que se apresentam nos mação limitada e que o valor predi- conta a causa fulcral do problema
cuidados secundários. A prevalência tivo do exame clínico e dos testes é para o paciente.
e incidência das doenças são dife- mais incerto. Mesmo quando os
rentes das verificadas em contexto sinais de uma determinada doença A Especialidade de Medicina
hospitalar e as situações graves são geralmente bem conhecidos, tal Geral e Familiar
apresentam-se menos frequente- não se aplica aos mais precoces, que O texto que se segue é uma definição
mente em MGF do que no hospital, são frequentemente inespecíficos e do papel do Especialista de Medici-
por não haver selecção prévia. A prá- comuns a muitas doenças. A gestão na Geral e Familiar que coloca as ca-
tica da MGF requer um processo es- do risco nestas circunstâncias é um racterísticas da disciplina acima
pecífico de decisão baseada em aspecto chave da disciplina. Excluí- descritas no contexto da prática
probabilidades, informado pelo co- da uma evolução grave imediata, a clínica. Representa um ideal a que

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todos os EMGF podem aspirar. Al- dões, do seu equilíbrio pessoal e dos da na pessoa ao lidar com os pacien-
guns dos elementos desta definição seus valores, como base para a tes e os seus problemas no contex-
não são exclusivos dos EMGF, sendo prestação de cuidados efectivos e se- to das circunstâncias envolventes;
aplicáveis em geral à profissão médi- guros aos seus pacientes. – desenvolver e aplicar a técnica de
ca como um todo. A especialidade de consulta de Medicina Geral e Fa-
Medicina Geral e Familiar é, no en- miliar por forma a evidenciar uma
tanto, a única que concretiza todos
COMPETÊNCIAS NUCLEARES relação médico-paciente efectiva, no
aqueles aspectos. Exemplo de ele- respeito pela autonomia do paciente;
mento comum é o que se refere à A definição da disciplina de Medici- – comunicar, estabelecer priorida-
responsabilidade da manutenção na Geral e Familiar e do respectivo des e actuar em equipa;
das aptidões, que, no entanto, pode especialista deve conduzir directa- – prestar cuidados longitudinais
ser particularmente difícil para os mente às competências nucleares contínuos conformes às necessi-
EMGF, frequentemente trabalhando do EMGF. dades do paciente, no âmbito de
isolados. Por nucleares entendem-se as uma gestão continuada e coordena-
Os Especialistas de Medicina Ge- competências essenciais à discipli- da dos cuidados.
ral e Familiar são médicos especia- na, independentemente do sistema
listas formados nos princípios da dis- de saúde em que se apliquem. Aptidões específicas para a
ciplina. São médicos pessoais, res- As onze características da Disci- resolução de problemas
ponsáveis, em primeiro lugar, pela plina correlacionam-se com as capa- Inclui a capacidade de:
prestação de cuidados abrangentes cidades que todos os Especialistas – relacionar os processos de toma-
e continuados a todos os indivíduos em Medicina Geral e Familiar devem da de decisão específicos com a
que procuram cuidados médicos, in- possuir. Pelo facto de estarem in- prevalência e incidência da doença
dependentemente da sua idade, terrelacionadas, agrupam-se em na comunidade;
sexo ou afecção. Prestam cuidados a seis categorias independentes de – reunir e interpretar selectivamen-
indivíduos no contexto das respecti- competências nucleares. Os princi- te a informação obtida através da
vas famílias, comunidades e cul- pais aspectos de cada um desses história clínica, do exame físico e de
turas, respeitando sempre a autono- agrupamentos são: outros métodos de investigação e
mia dos seus pacientes. Reconhecem aplicá-la a um plano de gestão
ter também uma responsabilidade Gestão de cuidados primários apropriado em colaboração com o
profissional para com a sua comuni- Inclui a capacidade de: paciente;
dade. Quando negoceiam os planos – gerir o contacto de primeira ins- – adoptar princípios de trabalho
de acção com os seus pacientes, in- tância com os pacientes, lidando apropriados – que, por exemplo, in-
tegram factores físicos, psicológicos, com problemas não seleccionados; crementem a investigação – usando
sociais, culturais e existenciais, uti- – cobrir o espectro completo de si- o tempo como ferramenta e toleran-
lizando os conhecimentos e a confian- tuações de saúde; do a incerteza;
ça gerados pelos contactos médico- – coordenar os cuidados com ou- – intervir com urgência sempre que
-paciente repetidos. Os EMGF desem- tros profissionais em cuidados pri- necessário;
penham o seu papel profissional pro- mários e com outros especialistas; – gerir condições que se podem
movendo a saúde, prevenindo a – orientar a prestação de cuidados apresentar precocemente e de forma
doença e providenciando cura, cuida- apropriados e efectivos e a utilização indiferenciada;
dos ou paliação. Fazem-no, quer dos serviços de saúde; – fazer uso efectivo e eficiente do
directamente, quer através dos servi- – tornar disponíveis ao paciente os diagnóstico e das intervenções tera-
ços de outros, consoante as necessi- serviços apropriados dentro do sis- pêuticas.
dades de saúde e os recursos dis- tema de saúde;
poníveis na comunidade que servem, – assumir uma posição de advoca- Abordagem abrangente
auxiliando os pacientes, sempre que cia do paciente. Inclui a capacidade de:
necessário, a acederem àqueles – gerir simultaneamente múltiplas
serviços. Os EMGF devem assumir a Cuidados centrados na pessoa queixas e patologias, os problemas
responsabilidade pelo desenvolvi- Inclui a capacidade de: de saúde crónicos e agudos de cada
mento e manutenção das suas apti- – adoptar uma abordagem centra- indivíduo;

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– promover a saúde e o bem-estar pecíficos da MGF. pessoal;


através da aplicação adequada de – Estar atento à mútua interacção
estratégias de promoção da saúde e Aspectos Contextuais entre o trabalho e a vida privada, e
de prevenção da doença; (Compreender o contexto dos próprios desenvolver esforços no sentido de
– gerir e coordenar promoção de médicos e o ambiente em que se in- obter um bom equilíbrio entre estas
saúde, prevenção, cura, cuidados, serem, incluindo condições de traba- duas vertentes.
reabilitação e paliação. lho, comunidade, cultura, enquadra-
mento económico e regulador) Aspectos Científicos
Orientação comunitária – Compreender o impacto da co- (Adoptando uma abordagem clínica
Inclui a capacidade de: munidade local, incluindo os fac- crítica e baseada na investigação
– conjugar as necessidades de tores sócio-económicos, geográficos científica, mantendo-a através da
saúde dos pacientes enquanto indi- e culturais, no local de trabalho e aprendizagem e da melhoria de qua-
víduos com as necessidades de nos cuidados aos pacientes; lidade contínuas)
saúde da comunidade em que se in- – Ter em atenção o impacto da – Estar familiarizado com os princí-
serem, em equilíbrio com os recur- quantidade total de trabalho dedi- pios gerais, métodos, conceitos de
sos disponíveis. cada aos cuidados ao paciente indi- investigação científica e com os ele-
vidual e as condições (pessoal, equi- mentos fundamentais da estatística
Abordagem holística pamentos) disponíveis para a pres- (incidência, prevalência, valor predi-
Inclui a capacidade de: tação desses mesmos cuidados; tivo, etc.);
– usar um modelo biopsicossocial, – Compreender os enquadramen- – Possuir profundo conhecimento
levando em conta as dimensões cul- tos económico e legal em que os da base científica das patologias,
tural e existencial. cuidados de saúde são prestados ao sintomas e diagnósticos, terapias e
nível da unidade de saúde; prognósticos, epidemiologia, decisão
– Compreender o impacto das con- clínica, teorias da elaboração de hi-
ASPECTOS DE FUNDO ESSENCIAIS dições de trabalho e de habitação do póteses e resolução de problemas,
próprio médico nos cuidados por si cuidados preventivos;
Ao aplicar as competências ao ensi- prestados. – Ser capaz de aceder à literatura
no, à aprendizagem e à prática da médica, lê-la e avaliá-la criticamen-
Medicina Geral e Familiar é neces- Aspectos de Atitude te;
sário considerar adicionalmente três (Baseados na capacidade profissio- – Desenvolver e manter a apren-
aspectos de fundo essenciais: con- nal, valores, sentimentos e ética do dizagem contínua e a melhoria de
textual, de atitude e científico. Estes médico) qualidade.
aspectos referem-se a questões rela- – Estar atento às próprias capaci- A inter-relação das competências
cionadas com os médicos, e determi- dades e valores – identificando as- nucleares com os aspectos de fun-
nam a sua capacidade para aplicar pectos éticos da prática clínica (pre- do caracteriza a disciplina e subli-
as competências nucleares à vida venção/diagnósticos/terapêutica/ nha a complexidade da Medicina
real no seu cenário profissional. Na /factores que influenciam o estilo de Geral e Familiar. E é esta complexa
prática da Medicina Geral e Familiar vida); inter-relação que deve orientar e ver-
estes aspectos podem assumir – Ter consciência de si: a com- -se reflectida no desenvolvimento
maior impacto em razão da relação preensão de que as suas próprias dos planos de ensino, investigação e
próxima que existe entre o Médico e atitudes e sentimentos são impor- melhoria de qualidade.
as pessoas com quem trabalha, mas tantes determinantes da forma co- A Árvore da WONCA produzida
são aspectos que se reportam a mo é exercida a medicina; pelo Colégio Suíço mostra estas re-
todos os médicos, não sendo es- – Justificar e clarificar a ética lações com clareza.

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problemas
estádios precoces de saúde
e indiferenciados agudos e promoção
tomada de decisão crónicos da saúde e
baseada na incidência Aptidões específicas
para a resolução bem-estar
e prevalência Abordagem
de problemas continuidade
abrangente longitudinal
responsável
pela saúde da Orientação prática centrada
comunidade no paciente e no
comunitária
contexto
Cuidados
coordenação de centrados na pessoa relação
cuidados e médico/paciente
Gestão de
«advocacia»
cuidados primários física, psicológica,
Abordagem social, cultural e
primeiro contacto,
acesso aberto,
holística existencial
todos os problemas
de saúde

atitude ciência contexto

Definição Europeia de Medicina Geral e Familiar: Competências Nucleares e Características (EURACT/WONCA 2002-2005)
@ 2004 Swiss College of Primary Care Medicine / U. Grueninger, Adaptação e tradução de LF Gomes, 2005

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