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RIO DE JANEIRO
2010
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
CENTRO DE EDUCAÇÃO E HUMANIDADES
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
CURSO DE PEDAGOGIA
RIO DE JANEIRO
2010
BRUNA VIANNA DA CRUZ
Aprovada em
Avaliadora:
Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Rio de Janeiro
Janeiro de 2010
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho ao meu “menininho”, fonte de toda a inspiração e com quem tanto
tenho aprendido;
À Verinha, que abriu não só as portas, mas o coração da escola para que a Inclusão fosse
possível;
Aos professores e coordenadoras da Escola Nova, que tanto colaboraram com essa
pesquisa e que com dedicação realizam esse lindo trabalho a cada dia;
E a duas amigas muito especiais, Eliete e Deborah, sempre presentes e dispostas a ouvir e
auxiliar.
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiro a Deus que me proporcionou todos os caminhos para chegar até aqui;
A minha querida e dedicada orientadora, Rosana Glat, que em suas aulas e orientações fez
com que eu me apaixonasse ainda mais pela Inclusão;
A meus pais, Bruno e Sonia, fundamentais em minha vida, que sempre me apoiaram e
incentivaram, me proporcionando uma criação de excelecência, que me transformou em
quem sou hoje;
A meu marido, Alexandre, que com seu carinho e paciência me ajudou muito na confecção
desse trabalho;
A meu avô, Djalma (in memorian), que me ensinou os valores mais importantes da vida, e
que de alguma forma está sempre presente;
Aos meus familiares, que me fazem entender que presença nem sempre é estar ao lado,
mas é estar pensando e sentindo;
Aos meus colegas de faculdade, pelo aprendizado em conjunto e sem os quais a UERJ não
seria a mesma;
Aos meus amigos pelos pensamentos positivos e carinho que tanto me alegraram nas horas
em que tudo parecia muito difícil;
Introdução ............................................................................................................................1
1. Fundamentação Teórica .................................................................................................3
1.1. Da Educação Especial à Educação Inclusiva .................................................3
1.2. Paralisia Cerebral ou Encefalopatia ...............................................................7
2. Pesquisa de Campo ........................................................................................................10
2.1 Metodologia e Procedimentos .........................................................................10
2.2. Caracterização dos sujeitos ...........................................................................11
2.2.1. Aluno .................................................................................................11
2.2.2. Caracterização da Mediadora ........................................................12
2.2.3. A Escola ............................................................................................13
2.2.3.1. Estrutura Física .................................................................14
2.2.3.2. A Classe do Luis ................................................................15
2.2.4. Profissionais.......................................................................................16
3. Análise dos dados ..........................................................................................................17
3.1. Suporte ao processo de Inclusão ...................................................................17
3.1.1. Adaptações Curriculares .................................................................17
3.1.2. Adaptações Físicas ...........................................................................18
3.1.3. Tecnologias Assistivas .....................................................................19
3.1.4. Mediação ...........................................................................................20
3.2. Cotidiano Escolar ...........................................................................................21
3.2.1. O trabalho realizado pela Mediadora ............................................21
3.2.2. Desenvolvimento acadêmico e social de Luis ................................23
3.2.3. Socialização ......................................................................................26
3.2.3.1. Relação Luis – Professores ...............................................26
3.2.3.2. Relação Luis – Colegas .....................................................28
3.2.3.3. Relação Mediadora – crianças .........................................30
3.2.3.4. Vínculo afetivo: a relação da criança com a
mediadora........................................................................................30
Considerações Finais .........................................................................................................33
Referências Bibliográficas ................................................................................................36
Anexos
Anexo 1 ...................................................................................................................38
Anexo 2 ...................................................................................................................39
Anexo 3 ...................................................................................................................56
Anexo 4 ...................................................................................................................57
Anexo 5 ...................................................................................................................58
Anexo 6 ...................................................................................................................59
1
INTRODUÇÃO
A inclusão escolar também faz parte de uma questão social e ética que há muito
vem sendo discutida por especialistas: proporcionar possibilidades de autonomia,
qualidade de vida e trabalho para os cidadãos com necessidades especiais. A inclusão parte
do princípio de que tais indivíduos são seres pensantes e capazes, apesar de suas
dificuldades, e, portanto, possuem direitos e deveres como qualquer cidadão.
Contudo, para uma verdadeira Educação Inclusiva, que efetivamente transforme a
realidade de vida dessas pessoas, é necessário a busca de novas práticas cotidianas para
lidar com essa clientela escolar. Adaptações curriculares e estruturais, possibilidades de
auxílio e acompanhamento pedagógico, e diversas outras formas de organização são
necessárias.
Algumas destas transformações são discutidas nesse estudo, visto que a Mediação
da Aprendizagem é mais do que a inserção de um novo profissional no contexto da sala de
aula, é uma porta de entrada para a organização e acompanhamento dessas transformações.
Sendo assim, este trabalho tem o intuito de discutir exclusivamente a importância
pedagógica do trabalho de mediação para a inclusão. Como nosso viés é exclusivamente
pedagógico, não serão aqui discutidos os aspectos legais ou organizacionais da inserção
desse profissional no contexto escolar.
Este estudo está organizado da seguinte forma. O primeiro capítulo destina-se ao
tema da Educação Inclusiva, onde é feito um pequeno histórico da Educação Especial e
suas transformações levando à Educação Inclusiva, bem como dos suportes necessários
para que a mesma aconteça. Também traz a caracterização da paralisia cerebral, condição
específica do aluno observado durante o estudo de caso.
O segundo capítulo apresenta a metodologia de pesquisa, procedimentos de coleta e
análise de dados, o campo de pesquisa, a estruturação do estudo de caso e os sujeitos
participantes.
O terceiro capítulo é dedicado à análise dos dados, os quais foram separados em
duas categorias temáticas, mostrando a importância do trabalho de mediação, por ser esta a
questão norteadora da presente monografia.
Por ultimo são feitas as considerações finais, e recomendações de futuros estudos
sobre o tema.
3
"Inclusão é o privilégio de
conviver com as diferenças"
(Maria Teresa Mantoan)
1
As salas de recursos foram criadas visando o atendimento para a realização de atividades especializadas a
fim de favorecer o desenvolvimento de sujeitos com o mesmo tipo de necessidades especiais.
4
Nas últimas décadas, com o crescente avanço das discussões acerca dos direitos dos
cidadãos, do respeito e aceitação das diferenças, “os profissionais da Educação Especial
têm se voltado para a busca de novas formas de educação escolar com alternativas menos
segregativas de absorção desses educandos pelos sistemas de ensino.” (GLAT &
BLANCO; 2007; p. 15). Para tal, o foco sai do aluno e de sua deficiência e passa para a
escola, a qual deve adequar-se para receber todo e qualquer aluno.
Dessa forma, teve início a concepção de Educação Inclusiva. Esta, hoje prevista em
lei, conforme já mencionado, tem como finalidade inserir nas classes regulares de ensino
alunos portadores de necessidades especiais. Segundo Mittler (2003; p. 16):
Para tal, a escola precisa se adequar às características dos sujeitos que recebe,
proporcionando condições físicas e pedagógicas, não apenas para o acesso, mas para a
permanência destes alunos, através de recursos pedagógicos e adaptações.
Acessibilidade é definida por FERNANDES; ANTUNES & GLAT (2007; p. 55)
como:
Ou seja, para que ocorra acessibilidade para alunos com necessidades especiais, a
escola deve se adequar não apenas fisicamente, como estruturalmente, proporcionando
todo o suporte necessário para sua participação em todas as atividades.
5
2
(http://www.comunicacaoalternativa.com.br/adcaa/inclusao/inclusao.asp)
6
respeitar as necessidades desses alunos, sem fazer com que estes tenham perdas de
conteúdo. Faz parte da responsabilidade da equipe escolar realizar essas adaptações e
oferecer as possibilidades mais eficazes para o bom desenvolvimento escolar dos alunos
que recebe (OLIVEIRA & MACHADO, 2007; MOREIRA & BAUMEL, 2001).
Estas e outras transformações realizadas na escola são formas de propiciar uma real
inclusão, possibilitando não apenas o acesso, mas a permanência e o acompanhamento
acadêmico para os alunos com necessidades especiais.
Levando em consideração as diversas especificidades existentes, é necessário
conhecer mais sobre Paralisia Cerebral para tratar da inclusão do aluno em questão.
3
(http://www.paralisia-cerebral.blogspot.com)
8
4
(http://www.defnet.org.br)
10
profissional teve. Todos os entrevistados foram informados de que esta análise seria
realizada de forma abrangente e sem a identificação do mesmo, possibilitando total
liberdade de expressão.
2.2.1 Aluno:
Luis, atualmente com nove anos, estava com oito anos no início da pesquisa. Tem
paralisia cerebral devido à má formação genética do Cerebelo, onde este, não se
desenvolvendo completamente, acometeu a criança a especificidades recorrentes da
paralisia cerebral conhecida como atáxica. Esta, como já descrito, caracteriza-se pela
diminuição da tonicidade muscular, dificuldade de equilíbrio e coordenação dos
movimentos, ocasionando movimentos trêmulos e descoordenados que dificultam a sua
autonomia para algumas atividades.
Neste caso, além das especificidades geradas pela lesão cerebral, a criança possui
baixa visão, que é atenuada com o uso de óculos. Apresenta dificuldades de fala e
alimentação, tendo acompanhamento de um profissional de fonoaudiologia. Tem também
problemas odontológicos, má formação da dentição, salivação incontrolável. Esta
característica é minimizada pelos profissionais que o acompanham, através do uso de
recursos (como pedaços de esparadrapo no queixo) que possibilitem a percepção da
movimentação maxilar, diminuindo a salivação. Além disso, é necessária a utilização de
cadeira de rodas como forma de locomoção, visto que ele é capaz de andar apenas com
apoio, situação que, de modo geral, em sua rotina é cansativo e desgastante.
A hipotonia (diminuição do tônus muscular), assinergia (incapacidade motora),
tremores (ocorrentes durante o movimento voluntário), influências visuais (como a baixa
visão) e alterações de fonação se relacionam diretamente com o tipo de lesão da criança,
pois se constituem de funções especificamente cerebelares.
O desenvolvimento cognitivo de Luis ocorre conforme o esperado para a sua idade,
e seu processo de ensino-aprendizagem é semelhante ao resto da turma de uma maneira
geral. Apenas o conteúdo de Matemática precisa ser adaptado, visto que há uma
necessidade de um tempo maior para fixação dos conceitos. Nas demais atividades, Luis
acompanha a turma, fazendo os exercícios e participando das aulas.
12
6
(http://agvieiraleiria.ccems.pt/escola/ conceito.htm)
13
ambos (aluno e mediadora) não se tornem uma exclusão dentro da inclusão, é necessário
que esse trabalho seja realizado como suporte e não como único meio da criança aprender.
O trabalho de mediação envolve questões delicadas no que diz respeito à relação
emocional entre criança e mediadora, visto ser este um contato mais próximo do que o de
uma professora que tem várias crianças em sua turma. Tanto o aluno quanto a mediadora
acabam adquirindo um vínculo emocional o qual deve ser trabalhado de maneira a não
prejudicar o desenvolvimento educacional caso este seja rompido. Ao mesmo tempo, em
muitos casos esse envolvimento emocional facilita o trabalho de mediação, visto a
necessidade de respeito ao tempo do educando.
2.2.3 A escola
A Escola Nova, onde Luis estuda, foi criada em 1980, como uma instituição
exclusivamente de Educação Infantil, passando a atender o primeiro e segundo segmento
do Ensino Fundamental, bem como o Ensino Médio, em 2008. Tem como objetivo
principal proporcionar estímulos adequados para o crescimento harmonioso, afetivo e
intelectual da criança, mobiliza recursos e materiais que possibilitem ampliar seu mundo
(corpo, objetos, pessoas) como seres sociais que são. Além disso, a escola considera a
criatividade, comunicação e colaboração elementos essenciais para que as crianças possam
estar em constante processo de transformação. Tem como proposta ser um ambiente
estimulante, harmonioso e próprio para a criança, necessário para seu pleno
desenvolvimento7.
A Escola Nova trabalha com o objetivo de proporcionar aos alunos um ambiente de
ensino exemplar, respeitando diferenças e contribuindo de maneira muito positiva para a
formação de cada um. É, através do respeito pelo tempo de aprendizagem de cada aluno, e
pela avaliação e observação de cada um separadamente que a Escola Nova tornou-se uma
escola Inclusiva, visando ir além das imposições legislativas ao proporcionar ambiente,
estrutura e currículo adequados para os alunos incluídos.
Para tal conta com um conjunto de profissionais preparados e dispostos a atender
plenamente as crianças com necessidades especiais a fim de incluí-las verdadeiramente no
cotidiano escolar, possibilitando um acompanhamento do ritmo da turma em que estão
inseridas.
7
(www.escolanova.com.br)
14
2.2.4. Profissionais
Como a pesquisa abarcou dois anos letivos, houve troca de professores na turma de
Luis, não só da professora regente, mas também de línguas estrangeiras e Educação Física.
Estas alterações fazem parte do planejamento escolar e são conversadas com pais e alunos,
na transição de uma série para outra.
Todos os professores demonstraram um grande interesse pela inserção de Luis em
suas aulas, e aceitaram participar das entrevistas realizadas. Uma situação se destacou
durante as entrevistas com os professores: o fato de que a maioria deles, embora
acreditando ter realizado um bom trabalho com Luis, admitiu a necessidade de buscar
maiores informações sobre Educação Inclusiva, alegando não ter tido uma formação
adequada para esta atuação, como pode ser observado nas falas abaixo:
“Eu não fui preparada no meu curso de Letras, nós não somos
preparadas para esse tipo de trabalho. (...) Eu acho que é uma
deficiência das universidades, que não preparam os alunos, não têm
essa visão, infelizmente.”
Contudo, esta falta de formação não os impediu de realizar o trabalho de forma a acolher
esse aluno.
17
adaptações. Pois, embora as adaptações, de fato, sejam feitas pela mediadora – é ela quem
realiza as modificações nos textos, avaliações e demais atividades (Anexo 2) – é a equipe
da escola como um todo (incluindo a mediadora, professores e coordenadoras) que define
quais eram as adaptações necessárias. Tudo sempre é pensado em conjunto, baseado na
análise de cada profissional em relação ao processo de ensino aprendizagem de Luis, que
assim como os demais alunos da escola é acompanhado de perto pelos professores e
coordenadores. Em relação ao Luis, esta tornou-se uma equipe multidisciplinar, contando
com o apoio também de outros profissionais que o assistem: fisioterapeuta, fonoaudióloga
e terapeuta ocupacional.
As adaptações se referem não apenas em um aumento no tamanho da fonte para
compensar sua dificuldade visual, como também na possibilidade de diminuição da
quantidade de questões em uma avaliação, levando-se em consideração o tempo que ele
leva em média para realizar as atividades. Contudo, estas transformações não diminuíam a
exigência da avaliação referente à aprendizagem do Luis, apenas o tempo para realização
das mesmas. Conforme justificou sua terapeuta ocupacional em uma das reuniões
realizadas durante a pesquisa, “não é necessário cobrar de Luis três exercícios que
necessitem que ele conheça apenas um conceito, basta que ele resolva um exercício para
cada conceito que ele tenha aprendido, desde que tal conceito tenha sido de fato
aprendido.”.
ainda não é uma escola adequada. De forma que essa sala (sala onde Luis estuda), não é
a sala do segundo ano, do terceiro ano ou do quarto ano, é a sala do Luis, a sala que
acompanha o Luis.”.
Para melhor atender ás necessidades do Luis, sua turma fica sempre na mesma sala,
já que esta, conforme lembrou a Diretora, é uma sala mais ampla, possibilitando um espaço
maior para a locomoção da cadeira de rodas e para a mesa por ele utilizada.
operação e possibilita realizar a atividade sozinho, visto que, assim, é possível que ele leia
o exercício, entenda o que deve ser feito e monte a operação sem auxílio de ninguém.
3.1.4. Mediação
Outro aspecto que ficou patente nas entrevistas com os professores, foi a
importância da mediadora para o processo de inclusão.
De acordo com o que foi dito durante as entrevistas com a equipe escolar é possível
perceber que as duas situações estão interligadas, pois a importância do profissional de
mediação se relaciona não só com a necessidade de um suporte mais específico, mas,
também, com o conhecimento que este profissional acaba adquirindo, ou mesmo já tem,
como pode ser nas falas abaixo.
“É muito importante! Porque é ela que está ali participando, é ela que está
ali no dia a dia com ele, sabendo as necessidades dele, adaptando todo o
processo de ensino aprendizado para o aluno.”
“Sem dúvida nenhuma ela vai dar subsídios de como a criança é, de como
ela está, dos pontos fortes, dos pontos fracos, e isso tudo vai dar uma base
21
viagem da escola. Acredito ser esse passeio, o seu sucesso, a satisfação e o interesse de
Luis por todas as atividades realizadas uma grande prova de como essa criança se sente
parte integrante da turma. Vale ressaltar que o cotidiano vivido durante o passeio, como
tomar banho, dormir, e outras rotinas diárias, não faziam parte da vivência cotidiana rotina
experimentada na relação da mediadora com a criança. Sendo assim, essas questões foram
amplamente conversadas com Luis, para que ele entendesse a diferença de atuação da
mediadora no passeio em relação a seu papel no dia a dia da escola, que se manteria o
mesmo após o retorno.
Para efetivar o processo de inclusão de Luis, a função da mediadora se estendeu
para além das atividades da sala de aula, já que a mesma desenvolveu, como relatada, um
trabalho pedagógico em conjunto com a equipe escolar. O aspecto que merece destaque é
que, apesar de não ser uma profissional da escola8, esta foi integrada na equipe escolar.
Conforme relatou a Vice-Diretora: “A profissional que vai estar ali com ele, igual, ela está
ali ela vai ser da nossa equipe, mas uma equipe que vai ajudar exatamente a esse aluno.”.
Ou seja, a mediadora também deve se sentir incluída, para incluir a criança.
8
A mediadora foi contratada diretamente pela família de Luis.
24
9
São balanças onde é possível verificar seu peso de acordo com a gravidade de cada Planeta, localizam-se
umas ao lado das outras, e para sua locomoção Luis precisou deslocar-se lateralmente, se segurando no
equipamento.
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um pout pourri da Jovem Guarda. Embora sempre tenha se interessado por música e goste
da aula, não costumava acompanhar os demais colegas quando cantavam, devido à sua
dificuldade na fala.
Nas aulas de Inglês e Espanhol também foram observadas diversas respostas
positivas ao trabalho realizado. Luis mostrava-se interessado e participativo durante as
mesmas, e realizava todas as atividades. Para ele, todo o conteúdo de Inglês e Espanhol é
avaliado oralmente; assim, seus testes e provas eram realizados em separado da turma, o
que se tornou um momento muito importante para ele, pois tinha um contato maior,
individual, com as professoras.
Durante o decorrer da pesquisa, foi possível perceber além do desenvolvimento
cognitivo, um avanço significativo no seu desenvolvimento motor e emocional. À medida
que o dia a dia da escola exigia uma maior responsabilidade, um comportamento mais
maduro, Luis passou a exigir mais de si mesmo, passou a se cobrar uma maior
responsabilidade em relação às atividades escolares e a ter uma postura menos infantil
frente às situações que lhe desagradavam. Assim, Luis demonstrou um crescimento
emocional, aprendendo, por exemplo, a não chorar e brigar quando algo não ocorria da
maneira que ele gostaria, como costumava fazer anteriormente. Ao mesmo tempo,
adquirindo a esperteza peculiar da idade passou a utilizar “frases feitas” e pequenos
bordões próprios sempre que queria se mostrar insatisfeito, como por exemplo: “Esse
mundo é muito difícil.”, quando algo o contrariava.
Concomitantemente a esse desenvolvimento cognitivo e emocional, houve um
grande avanço em seu desenvolvimento motor. Um intenso trabalho de fisioterapia foi
realizado, e à medida que as conquistas apareciam na escola, a equipe escolar passava a
incentivar esses avanços. Assim, Luis passou a ficar muito mais vezes em pé, nas carteiras,
andando pela escola, ou realizando alguma atividade que o tirasse da cadeira de rodas.
Aumentou seu interesse pela utilização dos lápis, tanto os coloridos, quanto o lápis de
escrever, bem como passou a gostar de escrever no quadro.
Em suma, comparando-se o comportamento do aluno no início da pesquisa e no
final, verifica-se um desenvolvimento constante, em todas as áreas, correspondendo às
expectativas da idade, apesar de suas dificuldades intrínsecas, e dos trabalhos realizados
com ele, tanto dentro no âmbito escolar, como nas terapias clínicas. Tal desenvolvimento
pode ser confirmado na fala dos profissionais da escola:
26
“... foi uma surpresa enorme, ver tantos ganhos do Luis, ver que ele
progrediu tanto, que apesar da gente saber que é possível e tudo, mas a
gente quer ver isso na prática, quer realmente acontecendo, e eu acho que
isso aconteceu esse ano (2009), mais esse ano do que ano passado, com o
Luis, um progresso maior...”
“... ele está cada vez mais crescendo de uma forma que a gente não
espera, surpreendendo a todos nós...”
“... eu acho que isso foi uma grande conquista para o Luis, eu acho que
ele evoluiu demais, tanto no social, quanto no pedagógico, acho que o
Luis cresceu, ele hoje se sente parte de um grupo, ele é respeitado pelos
amigos...”
3.2.3. Socialização
Durante a pesquisa houve uma melhora significativa no processo de relacionamento
social, aumento de auto-estima, posicionamento perante o grupo e desenvolvimento da
autonomia. No início, Luis seguia as orientações de atividades, tanto da professora e da
mediadora quanto de seus colegas, sem questionamentos, sem emitir sua opinião; com o
tempo transformou seu modo de agir, e passou a informar as atividades que tinha ou não
interesse em realizar.
“Acho que cada passo dele foi uma conquista, tanto para a gente,
professor, quanto para o próprio Luis.”
“E, no caso, o Luis, eu achei muito legal, porque ele era muito motivado,
então isso facilitou, facilitou a inserção dele... Ele estava disposto a
esperar o momento dele e mesmo que fosse uma passadinha só, ele se
10
O projeto citado trata da Gravação de um conto, onde cada aluno lia um trecho do conto escolhido.
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satisfazia muito, a gente também notava isso, então isso também era
gratificante.”
“Eu acho, que no caso, a escola que aceita alunos de inclusão, quem
ganha mais são os outros alunos.”
com quem ele podia contar que sempre estaria brincando com ele. Contudo, à medida que
foi desenvolvendo uma maior autonomia, continuou se referindo a uma determinada colega
como sua melhor amiga, mas aprendeu que podia “sobreviver” sem ela. Passou a brincar
com as outras crianças, e a indicar o que lhe agradava ou não.
Dessa forma, durante os recreios deixou de brincar apenas do que era sugerido
pelos outros, e passou a opinar sobre o que gostaria de brincar. Tal atitude, não fez com
que as outras crianças se afastassem dele, ao contrário, elas passaram a respeitá-lo mais,
percebendo que apesar de suas dificuldades motoras ele era capaz de se expressar e de se
socializar como qualquer uma delas.
Este processo de socialização foi incentivado a partir de um trabalho realizado com
o apoio da terapeuta ocupacional, visando criar situações em que as limitações de Luis se
tornassem parte das brincadeiras ente as crianças. Assim, em alguns recreios, com o apoio
da mediadora, as crianças brincavam de “pique cadeira”: quem estivesse sentado na
cadeira deveria tentar pegar os demais. Nesse momento, a mediadora ajudava Luis para
que ele pudesse se locomover. Esta brincadeira foi muito interessante, pois as crianças
perceberam que a movimentação com a cadeira, algo tão corriqueiro para Luis, era uma
grande dificuldade para elas. A brincadeira despertou tanto o interesse das crianças em
aprender a lidar com a cadeira de rodas, que havia dias em que Luis estava mais cansado
para andar e não queria brincar de “pique cadeira”, e os colegas insistiam.
Além das brincadeiras no recreio, as atividades em grupo realizadas em sala
também contribuíram muito para a socialização de Luis. Algumas vezes, as crianças
sentavam perto da sua mesa, para que o computador pudesse ser usado para a realização da
atividade. Contudo, quando este era dispensável, era Luis quem saia da cadeira de rodas
para sentar na carteira, junto com seus colegas. Nessas ocasiões, muitas vezes ele ficava
sem a presença da mediadora, e se precisasse escrever algo, ou realizar alguma atividade
que necessitasse de suporte, seus amigos lhe ajudavam.
Essa dinâmica da cooperação ocorria constantemente nas aulas de Artes, Música e
Educação Física. Nas aulas de Artes, sempre que um colega terminava de desenhar,
sentava-se perto de Luis para auxiliá-lo. Nas aulas de música, como a maioria das
atividades eram realizadas em grupo, a mediadora pouco permanecia em sala. Já durante a
Educação Física, quando tinha corrida, as crianças gostavam de empurrar a cadeira de
rodas, para ganhar.
30
professora. O apego exagerado causará uma situação complicada quando tal vínculo for
desfeito. Assim como a criança anualmente troca de professora, isso poderá ou não
acontecer com a mediadora, mas quando ocorrer a criança precisa estar aberta a receber
outra pessoa para esse papel.
Luis, por ser uma criança extremamente carinhosa, fez um grande vínculo
emocional com sua mediadora. O importante para que esse sentimento não se torne motivo
de frustração no futuro é, novamente, a autonomia. Por maior que seja a relação de afeto
com a mediadora, e por mais que seu suporte seja importante no processo de escolarização
a criança precisa ter certeza de que é capaz de realizar aquelas atividades sozinha. Dessa
forma, o vínculo deixa de ser uma dependência para tornar-se uma relação de carinho.
Conforme já foi citado, durante a pesquisa o trabalho de mediação foi realizado em
diferentes contextos como passeios, festas da escola e uma viagem. Foi possível observar
que a relação emocional existente entre criança e mediadora estreitou-se após essa viagem,
visto que a mesma tornou-se responsável por situações cotidianas extra-escolares,
conquistando ainda mais a confiança de aluno.
A mediadora é alguém que a criança tem a certeza de estar sempre perto, de
recorrer para dúvidas e soluções de problemas, tal relação propicia o desenvolvimento de
um afeto, porém este não pode ser tão intenso a ponto de prejudicar a criança em seu
processo de escolarização se a mediadora não estiver presente.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
“A gente esquece até que o Luis é inclusão, né? Porque é tão suave, tão
querido, tão faz parte do grupo...”
“O Luis como inclusão, ele parece que nem é inclusão, porque ele foi...
ele é o mais querido, ele está aqui na escola, ele só tem uma dificuldade
motora...”
Observando estas duas falas e toda a forma como a escola realiza esse trabalho,
verificamos que este aluno faz parte de um processo de inclusão efetivo, onde os aspectos
cognitivo, motor e social são desenvolvidos como devem ser o de todas as crianças em
idade escolar.
O desenvolvimento de Luis condiz, de forma geral, com o do restante dos alunos de
sua turma. Este estudo serviu para evidenciar a importância de crianças como ele
freqüentarem escolas regulares, pois à medida que ocorrem, no geral, adaptações que
proporcionam maiores possibilidades no processo de aprendizagem, em outras situações
seu processo de aprendizagem consegue acompanhar a turma sem necessidades de
adaptações. Ou seja, quanto mais facilidades as adaptações e os recursos trouxerem, maior
será a chance de o aluno manter-se no mesmo ritmo de sua turma.
Verificamos nesse aspecto o que Vygotsky (1896 – 1934) chamou de Zona de
Desenvolvimento Proximal (ZDP), ou seja, a distância entre o nível de desenvolvimento
real, determinado pela capacidade de resolver um problema sem ajuda, e o nível de
desenvolvimento potencial, determinado pela resolução de um problema através da
orientação de um adulto ou em colaboração com outro companheiro. Para Luis, aprender
com a turma é a própria ZDP, ou seja a distância entre seus dois níveis, pois, sua satisfação
pessoal ao estar em contato com o grupo colabora para um maior interesse na
aprendizagem.
Observando ser esse um processo positivo de inclusão, voltamos ao foco central
deste trabalho: a mediação. A utilização da mediação é válida não apenas para a criança,
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como para os demais profissionais da escola, ambos se sentem mais seguros e confiantes
no trabalho a ser realizado quando este ocorre em conjunto. E, sendo esse um caminho de
mão dupla, a mediadora realiza melhor o seu trabalho quando há acolhimento da escola. O
trabalho, quando realizado em equipe, possui uma melhor qualidade. Não adiantaria incluir
uma criança com mediação se ambas estiverem isoladas dentro do cotidiano da escola.
Observamos nessa pesquisa um acolhimento da escola com a mediadora. Mesmo sem ser
funcionária da instituição, esta é parte da equipe, pois trabalha com os demais
profissionais.
Em relação à importância do trabalho de mediação, em entrevista uma das
professoras chegou a afirmar que:
Talvez a inclusão sem mediação não seja utópica, mas talvez mais difícil de ter
sucesso, pelo menos, para um grupo significativo de alunos. O importante é que
independente de como se estruture, ou se denomine, o trabalho deste profissional de apoio
(às vezes também chamado de facilitador), ele possibilita uma intervenção diária individual
para alunos com necessidades especiais, que o professor regente, em sala com muitos
outros alunos, não conseguiria. Um tempo maior para a aprendizagem, uma conversa mais
tranqüila em situações de conflito, um incentivo, uma palavra, tudo o que for necessário
para auxiliar esse educando, proporcionando-lhe uma educação de qualidade, algo
fundamental, em se tratando de um processo de escolarização, mas, mais do que isso, o
direito de ser respeitado. Uma criança, que necessita e tem como suporte uma mediação,
em uma classe onde os demais alunos entendem a função desse outro profissional em sala,
é alguém que teve direito à acessibilidade ao currículo. Assim como um cadeirante precisa
de rampas, determinadas crianças precisarão de profissionais que funcionem como suas
rampas de acesso a aprendizagem.
Dessa forma, para os profissionais da escola a mediação é fundamental, pois, como
já comentado, eles reconhecem que o professor sozinho em sala não é capaz de atender a
todas as necessidades específicas desse aluno e de todo o resto da turma. Contudo, tal
34
inclusivas, que não cumprem a Lei, apenas, mas que possibilitam mais do que instrução e
socialização, proporcionam dignidade.
Criança, escola e mediação, um conjunto em prol de um único objetivo, que
separados não obteriam o mesmo sucesso, mas trabalhando em conjunto são capazes de
muitas realizações.
36
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
MANTOAN, M. T. E. Inclusão Escolar: o que é? por que? como fazer?. São Paulo:
Moderna, 2006.
MÜLLER, T. M. P. & GLAT, R. Uma professora muito especial. Rio de Janeiro: 7Letras,
2007.
http://www.assistiva.com.br/Introducao%20TA%20Rita%20Bersch.pdf
BERSCH, Rita. Introdução à Tecnologia Assistiva CEDI • Centro Especializado em
Desenvolvimento Infantil. Porto Alegre, RS, 2008. Acesso em: 23/09/2009.
http://www.comunicacaoalternativa.com.br/adcaa/inclusao/inclusao.asp
PELOSI, Miryam. Acesso em 27/09/2009.
ANEXOS
Diretora
Coordenadoras
Professores
Teste de Língua Portuguesa – 4° bimestre – 3° ano – 2009 – Teste adaptado para Luis
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