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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL

ESCOLA DE HUMANIDADES
PEDAGOGIA EDUCAÇÃO INFANTIL E ANOS INICIAIS

SAMONE DA ROSA LUCENA DE OLIVEIRA

ESTRATÉGIAS PEDAGÓGICAS NO ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL DE CRIANÇAS EM


ABRIGOS NA CIDADE DE PORTO ALEGRE

Porto Alegre
2021
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL
ESCOLA DE HUMANIDADES
PEDAGOGIA EDUCAÇÃO INFANTIL E ANOS INICIAIS

SAMONE DA ROSA LUCENA DE OLIVEIRA

ESTRATÉGIAS PEDAGÓGICAS NO ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL

DE CRIANÇAS EM ABRIGOS NA CIDADE DE PORTO ALEGRE

Porto Alegre

2021
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL - PUCRS

ESCOLA DE HUMANIDADES – CURSO DE PEDAGOGIA

ESTRATÉGIAS PEDAGÓGICAS NO ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL

DE CRIANÇAS EM ABRIGOS NA CIDADE DE PORTO ALEGRE

SAMONE DA ROSA LUCENA DE OLIVEIRA

Porto Alegre

2021
SAMONE DA ROSA LUCENA DE OLIVEIRA

ESTRATÉGIAS PEDAGÓGICAS NO ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL

DE CRIANÇAS EM ABRIGOS NA CIDADE DE PORTO ALEGRE

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


como requisito parcial para a obtenção do grau
de Licenciado em Pedagogia-Educação Infantil
e Anos Iniciais da Escola de Humanidades da
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande
do Sul.

Orientadora: Profa. Dra. Mónica de la Fare

Porto Alegre

2021
SAMONE DA ROSA LUCENA DE OLIVEIRA

ESTRATÉGIAS PEDAGÓGICAS NO ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL

DE CRIANÇAS EM ABRIGOS NA CIDADE DE PORTO ALEGRE

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


como requisito parcial para a obtenção do grau
de Licenciado em Pedagogia-Educação Infantil
e Anos Iniciais da Escola de Humanidades da
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande
do Sul.

Aprovado em __de ___________________de 2021.

BANCA EXAMINADORA

Orientadora: Profa. Dra. Mônica de la Fare - PUCRS

________________________________________________________________

Convidado (a): Profª. Dr. Nome - Instituição

_________________________________________________________________

AGRADECIMENTO
Gostaria de agradecer a realização deste trabalho primeiramente a Deus por
ter me guiado a chegar até aqui, aos meus pais Simone e Paulo que
incondicionalmente estiveram ao meu lado me dando toda a base para concretizar
meus sonhos, a minha amada vó (em memória) Maria Madalena a estrela mais linda
que brilha no céu, a minha filha Maria Julia por ser meu bem maior, a força que me
segurou até aqui .
E gostaria de agradecer a mim mesma que mesmo com traumas fortes que
carreguei pensei positivo e acreditei no meu potencial, hoje sei que sou mais forte,
DEUS É FIEL.
“Professor não é o que ensina, mas o que
desperta no aluno a vontade de aprender’’.
Jean Piaget
RESUMO

ESTRATÉGIAS PEDAGÓGICAS NO ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL DE


CRIANÇAS EM ABRIGOS NA CIDADE DE PORTO ALEGRE

AUTORA: Samone da Rosa Lucena de Oliveira


ORIENTADORA: Profa. Dra. Mônica Fare

O presente trabalho tem a finalidade de refletir sobre o acolhimento institucional de


crianças na cidade de Porto Alegre, bem como a contribuição, importância da
Pedagogia e a aplicação de suas práticas nesses ambientes. O objetivo central é
compreender a funcionalidade na prática desses educadores e o convívio com
crianças abrigadas, sob o ponto de vista de como as práticas pedagógicas podem
servir como algo produtivo para a educação e desenvolvimento das crianças
abrigadas até então. Para esta pesquisa foi realizado estudo exploratório e
qualitativo, bem como foram realizadas entrevistas com profissionais da área,
educadores sociais que atuam dentro dos abrigos e casas lares do município com
intuito de melhor entendimento sobre a temática, justificando assim a função não
apenas de aprendizagem, mas de socialização na infância. Os passos
metodológicos incluíram a pesquisa do estado do conhecimento focalizado em teses
e dissertações do período 2012 a 2020 e o estudo de obras de autores como
Libâneo (2002), Barros e Holanda (2021), Chesini (2015), Sousa et al. (2020), dados
do IPEA (Instituto de Pesquisas Econômicas e Aplicadas – 2014 a 2020 que
corroboram para elaboração do marco teórico deste estudo. A partir de duas
entrevistas semiestruturadas realizadas com profissionais de Educação Social e
Serviço Social se aborda A função do pedagogo no acolhimento institucional de
crianças e se enfatiza a importância dos mesmos para o processo de aprendizagem
das crianças em situação de abrigo. A pesquisa realizada permitiu analisar as
estratégias pedagógicas que assessoram na acolhida e desenvolvimento
pedagógico nos processos de acolhimento institucional de crianças e adolescentes
em abrigos na cidade de Porto Alegre.

Palavras-Chave: Acolhimento; Abrigos; Crianças abrigadas; Práticas pedagógicas;


Vulnerabilidade social.
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .......................................................................................10
1.1 Objetivo Geral .........................................................................................11
1.1.1 Objetivos Específicos ..............................................................................12
2 ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL DO PEDAGOGO............................ 14
2.1 ESTADO DO CONHECIMENTO.............................................................14
2.2 O ACOLHIMENTO EM ABRIGOS – REFERENCIAL TEÓRICO............17
2.3 VULNERABILIDADE SOCIAL.................................................................18
2.4 ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL, EM PORTO ALEGRE.....................20
2.5 AS CRIANÇAS E OS ADOLESCENTES ABRIGADOS..........................20
2.6 A PEDAGOGIA DENTRO DO ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL.........21
3 AS VOZES DOS ENTREVISTADOS .....................................................24
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................28
5 REFERÊNCIAS.......................................................................................29
6 APÊNDICE ............................................................................................31
10

1 INTRODUÇÃO

Este trabalho focaliza as práticas pedagógicas e sua influência sobre as


crianças em instituições de acolhimento institucional que fornece atendimento e
serviço à crianças sob medidas protetivas por determinação judicial, conforme
previsto no artigo 101, inciso VII, da Lei Federal nº 8069/1990, o Estatuto da Criança
e do Adolescente (ECA).
O afastamento da família, cuja competência para decisões do mesmo do seio
familiar é exclusiva do Poder Judiciário, quando se torna necessário como último
recurso adotado para assegurar a integridade física e psicológica de uma criança ou
de um adolescente, ocorre em casos de violação de direitos, como: abandono,
negligência ou violência como preconizado no artigo 24 do Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA):

Art. 24. A perda e a suspensão do poder familiar serão decretadas


judicialmente, em procedimento contraditório, nos casos previstos na
legislação civil, bem como na hipótese de descumprimento injustificado dos
deveres e obrigações a que alude o art. 22. (Art. 22. Aos pais incumbe o
dever de sustento, guarda e educação dos filhos menores, cabendo-lhes
ainda, no interesse destes, a obrigação de cumprir e fazer cumprir as
determinações judiciais.) (BRASIL, 1990)

Diniz et al. (2018) relatam que tal serviço busca melhorar e fortalecer as
relações familiares, enquanto a família está impossibilitada de ficar com essa criança
ou adolescente, com o intuito de garantir o retorno seguro ao lar, o mais breve
possível. Quando isso não ocorre, uma família substituta começa a ser viabilizada -
através de adoção, guarda ou tutela – para que a criança ou o adolescente possa
voltar a ter um convívio familiar e não fique institucionalizada (em um abrigo ou casa
lar).
Essa relevância é explicada por Diniz et al. (2018) quando afirma que o
afastamento provisório ou permanente da criança de seu contexto familiar; o
rompimento dos laços afetivos com a família de origem; a escassez de vínculos
afetivos alternativos na instituição; dentre outros aspectos, acarretam impactos
significativos para o desenvolvimento socioafetivo da criança abrigada. Então, entra
em cena o pedagogo.
11

O profissional da pedagogia nesses espaços tem a missão de ressignificar o


espaço de acolhimento, uma vez que também se trata de um espaço de cuidados,
de estimulação infantil, para que as crianças se reconheçam na busca da autoestima
e do resgate de sua identidade.
O trabalho pedagógico vai além da escolarização ou do reforço escolar, ele é
necessário para proporcionar um ambiente saudável e significativo, através de
práticas, estratégias e intervenção na tentativa de amenizar os conflitos vivenciados
por essas crianças e adolescentes.
É através da metodologia que se esclarece as etapas e os instrumentos
utilizados, dessa forma, apresenta-se com destaque na construção do trabalho
cientifico. Com base em Gil (2002, p. 8) a cientificidade de um trabalho é resultado
do caminho percorrido para tal produção.
Justifica-se a presente pesquisa com a temática elegida à entender e analisar
qual é o papel do pedagogo dentro do ambiente institucional de acolhimento à
crianças na cidade de Porto Alegre.
Ao iniciar uma pesquisa em um espaço com fragilidades, histórias e lutas,
como os abrigos de crianças, é algo corajoso, pois dentro desses espaços possuem
histórias, contextos, pelo qual o acolhido chegou ali e que, na maioria das vezes,
foge de nossas próprias vivências.
Assim, pesquisar estratégias pedagógicas que ajudem os abrigados a
focarem em algo fora dos padrões do seu dia a dia e da sua história, faz parte do
caminhar de um pedagogo como agente de ressignificação desses espaços,
promovendo, provocando e estimulando o crescimento dos acolhidos.
Este trabalho aborda a função da Pedagogia no acolhimento institucional de
crianças e adolescentes, na cidade de Porto Alegre, a função da Pedagogia dentro
desses ambientes e o que ela acrescenta no desenvolvimento socioafetivo dos
abrigados. A seguir, se apresenta o objetivo geral e os objetivos específicos.

1.1. Objetivo Geral

Conhecer à partir da reflexão sobre o acolhimento institucional e a


importância da Pedagogia nesses ambientes, quais estratégias pedagógicas
auxiliam no processo de acolhimento institucional de crianças e adolescentes
12

abrigados, sendo o objetivo geral deste trabalho analisar estratégias pedagógicas


que auxiliam no processo de convivência em acolhimentos institucionais de crianças
e adolescentes em abrigos na cidade de Porto Alegre.
A esse objetivo geral se articulam os seguintes objetivos específicos.

1.1.1 Objetivos Específicos

● explorar estratégias usadas por educadores sociais para acolher crianças e


adolescentes em situação de abrigo;
● identificar como a Pedagogia colabora no desenvolvimento da criança e do
adolescente abrigado;
● reconhecer estratégias pedagógicas que mediam conflitos, dentro dos
abrigos, com os acolhidos.
Para atender a esses objetivos, esse trabalho foi realizado através de um
trabalho inicial de pesquisa bibliográfica, proposto com a finalidade de coletar
informações coerentes para a construção de uma crítica construtiva dos textos,
considerando seu valor científico.
A pesquisa foi realizada por meio de entrevista semiestruturada e
bibliográfica. Para Lakatos e Marconi (2003), a pesquisa bibliográfica é:
A pesquisa bibliográfica é um apanhado geral sobre os principais
trabalhos já realizados, revestidos de importância, por serem
capazes de fornecer dados atuais e relevantes relacionados com o
tema. O estudo da literatura pertinente pode ajudar a planificação do
trabalho, evitar publicações e certos erros, e representa uma fonte
indispensável de informações, podendo até orientar as indagações
(p.158).

Sendo assim, essa pesquisa assumirá um caráter qualitativo, pois como


afirma Mascarenhas (2012), esse tipo de pesquisa traz a possibilidade de um maior
detalhamento do fenômeno estudado, o que consequentemente proporciona uma
maior aproximação do pesquisador com seu objeto de estudo. O autor menciona
algumas características presentes no estudo qualitativo, entre elas, “os dados são
levantados e analisados ao mesmo tempo, os estudos são descritivos, voltados para
compreensão do objeto e o pesquisador tem uma influência no processo,
considerada fundamental” (MASCARENHAS, 2012, p. 46).
A metodologia também conta com entrevistas de profissionais da área
(Educadores Sociais), que trabalham e vivem diariamente essa realidade da vida
13

dessas crianças e adolescentes, dentro de abrigos e casas lares na cidade de Porto


Alegre, chegando às respostas e opiniões desses profissionais, contextualizando
essas vivências, já que essas crianças e adolescentes têm uma bagagem inicial
dolorosa e, muitas vezes, não sabemos as razões que as levaram ao acolhimento
institucional, mas temos certeza que os motivos não são agradáveis.
O trabalho está dividido em capítulos, descritos a saber: Na primeira parte se
apresenta o Estado do conhecimento sobre o tema, relatando a condição de
acolhimento em abrigos, as dificuldades de adaptação e a importância da atenção
aos mesmos uma vez que se cria vínculos afetivos por convivência.
Na segunda parte do trabalho a questão da vulnerabilidade social, fator tão
marcante em nossa sociedade, com consequências como o risco de até mesmo
segregação social.
Na terceira parte abordará sobre as crianças e adolescentes abrigados, um
recomeço e esperança para os mesmos.
Na quarta parte retratará a situação do profissional da pedagogia, o
pedagogo, que desempenham atividades pedagógicas com as crianças e
adolescentes abrigados, a essencial função educativa.
14

2. ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL DO PEDAGOGO

O presente capítulo está decomposto em subcapítulos referentes ao tema em


questão, objeto do trabalho, o acolhimento institucional em abrigos, a questão da
vulnerabilidade social, como ocorre o acolhimento em Porto Alegre, das crianças
abrigadas e a função do profissional de pedagogia dentro do acolhimento
institucional.

2.1. ESTADO DO CONHECIMENTO

O estado de conhecimento se dá através da identificação, do registro e da


categorização que conduzam à reflexão e síntese acerca da produção cientifica de
uma determinada área do conhecimento, estabelecendo um determinado espaço de
tempo, congregando periódicos, teses, dissertações e livros acerca de uma
temática, e no caso específico deste artigo “Estratégias Pedagógicas no
Acolhimento Institucional de crianças em abrigos na cidade De Porto Alegre”.
Sublinhe-se que essa ferramenta contribui de forma significativa para o
desenvolvimento inicial da pesquisa.
Deste modo para a construção do Estado do Conhecimento, inicialmente
foram selecionados os descritores, com a finalidade de auxiliar no enquadramento
teórico para o alcance dos objetivos sendo eles: ‘‘Acolhimento Institucional em
Abrigos’’; ‘‘Abrigos de adolescentes e crianças”; ‘‘Pedagogia em acolhimento’’ e
‘‘Pedagogia em Abrigos’’.
Posteriormente procedeu-se a busca nas bases de dados, sendo elas:
Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT) e Biblioteca
Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD) tendo como critério de inclusão
teses e dissertações publicadas entre os anos de 2015 e 2020, sendo que os
resultados apresentados se encontram expostos pela Tabela 1:
15

Tabela 1. Construção da apropriação de fontes no banco de dados do IBCT e BDTD

Palavras-chave Tipo de Busca Resultados Resultados


Encontrados Utilizados

Acolhimento institucional em Geral 16 1


abrigos

Abrigo de adolescentes e Geral 18 1


crianças

Pedagogia em acolhimento Geral 28 1

Pedagogia nos Abrigos Geral 21 1

Fonte: Elaborado pela própria autora.

O quadro 2 demonstra os resultados das pesquisas constantes no quadro 1,


referentes às pesquisas bibliográficas elegidas para o estudo e interpretações.

Tabela 2. Resultados das Pesquisas Bibliográficas

Ano Autor Tema

2021 Barros e Holanda Proposta de um abrigo institucional para


crianças e adolescentes

2015 Chesini Pedagogos (as) em instituições de


acolhimento: fazeres e saberes

2020 Sousa et al. O papel do pedagogo em abrigos


institucional

2021 Prefeitura de Porto Serviço de Acolhimento para Crianças e


Alegre Adolescentes

Fonte: Elaborado pela própria autora.

Em relação ao Acolhimento Institucional em Abrigos, este conforme


estabelecido pela Prefeitura de Porto Alegre (2021) é definido como uma instituição
onde são desenvolvidos programas específicos de proteção especial de abrigo na
modalidade de acolhimento institucional. Vale frisar que o termo “acolhimento
institucional” foi instituído pelo Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do
Direito de Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária (PNCFC)
16

no sentido de definir os programas de abrigos em entidades, como sendo aqueles


que acolhem crianças e adolescentes que se encontram sob medida protetiva,
aplicadas nas situações dispostas no Art.98 do ECA, ou seja, quando estas se
encontram vulneráveis em virtude da omissão dos pais e/ou responsáveis ou que
tenham sido vítimas de abuso (ECA, 1990).
No concernente ao descritor “Abrigo de adolescentes e crianças” Barros e
Holanda (2021, p. 143) defendem que:

As crianças e adolescentes que se encontram em situação de


vulnerabilidade, como abandono por suas famílias, situações de risco social
ou pessoal, e ou que tiverem seus direitos violados, possuem o direito de
habitar abrigos institucionais, que ofereçam acolhimento, cuidados, proteção
e espaços para socialização e desenvolvimento integral. Sendo um dever
público municipal de cada cidade, oferecer um espaço adequado para
amparar e acolher essas crianças e adolescentes, dando total assistência,
estabilidade física e emocional. (HOLANDA, 2021, p. 143)

No tocante ao termo “Pedagogia em Acolhimento”, Chesini (2015) evidencia a


relevância do profissional pedagogo neste contexto buscando apresentar quais as
suas contribuições para o desenvolvimento das crianças e dos adolescentes
institucionalizados. Na percepção da autora, o pedagogo exerce atividades dos
diversificados, atendendo tanto às demandas deste universo, quanto traçando
percursos e alternativas para a efetividade do processo de escolarização crianças e
adolescente acolhidos, considerando que em decorrência das inúmeras situações
conflitantes pelas quais estes provavelmente perpassaram poderão impactar a
aprendizagem dos mesmos.
Acerca da “Pedagogia nos Abrigos”, Sousa et al (2020, p. 7) chama a atenção
para o fato de que o pedagogo ao laborar em espaços de educação não-formal,
pode além de agregar conhecimentos ao seu capital intelectual pode ter o seu olhar
modificado tendo em vista que este se modifica pois:

[...] na sala de aula tudo se refere a livros, cadernos, avaliações, didáticas,


cronogramas, rendimentos, comportamentos e planejamentos. Logo,
trabalhar em espaços não-escolares propicia várias oportunidades de
conhecer o papel diferenciado do pedagogo, já que os métodos mudam, de
acordo com o ambiente e as instituições, assim, requerem didáticas que
motivem os indivíduos a se reconhecerem melhores através do ato
educativo. (SOUSA et al, 2020, p. 7)
17

Deste modo, tais ponderações revelam a necessidade de que este


profissional seja inserido em outros ambientes de forma intervenções
socioeducativas sejam idealizadas como medidas para suprir as necessidades
educacionais e sociais de crianças e adolescentes abrigados.

2.2. O ACOLHIMENTO EM ABRIGOS: REFERENCIAL TEÓRICO

O presente subcapítulo apresenta o embasamento teórico do trabalho, com


explanações sobre o processo de acolhimento institucional, na cidade de Porto
Alegre, e a importância das práticas pedagógicas para os acolhidos.
Realizando pesquisas sobre crianças acolhidas, através das palavras
“abrigo”, “adolescente”, "criança" e "instituição de acolhimento", encontrou-se um
conjunto de textos que embasaram esse trabalho. Durante a exploração desses
textos, buscou-se os que melhor trouxessem a situação de crianças e adolescentes
abrigados e as práticas pedagógicas que auxiliam nessa institucionalização.
Corsaro (2009), em suas pesquisas com crianças, apresenta o conceito de
reprodução interpretativa ao explicar que a criança tem contribuição ativa para a
preservação e mudança social, além de indicar que elas criam e participam de suas
culturas por meio da apropriação de informações do mundo adulto de forma a
atender aos seus interesses próprios enquanto crianças, como cita:

As crianças apreendem criativamente informações do mundo adulto para


produzir suas culturas próprias e singulares”. Esse conceito incorpora a
ideia de que as crianças contribuem ativamente tanto para a preservação
como para a mudança social (CORSARO, 2009, p. 31).

De tal modo, segundo Corsaro (2009, p. 31) as crianças assimilam e seguem


exemplos dos adultos com quem convivem, e na situação das abrigadas é essencial
para a formação pessoal e cultural.
Os estudos de Rossetti-Ferreira et al (2012) apontam que, em situações de
acolhimento, abrigamento e adoção, a criança é o sujeito menos ouvido. Muito se
fala dela, do seu melhor interesse, mas ela é pouco informada e escutada sobre
seus sentimentos, medos e experiências. A criança, segundo as autoras,
desconhecem os motivos por estarem acolhidas, nem o tempo previsto e muito
18

menos o que acontecerá com ela, como um futuro de incertezas, trazendo medos e
inseguranças.
Ainda de acordo com Rossetti-Ferreira et al (2012), é percebível que, por
dificuldade dos profissionais dos abrigos e dos pais adotivos e, também, na tentativa
de amenizar o sofrimento das crianças, o passado lhes é negado. O esforço é para
que sua história de vida seja esquecida. Neste movimento, no qual a conversa entre
adultos e crianças é quase inexistente, todos saem perdendo, principalmente a
criança. Como construir um futuro se não há passado?
O estudo “O direito à convivência familiar e comunitária: os abrigos para
crianças e adolescentes no Brasil”, conduzido pelo Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (IPEA), em parceria com o Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do
Adolescente – CONANDA, com o apoio da Subsecretaria de Promoção dos Direitos
da Criança e do Adolescente, da Secretaria Especial dos Direitos Humanos, apontou
que cerca de 33.000 crianças e adolescentes estão em abrigos em todo o Brasil. A
partir da análise de 589 instituições, concluiu-se que a maior parte das crianças
abrigadas é composta por negros provenientes de famílias de baixa renda. (IPEA,
2014, p. 67)
O estudo ainda aponta que o principal motivo de abrigamento da população
infanto-juvenil pesquisa é a carência de recursos materiais da família (24,1%),
seguido do abandono pelos pais ou responsáveis (18,8%). (IPEA, 2014, p. 67). E
apesar do senso comum que diz que a maioria dos abrigados são órfãos, 80% das
crianças e adolescentes institucionalizados têm família, sendo que 58% delas
mantêm vínculo com seus familiares. (IPEA, 2014, p. 67)
Assim sendo, os autores citados nesse subcapítulo evidenciam que as
atividades de acolhimento dos abrigos são fundamentais para a socialização,
formação, cuidados e o trabalho educacional com essas crianças abrigadas
fornecem o suporte pedagógico.

2.3. VULNERABILIDADE SOCIAL E O ACOLHIMENTO

Para Kaztman (2001), a vulnerabilidade social é o que conceitua como uma


condição de indivíduos ou grupos em situação de fragilidade, que os tornam
expostos a riscos e a níveis significativos de desagregação social, vulnerabilidade
19

social é o resultado de qualquer processo de exclusão, discriminação ou


enfraquecimento de indivíduos ou grupos, provocado por fatores, tais como pobreza,
crises econômicas, nível educacional deficiente, localização geográfica precária e
baixos níveis de capital social, humano, ou cultural, dentre outros, que gera
fragilidade dos atores no meio social.

A vulnerabilidade social traduz-se na dificuldade no acesso à estrutura de


oportunidades sociais, econômicas e culturais que provêm do Estado, do
mercado e da sociedade, resultando em debilidades ou desvantagens para
o desempenho e mobilidade social dos atores. As desvantagens com
respeito às estruturas de oportunidades resultam em um aumento das
situações de desproteção e insegurança, o que põe em relevo os problemas
de exclusão e marginalidade. (KAZTMAN, 2001, p. 48)

Desta forma Kaztman (2001) baliza que a vulnerabilidade social, entre várias
concepções, pode ser definida como a dificuldade ao acesso dos processos
estruturais que ocorrem na sociedade, como a falta de recursos econômicos e
culturais da pessoa em situação vulnerável.
A pobreza, os indicadores de renda abaixo da média, as insatisfações com as
necessidades básicas como alimentação, habitação, higiene, saneamento básico
também são fatores que indicam a vulnerabilidade que acarreta de certa forma em
desvantagens sociais.citação
Os que mais sofrem com a situação de vulnerabilidade são as crianças, em
que o desenvolvimento é prejudicado, como alude Souza et al. (2019):

Em um contexto de extrema desigualdade social, as famílias têm


encontrado dificuldades para cumprir tarefas básicas de proteção e suporte
social aos seus membros mais frágeis e dependentes: a vulnerabilidade
social, que se traduz pelo acesso precário ao trabalho, renda e
escolarização, afeta a trajetória das famílias, e de forma direta o cuidado
com suas crianças e adolescentes. (SOUZA ET AL., 2019, p. 3)

Se nota que a vulnerabilidade social direta ou indiretamente afeta a vida das


crianças e adolescentes que vivem essa situação, fragilizando tarefas básicas, além
da segurança e proteção, colocando as mesmas em situação de riscos, que muitas
vezes são retiradas do seio familiar para o serviço de acolhimento.
20

2.4 ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL EM PORTO ALEGRE

Na cidade de Porto Alegre, o serviço de acolhimento para crianças e


adolescentes possui funcionamento ininterrupto (24 horas) e atua nas modalidades:
Casa Lar, Abrigo Residencial e Acolhimento Familiar. Segundo a Prefeitura da
cidade, atualmente o município dispõe de 32 Casas Lares e 18 Abrigos
Residenciais, além do Programa Família Acolhedora, totalizando 681 vagas para o
acolhimento municipal.

As etapas do Acolhimento Institucional são baseadas nos princípios da


preservação dos vínculos familiares e promoção da reintegração familiar, na
integração em família substituta, quando esgotados os recursos de
manutenção na família natural ou extensa ou de origem, no atendimento
personalizado e em pequenos grupos, no desenvolvimento de atividades em
regime de coeducação, do não desmembramento de grupos de irmãos,
evitando-se, sempre que possível, a transferência para outras entidades de
crianças e adolescentes abrigados, na participação na vida da comunidade
local, na preparação gradativa para o desligamento e participação de
pessoas da comunidade no processo educativo. (PORTO ALEGRE, 2021,
s.p.)

Segundo o programa de acolhimento do município de Porto Alegre (Porto


Alegre, 2021), o acolhimento institucional é imediato e toda criança ou adolescente
acolhido tem sua situação reavaliada, no máximo, a cada seis meses, não
permanecendo por mais de 18 meses na instituição, salvo necessidade de superior
interesse, fundamentada pelo Poder Judiciário, único órgão competente na decisão
de afastamento familiar, uma vez que o Conselho Tutelar só pode assim agir se em
caráter excepcional e de urgência, comunicando o Juiz da Infância e da Juventude,
em até 24 horas.

2.5 AS CRIANÇAS E OS ADOLESCENTES ABRIGADOS

A vida dessas crianças e adolescentes abrigados, muitas vezes, é um


recomeço. O estado de vulnerabilidade delas traz aos educadores uma missão
complexa: manter uma segurança e um avanço positivo para os acolhidos.
Conviver em uma instituição de acolhimento é buscar um novo eu, uma nova
identidade, pois se está distante da família e do que se conhece,
21

independentemente de ser bom ou ruim. Então, as práticas pedagógicas precisam


auxiliar essa busca, não ocultando as experiências anteriores, mas possibilitando um
leque de oportunidades para o desenvolvimento psicossocial de cada acolhido.
(BORGES, 2013, p. 4)
Ribeiro (2020, p. 48) relata que crianças e adolescentes abrigados possuem
carências devido a um passado que foi permeado por situações que os colocaram
em perigo ou em vulnerabilidade, onde os vínculos familiares sofreram rupturas ou
foram perdidos. Muitas são separadas dos irmãos, tanto pela alocação em
instituições diferentes, quanto pelo processo de adoção ou, ainda, condições de
retorno à casa de algum familiar. Isso gera uma dificuldade maior ao irmão que fica
abrigado, permanecendo dentro do lugar de acolhimento, que acaba se vendo como
não merecedor ou como alguém não desejado.
Para Ribeiro (2020) estar em uma situação de abrigado é adquirir vínculos
temporários, devido aos casos de adoção e retorno familiar, ou diferentes
profissionais que as cuidam. São vínculos que, para o futuro, podem trazer enormes
benefícios, mas que duram pouco, pois sua passagem dentro dos lugares em que
são acolhidos são instáveis, dependendo da situação de vida da criança e muitas
questões surgem na cabeça dos abrigados, principalmente a dúvida de qual motivo
o levou a estar em um local onde possuem muitas crianças na mesma situação de
vulnerabilidade e, muitas vezes, acabam sentindo muita pressão ou muitos
sentimentos contraditórios que atrapalham seu desenvolvimento. Os educadores
sociais, por vezes, acabam criando vínculos paternos/maternos pela convivência e
por serem referências dentro dos abrigos, figurando como autoridade e como
responsável pela educação e pelo desenvolvimento das crianças e adolescentes
que ali estão.

2.6 A PEDAGOGIA DENTRO DO ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL

De acordo com Ribeiro (2020, p. 64) dentro das instituições acolhedoras, seja
Casa Lar, Abrigo Residencial ou Acolhimento Familiar, as crianças e adolescentes
chegam após vivenciarem uma vulnerabilidade social, sendo por isso fundamental
que a Pedagogia atue com sensibilidade, através de um olhar atento, amoroso,
respeitoso e individual para ouvir e perceber as necessidades, os desejos, os medos
e o trabalho dos pedagogos é fundamental, que de forma interdisciplinar com os
22

assistentes sociais, psicólogos, com toda a rede e ferramentas públicas, resultando


com a atuação de outros profissionais do espaço, possibilidades de melhorar a
formação de identidade e de visão política e social, provocando uma análise crítica
de situações cotidianas.

Precisamos ressignificar também os preconceitos existentes neste espaço,


seja da comunidade escolar para com a criança e ao adolescente de
acolhimento e dele para a comunidade escolar. [...] “É importante
desenvolver nos indivíduos um pensamento mais crítico, levando em
consideração suas experiências e valorizando suas especificidades. [...]
enquanto agente de mudança, é fundamental apresentar caminhos,
condições, ambientes de aprimoramento e formação educativa na
sociedade. ” (DAMAS, 2021)

Para Leal (2017, p. 28) “os profissionais que atuam nesses espaços precisam
se apropriar das leis e dos demais documentos que reconhecem o direito à
educação como garantia fundamental”, conferindo que a pedagogia permite exercer
a atuação em vários âmbitos, entre eles em instituições de acolhimento, como
educação não-formal, definida fora dos espaços educacionais como escolas.
Nas instituições de acolhimentos a educação é presente não-formalmente, o
educador social subsidia em cuidados básicos dentro da instituição, principalmente
em acompanhamento de atividades escolares, necessitando ter formação para
tanto, como delibera as orientações e técnicas para acolhimento de crianças e
adolescentes (BRASIL, 2009, p. 66): “para atuar na instituição de acolhimento como
educador/cuidador, é necessário obter uma formação mínima, como nível médio e
capacitação específica, desejável experiência em atendimento a crianças e
adolescentes”.
Para a Instituição da Função Vigilância Socioassistencial, estabelecida pela
Norma Operacional Básica do Sistema Único de Assistência Social, visando atender
e minimizar essas vulnerabilidades, lembra que o profissional de Pedagogia vem
sendo requisitado nas instituições de acolhimento, mesmo que sua profissão não
seja obrigatória nas equipes técnicas, conforme as normativas que delineiam o
trabalho dessas instituições. (BRASIL, 2012)
Chesini (2015) ainda sobre esse aspecto dos pedagogos nas instituições de
acolhimento, enfatiza que o trabalho desenvolvido apresenta melhor qualidade no
atendimento:
23

Percebendo-se intenso potencial educativo na instituição de acolhimento,


um lugar no qual predominam as populações mais carentes em termos
econômicos, um espaço da educação não formal, faz-se importante
problematizar as possibilidades de atuação do profissional da pedagogia
nesses espaços, com vistas à qualificação do atendimento prestado e,
consequentemente, ao melhor desenvolvimento de crianças e adolescentes
institucionalizados. (CHESINI, 2015, p. 44)
24

3 AS VOZES DOS ENTREVISTADOS


Nesse capítulo será serão apresentados e analisados os dados obtidos
através das entrevistas realizadas detalhado a metodologia elegida, que além da
qualitativa bibliográfica, a pesquisa contou com entrevistas com profissionais que
desempenham trabalho como orientadores educacionais em instituições de abrigo.
Acolhimento, seja na modalidade Casa Lar, Abrigo Residencial ou Acolhimento
Familiar, tem como objetivo acolher crianças em condição de vulnerabilidade social.
Esta situação necessita de um olhar aprofundado, voltado para o cotidiano dos
acolhidos, e a forma como a Educação, através das práticas pedagógicas, entra - ou
pode entrar - nesse meio de convívio institucional completar a frase.
Para esta pesquisa? Foram realizadas duas entrevistas com profissionais que
desempenham trabalho como orientadores educacionais em acolhimento: a
entrevistada 1 na Instituição de Acolhimento “A”, e o entrevistado 2 na Instituição de
Acolhimento B. Nesta pesquisa, para preservar o anonimato dos entrevistados se
optou por não identificar as instituições. As entrevistas realizadas se classificam
como com dimensão empírica por meio de entrevistas semiestruturadas, com
elaboração de roteiro prévio ao encontro com os entrevistados (Roteiro em
Apêndice I), com a finalidade de conhecer o funcionamento do acompanhamento
pedagógico nas instituições em que os profissionais atuam.
As entrevistas foram realizadas via telefone, em virtude do contexto da
pandemia do covid-19 que assola o mundo, e para evitar encontro e possível
contaminação, pensando nas crianças abrigadas, foi de comum acordo a realização
da mesma nesse formato.
Os entrevistados responderam as questões com muita tranquilidade e para o
resguardo dos indivíduos envolvidos na pesquisa será SERÃO DENOMINADOS
denominado como: entrevistado 1 e entrevistado 2.
Em linhas gerais, as entrevistas tiveram duração em média de 01h30min, na
sequencia de perguntas de roteiro semiestruturado com oito perguntas iguais para
os dois entrevistados, ocorrendo de forma amistosa.
As pessoas entrevistadas são da área pedagógica, com formação acadêmica
em pedagogia e serviço social, e como preconizada nas Orientações Técnicas para
Serviço de Acolhimento, determinadas pelo Conselho Nacional de Assistência Social
– Conanda (Brasil, 2009), as atribuições são:
25

Elaboração, em conjunto com o/a coordenador(a) e demais colaboradores,


do projeto político-pedagógico do serviço • Elaboração, em conjunto com
o/a cuidador/educador residente e, sempre que possível com a participação
das crianças e adolescentes atendidos, de regras e rotinas fundamentadas
no projeto político pedagógico da entidade • Acompanhamento psicossocial
dos usuários e suas respectivas famílias, com vistas à reintegração familiar;
• Apoio na seleção dos cuidadores/educadores residentes e demais
funcionários; • Capacitação e acompanhamento dos cuidadores/educadores
residentes e demais funcionários; • Encaminhamento e discussão /
planejamento conjunto com outros atores da rede de serviços e do Sistema
de Garantia de Direitos das intervenções necessárias ao acompanhamento
das crianças e adolescentes e suas famílias; (BRASIL, 2009, p.41)

Os entrevistados relataram que o local em que atuam profissionalmente é


bem estruturado e organizado, amplo, bem conservado e com ótimos recursos para
o atendimento.
As instituições relatadas na pesquisa são para acolhimento de crianças em
SITUAÇÃO DE vulnerabilidade social. A Instituição de acolhimento A, conforme site
próprio, cita suas características:
Tem por objetivo proporcionar o desenvolvimento integral e os direitos
fundamentais (saúde, educação, moradia, profissionalização, convivência
familiar), previstos no Estatuto da Criança e do Adolescente e na
Constituição Federal, por meio das políticas públicas e das parcerias
firmadas com o setor privado e sociedade civil. O Acolhimento Institucional
protege e atende crianças e adolescentes que, por determinação judicial,
foram afastadas de suas famílias por violação de direitos básicos.
São seis unidades, que recebem crianças e adolescentes, seguindo um
modelo arquitetônico semelhante ao de uma residência, acolhendo-os de
forma personalizada. Cada unidade possui a sua equipe técnica, composta
de psicólogo, assistente social, coordenação (guardião) e agentes de Ação
Social (educadores sociais).
Em 2020, entregamos para as crianças e adolescentes três Casas de
Acolhimento Institucional totalmente reformadas internamente. Nosso prédio
tradicional e tombado segue sendo revitalizado para melhorar, ainda mais, o
atendimento aos jovens vítimas de vulnerabilidade social que atendemos,
além do restauro das fachadas, que iniciará logo após a conclusão das
reformas internas. (Site Instituição de acolhimento A, 2021)

A Instituição de acolhimento B atende crianças em situação de


vulnerabilidade e com problemas sociais e/ou psicológicos, com as características
denotadas em site próprio:

MISSÃO: Promover a formação integral de crianças, adolescentes e


adultos, segundo os princípios éticos oportunizando-lhes condições para o
desenvolvimento de suas potencialidades, capacitando-os para o exercício
da cidadania.
VISÃO: Ser uma instituição que efetivamente colabora na promoção da vida
e na construção da cidadania.
26

PRINCÍPIOS: Responsabilidade; Éticos da autonomia; Solidariedade;


Respeito ao bem comum; Direitos e Deveres de cidadania; Exercício da
criticidade; Democracia.
OBJETIVOS:
Acompanhar ativamente a criança, o adolescente e o jovem em seu
processo de construção pessoal e interpessoal para o conhecimento, as
relações sociais e desenvolvimento de habilidades, oportunizando-lhes
desafios e vivências necessárias à ampliação de descobertas sobre si
mesmo, como ser individual e coletivo, gerando novas formas de ser, estar
e agir no mundo, transformando esta geração para implicações futuras de
uma sociedade melhor e mais justa com oportunidades de educação,
competências profissionais e de cidadania.(Instituição de acolhimento B,
2021)

Durante a entrevista foi possível perceber que A prática pedagógica nesse


contexto é como exercício de superação, porquanto o envolvimento das questões da
vulnerabilidade social inerente às crianças é fator de relevância além da questão de
ensino e aprendizagem. O contato entre abrigo e escola é direto, para facilitar as
atividades escolares, em que o diálogo é necessário entre as partes.
Como citado pela Entrevistada 1, em relação ser pedagogo no contexto de
vivência em instituição de acolhimento, como superação por conta das situações de
vulnerabilidade:
Um exercício de superação constante, devido às questões delicadas que
envolvem as situações que levaram as crianças e adolescentes a estarem
na instituição e, a maneira como os educandos lidam com isso e acabam
"descontando" nos educadores. (ENTREVISTADO 1, 2021)

As atribuições dos pedagogos no ambiente são é de contato direto com as


crianças, como suporte pedagógico, reforço das atividades, acompanhamento das
tarefas, apoio à aprendizagem, com intuito de envolver e desenvolver habilidades de
cada uma, como cita o entrevistado 2:
O pedagogo tem que saber respeitar a linha do limite, que aos poucos todos
vão cedendo conforme vão ganhando confiança e que mesmo não
querendo se cria um vínculo familiar pois os acolhidos são carentes e
conforme a atenção e carinho dado a eles o pedagogo vai encontrando a
melhor maneira de ajudar os educandos.(ENTREVISTADO 2, 2021)
A instituição possui um Projeto Político Pedagógico embora sempre necessite
de flexibilidade por conta das mudanças que ocorrem frequentemente no decorrer
do percurso, como as trocas e idas e vindas das crianças, relatado pelos
entrevistados:
Sim, possui. Mas não é seguido. Geralmente as aulas são preparadas com
o material que a criança traz da escola, e a verificação da dificuldade de
cada um, tentando resolver o processo de ensino-aprendizagem.
(ENTREVISTADA 1, 2021)
27

A instituição nunca nos informou de nada e nunca nos passou nada.


(ENTREVISTADO 2, 2021)

Para a elaboração das atividades pedagógicas, o pedagogo acompanha o


currículo escolar e os conteúdos propostos pelos professores, para assim
desenvolve-las. O Projeto pedagógico se faz necessário para nortear o
funcionamento:
Assim, o projeto pedagógico da instituição de acolhimento define a sua
identidade através da explicitação de sua função social; proporciona a
integração das linhas de ação distintas (Serviço Social, Psicologia e
Pedagogia), mas essenciais e complementares; dá a referência
metodológica necessária para direcionar, fundamentar e justificar as ações
voltadas para os acolhidos institucionalmente, suas famílias e funcionários
envolvidos neste universo [...], promovendo um atendimento personalizado
(IZAR, 2007, p. 87-88)

Após análise das entrevistas, se percebe que nem sempre o Projeto


Pedagógico da Instituição de acolhimento é seguido, conforme o entrevistado 2
relatou que nunca houve informação sobre o mesmo, portanto é de suma
importância que exista melhor atenção quanto a implantação nas instituições que
não dispõe ou não segue o documento.
28

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
De acordo com a pesquisa, as instituições de acolhimento de crianças e
adolescentes em situação de vulnerabilidade social demonstram importante função
na sociedade, com potencial não só acolhedor, mas de instrução educacional
também, visto o tempo que esses menores podem ficar abrigados.
Após a fundamentação da Constituição Federal (1988) e do Estatuto da
Criança e do Adolescente (1990) possibilitaram que as crianças e adolescentes
significassem e fossem entendidos como sujeitos de direitos, principalmente no que
tange à educação e socialização.
Vale ressaltar que as práticas pedagógicas realizadas em instituições de
abrigo no município de Porto Alegre tem contribuído para a formação pessoal e
social dessas crianças e adolescente abrigados.
As práticas pedagógicas visam não só o desenvolvimento cognitivo, mas
sobretudo os aspectos morais, sociais, afetivos, atendendo uma demanda não
apenas em Porto Alegre, mas no Brasil todo.
A temática é concluída com intensa repercussão na sociedade, com relevante
significado no preparo de espaços para tal finalidade de acolhimento.
As pesquisas realizadas leva à reflexão da relevância do papel do pedagogo
nas instituições, favorecendo o processo educacional, com acompanhamento do
rendimento das crianças em relação à escola, desenvolve o planejamento
pedagógico da instituição, elabora atividades tanto escolares quanto
interdisciplinarmente com os demais profissionais.
Conclui-se que o pedagogo desenvolve essencialmente, mesmo com desafios
e dificuldades, além das práticas pedagógicas, a valorização das experiências,
valorização e conscientização acerca da educação com proposta de mudanças na
formação educativa social.

5. REFERÊNCIAS
29

BARROS, A. M.; ARAÚJO HOLANDA, M. R. . Proposta de um abrigo institucional


para crianças e adolescentes no município de Pilar – AL. Caderno de Graduação -
Ciências Humanas e Sociais - UNIT - ALAGOAS, [S. l.], v. 6, n. 3, p. 142, 2021.
Disponível em: https://periodicos.set.edu.br/fitshumanas/article/view/9264. Acesso
em: 12 nov. 2021
BASSOLI, Eiza N.; FIGUEIREDO, Vanessa C. N. Desafios do trabalho de
educadoras sociais em casas de acolhimento. Revista Ibero-Americana de
Estudos em Educação, Araraquara, v. 15, n. esp. 3, p. 2396–2410, 2020.
Disponível em: https://periodicos.fclar.unesp.br/iberoamericana/article/view/14448.
Acesso em: 07 out. 2021.
BORGES, Lucivanda Cavalcante. Contextos de acolhimento: promovendo
práticas de atenção psicossocial a crianças e adolescentes em situação de
abrigo. UNIVASF: 2013. Disponível em: <
http://proex.univasf.edu.br/wp-content/uploads/2014/09/Contextos-e-acolhimentos-
anexo-II.pdf> . Acesso em: 30 out. 2021.
BRASIL. Lei 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e
do Adolescente e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 16 jul.
1990.
BRASIL, Conselho Nacional de Assistência Social. Conselho Nacional dos direitos
da criança e do adolescente. Orientações técnicas: serviços de acolhimento
para criança e adolescente. RESOLUÇÃO CONJUNTA CNAS/CONANDA Nº 1,
DE 07 DE JUNHO DE 2017. Estabelece as Diretrizes Políticas e Metodológicas para
o atendimento de crianças e adolescentes em situação de rua no âmbito da Política
de Assistência Social. 2017
CHESINI, Aline Andrioli. PEDAGOGOS (AS) EM INSTITUIÇÕES DE
ACOLHIMENTO: FAZERES E SABERES. UFPR, 2015. Disponível em:
https://acervodigital.ufpr.br/bitstream/handle/1884/38781/R%20-%20D%20-
%20ALINE%20ANDRIOLI%20CHESINI.pdf?sequence=2&isAllowed=y Acesso em:
31 out. 2021.
CORSARO, W. A. Reprodução interpretativa e cultura de pares. In F. Müller & A. M.
A. Carvalho (Orgs.), Teoria e prática na pesquisa com crianças: diálogos com
Willian Corsaro. (p. 31-50). São Paulo: Cortez, 2009.
DAMAS, Renata dos Santos. Conheça a importância e os obstáculos da
pedagogia social com Renata dos Santos Damas. Entrevista concedida a Bruna
Tissi, 2021. Disponível em: https://jtv.com.br/valinhos/conheca-a-importancia-e-os-
obstaculos-da-pedagogia-social-com-renata-dos-santos-damas Acesso em: 4 out.
2021.
DINIZ, Isabel A.; ASSIS, Márcia O.; SOUZA, Mayra F. S. DE. CRIANÇAS
INSTITUCIONALIZADAS: UM OLHAR PARA O DESENVOLVIMENTO
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FRANCO, Maria Amélia S. Práticas pedagógicas de acolhimento e inclusão: a
perspectiva da pedagogia crítica. Revista online de Política e Gestão
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IPEA – INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA. Portal do Governo
Federal.
30

IZAR, J. G. O Projeto Pedagógico em Abrigos. Monografia de Conclusão de Curso


(Pedagogia). Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo. 2007.
137 p.
KAZTMAN, R. Seducidos y abandonados: el aislamiento social de los pobres
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LIBÂNEO, J. C. Pedagogia e pedagogos, para quê? 6ª ed. São Paulo: Cortez,
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PORTO ALEGRE, Prefeitura Municipal de. Assistência Social. Serviço de
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RIBEIRO, Jully Gomes. Um Lar para Crianças e Adolescentes em
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Disponível em: < https://repositorio.ufpe.br/bitstream/123456789/39196/1/DISSERTA
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ROSSETTI-FERREIRA, Maria C. et al. Acolhimento de crianças e adolescentes
em situações de abandono, violência e rupturas. 2012. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/prc/a/fJytcznbjNXPXvTwVVZtBvN/?lang=pt Acesso em: 31
out. 2021.
31

APÊNDICE 1
QUESTIONÁRIO DIRIGIDO AO PROFISSIONAL DE PEDAGOGIA QUE
TRABALHA EM ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL

Nome da Instituição: Instituição de Acolhimento


Nome do entrevistado: Entrevistada 1
Formação acadêmica: Bacharel em Serviço Social
Tempo de trabalho na instituição de acolhimento: Um ano e meio
Forma de Ingresso: Indicação - Contrato
Idade: 25 anos

1. O que te levou a trabalhar em uma instituição de acolhimento?


Contato com a política de assistência social.

2. Como foi o início do trabalho e o que mais marcou?


O início foi tranquilo, pois tive apoio grande dos demais educadores. O que mais
marcou foi a estrutura física do local e os recursos da instituição.

3. Como o pedagogo pode atuar efetivamente em uma instituição de


acolhimento?
A efetividade dessa atuação está intimamente ligada ao trabalho em esquipe, pois
existem diversas questões que podem ser trabalhadas e os limites institucionais não
permitem.

4. Como é a experiência de ser pedagogo(a) nesse contexto?


Um exercício de superação constante, devido às questões delicadas que envolvem
as situações que levaram as crianças e adolescentes a estarem na instituição e, a
maneira como os educandos lidam com isso e acabam "descontando" nos
educadores.

5. Quais os desafios encontrados?


O maior desafio encontrado foi em relação a gestão, aparenta uma instituição muito
engessada e tudo sugerido pelos educadores por vezes é vetado e visto com maus
olhos. Dificultando o trabalho dos profissionais.

6. Como se estabelece a relação entre o abrigo e a escola?


Pela experiência que tive, os profissionais da equipe técnica tem contato direto com
os professores e facilidade para dialogar.

7. Quais as atribuições do pedagogo em uma instituição de acolhimento?


Lidar diretamente com os educandos, para além do ensino, lidando com diversas
questões que envolvem o aprendizado como os limites e as possibilidades de cada
um.

8. A instituição possui um Projeto Político Pedagógico, ou um documento


norteador? Como são elaborados os planos de aula ou atividades
pedagógicas?
32

Sim, possui. Mas não é seguido. Geralmente as aulas são preparadas com o
material que a criança traz da escola, e a verificação da dificuldade de cada um,
tentando resolver o processo de ensino-aprendizagem.

QUESTIONÁRIO DIRIGIDO AO PROFISSIONAL DE PEDAGOGIA QUE


TRABALHA EM ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL

Nome da Instituição: Instituição de acolhimento B


Nome do entrevistado: Entrevistado 2
Formação acadêmica: Educador social com Pedagogia
Tempo de trabalho na instituição de acolhimento: 5 anos
Forma de Ingresso: Contrato
Idade: 26 anos

1. O que te levou a trabalhar em uma instituição de acolhimento?


Sempre Me coloquei no lugar do próximo, e que as pessoas não são más elas só
estão perdidas que ainda há tempo para dar um caminho para eles . E sinto dentro
de mim que nasci para ser Educador Social.

2. Como foi o início do trabalho e o que mais marcou?


O início foi bem tranquilo os meninos que receberam bem. O que mais me marcou
foi o carinho deles por mim me enxergando como família, todos os meninos me
chama de irmão mais velho, isso é o que me marca muito o carinho deles
correspondendo ao meu.

3. Como o pedagogo pode atuar efetivamente em uma instituição de


acolhimento?
O pedagogo tem que saber respeitar a linha do limite, que aos poucos todos vão
cedendo conforme vão ganhando confiança e que mesmo não querendo se cria um
vínculo familiar pois os acolhidos são carentes e conforme a atenção e carinho dado
a eles o pedagogo vai encontrando a melhor maneira de ajudar os educandos.
4. Como é a experiência de ser pedagogo(a) nesse contexto?

5. Quais os desafios encontrados?


Todo tipo de desafio vai ser encontrado. todos os dias é algo novo, são educandos
que passaram por muita coisa na vida então todos os dias é um desafio diferente
até conseguir uma evolução.
Obs: os educadores dependendo muitos são difíceis e não são nada daquilo que
parece ser. Muitos lugares precisam de uma reciclagem interna.

6. Como se estabelece a relação entre o abrigo e a escola?


Todas as atividades passada na escola dependendo do abrigo todos os educadores
devem conferir as atividades do dia

7. Quais as atribuições do pedagogo em uma instituição de acolhimento?


Ter vontade de ajudar e saber que vai enfrentar todo tipo de desafio. E tem que Tá
no sangue a escolha da profissão.
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8. A instituição possui um Projeto Político Pedagógico, ou um documento


norteador? Como são elaborados os planos de aula ou atividades
pedagógicas?
A instituição nunca nos informou de nada e nunca nos passou nada.

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