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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL

ESCOLA DE HUMANIDADES
CURSO DE PEDAGOGIA

DALVO DA SILVA BIRNECKER

A CONTRIBUIÇÃO DO PROFESSOR (A) PARA A EDUCAÇÃO


MORAL DAS CRIANÇAS.

Porto Alegre
2016
 

DALVO DA SILVA BIRNECKER

A CONTRIBUIÇÃO DO PROFESSOR (A) PARA A EDUCAÇÃO


MORAL DAS CRIANÇAS.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


como requisito parcial para a obtenção do grau
de Licenciado em Pedagogia-Educação Infantil
e Anos Iniciais do Curso de Pedagogia - Escola
de Humanidades - da Pontifícia Universidade
Católica do Rio Grande do Sul.

Orientadora: Profa. Dra. Miriam Pires Corrêa de Lacerda

Porto Alegre
2016


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DALVO DA SILVA BIRNECKER

A CONTRIBUIÇÃO DO PROFESSOR (A) PARA A EDUCAÇÃO


MORAL DAS CRIANÇAS.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


como requisito parcial para a obtenção do grau
de Licenciado em Pedagogia-Educação Infantil
e Anos Iniciais do Curso de Pedagogia - Escola
de Humanidades - da Pontifícia Universidade
Católica do Rio Grande do Sul.

Aprovado em __de ___________________de 2016

BANCA EXAMINADORA

Orientadora: Profª. Dra. Miriam Pires Corrêa de Lacerda

________________________________________________________________

Convidado (a): Profª. Dra. Cleoni Maria Barboza Fernandes

_________________________________________________________________


 

Dedicado à minha mãe Cecília, a minha esposa


Lucimara, aos meus filhos e ao meu líder
espiritual Apóstolo Flavio S. Andrades.


 

Agradecimentos

A minha família e a comunidade evangélica a que pertenço.Às professoras, os


professores e os colaboradores da Escola de Humanidades da PUCRS pela
dedicação e esmero dispensados às alunas e alunos do curso de Pedagogia-
Educação Infantil e Anos iniciais do Ensino fundamental.


 

RESUMO

Este Trabalho de Conclusão de Curso teve como objetivo investigar como o


professor e a professora podem contribuir na educação moral das crianças entre 03
e 04 anos, na escola de educação infantil ou na creche. Trata-se de uma pesquisa
qualitativa de cunho exploratório. Para coleta dos dados fez-se uso de um
questionário. Após leitura e interpretação, as respostas foram trianguladas com as
vivencias teórico práticas do acadêmico de Pedagogia e, com o referencial teórico
que serviu de base para este estudo: (LA TAILLE 1992, 2000, 2006, 2008;
CORTELLA 2013, 2014; GROPPA AQUINO 1999, 2002). Os resultados encontrados
apontam para o reconhecimento de que a consciência moral deve ser aprendida de
forma gradual, começando na infância até alcançar ao nível de autonomia. Esse
nível de desenvolvimento de consciência moral é subjetivo e as circunstancias e o
meio corroboram para esse desenvolvimento. O reconhecimento de que a
constituição de cidadãos éticos é tarefa de toda a sociedade traz novos desafios aos
professores, também, de educação infantil o que exige mais atenção e tempo dos
professores. É possível pensar que este estudo poderá contribuir para novas
possibilidades e percepções no que diz respeito à educação moral no âmbito da
educação infantil.

Palavras-chave: Educação Moral; Mediação; Educação Infantil; Professores.


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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO...............................................................................................8
2. REFERENCIAL TEÓRICO...........................................................................14
2.1 O DESENVOLVIMENTO MORAL SEGUNDO PIAGET ........................16
2.2 A IMPORTÂNCIA DA AÇÃO DOCENTE NA EDUCAÇÃO MORAL
DAS CRIANÇAS.....................................................................................18
2.3 ONDE ESTÁ A FIGURA DO ADULTO? ................................................20
2.4 JOGO DA QUEDA DE BRAÇO.............................................................21
3. METODOLOGIA DA PESQUISA: CAMINHOS PERCORRIDOS................23
3.1. PESQUISA QUALITATIVA......................................................................23
3.2. CENARIO................................................................................................23
3.3. SUJEITOS DA PESQUISA ................................................................... 25
3.4. PROCEDIMENTO PARA A COLETA DE DADOS..................................25
3.5. PROCEDIMENTO PARA A ANÁLISE DE DADOS.................................25
4. VOZES DOS PROFESSORES....................................................................26
4.1 COMO DEVO AGIR? ........................................................................... 26
4.2 A EDUCAÇÃO MORAL É CONSTRUÇÃO.............................................28
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS? UM OUTRO COMEÇO? ......................................31
6. REFERÊNCIAS.......................................................................................................35
APENDICE A Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
APENDICE B Questionário


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INTRODUÇÃO

Quando criança eu cheguei a pensar em ser professor, médico, policial,


motorista de ônibus e caminhão, fazendeiro, soldado do exército e pastor
evangélico... Queria ser também Superman, Batman, Aquaman, Incrível Huck, o
Demolidor.... Eu queria ser, Criança.
Entrei tarde na escola, com 9 anos na primeira série do Ensino Fundamental.
Sai cedo com 11 anos na terceira série. Minha adolescência foi de poucas
oportunidades. Entre os 11 e os 19 anos não tinha endereço fixo.
Aos 19 anos me casei com uma mulher maravilhosa que me deu dois lindos
filhos. E quando me casei, voltei a estudar no supletivo. Passei a ter endereço fixo e
conclui o ensino fundamental em 1997. Fiquei longe da escola por um longo período
de tempo, porque era muito difícil conciliar o trabalho com os estudos.
Qualifiquei-me em cursos específicos para motorista, mas, não exerci a
profissão até então. Em 2010 fiquei sabendo do ENEM e da possibilidade de usar
essa nota para conclusão do ensino médio. Fiz o ENEM com essa intenção e fui
aprovado. No entanto, não me inscrevi de imediato no PROUNI.
Aconteceu que, aborrecido com o fato de ter perdido a oportunidade de ser
motorista na empresa em que trabalhava, um dia estávamos meu amigo e eu
tomando chimarrão e conversando na casa dele quando ele me disse: — por que
você não se inscreve no PROUNI para concorrer a uma bolsa na faculdade com a
nota do ENEM? Eu vou me inscrever! Disse ele. Penso que ele nem se lembra disso
(risos). Hoje ele faz o último ano em Serviço Social.
Assim aconteceu:
— Não estou afim disso. Só o segundo grau para mim já está bom. Disse eu.
Ele insistiu até que fizemos a inscrição. Sem pretensão alguma cheguei à FACED -
PUCRS em 2011/2.
Começo de curso difícil, muito tempo sem estar dentro de sala de aula,
adaptação tensa.... Demorou “cair à ficha”. Quis desistir, pensei em trancar a
matrícula, mas não dava, por ser o primeiro semestre. Lembro de ter conversado
com a professora Dra. Helena S. Côrtes (saudosa), pessoa essa que aprendi a
admirar. Tive aulas com ela já no primeiro semestre na disciplina de Pesquisa e


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Produção Textual. Conversei com ela, já que lhe devia trabalhos, e ela me deu
algumas palavras que foram um “up” para mim.
Logo, refletindo sobre alguns momentos em sala de aula onde pude ver e
perceber o real interesse partindo das professoras e dos professores em mediar a
construção de nossos conhecimentos em Educação e Pedagogia, com carinho,
dedicação, esmero e paciência, nos fazendo acreditar que, o educador e a
educadora, podem fazer a diferença nessa geração que está em permanente fase
de construção, entendi que valia a pena continuar.
Há trinta anos já se falava em roubos, corrupção e golpes nos debates
políticos. Porém, hoje, há uma diferença perceptível nessa questão: apesar da
agilidade da justiça, do esclarecimento das pessoas, das reivindicações, dos
movimentos populares, muita coisa piorou. Um exemplo disso pode ser um
momento no ônibus quando uma pessoa idosa ou uma gestante “entra em um
ônibus cheio” a gestante ou o idoso precisa viajar em pé por não ter uma pessoa
“educada” para lhe ceder o lugar tornando sua viagem mais confortável.
Em algum lugar da nossa trajetória essa Educação deixou de ter valor ou
significado para alguém. Algumas coisas foram desconstruídas e não foram
reconstruídas ou perderam o significado e não foram ressignificadas.
Goergen (2007, p.741) ao refletir sobre essa diferença de valores de antes e
agora, escreve: “porém, ao contrário do passado, o tempo atual vive grandes e
céleres transformações que afetam não só o exterior, mas também os fundamentos
do ser e do pensar, as formas de julgar e decidir, as normas e os valores”.
O relacionamento humano com seus semelhantes tem-se desgastado muito.
É muito comum, e, em muitos lugares, vermos pessoas com dificuldade no
relacionamento pessoal e interpessoal. Pessoas que “explodem” com facilidade, que
dizem muitos palavrões sem se importar com o lugar onde se encontra ou se está
ofendendo a alguém. Pessoas que estão sempre prontas para a “briga”, e que,
quando tentam se controlar tem grande dificuldade de reconhecer o seu próprio erro
e pedir desculpas a quem tenham ofendido/machucado.
O pior de tudo é que estamos sendo formados e estamos formando cada vez
mais, pessoas assim. Kant (1999, p. 12) já no século XIX escrevia que “uma geração
educa a outra”. Com isso pretendia nos lembrar de que os homens/mulheres tanto


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podem educar para uma postura de respeito ao outro quanto permanecer “em um
estado de natureza rude” e assim transmitirem seu legado (ibidem).
Por vezes, esses sujeitos cujas vivencias com seus educadores foram
pautadas pela rispidez, descaso, e até mesmo, agressão física, quando na condição
de adultos, repetem esse padrão de relacionamento. No entanto, existem outros que
partem para outro extremo e, como pais, são excessivamente tolerantes em relação
aos filhos que se tornam verdadeiros tiranos. É importante lembrar que entre esses
dois extremos existe a possibilidade de encontrar um caminho que é capaz de
conceder e de restringir na exata medida para cada situação.
Além disto, como pais sempre pensamos em dar aos nossos filhos aquilo que
não tivemos. Isso não só em termos de bens materiais como também no que diz
respeito à Educação das crianças. Sob o discurso de não fazer com nossos filhos o
que os nossos pais fizeram conosco, às vezes, esquecemos o papel de educadores.
Se houve um tempo em que o pai/mãe apenas olhava para o filho, quando
esse estava fazendo algo que seus pais consideravam errado, para fazê-los parar,
hoje esse olhar que funcionava como regulador moral perde sua eficácia e nem
sempre consegue chamar atenção para a necessidade de mudar a atitude.
Essa criança que por vezes, não teve oportunidade de, em família, aprender
algumas regras de convivência chega à escola, colocando aos professores novos
desafios.
Este trabalho nasce a partir da vivência como estagiário da Educação Infantil,
no convívio com pais que diziam à porta “eu não sei mais o que fazer com ele/ela”
referindo-se a uma criança com três anos e, em sala de aula, como professor diante
de crianças que tudo podem e são comumente chamadas de crianças sem limites1
Aprender e ensinar valores morais são ações que “promovem a humanização
do homem, tanto no sentido moral (respondendo à pergunta como devo viver?),
quanto no sentido ético (em resposta à questão que vida quero viver?). ” (MULLER;
ALENCAR, 2012, p. 453).
Através do conjunto de valores, de normas e de noções do que é certo ou
errado, proibido ou permitido dentro de uma determinada sociedade, de uma cultura,
somos apresentados, gradativamente, a um conjunto de regras que remetem as


1
Sem limite refere-se aqui aquela criança que acostuma a ter todos os seus desejos atendidos a
qualquer momento e não aprende a lidar com o não.

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práticas de um código moral. Elas são importantes para que possamos viver em
sociedade, fortalecendo cada vez, mais a coesão e os laços que garantem a
solidariedade social. Quanto ao sentido ético, ele diz respeito aos valores que
orientam o agir em relação aos outros.
Gonçalo (2008, p.112) explicita a diferença entre ética e moral.
A moral existe desde as formas mais primitivas de organização social e os
problemas que a envolvem fazem referência direta a ações humanas reais,
particulares, normativas, vivenciadas nas relações cotidianas do contexto
histórico-social. As decisões tomadas em cada situação concreta, apoiadas
por normas consideradas válidas por todos os membros, as ações
desenvolvidas, os julgamentos e avaliações realizados antes de uma
tomada decisão, conferem, a tais problemas e situações, características de
um fazer prático-moral. A ética, por outro lado, não estabelece normas de
conduta como a moral, nem tampouco se preocupa com o fazer prático e as
recomendações para a solução de problemas particulares. Ela se
caracteriza por ser uma reflexão crítica que analisa, discute e interpreta os
valores que fundamentam a moral.

Considerando que as crianças e os jovens, passam hoje, uma parcela


bastante significativa do tempo de suas vidas na Escola, essa Instituição não pode
ignorar seu compromisso com a educação moral de seus alunos, mesmo sabendo
que ela não é a única responsável por tal investimento.
Além disso, nos encontramos em um momento histórico no qual se anuncia
estarmos vivendo uma profunda crise de valores. No que tange a este aspecto, não
me lembro de um tempo em nosso país no qual tenham surgido tantos casos de
corrupção em vários âmbitos de nossa sociedade: Mensalão, Mensalinho, Lava-jato,
escândalos da Petrobrás, etc. Preocupa-me especialmente o fato de que as
pessoas, de tanto ouvir e acompanhar, na mídia, noticia a esse respeito, sem que
haja, de fato, uma punição mais severa para tantas barbáries, somadas a
morosidade da justiça, se habituem com o desrespeito às regras morais e ausência
de reflexão ética acerca destas situações em nosso país. A prova disso é o famoso
“jeitinho brasileiro”. Popularmente pensa-se: “Lá em cima eles roubam um monte e
não acontece nada com eles! ” Ou, “Roubam em todo lugar”. As crianças crescem
sendo bombardeadas por esse tipo de expressões e informações que chegam por
intermédio de vários veículos de comunicação. Entendo, agora, com mais clareza, o
porquê mencionou Goergen (2007, p.743) em seu artigo, que alguns “conceitos
como eficiência, eficácia, lucro, domínio e vantagem assumem posição central nas
relações humanas da sociedade contemporânea”.


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Desde o meu perceber e de meu compromisso como educador da infância


proponho-me relacionar alguns teóricos que tomam a questão da educação moral
para análise, na expectativa de poder contribuir para a formação de crianças
capazes de viver bem consigo mesmo e com o grupo social através de uma
educação que lhes permita encontrar um “equilíbrio” entre sua conduta e o modo de
viver em sociedade e consigo mesmo, relacionando valores importantes para isso.
E, por entender que é uma contribuição relevante para a Pedagogia assumo
essa temática da educação moral em minha investigação de TCC escolhendo como
problema de pesquisa: Como professores da educação infantil, podem
contribuir para a formação moral de crianças entre 03 e 04 anos?
Nesta lógica, tenho como Objetivo Geral investigar a importância da
participação dos docentes na formação moral das crianças e, como Objetivos
Específicos destacar a importância da Educação Moral para o convívio social dos
sujeitos e ressaltar a importância da participação dos docentes na formação moral
de crianças entre três e quatro anos de idade.
Este trabalho é composto de seis seções. Na Introdução narro um pouco de
minha história, apresento o tema, o problema e os objetivos deste estudo. Na
segunda seção subdividida em quatro subções, construo o referencial teórico. Na
primeira subseção escrevo brevemente sobre os estágios do desenvolvimento moral
da criança segundo Piaget. Na segunda subseção destaco a importância da ação
docente para a educação moral das crianças e suas possíveis consequências. Na
terceira subseção reflito sobre o lugar da figura do adulto para a educação moral das
crianças e o os efeitos da negligencia ou até mesmo da falta dessa figura para
educação e o desenvolvimento da criança. Na quarta subseção escrevo sobre o jogo
da queda de braço fazendo uma analogia sobre transmissão de autoridade dos pais
para os professores e professoras na educação das crianças quando as entregam
na porta da escola de educação infantil ou creche e suas implicações. Na terceira
seção escrevo sobre a metodologia e os caminhos percorridos, dividido em cinco
subseções. Na primeira subseção escrevo sobre a pesquisa qualitativa. Na segunda
subseção escrevo sobre o cenário onde este estudo foi inspirado e desenvolvido. Na
terceira subseção escrevo sobre os sujeitos da pesquisa. Na quarta subseção
escrevo sobre o procedimento para a coleta de dados. Na quinta subseção escrevo
sobre o procedimento usado para análise de dados. Na quarta seção escrevo sobre


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as vozes dos professores, dividido em duas subseções, onde escrevo os resultados


das análises da pesquisa de campo, onde emergiram duas categorias de questões
problematizadora que foram analisadas e trianguladas com pesquisas bibliográficas
e as percepções e vivencias em sala de aula como estagiário em uma escola de
educação infantil. Na primeira subseção escrevo dentro da análise da primeira
categoria intitulada: como devo agir? Na segunda subseção escrevo dentro da
análise da segunda categoria intitulada: a educação moral é uma construção. Na
quinta seção escrevo as conclusões que se chegou, ainda que, entendendo que é
pesquisa de cunho exploratório, e a questão da educação moral das crianças e
como o professor e a professora na creche ou na escola de educação infantil podem
contribuir na educação moral das crianças. Na sexta seção escrevo as referências,
fonte onde foram buscados os textos analisados e seus respectivos endereços.


 

2. REFERENCIAL TEÓRICO

Estamos vivendo um dos momentos na história da nossa sociedade onde


muitos de nós, brasileiros, nos sentimos injustiçados com os acontecimentos que
vivenciamos no dia-a-dia. A segurança, a saúde e educação, que compõem
sistemas que nos dão condições básicas para vivermos em sociedade, estão
precarizadas.
Muito se fala em respeito, muito se pede respeito e se espera respeito. Mas
percebemos que o desrespeito aos cidadãos através da insegurança, da
vulnerabilidade social de muitas comunidades que vivem à margem sem perspectiva
de mudança, nos mostra outra realidade. Trata-se de um tempo que, conforme
Goergen, se testemunha um paradoxo entre “a visibilidade do debate moral e a
gravidade das práticas imorais”. (2007, p.737)
Na mesma obra o filósofo entende que
[...] os problemas morais não se restringem apenas ao comportamento
desse ou daquele grupo social, desse ou daquele indivíduo, mas que eles
se encontram intrinsecamente relacionados às tradições, aos costumes e
aos valores que constituem o ethos2histórico-cultural da sociedade (ib,
ibidem).

O autor chama a atenção para a complexidade que envolve realizar uma


mudança cultural. Isso quer dizer que não é da noite para o dia, ou, através de um
decreto presidencial que ela se dará. Trata-se de uma construção lenta porque
envolve as influências, os estímulos que recebemos, sejam eles negativos ou
positivos e, a forma como administramos os mesmos, nossas vivências, nossas
subjetividades. Além disto, requer conscientização de que precisamos fazer parte
dessa mudança, de forma ativa, por isso, essa mudança leva muito tempo para ser
consolidada. Daí a importância de que iniciemos já nas classes de Educação Infantil,
um esforço para que essa transformação venha a ocorrer.
Juan Delval em uma entrevista concedida a uma revista argentina
“Novedades Educativas” e reproduzida com adaptações pela revista Pátio (1998),


2Ethos é uma palavra com origem grega, que significa "caráter moral". É usada para descrever o
conjunto de hábitos ou crenças que definem uma comunidade ou nação.

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diz ser na infância “que são formados os primeiros hábitos morais”. Tal construção
começa muito cedo, ainda no seio da família onde as crianças têm um primeiro
contato com as regras de convivência com o outro, que são as normas sociais.
Trata-se de uma caminhada gradual na direção da autonomia, quando se perceberá
capaz de tomar decisões. Tais processos não acontecem da mesma forma para
todos. Muitas vezes nos deparamos com questões no dia-a-dia que nunca nos
aconteceram antes, onde decisões precisam ser tomadas. Decisões cujas
consequências podem afetar outras pessoas de uma forma negativa ou não. E isso
vai depender da decisão que tomarmos, da nossa posição, dada às circunstancias.
Nesse momento será exercitada a educação moral e a ética que se adquiriu, que o
indivíduo construiu no decorrer da vida, até então.
Com relação à aquisição da educação moral Goergen (2007, p.759) escreve
que:
[...] a tarefa de educação moral não é apenas um compromisso dos pais, da
escola ou de outra instância qualquer, mas um compromisso da sociedade
como um todo e de todas as suas instituições políticas, jurídicas, midiáticas
e também educacionais.

É importante dizer que, quando me utilizo da expressão Educação Moral, não


estou me referindo ao adestramento do sujeito para cumprir regras que lhe são
externas ou a uma educação que não tem sentido para os sujeitos, ou àquele
modelo antigo, tendencioso e manipulador que vivemos algum tempo atrás onde não
havia liberdade de expressão, uma vez que afastava todo e qualquer elemento que
contribuísse para a “problematização da realidade e para a compreensão crítica
sobre o momento histórico que a sociedade brasileira estava vivendo” (CORREIA,
2007, p. 491).
Educação moral envolve a aquisição de valores e para mim alinhado a Piaget
“[...] são as relações que se constituem entre a criança e o adulto ou entre ela e seus
semelhantes” (MACEDO, 1996, p. 3). Os valores são importantes para termos bons
relacionamentos em nosso convívio social.
Delval, referindo-se a moral autônoma3 afirma que ela deve ser construída a
partir de um equilíbrio entre a moral do discurso4 e a moral na prática, partir de um
equilíbrio escreve que


Por moral autônoma o autor refere-se àquela que o indivíduo age de acordo com princípios que ele

mesmo construiu (Delval 1998, p.21).



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[...] devemos considerar que é possível distinguir dois tipos de moralidade:


aquela que é ensinada e aquela que é praticada, a explícita e a implícita, a
teórica e a real. Aqueles que lamentam a perda dos valores morais querem,
na verdade, que os jovens tenham um comportamento de acordo com a
moral teórica, mas pouco ou nada fazem para modificar a moral real porque
se sentem impotentes. (DELVAL 1998, p. 22).

E essa impotência que o autor falava em 1998 ainda ecoa em nossos dias
quando se trata de mexer com as estruturas escolares, culturais e políticas de nosso
país. Se pensarmos em termos de escola, não é raro um acadêmico de Pedagogia,
quando sugere alguma mudança nas práticas de sala de aula, durante seu estágio
em uma classe de Educação Infantil, ouvir da professora titular “Ah isso não adianta,
essas crianças não aprendem” ou, no Estágio nos Anos iniciais, em agosto a
professora já ter determinado quais os alunos iriam ou não ser aprovados.
Felizmente tais manifestações não são da maioria. Percebo pessoas que
entendem que precisamos mudar essa mentalidade e já é possível constatar
mudanças realmente significativas. Eu também constatei em meu estágio um
movimento das famílias que evidencia uma preocupação com o que as crianças
estão aprendendo, tanto em termos de conteúdo quanto em termos de valores.
A presente geração de pais e professores (salvo os saudosistas) vem
ensaiando uma outra modalidade de relação com os mais novos, distinta
daquela baseada nas coordenadas de mando/obediência em que fomos
educados (AQUINO 2002).

Hoje se percebe que as relações entre família e escola estão mudando e,


neste cenário buscamos a presença do docente com espaço para agir como
mediador.

2. 1. O DESENVOLVIMENTO MORAL SEGUNDO PIAGET


Entendo como limite o marco que estabelece o fim de um espaço geográfico e
o início de outro. Como de países, de continentes, bem como de estados e cidades,
também chamado de fronteira. Pode ser também uma linha separatória entre uma
coisa e outra. Sendo ela imaginaria ou física.
Cada um de nós tem uma concepção de limite, que é subjetivo e está
relacionado a nossa percepção dentro daquilo que nos foi oportunizado construir
através das falas que ouvimos ao longo de nossas vidas e exemplos práticos que



Por moral do discurso o autor refere-se àquela moral que o ensinado que é a criança não vê os
ensinantes viverem aquelas regras no dia a dia.

 

vivenciamos. Algumas coisas que faço em minha casa, por exemplo, não é
conveniente fazer em um local, dito público. O comportamento está relacionado
diretamente à educação moral e valores éticos que nos favorecem o convívio em
sociedade. Contudo, as regras de convivência em sociedade estão mais voltadas
para a ética do que para a moral.
A moral está relacionada ao meu senso de dever de conduta comigo no que
diz respeito às regras. Enquanto a ética está ligada à minha consciência de respeito
com o outro. La Taille (2013) cita a “diferenciação” entre ética e moral a partir do que
escreve Paul Ricoeur: “moral são normas, deveres, e ética é uma vida boa”
(CORTELLA 2013). Essa definição de “vida boa” que o autor traz é referente à vida
justa com a ideia de generosidade e benevolência, ou seja, “vida boa, para e com o
outrem, em instituições justas” (ib, ibidem).
Neste contexto surge o desafio no que diz respeito a ensinar as crianças
essas questões de limites e regras de convivência como a ética. Para o
comportamento ético ser ensinado com êxito às crianças, é preciso que o educador
e a educadora tenham em mente o que escreve PIAGET 1992, apud LA TAILLE
(1992, p.49-50) sobre os estágios do desenvolvimento moral da criança.
O primeiro estágio do desenvolvimento moral é conhecido como Anomia.
Entre o nascimento e 4 ou 5 anos de idade a criança não tem consciência da regra.
Neste período “o cumprimento da regra pela criança pode ser um ritual motor ou por
esta ser apenas suportada e cumprida de forma inconsciente, não como uma
realidade obrigatória” (PIERETTI, 2011, p. 536).
Até cerca de 2 anos a criança não dispõe de representação mental e seu
pensamento ainda é bastante difuso o que torna muito difícil a absorção de regras. É
por isso que é normal ter que repetir a mesma orientação muitas vezes! Saber isso
pode nos fazer ajustar a expectativa e não almejar do filho/aluno mais do que ele
pode oferecer nesta fase.
O segundo estágio do desenvolvimento moral é conhecido como estágio da
heteronomia. Compreende o período entre 5 ou 6 a 10 ou 12 anos de idade.
Diferente do estágio anterior, a criança começa a compreender e cumprir regras
morais. No entanto, a moral depende de uma vontade exterior, que é a das pessoas
respeitadas, incluindo pais, através da regra imposta de fora para dentro,
principalmente, por parte da figura do adulto. A fase em que a criança segue as


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regras colocadas pelos outros, com maior facilidade de internalização das


orientações e pouco questionamento.

Ao longo do desenvolvimento, as crianças começam a refletir sobre o


sentido e o objetivo dos mandamentos e proibições, e passam a dar mais
valor à justiça. E, por isso, avaliam previamente as proibições e regras e
suas relações com a justiça. Neste momento a criança tem outra relação
com a regra, e está em outro estágio do desenvolvimento moral intitulado
por Piaget (1994) como Autonomia moral. (PIERETTI, 2011. p.537)

O Estágio da Autonomia Moral, se inicia ao redor dos 12 anos. É a fase de se


relacionar com as regras e de sugerir novas regras, construir novos acordos
inclusive nos jogos e brincadeiras com os colegas. Sobre essa construção Delval
(1998, p.21) escreve que “o mais importante é favorecer a atividade do sujeito, a sua
própria construção e a sua capacidade de raciocinar sobre isso”.

Contudo, para que a criança possa alcançar esse nível de desenvolvimento, é


preciso que ela tenha oportunidades para se desenvolver de uma forma
minimamente saudável, cognitivamente falando, para chegar a essa percepção e
capacidade de decisão, podendo então, se perceber uma moral autônoma em
formação.

As minhas conversas com professores e professoras, além de minhas


percepções através das observações feitas sobre o desenvolvimento moral nas
crianças, me leva a concordar com Piaget sobre os estágios de desenvolvimento
moral, que Cunha (2009) sintetiza no quadro abaixo:

ANOMIA: HETERONOMIA: AUTONOMIA:


A = Negação A lei, a regra vem do Capacidade de
NOMIA = regra, lei. exterior, do outro. governar a si mesmo.

2.2 A IMPORTÂNCIA DA AÇÃO DOCENTE NA EDUCAÇÃO MORAL DAS


CRIANÇAS


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Existe um provérbio bíblico, que diz: “eduque a criança no caminho em que


deve andar e, até o fim da vida não se desviará dele”. (Provérbios 22:6). Não quero
aqui discutir questões teológicas ou religiosas, mas, cito um provérbio para
pensarmos sobre o tipo de ensinamento prático que estamos trazendo as crianças.
Quando digo ensinamento prático, falo de um discurso congruente com
prática. Quando digo para uma criança, por exemplo, “não diga palavrão”, mas, no
meu cotidiano é o que mais faço, as crianças entenderão que tem o direito de falar
porque o adulto fala. Isto porque a criança internaliza bem mais o que vive com o
adulto, em especial os adultos da sua rede primária de relacionamento como pai e
mãe, ou quem os substitui como figura de valor, do que aquilo que lhes dizemos que
deve fazer.
Algumas crianças chegam à Escola ou à Creche com uma bagagem de
vivencias que, por vezes, contrariam os valores que os adultos, dizem tê-las
ensinado. Cito um exemplo vivido.
Um aluno de uma turma do maternal II em seu momento de lazer, em meio
a uma brincadeira que estava envolvido, na empolgação da brincadeira e
sorrindo me diz: “bunda mole” e continua a brincadeira na mesma
empolgação. Com naturalidade e levando no embalo da brincadeira
perguntei a ele quem havia ensinado essa expressão ou, onde ele ouvira
aquilo. Ele me respondeu que o pai dele o chama assim. Percebi que ele,
na verdade, estava reproduzindo o que ele vira e ouvira em casa, de um
adulto. (Registro da sala de aula durante o estágio)

Outro aspecto interessante de ser destacado diz respeito àquelas crianças


que costumam fazer tudo o que querem e como querem em casa. Ao chegarem à
escola e se depararem com limites adequados as suas idades, por vezes resistem
exigindo mediações dos professores. Nesse momento a/o professor/a precisa agir
com “amorosa firmeza” para que as crianças aprendam outras formas de relacionar-
se consigo mesmo e com os outros, para que tenham atitudes de respeito e
solidariedade com seus colegas e professores.
Para muitas das crianças é um enorme desafio esse processo de socialização
com o outro. É uma nova etapa de sua vida onde terão que aprender a compartilhar,
a conviver, a respeitar o espaço do outro, e, outras construções que acontecerão no
decorrer das vivencias em sala de aula com outras crianças da mesma faixa etária.
Isso requer das crianças um esforço em outra direção.
As crianças precisam a aprender, gradativamente, a tolerar frustações,
administrar emoções sempre considerando a idade e o grau de maturidade delas. É


 

diferente a questão do limite para uma criança de três anos e para uma criança de
cinco anos. Esse tipo de aprendizagem também é construída através de mediações
do adulto/professor/a e pelo diálogo entre o adulto e a criança.
Considerando o fato de que as crianças passam uma grande parte de tempo
do seu dia5 em uma creche ou em uma escola de educação infantil, é plausível
pensar na importância da participação dos educadores não só no desenvolvimento
cognitivo das crianças, mas, também no desenvolvimento moral das mesmas.
Diante da percepção de que a instituição escola tem um papel significativo na
formação dos sujeitos, poderíamos perguntar como os professores podem contribuir
para a formação moral das crianças. Uma possível resposta, podemos encontrar no
ponto que será tratado a seguir.

2.3. ONDE ESTÁ A FIGURA DO ADULTO?

Assumir a postura de adulto na relação de ensino/aprendizagem, não está em


pensar que, enquanto educador/educadora, somos formadores da consciência moral
da criança. Mas, na verdade, somos mediadores de uma construção feita pelo
próprio sujeito baseado nas “ferramentas” que damos a eles através de discursos e
vivências coerentes àquilo que dizemos para as crianças ser de valor para a vida em
sociedade como, também, em viver bem consigo mesmo.
Delval escreve que
A moral é constituída, basicamente, por um conjunto de valores, normas e
princípios que prescrevem o que se deve fazer a conduta em situações nas
quais estabelecemos relações com os demais e regula os intercâmbios
básicos entre os indivíduos nos aspectos que se relacionam com o bem-
estar dos outros, com a sua liberdade e com a justiça. (DELVAL 1998, p.19)

Quando estamos na condição de mediadores dessa construção, falando


como educadores/educadoras precisamos ser coerentes em nossas atitudes com as
regras e combinações que fazemos com as crianças. A educação moral em nosso
contexto social, não pode ser como o “doutrinamento e a obtenção de respostas
automáticas” (DELVAL. 1998 p.20) e, sim uma construção através de uma ação que
envolve criança, pais e professores.



Em muitas situações, as crianças da faixa etária considerada neste estudo permanecem na escola
por um período que oscila entre 8 e 10 horas.

 

As crianças estão cada vez mais atentas ao que o adulto faz tanto quanto ao
que diz. Precisamos tomar cuidado para que nosso comportamento e postura não
entrem em conflito com nosso discurso ético-moral. E por mais que nos esforcemos
para manter uma postura ética, nosso caráter no dia a dia vai ser percebido pelas
crianças e isso ficará na memória delas tanto ou mais do que “o conteúdo ensinado”.
Por outro lado, temos um grande desafio, que Kant (1999, p.11) mencionava
no século XVIII e Aquino (1999) escreve aprofundando o assunto em nosso tempo,
sobre a tensão que ainda existe entre a autoridade dos pais e a autoridade dos
professores junto às crianças que chegam à creche e à escola de educação infantil.

2.4 O JOGO DA QUEDA DE BRAÇO

Na queda de braço temos regras para quem quer participar. Regras essas
que podem ser vistas no site da Confederação Brasileira de Lutas de Braço e
Halterofilismo. Trago essa expressão como analogia de uma situação delicada em
que muitos professores se deparam que é essa tensão de autoridade entre pais e
professores no que diz respeito à educação das crianças.
Kant (1999, p.11) já percebia essa tensão de autoridades quando escreveu
que “a criança deve regular-se pelos preceitos de seus governantes6 e, ao mesmo
tempo, seguir os caprichos de seus pais”. O mesmo autor, no mesmo texto, diz
também, que “é necessário que os pais deponham toda a sua autoridade nas mãos
dos governantes” (p.11).
Essa mesma tensão, sobre a qual os autores escrevem, tenho acompanhado
quando os professores recebem as crianças das mãos dos pais, na creche onde
trabalho.
A vinheta a seguir nos mostra o quanto esta tensão entre a família e a escola
pode afetar a criança.
Joana, 3 anos frequenta a escola desde o berçário. Conhece as
professoras, as crianças, brinca bem, come bem, realiza as tarefas com
alegria, não chora durante o período que está conosco, não pede pela mãe.
No entanto todos os dias na hora da chegada a mãe fala com ela como se
fosse um bebê dizendo que vai ali e já volta e que enquanto isso ela fica
com as tias / professoras. Insiste nesta história até que a criança começa a
chorar. Quando isso acontece a mãe começa a chorar junto.



Kant, (1999) quando escreve governantes, refere-se aos pedagogos.

 

Isso me fez lembrar quando eu estudava nos anos iniciais, aos nove anos de
idade e a mãe nos levava à escola. Ela nos entregava à porta da sala de aula,
confiava na autoridade da professora, acreditava que fosse justa e, talvez por isso,
fizesse com muita frequência uma pergunta:
- . Como está o comportamento do fulano?
A professora e a mãe conversavam sobre isso e, na saída à mãe dizia:
- Se ele não se comportar pode pôr ele de castigo!
Ou,
- É só me dizer!
Sobre essa questão de transmissão de autoridade da qual escreve La Taille
(1999), vale lembrar que a criança traz de casa, um entendimento de que precisa
obedecer, seguir regras e, que, para ela “a novidade não está no obedecer, mas sim
a quem obedecer” (AQUINO 1999, p.17). E continua
[...], de início, a obediência das crianças a seus professores depende
essencialmente de um fator básico: a delegação de autoridade dos pais
para a escola. Quero dizer com isso que, no começo da escolarização — e,
na verdade, talvez durante toda ela — a criança tenderá a obedecer a seus
professores porque os pais lhe dizem que deve fazê-lo. (ib, ibidem).

Não é incomum em porta de escola ouvir algum pai ou mãe dizer a sua
criança:
- Se alguém te fizer alguma maldade você conta para mim!
Porém, muitos não sabem ou não entendem que para uma criança bem
pequena quando ouve um não vindo da professora ou do professor pode ser terrível
para ela. A criança que é acostumada a fazer tudo o que quer diante do não do
professor, em contradição aos pais que dizem sim para tudo o que a criança faz,
pode entender que lhe estão fazendo algum mal.
Como forma de resolver essa tensão, ainda existente, precisamos buscar
meios para termos os pais dos alunos e das alunas como parceiros nessa tarefa,
trabalhando em cooperação para um fim comum, a educação moral da criança.


 

3. METODOLOGIA: OS CAMINHOS PERCORRIDOS

O estudo se deu através de pesquisa qualitativa, de cunho exploratório. Para


sua realização foram utilizados questionários respondidos por duas profissionais que
estão diariamente em contato com crianças em sala de aula, visando destacar a
importância da Educação Moral para o convívio social dos sujeitos e ressaltando a
necessidade da participação dos docentes na formação moral de crianças entre três
e quatro anos de idade.

3.1 PESQUISA QUALITATIVA

A pesquisa qualitativa para educação traz respaldo ao pesquisador,


segurança e rigor técnico para o uso dos dados coletados.
É importante que tanto o pesquisador quanto ao que venha fazer uso dos
dados e materiais, resultados da pesquisa tenham elementos embasadores para
qualificar a pesquisa. “A finalidade real da pesquisa qualitativa não é contar opiniões
ou pessoas, mas ao contrário, explorar o espectro de opiniões, as diferentes
representações sobre o assunto em questão”. (BAUER, GASKELL 2002, p.4)

3.2 CENÁRIOS PARA ESTE ESTUDO


A pesquisa foi realizada em uma creche no bairro Santana, em Porto Alegre,
RS, que é um dos setores de uma estatal e que atende aos filhos dos colaboradores
da mesma enquanto eles estão em seus respectivos horários de trabalho. A creche
atende as crianças, e pais, em turnos: matutino, integral e vespertino. O horário de
funcionamento é a partir das 06 horas e 30 minutos até as 20 horas.
O atendimento as crianças se organiza nos seguintes níveis: berçário, mini
maternal7 maternal 1, maternal 2, jardim A e jardim B.
O espaço disponível para a creche, tendo como referencial a porta de entrada
principal, envolve a sala da recepção e pequeno salão, onde os pais entregam as
crianças para os professores. Podemos encontrar, também, nesse espaço de
entrada, um banheiro para uso de pais e colaboradores e um banheiro adaptado as
crianças com trocador. Logo à entrada do salão temos a sala do maternal 1; à



Mini maternal corresponde a sala de transição que acolhe crianças de 10 a 20 meses.

 

esquerda a copa, onde são organizadas e servidas as refeições para serem


distribuídas nas salas.
Ao lado da sala do maternal 1 está a sala do maternal 2, mais adiante a sala
do mini maternal e a sala do berçário. Em frente à porta da sala do mini maternal
está a sala de alimentação do mini maternal, onde ficam também os carrinhos para o
uso das crianças do maternal e do mini maternal.
No final do corredor principal, está o trocador, com acesso pela sala do
berçário e que divide espaço com o banheiro do jardim A.
Mais adiante, temos a sala do jardim B, à direita, e o acesso à sala de
exposição de trabalhos das crianças. Ali também, fica a entrada para o salão onde
acontecem reuniões e o espaço de lazer para as crianças, que o utilizam,
alternadamente, conforme escala de turmas. Neste espaço do salão ficam os
brinquedos grandes como escorregador, duas balanças e casinha de plástico. O
espaço do salão é também acesso para as demais salas de aula.
Olhando da entrada ao fundo do salão, para o lado direito, estão às salas de
alimentação, sala de descanso dos professores, a sala de computadores para uso
dos colaboradores.
O espaço da Creche

Fonte: O Autor


 

3.3 SUJEITOS DA PESQUISA


Os sujeitos da pesquisa são professoras de educação infantil. A professora de
número um tem 27 anos de experiência em sala de aula. A chamarei de P1 porque
foi a professora que respondeu primeiro. Sua formação é em Pedagogia Licenciatura
com habilitação para docência nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental.
A professora de número dois, com 19 anos de experiência, sendo 15 anos
com educação infantil em sala de aula. A chamarei de P2 porque foi a professora
que respondeu por segundo. Sua formação é em Magistério em Educação Infantil.

3.4 PROCEDIMENTO PARA A COLETA DE DADOS


A coleta de dados se deu através de questionário com duas perguntas pertinentes
ao tema de pesquisa. As perguntas que constaram no questionário foram as
seguintes:
1 – Qual a importância da educação moral para as crianças, entre 02 e 04 anos, na
escola de educação infantil ou creche?
2 – De que forma a professora ou o professor da Educação Infantil pode contribuir
na construção do comportamento moral e ético das crianças?

3.5. PROCEDIMENTO PARA ANÁLISE DE DADOS


As análises partiram das respostas de questionários dos professores, que,
após leitura e interpretação foram trianguladas com as minhas vivencias teórico
práticas como acadêmico de Pedagogia e com o referencial teórico dos que
pesquisam e escrevem sobre educação moral (LA TAILLE 1992, 2000, 2006, 2008;
CORTELLA 2013, 2014; GROPPA AQUINO 1999, 2002). O que pretendi foi trazer
minha contribuição a esse tema de grande importância para convivermos em
sociedade.


 

4. VOZES DOS PROFESSORES

Após a leitura dos questionários e respectiva análise, emergiram duas


categorias que serão desenvolvidas abaixo.

4.1. COMO DEVO AGIR?


A primeira pergunta envolvia um questionamento acerca da importância da
Educação Moral das crianças para a P18 a importância da educação moral para a
criança é justificada pelo fato que:
todo professor deveria ter consciência da extrema importância de transmitir
princípios para seus alunos. É necessário que as crianças sejam formadas
com bases morais bem definidas. (P1)
Para esta professora, as crianças devem “receber pronto” um conjunto
princípios que vão orientar o seu comportamento competindo apenas, obedecê-los,
por isso ela fala em transmitir.
Ao pensar na forma de agir nos provoca de um modo geral, pois, se espera
que todos nós adultos façamos isso. No entanto, quando uma criança, encontra-se
no que Piaget chamou de Anomia, ou seja, ausência de regras e vive em uma
situação conflituosa, por exemplo, com um coleguinha, ela precisa ser ajudada a
entender o que está acontecendo e junto com o adulto encontrar alternativas de
resolução. Não basta apresentar a ela um conjunto de princípios, os quais,
certamente, não consegue, pelo grau de maturidade, entender.
Quanto a bloquear ação da criança com um sonoro não, é também
inadequado quando estamos diante de crianças bem pequenas. É preciso ter claro
que ela está aprendendo assimilar essa palavra de negação, de contrário, de
negativo. Por isso ela frequentemente, continua teimando até que de forma
equivocada se fale mais alto ou pior, que se grite com ela. Porém, quando a
abordagem é outra, como, por exemplo um convite a pensar junto, “Vamos
conversar sobre o que você fez” ou “Por que tu achas que o coleguinha está
chorando? ” Ela, gradativamente começa a construir uma referência que vai orientar
a sua ação.



A partir de agora, farei uso das vozes de minhas interlocutoras. Para identificá-las usarei P1 ou P2,
conforme o caso, demarcando a fala da Professora 1 ou da Professora 2.

 

Já P2 anuncia outro tipo de abordagem. Ela acredita que as crianças devem


refletir sobre sua postura ante as situações de conflito. Observemos a expressão
usada pela professora, “refletir”.
Uma abordagem que, acolhendo a criança, promove a reflexão sobre suas
ações surte um efeito positivo, pois, ela vai lembrar, com mais facilidade, de
determinada regra quando em outro conflito semelhante.
Uma abordagem acolhedora para uma criança em situação conflituosa vai lhe
dar a segurança necessária para acolher também o coleguinha que está envolvido
no conflito. Como, por exemplo:
Um menino, a quem darei o nome de José, na hora de brincar, pegou o seu
brinquedo e ali estava. Quando outra criança a quem, darei o nome de
João, queria o mesmo brinquedo e o tomou da mão do José, que havia
pego primeiro. José chorou e reclamou para mim sobre o ocorrido,
lembrando-me de uma regra de sala de aula dizendo “eu peguei primeiro”.
Ao fazer a mediação, parabenizei o José por lembrar da regra e lembrei o
João de que o José estava certo e que ele precisava esperar a sua vez de
usar aquele brinquedo. No final, os dois brincaram juntos e de acordo.
(Anotações do diário de sala de aula)

Ao refletir sobre essas situações, recordo que Cortella escreve sobre a


diferença que existe entre tolerar e acolher quando o assunto é convivência.
Há uma diferença entre tolerar que você não tenha as mesmas convicções
que eu — sejam religiosas, politicas, ou outras — e acolher suas
convicções. Porque acolher significa que eu o recebo na qualidade de
alguém como eu. (2013, p.29)

Não quero atestar que seja isso, mas, aquele que suporta tem um limite
menor do que aquele que acolhe. As formas de abordagem nos conflitos que
envolvem as crianças podem ser pensadas também nesta lógica: suportar ou
acolher.
Quando impositiva, uma abordagem tem efeito apenas naquele momento,
muitas vezes. No entanto quando envolvemos as crianças na questão com
perguntas simples e fáceis delas compreenderem acolhemos as crianças e as
convidamos a pensar. “E se fosse você, você gostaria? ” Essa é uma questão que
provoca uma reflexão de empatia9
Quando as crianças aprendem a refletir sobre suas ações na direção do
outro, aprendem a acolher também, e não apenas suportar o outro. Ainda que um
bom nível de tolerância ajude muito no convívio em sociedade.



Empatia significa a capacidade psicológica para sentir o que sentiria uma outra pessoa caso
estivesse na mesma situação vivenciada por ela.

 

Aliás, a ideia de suportar, tolerar, é o que mais sabemos fazer nos dias de
hoje. Passamos por muitas pessoas durante o dia nas grandes e pequenas cidades
Para quantas pessoas olhamos no rosto? A quantas cumprimentamos? E os colegas
de trabalho, de escola, faculdade...

4.2. A EDUCAÇÃO MORAL É CONSTRUÇÃO.

Nessa categoria percebemos que as professoras olham em direções


diferentes.
A P1 respondeu que o professor ou a professora devem assumir, na
aprendizagem das crianças, um papel de parceria “influenciando de forma decisiva
na qualidade do ensino das relações interpessoais que se estabelece dentro de
sala”.
A P2 traz a seguinte resposta “O professor poderá contribuir para a
construção moral e ética das crianças por meio do diálogo, de recursos disponíveis
em sala de aula”.
“Influenciando” e “contribuindo” não andam na mesma direção aqui, ainda que
busquem o mesmo proposito que é a educação moral.
Quando vamos ao dicionário10 de sinônimos da língua portuguesa,
encontramos:
Influenciar reporta a exercer influência: 1. Dominar, levar, intervir, controlar,
atuar, inspirar, influir, impressionar, motivar, persuadir, instigar, induzir, agir,
provocar, sugestionar.
Contribuir se associa a colaborar na realização de algo: 1. Entrar, ajudar,
auxiliar, coadjuvar, concorrer, cooperar, colaborar.

Quando se fala em construir, se pensa em processo. Algo que precisa de


tempo para dar-se por terminado. Contudo, a construção do nosso eu terminará
quando morremos. Enquanto criança tem-se uma longa jornada. A criança precisa
de ajuda nessa construção.



Dicionário de sinônimos da Língua Portuguesa on line. Disponível em:
http://www.sinonimos.com.br/influenciar/- acesso em 11/06/16.

 

Fávero (2005, p.21), parafraseando Piaget (1973) escreve sobre as duas


morais que a criança pode desenvolver: uma é a moral da coação e a outra é a
moral da cooperação.
A primeira trata da coação e do dever puro e da heteronomia. Já a Moral de
cooperação tem por princípio a solidariedade, que acentua a autonomia da
consciência, a intencionalidade e, por consequência, a responsabilidade subjetiva.
A autora escreve, também, sobre a importância do docente conhecer os
estágios do desenvolvimento moral para, assim, contribuir nessa construção de uma
forma significativa. Vejamos o que ela escreve
As crianças, os adolescentes, os jovens e os adultos emitem julgamentos
morais de acordo com o estágio de desenvolvimento que estão
experienciando. Se o professor conhece os níveis do desenvolvimento
moral, saberá identificar em qual estagio a criança se encontra e, assim,
poderá fazer uma intervenção mais correta. (FÁVERO 2005, P.18)

Diante da globalização e as demandas do mundo moderno, onde os pais


independente de suas vontades, acabam ficando mais ausentes, a preocupação
com o bem-estar dos filhos continua e é pertinente. Contudo, há uma mistura na
mente de alguns pais que tendem a pensar que o ambiente escolar é extensão de
casa. Pode acontecer também de alguns professores, por vezes se perceberem
ocupando o lugar da figura paterna ou materna.
As instituições, família e escola, são distintas, mas elas precisam formar uma
parceria estratégica. É sabido cada uma delas tem o seu papel dentro do projeto
político pedagógico como bem escreve Cortella (2014, p.106) ao lembrar que “Não é
o projeto pedagógico da escola, é com a escola. Isso significa que a escola também
precisa formar escola de pais. ”
Para que essa tarefa logre êxito, entendo que se faz necessário a postura de
uma gestão orquestrada entre família e instituição escola. Isso requer estratégias
para envolver a comunidade de modo que os olhos da comunidade se voltem para a
valorização da educação como base do convívio em sociedade.
Aquino (2002) se posiciona, com veemência, sobre a questão da postura dos
pais e professores com relação ao ensino. Ao ser perguntado sobre o assunto, sua
resposta foi;
É preciso separar os papeis de cada qual. Os pais tem a obrigação de
delegar a educação formal de seus filhos aos profissionais responsáveis.
Principalmente em escolas privadas, você constata uma intromissão
abusiva das famílias no trabalho dos professores (AQUINO 2002, p.22).


 

Ao delegar a educação aos profissionais entendo que é aquele momento em


que o pai ou a mãe olham para a criança na hora de apresentá-la ao professor e
dizer que ele será o responsável por ela enquanto estão juntos e que a criança deve
obedecê-lo em suas orientações.
Ainda sobre a tarefa dos pais, Aquino escreve que: “cabe a estes apresentar
a criança o espaço público e suas regras constitutivas”. Ou seja, através da figura
materna a criança vê a família e o mundo que lhe rodeia

Por vezes, os pais têm certa resistência de delegar essa tarefa e acabam
ultrapassando as fronteiras institucionais da escola, argumentando: em
casa, as coisas não funcionam assim! Nessa hora eles esquecem de que o
ambiente escolar não é uma extensão do lar de cada um. No entanto, se a
escola não cumprir o seu papel, se as crianças não forem acolhidas como
devem, os pais têm o direito de reivindicar uma melhor prestação de
serviços — seja na escola privada, seja na oficial. (AQUINO, 2002, p.23).

A criança precisa ter claro a quem ela deve obedecer na escola. Isso traz
segurança para ela enquanto aprende a desenvolver valores de convívio social.


 

CONSIDERAÇÕES FINAIS? UM OUTRO COMEÇO?

A Educação Moral permite que o sujeito desenvolva uma consciência moral,


dando-lhe instrumentos e estrutura cognitiva para organizar seus pensamentos e
administrar suas emoções, para que, na tomada de decisões, o faça de forma a não
comprometer seu convívio social e que possa viver bem consigo mesmo.
A moral está relacionada à cultura e sociedade de que o indivíduo faz parte
ou está inserido. Apesar de ser uma questão relacionada ao contrato social do meio,
está relacionada, também, às questões familiares.
Por exemplo: há coisas que faço, e que falo em casa que não é conveniente
fazer ou falar em um ambiente público. O modo como me relaciono com os de casa
não é o mesmo modo de relacionamento com um desconhecido, com uma
autoridade policial, com uma autoridade magistral e assim por diante.
Quando o sujeito vai a uma cerimônia religiosa, em uma igreja, sua
consciência lhe diz que deve se portar de acordo com a liturgia do local. Entretanto,
se o sujeito for a uma balada, por exemplo, o modo como ele vai se comportar é
outro. Essa capacidade de discernimento – algo a que se chega, segundo Gadamer
(2008) - e ação é um percurso a ser trilhado, desde muito cedo, e que se concretiza
através de uma consciência moral autônoma.
Essa consciência moral deve ser aprendida de forma gradual, começando na
infância até chegar ao nível de autonomia. Esse nível de desenvolvimento de
consciência moral é subjetivo e as circunstancias e o meio corroboram para esse
desenvolvimento.
A Pedagoga e o Pedagogo encontram nesse vasto campo, que é a Educação
Moral, o desafio de exercitar alguns saberes tais como o saber olhar, saber escutar,
saber dialogar...
As respostas dos questionários não ficaram longe de minhas percepções
sobre como pensava que se dá o desenvolvimento moral nas crianças.
O recorrido teórico acerca do tema reforçou a ideia de que a autoridade
familiar tem grande e, penso eu, importante contribuição na construção moral das
crianças. Por outro lado, temos uma realidade cada vez mais explicita nas famílias
que é o aumento da carga horária dos pais trabalhadores, que, por sua vez,
precisam deixar seus filhos um tempo maior nas escolas de educação infantil e nas


 

creches. La Taille quando escreve sobre a importância da ação familiar no processo


de educação das crianças refere que
[...] é preciso lembrar que criar cidadãos éticos é uma responsabilidade de
toda a sociedade e suas instituições. A família, por exemplo, desempenha
uma função muito importante até o fim da adolescência, enquanto tem
algum poder sobre os filhos. A escola também, na medida em que
apresenta experiências de convívio diferentes das que existem no ambiente
familiar - se deixo meu quarto bagunçado, o problema é meu; se deixo uma
classe bagunçada, o problema não é só meu. (LA TAILLE, 2008, sp)

O reconhecimento de que a tarefa de constituição de cidadãos éticos é tarefa


de toda a sociedade traz novos desafios aos professores, também, de educação
infantil. Esse chamamento para atender novas demandas das crianças exige mais
atenção e tempo dos professores.
Para continuar minha reflexão, busco as palavras de Cortella (2014, p.10)
quando escreveu sobre o contexto escolar do passado e de hoje. Entende ele que o
modo como se educava as crianças no passado pode servir de base para hoje
desde que não tenhamos isso como base absoluta, “se os alunos de hoje não são
mais os mesmos, se o mundo não é mais o mesmo, como fazer do mesmo modo? ”.
Concordo com o autor sobre isso e, em casa, hoje não educamos os filhos no rigor
em que fomos educados por nossos pais! Há necessidade de contextualizarmos o
legado que recebemos e o que escrevem autores e pesquisadores sobre a nossa
realidade atual. Sobre isso vale compartilhar a resposta de uma das
entrevistadas
Desde cedo a criança passa a ter alguns conhecimentos de valores e
normas adequados dentro da nossa sociedade e aprende muito com a
interação educador/criança. (P2)

Quero aqui destacar, dentro dessa resposta, “os valores e as normas


adequados dentro de nossa sociedade”. A adequação dentro de um planejamento
que se espera desenvolver. “Porque passado é referência, não é direção”
(CORTELLA, 2014, p.10). Gostei da analogia que o autor traz para continuar
tratando desse assunto.
Neste mesmo texto Cortella faz uso de uma metáfora sintetizada na ideia de
para-brisa e de retrovisor. A ideia do retrovisor para representar o passado e o de
para-brisa para representar o futuro. Peço emprestada esta metáfora para fazer uma
reflexão sobre os currículos atuais já buscando uma relação sobre educação moral.


 

“Nosso horizonte, que é o que o para-brisa mostra, é o futuro” e continua “ele é


maior, mais amplo do que o que temos no retrovisor” (CORTELLA, 2014, p.10).
Pelo fato de estarmos vivendo momentos de transformações nas estruturas
da nossa sociedade, tais como o conceito de família, precisamos buscar formas
didáticas (olhar no para-brisa), para continuarmos andando sem perder valores
essenciais para o convívio em sociedade. Valores esses como coragem, humildade
e generosidade (LA TAILLE 2000, p.9).
O autor afirma que “para ser justo, é preciso às vezes ser corajoso; para
dialogar, é preciso ser humilde (do contrário nem se ouve o que o interlocutor tem a
dizer), para ser solidário é preciso ser generoso, e assim por diante”.
A educação moral não pode ser vista de forma pesada. Nem morosa demais.
Costumo dizer que tudo o que é demais faz mal. Buscar uma didática onde se possa
mediar as aprendizagens faz parte da busca do profissional em educação.
Para concluir, destaco aqui o que Miguel A. Zabalza escreve, para a Revista
Pátio:
A criança pequena é competente no duplo sentido de situação de entrada e
de propósito de saída. Ao entrar na escola, já traz consigo vivencias e
destrezas (competências de diversos tipos e em diferentes graus de
evolução) que a escola deve aproveitar como alicerce de seu
desenvolvimento. Ao deixar a Educação Infantil, deve possuir um mais
amplo, rico e eficaz repertorio de experiências e destrezas que expressem o
trabalho educativo realizado durante os três anos de escolaridade. Não se
trata apenas de que a criança seja feliz e esteja cuidada durante esses
anos. Trata-se de fazer justiça a seu potencial de desenvolvimento nesses
anos cruciais. (ZABALZA 1999, p.17)

O autor defende que é preciso elaborar um currículo direcionado a atender e


desenvolver as competências das crianças de 02 a 05 anos de idade por serem
idades nas quais se evidenciam as potencialidades e grande desenvolvimento
cognitivo e sócioafetivo. Por isso devem ser trabalhadas visando à promoção da
criança.
No entanto, nestes tempos líquidos, conforme Bauman nos ensina (2009) é
necessário ter em mente as transformações que estão acontecendo, tais como, a
globalização das informações socioculturais alinhadas as rápidas mudanças
tecnológicas, descartabilidade dos objetos por uma nova versão, a transitoriedade
dos afetos ...
Essa atual forma de organização de nossa sociedade influencia as crianças
de uma forma ou de outra, na construção de seus valores morais. A educação moral

 

está relacionada, de forma direta aos valores, tais como respeito, humanidade,
justiça, solidariedade, generosidade, humildade, a coragem entre outras.
Com isso, para encerrar, quero dizer que precisamos perceber as mudanças
na forma como interpretarmos determinados valores em nossa sociedade atual e
pensar, com muita responsabilidade o que queremos ensinar no plano ético e moral
as nossas crianças com vistas à sociedade do futuro, na qual elas irão viver.


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REFERENCIA

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 

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Você está sendo convidado (a) para participar da pesquisa cujo tema é: Como
professores da educação infantil, podem contribuir para a educação moral de
crianças entre 03 e 04 anos, sob a responsabilidade do pesquisador (nome do
pesquisador) graduando em pedagogia na PUCRS.
Nesta pesquisa nós estamos buscando ressaltar a importância da contribuição do
docente na educação moral da criança com intervenções mediadoras.
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido será obtido pelo pesquisador (nome do
pesquisador) através de questionário entregue em mãos da entrevistada.
Na sua participação você responderá um questionário contendo duas perguntas. Se
for de sua preferência, será feita uma entrevista gravada em áudio com as mesmas duas
perguntas. Em caso de gravações de áudio, logo após a transcrição das gravações para a
pesquisa as mesmas serão desgravadas.
Em nenhum momento você será identificado. Os resultados da pesquisa serão
publicados e ainda assim a sua identidade será preservada.
Você não terá nenhum gasto e ganho financeiro por participar na pesquisa.
Você é livre para deixar de participar da pesquisa a qualquer momento sem nenhum
prejuízo ou coação.
Uma via original deste Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ficará com você.
Qualquer dúvida a respeito da pesquisa, você poderá entrar em contato com: (nome
do pesquisador) pelo e-mail: ____________________ e pelo fone: xx xxxx xxxx.
Escola de Humanidades da PUCRS – Curso de Pedagogia.

Porto Alegre, ....... de ........de 20.......

__________________________________
Assinatura do (s) pesquisador(es)


 

Eu aceito participar do projeto citado acima, voluntariamente, após ter sido


devidamente esclarecido.

_________________
Participante da pesquisa


 

VOCÊ ESTÁ CONVIDADA A PARTICIPAR DE UM QUESTIONARIO DE PESQUISA

SOBRE A CONTRIBUIÇÃO DO PROFESSOR E A PROFESSORA NA

CONSTRUÇÃO MORAL DA CRIANÇA ENTRE 02 E 04 ANOS, NA CRECHE OU NA

ESCOLA DE EDUCAÇÃO INFANTIL.

O AUTOR DA PESQUISA É __________________________, GRADUANDO EM

PEDAGOGIA NA ESCOLA DE HUMANIDADES DA PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE

CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL.

DESDE JÁ AGRADEÇO SUA CONTRIBUIÇÃO E COLABORAÇÃO.

FORMAÇÃO: __________________________________________

1 – Qual a importância da educação moral para as crianças, entre 02 e 04 anos, na

escola de educação infantil ou creche?

2 – De que forma a professora ou o professor pode contribuir na construção na

formação moral e ética das crianças?

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