Você está na página 1de 60

UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO

SUL – UNIJUÍ
DEPARTAMENTO DE HUMANIDADES E EDUCAÇÃO – DHE
CURSO DE PSICOLOGIA

BIANCA FERRARI HEMMING

REFLEXÔES SOBRE O FENÔMENO DO PODER NAS ORGANIZAÇÕES E SUAS


IMPLICAÇÕES NO TRABALHO, LAÇO SOCIAL E NA SUBJETIVIDADE DO
TRABALHADOR

Ijuí
2019
BIANCA FERRARI HEMMING

REFLEXÔES SOBRE O FENÔMENO DO PODER NAS ORGANIZAÇÕES E SUAS


IMPLICAÇÕES NO TRABALHO, LAÇO SOCIAL E NA SUBJETIVIDADE DO
TRABALHADOR

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso


de Psicologia da Universidade Regional do Noroeste do
Estado do Rio Grande do Sul - UNIJUÍ como requisito
parcial a obtenção do título de Bacharel em Psicologia.

Orientador(a): Janete Teresinha de Aquino Goulart

Ijuí
2019
“O poder só é aceitável, desde que esconda uma parte substancial do mesmo. Seu sucesso é
proporcional à sua capacidade de ocultar os seus próprios mecanismos”.

Michel Foucault
AGRADECIMENTOS

A realização deste trabalho, bem como, a etapa de conclusão de curso, exigiu muita
dedicação e determinação. Certamente este processo teria sido mais difícil sem a presença de
pessoas que, direta ou indiretamente, fizeram parte da minha formação.

Agradeço imensamente aos meus pais, Jaime Luís Hemming e Alexsandra Ferrari pelo
amor incondicional, por todo o apoio, e ensinamentos transmitidos. Por não medirem esforços
para auxiliar na realização dos meus sonhos, por sempre confiarem nas minhas capacidades e
por se dedicarem ao máximo para que fosse possível a realização desta graduação, me
incentivando do início ao fim. Sem eles nada disso seria possível.

Ao meu irmão, Bernardo Ferrari Hemming, pela parceria que temos, pelos momentos
compartilhados e por sempre estar ao meu lado.

Ao meu namorado, Willian Moura, pelo apoio, incentivo, por não me deixar desistir
dos meus objetivos, e por estar comigo em todos os momentos, segurando a minha mão
principalmente nas dificuldades.

A minha orientadora, Professora Janete Teresinha de Aquino Goulart, pelo auxílio e


ensinamentos transmitidos durante toda a graduação, mas especialmente na realização deste
trabalho. Agradeço imensamente por ouvir minhas angústias e dúvidas, me incentivando
sempre a buscar mais conhecimentos.

Aos meus amigos que foram a base em todas as dificuldades da minha formação,
deixando-me mais segura e com a certeza de que nunca estive sozinha durante este percurso
tão importante.

A toda a minha família pelo apoio e força recebidos durante toda a formação, mas
especialmente, na etapa de conclusão de curso.

Deixo aqui minha eterna gratidão a todos que de alguma forma contribuíram com o
meu processo de formação!
RESUMO

O presente trabalho aborda o poder, suas relações e seus impactos no ambiente de trabalho.
Como este se coloca na vida e na subjetividade do trabalhador. O poder possui diferentes
concepções, existindo diferentes áreas de estudo e de conhecimentos que se propuseram a
estudá-lo. Toma-se dentre estas, a ideia de que todas as pessoas possuem algum tipo de poder,
ou seja, algum potencial de influência sobre os outros. Nas organizações de trabalho, pode-se
dizer que pessoas de alto cargo possuem capacidade de influenciar outras, mas, pessoas de
baixa hierarquia também possuem poder sobre as outras. O poder é um conceito que
estabelece conexão com outros conceitos, por exemplo, com o conceito de “mando” e de
“influência”, compreendendo que tem poder aquele que influencia outras pessoas ou que de
algum modo tem a capacidade de influenciar ou de modificar resultados organizacionais. O
poder somente pode ser percebido, tomado ou exercido dentro dos vínculos sociais ou mesmo
pela compreensão de que os laços sociais são tecidos e estruturados pela linguagem.
Considerando-se que o ambiente de trabalho é o local onde o sujeito passa a maior parte do
seu tempo, pode-se dizer que o trabalho auxilia na construção da subjetividade do trabalhador.
Existem diversas maneiras de influenciar alguém e de exercer o poder em qualquer contexto
social, sendo que em todos os lugares é preciso do poder para dar início aos trabalhos, porém,
ele pode ser exercido de forma positiva ou de forma negativa. Quando exercido de forma
adequada auxilia no trabalho e nas relações entre os trabalhadores, mas, quando exercido de
forma inadequada, considerando o exercício do poder de forma abusiva controla os sujeitos e
os seus trabalhos, e, influencia de forma negativa na produtividade do trabalho dos sujeitos,
aumenta a rotatividade dos trabalhadores, influencia negativamente a vida dos trabalhadores
até mesmo fora do local de trabalho, impactando assim, a subjetividade dos trabalhadores
podendo conduzir à muitos desdobramentos imperceptíveis e até mesmo ao adoecimento.

Palavras-chave: laço social; poder; subjetividade; trabalhadores; trabalho.


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 6
1. PODER, TRABALHO E LAÇO SOCIAL: relato de caso ..................................... 9
1.1 O que é Poder: diferentes concepções ................................................................... 11
1.2 O que é Trabalho e sua importância para a construção subjetiva do trabalhador
........................................................................................................................................ 15
1.3 Laço Social: o poder na construção de vínculos entre sujeitos .......................... 21
2. O LUGAR DO PODER NO TRABALHO ............................................................. 29
2.1 Poder e Política Organizacional: Gestão e Liderança ......................................... 30
2.2 Autoridade e Legitimidade .................................................................................... 37
3. PODER E SUBJETIVIDADE DO TRABALHADOR .......................................... 41
3.1 Desejo de Poder ....................................................................................................... 42
3.2 Poder: visão positiva e negativa ............................................................................ 44
3.3 Abuso de Poder e seu Impacto na Subjetividade do Trabalhador .................... 47
CONCLUSÃO............................................................................................................... 53
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................... 57
6

INTRODUÇÃO

O presente estudo aborda o exercício do poder nas organizações de trabalho, bem


como, o impacto que ele pode produzir na subjetividade do trabalhador. Esta temática surgiu
pensando na expressividade existente sobre o poder nas organizações, que pode ser exercido
de diferentes formas, visto que, se faz pela linguagem, no laço social e dependendo do modo e
direção que se dá sua configuração, o poder tem a capacidade de movimentar e até mesmo
controlar os trabalhadores.

O estudo aborda o que o poder é capaz de fazer com os trabalhadores, pensando nos
efeitos subjetivos em quem detém o poder, na subjetividade de quem se submete a ele, e as
implicações do poder na organização e produtividade do trabalho.

A temática do poder já vinha se fazendo presente durante praticamente todo percurso


acadêmico, porém, se fez mais presente e de forma mais clara ao adentrar no último ano do
Curso de Psicologia, mais especificamente com o Estágio Supervisionado em Psicologia
Organizacional e do Trabalho. O Estágio realizou-se no INSS – Instituto Nacional do Seguro
Social de Ijuí, com o qual se percebeu o quanto o poder é uma questão que se faz presente
dentro do trabalho, e o quanto impacta tanto a subjetividade daquele que detém o poder, com
a emergência de comportamentos verificáveis como, expressão do sentimento de
superioridade frente aos outros trabalhadores, quanto, na subjetividade dos trabalhadores
submetidos ao poder.

Este tema é de suma relevância para proporcionar a reflexão das influências que as
relações de poder podem ocasionar na vida do trabalhador, levando-se em conta a importância
de um ambiente de trabalho adequado para o bom rendimento do trabalho e para a qualidade
de vida do trabalhador.

Diante disso, tem-se o intuito de identificar o impacto das configurações de poder


organizacional, respondendo aos seguintes questionamentos: O que o poder faz com a
subjetividade do trabalhador e o que o trabalhador faz com o poder após ocupar essa
posição? Como fica o trabalhador que é submetido muitas vezes a um “abuso de poder”?
Levando em consideração esta forma de poder, o que se coloca nesse contexto de trabalho e
gestão? E, o que faz o trabalhador ficar capturado nesta forma de organização?
7

O primeiro capítulo deste trabalho foi intitulado Poder, Trabalho e Laço Social: relato
de caso, sendo subdividido em três subitens – O que é Poder: diferentes concepções, O que é
Trabalho e suas implicações para a construção subjetiva do trabalhador e Laço Social: o
poder na construção de vínculos entre sujeitos.

Inicialmente, é relatado um estudo de caso, o qual teve seus fragmentos colhidos


dentro do campo de formação e cujas questões foram relatadas por um trabalhador, para poder
refletir melhor sobre o poder nas organizações e a influência sobre a subjetividade do
trabalhador, bem como, sobre a produção do seu trabalho. Este capítulo traz as diferentes
concepções existentes sobre o poder, buscando autores e áreas de conhecimento que se
dedicaram a estudar este fenômeno.

Também, o primeiro capítulo trata das implicações que o trabalho traz para a
construção subjetiva do trabalhador, visto que, o trabalho é parte importante desta construção.
Dependendo da forma com que ele se coloca para o trabalhador, pode favorecer ou dificultar,
influenciando na subjetividade e na vida do sujeito-trabalhador, e por extensão à própria
produção do seu trabalho. No meio disso tem-se o exercício do poder, pois, dependendo da
forma com que o poder se organiza no campo do trabalho, e como se concretiza nos vínculos
e laços sociais diz respeito a forma como o trabalho se organiza para o sujeito. E, por fim, este
capítulo traz a relação que se estabelece entre poder e laço social, haja visto que o poder só
existe se for pensando enquanto “relações de poder”, pois ele só pode ser exercido dentro das
relações sociais, tendo duas ou mais pessoas envolvidas.

O segundo capítulo intitulado: O Lugar do Poder no Trabalho trata sobre, pessoas


que, ao assumirem posições de gestores, supervisores, chefias, acabam prejudicando o
andamento e produtividade dos trabalhos. Este capítulo foi subdividido em dois subitens –
Poder e Política Organizacional: Gestão e Liderança, que aborda a relação existente entre o
poder e a política que já existe dentro da organização, e a diferença entre gestão e liderança,
sendo que o gestor já tem seu cargo determinado pela própria hierarquia da organização, e a
liderança não é um cargo, mas qualquer pessoa dentro da empresa pode assumir esta posição.
Porém, deve-se levar em conta que tanto a gestão quanto a liderança necessitam da obtenção
do poder. O segundo subitem deste capítulo é: Autoridade e Legitimidade, que também
aborda a diferença dessas duas palavras e a importância que elas representam quando se refere
ao exercício do poder nas organizações.
8

O terceiro capítulo intitulado: O Poder e a Subjetividade do Trabalhador; é


subdividido em três subitens: Desejo de Poder que aborda a atração que muitas pessoas
apresentam em exercer o poder, em ocupar essa posição exercendo superioridade sobre as
outras pessoas. O segundo subitem é: Poder: visão positiva e negativa, que aborda sobre as
diferentes maneiras que as pessoas utilizam o poder, podendo ser de maneira adequada ou
inadequada; positiva ou negativa. E, por fim, o terceiro subitem deste capítulo – Abuso de
Poder nas Organizações e seu impacto na subjetividade dos trabalhadores aborda sobre o
poder exercido especificamente de forma negativa e inadequada, considerando neste subitem
“de forma abusiva” e que além de impactar na produtividade do trabalho causando diversas
consequências para o sujeito e para a organização, acaba afetando diretamente nas esferas da
vida individual e social do trabalhador.

Este estudo pode contribuir para as empresas, trazendo questionamentos com relação
aos modelos de poder e sua influência na produção, demonstrando que a gestão coletiva da
organização do trabalho permite a transformação do sofrimento ou do prazer e possibilita o
engajamento do trabalhador na atividade sem prejuízos à sua saúde mental. Assim estudar a
vida psíquica dos indivíduos e suas manifestações nas organizações ajuda a entender os
processos sociais de controle e de poder, que podem contribuir para a criação de um ambiente
mais saudável e propício à realização.
9

1. PODER, TRABALHO E LAÇO SOCIAL: relato de caso

A temática do poder, além de ser um tema da atualidade, é sem dúvidas, um dos mais
polêmicos e antigos estudos das ciências humanas, podendo ser compreendido a partir de
diferentes vertentes. As diferentes concepções que a palavra poder é submetida, e, sendo
objeto de pesquisa de diversas ciências, nos mostra o quão complexo é esse fenômeno e que
ele permeia as relações humanas nos diferentes contextos sociais no qual o ser humano está
inserido.

Os esquemas hierárquicos e funcionas que a própria organização propõe para


descrever a conduta dos seus membros são insuficientes para explicar: a integração
dos executivos e trabalhadores [...], a sobrecarga de trabalho aceita e mesmo
procurada por muitos, a aceitação de uma ideologia de lucro e de expansão, apesar
dos conflitos e sofrimentos que a acompanha, e as influências exercidas sobre cada
um na complexa arquitetura da grande organização. Eis alguns motivos para se
pesquisar o poder nas organizações [...] (PAGÈS et al, 1987 apud SILVA, 2007, p.
50).

O poder apresenta um lugar essencial nas organizações de trabalho visto que é


considerado uma importante ferramenta para compreender a dinâmica e o modo de
funcionamento de uma organização. Para tanto, inicia-se o presente trabalho com um breve
relato de caso que se dá por meio de fragmentos colhidos no campo de formação e que
produziram algumas reflexões.

A questão é relatada por um trabalhador da área do comércio: trata-se de uma empresa


familiar de grande porte, com filiais em diversas cidades do Estado do Rio Grande do Sul, e
que tem em seu quadro administrativo um grande número de funcionários. Esta empresa
sempre teve reconhecimento por todos os funcionários e pela comunidade em geral. A
maioria dos funcionários que nela trabalhavam eram antigos na empresa e, talvez, em função
disso, tinham um salário elevado. A empresa foi fundada há mais de 50 anos, e a gestão da
mesma inicialmente se deu pelo seu fundador; cuja origem era a agricultura. Após seu
desligamento por volta de 1990 a gestão passou para o filho do fundador da empresa, sendo
que, os andamentos dos trabalhos e o bom relacionamento entre os funcionários mantiveram-
se até o ano de 2011, quando a gestão da empresa passou para um sobrinho; neto do fundador.
E, a partir disso, algumas questões começaram a se colocar.

O novo gestor colocou câmeras de vídeos escondidas dentro dos veículos de


funcionários, que viajavam a serviço da empresa para supervisionar filiais em outras cidades.
10

Os objetivos de tais câmeras não se explicitaram, mas quando descobertas produziram um


constrangimento que não poderia ser tomado pela psicologia unicamente, mas possivelmente
também pelo sujeito jurídico.

Com a crise econômica, os funcionários que trabalhavam há anos na empresa, que


possuíam cargos superiores e consequentemente salários elevados, foram todos demitidos da
empresa com a promessa de que após seis meses, estes mesmos funcionários seriam
recontratados pela empresa, porém, recebendo metade do salário. Muitos funcionários não
concordaram com este “acordo”, colocando a empresa na justiça. Muitos decidiram abrir seu
próprio negócio, outros buscaram novas oportunidades de trabalho e, alguns trabalhadores
retornaram à empresa com o salário reduzido.

Pelo relato do funcionário, 40 anos de idade, que trabalhava há mais de 20 anos na


empresa, passou a ser pressionado a ocupar a função de realizar a demissão de funcionários;
pessoas que até então eram colegas, que trabalharam durante muito tempo juntos, e sem
clareza acerca dos objetivos para tais demissões.

Após algum tempo, o gestor começou a pedir para o funcionário que modificasse sua
maneira de se vestir, para que ele estivesse sempre na “moda” de forma que os outros
funcionários pudessem se espelhar nele. Outro funcionário da mesma empresa, formado em
moda, foi contratado para ir até a casa deste funcionário, olhar e analisar suas roupas e lhe
“ensinar” maneiras consideradas “corretas” e na “moda” para se vestir.

Então, além de constituir uma ferramenta que permite a maior produtividade,


efetividade e auxiliar no modo de funcionamento de uma organização, o poder é um conceito
essencial para compreender a gestão organizacional. Segundo Paz et al (2004), “o sucesso da
organização é função do modo como seus membros coordenam suas atividades, e isso remete
ao exercício do poder”. (p. 382).

Por outro lado o trabalho é fundamental para o ser humano ocupar seu lugar e ser
reconhecido na sociedade. E isso requer a compreensão acerca do laço social.

Tendo em vista o contexto de que o trabalho só pode existir a partir do laço social, e
que o sujeito só pode se inserir e permanecer em um campo de trabalho a partir do momento
em que ela se reconhece dentro de um campo social, é que será abordado “laço social”,
discutindo sua importância para o lugar do poder no trabalho, e que, não podemos falar de
11

trabalho e de poder dentro das organizações sem falar de laço social, pois sem laço social não
existiria trabalho, tampouco poder.

1.1 O que é Poder: diferentes concepções

Para realizar o estudo do qual se propõe, é necessário, primeiramente, situar o


significado da palavra Poder. Poder vem do latim: potere, que significa o direito de deliberar,
agir e mandar. Esta palavra é definida por diferentes ciências, e por este motivo, é
considerado um conceito complexo e difícil de ser mensurado.

[...] No Direito é definido como autoridade para praticar o ato jurídico-lei, na


Economia dominação exercida com consequência da posse de grandes recursos
financeiros, na Política, controle exercido sobre a população, capacidade de agir e
fazer os outros agirem por meio do uso de um aparato legal e burocrático do Estado,
na Filosofia, potência exercida de modo difuso, e não necessariamente explícito,
pelo conjunto das relações sociais sobre os indivíduos e que lhes impõe
determinações que regulam seus modos de ser: comportamentos, interesses,
ideologias etc [...] (SILVA, 2007, p. 15).

O poder, em sua concepção mais conhecida e utilizada, significa segundo Lebrun


(2009), o momento em que alguém consegue fazer com que outro alguém faça algo, de que
não teria feito sem o comando daquele que detém o poder. Com essa definição pode-se
pensar que é a dependência de uma pessoa em relação à outra que reforça o poder desta
primeira, que é quem detém e exerce o poder, ou seja, “a fonte do poder repousa nesta
dependência [...]” (CLEGG, 1996, p. 51).

Segundo Silva (2007), poder é definido também como habilidade, capacidade ou


força, atribuindo ao poder uma qualificação de “posse”, referindo-se a: alguém possui a
capacidade, a habilidade ou a força. Esses três elementos podem advir das características
pessoais da pessoa, da própria organização, ou também, da percepção da outra pessoa, pois
muitas vezes é determinada pessoa que dá poder a outra quando aceita essa submissão.

O termo “poder” pode ser compreendido como competência ou capacidade de exercer


a autoridade, ou a posse do domínio e da influência. (BOBBIO, 1999, apud, BRÍGIDO,
2013). Entendendo que o poder está fortemente associado com influência, precisa-se reportar
12

ao significado deste termo. Influência é o ato de alguém “invadir” as relações entre as pessoas
na tentativa de provocar mudanças no comportamento destas intencionalmente. Influência é
utilizada em quase todas as definições de poder, para dizer que “influenciar é exercer poder,
tem poder quem influencia”. (SILVA, 2007, p. 54). Ou seja, pode-se dizer que quando uma
pessoa tem a capacidade de modificar o comportamento e as ações de outras pessoas significa
que ela está exercendo a influência sobre os outros e consequentemente, o poder.

De acordo com Katz e Kahn (1976) a influência pode ocasionar efeitos positivos ou
negativos, sendo positivo quando a influência apresentar os efeitos que o influenciador espera,
e negativa quando apresenta resultados contrários ao que o influenciador espera. A influência,
segundo esses autores, é qualquer ato que produza algum efeito, podendo manifestar-se no
comportamento, no estado psicológico do sujeito, ou em qualquer de suas condições.

Referindo-se ainda a influência, Leavitt et al (1980, apud Krausz, 1988) afirmam que
um dos principais componentes do poder é a capacidade que uma pessoa apresenta em
influenciar ou controlar o comportamento de outras pessoas. Os autores consideram o poder
como a capacidade de influenciar as ações de indivíduos ou grupos. Assim, o poder pode ser
compreendido como um recurso que leva as pessoas a determinados resultados, ou seja, é um
potencial de influência sobre os outros. Com isso, torna-se necessário mencionar também os
conceitos de controle e autoridade, pois, esses conceitos, juntamente com o conceito de poder,
são derivados da influência.

Controle diz respeito a influência produzida no sujeito que tem o efeito que o
influenciador deseja, ou seja, controlar o sujeito, suas ações e comportamentos. Quando se
fala em falta de controle, não quer dizer que não se teve influência, ou que não se teve
controle, mas, significa dizer que as tentativas para tais não ocorreram de modo efetivo. Poder
significa a capacidade que uma pessoa tem em influenciar outras utilizando meios de coerção
para exercê-la. Autoridade é o poder que uma pessoa tem devido a sua posição determinada
pela hierarquia organizada pela própria organização. É o poder considerado legítimo, ou seja,
que é aceito pelos demais membros da instituição. É o poder considerado legal. (KATZ;
KAHN, 1976).

Enquanto alguns autores utilizam a palavra influência para definir poder: “capacidade
de influenciar outrem a fazer algo contra sua própria vontade, ou capacidade de influenciar
resultados organizacionais”. (MINTZBERG, 1983 apud SILVA, 2007, p. 27). Srour (1998)
13

diz que existem diferenças entre esses conceitos. O poder, segundo esse autor, atua sobre os
corpos e sobre as vontades das pessoas por meio de ameaças, força física, violência, e
imposição. E, a influência quer dizer tentar fazer com que as outras pessoas façam aquilo que
se considera correto sem haver o uso de força.

Para estudar a definição de poder, é necessário também pensar nos conceitos de


domínio, coerção e legitimidade, pois mesmo havendo divergências, essas palavras
constituem aquilo que denominamos poder.

Dominação diz respeito à probabilidade de que um indivíduo mande e os outros


obedeçam a determinado conteúdo. Refere-se a um comando que não depende do
consentimento das pessoas, e que é exercido de qualquer forma, se as pessoas aceitarem ou
não. “Já o uso da autoridade, está relacionado com a aceitação da mesma, [...] enquanto a
coerção reside na aplicação de 1sanções com a finalidade de assegurar o cumprimento de
determinações”. (VIEIRA; CARVALHO, 2003, p. 75).

Mintzberg (1983, apud Silva, 2007) é o autor mais utilizado, na contemporaneidade,


para entender o poder nas organizações como forma de compreender melhor a dinâmica
organizacional. O autor diz que o comportamento organizacional é um jogo de poder, onde
todos os jogadores – chamados de influenciadores – tem o objetivo de controlar as decisões e
ações nas organizações. Para ele todos os membros que fazem parte da organização –
membros internos, que é todos aqueles que trabalham na organização desde as pessoas de alta
hierarquia até as pessoas de baixa hierarquia, e os membros externos à organização, que são
as pessoas que estão de fora da organização, mas que de alguma forma participam dela, seja
os clientes, fornecedores etc, todos esses possuem a capacidade de influenciar, ou seja, pode-
se considerar que todas essas pessoas de alguma forma, possuem poder.

O poder pode ser visto também como um mundo de disputa onde existe uma tensão
permanente, presente não só em todas as pessoas como também nos seres vivos. É uma força
que serve para conduzir um grupo de pessoas com o intuito de buscar algo em comum. Pode
ser visto como uma necessidade ou utilidade de um grupo, sendo uma função que faz parte
das relações sociais entre os seres humanos.

1
A punição referente à desobediência ou à execução de uma lei. (Dicio.com.br, 2009).
14

Estudos da sociologia definem o poder como a habilidade de impor uma vontade sobre
os outros, mesmo havendo resistência. É algo que vem de uma classe superior e mantém o
domínio e o comando sobre uma classe inferior. A partir dessa compreensão, poder significa a
probabilidade de impor a própria vontade, dentro de uma relação social, mesmo contra a
vontade das outras pessoas envolvidas. (SILVA, 2007).

Além de impor uma vontade sobre os outros, Vieira e Carvalho (2003) dizem que o
poder refere-se à capacidade que o indivíduo ou a organização possui de impor ideias a partir
da sua própria estrutura interna. Com a imposição de extrapolações da estrutura interna da
organização ou do próprio individuo compreende-se que “estes possuem algo, 2atávico ou
‘genético’, capaz de dar direção impositiva a relações externas, seja por meio da autoridade
ou da coerção”. (VIEIRA; CARVALHO, 2003, p. 72). A partir dessa direção, a
psicossociologia ao realizar estudos sobre o poder considera-o uma integração entre os
aspectos psíquicos do sujeito e os aspectos objetivos (econômicos, políticos e ideológicos),
por isso, ao estudar as organizações deve-se relacionar os níveis econômicos, políticos e
ideológicos com as estruturas internas do sujeito trabalhador, ou seja, com o seu inconsciente.

Enriquez (2001) introduz um novo modo de pensar o poder, que parte das próprias
instituições. Ele diz que o sistema de poder já está instaurado dentro das instituições. Ou seja,
é a própria instituição que exerce o poder sobre a psique e as condutas humanas, pois mesmo
que a conduta do sujeito seja derivada do seu desejo, a instituição que proporciona à pessoa
certa autonomia, “definindo a estrutura hierárquica, a divisão do trabalho, o detentor da
palavra e o sistema de sanções”. (VIEIRA; CARVALHO, 2003, p. 95). Assim, mesmo que o
individuo ocupe algum papel na estrutura de poder, este não é atribuído do individuo, mas
sim, é uma capacidade ou condição que a organização proporciona para o sujeito, sendo que a
ação de poder é decorrente do seu papel na organização.

O poder é uma relação de caráter sagrado de tipo assimétrico, que se estabelece de


um lado, entre um homem e um grupo de sujeitos que formam um conjunto ou um
aparelho especifico que define os fins e as orientações da sociedade, dispondo do
uso legitimo da violência e de outro lado, um grupo mais ou menos amplo de
indivíduos que dão seu consentimento às normas editadas. Este consentimento pode
ser obtido pela interiorização de valores societais, pela adesão ativa às orientações
propostas, pela fascinação ou sedução exercida pelos dominadores ou pelo medo de
sanções. (VIEIRA; CARVALHO, 2003, p. 93)

2
Transmitido ou adquirido de maneira hereditária; que se refere ao atavismo, ao reaparecimento em alguém das
características de um antepassado que permaneceram escondidas por muitas gerações. (Dicio.com.br, 2009).
15

Dito isso, pode-se compreender que o poder não se constitui como algo que se deve
obedecer a alguém. Apesar de o poder ser compreendido como uma relação, ele não é
percebido dessa forma, pois este acaba sendo reconhecido como objeto de medo e de que
deve ser respeitado. Nesse sentido, a instituição é colocada no lugar do poder, “como
mobilizadora de 3pulsões, como órgão de regulação da sociedade, como concretização do
poder, como formação e socialização das pessoas para torná-las dóceis e satisfeitas com sua
submissão” (VIEIRA; CARVALHO, 2003, p. 96).

Então, o próximo tópico deste capítulo abordará: o que é trabalho e sua importância
para a construção subjetiva do trabalhador, tendo em vista que o trabalho é o local onde o
sujeito passa a maior parte do seu tempo e da sua vida, por isso é considerado um local de
grande relevância e que apresenta grandes implicações para a construção da subjetividade do
sujeito. Dependendo da maneira da organização do trabalho, remetendo a forma com que o
poder muitas vezes é exercido causa consequências para a produção do trabalho do sujeito e
também para a sua vida fora desse ambiente, na sua subjetividade.

1.2 O que é Trabalho e sua importância para a construção subjetiva do trabalhador

O trabalho humano é uma atividade determinada e transformadora na vida do sujeito,


que por vezes consiste em ser uma atividade penosa, contudo, necessária. A palavra
“trabalho” pode ser compreendida como uma atividade profissional, remunerada ou não,
criativa ou produtiva, exercida com determinada finalidade. O trabalho é um comportamento,
no qual sua natureza é de fácil compreensão, porém, um termo difícil de ser definido, pois,
possibilita diversos olhares e diferentes compreensões, podendo ser de caráter positivo ou
negativo, dependendo do contexto ideológico de determinada época.

O trabalho se estrutura historicamente e politicamente, de forma que, não podemos


pensar o trabalho separado da existência humana, tendo em vista que ao longo da historia da
humanidade esta atividade sempre exerceu um papel fundamental e determinante na vida do
homem. (JACQUES, 1996 apud NEVES et al, 2017).

3
Segundo Freud (1916), pulsão é o conceito situado na fronteira entre o mental e o somático, como o
representante psíquico dos estímulos que se originam no corpo - dentro do organismo - e alcança a mente, como
uma medida da exigência feita à mente no sentido de trabalhar em consequência de sua ligação com o corpo.
16

Existem abordagens que se referem ao trabalho como fonte de satisfação e auto


realização, que possibilita a expressão do sujeito, atribuindo-lhe reconhecimento perante a
sociedade. Mas por outro lado, o trabalho também pode ser considerado um esforço rotineiro
e repetitivo, que não proporciona liberdade, e que consome o sujeito. (JACCARD, 1960).

Na maioria das vezes, a visão negativa atribuída à palavra “trabalho” está relacionada
a uma representação de maldição, coerção, castigo, e esforço, servindo apenas para a
sobrevivência material do sujeito, pois, nesse contexto, o individuo trabalharia apenas para
garantir sua sobrevivência e não pelo seu bem-estar e satisfação. (NEVES et al, 2017). Nessa
mesma perspectiva, podemos encontrar o trabalho associado à noção de sacrifício, esforço
incomum, carga e atividade esgotante, ou até mesmo, dor, tortura e fadiga. Jaccard (1960) diz
que, de acordo com o Antigo Testamento esta palavra também está associada ao termo de
punição que é de onde se originam as noções de obrigação, dever e responsabilidade.

O termo “trabalho”, antes do século XV, originava-se das palavras: besogne, que vem
de besoin, e significam respectivamente, trabalho e necessidade; e labor, que vem do latim –
labare e laborare, e significa fazer muito esforço. (JACCARD, 1960). Porém, a partir do
século XV, esses termos foram substituídos pela palavra – tripalium – que significa
instrumento de tortura. Antigamente, este termo era utilizado para referenciar a um
instrumento feito de três paus aguçados que às vezes tinham ponta de ferro e que era utilizado
pelos agricultores para rasgar e esfiapar o trigo, espigas de milho e o linho. Utilizando o termo
“torturar”, é justamente nesse sentido que a terminologia trabalho significou durante muito
tempo, fazendo conotação ao sofrimento. Pode-se compreender então, que a avaliação
negativa da palavra “trabalho” está associada com o termo que a originou. Porém, “desse
conteúdo semântico de sofrer, passou-se ao de esforçar-se, laborar e obrar”. (ALBORNOZ,
1994, p. 10).

As diferentes concepções de trabalho dependem da evolução dos modos e das relações


de produção e da organização da sociedade como um todo. Segundo Coutinho (2009)
“trabalho é uma atividade humana, de cunho individual ou coletivo, de caráter social,
complexa, dinâmica e que se diferencia de qualquer prática animal por ser de natureza
reflexiva, consciente, propositiva, estratégica, instrumental e moral”. (p. 191). Dito isso,
compreende-se que, o que diferencia o trabalho humano de qualquer outro animal é a
capacidade que o homem possui de realizar alguma atividade planejada e consciente, e por
meio desta, transmitir significado à natureza. Por este motivo, Neves et al (2017) afirma que o
17

trabalho envolve uma dupla transformação, pois além de transformar o homem, transforma o
meio em que ele vive.

Em outras compreensões, o termo trabalho é encontrado como “a operação humana de


transformação da matéria natural em objeto de cultura”. (ALBORNOZ, 1994, p. 08).
Referindo-se a isso, podemos pensar no trabalho enquanto uma tarefa ou atividade que o
sujeito realiza para transformar alguma coisa material em algo cultural. Nesse sentido,
trabalho é o ser humano em movimento para satisfazer-se e assim, se realizar.

Se abríssemos, por exemplo, um dicionário da Grécia Antiga, possivelmente


encontraríamos o trabalho como atividade exclusivamente física, que se reduzia ao
esforço que deviam fazer as pessoas para assegurar seu sustento, satisfazer suas
necessidades vitais que não era valorizada socialmente. (BOCK 2006 apud NEVES
et al, 2017, p. 320).

Para a alma hebraica e para a grega o trabalho era considerado como um castigo e
sofrimento, porém, “o trabalho sempre foi, para o homem, simultaneamente, alegria e
tormento. Pela sua própria natureza implica um esforço, tensão, constrangimento, que, [...]
pode ir até ao sofrimento”. (JACCARD, 1960, p. 22). Devemos considerar então, que o
trabalho enquanto atividade de satisfação não existe se não for fonte de sofrimento, e ao
mesmo tempo, fonte de alegria.

Chiavenatto (1983, apud Rizzo, 2011) afirma que segundo a concepção da


Administração Cientifica de Taylor e de seus seguidores, o homem em relação com seu
trabalho, busca somente por dinheiro e recompensas salariais, contudo, percebeu-se que o
salário não é o único fator que motiva o trabalhador perante o seu trabalho, mas, o homem é
motivado muito mais por recompensas sociais e simbólicas. Nessa mesma linha, Jaccard
(1960) diz que o trabalho satisfaz três necessidades fundamentais da natureza humana, que
seriam: a necessidade de subsistir (função econômica), a necessidade de criar (função
psicológica) e a necessidade de colaborar (função social). Com isso, podemos compreender o
trabalho enquanto estruturante do sujeito, de forma pessoal e social.

O trabalho pode ser compreendido como uma função psicológica e uma necessidade,
porém, este termo não era reconhecido dessa forma antes da era do Socialismo e da Grande
Indústria, que ocorreram no século passado. Antigamente, o homem executava suas atividades
visando apenas às necessidades básicas, como se alimentar e se vestir. Na Antiguidade, Idade
Média e parte da Modernidade o próprio homem não reconhecia o valor da atividade que
18

realizava e a sua razão de existir. Então, pode-se dizer que não havia consciência sobre a
dignidade do trabalho.

Para os povos antigos a noção de trabalho não era vista de forma clara e definida, pois
eles caçavam animais somente para seu sustento, sendo que esta era uma atividade ocasional,
que não era exercida de forma rotineira e regular. O trabalho nesse sentido tinha função
econômica, ou seja, servia apenas para a sobrevivência dos seres humanos. Apesar de o
trabalho não ter o seu reconhecimento, também exercia função psicológica e social, pois por
meio dele os povos podiam expressar suas mais profundas necessidades. Porém, somente após
os artesãos, criadores de gado e agricultores exercerem uma continuidade nas suas atividades,
exercendo-as com regularidade, é que a noção de trabalho modificou, se definiu e passou a ser
reconhecida. Com essa estabilidade em relação a agricultura e ao artesanato, a noção de
trabalho se modificou, pois “fabricando e aperfeiçoando seus utensílios, o homem do passado
tinha em vista um fim preciso e consciente; não ignorava o sentido e a natureza do trabalho”.
(JACCARD, 1960, p. 15).

Compreende-se a maneira que o trabalho era visto antigamente também, com a classe
operária. Durante o Século XIX, a classe operária lutava por melhores condições de trabalho.
A duração do trabalho era em torno de 12, 14 ou 16 horas diárias, as crianças eram obrigadas
a trabalhar na produção industrial, os salários eram muito baixos, insuficientes para o próprio
sustento. Havia falta de higiene, esgotamento físico, acidentes de trabalho e condições para
uma alta morbidade e mortalidade. Ou seja, nesta época, segundo Dejours (1992) lutar pela
saúde era a mesma coisa do que lutar pela própria sobrevivência.

O trabalho era exigido de forma tão intensa, que além de sofrimento, causava risco a
própria vida dos operários trabalhadores. Pode-se compreender que a luta dos operários tinha
claramente dois principais objetivos, que eram o direito à vida e a liberdade de organização.
Assim, uma das principais conquistas da classe operária foi a redução da jornada de trabalho,
bem como, a conquista pelo seu direito de viver.

Nota-se que a temática do trabalho sempre esteve presente no decorrer da história da


humanidade. Então, é importante indagar a seguinte reflexão: o que no trabalho seria fonte
agressiva para a saúde mental dos trabalhadores? Segundo Dejours (1992), os operários
lutavam pela sua sobrevivência devido a duração excessiva do trabalho, e, lutavam pela saúde
do corpo pelas condições de trabalho a que os trabalhadores eram submetidos. Respondendo
19

ao nosso questionamento, o autor nos diz ainda, que o sofrimento mental é resultante da forma
que o trabalho está organizado.

Quando se refere a condições de trabalho, precisa-se pensar em primeiro lugar ao


ambiente de trabalho – ambiente físico (temperatura, pressão, altitude...), ambiente químico
(produtos manipulados, gases tóxicos...) e ambiente biológico (vírus, bactérias...). Ainda
devem ser consideradas as condições de higiene e a segurança do local de trabalho. Por fim,
pode-se pensar na organização do trabalho, que se refere à divisão do trabalho, a hierarquia,
as relações de poder, entre outros fatores que condizem com a maneira que o trabalho se
organiza. (DEJOURS, 1992).

No decorrer do século XX, o trabalho recebeu outra configuração, pois foram surgindo
novas formas de organizar o trabalho, bem como, novas formas de trabalho. Pode-se observar
que os empregos não são mais duradouros como antigamente, em que o trabalhador
permanecia no mesmo emprego até a idade de exercer a aposentadoria. Foram surgindo novas
tecnologias, substituindo muitas vezes os próprios trabalhadores; novos modelos de gestão e
novas possibilidades de produtividade. Essas modificações redefiniram o lugar e o sentido de
trabalho na vida de cada sujeito, visto que, trouxeram implicações objetivas e subjetivas, pois,
o trabalho tem valor tanto socioeconômico, como também valores socioculturais, sendo a
experiência que o trabalho traz para cada pessoa.

No mundo capitalista, o trabalho passou a alienar o homem à medida que ele precisa
vender sua força de trabalho apenas para sua sobrevivência, tornando o trabalho dissociado da
pessoa que o realiza. Por isso dizemos que o trabalho, fonte de satisfação e de prazer, pode-se
tornar também fonte de sofrimento e adoecimento quando o trabalho se torna muito rígido e
repetitivo, impossibilitando o sujeito de qualquer criação e transformação da sua tarefa. Com
isso, o sujeito acaba realizando somente aquilo que lhe é solicitado, sendo impedido de criar
ou pensar no seu próprio trabalho. (BORGES; RIBEIRO, 2013).

Com isso, percebe-se que a competitividade e disputas no ambiente de trabalho tem se


intensificado. Os trabalhadores são submetidos a exigências para cumprir metas, apresentar
mais resultados e mais produtividade na organização. Devido a isso, há concorrência entre os
trabalhadores para garantir sua permanência no emprego. A organização exige o aumento da
dedicação do trabalhador, fazendo com que o sucesso se torne uma obsessão, que vai para
além do âmbito de trabalho. Neves et al (2017) referindo-se a isso vai dizer que “o trabalhador
20

subordinado ao capital não tem mais controle do produto nem do processo de seu trabalho,
pois estes estão centralizados nas mãos do capitalista” (p. 320).

Essas inúmeras pressões que os trabalhadores são submetidos na sociedade atual acaba
gerando uma insegurança psicossocial. Com isso o estresse aumenta e consequentemente
afeta o próprio caráter do trabalhador, que é capaz de passar por cima dos outros
trabalhadores para conseguir o que almeja. Esses sentimentos advindos do próprio ambiente
de trabalho podem afetar a construção da autoestima do sujeito, e acabar fragilizando outros
relacionamentos sociais, como por exemplo, o ambiente familiar do trabalhador. (NEVES et
al, 2017).

Dejours (1996) afirma que o indivíduo que perde o emprego passa por um processo de
dessocialização, e apresenta sua identidade afetada, por não ter mais condições de sustentar
sua vida e da sua família. Por outro lado, o indivíduo que permanece no emprego vivencia
essa permanência com medo de perdê-lo.

De acordo com Antunes (2000 apud Neves et al 2017), o sentido do trabalho deve ser
relacionado com o sentido na vida. Ou seja, não há como encontrar sentido na vida, se não
nos sentirmos satisfeitos e realizados no âmbito do trabalho. O trabalho passa a ter sentido
para o sujeito, na medida em que ele se torna capaz de atribuir valor àquilo que produz, pois
somente a partir desse momento é que o trabalhador vai se sentir realizado ao executar
determinada atividade.

Quando se tinha certa estabilidade no emprego, o trabalhador sentia que ele próprio
era o autor da sua história, visto que, a vida fazia sentido ao trabalhador por meio das
conquistas que o fruto do seu trabalho lhe proporcionava. Com essa estabilidade, não existia
tantas cobranças e exigências, nem disputas internas entre os trabalhadores. Com o
capitalismo e ideias neoliberais cada vez mais presentes, o individuo passa a não ter mais
controle da sua vida, pois é sua a responsabilidade de se manter no emprego, passando a viver
com ansiedade por não saber mais o que acontecerá com o seu futuro e da sua família.

Gaujelac (2007, apud, Neves et al 2017) afirma que os novos modelos de gestão e
direção das empresas são responsáveis pelo sofrimento psíquico dos trabalhadores.
21

Na sociedade contemporânea a lógica financeira faz sentido por si, e os elementos


significativos do trabalho se dissolvem em primazia das necessidades econômicas e
gerencialistas. Assim, institui-se um imaginário social, onde a sociedade inteira tem
de se colocar a serviço da economia, ocultando essa perda progressiva do
significado do trabalho que leva a contrassensos, antagonismos e incertezas. Assim,
o ato do trabalho se perde em um sistema concreto, abstrato e que não permite mais
ao trabalhador circunscrever concretamente os frutos de sua atividade. (p. 322).

Os indivíduos, na sociedade moderna, apresentam o trabalho como referência para a


vida, por isso pode-se dizer que a nossa cultura se organiza em torno do trabalho. Ou seja, a
produção da atividade do sujeito funciona como mediador para a realização de trocas sociais,
e isso facilita com que o trabalhador passe a gostar daquilo que faz a ponto do seu trabalho se
tornar uma vocação. A partir desse ponto de vista, o trabalho é uma marca registrada, onde o
sujeito muitas vezes passa a ser conhecido, socialmente, por ser “dentista”, “psicólogo”, ou,
“professor”. Ou seja, pelo reconhecimento do trabalho que realiza.

No texto “mal-estar na civilização”, Freud (1930) refere-se ao trabalho como uma das
formas que faz com que o sujeito encontre um pouco de felicidade, porém, principalmente na
atualidade o trabalho também tem sido fonte de sofrimento e patologia. O mal-estar no
trabalho seria fruto do próprio discurso que articula e desarticula o laço social na
contemporaneidade. A seguir, abordar-se-á sobre laço social e sua relação com o poder nas
organizações, visto que, o poder só existe se for pensado nas relações sociais.

1.3 Laço Social: o poder na construção de vínculos entre sujeitos

O laço social constitui-se como um campo amplo de pesquisa, especialmente para a


psicanálise, visto que, as mudanças na cultura, bem como, o capitalismo presentes no nosso
tempo, afetam e causam impactos diretamente sobre o laço social.

Inicialmente, será utilizado como principal referencial teórico a obra Totem e Tabu, de
Freud, onde “a superação da horda primeva4 pelo totemismo representa uma mudança de
paradigma que demarca um corte que origina o laço social.” (MALCHER; FREIRE, 2016, p.

4
A horda primeva descrita por Freud em Totem e Tabu é formada por um bando de irmãos que vivem sob a
liderança e repressão sexual de um pai violento, que possui e vigia todas as fêmeas contra as possíveis investidas
sexuais dos filhos machos, e, enciumado os expulsa do bando. Tão logo eles se tornam grandes o suficiente para
por em risco o poder absoluto do pai. (FREUDESLIZAR, 2010).
22

70). Nessa obra Freud (1912-1913), faz uma comparação entre os tabus totêmicos e o
Complexo de Édipo, referindo-se a dois tabus fundamentais que são o assassinato do animal
totêmico e a proibição do incesto, dizendo que assim como as pessoas, principalmente nas
sociedades primitivas, tinham o desejo inconsciente de descumprir essas leis, os neuróticos
também apresentam inconscientemente o desejo de afastar o pai para ter a mãe.

A atitude da criança para com o pai é matizada por uma ambivalência peculiar. O
próprio pai constitui um perigo para a criança, talvez por causa do relacionamento
anterior dela com a mãe. Assim, ela o teme tanto quanto anseia por ele e o admira
[...] Quando o indivíduo em crescimento descobre que está destinado a permanecer
uma criança para sempre, que nunca poderá passar sem proteção contra estranhos
poderes superiores, empresta a esses poderes as características pertencentes à figura
do pai [...]. Assim, seu anseio por um pai constitui um motivo idêntico à sua
necessidade de proteção contra as consequências de sua debilidade humana.
(RIZZO, 2011 apud FREUD, 1927, p. 38).

Em Totem e Tabu, o pai ocupava lugar de líder da horda, representado como um lugar
de exceção e de violência. O líder não faz laço com os outros membros, pois, ele é o único
que tem direito de se aproximar das mulheres da horda, proibindo aos outros tal aproximação.
Por este motivo, os filhos ao crescerem desafiam este pai, se reúnem com o mesmo objetivo
que é o de eliminar o pai. O líder exerce sua lei de forma violenta, e, é interessante notar que o
lugar de exceção ocupado pelo líder implica na lei somente para os outros indivíduos, e não
para ele próprio.

Neste momento submetemo-nos a uma situação um tanto irônica, pois, aquele que não
faz laço acaba favorecendo o laço social entre os membros da horda primitiva, na medida em
que o líder torna-se o inimigo, e todos insatisfeitos realizam uma reunião com o intuito de
acabar com ele. Somente ter o mesmo pensamento, de acabar com o líder, não os faz
manterem o laço social, mas lhes dá a oportunidade para isso. “Se individualmente, os
vencidos e expulsos pelo pai primevo não se sentiram fortes o suficiente, reunidos mostraram-
se capaz de eliminá-lo”. (MALCHER; FREIRE, 2016, p. 71). Os filhos insatisfeitos matam o
pai que ocupava lugar de líder, lugar de exceção e apresentam o intuito de obter o poder do
pai, se identificando com ele. Dito isso, compreende-se que o nascimento de um grupo de
pessoas ocorre quando existe o mesmo pensamento, os mesmos objetivos.

Freud (1912-1913) diz que as pessoas que pertencem ao mesmo grupo precisam
cometer um crime em conjunto, pois é esse crime comum que faz os seres humanos tornarem-
23

se irmãos e semelhantes. Mas, na medida em que os irmãos cometem o crime visando o


mesmo objetivo, pode causar um efeito contrário, provocando a rivalidade entre eles. O
intuito comum entre os irmãos é tomar o lugar do pai, ou ficar no lugar do filho preferido, ao
qual o pai proporciona uma parte do seu poder. Para que o pai aceite dividir seu poder ou para
que o pai tenha um filho preferido, faz-se necessário que o pai se perceba enquanto pai, pois a
partir do momento dessa percepção é que a civilização nasce. Com isso, os seres percebem
que existe um vinculo libidinal que os une no ódio comum contra o pai, e passam a se
identificar uns com os outros.

A primeira vez que as pessoas, dentro de uma instituição ou sociedade, sabem o que
querem é quando podem falar sobre aquilo que elas não concordam e não gostam, assim, o
grupo começa a partilhar do mesmo pensamento. O objetivo disso não é simplesmente fazer
esse outro “desaparecer”, mas principalmente se apropriar da potência e desta violência
originária existente nesse outro. Esse ato de incorporação e de assassinato ao pai é que faz
com que o grupo exista de forma durável, formando o que chamamos de laço social.

O banquete coletivo, onde as pessoas possam incorporar as virtudes e os poderes do


pai, é o momento em que o grupo vive um sentimento coletivo, [...] é o momento em
que cada um pode visualizar no olhar do outro o mesmo contentamento e o mesmo
ódio, se identificando com o outro na medida em que este se torna seu semelhante
pela incorporação da mesma potência. (ENRIQUEZ, 1990, p. 32)

Esse momento suscita um sentimento de força comum, favorece a coesão do grupo e


permite o nascimento dos irmãos. É então necessário interiorizar as capacidades desse que
agora está como “morto” a fim de garantir uma origem ideal, que transforme os membros do
grupo em fragmentos representativos deste ideal e em seres humanos. (ENRIQUEZ, 1990).

Segundo Freud (1912-1913), se o ódio é o que transforma os seres submissos em


irmãos, é o assassinato que transforma o chefe da horda em pai. O chefe é aquele que provoca
temor e angústia, que passa por cima dos outros. E o pai é aquele que provoca a ambivalência
de sentimentos: amor e ódio. É aquele que sufoca e que castra, e que deve ser morto ou pelo
menos, vencido.

O acesso à cultura precisa passar pela referência paterna, sem esta referência não é
possível construir uma cultura. Com isso, torna-se importante fazer uma diferenciação entre
cultura e as relações sociais. Em ‘o mal estar na civilização’, Freud (1930) traz que a cultura
24

pode ser compreendida como uma instituição de justiça que, por meio do estabelecimento de
normas e regras, priva muitas vezes a liberdade dos sujeitos. A cultura é um princípio de
regulação que atua sobre as relações sociais. Então, podemos considerar como característica
de uma cultura a forma como as relações humanas são reguladas.

De acordo com Freud (1912-1913, apud, Enriquez, 1990) um grupo só existe se


houverem projetos em comum. Ele propõe que o primeiro projeto, aquele que permite a
tomada de contato e formações de relações sociais, é uma conspiração contra outro, contra um
poder vivenciado como ameaçador para o grupo. Ainda segundo este autor, a organização da
sociedade se dá em dois tempos: o tempo do acontecimento, que seria o momento em que
acontece o assassinato do pai da horda. E o segundo tempo, que é onde a organização fraterna
padece do retorno desse ato primitivo, podendo ser na prescrição de algo que deve ser
seguido, que é o totem, ou de alguma proibição que impede a satisfação do sujeito que seria o
tabu.

No primeiro momento, o assassinato do pai proporciona aos irmãos um sentimento


positivo, sendo somente em um segundo momento que esse sentimento torna-se negativo,
representando-se pelo supereu e ideal do eu, ou seja, pela consciência e a moral. Nesse
sentido o eu opera de forma a “perceber” a internalização de sentimentos agressivos que
conduziram ao assassinato do pai, sendo que isso pode ser compreendido também como uma
tentativa de um dos irmãos tomarem o lugar do pai. Com essa tentativa a comunidade reage
impondo uma interdição em forma de Lei.

A interdição formulada como proibição contra o incesto, impede a reedição real da


horda primitiva ao mesmo tempo em que a realiza simbolicamente. Tal é a dupla
face da lei ao representar o retorno do pai da horda: estabelece a culpa coletiva como
principio de organização social pela internalização dos impulsos agressivos e institui
a figura do ideal do eu que mantém os membros do grupo ligados libidinalmente
entre si. (POLI, 2004, s.p).

É preciso levar em consideração que o sujeito, bem como, a sociedade ou qualquer


organização e instituição precisa ter uma lei que organize determinado grupo de pessoas.
Freud (1912-1913) diz que o desejo do incesto está presente em todas as sociedades, se
manifestando especialmente nas sociedades primitivas. Por este modo existe uma lei que
proíbe as pessoas que são da mesma família casarem ou manterem relações sexuais uns com
os outros. A proibição do incesto não é somente algo que vai reger o funcionamento de uma
25

família e a estruturação do sujeito, mas é um elemento essencial para a construção de uma


sociedade e sua organização.

A questão do Édipo se coloca no desenvolvimento do psiquismo individual, mas


também é uma questão decisiva à qual todo corpo social deve responder para fazer parte de
uma cultura, vivendo relações estabilizadas e simbolizadas. E para isso, a única alternativa é a
criação de uma instância repressora, afinal, a civilização nasce com e pela repressão. Não
pode existir corpo social (instituição, organização), sem a instauração de um sistema
repressor. Da mesma forma, não existe sociedade sem ser regida por um sistema de
parentesco, ou seja, de regras de aliança e filiação. (ENRIQUEZ, 1990).

Compreende-se agora porque o assassinato ao próprio pai é fundamental para a criação


da cultura: ele nos introduz no mundo da culpabilização, da renúncia (realização do desejo ou
desejo da realização), da instituição de uma função paterna na origem da humanidade, da
necessidade da referência a uma lei externa transcendente, que se manifestará em organização
social e restrições morais.

Então, finalmente, pode-se compreender que a cultura refere-se ao tempo mítico que
seria o assassinato do pai da horda, pois este tempo é o que funda o princípio que vai regular a
relação entre os indivíduos. O laço social refere-se às diferentes maneiras de lidar com as
consequências do retorno deste ato primitivo, no decorrer da história. Pode-se dizer que o
elemento cultural funda a humanidade, e os laços sociais “estabelecem a história, eles
inscrevem ao longo do tempo as formas de enlace que os humanos constituem entre si”.
(POLI, 2004, s.p). Ou seja, podemos pensar que o laço social é as relações entre os indivíduos
construídas historicamente.

O laço social pode assumir diferentes modalidades dependendo do contexto de


determinada época e cultura. “[...] É uma forma de fazer laço com o outro que se conecta, e ao
mesmo tempo separa, pois se sustenta sobre um vazio, que abrigará a causa do sujeito, sua
singularidade”. (TIZIO, 2006, s.p).

O sujeito se constitui por meio das relações sociais, sem isto, não existiria sujeito.
Freud (1930) diz que o relacionamento com os outros é a maior causa de sofrimento do
homem, ou seja, pode-se considerar que o mal-estar na civilização afeta os laços sociais. Os
laços sociais são causa e consequência do mal-estar. Os laços sociais são estabelecidos por
26

meio da linguagem, e, por este motivo, podem ser denominados discursos. A linguagem é
fundamental para a construção e o estabelecimento de uma cultura, pois é o que permite a
comunicação entre os seres humanos, por isso, as trocas sociais, trocas de ideias e também o
pensamento fica impossibilitado se a linguagem falhar.

O sujeito apresenta um discurso contendo as construções fantasmáticas dos grupos


sociais no qual ele se insere. “O discurso é então atravessado pelo imaginário social, pelo
imaginário individual, pela simbólica social [...] e pelas tentativas da simbólica individual”.
(ENRIQUEZ, 1990, p. 18). Isso quer dizer que não deve ser somente pensado no sofrimento
individual, mas que existe um sofrimento social que também precisa ser trabalhado, como por
exemplo os medos coletivos em uma determinada sociedade, a angustia de castração 5, os
efeitos do recalcado6 e a repressão existente na sociedade. O sintoma do indivíduo nunca é
singular, mas sempre tem marcas do social onde o individuo está inserido.

A sociedade só é construída a partir de um desejo, e o desejo só se faz ouvir na medida


em que responde a uma lei de organização. Para tanto, a pulsão está sempre presente, e somos
obrigados a escutar que na sociedade deve existir de forma contínua proibições extremamente
rigorosas, servindo para proteger a sociedade. Se as sociedades primitivas criaram tantas
interdições foi porque as primeiras instituições sociais foram as que serviram para reprimir,
organizar e canalizar a sexualidade.

O primeiro drama da humanidade é de que o homem sempre vai ter o desejo de


ultrapassar essas interdições, mesmo sabendo que se concretizar esta ultrapassagem poderá
causar a destruição do social e do individuo.

Nota-se, também, que a presença de um líder em grupos sociais é bem mais antiga e
complexa, pois os clãs totêmicos analisados por Freud, organizações sociais primitivas sem
desenvolvimento algum, deram origem às atuais sociedades, trazendo no nosso inconsciente a
herança dessas relações.

5
“o sentimento inconsciente de ameaça experimentado pela criançaquando ela constata a diferença anatômica
entre os sexos” (ROUDINESCO, 1998).
6
marca que fica no inconsciente. Essas marcas permanecem e são uma forma de fuga de conteúdos internos que
ameaçariam o ego. Desta forma, permanecem no inconsciente, no entanto, não sem causar consequências e
determinar comportamentos e atitudes. Pelo contrário, quanto maior o duelo entre o conteúdo reprimido que
deseja vir à consciência e a força que o ego faz para manter o ameaçador fora, mais se alojam consequências
negativas na rota da vida do sujeito.
27

Relacionando especificamente o poder com o laço social, Srour (1998) conceitua o


poder como uma relação social, pois a principal fonte do poder está na capacidade de coagir
ou de estabelecer domínio sobre os outros, de produzir algum efeito sobre os outros, ou de
controlar as ações dos outros. “Poder” pressupõe uma relação. Relação entre duas ou mais
pessoas, entre grupos, entre empresas, cidades, países etc... Essa relação é uma relação
desigual contando que existe uma hierarquia determinada muitas vezes pela organização do
trabalho, onde existe o chefe, gerente, subordinado... Ou seja, existem pessoas que são
superiores a outras, que possuem cargos superiores. Existem pessoas que possuem mais
capacidade de influenciar do que outras, e essas outras pessoas parecem depender desse
poder. Isso não quer dizer que as pessoas com cargos inferiores não possuem condições ou
capacidades para influenciar e exercer o poder na mesma medida, ou capacidade de resistir ao
poder exercido sobre elas, essa resistência ao poder chama-se contrapoder.

O poder afeta no mínimo duas pessoas, e é considerado uma relação que está presente
em todos os contextos sociais, tanto nas sociedades maiores quanto em pequenos grupos,
sendo que se torna mais visível quando trata-se de coordenar ou controlar alguma atividade.

De acordo com o pensamento de Foucault (1986), o aparelho do Estado é um


instrumento especifico de um sistema de poderes, mas, o poder não está unicamente
localizado no Estado, pois, mesmo que houvesse luta e tentativa para destruir o Estado, não
seria possível fazer desaparecer as relações de poder que existem na sociedade. Não se pode
partir do Estado para explicar as relações de poder e os saberes que se constroem na sociedade
capitalista, pois muitas vezes, o poder constrói-se fora do Estado. Isso que ele coloca não
significa dizer que o poder não se situa no Estado, mas sim, que o poder não se institui em um
lugar específico da estrutura social. Que o poder não apresenta limites e fronteiras, estando
presente somente em um lugar. Por isso pode-se dizer que o poder não é uma coisa como algo
que alguém possui, e outra pessoa não possui. O poder só existe se for pensado como relações
de poder, como algo que se efetua, que é exercido, e sobretudo, como algo que funciona. Que
funciona como uma máquina, situado em toda a sociedade, por todas as partes, se
disseminando por toda a estrutura social. “Ele é luta, afrontamento, relação de força, situação
estratégica. Não é um lugar, que se ocupa, nem um objeto, que se possui. Ele se exerce, se
disputa. E não é uma relação unívoca, unilateral; nessa disputa ou se ganha ou se perde.”
(FOUCAULT, 1986, p. 15)
28

O poder é uma relação de forças, que existe em todos os lugares. As pessoas não
existem sem as relações de poder, pois, o poder é uma prática social, e não um objeto natural
e, enquanto prática social constitui-se historicamente. Foucault (1986, p. 14) afirma que:

O poder deve ser analisado como algo que circula, ou melhor, como algo que só
funciona em cadeia. Nunca está localizado aqui ou ali, nunca está nas mãos de
alguns. [...] O poder funciona e se exerce em rede. Em sua malha, os indivíduos não
só circulam, mas estão sempre em posição de exercer este poder e de sofrer sua
ação.

Então, o poder não pode ser visualizado a partir de uma dominação de um individuo
sobre os outros e de uma classe sobre as outras. O poder não pode ser pensado a partir de que
um grupo de pessoas tem o poder e outro grupo de pessoas não tem, pois, o poder está agindo
em todas as partes, na sociedade inteira e em todas as pessoas. “Através de seus mecanismos,
o poder atua como uma força, coagindo, disciplinando e controlando os indivíduos”.
(BRÍGIDO, 2013, p. 60). E, quando executado na forma de controle, impossibilita o sujeito de
realizar adequadamente e produtivamente suas atividades, prejudicando sua convivência e
relações sociais no ambiente de trabalho. Assim, o capítulo a seguir trata mais
especificamente sobre o lugar do poder no contexto organizacional.
29

2. O LUGAR DO PODER NO TRABALHO

O ser humano é um ser individual, pois se representa por interesses diferentes e por
vezes conflitivos. Para abordar o lugar que o poder apresenta no trabalho, torna-se importante
falar além de poder, sobre a política existente nas organizações. Segundo Arendt (1999), por
este motivo, estabelece-se uma relação entre política e poder, visto que, tanto a política quanto
o poder surgem da necessidade que o sujeito possui em conciliar essas diferenças e organizar-
se em sociedade. Assim, pode-se considerar que a política e o poder são fenômenos naturais e
que são essenciais para as relações sociais na sociedade, mas também nas organizações de
trabalho. Como já mencionado, o poder é definido como a capacidade ou habilidade que uma
pessoa tem em influenciar o comportamento de outras pessoas ou de afetar os resultados
organizacionais, e a política é definida como a maneira; a forma com que o poder é exercido.

Thorne (1987, apud Krausz, 1988) afirma que:

Num mundo empresarial que muda rapidamente, muitos executivos ascendentes


estão sendo promovidos para posições de poder sem estarem preparados para
enfrentar suas crescentes responsabilidades... Para evitar a perda de mercados ou
conflitos intraorganizacionais desgastantes, será necessário, mais do que nunca,
conhecer e entender o que as pessoas fazem com o poder e o que o poder faz com as
pessoas [...] (THORNE, 1987, apud, KRAUSZ, 1988, p. 11).

O poder é considerado um fenômeno essencial para o desenvolvimento e processo de


liderança, bem como, para resolver conflitos e decisões no ambiente organizacional. O poder
também é algo natural, visto que se encontra presente em qualquer grupo de pessoas ou
organização, sendo que seu estudo é fundamental para compreender melhor o comportamento
organizacional, podendo colaborar para uma gerência ou liderança mais qualificada e
eficiente. Mintzberg (1987 apud Silva 2007) afirma que o comportamento organizacional é
como se fosse um jogo de poder, querendo dizer com isso, que ao compreender o poder em
uma organização, podemos ter a compreensão da dinâmica e funcionamento dela, sendo que o
poder pode auxiliar para gerenciar os processos organizacionais com mais eficiência.
30

2.1 Poder e Política Organizacional: Gestão e Liderança

É inevitável o surgimento de conflitos e incertezas no ambiente de trabalho, visto que,


fazem parte das organizações pessoas com diferentes valores, objetivos, interesses e
percepções. Nas organizações, as decisões, são tomadas na maioria das vezes de forma
conjunta, de modo que cada pessoa tem direito a fazer a sua interpretação, na tentativa de
utilizar meios para favorecer seus interesses pessoais. Dessa forma, existe uma relação entre
poder e política nas organizações, na medida em que a política seria um meio de utilizar o
poder para resolver conflitos e se chegar a decisões, que se não fosse por esse meio, não se
conseguiria. A política organizacional também é uma maneira que os gerentes, supervisores,
ou as pessoas superiores utilizam para exercer o seu poder e assim, protegê-lo.

Referindo-se a política existente na organização, Cherques (1993 apud Silva 2007) diz
que se as pessoas prestarem atenção vão perceber que ocorre uma pequena tragédia todas as
vezes que uma nova gerência assume o poder na organização, e que isso tende a se repetir
todas as vezes, como se sem essa tragédia não fosse possível a renovação da instituição. O
poder nunca é fácil, de graça, mas, sempre é conquistado. Com isso, o autor utiliza a obra de
Maquiavel – “O príncipe” para falar sobre o esquema dos leões e das raposas, e sua relação
com a liderança.

Não importa que alguém tenha conquistado um cargo de liderança, por mérito ou
acaso, ou que um posto lhe tenha sido outorgado por sorte, herança ou conveniência.
Só domina, só chega a elite – entendendo-se por elite a minoria ocupante das
situações estratégicas – aquele que tem força e astúcia, que tem a Virtú7. Assim,
caminha para o poder aquele que equilibra a força dos leões – grandeza de ânimo, fé
na justiça, o propósito e a astúcia das raposas – colocando a própria sobrevivência
acima dos ditames das normas e da moral. (CHERQUES, 1993 apud SILVA, 2007,
p. 18).

Sobre isso o autor ainda causa a reflexão de que nas organizações, atualmente, as
pessoas que pretendem alcançar o poder ou se manterem no poder, seja chefe, presidente,
administrador ou gerente, podem agir como leões ou como raposas.

Poder e liderança não são conceitos totalmente distintos; um complementa o outro,


pois de certo modo para ser líder é necessária a obtenção do poder, visto que, os líderes

7
Para Maquiavel (1987), a virtú é a destreza do governante em obter o sucesso pelos favores da fortuna,
alcançando com isso a glória e a manutenção do poder. A virtú era a astúcia política, o segredo da excelência e o
sucesso do príncipe.
31

normalmente utilizam o poder para atingir seus objetivos e metas organizacionais. Além do
conceito de poder, a liderança também está interligada com o conceito de influência, haja
vista que a liderança é definida como “um processo de influenciar pessoas para o atingimento
de metas organizacionais e poder como a capacidade [...] para influenciar pessoas e
acontecimentos”. (SILVA, 2007, p. 59). Mencionando a relação existente entre poder,
liderança e influência, tem-se que o poder de um líder é fundamental não apenas para
influenciar subordinados, mas também para influenciar superiores, colegas de trabalho e até
mesmo pessoas que estão fora da organização como clientes e fornecedores. (MUCHINSKY,
2004 apud SILVA, 2007). A influência ainda pode ser considerada como a principal
característica da liderança.

Srour (1998) faz uma diferenciação entre gestor e líder, dizendo que muitas vezes as
pessoas confundem a ocupação de cargos com liderança, mas, nem sempre é assim. O autor
diz que a liderança ultrapassa cargos ou posições formais, não necessitando de
institucionalizações. O líder, geralmente, é estabelecido de forma espontânea e informal, de
acordo com o seu convencimento sobre os seguidores, ou seja, necessita da influência. Este
mesmo autor faz ainda uma relação entre poder e mando, dizendo que, essas duas concepções
consistem “em ter a capacidade de decidir e de obter a docilidade de outrem, de ditar ordens e
de vê-las cumpridas”. (SROUR, 1998). A maneira mais utilizada em exercer o poder ou o
mando está no uso da ameaça ou da força física sobre o corpo. O autor também diz que um
chefe só recebe a obediência dos seus subordinados, pois estes possuem medo das situações
desconfortáveis e muitas vezes constrangedoras que a desobediência pode ocasionar e
também porque encontram-se vulneráveis economicamente. Outro motivo da obediência ao
chefe é a impossibilidade de realizar algum trabalho autônomo como meio de subsistência,
especialmente nas sociedades capitalistas. Por este motivo todos necessitam do emprego e se
sujeitam a cumprir as atividades determinadas para sua jornada de trabalho.

A liderança de um líder é conquistada e seu controle apoia-se sobre a adesão das


consciências, sobre uma obediência consentida. Já o gestor ocupa um posto baseado
na confiança com os superiores, dá ordens, controla os outros com base na
‘disciplina do corpo’, isto é, no poder ou mando, e obtém uma obediência
compulsória de seus subordinados. (SROUR, 1998, apud, SILVA, 2007, p. 27).

No século passado tinha-se o pensamento de que se uma pessoa quisesse liderar uma
empresa ou um grupo de pessoas, deveria realizar cinco funções: prever, organizar, comandar,
32

coordenar e controlar. Com o passar dos anos, essas funções reduziram-se para: planejamento,
organização, direção e controle. Sendo que, o pensamento é de que juntamente com a
realização dessas funções se construam o nascimento de grandes organizações. (RIZZO,
2011).

Marques (2009 apud Rizzo, 2011) considera que, durante muito tempo, tinha-se o
pensamento de que a liderança era uma qualidade que a pessoa tinha, juntamente com
características da sua própria personalidade. Porém, percebeu-se que existem alguns fatores
que faz com que alguém consiga a condição de liderar outras pessoas. A personalidade do
sujeito é um fator importante, porém, além disso, o lugar de líder depende de uma posição
hierárquica diferenciada dos outros, bem como, a competência.

Em sua maioria, os gerentes e líderes são as pessoas que costumam exercer o poder
nas organizações. O gerente é um líder que foi nomeado previamente pela organização, sendo
que a ele foi atribuído um poder legítimo, ou seja, ele detém a autoridade, e tem a função de
auxiliar nas atividades de trabalho de um ou mais subordinados. Ele tem a responsabilidade de
cumprir e de fazer com que os outros cumpram o que está determinado pela organização, ou
seja, as atividades que precisam ser exercidas. Já a liderança é uma relação entre as pessoas,
considerando que, os níveis de influência e poder entre essas pessoas foram atribuídos de
maneira desigual, pois o líder, para ser considerado enquanto líder possui mais nível de
influência e poder do que os outros trabalhadores. A liderança também não ocorre de maneira
isolada, ou seja, é preciso que ela ocorra dentro das relações entre as pessoas, sendo que para
existir o líder é necessária a existência de seguidores. (BOWDITCH e BUONO, 1992 apud
SILVA, 2007).

A liderança é um componente fundamental para a administração de um grupo de


pessoas ou para uma organização de trabalho. Os administradores tem a função de planejar e
organizar, mas os líderes precisam arrumar uma maneira de incentivar os trabalhadores a
buscar atingir os objetivos da organização. O poder é adquirido tendo como base a própria
personalidade da pessoa, já a autoridade é atribuída à pessoa pela organização. O conceito de
poder também é utilizado para definir estilos de liderança, pois a forma que um líder utiliza
para exercer o poder estabelece um determinado estilo.
33

Líderes autocráticos centralizam o poder e as tomadas de decisões em si mesmos,


são tipicamente negativos e baseiam suas ações em ameaças e punições [...]; líderes
participativos descentralizam a autoridade concedendo informações aos empregados
e encorajando-os a expressarem suas ideias e a fazer sugestões; já os líderes rédeas
soltas evitam o poder e a responsabilidade, sendo que o poder acaba se concentrando
no grupo que estabelece objetivos e resolve problemas. (DAVIS e NEWSTROM,
1992 apud SILVA, 2007, p. 60).

Continuando a fazer uma pequena distinção entre administradores e líderes, tem-se


que, os administradores são escolhidos pela organização, e os líderes são escolhidos e
apoiados pelo grupo. Assim como existem diferentes cargos e funções que as pessoas ocupam
na hierarquia e organização de uma empresa, existem também diferentes tipos de poder a
serem exercidos. Então, para essa discussão sobre o poder e sua relação com cargos
superiores que normalmente exercem o poder nas organizações, torna-se importante
mencionar alguns tipos de poder existentes e que podem ser exercidos no trabalho.

O poder legítimo, como já referido anteriormente, é aquele que não se baseia nas
características pessoais do sujeito, pois este tipo de poder diz respeito a autoridade que já é
atribuída à pessoa pela organização. Depende dos demais funcionários acreditarem e
aceitarem que aquela pessoa tem capacidade e autoridade para estar e permanecer no
comando das outras pessoas.

O poder de recompensa diz respeito à capacidade do gerente atribuir aos funcionários


resultados recompensadores, ou seja, atribuir a eles coisas positivas, como, aumento de
salário, elogios ou algumas promoções. Ou, retirar dos funcionários coisas negativas, como,
reduzir a jornada de trabalho ou retirar horas-extras. O poder de recompensa é formalmente
atribuído pela própria empresa, possibilitando ao superior a capacidade de recompensar seu
subordinado.

O poder de coerção é quando existe punição, podendo esta ser realizada com multas,
redução de salário ou até mesmo, com a demissão dos subordinados. (SPECTOR, 2002). Este
tipo de poder envolve medo e ameaça, pois os funcionários ficam com medo do que pode
acontecer caso eles desobedeçam ou não concordem com alguma situação. Para que o poder
coercitivo funcione, os funcionários precisam realmente ter medo da punição e valorizar o seu
“estar na empresa”. Esse tipo de poder é formalmente concedido nas organizações, e
normalmente, é visto como o tipo de poder que as pessoas menos desejam, pois se baseia na
imposição de punições por parte dos superiores. (KRUMM, 2005).
34

O poder de conhecimento ou de especialização é a capacidade de influenciar alguém


tendo como base os conhecimentos ou habilidades que a pessoa que influencia possui, e, para
este tipo de poder mostrar-se eficiente é preciso que as outras pessoas respeitem e acreditem
nos conhecimentos de quem influencia. O mais importante do poder de conhecimento é que
os sujeitos consigam perceber que o líder, ou a pessoa que está representando o poder,
realmente possui experiência e conhecimento para ser um bom líder. Este tipo de poder não é
formalmente concedido pela organização, pois o conhecimento pode não ser considerado para
outras áreas. Segundo Robbins (1999), o poder de conhecimento ou especialização é
considerado, atualmente, uma das formas mais eficazes de influência, devido principalmente
aos avanços da tecnologia.

O poder de referência, chamado também de poder carismático, é baseado nos traços


pessoais do superior, por meio dos quais as outras pessoas o admiram e querem ser como ele,
ou que fazem de tudo para que o gerente ou a pessoa que está no cargo superior goste delas.
De acordo com Krumm (2005), o líder que apresenta este tipo de poder tem o respeito das
pessoas, sendo que ele passa a ser visto como modelo para os subordinados, e mesmo que o
líder tome decisões equivocadas, a liderança permanece porque seu poder é baseado na pessoa
e não nas suas capacidades e habilidades.

De acordo com Silva (2007), em pesquisas de diversos autores há relatos de que o


poder de conhecimento ou especialização e o poder de referência tem se mostrado mais eficaz
na obtenção de resultados positivos, como satisfação no trabalho, aumento de produtividade e
melhor relacionamento entre o superior e o subordinado. O poder legítimo e o poder de
coerção tem se mostrado os menos eficazes para se alcançar os resultados esperados, pois,
mesmo que o superior consiga por meio destes tipos de poder influenciar seus subordinados, a
existência de taxa de rotatividade dos trabalhadores e desânimo no trabalho, acaba sendo
maior do que a produtividade.

Existe o líder natural (que é aquele apoiado pelo grupo), e o líder nomeado (que foi
nomeado pela própria organização como gerente, supervisor ou administrador). O líder
natural, na maioria das vezes, utiliza o poder de conhecimento ou especialização e o poder de
recompensa, e o líder nomeado pela organização utiliza na maioria das vezes o poder
legítimo, de referência e o poder de coerção. Krumm (2005) ainda diz que o poder emerge de
duas fontes, podendo ser da organização ou do sujeito. O poder legítimo, de referência e de
coerção são atribuídos ao individuo pela organização, por meio do cargo, da hierarquia que se
35

organiza dentro da empresa e da autoridade atribuída à pessoa por meio da posição que esta
ocupa. O poder de conhecimento ou especialização e o poder de referência originam-se do
próprio sujeito, das suas características pessoais (conhecimento, habilidades, personalidade),
sem que dependa do cargo que a pessoa ocupa na empresa. A autora ainda complementa
dizendo que executando o poder de referência existe a possibilidade de levar o grupo a atingir
melhores resultados.

O líder tem a capacidade de influenciar atitudes, comportamentos, crenças e


sentimentos das outras pessoas e pode estar relacionado com gerência e supervisão. Apesar de
a liderança estar associada, muitas vezes, com os cargos de gerência e supervisão, não quer
dizer que só porque uma pessoa está em um cargo superior ela tem a capacidade de tornar-se
um líder. Esses cargos são atribuídos pela alta administração da organização, o que não quer
dizer que a pessoa direcionada a um desses cargos tenha condições de liderar outras pessoas.
Pode ser que, outras pessoas do grupo, chamadas de “líderes informais” tenham mais
capacidade e exerçam melhor a liderança sobre o grupo de trabalhadores. Não basta somente
o cargo superior estabelecido pela organização, mas, os fatores pessoais também são
importantes para que a pessoa tenha condições e capacidades para influenciar outras pessoas.
(SPECTOR, 2002).

O líder atualmente se tornou uma imagem a qual as pessoas devem seguir e respeitar.
Uma imagem que deve ser mediadora dos conflitos existentes entre os trabalhadores dentro da
organização, e, aquele em que as pessoas podem confiar, “que carrega nas mãos milhões em
ações de investidores e outras milhares de vidas diretas e indiretas e, por isso, é muitas vezes
uma figura aterrorizante” (RIZZO, 2011, p. 39). O líder, na maioria das vezes representa um
determinado setor ou área da organização ou representa a organização inteira.

O líder é visto como uma figura que pode ser protetora, temida, incontestável ou
compreensiva, e que, na maioria das vezes possui o poder sobre as vidas dos trabalhadores
dentro da organização, podendo ser visto como uma figura que auxilia ou uma que ameaça,
destruindo o trabalhador da organização.

Na obra Totem e Tabu, Freud (1912-1913) refere-se ao chefe como um tabu, dizendo
que, Tabu é de um lado o sagrado e consagrado, e de outro lado, o misterioso, o perigoso, o
proibido e o impuro. Simultaneamente o atraente e o temido. A característica do tabu é de ser
revestido com um poder considerável. O autor considera o chefe como um estrangeiro ao
36

grupo, aquele que possui capacidades que são proibidas às outras pessoas do grupo, ou seja,
possui um caráter de poder exercido sobre as pessoas. O chefe subjuga, fazendo com que as
pessoas, muitas vezes, vivam com medo dele, e com o desejo de destruí-lo para que também
consigam realizar seu desejo de autonomia e poder.

O assassinato do chefe é compreendido nesta obra como uma luta das pessoas pelo
poder e também pela conquista de ter o direito a palavra. O assassinato do chefe da horda faz
com que o chefe se transforme em pai, convertendo assim os membros do grupo em filhos e
em irmão, e com isso acontece o nascimento do grupo e da história da linguagem. A
civilização, portanto, vive do assassinato e da repressão do assassinato, do desejo insatisfeito
e da vontade de transgressão das normas.

A liderança pode ser percebida muitas vezes como uma solução para todos os
problemas que ocorrem dentro da organização. Assim, segundo Hall (2004 apud Rizzo 2011),
buscar uma nova liderança pode mascarar arranjos estruturais inapropriados, distribuições de
poder que impedem ações eficazes, falta de recursos e procedimentos ultrapassados.

Vieira e Zouain (2006 apud Rizzo, 2011) apresenta um caráter “patriarcal na liderança
organizacional” que também tem origem na família, pois a marca que não se apaga dessa
estrutura é a tradição e os valores familiares os quais são materializados no patriarca. As
organizações americanas sempre operaram de maneira patriarcal, fazendo com que os
funcionários se dediquem a empresa com total lealdade, prometendo em troca “cuidar da vida
deles”. Essa afirmação diz que se o trabalhador que é liderado reconhece a organização como
sendo sua estrutura familiar, “seu inconsciente irá traduzir que são lugares iguais e seus
conflitos serão os mesmos”. (RIZZO, 2011, p. 42).

Contudo, o que de fato na maioria das vezes ocorre é que as pessoas estão tatuadas na
sua relação com a empresa. E o que se espera do trabalhador é que sua fidelidade seja
dedicada única e exclusivamente para a empresa que trabalha. Essa noção pode causar o risco
de o trabalhador ter um comportamento submisso, de modo que não valorize a sua própria
criatividade. Segundo Rizzo (2011), o trabalhador deve ter cuidado de manter uma lealdade
com a empresa sem tornar-se submissa por um estilo patriarcal muitas vezes abusivo e
exagerado.
37

Ao interpretar o líder com a obra totem e tabu de Freud, pode-se interpretar os clãs
como a empresa, pois é quando o executivo perde seu sobrenome e ganha o sobrenome da
empresa. A pessoa passa a ser reconhecida pelo local que ela trabalha, por exemplo: “Marcos
da empresa tal”. O trabalhador se sente protegido ao ser reconhecido pelo nome da
organização que ele faz parte.

Rizzo (2011) considera o líder como alguém que tem o poder de fazer o elo entre os
interesses mútuos e conflitantes de uma organização e seus funcionários. Então, pode-se dizer
que a esse líder foi dada uma autoridade, uma espécie de poder.

[...] a autoridade sempre existe personificada. A horda supõe um chefe, o


hipnotizado, um hipnotizador, o amor, um objeto, a massa, um líder. Para ele a
condição de líder exige que este se aparte de seus subordinados e, ao mesmo tempo,
evite que eles o abandonem. O líder atua como um “centro” para organizar vidas que
procuram um sentido. Porém, situações de pânico e desorganização social podem
levar a massa a reorientar-se em torno de novos líderes. Para Freud, o líder toma a
forma de pai perseguidor, como o pai primitivo. O líder aparece como figura segura
de si, com poucos vínculos libidinosos; a sua vontade é reforçada pela dos outros.
Freud vê toda a atividade política, sem distinção, como influenciada pela autoridade.
Segundo Freud, isso dá um sentido permanente às manifestações de autoridade.
(TRAGTEMBERG, 2003 apud RIZZO, 2011, p. 38)

Dito isso, torna-se importante falar de forma mais detalhada sobre a autoridade e
legitimidade, tento em vista que são dois componentes fundamentais referindo-se ao exercício
do poder nas organizações.

2.2 Autoridade e Legitimidade

A palavra autoridade vem do latim auctoritas, que vem de auctor, e significa o


fundador ou o responsável por alguma coisa, ou pela instituição. Então, autoridade designa o
começo, a iniciativa de alguma coisa, e é por fazer esse inicio que se constitui a autoridade. A
diferença entre os conceitos de poder e autoridade encontra-se na legitimidade e formalidade.
Autoridade é uma espécie de poder, porém, um poder legítimo, que é concedido à pessoa por
meio da hierarquia e do cargo que a pessoa ocupa em determinado momento, ou pela
aceitação dos subordinados de que aquela pessoa realmente tem autoridade para ocupar tal
posição. Já o poder, está relacionado com autoridade, mas, seu exercício não depende somente
38

da organização ou da aceitação das outras pessoas, mas depende também das características
da personalidade da pessoa que vai exercê-lo.

A legitimidade, presente nas relações de poder, refere-se a uma condição de validação,


de justificação, de aceitação, de reconhecimento dos sujeitos envolvidos. Não existe
legitimidade universal, pois o que pode ser legítimo para determinadas pessoas, pode não ser
para outras. “Se o poder for sancionado formalmente por uma organização (contratual) ou
informalmente apoiado por indivíduos ou grupos (consensual), será descrito como poder
legítimo”. (BOWDITCH; BUONO, 1992, p. 118).

A autoridade se estabelece em um reconhecimento de diferença de lugares. Possui a


autoridade aquele a quem se reconhece a partir do lugar que ocupa que o que ele diz não tem
o mesmo valor do que outra pessoa que não ocupa esse lugar. Existe uma diferença na fala de
quem ocupa lugar de autoridade e de quem não ocupa, fala esta que é reconhecida
simbolicamente.

Qualquer pessoa pode ocupar a posição de autoridade: o chefe, a faxineira, o


professor... A autoridade não precisa estar apenas no lugar daquele que detém o poder, pois
ela se dá no momento em que alguém ocupa um lugar simbolicamente reconhecido como
diferente dos outros, não importa quem seja. Lebrun (2009, p. 96 ) explica que, “reconhecido
simbolicamente como diferente implica que esse reconhecimento não dependa apenas da
concordância do outro, mas antes da adesão a um pacto que antecipe e ultrapasse os
interlocutores presentes”.

A autoridade, especialmente nos últimos tempos, vem sendo questionada. Quando


dizemos que autoridade depende de obediência, normalmente estamos confundindo-a com o
poder ou com alguma forma de violência. A autoridade não depende de meios de coerção,
pois no momento em que precisamos utilizar a força, podemos dizer que a autoridade falhou.
A autoridade não depende também de persuasão, que significa igualdade onde existem
argumentações, pois no momento em que se tem argumentações de forma igualitária é porque
a autoridade foi deixada de lado. Hannah Arendt (1957 apud Lebrun, 2009) diz que:

[...] A relação de autoridade entre aquele que comanda e aquele que obedece não
repousa nem sobre uma razão comum, nem sobre o poder daquele que comanda; o
que eles têm em comum é a própria hierarquia, da qual cada um reconhece a justeza
e a legitimidade e, na qual ambos têm antecipadamente seu lugar fixado. (ARENDT,
1957 apud LEBRUN, 2009, p. 110).
39

Com isso, podemos compreender que exercer a autoridade implica no reconhecimento


de um lugar diferente e na legitimidade de ocupar este lugar. Não podemos confundi-la com
poder ou com autoritarismo, pois autoridade não significa agir com persuasão ou violência.

Quando as pessoas são forçadas a fazer algo pela aplicação da força ou apenas pelo
lugar que alguém ocupa, dizemos que essa pessoa está submetida ao poder, e, quando a
pessoa faz alguma coisa por meio do exemplo e do caráter, significa aplicação da autoridade.

O poder tem a capacidade de destruir relacionamentos, fazendo com que as pessoas


façam alguma coisa somente por obrigação, já a autoridade tem a capacidade de construir
relacionamentos, fazendo que a pessoa além de executar suas tarefas, as faça construindo
relacionamentos. As pessoas dificilmente se esquecem de alguém que a submeteu por meio do
poder, mas também não esquecem, e pelo contrário, lembrar-se-á com muito carinho de
alguém que as influenciou por meio da autoridade.

O fato de falar implica imediatamente uma diferença de lugares, pois tem aquele que
fala e aquele que escuta. Os campos da fala e da linguagem caracterizam as pessoas como
seres humanos, e nisso está implicada uma diferenciação de lugares. A possibilidade de a
autoridade ser reconhecida com legitimidade está no fato daquele que fala poder ocupar um
lugar reconhecido não apenas pela fala, mas sim, pela coerência daquilo que é falado.

Pode-se dizer que existe determinada pessoa que ocupa um lugar de exceção, que é um
lugar diferenciado, que não é o lugar que outras pessoas ocupam, mas deve ser pensado
também na coerência disso que se fala. Isso sustenta a autoridade do doutor, do cientista, do
professor. Essas pessoas estão em um lugar determinado pelas suas capacidades e
competências para ocupar esse lugar, e foram reconhecidas como alguém que detém os
conhecimentos necessários para ocupar tal posição, mas essa pessoa precisa realmente ter um
saber reconhecido para sustentar sua fala, e não apenas ocupar esse lugar. (LEBRUN, 2009).

Existem duas divergências em questão, tratando-se no primeiro caso de alguém que é


reconhecido por suas competências, dizemos que essa pessoa tem autoridade, e em outro caso
quando a pessoa utiliza um saber para sustentar essa competência, dizemos que essa pessoa é
a autoridade. São duas questões – o ter e o ser a autoridade.

Legitimidade é um fundamento do poder, que é aquilo que leva as pessoas a aceitarem,


a partir do valor que se coloca, a obedecer a alguma coisa. É aquilo que diz se um comando
40

deve ou não deve ser obedecido. “No entanto, notemos que quem é normalmente – e
historicamente - designado por autoridade visa, sobretudo à primeira forma de se legitimar”.
(LEBRUN, 2009, p. 112) Quer dizer que se as pessoas submetem-se a algum comando, a
alguma autoridade ou poder, é porque essa posição foi legitimada, aceita por todos. Se as
pessoas não obedecem, ou seja, não aceitam a determinado “mando” é porque o lugar de
autoridade ou de poder não foi aceito pelas pessoas, não foi reconhecido simbolicamente
como um lugar diferente dos outros, e, não é legítimo.

As questões da autoridade, bem como da legitimidade são fundamentais quando se


trata em falar sobre o poder nas organizações de trabalho. Dito isso, abordar-se-á a seguir
mais especificamente sobre o poder relacionando-o com a subjetividade do trabalhador.
41

3. PODER E SUBJETIVIDADE DO TRABALHADOR

Sabe-se que o poder é um elemento necessário para a criação de uma associação,


estabelecimento e cumprimento de normas, dependendo da maneira com que é executado,
pois o uso do poder, e principalmente, seu abuso apresentam grandes efeitos sobre o
funcionamento de grupos, organizações e sociedades. (KRAUSZ, 1988).

O poder é um fenômeno que, como já mencionado nos capítulos anteriores, possui


diversas implicações, bem como, variadas áreas do conhecimento que procuraram estudá-lo.
Porém, o poder também é compreendido como uma palavra mágica, que provoca atração e
desejo nas pessoas que buscam exercê-lo.

O poder é considerado como uma disposição que é natural não só em todas as pessoas,
mas também nos seres vivos, e, devido a isso, é visto como um mundo de disputa onde existe
uma tensão permanente. Dependendo do exercício do poder, da forma com que é executado,
pode ser considerado uma corrupção ou engrandecimento, tendo a capacidade de auxiliar ou
impedir mudanças dentro das organizações, sendo em nível individual ou grupal. (PAZ et al,
2004).

Para tanto, o terceiro capítulo deste trabalho relaciona o poder com a subjetividade do
trabalhador, tentando perceber o quanto as pessoas lutam pelo poder, por obterem o desejo de
estarem em uma posição superior na hierarquia de uma organização de trabalho, podendo
exercer assim o poder, e muitas vezes, o desejo de superioridade sobre as outras pessoas.

Este capítulo também traz o quanto existem diferentes formas de exercer o poder,
podendo este ser feito de forma abusiva, causando assim, grandes efeitos e impactos sobre
grupos de pessoas, bem como, na subjetividade do trabalhador, influenciando dessa forma, na
produtividade e rendimento do trabalho.
42

3.1 Desejo de Poder

Segundo Henriques (1992 apud Silva 2007), para iniciar qualquer discussão sobre
poder, é necessário citar Maquiavel, um autor da época moderna, que diz que o poder não é
algo divino, mas sim, que ele está ao alcance dos homens. Maquiavel não aceita dizer que o
poder seja uma dádiva divina, ou da natureza. Mas, ele diz que o poder é humano e que todos
os homens devem lutar para obtê-lo. “É necessário ir em busca do poder, sendo este
distribuído e conquistado ao longo dos eixos das classes sociais [...] e construído na
correlação de forças estabelecidas nas relações sociais”. (SILVA 2007, p. 18). Para
Maquiavel, o poder é transitório, e é visto como um processo. Não é algo que se possui, mas
que se exerce.

Autores como Adler, Freud e Heidegger surgem na contemporaneidade para falar sobre
o poder, tratando-o como “vontade de poder”. “Para Freud, o impulso do poder é um instinto
parcial que pode tomar lugar da atividade sexual e Adler considera-o uma compensação
patológica para deficiências e traumas ocorridos na infância”. (HENRIQUES, 1992, apud,
SILVA, 2007, p. 35). O poder também é considerado enquanto ‘vontade de poder’ quando se
estabelece uma relação entre vontade de poder e o desejo de superioridade, ou seja, o desejo
de ser reconhecido e valorizado pelas outras pessoas.

Silva (2007) cita Adler, que era considerado um teórico da Personalidade Humana, e
que diz que as pessoas são motivadas a buscar o poder principalmente pelo objetivo de
superioridade e conquista do meio. O autor fala também sobre a importância da agressão e
luta pelo poder, dizendo que a agressão não deve ser vista somente como algo ruim, mas, que
ela faz parte da sobrevivência humana e é considerada um incentivo para a superação de
obstáculos, e, que a agressão podia se manifestar no homem também como ‘vontade de
poder’. O autor diz que tanto a agressão como a vontade de poder devem ser vistas como
sendo para alcançar os objetivos de superioridade ou de perfeição, e a luta por essa
superioridade e perfeição é como se a pessoa tivesse o objetivo de se aperfeiçoar,
desenvolvendo melhor seus potenciais e capacidades, sendo isto algo inato ao ser humano,
pois faz parte da vida.

Segundo Adler (1966 apud Silva 2007) o objetivo de superioridade, no decorrer do


desenvolvimento psicológico, pode tomar duas direções, uma positiva e outra negativa.
43

Ele é positivo quando inclui preocupações sociais e interesse pelo bem-estar dos
outros, desenvolvendo-se numa direção positiva e saudável. Assume a forma de uma
luta pelo crescimento, pelo desenvolvimento das capacidades e habilidades, e pela
procura de um modo de vida superior. Ele é negativo quando as pessoas lutam pela
superioridade pessoal, quando tentam alcançar um sentimento de superioridade
dominando os outros em vez de se tornarem mais úteis a eles. (ADLER, 1996 apud
SILVA, 2007, p. 36).

A partir dessa visão, pode-se compreender que um indivíduo saudável seria aquele que
luta pelo poder de uma forma construtiva, pensando nos interesses sociais, coletivos, e que
apresenta um comportamento de cooperação. Adler (1966 apud Silva 2007) criou o termo
“complexo de inferioridade” que diz respeito à inferioridade que as crianças tem pelo seu
tamanho pequeno e pela sua falta de poder. Por isso, quando o sentimento de inferioridade na
infância predomina, normalmente deixa de existir o interesse social, ou seja, o interesse pelas
outras pessoas, pela coletividade, e com isso, o indivíduo depois que cresce, tende a buscar a
superioridade pessoal, pensando somente no seu sucesso e em ser prestigiado pelos outros,
pois existe a falta de confiança nas próprias habilidades em trabalhar de forma conjunta e de
forma construtiva com outras pessoas.

O poder é uma motivação básica do homem e que, segundo Adler (1966) serve para
compensar as feridas da primeira infância. O poder, muitas vezes, dependendo da sua maneira
de execução, é considerado algo patológico, mas, a patologia está presente no sentimento de
inferioridade, apresentando ainda, raiva e vingança que estão centralizados no Eu, e que se
opõe a ideias de solidariedade, que se dedica aos outros, e em relacionamentos sociais.
(SILVA, 2007). O indivíduo que tem desejo em lutar pelo poder faz isso para tentar diminuir
seus defeitos pessoais, mas, faz isso desconsiderando as outras pessoas e passando por cima
das normas que regem uma sociedade.

Mas, não se deve relacionar o poder somente com patologias.

O poder pode ser considerado um motivo ou interesse autônomo que se relaciona


com um desejo inato de dominação, um dote biológico dos seres humanos, ou com
um feixe que se libertam de conflitos infantis, como o complexo de inferioridade.
[...] os seres humanos diferem em seu desejo de poder. Uns parecem sentir pouca
necessidade dele. Outros podem usar o poder com grande confiança e convicção:
outros ainda mostram-se ambivalentes em seu desejo de poder, sentem conflitos
relacionados com seus usos e se irritam quando descobrem que poder e status não
são garantia de felicidade e de realização. (ZALEZNIK e VRIES, 1981 apud
SILVA, 2007, p. 38).
44

Os motivos que levam o ser humano a buscar poder, diz respeito às características da
personalidade do sujeito, e, podem ser compreendidos como “predisposições específicas
interiorizadas pelas pessoas por intermédio do processo de socialização, as quais se organizam
sob forma hierárquica – sendo diferentes entre os indivíduos, e que imprimem uma
determinada direção ao comportamento destes”. (SILVA, 2007, p. 38).

McClelland (1987 apud Silva 2007) fala sobre os motivos de poder dizendo que:

[...] o motivo de poder envolve uma orientação para o prestígio e a produção de


impacto nos comportamentos ou emoções de outras pessoas. Uma elevada
motivação para o poder está associada a atividades cooperativas e assertivas, assim
como o interesse em alcançar prestígio e reputação. (p. 39).

As pessoas que possuem extrema necessidade em buscar poder, além de buscar


prestígio, tendem a agir de forma mais competitiva e agressiva com os demais membros do
grupo. Essas pessoas poderão tornar-se líderes ou gerentes eficazes se ao invés de utilizarem o
poder somente para satisfazer seus interesses e necessidades pessoais, apresentarem resultados
pensando em atingir metas organizacionais. Se não utilizarem a obtenção do poder para
tornarem-se autoritários e autocráticos, e sim, saber da importância de gerenciar as relações
interpessoais, preparando assim seus subordinados. (MCCLELLAND, 1987 apud SILVA,
2007).

Sabendo que existem duas faces do poder, sendo que o poder tem a capacidade de
movimentar os trabalhadores ou de controla-los, é que em seguir abordar-se-á o poder que
pode ser visto de forma positiva ou de forma negativa.

3.2 Poder: visão positiva e negativa

O poder pode ser caracterizado como força que mobiliza as organizações e instituições
sociais. Nesse sentido, para investigar o fenômeno do poder, precisamos constatar a existência
da sua visão positiva, mas também, de sua visão negativa. O poder, nessa perspectiva, pode
ser visto como um comportamento, em que uma pessoa tende a colocar a própria vontade
sobre as outras, independente das outras opiniões e ideias existentes. O desejo em obter poder,
45

que é algo natural do ser humano, acaba afetando a condição de vida da pessoa, pois o poder
provoca tensão e um estado de luta permanente ao ser humano.

A visão negativa do poder é também aplicada às relações de produção, tendo o poder


como alvo a reprodução de uma dominação de classe, tornando possível o
desenvolvimento de uma modalidade de apropriação de forças produtivas. O poder é
então visto como a manutenção e reprodução das relações econômicas que
constituem relações desiguais de exploração do trabalho pelo capital. Assim o poder
é concebido como coerção, repressão, manipulação e dominação, muitas vezes
utilizando um discurso que legitima práticas sociais eivadas de crueldade, por vezes
disfarçadas e sutis. (PAZ et al, 2004, p. 138).

Nesse sentido podemos confirmar o quanto o poder pode mobilizar uma organização
ou instituição, prejudicando o desenvolvimento dos trabalhos, bem como, as relações sociais.
Referindo-se ao poder exercido de forma a ser disfarçado, podemos falar da relação entre um
grupo dominador e um grupo subordinado, ou, uma pessoa superior e outra subordinada.
Muitas vezes o grupo dominador, ou a pessoa que domina cria um padrão, uma expressão que
no primeiro momento satisfaz a todos os integrantes, ou ao seu subordinado. Primeiramente é
atribuído, a princípio, o mesmo papel a todas as pessoas, dos dois grupos. Mas, essa ideia
seria um mecanismo, estando a instituição a disposição apenas do grupo dominador, ou da
pessoa dominadora, que serve não só para proteger o grupo dominador, mas principalmente,
para controlar as atividades das pessoas subordinados. Este meio é utilizado pelo grupo de
dominadores com o objetivo de manter, produzir e reproduzir o estado de subordinação. Ou
seja, manter-se na posição de dominantes, mantendo também a posição das outras pessoas
como subordinadas.

Segundo a análise realizada por Apfelbaum (1979, apud, Paz et al, 2004), o poder
pode ser visto como “jogos de poder” em que o objetivo é manter relações de dominação e
submissão, e, por este motivo o poder é utilizado para coagir e intimidar as pessoas submissas
à ele. Sendo assim o poder apresenta um caráter perverso e desestruturante.

O poder também pode ser compreendido a partir de uma visão positiva, sendo visto
como algo construtivo tanto a nível individual ou coletivo, pois até mesmo os subordinados
podem sentir-se libertados com essa conotação do poder. Os dominadores não podem pensar
que estarão e permanecerão sempre nesta posição, pois, pode haver um momento em que os
subordinados irão questionar e discordar dessa posição, bem como, da forma que essa posição
é exercida.
46

Referindo-se ao poder enquanto um fenômeno positivo, como já mencionado


anteriormente, Foucault (1986) traz que o poder não pode ser pensado somente em algo
repressivo, pois se o poder fosse algo que só dissesse ‘não’, ele seria obedecido? Ele
complementa dizendo que a dominação capitalista não se manteria se fosse baseada,
exclusivamente, na repressão. O poder não é somente uma força que diz não. Mas ele também
atravessa relações, produz coisas, forma saber e produz discurso. Não podemos pensar no
poder somente enquanto algo que reprime, mas sim, como uma prática discursiva que formula
práticas sociais. Foucault diz que não existe sociedade sem relações de poder. “A estrutura
social seria atravessada por múltiplas relações de poder que não se situam somente em um
local especifico, como no aparelho de Estado, mas que são imanentes ao corpo social”.
(MARQUES, 2006, p. 03).

[...] Não vejo quem – na direita ou na esquerda – poderia ter colocado este problema
do poder. Pela direita, estava somente colocado em termos de constituição, de
soberania etc., portanto em termos jurídicos; e, pelo marxismo, em termos de
aparelho do Estado. Ninguém se preocupava com a forma como ele se exercia
concretamente e em detalhe, com sua especificidade, suas técnicas e suas táticas.
Contentavam-se em denunciá-los no “outro”, no adversário, de uma maneira ao
mesmo tempo polêmica e global: o poder no socialismo soviético era chamado por
seus adversários de totalitarismo; no capitalismo ocidental, era denunciado pelos
marxistas como dominação de classe; mas a mecânica do poder nunca era analisada.
(FOUCAULT, 1981 apud MARQUES, 2006, p. 03).

Os indivíduos possuem características de personalidade diferentes uns dos outros,


mesmo, fazendo parte muitas vezes, do mesmo grupo – ou de dominantes ou de subordinados.
Por este motivo, as estratégias utilizadas pelo grupo dominador podem provocar diferentes
reações sobre o grupo de subordinados. Como nos diz Paz et al (2004), “se para alguns
provoca o silêncio, para outros estimula o uso da voz; se para alguns incita a atração, para
outros causa repulsa; se conseguem amedrontar alguns, certamente revoltarão outros”.
(p.382).

Assim como em todos os lugares – seja na família, na escola... Todas as pessoas


possuem poder, nas organizações também as pessoas sempre tem algum poder, sendo visto
como a capacidade de influência sobre outros. O poder, exercido dentro das organizações,
apresenta a capacidade de mudar seus membros, pois, podemos dizer que a maioria dos
relacionamentos são equilibrados em torno do poder. Assim como nos diz Handy (1976, apud,
Paz et al, 2004):
47

Podemos dizer que não existe poder positivo e negativo, mas, existe a finalidade
para qual o poder é utilizado, que esta sim, pode ser positiva ou negativa. Por isso
que podemos considerar que os membros da organização, em sua maioria,
especialmente referindo-se a gerência e liderança, possuem pouco conhecimento
sobre o poder nas organizações, principalmente, no que diz respeito a
comportamentos organizacionais. Para compreender melhor a dinâmica de
funcionamento de uma organização, torna-se necessário conhecer os aspectos do
poder organizacional. [...] A falta de habilidade politica daqueles que comandam,
seja empresas, escolas, hospitais, ou qualquer tipo de instituição, pode acarretar em
crises de liderança. (p. 140)

Dito isso, compreende-se que, mais do que nunca compreender o poder nas
organizações, quem o exerce e como ele é exercido é fundamental para compreender como o
trabalho está organizado e como a organização funciona. Diz-se que o poder pode ser
utilizado com diferentes finalidades, podendo elas ser consideradas positivas ou negativas, e,
por este motivo, os superiores – gestores e líderes – que são as pessoas que costumam exercer
o poder precisam conhecer e compreender melhor sobre o poder nas organizações, tendo em
vista, a sua pouca compreensão sobre o assunto, para poder facilitar na sua execução do poder
e que este seja realizado da melhor forma.

A seguir, abordar-se-á sobre o abuso de poder, suas formas mais conhecidas e


utilizadas nas organizações e o impacto que esta forma de poder causa na subjetividade do
sujeito trabalhador.

3.3 Abuso de Poder e seu Impacto na Subjetividade do Trabalhador

Sabe-se que existem diferentes tipos de poder, assim como, existe seu uso adequado e
inadequado. Para discutir sobre o exercício do poder e os modos como ele é utilizado muitos
são os autores que associam o poder com ética. Ética, na língua portuguesa, significa: estudo
dos juízos de apreciação referentes à conduta humana suscetível de qualificação do ponto de
vista do bem e do mal, seja relativamente a determinada sociedade, seja de modo absoluto.

Para responder a questão: “como deve os detentores do poder determinar se o seu uso
é apropriado ou não?” os autores Wagner III e Holenbeck (1999) utilizam três teorias para
explicar:
48

Perspectiva Utilitarista – julga-se a adequação do uso do poder em termos de suas


consequências, ou seja, se proporcionar o bem para o maior numero de pessoas é
apropriado. Teoria dos Direitos Morais – o poder é utilizado adequadamente apenas
quando nenhum direito nem liberdades pessoais são sacrificados. Nesse caso, os
detentores do poder devem respeitar os direitos e os interesses da minoria, bem
como procurar o bem-estar da maioria; Teoria da Justiça Social – o uso do poder é
adequado quando as pessoas forem tratadas com equidade, certificando-se de que as
pessoas dotadas de certos aspectos similares sejam tratadas similarmente e que
pessoas dotadas de aspectos diferentes e relevantes sejam tratadas diferentemente, na
razão direta das diferenças existentes entre elas. (WAGNER III E HOLENBEK,
1999, p. 273).

Para que a política organizacional ocorra de forma adequada, o respeito pela justiça e
pelos direitos humanos deveria prevalecer. As ações éticas das pessoas devem coincidir com
as metas da organização, e jamais, violar o direito de outra pessoa para satisfazer os próprios
interesses. Se o comportamento político nas organizações não concordarem com padrões de
equidade e justiça é considerado antiético.

Krumm (2005) fala dos líderes carismáticos antiéticos, dizendo que estes são pessoas
que só pensam em atingir os próprios interesses. Eles não aceitam que as pessoas discordem
de suas opiniões, e exigem que os seus seguidores os obedeçam sem qualquer
questionamento. Eles agem sem levar em consideração as necessidades das pessoas, levando
em conta somente benefícios pessoais.

Maquiavel se tornou um adjetivo – maquiavelismo – que é utilizado para caracterizar


o comportamento e ações das pessoas. “O verbete maquiavélico refere-se ao [...] sistema
político caracterizado pelo principio amoralista de que os fins justificam os meios, política
desprovida de boa-fé ou procedimentos astuciosos, [...] traiçoeiros”. (SILVA 2007, p. 20). A
personalidade chamada de maquiavélica se caracteriza pela vontade de manipular os outros e
pelo desejo de obter o poder, pensando em obter ganhos pessoais para favorecer os próprios
interesses.

Entrando mais especificamente na discussão sobre o abuso de poder, autores como


Robbins (1999) e Spector (2002) dizem que uma das formas mais conhecidas de abuso de
poder é o abuso sexual. Existem supervisores ou chefes, que tratam mal seus subordinados,
utilizando medidas punitivas como meio para o melhor desempenho e rendimento do
funcionário. O assédio sexual, que é uma das formas de abuso de poder mais conhecidas, diz
respeito a “pedidos sexuais” mal recebidos, utilização de linguagens ofensivas, pedidos
49

amorosos, pedidos para encontros, piadas de mau gosto entre outras situações
constrangedoras, e ainda, o superior passa a submeter o funcionário à punições caso ele recuse
seus pedidos.

O conceito de poder torna-se fundamental para a compreensão do assédio sexual. Por


este motivo, Robbins (1999) afirma que assédio sexual trata-se de abuso de poder, e não
somente, de sexo. Supervisores e gerentes, por exemplo, possuem poder legítimo, atribuído
pela organização, além de utilizarem diversos meios de poder devido a sua posição formal
dentro da empresa, muitos deles pensam que essa posição lhes dá o direito de estender essa
posição ao assédio sexual, sendo que as principais vítimas são as mulheres. O assedio sexual
pode ocorrer tanto por parte dos superiores devido ao seu cargo, e, por parte dos
subordinados, que muitas vezes quando a chefe é uma mulher, tendem a desvalorizá-las para
retirarem parte do seu poder sobre eles.

O assédio sexual, teorizado aqui como abuso de poder, é um comportamento


indesejado que traz diversas consequências principalmente para a pessoa submetida a esse
abuso. Pode afetar de modo negativo a pessoa, interferindo no desempenho do seu trabalho;
cria um ambiente desagradável, hostil e que intimida as pessoas; o abuso de poder, além da
diminuição do desempenho, pode ocasionar o stress no trabalho, bem como, a ausência da
pessoa envolvida, e, o aumento de rotatividades.

Para saber a adequação ou inadequação da forma com que o poder é exercido, pode-se
considerar ético o uso do poder e da influência para atingir resultados e metas
organizacionais, e antiético quando esses mesmos elementos são utilizados para atingir
objetivos pessoais.

As práticas de relações de poder existem em toda a sociedade, produzem variados


efeitos, e podem ser exercidas de diferentes maneiras. Este poder intervém sobre as pessoas,
atingindo seu corpo – o corpo social – e que acaba influenciando em sua vida cotidiana. O
poder que queremos nos referir aqui é justamente o que Foucault (1986) chamou de poder que
realiza um controle detalhado, minucioso do corpo – gestos, atitudes, comportamentos,
hábitos, discursos.

Luke (1980, apud, Paz et al, 2004) diz que o poder é a noção de uma pessoa afetar de
modo significativo a outra pessoa, no sentido de que a pessoa afetada tenha interesses
50

contrários à pessoa que exerceu o poder. Ou seja, o poder exercido produz efeitos na pessoa
justamente porque a pessoa que exerce o poder impõe seus interesses sobre a outra pessoa que
tem interesses diferentes. O poder não é algo que alguém possui, mas é algo que é exercido e
que passa pelas pessoas. Maquiavel (2004 apud Silva 2011) diz que “só o poder limita o
poder”.

Não se pode caracterizar o poder somente como um fenômeno que diz respeito à lei ou
à repressão. As teorias que tem origem nos filósofos do século XVIII definem o poder como
direito originário que se cede, se aliena para constituir a soberania, e que criticarão os
excessos, os abusos de poder. As teorias que criticam os abusos do poder, caracterizam o
poder não somente por transgredir o direito, mas o próprio direito por ser um modo de
legalizar o exercício da violência, e o Estado cujo papel é realizar a repressão. Então o poder
nesse sentido é caracterizado como violência legalizada.

O poder não é somente negativo, algo que recalca, que censura, que reprime. O poder
não pode ser percebido como algo que mutila o ser humano, é justamente nesse sentido que
tem como algo o corpo humano, pois o poder é visto como algo que serve para “adestrar” o
ser humano

[...] Não é expulsar os homens da vida social, impedir o exercício de suas atividades,
e sim gerir a vida dos homens, controlá-los em suas ações para que seja possível e
viável utilizá-los ao máximo, aproveitando suas potencialidades e utilizando um
sistema de aperfeiçoamento gradual e continuo de suas capacidades. Objetivo ao
mesmo tempo econômico e politico: aumento do efeito do seu trabalho, isto é, tornar
os homens força de trabalho dando-lhes uma utilidade econômica máxima;
diminuição de sua capacidade de revolta, de resistência, de luta, de insurreição
contra as ordens do poder, neutralização dos efeitos de contra-poder, isto é, tornar os
homens dóceis politicamente. (FOULCAULT, 1986, p. 16).

Existe o poder, como já citado anteriormente, sendo uma relação especifica de poder
que incide realmente sobre o corpo das pessoas, utilizando uma tecnologia própria de
controle, que pode ser encontrado em diversas instituições. Foucault (1986) chamou este tipo
de relação de poder de poder disciplinar. Percebe-se que este tipo de relação não encontra
limites, pois, “[...] permitem o controle minucioso das operações do corpo, que asseguram a
sujeição constante de suas forças e lhe impõe uma relação de docilidade-utilidade”.
(FOUCAULT, 1987, p. 139). É um mecanismo do poder que não atua no exterior, mas sim,
trabalha no corpo do ser humano, manipulando seus comportamentos, fazendo com que o
homem funcione de acordo com aquilo que a sociedade capitalista exige dele.
51

Essa dominação do corpo está associada com a explosão demográfica do século XVIII
e com o crescimento do aparelho de produção, e essa dominação diz respeito às necessidades
de que o homem se utilize de modo intenso principalmente racionalmente, no sentido
econômico. Segundo Foucault (1986) o corpo só se torna força de trabalho quando trabalhado
pelo sistema politico de dominação, que é característico do poder disciplinar descrito pelo
autor.

A disciplina serve para organizar um determinado espaço. É um controle do tempo.


Isso quer dizer que ela estabelece uma sujeição do corpo ao tempo, com o intuito de produzir
o máximo de rapidez, com o máximo de eficácia. Esse controle minucioso das operações do
corpo é realizada por meio da elaboração temporal do ato, da correlação de um gesto
especifico com o corpo que o produz, e através a articulação do corpo com o objeto a ser
manipulado.

Ao mesmo tempo em que o poder é exercido, se exerce também um saber, pois o


mesmo olhar que controla é o mesmo que transfere informações, anota etc... “Tornar o
homem útil e dócil” (FOULCAULT 1986, p. 18). O poder não pode ser visto somente como
negativo, pois o poder produz a individualidade. O sujeito é uma produção do poder e do
saber.

O poder capitalista é, na maioria das vezes, explicado como algo que massifica, que
descaracteriza. Ou seja, é visto como a inexistência de uma individualidade que apresenta
características, desejos, comportamento... O sujeito passa a ser considerado como alguém que
é sufocado pelo poder, dominado e que não pode e não consegue se expressar. “O poder
disciplinar não destrói o individuo; ao contrario, ele o fabrica. O individuo não é o outro do
poder [...] que é por ele anulado; é um dos seus mais importantes efeitos”. (FOUCAULT,
1986, p. 20).

A ação sobre o corpo, o adestramento do gesto, a regulação do comportamento, a


normatização do prazer, a interpretação do discurso, com o objetivo de separar,
comparar, distribuir, avaliar, hierarquizar, tudo isso faz com que apareça pela
primeira vez na historia esta figura singular, individualizada – o homem – como
produção do poder. (FOUCAULT, 1986, p. 20).

Existe uma relação entre disciplina e virtude organizacional, sendo que essa relação é
caracterizada como “a efetivação organizacional da disciplina ordenada que regulamenta a
avaliação interna e estabelece os deveres de cada membro da organização” (CLEGG, 1996, p.
52

51). Foucault chama de práticas disciplinares as micro técnicas utilizadas para regulamentar
não somente o sujeito, mas também a sociedade. Existem mecanismos de controle do tipo
pessoal, burocrático, técnico ou jurídico, sendo que estes mecanismos podem apresentar-se de
diferentes formas: supervisão, rotinização, formalização, automatização.... Sendo que estes
mecanismos buscam reforçar o poder sobre o comportamento do sujeito.

Os tipos de mecanismos que obtém o controle sobre o ser humano, acabam levantando
algumas questões:

É aceitável que os empregadores obriguem os empregados ou candidatos a


empregos submeterem-se a testes de AIDS? Um supervisor pode escutar chamadas
telefônicas dos empregados? Um empregador pode permitir programar
computadores para emissão de mensagens subliminares com o objetivo de
influenciar comportamentos? [...] Se os detentores de mentira não são considerados
confiáveis nos processos criminais, seus resultados podem ser utilizados para
admitir ou demitir empregados? Uma empresa pode demitir o empregado porque o
supervisor não aprova suas amizades e relações sociais? Os executivos deveriam ter
acesso ao prontuário médico de seus subordinados? Até que ponto a mesa, o armário
ou o carro colocados em espaços reservados aos empregadores são privativos?
(SCHACHTER, 1987 apud CLEGG, 1996, p. 52).

Com essas inúmeras questões pode-se pensar na extensão do poder direto e pessoal
sobre as esferas da vida individual do sujeito, que muitas vezes além de prejudicar o sujeito na
produtividade do seu trabalho, acaba levando esses conflitos para fora do trabalho, como no
seu ambiente familiar e social. Porém, a melhor supervisão não é aquela que se reduz
exclusivamente a controles diretos, mas, ela se estende também a práticas culturais de adesão,
de persuasão morais e de permissão, ou seja, técnicas formalizadas. (CLEGG, 1996).
53

CONCLUSÃO

A partir do trabalho realizado, pôde-se observar o quanto o poder é um fenômeno


dinâmico e complexo, e, que por sua complexidade tem sido objeto de estudo de diversas
ciências e diferentes autores, apresentando assim, diferentes concepções. Para compreender e
conhecer melhor uma organização precisa-se reportar ao modo como o poder é configurado.

As formas com que o poder se estabelece no trabalho diz respeito à maneira que o
trabalho está colocado na vida dos trabalhadores, sendo que, a maneira que o trabalho está
organizado para o sujeito é muito importante para a construção de sua subjetividade, e esta
organização remete ao exercício do poder. Como mencionado no decorrer do trabalho, é
necessária a existência do poder e da política organizacional, para dar início à execução dos
trabalhos, para que existam as definições dos cargos, diferentes pessoas trabalhando na
organização, diferentes tarefas de trabalho, e para que principalmente haja organização na
realização dos trabalhos. Mas, para tanto, existem diferentes maneiras que o poder pode ser
exercido, podendo este ter a capacidade de auxiliar os sujeitos na produção de suas atividades,
possibilitando a melhor relação interpessoal entre os trabalhadores, ou, tendo a capacidade de
controlar os trabalhadores e as suas atividades, impossibilitando o trabalhar de modo
construtivo e criativo, tornando os trabalhadores submissos ao seu trabalho, produzindo o
possível sofrimento e adoecimento do sujeito, advindo do próprio trabalho e do modo com
que este está organizado.

O poder que controla os trabalhadores pode, consequentemente, aumentar a rotatividade


de trabalhadores, pois o poder muitas vezes causa medo nas pessoas fazendo com que as
pessoas sintam-se pressionadas e que não queiram mais permanecer no emprego. Ainda nessa
visão, percebeu-se com a realização desta pesquisa, que os trabalhadores muitas vezes
aceitam ser submissos a esta forma de poder por medo de não encontrar outro emprego, ou
por medo do que pode acontecer caso o sujeito desrespeite e não obedeça ao poder. Contudo,
compreendeu-se que o poder é reforçado com o comportamento das pessoas influenciadas,
pois quando a pessoa aceita e obedece ao poder, significa que ela aceitou sua submissão e está
reforçando o poder da pessoa que a influenciou.

Uma das observações realizadas após esta pesquisa é de que o poder pode advir tanto do
sujeito trabalhador, quanto do sistema da própria organização. Foi possível perceber a relação
existente entre o laço social e o poder, o modo como o poder circula e influencia no campo do
54

trabalho produzindo efeitos na subjetividade do gestor e do trabalhador. Algumas


vulnerabilidades psíquicas, certamente, podem predispor alguns sujeitos mais e alguns menos
que os outros, a uma posição mais ou menos vulnerável às formas deletérias do poder.

Foi possível compreender que, no primeiro momento criam-se vínculos entre os sujeitos
que configuram o laço social, e que, neste contexto, o trabalho ganha uma significação
importante pelas funções que, tanto o trabalho quanto os vínculos sociais exercem para o
sujeito. O poder só pode ser exercido dentro de relações sociais, visto que o poder não pode
ser exercido de forma individual, pois ele precisa ser mencionado para alguém ou para alguma
coisa.

Percebeu-se que para compreender a dinâmica do poder é preciso situá-lo em sua


ancoragem. Tanto os trabalhadores detêm alguma forma de poder quanto os gestores. Em
ambas as posições reconheceu-se a importância do rastreamento do poder. Todas as pessoas,
independente de seu cargo e hierarquia podem apresentar capacidades e condições de
influenciar outras pessoas, e quem tem capacidade de influenciar ou ocasionar alguma
mudança significa dizer que essa pessoa apresenta poder.

O poder configura-se a partir da autoridade que se legitima ou não e que interfere


decisivamente na expressão do poder, ou seja, quanto menor a autoridade que um líder tem
maior a probabilidade do uso do poder como força coercitiva. Pois, como se identificou com a
realização do trabalho, se é necessária a utilização de força ou violência, significa que a
autoridade falhou.

Com este trabalho compreendeu-se melhor também os significados e as diferenças entre


gestão e liderança, que muito se confunde. O gestor já possui um cargo determinado dentro da
organização, um poder legítimo concedido pela empresa. O líder não necessita de um cargo
para exercer o poder, pois qualquer pessoa da organização, independente do seu cargo, pode
exercer a liderança, basta que as outras pessoas confiem no líder e acreditem nele. Se o líder
consegue a confiança e a aceitação de seus seguidores, significa que ele também possui um
poder legítimo.

Quando o trabalhador começa a trabalhar em uma empresa, na maioria das vezes, sente-
se satisfeito e realizado com a execução de suas tarefas e com a maneira de organização da
empresa e do seu trabalho. Após um tempo, este mesmo trabalhador pode vir a se deparar
55

com um gestor que não pensa mais no bem-estar e na boa produtividade do trabalho dos seus
subordinados, mas passa a pensar somente em ganhar dinheiro, em obter sucesso com a
empresa em cima dos seus funcionários, o que acaba impactando de forma negativa a
subjetividade do trabalhador. Muitas vezes, principalmente quando o sujeito está trabalhando
há muitos anos na empresa, já construiu uma identidade dentro dela, uma carreira, uma vida
profissional. Mesmo que o trabalhador apresente o desejo de realizar seu desligamento da
empresa pelo seu bem-estar emocional, isto passa a não ser uma decisão, e uma tarefa fácil. O
trabalhador passa a pensar no seu sustento e da sua família e no medo de não conseguir outro
emprego.

Com a realização deste trabalho percebeu-se o quanto o poder e as relações de poder


dependendo da maneira como se manifesta pode influenciar positivamente ou negativamente
na produtividade do trabalho e na subjetividade dos trabalhadores, podendo causar o
sofrimento psíquico dos mesmos. Muitas vezes este sofrimento causado pelo poder, faz com
que o trabalhador acabe levando questões do trabalho, do seu sofrimento, para fora dele, como
no seu contexto social e familiar, o que acaba prejudicando sua convivência com as pessoas
nesses contextos. Por este motivo, a realização desta pesquisa foi muito importante para
compreender melhor sobre o exercício do poder nas organizações, e as formas com que ele
pode ser exercido, buscando sempre a maneira que faz com que ele facilite e auxilie nas
tarefas do trabalho, nas relações interpessoais entre subordinados e entre o chefe e o
subordinado, fazendo com que o trabalho auxilie na construção da subjetividade do
trabalhador, sem causar prejuízos emocionais e sofrimentos.

É importante concluir ainda, retomando o estudo de caso relatado no início deste


trabalho, que demonstra o quanto o fenômeno do poder se faz presente nas organizações, e o
quanto é importante compreender sua dinâmica e o modo que o poder se estabelece, para
compreender como o trabalho se coloca na vida do trabalhador. Foi possível perceber o
quanto o poder pode influenciar no estabelecimento dos laços sociais entre as pessoas, bem
como, na subjetividade do sujeito. Percebe-se com este caso que o poder só pode ser exercido
dentro das relações sociais entre as pessoas, e, o quanto o poder de uma pessoa é reforçado de
acordo com a dependência da pessoa submetida a ele.

Também, por meio deste relato de caso, compreende-se o quanto o trabalhador


apresenta uma relação subjetiva com a empresa em que trabalha há muito tempo, não apenas
uma relação salarial. E que mesmo muitas vezes submetendo-se a situações constrangedoras e
56

desagradáveis, o trabalhador tem uma ligação com a forma que se deu a fundação da empresa
em que trabalha.

Este relato de caso trouxe a reflexão do fenômeno do poder nas organizações e suas
implicações no trabalho, no laço social e na subjetividade do trabalhador. Trazendo também a
reflexão sobre a importância da psicologia no contexto de compreender o poder e a maneira
que ele é executado, ao invés de partir para o julgamento do poder. A psicologia trabalha por
meio da compreensão da dinâmica do poder, e não por meio do julgamento.

Compreendeu-se que é possível conhecer melhor a cultura de uma organização, após


conhecer as dimensões do poder e as características da dinâmica do poder dentro dela, sendo
que, como se percebeu, a personalidade do executivo pode influenciar a organização de uma
maneira vital tornando-a um lugar de relações mais saudáveis ou palco de manifestações
disfuncionais e de proliferação de patologias e sofrimento no trabalho.

Por fim, considera-se que as organizações têm a capacidade de influenciar o


inconsciente de seus membros fazendo deles aliados na busca do poder e perfeição, mas são
também elas próprias lugares onde os sonhos, desejos e aspirações dos seres humanos podem
encontrar espaços para a realização.
57

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALBORNOZ, Suzana. O que é Trabalho. 6. ed. São Paulo: Brasiliense. Coleção primeiros
passos, 1994.

ARENDT, Hannah. O que é Política? Fragmentos das obras póstumas compiladas por Úrsula
Ludz. Trad. Reinaldo Guarany. 2. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1999.

BASTOS, Maruza. A Horda Primeva. Fredeslizar, 2010. Disponível em:


http://fredeslizar.blogspot.com/2010/03/horda-primeva.html Acesso em: 19 jan. 2019.

BORGES, L. S. C.; RIBEIRO, C. A. M. A Psicanálise, o Trabalho e o Laço Social. Revista


de Psicologia, Fortaleza, v. 4, n.2, p. 19-25, jun/dez. 2013.

BOWDITCH, J. L.; BUONO, A. F. Elementos do Comportamento Organizacional. Trad.


José Henrique Lamendorf. São Paulo: Pioneira, 1992.

BRÍGIDO, I. E. Michel Foucault: Uma Análise do Poder. Rev. Direito Econômico e


Socioambiental, Curitiba, v. 4, n. 1, p. 56-75, jan/jun. 2013. Disponível em:
<http://www.egov.ufsc.br/portal/sites/default/files/direitoeconomico-12702.pdf> Acesso em:
23 out. 2018.

CARVALHO, A. C; VIEIRA, F. M. M. Organizações, Instituições e Poder no Brasil. 1. ed.


Rio de Janeiro: FGV, 2003. 321 p.

CLEGG, Stewart. Poder, linguagem e ação nas organizações. In: CHANLAT, Jean-Françóis;
TÔRRES, Ofélia (Org.). O Indivíduo na Organização: dimensões esquecidas. 3. ed. São
Paulo: Atlas, 1996. p. 47-63.

COUTINHO, C. M. Sentidos do Trabalho Contemporâneo: as trajetórias identitárias como


estratégia de investigação. Cadernos de Psicologia Social do Trabalho, Santa Catarina, v.
12, n. 2, p. 189-202, 2009. Disponível em: <
http://www.revistas.usp.br/cpst/article/view/25749/27482> Acesso em: 12 nov. 2018.

DEJOURS, Christophe. A Loucura do Trabalho: Estudo da Psicopatologia do Trabalho. 5.


ed. São Paulo: Cortez-Oboré, 1992.

_______Uma nova visão do sofrimento humano nas organizações. In: CHANLAT, Jean-
Françóis; TÔRRES, Ofélia (Org.). O Indivíduo na Organização: dimensões esquecidas. 3.
ed. São Paulo: Atlas, 1996. p. 149-173.

Dicionário Online de Português. Dicio.com.br, 2009. Disponível em: <


http://www.dicio.com.br/sancoes/> Acesso em: 19 jan. 2019.

_______Disponível em: http://www.dicio.com.br/atavico/ Acesso em: 19 jan. 2019.

EUGÈNE, Enriquez. Da Horda ao Estado: Psicanálise do Vínculo Social. Rio de Janeiro:


Jorge Zahar Editor Ltda, 1999.

FOUCAULT, Michel. Microfísica do Poder. 6. ed. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1986.
58

FREUD, Sigmund. (1912[1913]). O totem e Tabu e outros trabalhos. In: Obras Completas,
ESB. Rio de Janeiro: Imago, v. 13, 1976.

_______ (1930). O mal-estar na civilização. In: Obras Completas, ESB. Rio de Janeiro:
Imago, 1974. v. XXI

JACCARD, Pierre. História Social do Trabalho: das origens até os nossos dias. 1. ed.
Lisboa: Editorial Gleba, LDA/Livros Horizonte, LDA, 1960.

KATZ, D. KAHN, R. L. Psicologia Social das Organizações. Trad. Auriphebo Simões. 2.


ed. São Paulo: Atlas, 1976.

KRAUSZ, Rosa. O Poder nas Organizações. 1. ed. Editora Nobel, 1988.

KRUMM, D. J. Psicologia do Trabalho: uma introdução à psicologia


industrial/organizacional. Trad. Dalton Conde de Alencar. Rio de Janeiro: LTC, 2005.

LEBRUN, Jean-Pierre. Autoridade, poder e decisão. In: ______Clínica da Instituição: o que


a psicanálise contribui para a vida coletiva. Porto Alegre: CMC Editora. cap 03. p. 95-123,
2009.

MALCHER, F.; FREIRE, B.A. Laço Social, Temporalidade e Discurso: do Totem e Tabu ao
Discurso Capitalista. Ágora, Rio de Janeiro, v. 19, n. 1, p. 69-84, jan/abr. 2016. Disponível
em: < http://www.scielo.br/pdf/agora/v19n1/1809-4414-agora-19-01-00069.pdf> Acesso em:
10 set. 2018.

MAQUIAVEL, N. O Príncipe. Trad. Pietro Nasseti. São Paulo: Martin Claret, 2004.

MARQUES, M. A. A. O conceito de Poder em Foucault: algumas implicações para a teoria


das organizações. Mestrado em Administração – Universidade Federal do Espírito Santo
(UFES). Espírito Santo, p. 01-17, 2006. Disponível em: <
http://convibra.com.br/2006/artigos/74_pdf.pdf> Acesso em: 03 dez. 2018.

NEVES, R. D. et al. Sentido e significado do trabalho: uma análise dos artigos publicados em
periódicos associados à Scientific Periodicals Electronic Library. Cadernos EBAPE. Br, Rio
de Janeiro v. 16, n. 2, p. 317-330, abr/jun 2017. Disponível em: <
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S1679-
39512018000200318&lng=en&nrm=iso> Acesso em: 05 nov. 2018.

PAZ, M. G. T.; MARTINS, M. C. F.; NEIVA, E. Poder nas Organizações. In: ZANELLI, J.
C.; BORGES-ANDRADE, J. E.; CODO, W. (Org.). Psicologia, Organizações e Trabalho
no Brasil. Porto Alegre: Artmed, p. 380-406, 2004.

POLI, C.M. Pervesão da Cultura, neurose do Laço Social. Ágora: Estudos em Teoria
Psicanalítica, Rio de Janeiro, v. 7, n.1, jul/jan. 2004. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-
14982004000100003&lng=en&nrm=iso&tlng=pt> Acesso em: 11 set. 2018.

RIZZO, Alexandre. O Líder nas Organizações e o Totemismo de Sigmund Freud. Thesis, São
Paulo, v. 7, n. 16, p. 35-55, 2011. Disponível em: <
http://www.cantareira.br/thesis2/ed_16/4_rizzo.pdf> Acesso em: 25 nov. 2018.
59

ROBBINS, S. P. Comportamento Organizacional. 8. ed. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e


Científicos, 1999.

ROUDINESCO, E.; PLON, M. Dicionário de Psicanálise, Rio de Janeiro: Jorge Zahar


Editor, 1998.

SILVA, Carliene. O Poder nas Organizações: Um estudo preliminar a partir da percepção


dos trabalhadores. 2007. Dissertação de Mestrado (Programa de Pós-Graduação em
Psicologia Aplicada). Universidade Federal de Uberlândia, Instituto de Psicologia. Uberlândia
– MG, 2007.

SPECTOR, P.E. Psicologia nas Organizações. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2002.

SROUR, R. H. Poder, Cultura e Ética nas Organizações. Rio de Janeiro: Campus, 1998.

TIZIO, Herbe. Novas Modalidades do Laço Social. Universidade de Barcelona/Espanha.


Barcelona/Espanha, 2006. Disponível em: <
http://www.isepol.com/asephallus/numero_04/artigo_03.htm> Acesso em: 11 set. 2018.

TOMASELLI, Tovar. Freud e o Conceito de Recalcamento. RedePsi, 2007. Disponível em:


http://www.redepsi.com.br/2007/11/11/freud-e-o-conceito-de-recalcamento/ Acesso em: 19
jan. 2019.

WAGNER III, J. A.; HOLLENBECK, J. R. Comportamento Organizacional: criando uma


vantagem competitiva. Trad. Cid Knipel Moreira. São Paulo: Saraiva, 1999.

Você também pode gostar