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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI

CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS - CEJURS


CURSO DE DIREITO

NOVAS FORMAS DE CONSTITUIÇÃO DE FAMÍLIA E SEUS EFEITOS


JURÍDICOS.

KARINA CARELLI

Itajaí (SC), novembro de 2008.


UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI
CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS - CEJURS
CURSO DE DIREITO

NOVAS FORMAS DE CONSTITUIÇÃO DE FAMÍLIA E SEUS EFEITOS


JURÍDICOS.

KARINA CARELLI

Monografia submetida à Universidade


do Vale do Itajaí – UNIVALI, como
requisito parcial à obtenção do grau
de Bacharel em Direito.

Orientador: Professora MSc Ana Lúcia Pedroni

Itajaí (SC), novembro de 2008.


AGRADECIMENTOS:

À Deus companheiro inseparável de todos os


momentos de minha vida, por ter me
abençoado com saúde e persistência para
alcançar este objetivo.

A minha orientadora Ana Lúcia Pedroni pelo


incentivo e por toda atenção durante toda
monografia.
DEDICATÓRIA:

Dedico este trabalho a minha mãe Karla, ao


meu Pai Carlos e minha irmã Camila, pelo
infindável exemplo de amor, trabalho e caráter,
e por estarem ao meu lado incondicinalmente
por todos esses anos.
TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade


pelo aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a
Universidade do Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca
Examinadora e o Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca
do mesmo.

Itajaí (SC), 20 novembro de 2008.

Karina Carelli
Graduanda
PÁGINA DE APROVAÇÃO

A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do


Vale do Itajaí – UNIVALI, elaborada pela graduanda Karina Carelli, sob o
título "Novas formas de constituição de família e seus efeitos jurídicos", foi
submetida em 20 de novembro de 2008 à banca examinadora composta
pelos seguintes professores: Ana Lúcia Pedroni e Maria Fernanda Gugelmin
Girardi, e aprovada com a nota __.

Itajaí (SC), 20 novembro de 2008.

Prof. MSc.Ana Lucia Pedroni


Orientadora e Presidente da Banca

Prof. MSc. Antônio Augusto Lapa


Coordenação da Monografia
ROL DE CATEGORIAS

Rol de categorias1 que a Autora considera estratégicas à


compreensão do seu trabalho, com seus respectivos conceitos
operacionais2.

Casamento

Casamento é o vínculo jurídico entre o homem e a mulher que visa o auxílio


mútuo material ou espiritual, de modo que haja uma integração fisiopsíquica
e a constituição de uma família legítima 3.

Dignidade humana

É qualidade integrante e irrenunciável da condição humana, devendo ser


reconhecida, respeitada, promovida e protegida. Não é criada, nem
concedida pelo ordenamento jurídico, motivo por que não pode ser
retirada, pois é inerente a cada ser humano 4.

Direito de família

Direito de família é o complexo de normas que regulam a celebração do


casamento, sua validade e os efeitos que dele resultam, as relações pessoais
e econômicas da sociedade conjugal, a dissolução desta, a união estável,
as relações entre pais e filhos, o vínculo de parentesco e os institutos

1 “Categoria é a palavra ou expressão estratégica à elaboração e/ou à expressão de uma


idéia”; PASOLD, César Luiz. Prática da pesquisa jurídica: idéias e ferramentas úteis para o
pesquisador do Direito. 7. ed. Florianópolis: OAB/SC, 2002. p. 40.
2 “Conceito Operacional (= cop) é uma definição para uma palavra e expressão, com o
desejo de que tal definição seja aceita para os efeitos das idéias que expomos”. PASOLD,
César Luiz. Prática da pesquisa jurídica: idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do
Direito. p. 56.
3 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: direito de família. v. 5. 19. ed. São
Paulo: Saraiva, 2004. p. 64.
4 SARLET, Ingo Wolfgang. Dignidade da Pessoa Humana e Direitos Fundamentais na
Constituição Federal de 1988. 5. ed. rev. atual. Porto Alegre: Livraria d Advogado, 2007. p.
41.
complementares da tutela e curatela 5.

Entidade familiar

É a denominação que a CF/88, em seu art. 226, confere à família, que teria
as seguintes espécies: a entidade familiar entre homem e mulher, constituída
pelo casamento; a entidade familiar entre homem e mulher, decorrente de
sua união estável; a entidade familiar formada por qualquer dos pais e seus
descendentes; e a entidade familiar de amparo à pessoa idosa (art. 230).
Outros só consideram como entidade familiar a referente à união estável
entre homem e a mulher 6.

Família

“família é o grupo fechado de pessoas, composto dos pais e filhos, e, para


efeitos limitados, de outros parentes, unidos pela convivência e afeto numa
mesma economia e sob a mesma direção” 7.

Família monoparental

É a Família constituída quando uma pessoa, que pode ser homem ou mulher,
encontra-se sem cônjuge ou companheiro, e vive com uma ou várias
crianças, às quais a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988
referiu-se como descendentes 8.

Igualdade

A igualdade redunda na igual proteção a todos, na igual proteção a todos,


na igualdade das coisas que sejam iguais e na proscrição dos privilégios,

5 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: direito de família. v. 5. 19. ed. São
Paulo: Saraiva, 2004. p. 07.
6 SILVA, De Plácido e. Vocabulário jurídico. Rio de Janeiro: Forense, 2001. p. 309.
7 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: direito de família. v. 5. 19. ed. São

Paulo: Saraiva, 2004. p. 12.


8 LEITE, Eduardo de Oliveira. Família Monoparentais. A situação jurídica de pais e mães

separados e dos filhos na ruptura da vida conjugal. p. 22.


isenções pessoais e regalias de classe, que se mostrariam desigualdades 9.

Princípios

No sentido, notadamente do plural, significa as normas elementares ou os


requisitos primordiais instituídos como base, como alicerce de alguma coisa.
E, assim, princípios revelam o conjunto de regras ou preceitos, que se fixam
para servir de norma a toda espécie de ação jurídica, traçando, assim, a
conduta a ser tida em qualquer operação jurídica. Mostram-se a própria
razão fundamental de ser das coisas jurídicas, convertendo-as em perfeitos
axiomas 10.

União estável

É uma união duradoura de pessoas livres e de sexos diferentes, que não


estão ligadas entre si por casamento civil 11.

União homossexual

Entidade composta por duas pessoas do mesmo sexo, com vistas à


convivência, em conformidade de esforços e pensamentos, que interagem
com seus sentimentos e emoções, à semelhança da união concubinária
heterossexual, constituindo-se em sociedade de fato, à falta de legislação
reguladora, gerando assim efeitos jurídicos civis 12.

9 SILVA, De Plácido e. Vocabulário jurídico. Rio de Janeiro: Forense, 2001. p. 406.


10 SILVA, De Plácido e. Vocabulário jurídico. Rio de Janeiro: Forense, 2001. p. 639.
11 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: direito de família. v. 5. 19. ed. São

Paulo: Saraiva, 2004. p. 404.


12 JENCZAK, Dionísio. Aspectos das Relações Homoafetivas à luz dos Princípios
Constitucionais. Florianópolis: Conceito Editorial, 2008. p. 18.
SUMÁRIO

RESUMO ................................................................................................ XII

INTRODUÇÃO ..........................................................................................1

CAPÍTULO 1

ORIGEM E EVOLUÇÃO DA FAMÍLIA

1.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA FAMÍLIA................................................................... 4


1.1.1 A proposta sociológica de Engels sobre a origem da família .................... 4
1.2 CONCEITUAÇÃO DE FAMÍLIA ............................................................................. 9
1.3 CONCEITO DE DIREITO DE FAMÍLIA .................................................................. 14
1.4 A IMPORTÂNCIA DO NÚCLEO FAMILIAR COMO FONTE DE FORMAÇÃO DO
INDIVÍDUO................................................................................................................ 16
1.5 A PROTEÇÃO DO ESTADO AO INSTITUTO DA FAMÍLIA .................................... 19

CAPÍTULO 2

MODELOS DE FAMÍLIA NO DIREITO BRASILEIRO

2.1 A FORMAÇÃO DA FAMÍLIA ATRAVÉS DO CASAMENTO................................. 21


2.2 A FORMAÇÃO DA FAMÍLIA DECORRENTE DA UNIÃO ESTÁVEL ..................... 28
2.3 A FAMÍLIA MONOPARENTAL ............................................................................ 31
2.4 A IGUALDADE DE DIREITOS DOS CÔNJUGES E COMPANHEIROS NO
CONTEXTO DA FAMÍLIA........................................................................................... 32
2.5 A IGUALDADE DE DIREITOS DE FILHOS HAVIDOS DE DIFERENTES UNIÕES...... 33
2.6 A ÉTICA NA DISSOLUÇÃO DAS UNIÕES COMO FORMA DE PRESERVAÇÃO
DA FAMÍLIA .............................................................................................................. 35
2.7 MEDIAÇÃO FAMILIAR........................................................................................ 37
CAPÍTULO 3

A VALORIZAÇÃO DE PRINCÍPIOS COMO EIXO DE PROTEÇÃO AOS


DIVERSOS MODELOS DE FAMÍLIAS

3.1 NOVOS MODELOS DE FAMÍLIA ......................................................................... 40


3.1.1 Família Anaparental ...................................................................................... 40
3.1.2 Família Mosaica ............................................................................................. 41
3.1.3 Família Eudemonista...................................................................................... 42
3.1.4 Família formada por casais homossexuais................................................. 44
3.2 PRINCÍPIOS NORTEADORES DA FORMAÇÃO DA FAMÍLIA.............................. 47
3.2.1 Conceito de Princípios .................................................................................. 47
3.2.2 Princípio da Dignidade Humana.................................................................. 49
3.2.3 Princípio da solidariedade familiar .............................................................. 51
3.3 O AFETO COMO VALOR JURÍDICO E CAUSA PRINCIPAL DO
RECONHECIMENTO DA FAMÍLIA............................................................................. 52
3.4 A HUMANIZAÇÃO DO DIREITO DE FAMÍLIA ..................................................... 55
3.5 EFEITOS JURÍDICOS DOS NOVOS MODELOS DE FAMÍLIA: As conquistas
obtidas através dos Tribunais ................................................................................ 56

CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................61

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................65
Resumo

O presente trabalho monográfico tem o objetivo de


evidenciar aspectos legais, doutrinários e jurisprudenciais atinentes as novas
formas do instituto familiar no direito brasileiro. Abordam aspectos históricos,
sua conceituação, sua importância e a proteção do Estado à família.
Procura-se evidenciar de forma sucinta, diversas faces da Família brasileira,
as espécies expostas na Constituição, como o casamento, a sua
conceituação, características e suas formas de constituição, bem como a
igualdade, a ética e a mediação no contexto familiar. Por fim, os novos
modelos de família e suas perspectivas futuras com base nos princípios
constitucionais da dignidade da pessoa humana e da solidariedade familiar,
as causas que a originam e os seus efeitos jurídicos.
1

INTRODUÇÃO

A presente Monografia tem como objeto as novas


formas de constituição da família e os seus efeitos jurídicos.

O tema é relevante pelas grandes transformações


ocorridas nas entidades familiares, além da sua importância para o Estado e
para a sociedade.

O objetivo institucional é o de produzir a presente


Monografia para a obtenção do título de Bacharel em Direito, pela
Universidade do Vale do Itajaí.

O objetivo geral é pesquisar na legislação e doutrina, as


novas formas de família no direito brasileiro e os seus efeitos jurídicos, com o
intuito de identificar seus caracteres e pressupostos principais.

Os objetivos específicos são: pesquisar dados históricos


acerca da origem e evolução da família; identificar as principais
características e pressupostos da entidade familiar no modelo brasileiro e
analisar as novas formas de família constituídas pelo afeto, como nova
tendência familiar, com base no direito, jurisprudências e doutrinas
brasileiras.

Para tanto, principia–se, no Capítulo 1, tratando da


origem e evolução da família, sua conceituação e sua importância na
formação do indivíduo, bem como a proteção do Estado ao instituto.

No Capítulo 2, tratar-se-á das formas de famílias


constituídas pelo casamento, união estável, e pela monoparentalidade.
Segue-se o estudo com a igualdade dada aos cônjuges e companheiros e
aos filhos havidos de diferente união, a ética e a mediação familiar.

No Capítulo 3, abordar-se-á os novos modelos de família,


2

os princípios que a norteiam, do afeto como principal causa da formação e


do reconhecimento da família, e os efeitos jurídicos alcançados.

O presente Relatório de Pesquisa se encerra com as


Considerações Finais, nas quais são apresentados pontos conclusivos
destacados, seguidos da estimulação à continuidade dos estudos.

Para a presente monografia foram levantados as


seguintes problemas:

Primeiro Problema: É possível se identificar, de forma


segura e absoluta, qual foi a origem da família?

Segundo Problema: Quais são os modelos de família


reconhecidos pela legislação brasileira?

Terceiro Problema: Os novos modelos de família, apesar


de formados à míngua de legislação, geram efeitos jurídicos?

Em resposta aos problemas, foram levantadas as


seguintes hipóteses:

 Antes de se chegar à atual estrutura familiar


monogâmica, a mesma passou no decorrer de
milhares de anos, por diversos estágios de evolução,
sem saber qual a origem de forma segura, afinal não
se podia falar em família, já que as relações de
parentesco não eram definidas e suas relações eram
baseadas na promiscuidade. Porém após os estágios
evolutivos da formação familiar, que com base na
teoria de Engels se dividiram em três fases, sendo a
consanguínea, punaluana e a sindiásmica, chegou-se
a forma monogâmica.
3

 A legislação brasileira reconhece casamento, a união


estável e a monoparentalidade como entidades
familiares.

 Os novos modelos de família, tais como anaparental,


mosaica, eudemonista e homoafetiva, em que pese
não se encontrarem regulamentadas pela legislação,
geram efeitos jurídicos na esfera do direito
obrigacional, através das decisões judiciais em casos
concretos.

Além das palavras, expressões e respectivos conceitos


constantes no rol de categorias, existem outros conceitos e definições no
decorrer dos capítulos desta monografia.

Quanto à Metodologia empregada, registra-se que, na


Fase de Investigação foi utilizado o Método Indutivo, na Fase de Tratamento
de Dados o Método Cartesiano, e, o Relatório dos Resultados expresso na
presente Monografia é composto na base lógica Indutiva.

Nas diversas fases da Pesquisa foram acionadas as


Técnicas do Referente, da Categoria, do Conceito Operacional e da
Pesquisa Bibliográfica.
CAPÍTULO 1

ORIGEM E EVOLUÇÃO DA FAMÍLIA

1.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA FAMÍLIA

1.1.1 A proposta sociológica de Engels sobre a origem da família

Baseado nos estudos de Morgan sobre os iroqueses,


Engels 13 afirma que:

[...] encontrou um sistema de consanguinidade, vigente entre


eles, que entrava em contradição com seus reais vínculos de
família. Reinava ali aquela espécie de matrimônio facilmente
dissolúvel por ambas as partes, que Morgan chamava de
“família sindiásmica”.

Sobre a descendência, explica Engels14, que “A


descendência de semelhante casal era patente e reconhecida por todos;
nenhuma dúvida podia surgir quanto às pessoas a quem se aplicavam os
nomes de pai, mãe, filho, filha, irmão ou irmã”.

Para Morgan apud Engels15:

A família, é o elemento ativo; nunca permanece estacionária,


mas passa de uma forma inferior a uma forma superior, à
medida que a sociedade evolui de um grau mais baixo para
outro mais elevado. Os sistemas de parentesco, elo contrário,
são passivos só depois de longos intervalos, registram os
progressos feitos pela família, e não sofrem uma modificação
radical senão quando a família já se modificou radicalmente.

13 ENGELS, Friedrich. A origem da família, da propriedade privada e do estado. 17. ed. Rio de
Janeiro: Bertrand Brasil, 2005. p. 28.
14 ENGELS, Friedrich. A origem da Família, da propriedade e do estado. p. 28.
15 ENGELS, Friedrich. A origem da Família, da propriedade e do estado. p. 30.
5

Morgan apud Engels16, explica “que existiu uma época


primitiva em que imperava, no seio da tribo, o comércio sexual promíscuo,
de modo que cada mulher pertencia igualmente a todos os homens e cada
homem a todas as mulheres”. E que “No século passado, já se havia feito
menção a esse estado primitivo, [...]. Sabemos hoje que os vestígios
descobertos [...] não conduzem a nenhum estado social de promiscuidade
dos sexos e sim a uma forma muito posterior: o matrimônio por grupos”.

Nos estágios pré-históricos de cultura,


proporcionalmente, há três formações de família, que originaram do estado
de promiscuidade.

O primeiro estágio da família é a consangüínea,


segundo Engels17:

Nela, os grupos conjugais classificam-se por gerações: todos


os avôs e avós, nos limites da família, são maridos e mulheres
entre si: o mesmo sucede com seus filhos, quer dizer, com os
pais e mães; os filhos destes, por sua vez, constituem o terceiro
círculo de cônjuges comuns; e seus filhos, isto é, os bisnetos
dos primeiros, o quarto círculo. Nessa forma de família, os
ascendentes e descendentes, os pais e filhos, são os únicos
que, reciprocamente, estão excluídos dos direitos e deveres
(poderíamos dizer) do matrimônio. Irmãos e irmãs, primos e
primas, em primeiro, segundo e restantes graus, são todos,
entre si, irmãos e irmãs, e por isso mesmo maridos e mulheres
uns dos outros. O vínculo de irmão e irmã pressupõe, por si,
nesse período, a relação carnal mútua.

O segundo estágio, que corresponde a um progresso,


conforme Engels18 é da família punaluana. Consiste na exclusão dos pais e
filhos das relações sexuais recíprocas, vindo depois a exclusão dos irmãos.
“Esse progresso foi infinitamente mais importante que o primeiro e, também,
mais difícil, dada a maior igualdade nas idades dos participantes”. E

16 ENGELS, Friedrich. A origem da Família, da propriedade e do estado. p. 31.


17 ENGELS, Friedrich. A origem da Família, da propriedade e do estado. p. 37-38.
18 ENGELS, Friedrich. A origem da Família, da propriedade e do estado. p. 39.
6

complementa:

Foi ocorrendo pouco a pouco, provavelmente começando


pela exclusão dos irmãos uterinos (isto é, irmãos por parte de
mãe), a princípio em casos isolados e depois,
gradativamente, como regra geral (no Havaí ainda havia
exceções no presente século) e acabando pela proibição do
matrimônio até entre irmãos colaterais (quer dizer, segundo
nossos atuais nomes de parentesco, entre primos carnais,
primos em segundo e terceiro graus). Segundo Morgan, esse
progresso constitui "uma magnífica ilustração de como atua o
princípio da seleção natural".

Engels19 ainda acrescenta:

Esses maridos, por sua parte, não se chamavam entre si


irmãos, pois já não tinham necessidade de sê-lo, mas
"punalua", quer dizer, companheiro íntimo, como quem diz
"associé". De igual modo, uma série de irmãos uterinos ou mais
afastados tinham em casamento comum certo número de
mulheres, com exclusão de suas próprias irmãs, e essas
mulheres chamavam-se entre si "punalua".

É esse o tipo clássico de formação de uma família


(Familien-formation), sofrendo mais tarde variações, sendo excluídos a
comunidade recíproca de marido e mulheres no seio de um determinado
círculo, e excluí-se também, mais tarde, os irmãos mais afastados das
mulheres, afirma Engels20.

A partir desse estágio que são instituídas as gens, ou seja,


um “círculo fechado de parentes consangüíneos por linha feminina, que não
se podem casar uns com os outros”, como explica Engels21, estabelecendo
assim, os graus de parentesco e de superior desenvolvimento.

Com as proibições em relação ao casamento, “[...] que,


em geral, continua existindo, encontram-se, pois, relações exclusivistas,

19 ENGELS, Friedrich. A origem da Família, da propriedade e do estado. p. 40.


20 ENGELS, Friedrich. A origem da Família, da propriedade e do estado. p. 41.
21 ENGELS, Friedrich. A origem da Família, da propriedade e do estado. p. 44.
7

uniões por casais, a prazo mais ou menos longo, e também a poligamia; de


maneira que também aqui o matrimônio por grupos vai se extinguindo [...]”,
ficando cada vez mais difíceis as uniões por grupos22.

Na terceira fase da formação de família, está à família


sindiásmica e segundo Engels23:

Neste estágio, um homem vive com uma mulher, mas de


maneira tal que a poligamia e a infidelidade ocasional
continuam a ser um direito dos homens, embora a poligamia
seja raramente observada, por causas econômicas; ao
mesmo tempo, exige-se a mais rigorosa fidelidade das
mulheres, enquanto dure a vida em comum, sendo o
adultério destas cruelmente castigado. O vínculo conjugal,
todavia, dissolve-se com facilidade por uma ou por outra
parte, e depois, como antes, os filhos pertencem
exclusivamente à mãe.

Nessa fase houve uma redução do círculo de relações


sexuais, já que havia uma exclusão grande dos parentes próximos, e ressalta
o autor Engels24 que:

[...] nas anteriores formas de família os homens nunca


passavam por dificuldades para encontrar mulheres, e tinham
até mais do que precisavam, agora as mulheres escasseavam
e era necessário procurá-las. Por isso começam, com o
matrimônio sindiásmico, o rapto e a compra de mulheres[...]

Engels25 diz que “nessa exclusão, cada vez maior, que


afeta os parentes consangüíneos do laço conjugal, a seleção natural
continua a produzir seus efeitos.”

De acordo com Engels26, a família sindiásmica é a fase


evolutiva que tornará possível o desenvolvimento da Família Monogâmica:

22 ENGELS, Friedrich. A origem da Família, da propriedade e do estado. p. 47-48.


23 ENGELS, Friedrich. A origem da Família, da propriedade e do estado. p. 49.
24 ENGELS, Friedrich. A origem da Família, da propriedade e do estado. p. 49-50.
25 ENGELS, Friedrich. A origem da Família, da propriedade e do estado. p. 50.
26 ENGELS, Friedrich. A origem da Família, da propriedade e do estado. p. 55-56.
8

A família sindiásmica aparece no limite entre o estado


selvagem e a barbárie, no mais das vezes durante a fase
superior do primeiro, apenas em certos lugares durante a fase
inferior da segunda. É a forma de família característica da
barbárie, como o matrimônio por grupos é a do estado
selvagem e a monogamia é a da civilização. Para que a
família sindiásmica evoluísse até chegar a uma monogamia
estável, foram necessárias causas diversas daquelas cuja
ação temos estudado até agora. Na família sindiásmica já o
grupo havia ficado reduzido à sua última unidade, à sua
molécula biatômica: um homem e uma mulher. A seleção
natural realizara sua obra, reduzindo cada vez mais a
comunidade dos matrimônios; nada mais havia a fazer nesse
sentido. Portanto, se não tivessem entrado em jogo novas
forças impulsionadoras de ordem social, não teria havido
qualquer razão para que da família sindiásmica surgisse outra
forma de família.

A família monogâmica fundamenta-se no predomínio


patriarcal, tem como finalidade procriar filhos cuja paternidade seja
indiscutível e, exigir essa paternidade porque os filhos, na condição de
herdeiros diretos, serão partes na posse dos bens de seu pai, conforme
Engels27.

Ressalta ainda Engels28, que na família monogâmica há


uma durabilidade e uma solidez muito forte no matrimônio, como regra,
somente o homem pode romper e repudiar sua mulher, modificando-a do
matrimônio sindiásmico, onde qualquer das partes poderia romper o
casamento. Que ao homem “igualmente, se concede o direito á
infidelidade conjugal, sancionado ao menos pelo costume [...]. Quando a
mulher, por acaso, recorda as antigas práticas sexuais e intenta renová-las, é
castigada mais rigorosamente do que em qualquer outra época anterior.”

Neste sentido Engels29, destaca que da mulher exige-se


que tolere tudo, que guarde castidade e fidelidade conjugal severa. Com a

27 ENGELS, Friedrich. A origem da Família, da propriedade e do estado. p. 56.


28 ENGELS, Friedrich. A origem da Família, da propriedade e do estado. p. 66.
29 ENGELS, Friedrich. A origem da Família, da propriedade e do estado. p. 67.
9

monogamia passa a ter a existência da escravidão já que elas pertencem


de corpo e alma ao homem, e que a monogamia é somente para a mulher,
e não para o homem.

Engels30 afirma que a primeira separação do trabalho é


a feita entre o homem e a mulher para procriar os filhos. Também é onde
apareceu a primeira opressão de classes, juntamente com a opressão do
sexo feminino pelo masculino.

A monogamia foi um grande progresso, mas, ao mesmo


tempo deu início a escravidão e as riquezas privadas, na qual o crescimento
de uns se verifica no sofrimento e na repressão de outros. Portanto a
monogamia de modo algum é fruto do amor sexual individual e não se
baseia em condições naturais, mas econômicas, isto é, o triunfo da
propriedade privada sobre a propriedade comum primitiva31.

Demonstrou-se de forma breve o estágio evolutivo, a


caracterização dos sistemas de parentesco e as formas de matrimônio que
levaram à formação da família.

1.2 CONCEITUAÇÃO DE FAMÍLIA

A conceituação de família nunca foi algo estático, que


se fixou no tempo, passa-se então ao estudo de alguns conceitos e
definições.

Logo que se fala em família, se pensa nos laços mais


estreitos existentes entre os indivíduos, conforme Nahas32. E prossegue a
autora dizendo que se encontra na família uma posição intermediária entre
a sociedade e o indivíduo, portanto sua caracterização depende do
encontro do seu lado social e individual.

30 ENGELS, Friedrich. A origem da Família, da propriedade e do estado. p. 70-71.


31 ENGELS, Friedrich. A origem da Família, da propriedade e do estado. p. 70-72.
32 NAHAS, Luciana Faísca. União Homossexual. Curitiba: Juruá, 2006. p. 61.
10

Assim, Pires33 conceitua família:

Sempre foram exigidas determinadas formalidades para que


se pudesse conceituar Família, nos mais diversos níveis de
evolução sócio-cultural e diferentes sistemas legais, mas que
não é menos verdadeiro que o impulso inicial, a condição
principal para que se perceba o surgimento de qualquer
núcleo familiar, resume-se em necessidades fisiológicas,
glandulares e hormonais, posteriormente também em uma
tradução intelectual das necessidades físicas que logramos
denominar afetividade, elementos sem os quais certamente,
mesmo preenchidos os requisitos e os ditames legais ou morais
de qualquer época, ou eivados de qualquer filosofia, não
haveríamos de vislumbrar composta qualquer entidade
familiar.

Para Rodrigues34 o vocábulo família é usado em vários


sentidos. Um é o modo mais amplo, onde família é aquela formada por
todas as pessoas ligadas por um vínculo de consangüinidade, providas de
um tronco ancestral comum. E num modo mais limitado, é compreendido
família os consangüíneos em linha reta e os colaterais até quarto grau. E
também o modo mais restrito, onde constitui família o conjunto de pessoas
compreendido pelo pai e sua prole.

Náufel35 entende também que há vários sentidos ao


vocábulo família:

Num sentido estrito a Família é um grupo cerrado de pessoas,


composto de pais e filhos, apresentando certas unidades de
relações jurídicas, tendo comunidade de nome, economia,
domicílio e nacionalidade, fortemente unido por identidade
de interesses e fins morais e materiais, monarquicamente
organizado sob a autoridade de um chefe, que é o pai. Um
sentido mais amplo, a Família abrange além dos Cônjuges e

33 PIRES, Francisco Eduardo Orcioli, PIZZOLANTE, Albuquerque. União estável no sistema


jurídico brasileiro. São Paulo: Atlas, 1999. p. 17.
34 RODRIGUES, Silvio. Direito civil brasileiro. Direito de Família. V. 6. 2. ed. São Paulo: Saraiva,
2002. p. 4-5.
35 NÁUFEL, José. Novo dicionário jurídico brasileiro. 9. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1997. p.
468.
11

dos seus filhos, outros parentes mais remotos e afins, como


sogros, tios etc., aos quais chefe de Família presta alimentos e
tem na sua companhia, e até os criados ou serviçais
domésticos.

Para Diniz36 “família é o grupo fechado de pessoas,


composto dos pais e filhos, e, para efeitos limitados, de outros parentes,
unidos pela convivência e afeto numa mesma economia e sob a mesma
direção”.

Os principais motivos que ensejam a Constituição da


Família, conforme Beviláqüa37 são:

Em primeiro ligar, o instinto genesíaco, o amor aproxima os


dois sexo; em segundo, os cuidados exigidos para a
manutenção da prole, que tornam mais duradoura a
associação do homem e da mulher, e que determinam a
surto de emoções novas, a filoprogênie o amor filial, entre
procriadores e procriados, emoções essas que tendem, todas,
a consolidar a associação familiar.

Gomes38 ensina que:

Não há mais no direito brasileiro a restrição do conceito de


família ao núcleo de pessoas vinculadas ao instituto do
casamento. A família que hoje merece tutela da ordem
jurídica é, indistintamente, a que se origina do casamento,
como a que se forma a partir da união estável entre o homem
e a mulher, ou a que simplesmente se estabelece pelo laço
biológico da paternidade ou pelo liame civil da adoção.

“O novo modelo de família funda-se sobre os pilares da


repersonalização, da afetividade, da pluralidade e do eudemonismo,
impingindo a nova roupagem axiológica do direito de família”, para

36 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: direito de família. v. 5. 19. ed. São
Paulo: Saraiva, 2004. p. 12.
37 BEVILÁQUA, Clóvis. Direito de família. 5. ed. Rio de Janeiro: 1996. p. 17.
38 GOMES, Orlando. Direito de família. Rio de Janeiro: Forense, 2002. p. 36.
12

Albuquerque39.

Para Lôbo40, “A família é um grupo social fundado


essencialmente nos laços de afetividade após o desaparecimento da família
patriarcal, que desempenhava funções procriativas, econômicas, religiosas e
políticas”.

Hironaka41, afirma que não é a posição que o indivíduo


ocupa na família, ou a qual tipo de grupo familiar ele pertence, o que
importa é pertencer a sua parte mais íntima, é estar idealizado naquele lugar
onde é possível integrar sentimentos, valores e se sentir realizado ao seu
projeto de felicidade.

“Faz–se necessário ter uma visão pluralista da família,


abrigando os mais diversos arranjos familiares, devendo-se buscar a
identificação do elemento que permitia enlaçar no conceito de entidade
familiar todos os relacionamentos que têm origem em um elo de afetividade,
independentemente de sua conformação.”, complementa Dias42

No dizer de Gama43,

[...] as relações familiares são funcionalizadas em razão da


dignidade de cada partícipe, e tornou-se necessário
identificar como família também as relações que se
constituem sem o selo do casamento. [...] Está ocorrendo uma
verdadeira democratização dos sentimentos, na qual o
respeito mútuo e a liberdade individual vêm sendo
preservados.

Afinal é na a família que se encontra o apoio e o reforço

39 ALBUQUERQUE, Fabíola Santos. Poder familiar nas famílias recompostas. Belo Horizonte: Del
Rey, 2004. p. 162.
40 LÔBO, Paulo Luiz Netto. Entidades familiares constitucionalizadas: pra além do numerus

clausus. Belo Horizonte: Del Rey, 2002. p. 96.


41 HIRONAKA, Giselda Maria Fernandes Novaes. Revista Brasileira de Direito de Família.

Família e casamento em evolução. Porto Alegre, n. 1, p. 7-17, abr/jun. 1999.


42 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. p. 39.
43 GAMA, Guilherme Calmon Nogueira da. Direito de família e o novo Código Civil. 3. ed.

Belo Horizonte: Del Rey, 2003.


13

para a realização pessoal, sentimental e educacional dos seus membros.

Nogueira44 apresenta sua concepção acerca da família:

Nova estrutura jurídica se forma em torno do conceito da


família sócio-afetiva, à qual alguns autores identificam como
“família sociológica”, onde se identificam, sobretudo, os laços
afetivos, solidariedade entre os membros que a compõe,
família em que os pais assumem integralmente a educação e
a proteção de uma criança, que independe de algum
vínculo jurídico ou biológico entre eles.

Mudanças estão acontecendo quanto ao conceito de


família, sendo essas necessárias perante a sociedade e seu comportamento,
quebrando algumas normas que foram impostas culturalmente ao longo dos
anos criadas pelo Estado e pela Igreja. Mas, continua a família sendo à base
da sociedade, conforme o artigo 226, caput, da Constituição Federal45 que
conceitua:

Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção


do Estado.

§ 1º - O casamento é civil e gratuita a celebração.

§ 2º - O casamento religioso tem efeito civil, nos termos da lei.

§ 3º - Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a


união estável entre o homem e a mulher como entidade
familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento.

§ 4º - Entende-se, também, como entidade familiar a


comunidade formada por qualquer dos pais e seus
descendentes.

[...]

Hoje a família possui a interligação através de um núcleo

44 NOGUEIRA, Jacqueline Filgueras. A filiação que se constrói: o reconhecimento do afeto


como valor jurídico. São Paulo: Memória jurídica, 2001. p. 5.
45 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituiçao.htm>. Doravante será
chamada de Constituição Federal.
14

afetivo, entre duas pessoas que buscam dividir seus objetivos, sonhos,
anseios, sem mais a necessidade do casamento para sua constituição.

1.3 CONCEITO DE DIREITO DE FAMÍLIA

O Direito de família no Brasil, até bem pouco tempo, era


o complexo das normas que regulavam a celebração do casamento, sua
validade e os efeitos dele resultantes; as relações pessoais e econômicas da
sociedade conjugal, assim como a dissolução desta; as relações entre pais e
filhos; o vínculo do parentesco; e os institutos complementares da tutela e da
curatela46.

Com a Constituição Federal de 1988, houve muitas


transformações no Direito de Família, como o reconhecimento da união
estável como entidade familiar, a equiparação dos cônjuges, a não-
discriminação entre filhos e o regime da comunhão parcial de bens.

O objeto de direito de família, é a própria família, mesmo


contendo normas relativas à tutela dos menores que se sujeitam as pessoas
que não são seus genitores, à curatela, que não tem qualquer relação de
parentesco, mas encontra proteção nessa área, devido semelhança com o
sistema de assistência aos menores, conforme Pereira47.

As famílias estão vinculadas durante todo o seu período


de existência, e o Direito de Família é um dos ramos do Direito que se liga
intimamente a essa instituição familiar.

Reflete Monteiro48 dizendo que a ligação das relações


entre os componentes da entidade familiar, origina um complexo de

46 LÔBO, Paulo Luiz Netto. A repersonalização das relações de família. Disponível em <
http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=5201> Acesso em 24 de setembro de 2008.
47
PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil. Rio de Janeiro: Forense, 2004. p.
31-32.
48
MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil. Direito de Família. v. 2. 31. ed. rev.
São Paulo: Saraiva, 1994. p. 1.
15

disposições pessoais e patrimoniais, a partir daí que surge o Direito de Família.

E prossegue Dias49: “A interferência estatal nos elos de


afetividade é que leva o legislador a dedicar um ramo do direito à família”.
A autora ressalta que o direito de família surgiu para proteger todas as
famílias sem discriminação e sem preconceito.

Diniz50 conceitua o Direito de Família como sendo:

[...] complexo de normas que regulam a celebração do


casamento, sua validade e os efeitos que dele resultam, as
relações pessoais e econômicas da sociedade conjugal, a
dissolução desta, a união estável, as relações entre pais e
filhos, o vínculo de parentesco e os institutos complementares
da tutela e curatela.

Assim salienta Gomes51: “Direito de Família é o conjunto


de regras aplicáveis às relações entre pessoas ligadas pelo casamento, pelo
parentesco, pela afinidade e pela adoção”. E ainda ressalta que:

Os preconceitos contra a família fora do patrimônio foram


totalmente rompidos pela Constituição de 1988. A família que
a Carta Magna considera célula da sociedade e que se acha
sob especial proteção do estado não é apenas a gerada
pelo casamento, mas também a que se forma entre qualquer
dos pais e seus descendentes, pouco importando a existência
ou a inexistência de matrimônio civil (art. 226, 3º e 4º).

Pereira apud Rodrigues52 ensina “que o direito de família


tem por objeto a exposição dos princípios que regem as relações de família,
do ponto de vista da influência dessas relações não só sobre as pessoas
como sobre os bens”. O Código Civil de 2002 destina o Livro IV da Parte
Especial ao direito de família. Os temas tratados são o casamento, a união
estável, as relações de parentesco e os institutos de direito protetivo.

49
DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. p. 26.
50
DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: direito de família. p. 7.
51
GOMES, Orlando. Direito de família. p. 1
52
Lafayette Pereira (apud Silvio Rodrigues). Direito civil brasileiro. Direito de Família. p. 3.
16

A natureza do direito de família conforme explica Diniz53,


é direito extrapatrimonial ou personalíssimo (irrenunciável, intransmissível, não
admitindo condição ou termo ou exercício por meio de procurador). São
normas cogentes ou de ordem pública, as suas instituições jurídicas são
direitos-deveres, e sofre intervenção do Estado, mesmo sendo um ramo do
direito privado, pela importância social da família.

1.4 A IMPORTÂNCIA DO NÚCLEO FAMILIAR COMO FONTE DE FORMAÇÃO DO


INDIVÍDUO

As famílias deixam de ser uma entidade que tem por


objetivo a procriação e passa a ter como finalidade a realização afetiva,
moral e individual. Complementa neste sentido Fachin54:

Os novos rumos assumidos pelo direito de Família encontram


desafios para superar o sistema jurídico privado clássico e
adequar-se ao modelo constitucional insculpido pela
Constituição de 1988, cuja estrutura é plural e fundada em
princípios da promoção da dignidade humana, da
solidariedade, onde a família é concebida como referência
de liberdade e igualdade, em busca da felicidade dos sues
membros. Família, “repersonalização” e direitos Fundamentais
têm parentesco epistemológicos indiscutível. Em verdade, os
direitos fundamentais propriamente ditos se ocupam, com
especial ênfase, do princípio da dignidade humana.

Diz Wambier apud Dias55, “que a “cara” da família


moderna mudou. O seu principal papel é de suporte emocional do
indivíduo, em que há flexibilidade e, indubitavelmente, mais intensidade no
que diz respeito a laços afetivos”.

53 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: direito de família. p. 28.
54 FACHIN, Rosana Amara Girardi. Em busca da Família no Novo Milênio. Rio de Janeiro:
Revonar, 2001. p. 67.
55
Tereza Wambier (apud Maria Berenice Dias), Curso de direito civil brasileiro: direito de
família. p. 38.
17

Complementa Estrougo56:

Agora, a tônica reside no indivíduo, e não mais os bens ou


coisas que guarnecem a relação familiar. A família-instituição
foi substituída pela família-instrumento, ou seja, ela existe e
contribui tanto para o desenvolvimento da personalidade de
seus integrantes como para o crescimento e formação da
própria sociedade.

A instituição familiar atual realiza funções relevantes,


lançando valores fundamentais para gerações novas, assim escreve
Oliveira57:

A primeira função garante à família a transmissão de normas,


papéis e valores aos filhos, permitindo a estes sua integração
numa sociedade baseada sobre a realização pessoal. A
segunda permite aos adultos encontrar, na família e no
casamento, seu equilíbrio emocional.

Para Gama58, “A família adquiriu função instrumental


para melhorar a realização dos interesses afetivos e existenciais de seus
componentes.”

Oliveira59 aduz que: “A família se relaciona e interage


com a sociedade, atendendo-a em suas principais necessidades estas
identificadas como de ordem sexual, reprodutiva, educacional, social,
econômica, política, espiritual e psicológica, abrangendo, assim todas as
esferas da vida do indivíduo na organização social.”

Para Lima60 não há nenhuma dúvida de que:

A família na sociedade destaca-se para o homem como o

56
ESTROUGO, Mônica Guazelli. O princípio da igualdade aplicado à família. Porto Alegre:
Livraria do Advogado, 2004. p. 331.
57
OLIVEIRA, José Sebastião de. Fundamentos constitucionais do direito de família. p. 267.
58
GAMA, Guilherme Calmon Nogueira da. Direito de família e o novo Código Civil. p. 101.
59
OLIVEIRA, José Sebastião de. Fundamentos constitucionais do direito de família. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2002. p. 21.
60
LIMA, Alceu Amoroso. A família no mundo moderno. Rio de Janeiro: Agir Editora, 1960. p.
26
18

seu mais importante elo de ligação no relacionamento social,


pois é no seio dela que ele surge, recebe a proteção
indispensável para a continuidade da vida e se prepara para
os embates que o futuro lhe reserva em termos de
subsistência, evolução pessoal e material que a humanidade
busca sem cessar, como fator de seu desenvolvimento e
progresso contínuo

Conforme entende Venosa61, “a família perde sua


característica de unidade de produção, e sua função relevante passa a ser
no âmbito espiritual. A família fica responsável pelo ensinamento de valores
morais, afetivos, espirituais e da assistência recíproca entre seus membros.”

Destaca Oliveira62:

[...] a família, atualmente, possui a função de garantir plena


realização pessoal dos seus membros. É ambiente onde as
pessoas encontram condições favoráveis ao desenvolvimento
de suas aptidões, livres da ingerência do mundo exterior.

Na expressão de Villela63, “a teoria e a prática das


instituições de família dependem, em última análise, da competência em
dar e receber amor. A família continua mais empenhada que nunca em ser
feliz. A manutenção da família visa, sobretudo, buscar a felicidade. Não é
mais obrigatório manter a família - ela só sobrevive quando vale a pena”.

Assim, a entidade familiar está fundamentada no afeto e


na solidariedade como forma de constituição, voltada para realização
individual de seus membros, pois há a proteção, o apoio moral, social,
psicológico, entre outros.

61 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil. Direito de Família. 3ª ed. vol.6. São Paulo: Atlas, 2003.
p. 18.
62 OLIVEIRA, José Sebastião de. Fundamentos constitucionais do direito de família. p. 270.
63 VILLELA, João Baptista. A família em desordem. Anais da XV Conferência Nacional da

OAB, Foz do Iguaçú, set. 1994.


19

1.5 A PROTEÇÃO DO ESTADO AO INSTITUTO DA FAMÍLIA

A proteção à Família, seguindo os princípios da


igualdade, dignidade, pluralismo, está exposta na Constituição Federal, no
Capítulo VII, em seu artigo 226:

Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção


do Estado.

§ 1º - O casamento é civil e gratuita a celebração.

§ 2º - O casamento religioso tem efeito civil, nos termos da lei.

§ 3º - Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a


união estável entre o homem e a mulher como entidade
familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento.

§ 4º - Entende-se, também, como entidade familiar a


comunidade formada por qualquer dos pais e seus
descendentes.

§ 5º - Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal


são exercidos igualmente pelo homem e pela mulher.

§ 6º - O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio,


após prévia separação judicial por mais de um ano nos casos
expressos em lei, ou comprovada separação de fato por mais
de dois anos.

§ 7º - Fundado nos princípios da dignidade da pessoa


humana e da paternidade responsável, o planejamento
familiar é livre decisão do casal, competindo ao Estado
propiciar recursos educacionais e científicos para o exercício
desse direito, vedada qualquer forma coercitiva por parte de
instituições oficiais ou privadas.

§ 8º - O Estado assegurará a assistência à família na pessoa de


cada um dos que a integram, criando mecanismos para
coibir a violência no âmbito de suas relações.

Diniz64 afirma que a intervenção do Estado é protetora,

64 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: direito de família. p. 28.
20

pois pretende garantir a família protegendo-a, evitando abusos,


favorecendo melhores condições de vida para as novas gerações.

Há situações que são afastadas da decisão exclusiva da


família, quando entra em jogo o interesse social ou público. Como exemplos,
têm-se: que é de interesse social que as crianças sejam alfabetizadas e
tenha educação básica, obrigatoriamente; é de interesse público a política
populacional do Estado, cabendo a este estimular a prole mais ou menos
numerosa. O planejamento familiar é livre, pela Constituição, mas o Estado
não está impedido de realizar um planejamento global; é de interesse
público que seja eliminada a repressão e a violência dentro da família,
dentre outros.65

Como se vê as funções do Estado, a partir da


Constituição Federal de 1988, foram consideravelmente ampliadas, com o
fim específico de se proteger a família, certamente em razão de sua
importância para o sadio desenvolvimento de uma sociedade.

Neste capítulo, foram apresentados alguns aspectos


relativos à Família como sua origem e evolução, sua conceituação e
importância, dando alicerce para o estudo posterior. No capítulo seguinte,
será abordado os modelos de família no direito brasileiro.

65 LÔBO, Paulo Luiz Netto. A repersonalização das relações de família. Disponível em <
http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=5201> Acesso em 24 de setembro de 2008.
21

CAPÍTULO 2

MODELOS DE FAMÍLIA NO DIREITO BRASILEIRO

2.1 A FORMAÇÃO DA FAMÍLIA ATRAVÉS DO CASAMENTO

Inicia-se o estudo com um breve histórico quanto ao


casamento. A primeira forma de união entre homem e mulher, nos
primórdios da humanidade não civilizada, ocorria à força com a qual o
macho capturava a fêmea.

Coulanges66, afirma que a religião se constituiu no


principal elemento constitutivo da união familiar antiga, assim escreve:

Se nos transportamos em imaginação até o dia-a-dia dessas


antigas gerações, encontraremos um altar em cada casa e,
em volta desse altar, a família reunida. A cada manhã, a
família ali se reúne para dirigir ao fogo sagrado as suas
primeiras preces, e toda a noite ali o invoca mais uma vez.
Durante o dia, junto dele comparece para dividir
piedosamente o repasto, depois da oração e da libação. Em
todos os seus atos religiosos a família canta em conjunto os
hinos que seus pais lhe legaram. Fora dessa casa, em campo
vizinho, o mais próximo possível dessa casa, existe o túmulo. É
a segunda morada dessa família. Aqui repousam em comum
várias gerações de antepassados que a morte não separou.
Continuam juntos nesta segunda existência, formando uma
família indissolúvel, [...] a primeira instituição estabelecida pela
religião doméstica foi, de fato, o casamento.

Para Engels67:

66 COULANGES, Fustel de. A cidade antiga. Tradução Jean Melville. São Paulo: Martin Claret,
2002. p. 44-46.
67 ENGELS, Friedrich. A origem da família, da propriedade privada e do Estado. Tradução
22

[...] há três formas principais de matrimônio, que


correspondem aproximadamente aos três estágios
fundamentais da evolução humana. Ao estado selvagem
corresponde o matrimônio por grupos, à barbárie, o
matrimônio sindiásmico, e a civilização corresponde a
monogamia com seus complementos: o adultério e a
prostituição. Entre o matrimônio sindiásmico e a monogamia,
intercalam-se, na fase superior da barbárie, a sujeição aos
homens das mulheres escravas e a poligamia.

Para Foucault68 foi assim que a evolução da família


persistiu com o progresso das civilizações, como ocorre com todas as
instituições que compõem a base de determinada sociedade, modelando-
se com gregos, romanos e outros povos, sofrendo influências religiosas, no
Ocidente, primeiro com a Lei Mosaica e a seguir com o Cristianismo, cuja
moral direcionou as relações sexuais exclusivamente ao matrimônio com a
única finalidade da geração de filhos.

No Direito brasileiro, a partir da Constituição da


República de 189169, a família reconhecida pelo Estado, era somente aquela
formada pelo casamento, conforme consta do artigo 72, § 4º:

Art 72 - A Constituição assegura a brasileiros e a estrangeiros


residentes no País a inviolabilidade dos direitos concernentes à
liberdade, à segurança individual e à propriedade, nos termos
seguintes:

[...]

§ 4º - A República só reconhece o casamento civil, cuja


celebração será gratuita.

A Constituição da República Federativa do Brasil de

Leandro Konder. 15. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005. p. 81.
68 FOUCAULT. Michel. História da sexualidade I: A vontade de saber. Tradução de Maria
Thereza da Costa Albuquerque e J. A. Guilhon Albuquerque. 15. ed. Rio de Janeiro: Graal
Ltda. 2003. p. 41
69 BRASIL. Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil ( de 24 de fevereiro de
1891). Disponível em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao
/Constituiçao91.htm> Acesso em 24 de outubro de 2008.
23

1934, dedicou um capítulo à família, nos artigos 144 ao 147, estabelecendo


as regras do casamento indissolúvel.

As Constituições Brasileiras de 1937, 1946 e 1969,


trouxeram em seu texto um sentido único de que o casamento era a única
forma de constituir família.

No entanto, o progresso agiu sobre a Família patriarcal,


matrimonializada e hierarquizada, conforme aduz Fachin70, passando a
torná-las menos resistente aos fatores da modernidade em que
sobrevivemos, com a urbanização, a industrialização, as revoluções
tecnológicas, os movimentos emancipatórios das mulheres, o uso de
anticoncepcionais com liberalização da sexualidade, a diminuição da
interferência da Igreja no Estado, a instituição do divórcio em 1977, vindo a
proliferar novas espécies da Família, como complementa Catonné71.

A Constituição de 1988 expõe o casamento em seu art.


226, parágrafos 1º e 2º, in verbis:

Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção


do Estado.

§ 1º - O casamento é civil e gratuita a celebração.

§ 2º - O casamento religioso tem efeito civil, nos termos da lei.

O casamento está prescrito no artigo 1.511 e seguintes


do Código Civil72, neles estão elencados os requisitos para sua celebração,
os direitos e deveres dos cônjuges, os seus diversos regimes de bens, e as
questões patrimoniais caso haja dissolução do vínculo conjugal.

70 FACHIN, Luiz Edson. Elementos críticos do direito de família – Curso de direito civil. Rio de
Janeiro: Renovar Ltda. 1999. p. 30.
71 CATONNÉ, Jean-Philippe. A sexualidade, ontem e hoje. Tradução Michele Iris Koralek.
Coleção Questões de Nossa Época. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2001. p. 82-86
72 BRASIL. LEI No 10.406, DE 10 DE JANEIRO DE 2002. Disponível em < http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2002/L10406.htm>. Doravante será chamada de
Código Civil.
24

Para o tema casamento, existem diversos conceitos.


Segundo Pereira73: “o casamento é a união de duas pessoas de sexo
diferente, realizando uma integração fisiopsíquica permanente”.

Para Oliveira e Muniz74 o casamento significa tanto ato


de celebração do matrimônio como a relação jurídica que dele se origina, a
relação matrimonial. O sentido da relação matrimonial melhor se expressa
pela noção de comunhão de vidas, ou comunhão de afetos.

Segundo Rodrigues75, “casamento é o contrato de direito


de família que tem por fim promover a união de homem e mulher, de
conformidade com a lei, a fim de regularem suas relações sexuais, cuidarem
da prole comum e se prestarem mútua assistência”.

Ainda ressalta que as finalidades do casamento são:

a) disciplinação das relações sexuais entre os cônjuges; b)


proteção à prole: da relação sexual, resulta a prole, cuja
sobrevivência e educação reclamam atenção dos pais; c)
mútua assistência: a aproximação dos sexos e o natural
convício entre marido e mulher, ordinariamente, suscitam o
desenvolvimento de sentimentos afetivos, recíprocos, dos
quais o dever de se prestarem mútua assistência é mero
corolário.

Mais complexa é Diniz76 em sua classificação:

a) legitimidade da família;

b) procriação dos filhos;

c) legalização das relações sexuais;

d) prestação de auxílio mútuo;

73 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil. Rio de Janeiro: Forense, 2004. p.
37.
74 OLIVEIRA, Lamartine Correa de; MUNIZ, Francisco José Ferreira. Direito de família. Porto

Alegre: Sérgio Antônio Fabris Editor, 1990. p. 291.


75 RODRIGUES, Silvio. Curso de Direito Civil. 23. ed. rev. 6. v. São Paulo: Saraiva. 1998. p. 17-21.
76 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: direito de família. v. 5. 19.ed. São

Paulo: Saraiva, 2004. p. 58.


25

e) estabelecimento de deveres entre os cônjuges;

f) educação da prole;

g) atribuição do nome à esposa e aos filhos;

h) reparação de erros do passado;

i) regularização de relações econômicas;

j) legalização de estados de fato.

O casamento válido no Brasil é o casamento civil. Mas o


casamento religioso tem plena eficácia, equiparando-se ao civil se levado a
efeito todas as formalidades impostas, conforme consta dos artigos 1.512 e
1.515, do Código Civil:

Art. 1.512. O casamento é civil e gratuita a sua celebração.

[...]

Art. 1.515. O casamento religioso, que atender às exigências


da lei para a validade do casamento civil, equipara-se a este,
desde que registrado no registro próprio, produzindo efeitos a
partir da data de sua celebração.

São admitidas também pelo Código Civil:

- O casamento por procuração, onde a outorga se dá


por instrumento com poderes especiais, e com validade de 90 dias, disposto
no artigo 1.542 do Código Civil:

Art. 1.542. O casamento pode celebrar-se mediante


procuração, por instrumento público, com poderes especiais.

§ 1o A revogação do mandato não necessita chegar ao


conhecimento do mandatário; mas, celebrado o casamento
sem que o mandatário ou o outro contraente tivessem ciência
da revogação, responderá o mandante por perdas e danos.

§ 2o O nubente que não estiver em iminente risco de vida


poderá fazer-se representar no casamento nuncupativo.
26

§ 3o A eficácia do mandato não ultrapassará noventa dias.

§ 4o Só por instrumento público se poderá revogar o mandato.

- Casamento nuncupativo, forma de celebração em


iminente risco de vida por parte de uns dos contraentes, conforme previsto
pelo artigo 1.540 do Código Civil:

Art. 1.540. Quando algum dos contraentes estiver em iminente


risco de vida, não obtendo a presença da autoridade à qual
incumba presidir o ato, nem a de seu substituto, poderá o
casamento ser celebrado na presença de seis testemunhas,
que com os nubentes não tenham parentesco em linha reta,
ou, na colateral, até segundo grau.

- Casamento consular, é aquele celebrado por brasileiro


no estrangeiro, diante autoridade consular brasileira, devendo ser submetido
o registro em cartório no Brasil, pelo prazo de 180 dias, após a volta de um ou
de ambos cônjuges ao Brasil, conforme artigo 1. 544 do Código Civil.

- Conversão da união estável em casamento, é uma


facilidade para os que mantêm convívio familiar.

Estabelece o Código Civil em seu artigo 1.567 a


igualdade de direitos e de deveres entre o marido e a mulher, cumprindo a
ambos a direção da sociedade conjugal, a colaboração mútua, sempre
com interesse na vida d casal e dos filhos. Não prevalece a vontade do
homem caso exista divergência, podendo um dos cônjuges recorrer para
uma solução judicial77.

A capacidade para o casamento é a partir dos 16 anos,


nos termos do artigo 1.617 do Código Civil. Podem casar os menores com
autorização de ambos os pais ou de seus representantes legais, isso até

77 OLIVEIRA, Euclides, HIRONAKA, Giselda Fernandes Novas. Direito de família e o novo


Código Civil. Coor. DIAS, Maria Berenice; PEREIRA, Rodrigo da Cunha Pereira 3. ed. rev.
atual. e ampl. Belo Horizonte: Del Rey, 2003. p. 12.
27

atingirem a maioridade (18 anos), conforme aduz Rodrigues78.

São considerados impedimentos matrimoniais os fatos


que efetivamente vedam a união civil pelo casamento, que sejam
impossíveis de serem sanados ou supridos. Os impedimentos matrimoniais
estão dispostos no Código Civil, são sete previstos no artigo 1.521:

Art. 1.521. Não podem casar:

I - os ascendentes com os descendentes, seja o parentesco


natural ou civil;

II - os afins em linha reta;

III - o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o


adotado com quem o foi do adotante;

IV - os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até


o terceiro grau inclusive;

V - o adotado com o filho do adotante;

VI - as pessoas casadas;

VII - o cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio


ou tentativa de homicídio contra o seu consorte.

A oposição aos impedimentos pode ser feita até o


momento da celebração por qualquer pessoa capaz, podendo ser
decretado inválido a qualquer tempo e por iniciativa de qualquer
interessado ou pelo Ministério Público, conforma artigo 1.549 do Código
Civil79.

Ao que se refere às causas suspensivas, esclarece


Rodrigues80:

[...] existem restrições que, pela menos gravidade das

78 RODRIGUES, Silvio. Direito civil brasileiro. Direito de Família. p. 38.


79 OLIVEIRA, Euclides, HIRONAKA, Giselda Fernandes Novas. Direito de família e o novo
Código Civil. P. 26.
80 RODRIGUES, Silvio. Direito civil brasileiro. Direito de Família. p. 47.
28

circunstâncias, não chega a obstar o matrimônio, nem


tampouco expor o vínculo à invalidade. Mas verificada a sua
ocorrência, sujeitam-se os nubentes à pena contida na lei,
representada pela imposição ao casal de um efeito
patrimonial consistente no regime da separação obrigatória
de bens.

Deve ser feita a habilitação matrimonial (artigo 1.525 a


1.532 do Código Civil) como providência preliminar para verificação da
inexistência de impedimentos.

Dias81 esclarece que a Família ganhou novas acepções,


não se originando exclusivamente do Casamento, nem visa precipuamente
o patrimônio, mas sim a afetividade e realização pessoal de seus membros,
não sendo eles necessariamente ascendentes e descendentes.

Na atualidade, de acordo com Constituição Federal,


tem-se, além da Família patriarcal consuetudinária, que se constitui pelo
casal e pelas crianças, a Entidade Familiar constituída pela União Estável sem
Casamento e a Monoparental em que um dos pais convive com seus filhos,

2.2 A FORMAÇÃO DA FAMÍLIA DECORRENTE DA UNIÃO ESTÁVEL

A inclusão da união estável foi uma das grandes


mudanças feitas na Constituição e no Novo Código Civil.

Assim prescreve a Constituição Federal de 1988:

Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção


do Estado.

[...]

3º - Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a


união estável entre o homem e a mulher como entidade

81 DIAS, Maria Berenice. União Homossexual: o preconceito & a justiça. 2. ed. rev. atual. Porto
Alegre: Livraria do Advogado, 2001. p. 66.
29

familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento.

Baseia-se na união livre, de pessoas livres, de sexos


diferentes, devendo ser a união estável, conforme conceitua Diniz82.

Pereira83 define: “considera-se união estável o


concubinato more uxorio, público, contínuo e duradouro, entre homem e
mulher, cuja relação não seja incestuosa ou adulterina”.

Conceitua Dias84:

Nasce a união estável da convivência, simples fato jurídico


que evolui para a constituição de ato jurídico, em face dos
direitos que brotam dessa relação. Por mais que a união
estável seja o espaço do não instituído, à medida que é
regulamentada vai ganhando contornos de casamento. Tudo
que é disposto sobre as uniões extramatrimoniais tem como
referência a união matrimonializada. Com isso, aos poucos,
vai deixando de ser união livre para ser união amarrada às
regras impostas pelo Estado.

Dal Col 85, assim destaca:

É fruto da constatação, ao longo do tempo, da existência de


alguns requisitos elementares, que somados, a caracterizam.
Inicialmente, há que se destacar que não é toda e qualquer
união entre homem e mulher que poderá ser reconhecida
como entidade familiar. De plano, se excluem do conceito as
uniões adulterinas e aquelas que envolvem pessoas proibidas
de casar entre si, por impedimentos absolutos, [...] não
poderão ser consideradas como convivendo sob a égide da
união estável.

Há pressupostos para caracterização da união estável,

82 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: direito de família. p. 335.
83 PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Concubinato e união estável. 4. ed. Belo Horizonte: Del Rey,
1997. p 42.
84 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. p. 147.
85 DAL COL, Helder Martinez. União estável e contratos de namoro no Código Civil de 2002.

Disponível em <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto. asp?id=7100>. Acesso em 30 de


junho de 2008.
30

como ensina Czajkowski86, e são eles: a) dualidade de sexos; b) o conteúdo


mínimo da relação e; c) a estabilidade.

A união estável pode ser convertida em casamento e


está disposta na Constituição no artigo 226, § 3ª e também no Código Civil
em seu artigo 1.726.

“As regras patrimoniais da união estável tem como


paradigma [...] o esforço comum”, ressalta Pereira87.

Antes da Constituição de 88, a união estável era tratada


no campo do direito obrigacional, aplicando-se então as regras da
sociedade de fato, não concedendo alimentos aos companheiros.
Passando a ser considerada família a partir da nova constituição, alimentos
passam a ser obrigatórios, como no casamento88.

A positivação da união estável se deu com a


Constituição Federal, complementa Jenczak89 que na Lei nº 8. 971/94, sendo
modificado pela Lei nº 9. 278/96 foram delineados nesses instrumentos as
suposições de formação e dissolução da união estável, incluindo o
patrimônio comum, como os direitos e deveres dos companheiros, sendo as
leis citadas regulamentadoras para o dispositivo constitucional.

2.3 A FAMÍLIA MONOPARENTAL

Com as inovações constitucionais, a família alcançou o


grupo formado por qualquer dos pais e seus descendentes que dá-se o
nome de família monoparental, como exposto no artigo 226, § 4º, da
Constituição Federal:

86 CZAJKOWSKI, Rainer. União livre: à luz das Leis 8.871/94 e 9.278/96. 2ª ed., 3ª tir. Curitiba:
Juruá, 2003. p. 70-95.
87 PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Direito de família e o novo Código Civil. p. 270.
88 PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Direito de família e o novo Código Civil. p. 274.
89 JENCZAK, Dionísio. Aspectos das Relações Homoafetivas à luz dos Princípios
Constitucionais. Florianópolis: Conceito Editorial, 2008. p 93.
31

Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção


do Estado.

[...]

§ 4º - Entende-se, também, como entidade familiar a


comunidade formada por qualquer dos pais e seus
descendentes.

Ressalta Dias90 que:

Seu expressivo número, com maciça predominância feminina,


é uma forte oposição ao modelo dominante da bipolaridade.
Essas entidades familiares necessitam de especial atenção,
principalmente porque a mulher arca sozinha com as
despesas da família e é sabido que percebe salário menor do
que o homem.

A referida família tem origem quando da morte de um


dos genitores, ou pela separação ou pelo divórcio dos pais. A adoção por
pessoa solteira, a inseminação artificial por mulher solteira ou a fecundação
homóloga após a morte do marido, quando é chefiada por um parente
(que não um dos genitores), também são outros exemplos de vínculos
monoparentais. Aquele que possui guarda também pode formar uma família
monoparental. Basta existir a diversidade de gerações e que não haja
relações de ordem sexual entre eles, prossegue a mesma autora91.

O fato do direito reconhecer a família monoparental faz


diferença em algumas situações, como no reconhecimento do bem de
família. O imóvel que a família reside é um bem de família que deve ser
preservado e não pode ser penhorado. Desta forma, as famílias formadas
por qualquer dos pais ou descendentes, precisam saber que não existe
diversidade alguma entre as famílias constituídas pelo casamento e eles.92

90 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. p. 184.


91 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. p. 184.
92Santos, Magda Raquel Guimarães Ferreira dos. “Mãe solteira” ou “pai solteiro”. Disponível

em <http://www.clubedobebe.com.br/Palavra% 20dos%20Especialistas/df-08-04.htm>
Acesso em 25 de setembro de 2008.
32

2.4 A IGUALDADE DE DIREITOS DOS CÔNJUGES E COMPANHEIROS NO


CONTEXTO DA FAMÍLIA

No princípio da igualdade jurídica dos cônjuges


desaparece o poder marital, e a autocracia do chefe de família é
substituída por um sistema em que as decisões devem ser tomadas de
comum acordo entre marido e mulher ou conviventes, pois os tempos atuais
requerem que a mulher seja colaboradora do homem e não sua
subordinada que haja paridade de direitos e deveres entre cônjuges e
companheiros, destaca Diniz93.

É regulado pela Constituição Federal, como princípio


fundamental no artigo 3º, IV (não discriminação), “Constituem objetivos
fundamentais da República Federativa do Brasil: IV - promover o bem de
todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras
formas de discriminação”, e como garantia fundamental no artigo 5º, I:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de


qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade,
nos termos seguintes:

I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos


termos desta Constituição;

A igualdade é reforçada entre homem e mulher, agora


na posição de marido e esposa, para que a condição de casados não
provocasse qualquer dúvida acerca da manutenção do princípio, conforme
artigo 226, § 5º da Constituição Federal:

Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção


do Estado.

[...]

93 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: direito de família. p. 18-19.
33

§ 5º - Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal


são exercidos igualmente pelo homem e pela mulher.

Foi quebrada então com o artigo mencionado acima, a


tradicional linha que era seguida pelo Código Civil, onde o homem ocupava
posição jurídica superior perante a mulher. O Estado de relativa
incapacidade da mulher havia sido eliminado pela Lei nº. 4.121/62, mas não
chegou ao ponto de equiparar os cônjuges. Coube mesmo a Carta de 1998
proclamar a igualdade entre marido e mulher, eliminando a figura chefia da
sociedade conjugal e revogando os Capítulos relativos aos direitos e deveres
dos cônjuges, como aduz Gomes94.

Dá o novo Código Civil, o poder de decisão aos ambos


os cônjuges de forma igualitária. Mas poderá um dos cônjuges, direito de
recorrer ao juiz para fazer prevalecer a sua vontade, desde que sejam
questões relacionadas aos filhos, não podendo ser matéria personalíssima95.

2.5 A IGUALDADE DE DIREITOS DE FILHOS HAVIDOS DE DIFERENTES UNIÕES

Acolhida também pelo princípio da igualdade, têm


isonomia de direitos os filhos que sejam de diferentes uniões. Nesse contexto
expõe a Constituição Federal de 1988:

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado


assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta
prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à
educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e
comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de
negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade
e opressão.

[...]

94 GOMES, Orlando. Direito de família. p. 27.


95 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: direito de família. p. 19.
34

§ 6º - Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou


por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações,
proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à
filiação.

A Lei nº 8.560/92 regulamenta o reconhecimento de


filhos, havidos ou não do casamento.

O Estatuto da Criança e do Adolescente no artigo 20 da


Lei nº 8069/90 prescreve que "os filhos, havidos ou não da relação do
casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações,
proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação".
Enquanto que em seu artigo 26, trata do reconhecimento de filhos havidos
fora do casamento, e no seu artigo 41 dá os mesmos direitos e deveres ao
filho adotado.

A filiação matrimonial é estabelecida pelo


reconhecimento ou pelo pater is est96 e quanto aos filhos extramatrimoniais,
prossegue Fachin97:

[...] a regra é a não incidência tout court da presunção de


paternidade; nela (isto é, na filiação extramatrimonial), a
paternidad advém: a) do reconhecimento espontâneo; b) do
denominado voluntário, por meio da Lei n. 8.560/92, e c)
forçado, pela via da ação investigatória.

No referido princípio não se admite distinção entre os


filhos legítimos, naturais e adotivos, e que permite o reconhecimento a
qualquer tempo de filhos havidos fora do casamento; proíbe que conste no
assento do nascimento qualquer referência à filiação ilegítima e veda
designações discriminatórias relativas à filiação98.

96 Pater is est: Pai é aquele que o prova através do contrato nupcial. CALDAS, Gilberto. Novo
dicionário de latim forense. São Paulo: EUD, 1984. p. 195.
97 Fachin, Rosana. Direito de família e o novo Código Civil. p. 143.
98 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: direito de família. p. 21-22.
35

2.6 A ÉTICA NA DISSOLUÇÃO DAS UNIÕES COMO FORMA DE PRESERVAÇÃO


DA FAMÍLIA

A ética e a moral têm muito em comum: ambas regulam


relações humanas valendo-se normas de conduta fixadas aos indivíduos
para possibilitar a vida em sociedade.

Ética vem do grego ethos, que significa moral. Apesar da


origem comum de ambos os termos e de continuadamente serem usados
indeterminadamente, convém fixar uma diversidade de significados. A
moral, para alguns, relaciona-se às ações, isto é, à conduta real, individual
ou coletiva. A ética, por sua vez, alude aos princípios ou juízos que originam
essas ações. Assim como a teoria e a prática estão sempre entrelaçadas e
indissociadas99.

Já para outros, a moral tem um caráter mais pessoal,


exige fidelidade aos próprios pensamentos e convicções íntimas. A ética,
como atributo ou qualidade do caráter, representa o estudo dos padrões
morais estabelecidos. É reconhecida como a ciência da moral, ou seja, o
estudo dos deveres e obrigações do indivíduo e da sociedade100.

O legislador insere o juiz dentro da família para resolver


desentendimentos surgidos tanto durante o convívio quanto na dissolução. O
juiz tem que resolver o conflito, não lhe compete somente à aplicação das
leis, é necessário aplicá-las de modo que encontre o justo no caso
concreto101.

“O processo deve ser informado por normas jurídicas e


normas de conduta, sem perder de vista a necessidade de impor atitudes

99 ZIMERMAN, David. Uma visão Psicanalítica da ética. In: ______; COLTRO, Antônio Carlos
Mathias. (coord.) Aspectos psicológicos na prática jurídica. Campinas: Millennium, 2002.
p. 594.
100 STOCO, Rui. Abuso de direito e má-fé pessoal. São Paulo: RT, 2002. p. 48.
101 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. p. 70.
36

que respeitem a ética”, ensina Dias102. O processo há tempos deixou de ser


visto como um simples instrumento técnico para assumir a dimensão de
instrumento ético, voltado a pacificar com justiça103.

O Direito não pode abrir mão da ética, sob pena de


perder sua razão de ser. Qualquer norma, qualquer decisão que chegue a
resultado que se separe de uma solução de conteúdo ético não subsiste.
Essa preocupação não deve ser só do legislador, mas também os
aplicadores do Direito precisam conduzir suas decisões de forma que a
solução não se afaste de padrões éticos. É preciso que a sentença
estabeleça um agir de boa-fé. Não pode gerar prejuízo a ninguém104.

Ninguém é melhor que os pais para saber quais os


melhores interesses para os filhos. Mas a partir do momento que o sadio
desenvolvimento e o interesse dos filhos estiverem sendo prejudicados, por
não estarem de comum acordo, é o juiz quem deve interferir. No caso da
guarda, é ele quem deve descobrir quem revela melhores condições, se é o
pai ou a mãe. Em relação ao direito de visita, o juiz estipula um calendário
aos pais, evitando assim atritos.

Não basta a inserção do afeto como elemento


constitutivo dos vínculos familiares. Além do afeto, é impositivo invocar
também a ética, que merece ser prestigiada como elemento estruturante
da família. Como política do bem-viver e do justo, a ética suplica, na
modernidade, construção pelo discurso jurídico105.

A lei procura preservar o sentido ético e moral da família,


independente da natureza do vínculo.

102 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. p. 70.


103 STOCO, Rui. Abuso de direito e má-fé pessoal. p. 13.
104 DIAS, Maria Berenice. A ética do afeto. Disponível em <http://jus2.uol.com.br/ doutrina

/texto.asp?id=6668> Acesso em 25 de setembro de 2008.


105 LEAL, Rosemiro Pereira. Processo e eticidade familiar constitucionalizada. In: PEREIRA,

Rodrigo da Cunha (coord.). Anais do IV Congresso Brasileiro de Direito de Família. Afeto,


ética e família e o novo Código Civil brasileiro. Belo Horizonte: Del Rey, 2004.
37

2.7 MEDIAÇÃO FAMILIAR

Barbosa106 conceitua como “acompanhamento das


partes na gestão de seus conflitos, para que tomem uma decisão rápida,
ponderada, eficaz e satisfatória aos interesses em conflito”.

“Daí o papel do mediador, profissional qualificado que


busca o diálogo entre os envolvidos, para que eles venham a firmar acordos
que atendam às necessidades de todos e conduzam à co-responsabilidade
parental [...]”, e prossegue Diniz107, “o mediador é um terceiro imparcial,
adstrito ao sigilo profissional, que não detém qualquer poder, pois é feito
pelas partes, mediante diálogo”.

Ainda ressalta Diniz108:

A mediação procura criar oportunidade de solução do


conflito, possibilitando que, com maturidade, os protagonistas
repensem sua posição de homem, mulher, pai e mãe,
verificando seus papéis na conjugalidade e na parentalidade,
e impedindo violência das disputas pela guarda de filhos
menores e pelas visitas.

No Tribunal de Justiça de Santa Catarina, o projeto de


Mediação Familiar (SMF), tem como objetivo o atendimento de conflitos
familiares relacionados à separação, ao divórcio, à guarda de filhos, à
regulamentação de visitas e outros, de uma forma mais fácil e menos
agressiva109.

Esse serviço está disponível em alguns Fóruns de Justiça e


Casas da Cidadania de nosso Estado. Faz parte da equipe de atendimento:

106 BARBOSA, Águida Arruda. Mediação familiar: uma vivência interdisciplinar. In: Groeninga,
Giselle câmara, PEREIRA, Rodrigo da Cunha (coord.). Direito de família e psicanálise. São
Paulo: Imago, 2003. p. 342.
107 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: direito de família. p. 314.
108 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: direito de família. p. 314.
109 Poder Judiciário de Santa Catarina. Sobre o serviço de mediação familiar. Disponível em

<http://www.tj.sc.gov.br/institucional/mediacao familiar/serv_mediacao.htm> Acesso em


24 de setembro de 2008.
38

assistentes sociais, psicólogos, advogados, pedagogos e estagiários das


respectivas áreas. O Serviço de Mediação Familiar do Judiciário é gratuito e,
conforme o juízo é estabelecido um teto salarial110. Quanto as vantagens da
mediação familiar, com o objetivo de mediar conflitos familiares, destaca:

O Serviço de Mediação Familiar disponível nos Fóruns de


Justiça é mais acessível à população. Há maior agilidade nos
procedimentos, menor custo e menor burocracia processual
em comparação com os procedimentos tradicionais. Permite,
ainda, a redução da ansiedade e dos sentimentos de
hostilidade que freqüentemente são experimentados pelas
pessoas com conflitos familiares. Dá a oportunidade para que
os envolvidos encontrem, por si mesmos, o que lhes parece
mais adequado, sem submeter-se à decisão de um terceiro. É
importante esclarecer que tudo o que foi tratado durante as
sessões de Mediação é sigiloso e reafirmar que o
procedimento é voluntário111.

Não substitui o processo judicial, a mediação é um


complemento que qualifica as decisões judiciais fazendo com que elas
sejam realmente eficazes, é uma busca conjunta para o término do litígio de
uma maneira mais constante, completa Dias112.

Neste capítulo apresentaram-se alguns aspectos relativos


ao casamento, a união estável e monoparentalidade, bem como a
igualdade entre os cônjuges ou companheiros e filhos havidos fora do
casamento. No capítulo seguinte será apresentado a valorização dos
princípios, como eixo de proteção aos diversos modelos de famílias.

110 Poder Judiciário de Santa Catarina. Sobre o serviço de mediação familiar. Disponível em
<http://www.tj.sc.gov.br/institucional/mediacao familiar/serv_mediacao.htm> Acesso em
24 de setembro de 2008.
111 Poder Judiciário de Santa Catarina. Sobre o serviço de mediação familiar. Disponível em

<http://www.tj.sc.gov.br/institucional/mediacao familiar/serv_mediacao.htm> Acesso em


24 de setembro de 2008.
112 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. p. 74.
39

CAPÍTULO 3

A VALORIZAÇÃO DE PRINCÍPIOS COMO EIXO DE PROTEÇÃO AOS


DIVERSOS MODELOS DE FAMÍLIAS

3.1 NOVOS MODELOS DE FAMÍLIA

O conceito de família, principalmente em decorrência


de mudanças sociais vem evoluindo no ordenamento jurídico, formando
novas modalidades familiares. Hoje a família é concebida não só por
laços de consangüinidade, como também pelo afeto, amor e
solidariedade mútua, destaca Fernandes113.

“Com base na função social do afeto, a Constituição


impõe deveres mútuos a pais e filhos, equipara todos os filhos, abriga a união
estável e a família monoparental e não impede reconhecer outras
categorias de família geradas pelo afeto, como a família homoafetiva e a
família anaparental” 114. Passa-se a demonstrar abaixo os novos modelos de
família que se fundam na afetividade.

3.1.1 Família Anaparental

“De origem grega, o prefixo “ana” traduz idéia de


privação. Por exemplo, “anarquia” significa “sem governo”115.

113 FERNANDES, Jacinta Gomes. União homoafetiva como entidade familiar. Disponível em <
http://www.nagib.net/variedades_artigos_texto.asp?tipo=14&area=3&id=448> Acesso em
20 de outubro de 2008.
114 A Função social do afeto. Disponível em < http://www.ibdfam.org.br/?noticias&noticia
=625> Acesso em 20 de outubro de 2008.
115 BARROS, Sérgio Resende. Direitos humanos da família: principiais e operacionais.
40

A família anaparental, é aquela que se baseia no afeto


familiar, que designa a família sem pais, conforme aduz Barros116.

“É aquela constituída basicamente pela convivência


entre parentes dentro de uma mesma estrutura organizacional e psicológica,
visando a objetivos comuns, que residem no mesmo lar, pela afetividade que
os une ou por necessidades financeiras ou mesmo emocionais, como o
medo de viver sozinho” 117.

Conforme Dias118 a convivência de duas irmãs sob o


mesmo teto e por longos anos, constitui entidade familiar, e gera injustiça no
caso de reconhecer mera sociedade de fato, no caso de falecimento de
uma das duas irmãs, pois auxiliou a repartição do patrimônio, ou de dividir
igualmente entre os irmãos. Justo seria conceder a totalidade do patrimônio,
pois antecede os irmãos na ordem de vocação hereditária pela parceria de
vidas, mesmo não existindo conotação sexual alguma, cabendo por
analogia aplicar as disposições do casamento e da união estável, pois é
identificada como comunhão de esforços.

3.1.2 Família Mosaica

Conhecida também como família pluriparental, são


aquelas que resultam das relações parentais, incitadas pelo divórcio,
separação, recasamento, das desuniões, explicita Dias119.

“Nessa nova organização as famílias passam a receber o

Disponível em <http://www.srbarros.com.br/artigos.php?TextID=86> Acesso em 20 de


outubro de 2008.
116 BARROS, Sérgio Resende. Direitos humanos da família: principiais e operacionais.
Disponível em <http://www.srbarros.com.br/artigos.php?TextID=86> Acesso em 20 de
outubro de 2008.
117 ALMEIDA, Sheila Menezes de. Entendendo as Famílias do Século XXI. Disponível em

<http://www.religare.com.br/mural.php?materia=94> Acesso em 20 de outubro de 2008.


118 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. p. 46-47.
119 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. p. 47.
41

“marido da mãe”, os filhos do “marido da mãe”, os filhos da nova esposa do


pai, as famílias de origem de cada um dos novos pares, cada um trazendo
para o núcleo familiar sua própria cultura” 120.

Não é atribuído ao padrasto encargos, como por


exemplo, não se reconhece ao filho do companheiro ou cônjuge alimentos,
mesmo comprovado o vínculo afetivo, mesmo que ele tenha lhe mantido
durante o período que conviveu com o genitor. O que se admite, em nome
do princípio da solidariedade, é o direito de visitas121.

“As famílias pluriparentais são caracterizadas pela


estrutura complexa decorrente de multiplicidade de vínculos, ambigüidade
das funções dos novos casais e forte grau de interdependência”, afirma
Dias122.

3.1.3 Família Eudemonista

Modificam-se nas relações familiares as suas funções,


que é a de valorização do indivíduo pelo que ele é, e não pela posição que
ele ocupa na sociedade. Tal função está ligada a valores fundamentais do
ordenamento jurídico, surgindo assim à família eudemonista, voltada para o
afeto e o desenvolvimento de seus membros. Aposta na qualidade de vida
dos seus indivíduos para que possa participar de forma mais eficaz, enérgica
e atuante na sociedade, estrutura que demonstra um tipo de vida digna123.

“Eudemonista é considerada a família decorrente da


convivência entre pessoas por laços afetivos e solidariedade mútua, como é
o caso de amigos que vivem juntos no mesmo lar, rateando despesas,

120 CHAGAS, Lunalva Fiúza. Família Mosaico. Disponível em <http://www.integral.br/noticias


/noticia. asp?noticia=38196> Acesso em 20 de outubro de 2008.
121 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. p. 48.
122 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. p. 48.
123 SMARANDESCU, Juliana. O surgimento da família eudemonista. Disponível em <http://

www.webartigos.com/articles/5307/1/o-surgimento-da-familia-eudemonista/pagina1.
html> Acesso em 21 de outubro de 2008.
42

compartilhando alegrias e tristezas, como se irmãos fossem, razão por que os


juristas entendem por bem considerá-los como formadores de mais um
núcleo familiar”, conforme explica Andrade124.

Assim reflete Dias125: “O eudemonismo é a doutrina que


enfatiza o sentido de busca pelo sujeito de sua felicidade”. Deslocando pra
o sujeito e não para a instituição a proteção jurídica, conforme artigo 226, §
8º da Constituição Federal de 1988:

Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção


do Estado.

[...]

§ 8º - O Estado assegurará a assistência à família na pessoa de


cada um dos que a integram, criando mecanismos para
coibir a violência no âmbito de suas relações.

Ressalta Dias126 que:

No momento em que o formato hierárquico da família cedeu


à sua democratização em que as relações são muito mais de
igualdade e de respeito mútuo, e o traço fundamental é a
lealdade, não mais existem razões morais, religiosas, políticas,
físicas ou naturais que justifiquem a excessiva e indevida
ingerência do Estado na vida das pessoas.

Lôbo127 afirma que a família é identificada pela


comunhão de vida, de amor e de afeto no plano da igualdade, da
liberdade, da solidariedade e da responsabilidade recíproca.

3.1.4 Família formada por casais homossexuais

124 ANDRADE, Camila. O que se entende por família eudemonista? Disponível em


<http://www.jusbrasil.com.br/noticias/117577/o-que-se-entende-por-familia-eudemonista
-camila-andrade> Acesso em 21 de outubro de 2008.
125 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. p. 52-53.
126 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. p. 53.
127 LÔBO, Paulo Luiz Netto. Entidades familiares constitucionalizadas: pra além do numerus

clausus. p. 138.
43

A homossexualidade era praticada e conhecida desde


os povos selvagens, as antigas civilizações, entre os gregos e romanos,
demonstrando que sempre foi uma situação presente na sociedade. A
homossexualidade é definida como preferência sexual por indivíduos do
mesmo sexo. Para Brito128:

Do ponto de vista psicológico e médico, a homossexualidade


configura a atração erótica por indivíduos do mesmo sexo,
uma perversão sexual que atinge os dois sexos, sendo
considerado homossexual quem pratica atos libidinosos com
indivíduos do mesmo sexo ou exibe fantasias eróticas a
respeito, ou inversão sexual que se caracteriza pela atração
por pessoas do mesmo sexo, ou, ainda, por perversão sexual
que leva os indivíduos a sentirem-se atraídos por outros do
mesmo sexo, com repulsa absoluta ou relativa para os do sexo
oposto.

A medicina, na Idade Média, sob as influências religiosas,


considerou a homossexualidade “uma doença, uma enfermidade que
acarretava a diminuição das faculdades mentais, um mal contagioso
decorrente de um defeito genético”, como explica Dias129.

Na 10ª revisão do Código Internacional de Doenças


(CID), não considerou mais a homossexualidade uma patologia, nominando-
a de “Transtornos da Preferência Sexual”, tal fato ocorreu em 1995. No
mesmo ano, o sufixo ismo que significa doença, foi substituído pelo sufixo
idade, que designa um modo de ser, concluindo os cientistas que a
atividade não podia mais ser sustentada enquanto diagnóstico médico, por
que os transtornos derivam mais da discriminações e da repressão social,
oriundos de um preconceito do seu desvio sexual, no dizer de Dias130.

A relação entre pessoas do mesmo sexo sempre existiu,

128 BRITO, Fernanda de Almeida. União afetiva entre homossexuais e seus aspectos jurídicos.
São Paulo: LTr, 2002, p. 46-48.
129 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. p.42.
130 DIAS, Maria Berenice. União homossexual: o preconceito & a justiça. 2. ed. ver. Atual.

Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2001. p. 36.


44

convivendo a sociedade com esse fato social, mas ainda há muito


preconceito à essa relação, devendo tal ficar para trás e ser reconhecida
com entidade familiar possuidora de direitos e deveres. E as uniões
homoafetivas, conforme Fontanella131, “acabaram gerando disputas no
Poder Judiciário que, atualmente, precisa dar conta de uma realidade social
inegável”.

Assim destaca Dias132:

Por absoluto preconceito, a Constituição emprestou, de modo


expresso, juridicidade somente às uniões estáveis entre
homem e uma mulher, ainda que em nada se diferencie a
convivência homossexual da união estável. A nenhuma
espécie de vínculo que tenha por base o afeto pode-se
deixar de conferir status de família [...] o respeito à dignidade
da pessoa humana.

Prossegue a autora dizendo que, a partir do momento


em que se une ao conceito de família, além dos relacionamentos
decorrentes do casamento, também as uniões estáveis e os vínculos
monoparentais, se faz necessário serem inseridas no âmbito do Direito de
Família mais um gênero de vínculos afetivos, as relações homossexuais, as
chamadas relações homoafetivas, tendo em vista que nelas também existe
afetividade133.

A Constituição Federal de 1988 admite outras famílias


além da constituída pelo casamento, mas certas realidades sociológicas
que envolvem família, como as uniões homossexuais, a convivência
assexuada entre amigos ou parentes, foram afastadas do Direito de Família,
conforme ensina Gama134.

131 FONTANELLA, Patrícia. União homossexual no direito brasileiro: enforque a partir do


Garantismo Jurídico. Florianópolis: OAB/SC, 2006. p. 79.
132 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. p. 45.
133 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. p. 175.
134 GAMA, Guilherme Calmon Nogueira da. A união civil entre pessoas do mesmo sexo.

Revista de Direito Privado. n. 02, p. 30.42. São Paulo: Livraria RT. Abril-junho 2000. p. 33.
45

Primeiramente é reconhecida a sociedade de fato entre


os casais homossexuais, excluindo-os do Direito de Família e encaixando-os
no Direito Obrigacional, conforme a Sumula 380 do STF:

Comprovada a existência de sociedade de fato entre os


concubinos, é cabível a sua dissolução judicial, com a partilha
do patrimônio adquirido com esforço comum.

Não pode o Poder Judiciário ser impedido de analisar as


demandas envolvendo a referida entidade familiar, sendo então a primeira
atividade jurisdicional a buscar solução para a situação, mesmo que a sua
regulamentação expressa, inexista, afirma Nahas135.

Há discussões doutrinárias que defendem a aplicação


de algumas regras da união estável por analogia136. Complementa Dias137
que: “as leis reguladoras do relacionamento entre um homem e uma mulher
podem e devem ser aplicadas às relações homossexuais”. Equiparando-se
tais uniões por via analógica e ante os princípios fundamentais da dignidade
da pessoa humana, isonomia, e da liberdade.

Em pioneira decisão, o Tribunal de Justiça do Rio Grande


do Sul, reconhece a possibilidade de analogia entre os institutos sob análise:

EMENTA: UNIAO HOMOSSEXUAL. RECONHECIMENTO. PARTILHA


DO PATRIMONIO. MEACAO PARADIGMA. Não se permite mais
o farisaísmo de desconhecer a existência de uniões entre
pessoas do mesmo sexo e a produção de efeitos jurídicos
derivados dessas relações homoafetivas. Embora permeadas
de preconceitos, são realidades que o Judiciário não pode
ignorar, mesmo em sua natural atividade retardatária. Nelas
remanescem conseqüências semelhantes às que vigoram nas
relações de afeto, buscando-se sempre a aplicação da
analogia e dos princípios gerais do direito, relevados sempre
os princípios constitucionais da dignidade humana e da
igualdade. Desta forma, o patrimônio adquirido na

135 NAHAS, Luciana Faísca. União Homossexual. p. 116.


136 NAHAS, Luciana Faísca. União Homossexual. p. 119.
137 DIAS, Maria Berenice. União homossexual: o preconceito & a justiça. p. 84.
46

constância do relacionamento deve ser partilhado como na


união estável, paradigma supletivo onde se debruça a melhor
hermenêutica. Apelação Provida, em parte, por maioria, para
assegurar a divisão do acervo entre os parceiros138.

Cada vez mais os Tribunais de Justiça, principalmente os


do Rio Grande do Sul, estão concedendo conseqüências jurídicas as uniões
homossexuais, como a competência para a Vara da Família, a constatação
de união estável, a partilha de bens e outros.

3.2 PRINCÍPIOS NORTEADORES DA FORMAÇÃO DA FAMÍLIA

Com a modernização das relações familiares várias


foram às adequações empregadas para atender à preservação da coesão
familiar e dos valores culturais, uma delas são os princípios definidos pela
Constituição Federal de 88.

Os autores trazem um número de princípios


diferenciados, não existe um consenso. O presente trabalho demonstrará de
forma breve, alguns dos princípios aplicáveis no Direito de Família, iniciando
com o conceito de princípio.

3.2.1 Conceito de Princípios

A origem dos princípios fundamentais advém da


Constituição Federal de 1988, um dos dispositivos mais importantes do nosso
ordenamento jurídico.

Canotilho e Moreira139 definem o termo princípio,


segundo o termo jurídico utilizado nos ordenamentos jurídicos:

138 RIO GRANDE DO SUL. Tribunal de Justiça. Apelação Cível nº 70001388982. Sétima Câmara
Cível. Relator Des. José Carlos Teixeira Giorgis. Julgado 14.03.2001
139 CANOTILHO, José Joaquim Gomes, MOREIRA,Vital. Direito constitucional. 5.ed. Coimbra-
Portugal: Almedina, 1992. p. 172.
47

São “núcleos de condensações” nos quais confluem “valores


e bens” constitucionais [...]. Os princípios, que começam por
ser a base de “normas jurídicas”, podem estar positivamente
incorporados, transformando-se em normas-princípio e
constituindo preceitos básicos da organização constitucional.

Ressalta Barcellos140 que são os princípios normas


adotadas de imperatividade, conforme a opinião de Paulo Bonavides, Eros
Roberto Grau, Luiz Roberto Barroso e outros.

Assim é a conceituação de princípio, dada por Silva:

[...] significa as normas elementares ou os requisitos primordiais


instituídos como base, como alicerce de alguma coisa.

E, assim, princípios revelam o conjunto de regras ou preceitos,


que se fixam para servir de norma a toda espécie de ação
jurídica, traçando, assim, a conduta a ser tida em qualquer
operação jurídica.

Define Silva141, como um sistema de norma jurídica que


regula a forma do Estado, do Governo e o seu exercício de poder e seus
limites de ação, os direitos e as garantias fundamentais humanos.

Fontanella142 assim diz: “Os princípios constituem-se,


portanto, no fundamento de outras normas; são as normas das normas”.

Barcellos143 assim ensina:

Os princípios têm função explicadora e justificadora em


relação às regras. Ao modo dos axiomas e leis científicas, os
princípios sintetizam uma grande quantidade de informação
de um setor ou de todo o ordenamento jurídico, conferindo-

140 QUARESMA, Regina; OLIVEIRA, Maria Lúcia de Paula, BARCELLOS, Ana Paula de, et AL.
Direito Constitucional brasileiro: perspectivas e controvérsias contemporâneas. Rio de
Janeiro: Forense, 2006. p. 86.
141 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 9. ed. rev. e ampl. de

acordo com a nova Constituição Federal. São Paulo: Malheiros, 1999. p. 39-40
142 FONTANELLA, Patrícia. União homossexual no direito brasileiro: enforque a partir do

Garantismo Jurídico. P. 41.


143 QUARESMA, Regina; OLIVEIRA, Maria Lúcia de Paula, BARCELLOS, Ana Paula de, et AL.

Direito Constitucional brasileiro: perspectivas e controvérsias contemporâneas. p. 90.


48

lhe unidade e ordenação.

Os princípios compondo o ordenamento jurídico são


indispensáveis para uma aplicação adequada da Lei, servem de base para
uma compreensão jurídica, dando sustentação a vida de toda sociedade
quando existe harmonia.

3.2.2 Princípio da Dignidade Humana

Tal princípio garante o pleno desenvolvimento dos


membros familiares, especialmente às crianças e adolescentes, afirma
Diniz144.

Está disposta na Constituição Federal de 1988, em seu


artigo 1º, inciso III:

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união


indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal,
constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como
fundamentos:

[...]

III - a dignidade da pessoa humana;

De todos os princípios é o universal, é dele que se


propagam todos os demais princípios como o da liberdade, autonomia
privada, cidadania, igualdade e solidariedade, no dizer de Pereira145.

Para Sarmento146 representa o epicentro axiológico da


ordem constitucional, irradiando efeitos sobre todo o ordenamento jurídico e
balizando não apenas os atos estatais, mas toda a miríade de relações

144 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: direito de família. p. 25.
145 Pereira, Rodrigo da Cunha. Princípios fundamentais e norteadores para a organização
jurídica da família. Belo Horizonte: Del Rey: 2006. p. 68.
146 SARMENTO, Daniel. A ponderação de interesses na Constituição Federal. Rio de Janeiro:

Lúmen Júris, 2000. p. 60 e 71.


49

privadas que se desenvolvem no seio da sociedade. Para ele o Estado tem o


dever de fomentar essa dignidade através de condutas ativas, garantindo o
mínimo para cada ser humano.

Destaca Pereira147, que o princípio em pauta, significa


igual dignidade para todas as famílias, não podendo dar tratamento
diferenciados às várias formas de filiação ou aos vários tipos de constituição
de família.

No mesmo sentido ensina Lôbo148:

A proteção da família é proteção imediata, ou seja, no


interesse da realização existencial e afetiva das pessoas. Não
é a família per se que é constitucionalmente protegida, mas o
lócus indispensável de realização e desenvolvimento da
pessoa humana. Sob o ponto de vista do melhor interesse da
pessoa, não podem ser protegidas algumas entidades
familiares e desprotegidas outras, pois a exclusão refletiria nas
pessoas que as integram por opção ou por circunstâncias da
vida, comprometendo a realização do princípio da dignidade
da pessoa humana.

Gama apud Dias149, diz que a dignidade da pessoa


humana encontra na família o solo apropriado para prosperar-se, dando
proteção especial, independentemente da origem da entidade familiar,
preservando e desenvolvendo as qualidades mais salientes entre os
familiares, como o afeto a solidariedade, a união, o amor, a confiança
dentre outros.

Sendo assim, a entidade familiar deve promover a


dignidade e a realização da personalidade de seus membros, integrando
sentimentos, esperanças e valores, servindo como alicerce fundamental

147 Pereira, Rodrigo da Cunha. Princípios fundamentais e norteadores para a organização


jurídica da família. p. 72.
148 LÔBO, Paulo Luiz Netto. Entidades familiares constitucionalizadas: pra além do numerus

clausus. p. 46.
149 Gama (apud Maria Berenice Dias), Manual de direito de família.
50

para o alcance da felicidade, afirma Farias150.

3.2.3 Princípio da solidariedade familiar

A solidariedade social é reconhecida como objetivo


fundamental da República Federativa do Brasil pelo art. 3º, inc. I, da
Constituição Federal de 1988, no sentido de buscar a construção de uma
sociedade livre, justa e solidária. Por razões óbvias, esse princípio acaba
repercutindo nas relações familiares, já que a solidariedade deve existir
nesses relacionamentos pessoais151.

O referido princípio repercute nas relações familiares, já


que a solidariedade deve existir nos relacionamentos pessoais, gerando
deveres recíprocos entre os integrantes. E complementa Dias152:

[...] ao gerar deveres recíprocos entre os integrantes do grupo


familiar, safa-se o Estado do encargo de prover toda a gama
de direitos que são assegurados constitucionalmente ao
cidadão. Basta atentar que, em se tratando de crianças e
adolescentes, é atribuído primeiro à família, depois à
sociedade e finalmente ao Estado (CF 227) o dever de
garantir com absoluta prioridade os direitos inerentes aos
cidadãos em formação.

Concretiza-se o princípio com a imposição de obrigação


alimentar entre parentes, pois esse princípio tem origem no vínculo afetivo,
nesse se compreende a reciprocidade. Por exemplo, o pai que deixou de
cumprir obrigação com os filhos, não poderá invocar tal obrigação dos filhos

150 FARIAS, Cristiano Chaves de. Direito Constitucional. à Família (ou Famílias Socilógicas
versus Famíias Reconhecidas pelo Direito: Um Bosqueio para Uma Aproximação
Conceitual à Luz da Legalidade Constitucional). Revista Brasileira de Direito de Família.
Porto Alegre, n. 23, p. 5-21, abr/mai. 2004.

151 TURCE, Flávio. Novos princípios do Direito de Família Brasileiro. Disponível em <
http://www.flaviotartuce.adv.br/secoes/artigos/Tartuce_princfam.doc> Acesso em 23 de
outubro de 2008.

152 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. p. 56.


51

posteriormente153.

Neste sentido decidiu o Tribunal de Justiça do Rio


Grande do Sul:

EMENTA: ALIMENTOS PROVISÓRIOS. PRINCÍPIO DA


SOLIDARIEDADE FAMILIAR. Evidenciada a necessidade da
alimentada em face de sua idade avançada e a
possibilidade do alimentante de alcançar alimentos para sua
genitora, revela-se imperiosa a fixação de alimentos
provisórios, com fundamento no princípio da solidariedade.
Inteligência do art. 1.696 do Código Civil. Agravo provido em
parte154.

3.3 O AFETO COMO VALOR JURÍDICO E CAUSA PRINCIPAL DO


RECONHECIMENTO DA FAMÍLIA

O afeto atualmente é o princípio que norteia as relações


familiares, é do afeto que decorre da valorização constante da dignidade
humana.

Para Nahas155, a família do século XXI é pluralista,


diferentemente da família ocidental admitida até início do século XX. A
razão de tal mudança foi a procura da realização do indivíduo. A Família
recusa-se a ter apenas o objetivo de procriação e a transmissão de
patrimônio, para a busca da realização individual, ocorrendo uma
revalorização do ponto de vista civil-familiar.

É representada pela afetividade essa junção dos laços


familiares. Apesar da forte liberdade que mantêm os membros em seus
relacionamentos, há cada vez mais a fortificação da reciprocidade dos seus
sentimentos,e tal explicação não surge de nenhuma estrutura legislativa

153 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. p. 56.


154 RIO GRANDE DO SUL. Tribunal de Justiça. Agravo de Instrumento Nº 70020610580. Relator:
Maria Berenice Dias, Julgado em 29/08/2007.
155 NAHAS, Luciana Faísca. União Homossexual. p. 106.
52

codificada, destaca Oliveira156.

Conforme o autor Lôbo157 a afetividade não é do


sangue, nem resulta da biologia. O afeto tanto quanto a solidariedade são
resultantes da convivência familiar.

Ensina Dias158 que:

O Código Civil também não utiliza a palavra afeto, ainda que,


em alguns dispositivos, se possa entrever esse elemento para
caracterizar situação merecedora de tutela. Invoca somente
o laço de afetividade como elemento indicativo para a
definição da guarda do filho quando da separação dos pais
(CC 1.584, parágrafo único). Ainda que com grande esforço
se consiga visualizar na lei a elevação do afeto a valor
jurídico, [...]

Ressalta Farias159 que “nossos pretórios têm reconhecido


que a presença do caráter afetivo como mola propulsora de algumas
relações as caracteriza como entidade familiar (independente de previsão
constitucional), merecendo a proteção do direito de família”.

E prossegue o mesmo autor dizendo que há violação do


princípio da dignidade da pessoa humana, quando não é admitido o
reconhecimento de entidades familiares que estão ligadas pelo afeto, pelo
frágil argumento de não estarem previstas de forma explícita no artigo 226
da Constituição Federal de 1988160.

156 OLIVEIRA, José Sebastião de. Fundamentos constitucionais do direito de família. p. 233.
157 LÔBO, Paulo Luiz Netto. Código Civil comentado. Direito de família, relações de
parentesco, direito patrimonial. Cood. Álvaro Villlaça Azevedo. v. 6. São Paulo: Atlas:
2003. p. 56.
158 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. p. 60.
159 FARIAS, Cristiano Chaves de. Direito Constitucional. à Família (ou Famílias Socilógicas

versus Famíias Reconhecidas pelo Direito: Um Bosqueio para Uma Aproximação


Conceitual à Luz da Legalidade Constitucional). Revista Brasileira de Direito de Família.
Porto Alegre, n. 23, p. 5-21, abr/mai. 2004. p. 12.
160 FARIAS, Cristiano Chaves de. Direito Constitucional. à Família (ou Famílias Socilógicas

versus Famíias Reconhecidas pelo Direito: Um Bosqueio para Uma Aproximação


Conceitual à Luz da Legalidade Constitucional). Revista Brasileira de Direito de Família.
Porto Alegre, n. 23, p. 5-21, abr/mai. 2004. p. 13.
53

A decisão do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul


abaixo, sintetiza uma postura jurisprudencial, baseado na afetividade como
formação de família:

EMENTA: APELAÇÃO. UNIÃO HOMOSSEXUAL. COMPETÊNCIA.


RECONHECIMENTO DE UNIÃO ESTÁVEL. A competência para
processar e julgar as ações relativas aos relacionamentos
afetivos homossexuais. A união homossexual merece proteção
jurídica, porquanto traz em sua essência o afeto entre dois
seres humanos com o intuito relacional. Uma vez presentes os
pressupostos constitutivos, é de rigor o reconhecimento da
união estável homossexual, em face dos princípios
constitucionais vigentes, centrados na valorização do ser
humano. Via de conseqüência, as repercussões jurídicas,
verificadas na união homossexual, em face do princípio da
isonomia, são as mesmas que decorrem da união
heterossexual. NEGARAM PROVIMENTO161.

Oliveira162 aduz que na ausência da afetividade, não


existe razão para manutenção de uma estrutura familiar meramente formal e
vazia de fundamento.

Fica visível que na medida em que se transformam as


famílias, intensificam os laços de afeto e de sentimento entre os seus
membros, trazendo mais igualdade, solidariedade e afetividade nos novos
modelos de família.

3.4 A HUMANIZAÇÃO DO DIREITO DE FAMÍLIA

A expressão direito de família, atende a necessidade de


enlaçar a proteção de todas as famílias sem discriminação e preconceitos,
conforme aduz Dias163.

161 RIO GRANDE DO SUL. Tribunal de Justiça. Apelação Cível Nº 70023812423. Relator: Rui
Portanova, Julgado em 02/10/2008.
162 OLIVEIRA, José Sebastião de. Fundamentos constitucionais do direito de família. p. 243.
163 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. p. 28.
54

Por ser família o primeiro agente socializador do ser


humano, é hoje encarada como uma célula da sociedade, e não mais uma
célula do Estado164.

Ressalta Dias165 que:

A vastidão de mudanças das estruturas políticas, econômicas


e sociais produziu reflexos nas relações jurídico-familiares. Os
ideais de pluralismo, solidarismo, democracia, igualdade,
liberdade e humanismo voltaram-se à proteção da pessoa
humana.

Alcançando, assim, a família, função instrumental para


realização dos interesses dos seus membros166. Passa o Estado então, ceder
atenção especial, considerando como sua maior missão, a sua preservação.
Está inclusa também na Declaração dos Direitos Humanos, onde dispõe que,
a família é o núcleo natural e fundamental da sociedade e tem direito à
proteção da sociedade e do Estado.

A sociedade evolui, rompendo com as tradições,


impondo assim uma constante alteração dos regramentos e leis. Tratando-se
de direito das famílias, essa não é uma tarefa muito fácil, pois interferem na
estrutura de toda sociedade, afinal é o direito que condiz com a vida das
pessoas e seus sentimentos. Mas “o influxo da chamada globalização impõe
essa constante alteração de regras, leis e comportamentos”, afirma Dias167.
“O grande problema reside em se encontrar, na estrutura formalista do
sistema jurídico, a forma de proteger sem sufocar e de regular sem engessar”
168 .

“O formato hierárquico da família cedeu lugar à sua


democratização, e as relações são muito mais de lealdade e de respeito

164 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. p. 28.


165 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. p. 38.
166 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. p. 38.
167 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. p. 29.
168 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. p. 29.
55

mútuo. O traço fundamental é a lealdade” 169.

Assim aduz Brauner170:

Compreender a evolução do direito das famílias deve ter


como premissa a construção e a aplicação de uma nova
cultura jurídica, que permita conhecer a proposta de
proteção às entidades familiais, estabelecendo um processo
de repersonalização dessas relações, devendo centrar-se na
manutenção do afeto, sua maior preocupação

3.5 EFEITOS JURÍDICOS DOS NOVOS MODELOS DE FAMÍLIA: As conquistas


obtidas através dos Tribunais.

No compasso da transformação familiar seguiu-se a


evolução do sistema jurídico, o qual deve interpretar a família de acordo
com os fatos sociais171. Assim ressalta Fachin172que: “O transcurso do tempo e
as alterações sociais geraram mudanças na estrutura do Direito, da família e
de suas funções”.

A Constituição Federal de 1988 rompendo os


paradigmas clássicos reconheceu, além da família decorrente do
casamento, a família monoparental e a união estável. A doutrina moderna
vai mais além, sustenta que os modelos de família previstos na Constituição
de 1988 não esgotam o conceito de família, sendo possível se afirmar a
existência de famílias não explicitadas em seu artigo 226173.

169 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. p. 29.


170 BRAUNER, Maria Claúdia Crespo. O pluralismo no direito de família brasileiro: realidade
social e reinvenção da família. In: WELTER, Belmiro Pedro; MADALENO, Rolf Hanssem
(coords.). Direitos Fundamentais de direito de família. Porto Alegre: Livraria do Advogado,
2004. p. 257.
171 VEDOI, Sidamaia de Quevedo. Filiação sócioafetiva: O elemento afetivo como critério

para a definição da filiação. Disponível em <http://www.ambito-


juridico.com.br/site/index.php?n_link =revista_artigos_leitura&artigo_id=551> Acesso em
21 de outubro de 2008.
172 FACHIN, Luiz Edson. Elementos críticos do direito de família – Curso de direito civil. p. 13-14.
173 ANDRADE, Camila. O que se entende por família eudemonista? Disponível em
56

“A possibilidade de buscar formas de realização pessoal


e gratificação profissional é a maneira que as pessoas encontram de viver,
convertendo-se em seres sociamente úteis, pois ninguém mais deseja e
ninguém mais pode ficar confinado à mesa familiar” 174 . Para essa nova
tendência de identificar a família que busca a felicidade individual, se deu
nome de família eudemonista. Assim se posiciona o Tribunal de Justiça do Rio
Grande do Sul:

EMENTA: INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE. INVESTIGANTE QUE


JÁ POSSUI PATERNIDADE CONSTANTE EM SEU ASSENTO DE
NASCIMENTO. INTERPRETAÇÃO DO ART. 362, DO CÓDIGO
CIVIL DE 1916. MUDANÇA DE ENTENDIMENTO DO AUTOR DO
VOTO VENCEDOR. Os dispositivos legais continuam vigorando
em sua literalidade, mas a interpretação deles não pode
continuar sendo indefinidamente a mesma. A regra que se
extrai da mesma norma não necessariamente deve
permanecer igual ao longo do tempo. Embora a norma
continue a mesma, a sua fundamentação ética, arejada
pelos valores dos tempos atuais, passa a ser outra, e, por isso,
a regra que se extrai dessa norma é também outra. Ocorre
que a família nos dias que correm é informada pelo valor do
AFETO. É a família eudemonista, em que a realização plena
de seus integrantes passa a ser a razão e a justificação de
existência desse núcleo. Daí o prestígio do aspecto afetivo da
paternidade, que prepondera sobre o vínculo biológico, o
que explica que a filiação seja vista muito mais como um
fenômeno social do que genético. E é justamente essa nova
perspectiva dos vínculos familiares que confere outra
fundamentação ética à norma do art. 362 do Código Civil de
1916 (1614 do novo Código), transformando-a em regra
diversa, que objetiva agora proteger a preservação da posse
do estado de filho, expressão da paternidade socioafetiva.
Posicionamento revisto para entender que esse prazo se
aplica também à impugnação motivada da paternidade, de

<http://www.jusbrasil.com.br/noticias/117577/o-que-se-entende-por-familia-
eudemonista-camila-andrade> Acesso em 21 de outubro de 2008.
174 ANDRADE, Camila. O que se entende por família eudemonista? Disponível em
<http://www.jusbrasil.com.br/noticias/117577/o-que-se-entende-por-familia-
eudemonista-camila-andrade> Acesso em 21 de outubro de 2008.
57

tal modo que, decorridos quatro anos desde a maioridade,


não é mais possível desconstituir o vínculo constante no
registro, e, por conseqüência, inviável se torna investigar a
paternidade com relação a terceiro. DERAM PROVIMENTO,
POR MAIORIA, VENCIDO O RELATOR175.

Mas é nas uniões entre pessoas do mesmo sexo os


maiores e mais visíveis efeitos jurídicos. Foi o Tribunal de Justiça do Rio Grande
do Sul pioneiro no reconhecimento da união homossexual como entidade
familiar, em 14 de março de 2001. Abaixo, baseado no princípio da
dignidade da pessoa humana, da igualdade e outros, há o entendimento
recente do Tribunal de Justiça de Minas Gerais:

EMENTA: UNIÃO HOMOAFETIVA. PENSÃO. SOBREVIVENTE.


PROVA DA RELAÇÃO. POSSIBILIDADE - À união homo afetiva
que irradia pressupostos de união estável deve ser conferido o
caráter de entidade familiar, impondo reconhecer os direitos
decorrentes deste vínculo, pena de ofensa aos princípios
constitucionais da liberdade, da proibição de preconceitos,
da igualdade e dignidade da pessoa humana176.

Há entendimentos que versam a competência das Varas


das Famílias quanto a tramitação do processo na relação homoafetiva:

EMENTA: RELACOES HOMOSSEXUAIS. COMPETENCIA DA VARA


DE FAMILIA PARA JULGAMENTO DE SEPARACAO EM
SOCIEDADE DE FATO. A COMPETENCIA PARA JULGAMENTO DE
SEPARACAO DE SOCIEDADE DE FATO DE CASAIS FORMADOS
POR PESSOAS DO MESMO SEXO, E DAS VARAS DE FAMILIA,
CONFORME PRECEDENTES DESTA CAMARA, POR NAO SER
POSSIVEL QUALQUER DISCRIMINACAO POR SE TRATAR DE
UNIAO ENTRE HOMOSSEXUAIS, POIS E CERTO QUE A
CONSTITUICAO FEDERAL, CONSAGRANDO PRINCIPIOS
DEMOCRATICOS DE DIREITO, PROIBE DISCRIMINACAO DE
QUALQUER ESPECIE, PRINCIPALMENTE QUANTO A OPCAO
SEXUAL, SENDO INCABIVEL, ASSIM, QUANTO A SOCIEDADE DE

175 RIO GRANDE DO SUL. Tribunal de Justiça. Apelação Cível Nº 70005246897. Relator: José
Carlos Teixeira Giorgis, Julgado em 12/03/2003
176 MINAS GERAIS. Tribunal de Justiça. Apelação cível nº 1.0024.05.750258-5/002(1). Relator:
Belizário de Lacerda. Julgado em 04/09/2007.
58

FATO HOMOSSEXUAL. CONFLITO DE COMPETENCIA


ACOLHIDO177.

A decisão do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul


abaixo, sintetiza outra postura jurisprudencial, admitindo a possibilidade de
adoção por casais homoafetivos:

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. ADOÇÃO. CASAL FORMADO POR


DUAS PESSOAS DE MESMO SEXO. POSSIBILIDADE. Reconhecida
como entidade familiar, merecedora da proteção estatal, a
união formada por pessoas do mesmo sexo, com
características de duração, publicidade, continuidade e
intenção de constituir família, decorrência inafastável é a
possibilidade de que seus componentes possam adotar. Os
estudos especializados não apontam qualquer inconveniente
em que crianças sejam adotadas por casais homossexuais,
mais importando a qualidade do vínculo e do afeto que
permeia o meio familiar em que serão inseridas e que as liga
aos seus cuidadores. É hora de abandonar de vez
preconceitos e atitudes hipócritas desprovidas de base
científica, adotando-se uma postura de firme defesa da
absoluta prioridade que constitucionalmente é assegurada
aos direitos das crianças e dos adolescentes (art. 227 da
Constituição Federal). Caso em que o laudo especializado
comprova o saudável vínculo existente entre as crianças e as
adotantes. NEGARAM PROVIMENTO. UNÂNIME178.

Fica demonstrado que a família é identificada pela


comunhão de vida, amor e afeto no plano da igualdade, solidariedade e
responsabilidade recíprocas179. Essa é a nova forma de constituir uma família,
na busca de felicidade de todos os membros.

Tais decisões acima demonstradas tratam dos


reconhecimentos dos tribunais de uma situação que se coloca como base
das relações familiares, o afeto, valorizando-o. Assim, a sociedade vem

177 RIO GRANDE DO SUL. Tribunal de Justiça. Conflito de Competência nº 70000992156,


Oitava Câmara Cível, Relator: José Ataídes Siqueira Trindade, Julgado em 29/06/2000.
178 RIO GRANDE DO SUL. Tribunal de Justiça. Apelação Cível Nº 70013801592. Relator: Luiz

Felipe Brasil Santos, Julgado em 05/04/2006


179 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. p. 45.
59

demonstrando um amadurecimento não só jurídico, mas também social, no


que se refere ao respeito e ao reconhecimento das novas formas de
constituição da família180.

Com base no estudo acima, vale ressaltar que as novas


formas de família são uma realidade social, baseados na afetividade e com
objetivos comuns, devendo então ser juridicamente tuteladas essas novas
formas de uniões.

180 VEDOI, Sidamaia de Quevedo. Filiação sócioafetiva: O elemento afetivo como critério
para a definição da filiação. Disponível em <http://www.ambito-
juridico.com.br/site/index.php?n_link =revista_artigos_leitura&artigo_id=551> Acesso em
21 de outubro de 2008.
60

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho monográfico teve como objetivo


investigar, à luz da doutrina, legislação e jurisprudências brasileiras os
aspectos jurídicos referentes às famílias e suas novas formações.

Para seu desenvolvimento lógico, o trabalho foi dividido


em três capítulos.

O primeiro tratou de abordar a evolução histórica


familiar. Partindo da observação dos primórdios, onde surgiram os primeiros
agrupamentos humanos, baseado nos estudos de Engels, onde se verificou
diferentes estágios evolutivos percorridos pela família. Principou-se do estágio
da promiscuidade, passando para uniões grupais, e por fim, encontrou sua
estrutura atual, a monogamia, vista como um dos maiores progressos morais
obtidos no âmbito dos relacionamentos familiares.

Contatou-se que a entidade familiar está fundada no


afeto, e está voltado para a realização individual dos seus membros, dando
proteção, apoio moral, social. Demonstra também que a família atual
continua sendo a base da sociedade, sendo assim tem proteção especial
do Estado.

O segundo capítulo trata da família no Direito Brasileiro, e


que essa sofreu juridicamente modificações profundas com a Constituição
Federal de 1988, reconhecendo além das famílias formadas pelo
casamento, a união estável e a monoparental.

Em relação ao princípio da igualdade jurídica dos


cônjuges fica demonstrado que o poder marital deixa de ser visto, há
substituição pelo sistema em que as decisões são tomadas em comum
acordo. Denota-se que não é admitida a distinção entre filhos sejam eles de
61

outro ou de fora do casamento, adotados, frente ao princípio da igualdade


dos filhos.

Verifica-se que o juiz e a lei procuram preservar o sentido


ético e moral da família, independente do vínculo. No tocante a mediação
familiar, chega-se a conclusão que ela existe para ajudar numa decisão
ponderada e satisfatória nos conflitos familiares.

No terceiro e último capítulo estudou-se as novas formas


de família, revela-se que a sociedade não está diante de um só modelo de
família, mas de outras formas, que são as baseadas na afetividade e pela
valorização que é dada ao indivíduo. Evidencia-se a família homossexual, a
principal tendência sócio-jurídica familiar no Brasil e que tais devem ser
reconhecidas diante dos princípios da igualdade e da dignidade da pessoa
humana, onde os Tribunais estão cada vez mais reconhecendo e
concedendo conseqüências jurídicas a essas famílias.

Mostra-se importância dos princípios da dignidade


humana, que garante o desenvolvimento familiar e o da solidariedade
familiar, que concretiza-se com a imposição de obrigação alimentar entre
parentes, pois tem origem no vínculo afetivo. Que atualmente o afeto é o
fundamento essencial das relações familiares, sendo cada vez mais
impetuosas, que todas as famílias têm proteção sem discriminação.

E finalmente, o reconhecimento através dos Tribunais a


estas novas formas de entidade familiar, considerando a sua união pelo
afeto, e propiciando aos seus a felicidade almejada, independente de sua
formação ou sexo.

A seguir, serão revistos os problemas e as três


mencionadas hipóteses realizando-se as análises, em conformidade com o
resultado da pesquisa:

Primeiro Problema: É possível se identificar, de forma


62

segura e absoluta, qual foi a origem da família?

 Hipótese: antes de se chegar à atual estrutura familiar


monogâmica, a mesma passou no decorrer de milhares de anos, por
diversos estágios de evolução, sem saber qual a origem de forma segura,
afinal não se podia falar em família, já que as relações de parentesco não
eram definidas e suas relações eram baseadas na promiscuidade. Porém
após os estágios evolutivos da formação familiar, que com base na teoria de
Engels se dividiram em três fases, sendo a consanguínea, punaluana e a
sindiásmica, chegou-se a forma monogâmica.

A primeira hipótese, foi CONFIRMADA uma vez que no


estágio primitivo, não se operou conceito algum de família como forma de
relacionamento humano, imperando-se as relações de promiscuidade, onde
o relacionamento sexual era livre. Todavia somente se chegou a família
monogâmica, após os estágios evolutivos, que passaram pelas fases da
consanguinidade, punaluana e sindiásmica, de acordo com a teoria de
Engels.

Segundo Problema: Quais são os modelos de família


reconhecidos pela legislação brasileira?

 Hipótese: A legislação brasileira reconhece


casamento, a união estável e a monoparentalidade como entidades
familiares.

A legislação brasileira reconhece o casamento, a união


estável e a monoparentalidade como entidades familiares. Foi com o
advento da constituição federal de 1988, que se reconheceram outros tipos
de entidade familiar, além daquela constituída pelo casamento, a exemplo
da união estável e a monoparental, CONFIRMANDO a segunda hipótese.
63

Terceiro Problema: Os novos modelos de família, apesar


de formados à míngua de legislação, geram efeitos jurídicos?

 Hipótese: Os novos modelos de família, tais como


anaparental, mosaica, eudemonista e homoafetiva, em que pese não se
encontrarem regulamentadas pela legislação, geram efeitos jurídicos na
esfera do direito obrigacional, através das decisões judiciais em casos
concretos.

CONFIRMA-SE a terceira e última hipótese, uma vez que


conforme estudos realizados, na doutrina e jurisprudência, verificou-se que é
possível a equiparação dos novos modelos de família, às entidades familiares
já reconhecidas legalmente, operando-se através da aplicação dos
princípios constitucionais, especialmente, o da dignidade da pessoa
humana e da solidariedade familiar, preenchendo-se, assim, as lacunas da
lei, e resolvendo-se os casos concretos através dos julgados dos tribunais
pátrios, que vêm construindo o entendimento jurisprudencial, no sentido de
conferir efeitos as novas modalidades de família, que são formadas pelo
afeto, principal fonte de reconhecimento da entidade familiar.
64

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