Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
1
Índice
Fontes e relações jurídicas familiares ........................................................................................... 4
Art. 1577 – Casamento .......................................................................................................... 5
Art. 1578 – Parentesco .......................................................................................................... 6
Art. 1584, 1585 – Afinidade .................................................................................................. 9
Art. 1586 – Adoção .............................................................................................................. 10
Casamento .................................................................................................................................. 10
Natureza Jurídica do Casamento: Contrato ou Ato ................................................................ 10
Deveres Conjugais na Lei e na Jurisprudência ........................................................................ 12
Formalidades do Casamento................................................................................................... 16
O Casamento Civil e Católico Urgente .................................................................................... 18
Formalidades do casamento católico...................................................................................... 19
Modalidades do Casamento.................................................................................................... 20
Requisitos de fundo do casamento ............................................................................................. 23
Dogmática das Invalidades do Casamento ................................................................................. 33
Convenções antenupciais- Art. 1691º e ss. ................................................................................. 43
Regime de Bens ........................................................................................................................... 50
Regime de bens supletivo e imperativo .................................................................................. 50
Comunhão de bens adquiridos ............................................................................................... 51
Comunhão geral de bens ........................................................................................................ 54
Regime da separação de bens ................................................................................................. 55
Administração de bens no casamento .................................................................................... 56
Poderes de alienação dos bens pelo cônjuge administrador ................................................. 57
Atos de alienação dos bens pelos cônjuges ............................................................................ 58
Responsabilidade por dívidas.................................................................................................. 60
União de Facto ............................................................................................................................ 61
Introdução ............................................................................................................................... 61
Contagem do Prazo para a Constituição da União de Facto ................................................... 61
Requisitos de Constituição da União de Facto ........................................................................ 63
União de Facto Constituída tendo um ou ambos os Unidos de Facto o Estado de Casado.... 64
Início e Cessação ..................................................................................................................... 64
Efeitos Patrimoniais da União de Facto .................................................................................. 64
Responsabilidade por Dívidas na Constância da União de Facto............................................ 65
Medidas de Proteção Específicas da União de Facto: Caso de Rutura e Direito à Casa de
Família ..................................................................................................................................... 66
Direito à Casa de Morada de Família em Caso de Morte ....................................................... 67
2
Outros Efeitos da União de Facto ........................................................................................... 68
Divórcio ....................................................................................................................................... 69
Introdução ............................................................................................................................... 69
Modalidades do Divórcio - Generalidades .............................................................................. 70
Divórcio por Mútuo Consentimento ....................................................................................... 71
Divórcio Rutura ....................................................................................................................... 72
Ficção do Regime de Bens do Casamento para efeitos de Partilha por Divórcio ................... 74
Responsabilidades Parentais ................................................................................................... 75
Crédito Compensatório ao Cônjuge Especialmente Onerado na sua Contribuição para os
Encargos da Vida Familiar ....................................................................................................... 75
Momento da Atribuição da Compensação nos Casamentos Celebrados no Regime de
Separação de Bens .................................................................................................................. 76
Direito a Alimentos do Cônjuge e dos Filhos .......................................................................... 77
Partilha .................................................................................................................................... 78
3
Fontes e relações jurídicas familiares
No dto. da família proliferam conceitos distintos dos que são usados no discurso
corrente e pela legislação informal, tal dificulta obviamente, a interpretação de
várias normas jusfamiliares. Conceitos herméticos como o nubente, o esposado, o
afim etc.
Art. 1756: “são fontes das relações jurídicas familiares o casamento, o parentesco, a
afinidade e a adoção”.
Ex: o casamento baseia-se numa decisão constitutiva de vida conjugal – duas pessoas
decidem constituir família e atuam de forma juridicamente idónea a que isso
aconteça: celebram o casamento, sendo este, fonte da relação familiar que
constituem.
Ex: se os nossos progenitores tiverem outro filho, este será nosso irmão – nós em
nada contribuímos, através de um comportamento, para que esta relação familiar,
o parentesco, com o nosso irmão, exista.
Faltou ainda referir neste artigo a união de facto. Esta é reconhecida por lei como
um modo de vida juridicamente relevante que promana da vida em condições
análogas às dos cônjuges, mas prescindindo a sua constituição e extinção da
formalidade que o casamento requer para se constituir e dissolver. E prescindindo
também das consequências patrimoniais do casamento.
Portanto, quanto ao art. 1576ºCC: nem todos são fontes. EX: o parentesco é uma
relação jurídica familiar, cuja fonte é a filiação. Já o casamento trata-se de uma
verdadeira fonte. A união de facto tem bastante relevância, mas não é referida (art.
4
2020ºCC, art. 143º quanto ao acompanhamento). O legislador não define
propriamente o conceito de família, sendo que este conceito como já vimos tem
evoluído.
FONTE RELAÇÕES
CASAMENTO- 1577ºCC CONJUGAL, AFINIDADE (1584ºCC)
FILIAÇÃO PARENTESCO (1578ºCC), AFINIDADE
ADOÇÃO VÍNCULO DE ADOÇÃO = PARENTESCO
(1986ºCC)
UNIÃO DE FACTO VÍNCULO (efeitos restritivos a título
fiscal e sucessório)
Características:
5
preliminar quando os nubentes não possam, no momento do matrimónio,
iniciar o processo preliminar por razões ponderosas (ex: iminência de
morte, iminência de parto) poderão mesmo assim casar, celebrando um
“casamento urgente”, o qual, todavia, não dispensa alguma publicidade
(art. 1622);
→ O fim do casamento, voluntário ou sem o consentimento de um dos
cônjuges, ocorre em conservatória do registo ou em tribunal,
respetivamente. O divórcio sem o consentimento de um dos cônjuges
será decidido judicialmente;
→ O casamento tem caráter imperativo: a lei impõe sanções ao casamento
que não obedeça à tramitação exigida. Assim, há casamentos sancionados
em virtude de irregularidades ocorridas. Nesses casos, os casamentos
serão considerados válidos, mas terão efeitos específicos contemplados
pela lei. Expressão do caráter imperativo: imposição de um regime de
bens em função da idade dos nubentes ou da existência de filhos
anteriores à celebração do casamento. Quanto ao casamento contraído
sem processo preliminar, entender-se-á celebrado em regime de
separação de bens;
→ Com a celebração do casamento gera-se uma nova família.
Ex: se A é pai de B, esta relação entre ambos é uma relação familiar, com toda a
evidência. A sua existência transcende a vontade de ambos e nenhum a poderá
extinguir pelo seu alvedrio.
6
No parentesco há linhas e graus. Cada geração forma um grau e a série de gerações
constitui a linha do parentesco (art. 1579). Pais e filhos são parentes em linha reta,
no grau mais próximo. Já pai e filho do filho, neto, têm um maior distanciamento. A
lei diz que haverá tantos graus quantas as gerações envolvidas, excluindo o
progenitor (art. 1581ºCC).
António
Bernardo
Cidália
O António é pai de Bernardo e avô de Cidália. Pais e filhos são parentes no 1º grau
em linha reta; avós e netos no 2º grau em linha reta.
AC=
AC=parentes
parentes(1578º+1579º)
(1578º+1579º)
Linha
Linhareta
reta(1580º/1,
(1580º/1, 1º
1º parte)
parte)
Descendente
Descendente(1580º/2)
(1580º/2)
2ºgrau (1581º/1)
7
→ Direitos sucessórios: os ascendentes e descendentes são herdeiros
legítimos e legitimários, reciprocamente (art. 2131 e ss e 2154 e ss,
respetivamente);
→ Incapacidades: os parentes na linha reta não deverão contrair casamento.
O casamento entre ascendentes e descendentes é sempre vedado, seja
qual for o grau de parentesco que os separa. Este casamento é anulável –
art. 1602.
António
Benedita Carla
Dalila João
Eva
→ Benedita tem uma filha a Dalila. Dalila é colateral de Carla em 3º grau (sobrinha e
tia);
8
→ Concluímos assim que, o 4º grau é uma realidade compósita (não
identifica apenas uma determinada tipologia, mais que uma padronização) porque
nele cabem várias relações: se Carla morre sem testamento e Eva sobrevive, por ela
também se divide a herança; Quanto a Dalila e João que são primos direitos, só se
Dalila não tivesse cônjuge, ascendentes, descendentes e irmãos é que João era
chamado a herdar.
Os irmãos podem:
→ Ter sido gerados pelo mesmo casal: tendo pai e mãe comuns – são irmãos
germanos;
→ Ser filhos apenas de pai comum – irmãos consanguíneos;
→ Ser filhos apenas de mãe comum – irmãos uterinos.
Estes beneficiam de direitos sucessórios diferentes, de acordo com a classificação
apontada.
“afinidade é o vínculo que liga cada um dos cônjuges aos parentes do outro”. Ex: se
A casa com B e B é filho de C, C passa a ser afim de A.
Estes não são parentes, são pessoas cujo relacionamento resulta do matrimónio que
foi contraído. Por isso, se compreende também que tenda a terminar caso este
matrimónio se extinga.
A lei determina que os efeitos da afinidade são bem menos amplos que os do
parentesco. A consequência que mais ilustra a diferença reside na possibilidade de a
afinidade cessar, diferentemente do que vimos suceder com o parentesco
A afinidade não cessa em caso de morte de um dos cônjuges, mas sim se após essa
morte o cônjuge sobrevivo contrair matrimónio com um terceiro. Ex: Se A que é
casado com B morre e B contrai matrimónio com C, então, os pais de A que eram
afins de B deixam de o ser. Afinidade cessa também por divórcio. Antes de 2008,
mantinha-se a afinidade com o divórcio. Isto metia alguns problemas- art. 1602ºCC.
Antes de 2008, não podia então casar com a minha ex sogra mas agora já posso. A
professora faz uma interpretação ab-rogante: vê na afinidade uma forma de arranjar
2ºs pais, irmãs, análogo aos que já temos e não faz sentido termos uma nova família,
9
estando ligado a outra. Assim sendo, a afinidade não cessa por morte, mas cessa
quando o cônjuge sobrevivo casar com outra pessoa (pois ganha uma nova família).
Casamento
A doutrina sempre divergiu a este respeito, e com base em argumentos que não
coincidem.
10
Por outro lado, deverá considerar-se o casamento não um contrato, mas antes um
ato?
Poderá fundamentar-se de outra maneira. Assim, afirma certa doutrina que, posto
que o casamento se afasta da liberdade contratual, não será um tratado em sentido
rigoroso. O casamento será assim um ato jurídico, por via do qual cada nubente se
afirma perante o outro na vontade de integrar o estado de casado (o novo status),
sendo indispensável uma entidade pública para que isso ocorra.
Sintetizando:
A professora pensa que não seja essencial qualificar o casamento como contrato ou
como negócio unilateral.
Mas assiste também obvia razão a quem olha o conjunto importante de normas
imperativas que condicionam a liberdade negocial dos cônjuges.
11
acordo que provem da vontade dos nubentes e respeita, em todos os seus
momentos, a liberdade dos cônjuges.
O uso da expressão legal “contrato” no artigo 1577º CC tem uma inegável vantagem:
não suscitar equívocos sobre a pré-compreensão jurídica do casamento enquanto
negócio jurídico em que imperam a liberdade e a igualdade dos cônjuges. Importa
não perder de vista que o casamento já tinha a designação de contrato no tempo em
que a família tinha um chefe e a mulher devia obediência ao marido. A razão pela
qual é importante acentuar a contratualidade do casamento nos nossos dias advém
de esta contratualidade se inserir num contexto jurídico em que a igualdade das
partes contratantes perpassa o Direito.
→ Dever de Coabitação:
12
→ Como se afirmou, nenhum cônjuge pode fazer valer judicialmente o dever de
comunhão de leito. Sobra-lhe a capacidade de tolerância com a imposição do seu
cônjuge ou intentar uma ação de divórcio.
Nos termos do art. 1673/3, o acordo sobre a residência da família não pode ser
revogado unilateralmente por qualquer dos cônjuges. E do mesmo modo, a
alteração da residência de família supõe o acordo dos cônjuges.
13
→ É certo que o legislador admite intervir nos casos de incumprimento deste dever.
Pode haver lugar a intervenção judicial. Porém, não competindo ao juiz lesar o
direito à liberdade, não será este que determinará o regresso à casa conjugal do
infrator. Resta-lhe advertir, tentar persuadir. A sua intervenção tem uma margem
muito restrita.
→ Dever de Fidelidade:
→ Dever de Cooperação:
Art. 1674.
14
O dever de cooperação impõe aos cônjuges obrigações de socorro e de auxílio da
vida familiar que decorre do casamento que contraíram. Significa isto que deverão
assumir as obrigações que têm para com os filhos ou adotados, representando estas
verdadeiros deveres dos cônjuges entre si, para além de serem, naturalmente,
responsabilidades de cada um deles para com os filhos ou adotados. Ou seja, o
cônjuge que incumpre deveres para com os filhos viola, através desse
incumprimento, também o seu dever conjugal de cooperação.
→ Dever de Assistência:
Com sede no art. 1675/1, o dever de assistência tem um cunho patrimonial: será o
dever de prestar alimentos e o dever de contribuir para os encargos da vida familiar.
Cumpre ter em conta que o dever de prestar alimentos ao cônjuge que deles careça
subsiste nos casos de separação de facto dos cônjuges e mesmo no caso de
separação judicial de pessoas e bens. Nestes casos, o casamento não se dissolveu e
o legislador tem em conta a virtualidade de a vida conjunta ser viabilizada.
→ Dever de Respeito:
Se bem que o art. 1671 o elenque em primeiro lugar, não deixa de ser um dever
residual. Impõe a cada cônjuge a obrigação de não ofender a integridade física ou
psíquica do outro e, por outro lado, a obrigação de manifestar interesse pelo outro,
ainda que, naturalmente, a determinação ou densificação desta “manifestação de
interesse” seja profundamente vaga e casuística.
Será muito difícil para o aplicador do Direito sancionar esta violação quando
invocada: em boa verdade, ela sugere bem mais a rutura do casamento, do que uma
abreviada e menos consistente reparação moral. No entanto, a violação dos deveres
conjugais não funda, ainda que culposa, o divórcio. Torna-se necessários demonstrar
hoje a rutura do casamento.
15
→ Dever de Contribuir para os Encargos da Vida Familiar:
Significa isto que se trata de um dever que tanto pode cumprir-se através da outorga
familiar de rendimentos (contribuição patrimonial) pode ser cumprido por qualquer
deves de duas formas: pela afetação dos seus recursos (rendimentos e proventos)
como através de trabalho com a educação dos filhos ou com a vida doméstica em
sentido estrito.
Formalidades do Casamento
Segundo a lei, apenas um dos nubentes se poderá fazer representar por procuração
na celebração do casamento: a lei não permite procurações cumulativas. E bem se
entende, dada a natureza eminentemente pessoal do casamento (art. 1619 e
1620/1).
16
Discute a doutrina se o procurador deverá ser entendido juridicamente como um
representante ou antes como um núncio dos nubentes.
Em síntese, afirma-se:
17
➢ Esgotado este procedimento, poderá ter lugar a celebração do
casamento, que sempre requer duas testemunhas, caso os nubentes não
apresentem meios de identificação legalmente idóneos para o efeito.
Nos termos do art. 1599 vem referido o casamento católico urgente e nos termos do
art. 1622 o casamento civil urgente.
O casamento urgente não subsiste caso não venho a ser homologado. Ou seja, sem
tal homologação subsequente ele considera-se inexistente (art. 1628 alínea b).
18
O casamento urgente não será homologado sempre que não se tenham verificado
os requisitos formais da sua celebração requeridos neste caso.
Mas não só. Torna-se necessário que não existia impedimento dirimente.
O casamento católico urgente pode ser celebrado, para além dos motivos que
determinam a celebração do casamento civil urgente “por grave motivo de ordem
moral”.
Modalidades do Casamento
20
A República afasta a ordem civil do casamento religioso e vai ao ponto de não
reconhecer validade aos matrimónios celebrados no país.
A solução redundava numa clivagem demasiado forte com os costumes para que
pudesse ter ficado incólume a consequências. Mas ia mais longe: desconsiderava a
dignidade daqueles que, com maior ou menos conhecimento, optavam por tal
casamento e se viam reconduzidos a uma situação jurídica de concubinato, que
consideravam injusta.
Convém referir que sim, existem grandes diferenças entre o casamento civil e o
casamento católico, todavia, tem existido uma tendência à sua diminuição entre as
modalidades com o passar do tempo.
22
Requisitos de fundo do casamento
NOTA: se faltar
NOTA: faltar algum
algum dos
dos requisitos
requisitosdadaprocuração
procuração(que
(queconstam
constamdo doart.
art.1620º/2),
1620º/2),
como
como a modalidade
modalidade do do casamento,
casamento,temos
temosumaumainobservância
inobservânciadedeforma
formalegal,
legal,que
que
leva à nulidade
nulidade dada procuração
procuração (art.
(art. 220ºCC).
220ºCC). Assim
Assim sendo,
sendo,oocasamento
casamentoseriaseria
inexistente,
inexistente, por
porfalta
faltada
dadeclaração
declaraçãode devontade
vontadededeum
umdos
dosnubentes-
nubentes-art. 161628º/c).
art.
Ex: uma celebração que não se realize perante o conservador do registo civil ou em
que o procurador não tenha apresentado a procuração, ou celebrado mediante a
procuração cujos efeitos tenham cessado é inexistente (art. 1628 alíneas a), c) e d)).
Também será inexistente o casamento em que os nubentes não declaram a vontade
de casar, mantendo-se em silêncio quando questionados sobre tal vontade. Também
o casamento urgente será inexistente desde que não tenha lugar a sua homologação
(art. 1628 alínea b)).
23
O tema da inexistência do casamento encontra-se aqui apresentado porque
representa a contraimagem do casamento, aquilo que o legislador aparta como
figura legal.
A inexistência jurídica não tem a extensão, na ordem jurídica portuguesa, que teve
até há pouco.
Há casamentos juridicamente existentes cuja validade a lei não admite, por entender
que não são livres, ou porque não cumprem todos os requisitos de vontade e
capacidade por parte de algum dos nubentes ou de ambos.
São inválidos:
Nem sempre o nubente que afirma querer casar com outrem o pretende realmente.
Pode dar-se o caso de se encontrar enganado acerca da identidade de outra pessoa.
Este facto inquina a vontade matrimonial e o casamento assim celebrado padece de
invalidade por erro.
O nubente pode, em situação muito menos plausível, mas nem por isso afastável,
estar em estado de sonambulismo aquando da celebração.
24
E não se exclui a possibilidade de o nubente responder, no momento da celebração,
a uma outra pergunta que não a de saber se quer contrair casamento: responde, por
hipótese, à madrinha, que sabe da sua hesitação em casar e o questiona sobre a
vontade de que o ajude nesse sentido, que sim, que pretende que ela efetivamente
o ajude a sair do local e não casar.
Veremos, mais adiante, que a solução legal para as situações de erro sobre a
identidade do outro nubente, a invalidade, prevista no art. 1635 nº 1 alíneas a) e b),
diverge do regime geral das consequências jurídicas atribuídas às demais
declarações negociais inválidas em geral pelo art. 246.
Por outro lado, recorda-se que a doutrina vem entendendo que os vícios requeridos
para o casamento civil não coincidem com os vícios existentes em sede de
casamento católico.
Pode suceder que um dos nubentes engane o outro sobre a sua personalidade ou
vida pessoal, a fim de conseguir que este outro se seduza pela sua alegada
personalidade ou vivência e assim opte por casar.
A lei não atribui relevância à figura do dolo nesta sede – não o considera fundamento
de invalidade do casamento. Em matéria de casamento, a vontade de enganar não
releva. Com efeito, segundo o entendimento legislativo, na senda de uma opção
doutrinária discutível, mas que tem acolhimento na lei, a sedução e o desejo de
agradar compatibilizam-se com a estratégia das relações pré-nupciais. E, com efeito,
seria uma impossibilidade evidente procurar motivo relevante para inquinar o
casamento pela circunstância de um dos nubentes ter procurado ludibriar o outro
acerca da sua personalidade e afigura-se destituído de sentido, invalidar tal
casamento.
Leite Campos: “julgo que o legislador foi demasiado influenciado por um a certa ideia
de proteção ao casamento, de garantia de permanência dos casamentos
“validamente” celebrados”.
REGENTE: a solução a adotar será hoje de favorabilidade ao regime legal. Com efeito,
a abertura legislativa que se propiciou ao divórcio constitui forma direta de pôr cobro
a uma situação cuja prova quase nunca será suscetível de se fazer com facilidade. É
25
mais ágil, em muitos casos em que o erro provoca uma rejeição do cônjuge, provar
a verificação de rutura do casamento, caso entenda que o erro em que incorreu
torna a vida comum insustentável do que produzir a prova de que o ardil ocorreu
antes do casamento se celebrar.
Pode suceder que, muito embora se releve uma vontade de celebrar o contrato de
casamento, este não tenha finalidade matrimonial. Ou seja, que não pretendam os
nubentes constituir plena comunhão de vida, apenas utilizando a celebração do
casamento como um expediente para obter outro efeito. Ex: dois nubentes que se
casam para obter a nacionalidade a nacionalidade do outro. Caso de simulação do
casamento (art. 1635º/1/d). Esta simulação também pode ocorrer por outros
motivos, como benefícios fiscais.
O casamento supõe vontade livre. Não deve ser celebrado havendo coação sobre
qualquer dos nubentes. Caso tal aconteça, será anulável, nos termos do art. 1638.
Art. 1634ºCC- presunção de vontade. Mas estas situações de vícios excluem esta
presunção de vontade. No entanto, tem de haver prova para a exclusão da mesma.
26
Erro Vício
A lei requer que a vontade do nubente não se sustente em erro sobre as qualidades
essenciais da pessoa do outro. Nos termos do art. 1636 “o erro que vicia a vontade
só é relevante para efeitos de anulação quando recaia sobre qualidades essenciais
da pessoa do outro cônjuge; seja desculpável e se mostre que sem ele,
razoavelmente, o casamento não teria sido celebrado”.
A lei suscita neste ponto dificuldades de certa relevância. Tais dificuldades reportam-
se à determinação da expressão legal: “qualidades essenciais da pessoa do cônjuge.
Por vezes, o conhecimento da etnia do outro nubente é determinante pois lhe pode
ser conatural uma certa forma de interpretar certos aspetos da existência, e
consequentemente, de agir sobre eles. A vida comum pode ser completamente
diferente se o nubente se pauta por certos ritos e o omitiu à pessoa com quem vai
casar.
Era importante há 100 anos saber se o cônjuge era europeu nascido em Espanha,
Portugal ou na Bélgica. Mas considerar hoje a nacionalidade um fator determinante
da razão de casar ou de não casar com A, afigura-se muito improvável, em vários
casos.
Admitimos que seja chocante e censurável que não tenha sido dita a verdade sobre
qualquer um dos aspetos referenciados. Mas esse é outro ângulo da questão. Releva
um traço de caráter, não uma qualidade essencial da pessoa.
Por isso, é tão difícil identificar um critério de determinação dos casos que
consubstanciam erro vício.
27
O legislador de 77 criou no art. 1636 um conceito aberto, a preencher por via
doutrinária e jurisprudencial. É difícil eleger os casos juridicamente relevantes que
podem constituir candidatos à integração no conceito de erro sobre as qualidades
essenciais.
Mas é do mesmo modo hoje claro e compreensível que a maioria da doutrina não
aceitou a leitura interpretativa de 77 como um repto no sentido da continência.
Escreve-se que vale o erro sobre a esterilidade, sobre a nacionalidade... Como se a
complexidade do género humano não incutisse tolerância e abertura, antes
acrisolamento num paradigma estreito, que ou se aceita e está bem, ou se rejeita.
→ É todo aquele em que incorre quem está sendo vítima de astúcia, um estratagema
tal, que a perspicácia corrente não permitiria desfazer.
28
tem natureza que aumenta exponencialmente os talentos de ocultação do paciente,
no caso, do nubente que oculta a verdade. A esquizofrenia fará parte do leque.
O erro deve ser próprio, ou seja, não deve recair sobre a existência do casamento
ou sobre circunstâncias que, logo e só por si, obstem ao casamento.
Para o prof. Jorge Duarte Pinheiro o erro só é impróprio quando recai sobre a
inexistência do casamento. Nos casos em que recai sobre circunstâncias que
inquinam a validade do casamento (Ex: a idade dos nubentes) são um erro próprio.
Assim, se A casa com B convencido de que B tem idade núbil, quando na verdade
apenas tem 15 anos, pode suceder que só venha a descobrir este facto anos mais
tarde, em altura em que já não poderá invocar a invalidade do casamento. Porém,
como o momento da descoberta do erro é o momento a partir do qual se inicia o
prazo para o fazer valer, estará em tempo útil para intentar uma ação de invalidação
do casamento.
Á primeira vista, assiste-se razão ao prof. Com efeito, o logro só foi conhecido muito
tempo depois e questiona-se se não deverá ainda revelar como fundamento de
invalidade do casamento contraído sob embuste.
A prof. Margarida da Silva Pereira defende que não deve ser invocada a invalidade.
Aquilo que ao tempo da celebração do casamento era uma qualidade essencial da
pessoa de B há muito que deixou de o ser e o casamento não foi dissolvido por outro
motivo.
Tem coerência jurídica invalidar agora este casamento? A regente afirma que não,
pois caso contrário, estaria a admitir-se que o dolo releva e não o erro sobre as
qualidades essenciais do cônjuge. Ora, anos depois de cessar a falta da idade núbil,
não persiste a qualidade essencial que fundava o erro.
29
É ainda necessário que, caso fosse conhecido o motivo que fundamenta o erro, o
casamento não tivesse sido contraído. Ou seja, não basta que um nubente incorre
em erro sobre a qualidade essencial, mas adita-se o juízo que a generalidade das
pessoas faria: era, para o senso comum, aceitável que o nubente em erro não
contraísse o casamento? O legislador apõe um critério puramente objetivo à
valoração do erro. O erro vício é o erro que a generalidade das pessoas aceita como
obstáculo ao casamento. REGENTE: o pressuposto legal é deveras infeliz.
A lei enumera-os de acordo com uma técnica que separa duas categoriais:
30
Impedimento dirimente absoluto por falta de idade núbil:
Por um lado, a idade nupcial que vigorou até 1977 era a de que as raparigas podiam
casar com 14 anos e os rapazes com 16 anos. A lei mudou, em nome do princípio da
igualdade e do incremento de oportunidades de formação e de escolaridade.
Hoje, o menor de 16 anos, embora podendo casar, carece do consentimento dos pais
ou tutores e, na falta deste, da autorização do conservador do registo civil. Mas
pode, ainda assim, adquirir o estado de casado.
Mas a idade núbil situa-se nos 16 anos. Quem tiver menos de 16 anos, não pode
casar validamente.
O casamento válido requer, segundo a lei, ausência de anomalia psíquica notória por
parte de ambos os nubentes. A anomalia psíquica notória determina, pois, a
invalidade do casamento. E a notoriedade para efeitos jurídico-familiares não é
apenas a notoriedade para o conservador, mas a notoriedade que significa
evidência, suscetibilidade de reconhecimento comum.
A lei usa uma expressão aparentemente clara (“demência notória”) mas não explicita
o que por tal conceito se entende. À doutrina compete esta determinação do
pensamento legislativo.
A lei, cuidadosamente, diz que haverá demência notória mesmo nos “intervalos
lúcidos”.
31
A demência notória é aferível socialmente. Já em caso de decisão de
acompanhamento do maior, verifica-se impedimento dirimente, como referenciado
no art. 1601. Nestas situações, houve lugar a decisão judicial de acompanhamento e
o conhecimento no processo preliminar está bem mais facilitado.
O problema mais complexo diz respeito àquelas patologias que são de gravidade
indiscutível, mas nem sempre cognoscíveis pela generalidade das pessoas.
→ Cremos que se deverá entender que sim (MSP). A doença mental é muito grave e
sobretudo isso importa ao legislador, como fundamento de invalidade de um
casamento.
STJ, 27-01-2005: Para efeitos do disposto no art. 1601º, alínea b) do CC, deve
entender-se como demência o conjunto de perturbações mentais graves que
alteram a estrutura mental das pessoas em causa, com profunda diminuição da sua
atividade psíquica, tornando-se incapaz de reger a sua pessoa e bens. A demência é
notória, designadamente quando seja objetivamente reconhecível ou reconhecida
no meio.
A lei procura evitar o casamento que dê origem a situação de bigamia. Assim, até à
dissolução do casamento anterior, não pode alguém contrair novo casamento.
A bigamia constitui crime, nos termos do Código Penal (art. 247). Mas o Código Cívil
acautela toda a tramitação que faz cessar o casamento anterior,
independentemente de o agente ter ou não ter plena consciência dessa tramitação.
Por motivos de segurança jurídica, também, enquanto decorrerem diligências
relativas à invalidação ou cessação do primeiro casamento, não terá lugar o segundo.
32
Trata-se de um impedimento dirimente que vigora erga omnes1.
Invalidades
1
Vigora face a todos os indivíduos.
33
Regime das invalidades do casamento contraído com impedimentos dirimentes
→ Legitimidade:
→ Aos cônjuges;
→ Aos seus parentes na linha reta e aos parentes até ao 4º grau da linha
colateral;
→ Aos herdeiros ou adotantes;
→ Ao Ministério Público.
→ O tutor;
→ O acompanhante com poderes para o efeito;
→ O primeiro cônjuge do infrator, no caso de bigamia.
Os prazos para proposição das ações de invalidade não são os mesmos para todos
os casamentos contraídos com impedimento dirimente.
Segundo a lei:
34
→ Nos casos de condenação por crime de homicídio ou por cumplicidade no
homicídio ou cumplicidade no homicídio contra pessoa do anterior
cônjuge daquele cônjuge que celebrou casamento com o viúvo, o prazo
da ação e de 3 anos após a celebração do novo casamento (art.
1643º/1/b).
→ Ao Ministério Público é reconhecida legitimidade para instaurar a ação de
invalidade, em todas as situações já mencionadas, até à dissolução do
casamento (art. 1643/2). Assim, pergunta-se: o que acontece quando
menor completa os 18 anos, casara-se com 15, a ação não é posta por
ninguém, e o menor não confirma o casamento? O ministério público
pode depois vir a anular o casamento (até à sua dissolução- não tem um
prazo), durante toda a vigência do casamento, sendo que o fundamento
continua a ser o impedimento;
→ E, em todos os outros casos em que o casamento tenha sido celebrado
com impedimentos dirimentes, o prazo competido às pessoas referidas
decorre até 6 meses após a dissolução do casamento. Que casos são
estes? (art. 1643º/1/c):
o A existência de grau de parentesco que obste ao casamento;
o A existência de relação de afinidade em grau que obste ao
casamento (1º grau);
o O casamento anterior não dissolvido, católico ou civil, ainda que o
respetivo assento não tenha sido lavrado no registo do estado civil;
Regime das invalidades dos casamentos contraídos com falta ou vício da vontade
de casar
35
→ Legitimidade:
Em caso de simulação de casamento, poderá a ação ser intentada pelo cônjuge cuja
vontade não existiu, bem como por outras pessoas prejudicadas com este
casamento.
Nos outros casos, poderá o cônjuge instaurar a ação, sendo possível prosseguirem
nela os seus parentes ou afins na linha reta, herdeiros ou adotantes, em caso de
falecimento do cônjuge durante a causa (nº 2 do art. 1640).
Os colaterais são assim afastados deste âmbito, que se revela muito restrito. A
questão de acompanhamento não se coloca, pois estamos perante cônjuges não
carentes de acompanhamento legal.
Para os casos de vício da vontade de casar, apenas o cônjuge que tenha sido alvo da
atitude enganadora do seu nubente, pode intentar a ação. Já podem prosseguir nela,
se falecer o autor da sua pendência, os parentes e afins na linha reta, herdeiros ou
adotantes (art. 1641).
Não faria sentido, também neste caso, conceber pessoas lesadas com o casamento
que não o próprio cônjuge alvo de erro. Terceiros podem de novo, prosseguir na
ação. Procura-se circunscrever a um grupo restrito de agentes, familiares próximos,
a propositura da ação, em quase todas estas situações.
→ Prazo:
No caso de erro vício a ação caduca, se não for instaurada no prazo de 6 meses
subsequentes à cessação do vício (art. 1645).
36
A lei admite a validação do casamento anulável desde que verificados 2
pressupostos:
37
Estes são casamentos que a lei considera válidos, pois os cônjuges tinham a
necessária liberdade e capacidade para celebração, mas são ainda casamentos que
contêm irregularidades. Os impedimentos impedientes possuem, pois, gravidade
bem menor do que os impedimentos dirimentes.
São eles:
38
conjugal igualitária. O conservador dando-se conta de tais circunstâncias, não
celebra o casamento.
A lei acautela ainda todos aqueles que tenham sido destinatários de vínculos de
tutela ou cujos bens tenham sido administrados pelo ora nubente, estipulado que o
impedimento impediente ao casamento se estende ainda aos “parentes ou afins em
linha reta, irmãos, cunhados ou sobrinhos, enquanto não tiver decorrido um ano
sobre o termo da incapacidade e não estiverem aprovadas as respetivas contas” –
art. 1608.
→ Neste caso não houve ainda condenação do nubente. O que existe, é a forte
suspeita pelo tribunal de que o agente matou ou tentou matar o anterior cônjuge do
seu nubente. Mas ainda não decidiu nesse sentido e pode nem sequer vir a decidir.
39
Há casos em que a celebração de casamentos com impedimentos impedientes se
verifica, por não terem estes impedimentos sido devidamente observados e
dispensados pelo conservador, ou ainda, nos casos em que isto não é possível,
embora a lei aplique sanções que entende adequadas. Estes casamentos terão
irregularidades e impendem sobre eles sanções.
Examinando-os, concluímos:
→ O menor que casa sem consentimento continuará sendo tratado como menor,
sendo os bens que leve para o casal administrados por quem exercia a
responsabilidade sobre si (art. 1649/1 e 2); e nunca respondem tais bens por
dívidas contraídas por um ou pro ambos os cônjuges no mesmo período. Esta
consequência jurídica visa sobretudo proteger o menor. Atendendo
fundamentalmente aos interesses do menor, não se configura uma verdadeira
sanção em sentido técnico-jurídico, mas antes, um expediente para acautelar os
interesses do menor e também de terceiros com quem ele se relacione no
comércio jurídico no estado de casado, durante a sua menoridade;
→ Tio/a e sobrinha/o que casem sem terem obtido a dispensa do conservador não
podem receber doações um do outro, nem tão pouco deixas testamentárias (art.
1609 e 1650). A mesma sanção vale para casamentos referenciados na alínea d)
do art. 1604. Quem o celebra deve receber uma sanção, que será em regra
patrimonial (ex: perdem as doações que tenham recebido um do outro). Na
nossa ordem jurídica são sempre muito precárias, porque são revogáveis a todo
o momento (art. 1765). Quanto às deixas testamentárias a um cônjuge, aplicar-
se-ão à quota disponível do testador;
Casamento Católico
40
invalidade. No entanto, a Igreja pode intervir neste processo, apresentando
documentos e todo o material probatório que entenda pertinente.
Casamento Putativo
Ao casamento inválido e como tal declarado judicialmente, não está vedado produzir
efeitos. O conceito que a lei elege para retratar o casamento judicialmente declarado
inválido é o de casamento putativo. A sede legal é o art. 1647.
E uma terceira corrente entende que se trata de uma instituição autónoma (Prof.
Pires de Lima).
41
O casamento putativo não é um casamento, é uma realidade nula ou anulada, que
produz efeitos jurídicos próprios, mas não se aproxima do casamento nem repristina
o seu sentido na ordem jurídica.
Conclui-se que o conceito legal de boa fé não é apenas psicológico, mas normativo,
pautado por critérios éticos, visando proteger quem celebrou o casamento com
consciência do vício em que este incorria (caso de coação), mas em circunstância
compreensível.
E, para o caso de apenas se verificar boa fé por parte de um dos cônjuges, dispõe o
nº 2 que só esse cônjuge pode arrogar-se dos benefícios do estado matrimonial e
opô-los a terceiros.
42
Assim, mantém-se produção de efeitos:
→ Relativos à descendência;
→ Relativos aos próprios cônjuges (o cônjuge de boa fé conserva o seu
direito a receber alimentos do cônjuge putativo- art. 2017ºCC; também se
fala no casamento putativo no âmbito das doações para o casamento e
entre casados- art. 1760º1/a) e art. 1766º/1/b)).
→ Relativos à proteção de terceiros que tenham negociado com os cônjuges.
STJ: O decisor teve em consideração que a boa fé, presumida, carece de ser provada.
E reconheceu a ligação intrínseca entre a declaração de existência de casamento
putativo e os seus efeitos possíveis.
43
Portanto, são negócios jurídicos bilaterais que antecedem o casamento e que
pretendem fixar o regime de bens do casamento, ainda que, o seu conteúdo se
estenda a outras matérias.
Art. 1710ºCC: as convenções antenupciais são válidas desde que celebradas por
declaração prestada perante funcionário do registo civil ou, em alternativa, por
escritura pública. O art. 1711ºCC visa estipular a obrigatoriedade do registo como
condição de produção de efeitos relativamente a terceiros (atender ao nº2 do
mesmo preceito).
Em causa está determinar o sentido do art. 1714º/2. Deve seguir-se a tese restritiva.
Porquê?
• Porque o regime da imutabilidade das convenções antenupciais é muito
rígido e a ponto de ter deixado de vigorar em alguns países. Por exemplo, na
Alemanha e Suiça vigora regra da mutabilidade;
• Porque o art. 1714º/2 não surge em nexo de continuidade temática com o
regime estipulado no nº1. Ao passo que no nº1 se determina a proibição de
alterar o conteúdo das convenções antenupciais, o nº2 institui, sim, uma
regra de proibição de certos NJ. Trata-se de uma extensão dos efeitos do nº
anterior a NJ claramente identificados pelo nº2. O legislador não afirma que
estes NJ estão submetidos ao princípio da imutabilidade das convenções. O
que determina é a aplicabilidade da proibição (consequência jurídica vertida
no nº1) a certos NJ. O entendimento legislativo é que a participação com
outrem em sociedades de capitais não favorece a dissipação de bens (má
administração) nem fraudes no regime de bens.
45
Princípio da liberdade
As convenções antenupciais regem-se pelo princípio da liberdade. Estas têm uma
importância decisiva no domínio do regime de bens do casamento. É aqui que o
princípio da liberdade de estipulação do seu conteúdo tipicamente se manifesta.
Pois só é possível alterar o regime de bens supletivo (regime de comunhão de
adquiridos), desde que isso ocorra no âmbito de uma convenção. As convenções
antenupciais são o lugar jurídico de estipulação de um regime de bens diferente do
pré-estabelecido na lei.
Art. 1720ºCC:
REGIME IMPERATIVO
46
seja, abrem-se-lhe as portas da comunhão de bens adquiridos. Assim decorre do art.
1699º/2.
47
simples decisão dos cônjuges; necessidade de salvaguardar interesses de
terceiros
NOTA:
NOTA:AC-AC-As
Asdoações
doaçõesentre
entreesposados
esposadossão
sãoas
asdoações
doaçõesfeitas
feitaspor
porumum esposado
esposadoaa
favor
favordodooutro e em
outro vistavista
e em do futuro casamento-
do futuro doações
casamento- condicionais,
doações cuja eficácia
condicionais, cuja
fica dependente da verificação da condição legal (suspensiva) da futura celebração
eficácia fica dependente da verificação da condição legal (suspensiva) da futura
do casamento- facto incerto e do qual depende a eficácia da doação- esta já existe,
celebração do casamento- facto incerto e do qual depende a eficácia da doação-
mas não tem efeitos. Art. 1756ºCC- se os nubentes aceitarem o regime supletivo e
esta já existe, mas não tem efeitos. Art. 1756ºCC- se os nubentes aceitarem o
fizerem uma escritura de doação, deixando claro que se trata de um negócio
regime supletivo e fizerem uma escritura de doação, deixando claro que se trata
prénupcial e por causa do casamento, estaremos perante uma convenção
de um negócio pré-nupcial e por causa do casamento, estaremos perante uma
antenupcial e a doação será formalmente válida.
convenção antenupcial e a doação será formalmente válida.
Estão excluídas das doações para o casamento quaisquer liberalidades, inter vivos
ou mortis causa, que os esposados estipulem, na convenção antenupcial, a favor de
terceiros- exógena aos interesses do casamento. Regimes jurídicos diferentes:
consequências jurídicas em caso de ingratidão para com o doador. Nos termos gerais
do contrato de doação, poderá a mesma ser revogada pelo doador, unilateralmente,
uma vez que preencha os requisitos legais da ingratidão (art. 974ºCC). Porém, sendo
a doação feita para o casamento, não é revogável unilateralmente (art. 975º/a). A
doação para o casamento caduca se o casamento vier a ser declarado inválido (art.
1760º/1/a).
48
Doações por morte e deixas testamentárias
Invalidade e caducidade
49
→ A convenção antenupcial caduca em certas circunstâncias: «no caso de o
casamento não ser celebrado dentro de um ano, ou se, tendo-o sido, vier a
ser declarado nulo ou anulado, salvo o disposto em matéria de casamento
putativo» - art. 1716ºCC.
Regime de Bens
O art. 1698 afirma o princípio da liberdade do regime de bens: “os esposos podem
fixar livremente, em convenção antenupcial, o regime de bens do casamento (...)”.
Assim sucede:
50
Comunhão de bens adquiridos
O princípio ínsito ao nosso atual regime legal supletivo é o de que devem ser próprios
– ou seja, integrados na comunhão – os bens de que cada cônjuge for titular antes
do casamento, e também os que receba por doação ou a título de herança. E
consideram-se bens comuns os bens que os cônjuges angariam no decurso da sua
comunhão de vida matrimonial.
Por outro lado, o regime de comunhão de bens adquiridos que vigora entre nós
traduz em grande incoerência entre a titularidade dos bens e os poderes efetivos de
cada cônjuge sobre alguns bens próprios do outro.
Apesar de todas as críticas feitas a este regime, a prof. Margarida Silva Pereira,
afirma que o legislador andou bem em considerar que o salário dos cônjuges é um
bem comum, caso dois cônjuges contraiam casamento e, não celebrando convenção
antenupcial, seja a comunhão de adquiridos que vigora no seu casamento.
Pois o que os cônjuges estabeleceram, foi uma “plena comunhão de vida”. Ora, os
salários dos cônjuges são, por regra, a sua única ou principal fonte de rendimento, e
são desiguais tendencialmente, uma vez que, persiste, a nível mundial, uma
desigualdade que reflete um desequilíbrio salarial e de perceção de rendimentos do
trabalho em geral entre homens e mulheres mesmo com iguais níveis de
habilitações.
51
→ Os bens que cada cônjuge tenha ao tempo da celebração do casamento 2;
→ Os bens que advierem a cada cônjuge depois do casamento por sucessão
ou doação;
→ Os bens adquiridos do matrimónio por virtude de direito próprio anterior.
A lei vai mais longe no elenco de bens próprios. Assim, são-no também:
2 Inclui-se aqui também as poupanças realizadas com salários auferidos antes do casamento.
52
Em regime de comunhão de bens adquiridos há um acervo expressivo de bens
integrados na comunhão, que o legislador não deixou de enumerar.
A lei atendeu ainda à determinação da titularidade daqueles bens que, tendo sido
adquiridos em parte como bens próprios de um dos cônjuges e em parte como bens
comuns, revestem a natureza da mais valiosa das duas prestações (art. 1726/1).
Mas, nos casos em que a aquisição se realiza em parte com bens próprios e em parte
com bens comuns, e as prestações são desiguais, a natureza do bem é a natureza da
prestação mais valiosa. O legislador louvou-se na vantagem que representa atribuir
a mesma natureza a todo o bem que se adquire. Esta razão de ser da solução vertida
no nº 1 do art. 1726.
O cônjuge cujo património tenha sido lesado apenas poderá ser compensado,
contudo, no momento da dissolução e partilha da comunhão (art. 1726/2).
A lei indica no art. 1727 ao art. 1729, outras situações em que os bens são
considerados próprios de um dos cônjuges.
Compete distinguir, no domínio das doações feitas a um dos cônjuges, e bem assim
no caso de deixas testamentárias, os casos em que o próprio doador ou testador
afirma que tais bens entram na comunhão. Nesse caso, a liberalidade considera-se
conjunta e os bens são comuns (art. 1729). Do que verdadeiramente se trata, é de
doação ou deixa testamentária que realmente visou beneficiar ambos os cônjuges.
Nos termos do art. 1730, cada um dos cônjuges participa por metade no ativo e no
passivo da comunhão, sendo nula qualquer estipulação em sentido diverso. Cada
cônjuge pode fazer doações em favor de terceiro por conta da sua meação
(compósito de bens suscetíveis de divisão) nos bens comuns.
53
O art. 1731 versa sobre o regime jurídico dos instrumentos de trabalho que tenham
entrado no património comum por força do regime de bens. O cônjuge que deles
necessita tem o direito a ser encabeçado neles no momento da partilha, com caráter
prioritário.
A lei regula este regime atualmente nos art. 1732 e ss, estipulando que, nestes casos,
o património comum é constituído por todos os bens, presentes e futuros, dos
cônjuges.
A enumeração dos bens incomunicáveis neste regime surge de seguida, no art. 1733,
de acordo com a tipicidade apertada.
54
Os seguros vencidos em favor da pessoa de cada um dos cônjuges ou para
cobertura de riscos sofridos por bens próprios;
Os vestidos, roupas e outros objetos de uso pessoal e exclusivo de cada
um dos cônjuges, bem como os seus diplomas e a sua correspondência;
As recordações de família de diminuto valor económico;
Os animais de companhia que cada um dos cônjuges tiver ao tempo da
celebração do casamento.
Este é o regime de bens imperativo para alguns casamentos. Pode, também, ser a
opção de qualquer casal que não esteja vinculado ao regime de separação de bens,
de acordo com estipulação em convenção antenupcial.
55
Art. 1735: “Se o regime de bens imposto por lei ou adotado pelos esposados for o da
separação, cada um deles conserva o domínio e fruição de todos os seus bens
presentes e futuros, podendo dispor deles livremente”.
A lei entendeu por bem que mesmo em regime de separação de bens existem regras
que desvirtuam a total separação patrimonial entre os cônjuges.
Assim, não é possível exercer direitos sobre a casa de morada de família, mesmo que
esta seja o bem próprio de um dos cônjuges, sem a autorização do outro.
O art. 1678/1 defere, por regra, ao cônjuge a administração dos bens de que seja
proprietário. Contudo, em circunstâncias especiais, esta regra da administração dos
bens de que o cônjuge é proprietário não se aplica.
Assim:
Em relação aos bens comuns, é regra a administração conjunta, sem prejuízo de casa
cônjuge poder praticar por si só atos de administração ordinária (nº 3 do mesmo
artigo).
56
Existem, ainda, bens comuns que deverão ser administrados exclusivamente pelo
cônjuge titular de uma ligação especial com os mesmos bens (nº 2 do mesmo
preceito).
O nº 3 deste artigo atende aos casos em que, sem mandato escrito, mas com
conhecimento e sem oposição expressa do outro cônjuge, um dos cônjuges entra na
administração dos bens próprios daquele ou dos bens comuns que não administre,
aplicando as regras da administração fundamentada em mandato.
A alienação ou oneração dos imóveis próprios e comuns, contantes das alíneas a),
b), c), d) e), f) do art. 1678/2 cabe a cada cônjuge.
57
A administração dos bens do casal é considerada relevante pelo legislador, ao ponto
de admitir que uma má administração constitua fundamento de separação judicial
de bens. Assim, nos termos do art.1767, qualquer cônjuge pode requerer esta
separação, sempre que entenda estar em perigo de perder o que é seu devido à má
administração do outro cônjuge.
Em caso de inabilitação do cônjuge lesado, pode ser intentada por ele ou pelo
curador, mediante autorização judicial (1769/3).
Uma vez decretada a separação de bens por esta via, será esse o regime de bens que
vigora, procedendo-se à partilha, tal como se o casamento tivesse sido dissolvido –
art.1770/1.
A lei acautela a posição do cônjuge não administrador face aos comportamentos que
entenda não corresponderem a uma boa gestão dos bens do casal pelo outro
cônjuge. Assim, poderá tomar providências: tanto no caso de haver impossibilidade
por parte do outro cônjuge de administrar e ele não diligencie uma alternativa, como
no caso de o retardamento das providências de administração que se impõem estar
a provocar prejuízos (art. 1679).
58
Cada cônjuge pode legitimamente alienar ou onerar inter vivos os móveis próprios
ou comuns que administre, nos termos do art.1678/1 e das alíneas a) a f) desse
artigo, segundo o art.1682/2.
A lei exige para o consentimento do cônjuge, nestes casos, a forma requerida para a
procuração; a admite que possa haver suprimento judicial do consentimento, nos
casos estritos em que se verifique injusta recusa. – art.1684/2. Também a
impossibilidade de o prestar poderá determinar que a autorização seja judicialmente
suprida (art. 1684/2 e 3).
59
Responsabilidade por dívidas
Há que fazer a distinção entre dívidas para ocorrer aos encargos da vida familiar, e
dívidas que aproveitam ao casal. Estas últimas são dívidas que interessam a ambos
os cônjuges, se bem que possam não ocorrer a encargos da vida familiar (ex.
investimento em bens artísticos ou na remodelação de um prédio; os encargos da
vida familiar não foram satisfeitos deste modo e, todavia, a dívida contraída
aproveitou o casal).
O proveito comum não se presume, exceto nos casos em que a lei o declare (1691/3).
Deverá o cônjuge que contraiu a dívida prová-lo.
Apenas nos casos em que os bens em questão ingressem no património comum por
força do regime de bens, a responsabilidade pelas dívidas será comum. O cônjuge
aceitante poderá, todavia, impugnar o seu cumprimento, fundamentando a
impugnação com base na insuficiência dos bens para a satisfação dos encargos
(1693/2).
60
Quando as dívidas são da responsabilidade do casal, respondem primeiro
os bens comuns e, na sua falta ou insuficiência, solidariamente, os bens
próprios de qualquer deles; apenas no regime de separação de bens a
responsabilidade não é solidária (1695º/1 e 2).
Quando os bens são da responsabilidade exclusiva de um dos cônjuges,
respondem os bens próprios do cônjuge devedor; subsidiariamente,
responde a sua meação nos bens comuns (1696/1).
1696/2 - Para além dos bens próprios do cônjuge devedor, respondem certos bens
comuns.
União de Facto
Introdução
São necessários dois anos de vida conjunta para se qualificar o casal como unido
de facto.
61
A qualificação familiar da união de facto coloca fim, no nosso entendimento, a uma
dúvida sobre motivos que poderiam suspender ou determinar a interrupção da
contagem do prazo para a produção de efeitos jurídicos.
Pois a vida em condições análogas às dos cônjuges implica que não haja fundamento
para distinguir as consequências jurídicas da vida conjugal e da vida em união
informal.
Por outro lado, relembra-se que o dever de coabitação do art. 1673 conhece
exceções. Assim de acordo com o art. 1673/2, os cônjuges devem adotar a residência
da família “salvo motivos ponderosos em contrário”.
→ Não se afigura que haja motivo para considerar que seja impeditivo de união de
facto e que esta seja interrompida em casos de domicílio não coincidente, quando
este é determinado por razões ponderosas.
É certo que a prova do decurso de dois anos, se é sempre complexa, se torna ainda
mais complicada nestas circunstâncias. Assim, no caso de ser solicitado à junta de
freguesia documento comprovativo de que a união de facto existe, esta apenas
poderá atestar que os companheiros iniciaram vida comum na mesma residência,
que esta residência continua a ser, apesar da distância que os separa, um ponto de
referência da vida comum.
De salientar que o período de dois anos, essencial para a existência jurídica e para a
produção de direitos e benefícios aos membros da união de facto, não impede,
todavia, que se salvaguardem os interesses legítimos de terceiros que se relacionem
com duas pessoas que vivem em condições análogas às dos cônjuges antes d
completado este período.
Impõe requisitos que, como se verá, se diferenciam em vários aspetos dos termos
em que o art. 1601 regula os requisitos do casamento.
63
União de Facto Constituída tendo um ou ambos os Unidos de Facto o Estado de
Casado
É verdade que esta situação não configura o crime de bigamia previsto no art. 247
do CP. No entanto, o legislador abstrai agora do desvalor, também ético, que esteve
na origem do crime de bigamia, entrado em vigor muito antes do reconhecimento
pela lei de outras instituições de tipo conjugal.
Início e Cessação
64
A união de facto não possui regime de bens, nem regras jurídicas sobre
administração de patrimónios, nem ilegitimidades de disposição, responsabilidade
por dívidas, proibição de contratos, nem regulação de participação em sociedades.
Os efeitos sucessórios também não existem para os unidos de facto. São, por isso,
aplicáveis as regras gerais do direito das obrigações ao relacionamento patrimonial
dos cônjuges entre si e com terceiros. Assim, podem os membros adquirir bens em
compropriedade e a título pessoal.
Não há bens comuns, nem regras de administração específicas para os bens, ainda
que utilizamos em proveito dos membros da união de facto ou que sejam
considerados utensílios domésticos.
A prof. MSP entende que, a aplicação da figura matrimonial do regime de bens não
é solução adequada. Ela é própria do casamento, e, sendo este uma realidade
constitutiva de família diversa da união de facto, não é admissível a sua aplicação
por analogia com esta última. A maior informalidade que a união de facto exprime
não legitima tal equiparação.
Pode ainda admitir-se que a aplicação de um regime de bens à união de facto, sem
introdução da correspetiva base legal, significaria fraude à lei. Pois, nesse caso,
poderia vigorar um regime de bens idêntico ao do casamento e sem as formalidades
requeridas para este, admitindo que um casal que se constitui informalmente
beneficiasse de todos os efeitos patrimoniais do regime de bens conjugal.
Na constância da união de facto poderão ser contraídas dívidas por qualquer dos
membros.
A maioria das dívidas contraídas pelos unidos de facto não se regem pelo regime
instituído pelo Código Civil para as dívidas contraídas pelos cônjuges.
65
Não há lugar à aplicação analógica do regime do casamento, pois estão em causa
institutos materialmente distintos, o que, atendendo à dimensão material do
princípio da igualdade (art. 13/1 da CRP), desde logo impediria que fossem tratados
da mesma forma.
Sucede muitas vezes que apenas um dos membros da união de facto consta como
adquirente no título de aquisição. Nestes casos, o proprietário é quem efetivamente
constar no título de aquisição do bem, não funcionando uma presunção de
compropriedade semelhante à que vigora no casamento para o regime de separação
de bens para os bens móveis (art. 1736/2).
O art. 3 da LUF elenca, entre os direitos dos membros da união de facto, a proteção
da casa de morada de família.
Os efeitos que a união de facto gera depois da morte de um dos seus membros ou
da rutura, quando tiverem como objetivo a proteção social do membro sobrevivo
que fique em situação débil, não poderão ser desatendidos. Mesmo que os unidos
de facto tenham pretendendo uma quase separação patrimonial em vida, depois da
morte o unido sobrevivo tem direitos que não decorrem da autonomia da vontade.
Assim, em caso de rutura de facto, o membro que vida em casa arrendada pelo
outro, terá direito a optar pela transmissão do arrendamento ou pela concentração
a seu favor. O art. 1105/1 pressupõe, para que este direito se constitua, que o
casamento cesse por acordo. Em vigor, aplica-se, pois apenas às uniões de facto que
cessem por acordo.
66
E, no caso de a rutura da união de facto ser unilateral, caberá ao tribunal decidir,
“tendo em conta a necessidade de cada um, os interesses dos filhos e outros fatores
relevantes”.
Segundo o art. 1793, em caso de rutura da união de facto, podem o tribunal dar de
arrendamento a qualquer dos cônjuges a casa de morada de família, seja ela comum
ou própria do outro, considerando, nomeadamente, as suas necessidades e o
interesse dos filhos. Esse arrendamento fica sujeito às regras do arrendamento para
habitação, podendo, contudo, o tribunal definir as condições do contrato, ouvindo
os cônjuges, bem como fazer caducar o arrendamento, quando circunstâncias
supervenientes o justifiquem – art. 1793/2.
O direito de uso e habitação (art. 1485) consiste em servir-se o titular de certa coisa
aleia e de colher os respetivos frutos, na medida das suas necessidades e das
necessidades da sua família.
O prazo de 5 anos alarga-se sempre que a união de facto tenha tido duração superior
a 5 anos. Em tais casos, a titularidade do direito de uso e habitação tem duração igual
à duração da união de facto – art. 5/2 da LUF.
E qualquer destes prazos pode ainda ser prorrogado por decisão judicial, atendendo
a razões de equidade – art. 5/4 da LUF.
67
A lei estipula, no entanto, uma cláusula de caducidade do direito de habitação e do
uso do recheio de não utilização da casa pelo prazo de 1 ano – art. 5/5 da LUF.
Nos termos do art. 3 da LUF, as pessoas que vivem em união de facto juridicamente
relevante têm direito a:
68
Divórcio
Introdução
Mas este reconhecimento de efeitos não significa que a lei reconheça igualmente a
relação matrimonial anterior enquanto verdadeira relação matrimonial.
No caso do casamento putativo não existe casamento a se, mas antes, efeitos
jurídicos de um negócio jurídico declarado inválido. É a efeitos seus que o direito
atende e, por isso, não se poderá afirmar que cessou um casamento, pois, nos
termos do regime próprio das invalidades, a declaração de invalidade retroai ao
momento da celebração do mesmo negócio jurídico. Surge uma exceção no que toca
às relações de filiação e aos efeitos produzidos para os cônjuges de boa fé e para as
relações com terceiros reflexas.
Nesses casos, o que sucede é que o casamento se mantém, e de tal forma que a
separação que foi decretada pode conhecer o seu termo, não por dissolução do
casamento, mas sim reatando os cônjuges a sua relação matrimonial e com todos os
seus efeitos.
A lei aplica, nos termos do art. 1794, à separação de pessoas e bens o regime do
divórcio, mas com efeitos específicos. Verifica-se que a separação de pessoas e bens
não dissolve o casamento, mas extingue a generalidade dos deveres conjugais,
excecionando o direito a alimentos. Também o dever de respeito se mantém,
implicitamente. Só quanto aos bens se produzem os mesmos efeitos que
decorreriam do divórcio.
69
Diferentemente do divórcio, que termina o casamento e determina, pois, em caso
de mudança de vontade dos ex-cônjuges, que estes voltem a casar um com o outro,
podem os cônjuges pôr termo à separação de pessoas e bens a todo o momento (art.
1795 B) e retomar em plenitude o mesmo casamento.
De acordo com o art. 1796, a reconciliação dos cônjuges, que pode ter lugar a todo
o tempo, deve fazer-se por escritura pública ou por termo do processo de separação
de pessoas e bens, estando sujeita a homologação. Em caso de reconciliação por
termo do processo de separação, a sentença deverá ser oficiosamente registada.
• Idade: não pode ser obtido antes de certa idade- requisito da maturidade;
• Duração mínima do casamento: o casamento deve durar há certo tempo
para que possam os cônjuges requerer o divórcio por acordo- requisito de
convicção;
• Pode estar submetido a procedimentos mais ou menos exigentes: há
regimes jurídicos que impõe um período de reflexão dos cônjuges e outros
admitem o recurso ao divórcio por mútuo consentimento sem tais
imposições;
• Pode ser requerido e decidido judicialmente ou em conservatória do registo
civil: requisito de responsabilidade.
Este tipo de divórcio sofreu alterações no que diz respeito aos seus requisitos.
→ O divórcio litigioso tem lugar quando um dos cônjuges propõe ação contra
o outro cônjuge, alegando violação culposa dos deveres conjugais. Poderá
alegar violação de um ou mais deveres conjugais, assim como imputar ao
outro cônjuge uma culpa mais ou menos intensa quanto a essa violação. O
pedido judicial de divórcio não se fundamenta hoje, em Portugal, na violação
de deveres conjugais – a causa de pedir não é a culpa.
O divórcio por mútuo acordo, contante nos art. 1795 e ss, mantém-se com a
introdução da nova lei – lei nº 61/2008, de 31 de Outubro.
Para que ele ocorra, porém, o legislador impõe exigências muito relevantes:
Se, ainda assim, não for considerado este novo acordo satisfatório pelo Ministério
Público, a sua homologação é recusada e o processo será remetido ao tribunal,
seguindo nesse caso, e com as adaptações que se impõem, a via do divórcio sem
consentimento dos cônjuges, nos termos do art. 1779.
71
A mesma regra se aplica em relação aos acordos sobre alimentos e sobre o destino
da casa de morada de família
Conclui-se, deste modo que, a lei não permite o divórcio por mútuo consentimento
extrajudicial sem acautelar interesses sociais fundamentais, como o direito a
alimentos, à casa de morada de família, o interesse do menor ou menores sobre
quem os cônjuges exerçam as responsabilidades parentais e, por último, o destino
dos animais de companhia.
Divórcio Rutura
Este é o divórcio sem o consentimento de um dos cônjuges. A nova lei aboliu a culpa
como fundamento do divórcio. O legislador decide agora que não será a violação
culposa dos deveres conjugais a fundamental o divórcio, mas antes a “rutura do
casamento”, ou seja, a verificação da existência de fatores que determinam a
insustentabilidade da vida comum.
72
O divórcio sem o consentimento de um dos cônjuges é precedido de tentativa de
conciliação. E, nos casos em que esta não resultar, o juiz procurará obter o acordo
dos cônjuges para o divórcio por mútuo consentimento. A lei revela, também nesta
decisão, vertida no art. 1779/1 e 2, a preocupação de evitar a conflitualidade no final
do casamento.
Deste modo, não bastará que um cônjuge valore dado comportamento ou atitude
reiterada do seu cônjuge como incompatível com a continuação da vida comum. É
necessário que essa conduta seja socialmente entendida como tal.
73
Caso um cônjuge tenha provocado danos ao outro, estes serão apreciados
em processo autónomo à ação de divórcio.
Excetuam-se apenas os casos previstos no art. 1792/2, bem como a alínea b) do art.
1781. Nestes, são apreciadas no processo de divórcio os danos morais causados ao
cônjuge que sofra de alterações das suas faculdades mentais e veja ser proposta uma
ação contra si por esse motivo.
O art. 1790 determina que, nenhum dos cônjuges, poderá, em caso de divórcio,
receber na partilha mais do que lhe competiria receber nos casos em que o regime
de bens estipulado seja o de comunhão de adquiridos.
Nestes outros casos, cada cônjuge seria titular dos bens anteriores ao casamento, tal
como de todos os bens posteriores, excetuados os bens que o art. 1699 contempla
como natureza pessoalíssima.
74
A regra aplica-se também aos casamentos entre duas pessoas, no caso de um dos
nubentes ter filho ou filhos de terceiro, anteriores ao casamento, cujo decesso se
verificou, entretanto. O art. 1699 impede a atribuição da qualidade de bens comuns
aos bens referidos no art. 1722, ou seja, a bens que o regime de comunhão de
adquiridos não integra na comunhão.
Responsabilidades Parentais
Quanto a esta matéria cumpre ainda ter em conta o disposto no art. 1903, 1904,
1904-A, 1905, 1906, 1913 e 1914.
Nos termos do art. 1671/2, cabe a cada um dos cônjuges acordar acerca do modo de
distribuição das funções a desempenhar por ambos em prol da vida familiar.
Porém, uma vez extinta por divórcio a vida conjugal, vem reconhecer a importância
do trabalho doméstico. E assim, estipula que, sempre que um dos cônjuges tivesse
75
ficado especialmente onerado com esta incumbência, deverá ter lugar uma
compensação, devida pelo património comum ao património próprio do cônjuge
domesticamente mais onerado.
Deverá, por um lado, ter havido, por parte do cônjuge requerente da compensação,
uma contribuição “consideravelmente superior” para os encargos da vida familiar; e
esta superioridade deve ser aferida pela demonstração de que houve uma “renúncia
excessiva” à satisfação dos seus interesses, em favor da vida em comum (art.
1676/1).
Por outro lado, a lei contempla a partilha no art. 1689, deixando claro que esta tem
lugar a partir do momento em que “cessem as relações patrimoniais dos cônjuges”.
E, não existindo no regime do divórcio a contemplação específica, será através da
partilha que se procede à divisão dos bens; será então que cada cônjuge recebe os
bens próprios e a meação nos bens comuns.
76
Em regime de separação de bens não se realiza partilha. Poderá, sim, haver lugar a
ações de divisão de coisa comum para o caso de os cônjuges serem comproprietários
(art. 1412 e 1735).
Mais problemático é o sentido da ressalva que a lei adota: “a não ser que vigore o
regime da separação”.
Poderá entender-se que a lei veio afastar o crédito compensatório nos regimes da
separação de bens?
O direito de crédito atribuído ao cônjuge que mais contribuiu para a vida familiar
não é compatível com um outro direito a alimentos, nos termos do art. 2016.
A lei rege a pensão de alimentos pelo critério de necessidade aplicando o art. 1676
de modo autónomo.
E torna expresso, pelo art. 2106/1, que não é reconhecido ao cônjuge o padrão de
vida de que beneficiava na constância do matrimónio.
77
Partilha
Os créditos de cada cônjuge sobre o outro são pagos pela meação do cônjuge
devedor no património comum. Só responderão os bens próprios do cônjuge
devedor caso estes sejam inexistentes ou insuficientes.
Nos termos do art. 1689, uma vez terminadas as suas relações patrimoniais, os ex-
cônjuges ou os seus herdeiros receberão os bens próprios e a meação no património
comum.
78