Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
2ª Parte
Esta ideia representa na ordem político-jurídica uma tendência unitária, tal como a
ideia de Estado. Assim, a fragmentação política medieval principia a ser substituída por uma
tendência convergente do poder, também o pluralismo jurídico da Idade Média cede passo a
uma linha unitária, de que a predominância da lei é expressão.
Passa a existir, portanto, apropriação das fontes criadoras do direito pelo
príncipe/coroa/reino/Estado.
A lei passa a ser definida essencialmente como um preceito autoritário.
Lei – norma ou regra obrigatória imposta pela vontade do superior (imperador, rei, príncipes
ou comunidades não submetidos a um poder superior na esfera internacional – o império –
nem igual na esfera interna).
Lei fundamental – Certas leis constituem o cerne da sociedade e do aparelho político, pelo
que não podem ser derrogadas ou alteradas por desejo próprio dos governantes sem o
consentimento dos estados do reino. Estas são os precedentes da lei constitucional.
Espécie de leis
O conceito lei abrange preceitos jurídicos de diversa espécie:
A elaboração da lei
A elaboração da lei devia obedecer a vários requisitos:
• Observância do bem comum – indispensável para a justiça da norma.
o A lei injusta não tinha valor, pelo que não coagia em consciência e podia
Doutrina de Diogo resistir a esta.
Lopes Rebelo sob • Ser honesta, justa e possível.
influência de S. Isidoro
– séc. XV • Ser conforme a natureza – segundo a razão natural.
• Ser conforme aos costumes da pátria, conveniente ao tempo e ao lugar.
• Ser necessária, útil e clara.
Vigência da lei
O sistema, no que toca à vigência da lei, é o da efetividade em todo o país decorridos
três meses após a publicação na Chancelaria da Corte e independente da publicação nas
comarcas – este princípio é reforçado nas Ordenações Manuelinas e Filipinas. Existia,
contudo, a questão se a lei obrigava aqueles que não tivessem conhecimento dela. Este
problema era equacionado em função da realidade factual.
Dispensa da lei
Se a lei é uma manifestação da vontade do príncipe com força vinculante, este pode
isentar ou dispensar do seu cumprimento certa ou certas pessoas.
A dispensa tinha como requisito a justa causa. Sendo que o entendimento mais
generalizado da doutrina é que sem esta, o ato de dispenso era inválido
• Direito rústico
o Precariedade dos meios de coerção utilizados – a reação aos conflitos não
provinha do poder estatal. Os próprios tribunais eram presididos por
indivíduos que não tinham formação superior. Os juízes eram escolhidos
pelos monarcas, sendo que estes tinham noção da falta de conhecimento
das pessoas que estava a escolher. Houve uma certa tolerância régia.
o Linguagem não era técnica, nem especializada. Era apelidado pelos juristas
como ignorantes, descuidado e sem qualquer noção da realidade jurídica.
O rei combate este facto ao dotar os tribunais de conhecimento da lei para a sua
aplicação, através:
• Positivação dos costumes – já era direito conhecido, por isso, tornava-se
assim fácil aplicá-los.
• Ação dos juízes de fora – eram nomeados pelo monarca para tentar diminuir
ao máximo o desconhecimento dos juízes locais. Apesar disto, eles não eram
bem recebidos na maioria desses municípios.
Compilações de leis pré-ordenações:
• Livro das leis e posturas.
o Não é uma compilação rigorosa.
o Tendem a estar organizadas cronologicamente.
• Ordenações de D. Duarte.
o Estão organizadas por reinados.
• Regimento quatrocentista
o Pode ter sido organizado por D. Duarte.
o Há duas partes distintas
o Estrutura orgânica e funcionamento do tribunal da Casa da suplicação.
Surgem da atividade legislativa desenvolvida pelo monarca, que começou bem antes
do século XV (ex.: Curia de Coimbra). As ordenações tentam arrumar as matérias que já
existiam reguladas.
O conceito de ordenação é bastante diferente do conceito de código.
• Código
o Preenche determinadas regras. É suposto ser científico, sintético e é
suposto haver uma lógica de coerência.
• Ordenações
o Não são códigos em sentido rigoroso e estrito.
o Tinham o objetivo de perpetuar a autoridade de quem as produziu.
o Levavam a uma consciencialização da atividade legislativa, como
atividade normal e corrente do monarca.
o Não cumprem estas regras.
Fontes subsidiárias1
Há uma alteração com a introdução de uma nova fonte – opinião comum dos
doutores.
A epígrafe na versão de 1521 do segundo livro passa a ser “como se resolverão os
casos que não forem determinados pelas nossas Ordenações”. Esta é continuada nas
Ordenações filipinas – livro 3º. Há, portanto, uma tomada de consciência por parte do novo
Ordenações Filipinas
Durante o reinado de Filipe I verificou-se uma atividade renovadora no campo do
Direito. Isto verifica-se através da criação de:
• Relação do Porto.
• Lei da reformação da Justiça.
• Reforma das Ordenações – alguns dos juristas responsáveis por estas são
Jorge Cabedo, Afonso Vaz Tenreiro e Duarte Nunes de Leão.
As Ordenações estavam terminadas em 1595, visto que uma lei de 5 de junho desse
ano manda observá-las. Apesar disso, só com Filipe II se iniciou a vigência das Ordenações
Filipinas, lei de 11 de janeiro. Estas mandavam cessar todas as leis extravagantes, exceto:
• Ordenações da Fazenda – 1516.
• Artigos das Sisas.
• As que se encontrassem transcritas num livro da Casa da Suplicação.
Apesar do preceito da revogação, na prática consideravam-se em vigor muitas outras
disposições.
3 Desatualizadas
4 Pedidos de revisão
5 Não foi continuado o que se tinha começado.
6 Conjunto
7 Informar
Conteúdo
Do texto novo foi retirado o que ao longo dos séculos tinha sido objetivo de lei.
Mantendo-se principalmente prestações e serviços a que a comunidade devia continuar
sujeita. Também se encontram algumas leis gerais – ex.: lei da vizinhança – onde, sem
prejuízo dos usos locais, se definiam:
• Os requisitos de condição de vizinho.
• Indicações relativas a funcionários e aos tabeliães de cada vila.
• Indicações relativas às quantias que se deveriam pagar.
A escassa originalidade transformou-os em documentos significativos para o
conhecimento da vida a instituições locais, mas não se tornou menos importante, visto que
os povos continuavam a considerá-los a carta dos seus privilégios e um símbolo de
autonomia municipal.
Direito canónico
A relevância do direito canónico no contexto das fontes jurídicas está intimamente
ligada com o posicionamento da Coroa frente à Igreja e ao Papado.
Esta ordem normativa é fundamentada pela ideia de que a Igreja representava uma
sociedade distinta da sociedade civil, pelo que tinha a sua disciplina jurídica própria.
A verdade é que a existência simultânea de duas sociedades colocava um problema
de articulação entre as várias realidades em presença, entre as normas que a elas respeitavam
e que delas emanavam.
Direito prudencial
O direito prudencial, trabalhando principalmente sobre o direito romano, em grande
parte deste período continuou a ser importante fonte jurídica.
8 Protestante
9 Ver a pág.
10 Ver página 18.
Tendências bartolistas
Nota-se uma forte tendência para arvorar Bártolo e a opinião comum em critérios
retores de toda a vida do Direito.
Apenas alguns juristas atraídos pelas novidades do humanismo conseguiram superar
a hegemonia ou ditadura intelectual do bartolismo. Porém, este não passou de um fenómeno
efémero, que não teve força para verdadeiramente alterar a marcha das coisas. Portugueses
que impulsionaram o humanismo jurídico:
• Luís Teixeira.
• Luís Álvares Nogueira.
• António de Gouveia.
A verdade é que a cultura jurídica portuguesa pouco respira da escola culta e não
consegue suplantar em definitivo o bartolismo.
Recordar S. Tomás de Aquino – lei natural, lei divina, lei eterna, etc.
A escola ibérica do direito natural, também conhecida por alguns autores como a
escola espanhola do direito das gentes – desenvolvimento peninsular da própria escolástica,
que tinha sido provocado pelo advento da contrarreforma, é a escola que prossegue à revisão
das posições de S. Tomás de Aquino, como é um exemplo o entendimento que vai fazer do
direito natural. Características:
• Laicização do direito.
• Importância dada à razão natural – as leis são suficientemente explícitas para
serem conhecidas pela razão humana. Há uma valorização muito grande da
capacidade racional do Homem para compreender os princípios do próprio
direito.
• Logicicação do direito – crença na razão e nos próprios mecanismos lógicos
que permitem encontrar o direito (Suaréz).
O Homem deve respeitar as suas inclinações naturais, que provêm da sua natureza
racional.
A Lei da Boa Razão é uma lei de 18 de agosto de 1769, quando surgiu não se chamava
assim, passou a ser assim conhecida no seguimento de um comentário feito por José Homem
Correia Teles – autor civilista do séc. XIX – que vem apelidá-la assim, exatamente pelas
referências contantes que encontramos ao longo da lei a este elemento.
Nesta encontramos uma restrição significativa da opinião comum dos doutores, da
autoridade e uma crítica feroz relativamente à aplicação feita pelos juristas e juízes
Aspetos
Nota: nesta década de virada face ao consulado de Pombal, vive-se, na classe política, um
período de convulsão entre as vindictas saneadoras e os receios revolucionários.
Melo Freire, um dos maiores executadores das reformas de Pombal, teve de sofrer
as consequências da “despombalização”, em que se destaca José de Seabra da Silva, o
secretário de Estado dos negócios do Reino de D. Maria I e autor do decreto de 3 de fevereiro
e responsável pela censura que impediu que o Novo Código fosse promulgado.
Melo Freire refere que a própria Historia JusrisCivilis Lusitani – redigida em 1777,
mas apenas impressa em 1788 – fora objeto de censura severa conduzida por António Pereira
Direito comercial
O tema da codificação comercial em Portugal durante o século XIX está ligada ao
nome de Ferreira Borges, autor do projeto que haveria de converter-se no Código Comercial
de 1833.
A questão do Código Comercial aparece pela primeira vez debatida nas Cortes em
sessão de 3 de fevereiro de 1823, em que é discutido um projeto datado de 6 de dezembro
de 1822 em que se refere que o comércio é a principal fonte de riqueza de uma Nação e não
podia prosperar sem uma legislação adequada. Era necessário um código de comércio que:
• removesse obstáculos como fragmentação, a dispersão e a insuficiência.
• fixasse os princípios das transações mercantis.
• fizesse desaparecer os usos locais e estrangeiros, refundindo-se num sistema comum.
Era, portanto, necessário sistematizar num só código normas e princípios reguladores da
atividade mercantil, visto que esta exigia, para segurança das suas transações, um direito claro
e certo. Os princípios deviam ser os adotados por todas as nações comerciantes, a linguagem
pura e clara, a distribuição das matérias determinada pela sua maior ligação.
Depois de várias tentativas falhadas pelas Cortes de chegar a uma conclusão no que toca
ao Código Comercial, é num decreto assinado por Mouzinho da Silveira a 18 de agosto de
1832 que decide criar uma comissão composta por cinco membros e a fim de redigir o código
comercial e criminal. No entanto, meses depois Joaquim António Magalhães sugere que ao
regente D. Pedro uma reformulação total da comissão anterior. A esta comissão é também
atribuída a tarefa de proceder imediatamente à divisão judicial do Reino, começando pelas
províncias do Minho e de Trás-os-Montes. Estava mais uma vez inviabilizado o sucesso das
comissões parlamentares ou governamentais na feitura dos códigos.
Vai ser produto do trabalho individual de Ferreira Borges a elaboração do primeiro
código de Direito Comercial português, este foi elaborado em Londres no seu exílio e
aprovado por Decreto de 18 de setembro de 1833.
Assim, entra em vigor o primeiro dos códigos modernos portugueses. É constituído por
1860 artigos, dividido em 3 partes.
Fontes legislativas e doutrinais do Código de 1833:
• Os códigos conhecidos da Prússia, Flandres, França, Espanha e o projeto do
Código de Espanha.
• Leis comerciais de Inglaterra.
• Direito da Escócia.
• Ordenações da Rússia e da Alemanha
• Todas as coleções marítimas.
Direito penal
No começo do liberalismo, no primeiro quartel do séc. XIX, o direito penal
português assentava ainda, na sua base legislativa, no livro V das Ordenações Filipinas, sendo
que o sistema penal mantém as mesmas características que já apresentava nas Ordenações
Afonsinas e Manuelinas:
• A pena de morte é largamente utilizada, bem como as penas corporais e
infamantes.
• A prisão tem um caráter sobretudo preventivo, ainda que em alguns casos
assuma natureza repressiva, podendo a sua duração ser arbitrária.
• As penas são, em muitos casos, arbitrárias, de aplicação desigual, conforme a
condição social do réu e até mesmo transmissíveis.
• Punem-se factos absurdos e de escassa relevância ético-social.
• A tortura é extremamente admissível como meio de prova.
No reinado de D. Maria I houve uma tentativa por Mello Freire de fazer uma reforma
geral às Ordenações e, em especial, ao Livro V destas. Contudo, esta tentativa não foi não
teve eficácia prática15.
Direito civil
Dentro das várias necessidades das novas perspetivas que vão surgindo no direito
privado liberal, há várias características:
• Questão da propriedade industrial e da literária.
• Admissibilidade da licitude do dano concorrencial.
• Ideia de estabelecimento comercial
• Ideia de liberdade na fixação dos juros nas obrigações comerciais.
• Importância da autonomia da vontade.
Estes princípios foram positivados em várias obras da época.
Direito processual
O direito processual, adjetivo, é consequência da necessidade de dirimir conflitos
resultantes da violação do direito substantivo ou da insusceptibilidade de determinar o seu
real alcance, quer entre os privados, quer públicos.
Na época do direito português estudada, a tendência foi, durante algum tempo, de
manter uma certa proximidade formal entre os tradicionais ramos processuais, o civil e o
penal, fazendo-se incluir no mesmo código.