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I. INTRODUÇÃO
O presente trabalho subordinado ao tema “A problemática na administração de bens pelo
menor casado sem o consentimento dos seus representantes legais” enquadra-se na análise do
quadro jurídico moçambicano sobre casamento, menoridade e administração de bens. Segundo
CARNELUTTI (2012:27) as regras e as normas jurídias é que são o objecto ou mesmo a matéria
do direito. Ainda mais, esta matéria/objecto é inteligível e não sensível, porquanto seu
conhecimento só pode ser através da observação e elaboração de actos.
Entretanto, as regras do direito operam na vida, isto é, governam a vida dos homens e daí o
não ser suficiente para as conhecer nem ler a sua fórmula, nem aprender a sua história, pois é
necessário ver as regras em acção, isto é, ver como se comportam os homens relativamente a estas
e não só aqueles a quem cumpre mandar, mas também a quem cumpre obedecer.
De facto, só com a análise das regras em acção é possível mostrar, mais do que a sua
aparência, a sua substância, melhor, o seu valor, podendo algumas delas estarem fora do tempo e
espaço, uma vez que estas duas categorias estão em constante mutação.
Assim, o nosso trabalho pretende ser parte da compreensão das dinâmicas supracitadas.
Para tal, dividímos em três capítulos para além da introdução que inclui os objectivos,
metodologia, justificativa, problema e hipóteses. O primeiro capíulo, debruça-se sobre o
casamento, com grande enfoque para sua natureza jurídica, requisitos, suas caracteríticas e
finalidades . O segundo capítulo, dedica-se à menoridade destacando o conceito e o quadro
jurídico moçambicano. E por fim, o terceiro capítulo, que debruça-se sobre a administração de
bens pelos cônjuges assim como pelo menor, incluindo o conceito bem como as limitações
decorrentes do casamento de menores sem o consentimento dos representantes legais.
Deste modo, o presente trabalho não pretende ser exaustivo, isto é, não esgota a
problemática em estudo, uma vez que este ensejo é muito amplo e poderia requer várias subteses e
tempo.
2

1.1. Objectivos do trabalho

A abordagem do tema que nos propusemos apresentar-se-á em dois objectivos, conforme se


ilustra abaixo.

1.1.1. Geral
Analisar a problemática da administração de bens do menor casado sem o consentimento dos
seus representantes legais.

1.1.2. Específicos

1. Descrever o casamento quanto a sua natureza jurídica, requisitos, caracteristicas e a


finalidade;
2. Explicar a menoridade e proceder uma comparação interna desta no ordenamento jurídico
interno;
3. Demonstrar o processo da administração dos bens pelos cônjuges, e o fim das suas
limitações;
4. Fazer uma análise comparativa de alguns ordenamentos jurídicos em volta do casamento
de menores e administração de bens.

1.2. Metodologia do trabalho

Para a realização do presente trabalho, diga-se qualitativo, recorremos aos seguintes passos
e técnicas:
 Pesquisa Bibliográfica. Esta pesquisa realizamo-la na fase incial do nosso trabalho, uma
vez que procurávamos os autores que terão se debruçado sobre o tema em pesquisa. Esta
pesquisa ajudou-nos bastante, porquanto evitamos repetir assuntos já desenvolvidos em
outros trabalhos. Ainda mais, a pesquisa bibliográfica foi fundamental na delimitação do
objecto de pesquisa, justificativa e definição dos nossos objectivos;
 Pesquisa Documental. Esta pesquisa foi fundamental e trata-se da pesquisa que foi
desenvolvida na fase de análise do Código Civil Moçambicano e outras leis (caso da Lei
da Família,CRC, revistas entre outras).
3

A primeira consistiu na leitura de obras disponiveis nas Bibliotecas e artigos extraidos da


internet e a segunda consistiu na consulta de documentos legislativos.

1.3. Problema de pesquisa

A nítida desconformidade da lei vigente com a realidade sócio-cultural do país, vem


impondo a necessidade da reforma contínua da Lei da Família ao longo dos anos como
prioridadade cada vez mais premente. No entanto, os debates actuais sobre o casamento de
menores sem o consentimento dos seus representantes legais, tendem a demonstrar a
necessidade de uma maior proliferação das discussões sobre o tema em análise aos vários níveis,
principalmente no que concerne à restrição da capacidade de exercícios para a administração dos
seus bens, neste caso a independência patrimonial. No entanto, é menor o individuo com
dezoito anos mas pode contrair casamento quando devidamente autorizado pelos seus
representantes legais, o que levanta questões sobre a legitimidade de menores casados sem o
consentimento dos representantes legais poderem administrarem por si os seus bens.

Como é que o casamento do menor sem o consentimento dos seus representantes legais
constitui mecanismo de impedimento para a administração dos seus bens?

1.4. Hipóteses do trabalho

O casamento do menor sem o consentimento dos seus representantes legais pode


constituir mecanismo de impedimento para a administração dos seus bens porque obsta a
emancipação do menor, restringindo-lhe a capacidade de exercícios para a administração dos
bens que leva ao casamento. Sendo a idade o factor-chave para administração de bens pelo menor
no casamento, o legislador poderia ter conscidido a idade núbil com a idade para a capacidade de
exercícios de tal sorte que o menor casado sem o consentimento dos seus representantes legais
não careça de autorização destes e nem do suprimento do consentimento pelo Tribunal para o
efeito.
4

1.5. Justificativa do objecto da pesquisa

No ordenamento jurídico moçambicano, observa-se uma diversidade de idades para a


prática de determinados actos de responsabilidade o que em algumas situações restringe a
capacidade de exercícios. Nos termos da lei civil, a maioridade atinge-se aos vinte e um (21)
anos,1 a capacidade para votar aos dezoito (18) anos, para ser empregado no sector privado aos
quinze (15) a dezoito (18) anos2 desde que devidamente autorizado, para ingressar no Aparelho
do Estado aos dezoito ( 18) anos3 e a idade para contrair o casamento aos dezoito (18) anos 4
para a rapariga assim como para o rapaz. Portanto, uma pessoa com dezoito (18) anos pode casar
segundo a idade estabelecida pelo legislador moçambicano, mas esta se não tiver tido o
consentimento dos seus representantes legais continuará a ser considerada menor quanto à
administração dos seus bens até atingir a maioridade civil que é de vinte e um (21) anos ou até
que seja emancipada.
Por conseguinte, o interesse pelo tema insere-se nos diversos debates na televisão, rádios,
experiências ao nível das nossas comunidades e o papel dos representantes legais dos nubentes,
fundamentalmente nas dicotomias entre a maioridade (18 anos de idade), idade núbil e o processo
de administração de bens.
A presente pesquisa poderá contribuir para a melhoria da legislação princinpalmente na
relação entre menoridade, casamento e administração de bens pelos menores casados sem o
consentimento dos seus representantes legais.

1
Art.122 do CC
2
Arts. 23 e 26 da Lei 23/2007 de 1 de Agosto (Lei de trabalho)
3 ?
Alinea c) do art.12 da Lei n˚ 14/2009 de 17 de Março ( EGFAE)
4
Alinea a) do art 30 da Lei n˚10/2004 de 25 de Agosto ( Lei da Família)
5

CAPÍTULO I

2. CASAMENTO

O presente capítulo pretende conceptualizar o casamento e descrever o casamento quanto à sua


natureza juridica, requesitos, caracteristicas e finalidade.

2.1. Conceito

A definição de casamento é polissémica, isto é, existem várias definições sobre casamento,


razão se explica que alguns Códigos Civis como (Alemão, Brasileiro e Italiano) assim como
alguns doutrinários se tenham intencionalmente abstido de formular um conceito legal de
casamento.
Segundo Campos (1995:160), casamento é: como um consórcio de toda a vida, como
uma comunidade de vida conjugal plena, completa, total e exclusiva, indissolúvel em que está
empenhada toda a pessoa que transforma os cônjugues numa só carne, em todos os aspectos do
seu ser e da sua vida.
Entretanto, Coelho & Oliveira (2001:185) descrevem o casamento como um acordo
entre um homem e uma mulher com base na lei, cujo objectivo é a comunhão de vida entre esse
homem e mulher. Ainda mais, Abudo (2005:105), numa análise do contexto africano defende
que o casamento não deve ser entendido somente como união entre duas pessoas de sexo
diferente, mas também a união de duas famílias nas dimensões social, económica, cultural até
espiritual e que acaba transcendendo a dimensão do próprio acordo de vontades do homem e
mulher. Mas, o legislador moçmbicano não compartilha a mesma tendo considerado o
casamento como uma união voluntária e singular entre um homem e uma mulher, com o propósito
de constituir familia, mediante comunhão plena de vida.5 Porquanto a família constituida a que o
legislador se refere é a que provém dos próprios cônjuges (nuclear) por meio da procriação e não
da união da família dos cônjuges (alargada) como Abudo entende.
Abudo (2005:105) estravassa o âmbito desenvolvido por Campos (2005:105), Coelho &
Oliveira (2001:185) ao considerar a perspectiva africana, a qual previligia a família alargada em
detrimento da família nuclear. É neste contexto, que Varela (1999: 175) entende o casamento
como um acto jurídico fundamental de direito da família, pois através do vínculo matrimonial se
constitui o cerne da sociedade familiar.

5
Vide art n˚7 da Lei 10/2004 de 25 de Agosto.
6

Portanto, o casamento é de facto um termo de difícil conceptualização, devido à vários


caracteres que este congrega. Porém, nosso entendimento è de que o casamento é a união
singular entre um homem e uma mulher com propósito de constituir família mediante comunhão
plena de vida de acordo com o art.7 da LF. Abraçamos a prespectiva nuclear da família visto que
é nesta que o nosso tema se enquadra.

2.2. Natureza jurídica do casamento

Há um debate acesso entre os doutrinários quanto à natureza jurídica do casamento.


Sanches (2007)6 afirma não haver consenso na doutrina sobre a natureza jurídica do casamento
apontando as seguintes correntes:
 Contratualista – para os defensores desta teoria o casamento é um contrato civil que
exige a capacidade dos sujeitos, objecto lícito e forma prescrita na lei. O elemento
mais importante é a manifestação da vontade, inequívoca e consciente.
 Institucionalista – o casamento é uma instituição social totalmente regulada pelo
Estado, o que significa que não basta a simples declaração de vontades também a de
uma autoridade para celebrar (conservador) . No contrato as partes tem a liberdade
de convencionar as cláusulas, mas no casamento as normas são de ordem pública
estabelecidas pelo Estado e as pessoas aderem.
 Eclética – esta corrente junta a corrente institucionalista e a contratualista, pois
preceitua que o casamento no momento da sua formação é um contrato e no seu
conteúdo ( direitos e deveres dos cônjuges pais e filhos) é uma instituição.
Por seu turno Saad (2008)7 afirma existirem duas correntes que procuram explicar a
natureza jurídica do casamento a contratualista e a institucionalista.
A teoria contratualista de origem canónica considera o consentimento dos nubentes como
elemento de formação de vínculo jurídico matrimonial relegando a intervenção da autoridade
celebrante ao plano secundário. Nesta teoria destacam-se duas subteorias. Uma entende o
casamento como um contrato equiparável aos demais contratos, regendo-se pelas normas gerais
dos contratos.

6
http://www. Anotditeito.familia.blogspot.com/2007/casamento.htmail.

7
.http://www.mackenzie.br/fileadmin/Graduação/FDir/Artigos
7

Outra considera o casamento como contrato, mas limita sua natureza à de um contrato suis
generis, especial de direito da família, em razão de submeter-se às regras de ordem pública de
carácter patrimonial e pessoal.
A teoria instituicionalista considera o casamento como um estado, uma instituição social e
jurídica. Seus adptos justificam-na pela necessária e directa interferência da autoridade pública
celebrante na criação do vínculo matrimonial com carácter constituitivo e pela verificação da
impossibilidade de alteração dos efeitos do matrimónio pelos interessados.
Na tentativa de conciliar as duas teorias principais a teoria eclética ou mista considera o
casamento como contrato em sua formação pela imprescindibilidade de acordo de vontades e
instituição do poder público na fixação imperativa das regras na celebração e pela inalterabilidade
dos seus efeitos.
Ainda outros autores consideram-no como um contrato de adessão isto porque os nubentes
não podem modificar a disciplina do matrimónio que é fixada pela lei, isto é as partes são livres de
contratar mas se o fazerem devem se subordinar às normas do insttituto não lhes sendo lícito
modifica-las.
Portanto a natureza jurídica do casamento na doutrina pode ser contratualista,
instituicionalista ou eclética8 e pelo exposto podemos avançar que o casamento é de natureza
eclética pois congrega as duas teorias, isto é, este é contrato na sua formação na medida em que
os nubentes estão livres de convencionar as cláusulas e é intutuição no seu conteúdo porque
regula-se pelas normas de ordem pública fixadas pelo Estado.

2.3. Requisitos para contrair o casamento

Campos (1997:200) aponta como requesitos de fundo para a celebração do casamento a


capacidade e o consentimento.
O consentimento é a expressão da vontade dos nubentes em contrair o matrimónio e,
este, deve ser pessoal, puro, simples perfeito e livre.
E a capacidade núbil é a idade determinada por lei para a celebração do casamento.
De acordo com Afonso (2002)9 no ordenamento jurídico moçambicano a idade núbil é de dezoito
(18) anos, com execepção de casos em que haja um interesse relevante familiar e público
podendo uma mulher de dezaseis (16) anos contrair casamento.

8
http// www.esdrasdantas.blogspot.com – teorias sobre natureza jurídica-do-hotml
9
http://www.wlsa.org.mz/lib/artigos
8

Campos (1997:200) acrece que o legislador ao estabelecer a idade para se contrair o


casamento pretendia rodeiar de especiais precauções a celebração dos casamentos determinando
um procedimento particular rigoroso e prévio de averiguação de incapacidades. Porquanto, a que
destacar os requesitos de forma nomeadamente: o processo preliminar de publicações que visa
obrigar as partes a reflectir no passo importante que pretendem dar e assegurar a comformidade à
lei do contrato a celebrar. ( art.38 da LF).
A celebração do casamento que é acordada pelos nubentes e o conservador(art.188.do
CRC). O registo do casamento, este é obrigatório no sentido de que se trata da única prova
legalmente admitida do matrimónio que sem ela não pode ser invocado quer pelas pessoas a quem
respeita quer por terceiros.
Coelho e Oliveira (2001: 235) apontam também como requesitos do fundo a capacidade
dos nubentes e o consentimento a posterior as formalidades.
De certo que o consentimento dos nubentes, tanto ou mais do que qualquer contrato
jurídico exige o mútuo consenso e qualquer negócio jurídico, em geral, exige uma declaração de
vontade. Assim sendo a ideia de contratualidade do casamento anteriormente aflorada é a defesa
da necessidade do consentimento. Sem a vontade de casar, por parte de ambos os nubentes, e
sem que esta vontade tenha sido manifestada nos termos da lei, não pode haver casamento válido.
Na verdade, o consentimento dos nubentes è que faz o casamento, e não a coabitação
que é o dever dos cônjuges, razão se explica que o consentimento matrimonial deve ser pessoal,
puro e simples, perfeito e livre.
Assim sendo, não só o consentimento e a capacidade são suficientes para a celebração do
casamento, mas também a verificação de circunstâncias que possam impedir a celebração do
casamento, neste caso os impedimentos , os quais são as circunstâncias que de qualquer modo
impedem a celebração do casamento, as circunstâncias verificadas as quais o casamento não se
pode celebrar sob pena de anulabilidade.10
Coelho e Oliveira (2001:263) destacam os impedimentos dirimentes e os simplesmente
impedientes.
E, por seu turno, o legislador moçambicano destaca os seguintes:
 Impedimentos derimentes absolutos 11
( a idade inferior aos dezoito anos, a demência notória, mesmo nos intervalos lúcidos, a
interdição ou inabilitação por anomalia psíquica e o casamento anterior não dissolvido)

10
COELHO – curso de Direito da Família (1986:252)
11
Art. 30˚ da Lei da Família
9

 Impedimentos derimentes relativos 12


( o parentesco da linha recta, o parentesco até ao terceiro grau da linha colateral, a
afinidade na linha recta, e a condenação anterior de um dos nubentes, como o autor ou
cúmplice, por homicídio doloso, ainda que não consumado, contra o cônjuge do outro).
 Impedimentos impedientes 13
( o prazo internupcial, o parentesco até ao quarto grau da linha recta, o vínculo de tutela,
curatela ou administração legal dos bens, o vínculo que liga o acolhido aos cônjuges da
família do acolhimento, a pronúncia do nubente pelo crime de homicídio doloso, ainda que
não consumado contra o outro cônjuge, enquanto não houver despronúncia ou absolvição por
decisão passada em julgado e a oposição dos pais ou tutor).
Coelho e Oliveira (2001:265) aduzem que no primeiro caso é anúlavel o casamento que
for contraído não obstante a existência do impedimento, ao passo que no segundo não o é, só
se aplicando outras sanções.
Ainda no mesmo contexto, Coelho e Oliveira (2001:266) distinguem os impedimentos
absolutos e relativos. Sendo que os primeiros são verdadeiras incapacidades,isto é, filiam-se
numa qualidade ou numa dificiência da pessoa e impedem-na de casar seja com quem for; os
segundos são mais propriamente ilegitimidades, que se fundem numa relação da pessoa de
que se trata com a outra ou outras proibindo o casamento com essa ou com essas pessoas.
Distingue-se ainda os impedimentos dispensaveis e não dispensáveis sendo os primeiros
aqueles que admitem dispensa quando se conclua pela não existência de razões que possam
justificar o casamento ( art.art.37 da LF) e os segundos aqueles que não admitem dispensa,
isto é aqueles que impedem de modo definitivo o casamento ( art.30e 31da LF).
Dispensa diz-se o acto pelo qual uma autoridade, atentendo às circunstâncias do caso
concreto, autoriza o casamento nesse caso não obstante a existência de determinado
impedimento. Ѐ o caso em estudo pois mesmo o registo civil sabendo da existência da falta
do consentimento dos representantes legais dos nubentes procede a celebração do matrimônio
mas a lei aplica posteriormente as sanções de carácter patrimonial.

12
Art 31˚ da Lei da Família
Parentesco na linha recta ( casamento entre pais, filhos e filhas ou avós e netos) parentesco até 3˚ grau de linha recta
colateral ( entre irmãos, tios e sobrinhas) Afinidade na linha recta ( o sogro e nora e a sogra e o genro).Parentesco até
ao 4˚ grau da linha recta (entre primos). Martinez (2012)
13
Art.32˚ da Lei da Família.
Impedimentos impedientes dizem-se as circunstâncias que apenas impedem o casamento, mas não o tornam anúlavel
se ele chegar a celebrar-se.Coelho e Oliveira ( 2001:276)
10

Portanto, Monteiro e Pinto (2005:223) afirmam que hoje os menores com idade núbil
que casaram sem o consentimento dos pais estão sujeitos a sanções especiais mas o casamento é
vàlido.
Entendemos aqui que todos os que casam com impedimento impediente o casamento é
irregular mas é válido.
Neste caso o casamento do menor sem o consentimento dos seus representantes legais não
é anulável mas apenas irregular como antes nos referimos. Ora, não se pode falar de incapacidade
nupcial de exercício para os menores com mais de dezoito ( 18) anos mas menores de vinte e um
(21) anos.
Resulta do exposto que não se pode falar de assistência à propósito do consentimento dos
representantes legais para o casamento de menores que já atingiram idade núbil. E que os
menores não são incapazes para aquele acto, pois, a falta de consentimento não importa
anulabilidade mas apenas irregularidade do acto. No entanto, não sendo o menor incapaz para
aquele acto, somente será quanto a capacidade de exercícios o que significa que a falta de
consentimento nestes termos importa a restrição na administração dos seus bens.

2.4. Caracteristicas de casamento

Para Campos ( 1997) o casamento tem duas características como estado e como acto.
Uma das características do casamento como estado é a unidade ou exclusividade que significa
que uma pessoa não pode estar casada ao mesmo tempo com mais de uma pessoa. Vocação de
perpetuidade no sentido de que este só se dissolve com a morte de um dos cônjuges uma teoria já
em disuso no direito civil mas ainda em uso no direito canónico.
Por seu turno Sanches (2007)14 estabelece as seguintes características:
 União disciplinada, por normas de ordem pública;
 Liberdade de escolha de cônjuges, que deve ser consciente;
 Diversidade de sexos; por enquanto em moçambique até que a lei venha modificar essa
instituição;
 União exclusiva , monogámica o que significa que os cônjuges não podem ter mais de um
cônjuge;
 Permanente, até que o casamento seja dissolvido por uma das formas previstas na lei.
 Dissolúvel, pelo divórcio;

14
.http://www.anotdireitofamilia.blogspot.com/2007/12/casamento.htmail.
11

 Comunhão de vida, importa dizer que duas pessoas que eram plenamente autónomas
passam a decidir juntas.
E, Para Gagliano15 o casamento tem as características seguintes :
 Solenidade o que significa que a celebração do casamento é um acto solene, porque a lei
reveste-o de formalidades para garantir a sua publicidade,e ainda como deve ser celebrado
por um oficial do Registo Civil.
 Diversidade de sexos esta é exigida pelo fim do matrimónio que é estabelecer uma
comunhão de vida fundada no amor e a procriação ( constituição de família).
 Dissolubilidade o que significa que é um acto que se pode dissolver não é perpétuo como
acontece no direito canónico .
Entretanto, nota-se que há uma diversidade parcial no entendimento dos autores no que
concerne às características do casamento mas nós apontamos como essencias as seguintes : a
diversidade de sexos, a dissolubilidade e a unidade ou exclusividade.
O legislador estabelece no art.16 da LF três modalidades de casamento tais como o
casamento civil, relegioso e o tradicional.
Ao casamento monogâmico, relegioso e tradicional é reconhecido valor e eficácia igual a
do casamento civil, quando tenham sido observados os requesitos que a lei estabelece para o
casamento civil. No entanto, é do casamento monogâmico civil previsto na lei de família que o
tema aborda.

2.5. Finalidade do casamento

Coelho e Oliveira (2001:259) apontam como finalidades do casamento a constituição da


família o que chamamos procriação, o estabelecimento de uma plena comunhão de vida dos
cônjuges o que pressupõe que os nubentes tenham uma capacidade natural para prestar uma
assistência recíproca.
Para Sanches (2007) o casamento tem como fins a regularização de relações sexuais, comunhão
de vida, educação dos filhos e a assistência mutúa entre os cônjuges.
Por fim, conseguimos demonstrar que a finalidade do casamento é a procriação a
educação dos filhos e assistência recíproca dos cônjuges.

15
http://www.técnica jurídica.com.br.
12

CAPITULO II

3. MENORIDADE
3.1. Conceito do menor no pensamento jurídico

As definições de menoridade baseiam-se na idade. Segundo a CRM (art.25) é menor o


indivíduo que não tiver completado dezoito (18) anos. O art. 122 do CC preceitua que são
menores as pessoas de um e outro sexo enquanto não perfizerem vinte e um ( 21)anos. De acordo
com o n˚ 1 do art.3 da Lei n˚ 7/2008 de 9 de Julho 16 são menores as pessoas abaixo de dezoito
(18) anos de idade. A presente lei aplica-se aos menores com mais de dezoito (18) anos e menos
de vinte e um ( 21) anos de idade. Para a Convenção sobre os Direitos da Criança é menor o
indivíduo com menos de dezoito (18) anos.
Os conceitos acima estabelecidos são pacíficos em relação a menoridade excepto a lei civil
que considera os indivíduos de dezoito (18) anos como menores. Assim, entendemos que só é
menor o indivíduo que ainda não atingiu a maioridade em comformidade com a CRM e o CC.

3.2. A abordagem da menoridade no quadro jurídico Moçambicano

Pela CRM, pela Convenção dos direitos humanos, Carta Africana dos Direitos e bem estar da
Criança como pela Lei da Proteção a Criança, é menor o indivíduo antes de completar dezoito
(18) anos de idade. No entanto para o CC é menor o indivíduo de um e outro sexo enquanto não
perfizer vinte e um(21) anos . Para o código penal são inimputáveis criminalmente os menores de
dezasseis anos enquanto que os de dezoito (18) anos são tomados como ponto de partida para a
responsabilização criminal17. Por consequência há que se estabelecer critérios claros do que é
menor de idade com vista a evitar dicotomias em relação à esta.
O legislador Moçambicano dispôs dezoito (18) anos como idade para contrair o casamento,
mas o indivíduo de 18 anos que casar sem pedir o consentimento aos seus representantes legais
continua menor quanto à prática de actos de responsabilidade ( administração dos bens).
De certo, o art. 73 da Lei da Família preceitua que:
o menor que casar sem ter pedido o consentimento aos seus representantes legais ou sem
ter aguardado a decisão favorável do tribunal em caso de oposição continuará a ser
considerado menor quanto à administração dos seus bens que leve ao casamento ou que
posteriormente lhe advenham por título gratuito, até à maioridade ou emancipação plena.
16
Lei n˚7/2008, de 9 de Julho aprova a Lei da promoção e proteção dos Direitos da criança.
17
O que nos permite avançar que o CP considera menores os indivíduos com menos de dezoito anos.
13

No entanto, sendo este menor há uma obrigação de comunicar aos seus representantes
legais o propósito de contrair o casamento art.180 do CRC e, não tendo pedido o consentimento
aos seus representantes legais, como poderá este, administrar os seus bens? Ao se dispor 18
anos como idade núbil pretendia-se uniformizar a regulamentação sobre a idade, mais parece-nos
que há uma grande distância para a idade de capacidade de exercício que é a chamada maioridade
civil. De facto, é menor o indivíduo com dezoito (18) anos mas pode contrair casamento quando
devidamente autorizado pelos representantes legais, o que levanta questões sobre a legitimidade
de menores casados sem consentimento poderem administrar por si os seus bens.

3.3. Fim da menoridade em Moçambique

Como foi possível mostrar no ponto 2.2. o menor é aquele que ainda não atingiu a
maioridade . Neste contexto, a menoridade, regra geral, termina quando o indivíduo adquire
capacidade jurídica de exercício, neste caso a maioridade ou quando é emancipado. Portanto, no
ordenamento jurídico moçambicano a idade para a capacidade de exercícios é de vinte e um
(21)18 anos, a idade para votar é de dezoito (18) anos e a idade núbil é também de dezoito (18)
anos, a idade para engressar ao Aparelho do Estado é dezoito (18) 19 anos, a idade para ser
empregado no sector privado quinze é de (15)20 anos. Portanto nota-se uma diversidade de
idades para a prática desses actos civis.
Pressupõe-se que um jovem de dezoito (18) anos ao pretender casar, trabalhar, votar já
tenha uma capacidade mental e física para administrar seus bens , isto porque o casamento tem
por finalidade a constituição da família, a educação dos filhos e a assistência recíproca. No
entanto, pelo exposto nota-se que a lei civil Moçambicana carece de uma revisão na matéria das
capacidades com vista a uniformizar a legislação específica com esta, de modo que o menor de
dezoito (18) ao casar sem o consentimento dos seus representantes legais não careça da anuência
destes para administrar os seus bens.
Ademais, o casamento pressupõe, antes de mais o livre consentimento das partes e a
capacidade, porque se o indivíduo é capaz de dar um consentimento válido, pode trabalhar, votar,
também pode administrar pessoalmente os seus bens sem intermédio dos seus representantes
legais. Para tal, poder-se-ia igualar a idade núbil com a idade da maioridade (capacidade jurídica)
com vista a que um individuo de dezoito (18) anos possa figurar por si nas relações jurídicas. Mas
18
Art.130 do CC

19
Art.12 do EGFAE

20
Art.26 da Lei do trabalho
14

alguns autores como ( Arthur et al)21são favoráveis à idade núbil estabelecida pelo legislador no
sentido de que esta permite que os jovens assumam o matrimónio com maturidade e
responsabilidade.

CAPÍTULO III

4. ADMINISTRAÇÃO DE BENS

4.1. Conceito de Administração de bens


21
. ARTHUR, Maria José at all, - Dessiminação da Lei da Família e lógicas da sua apropriação por parte das
instituições por parte do Estado. Publicado in revista ‘’outras vozes ‘’ n˚ 37, Feverreiro
2012.http://www.WLSA,org.mz/lib/ artigos/26-07-2012.

Há ainda outros testemunhos que consideram que a idade núbil deveria mesmo estar acima dos vinte e um (21) anos
(como o Tribunal Comunitário da cidade da Beira), pois também é necessário acautelar a independência económica
num casamento.

E, sobre o mesmo contexto ARTHUR et al (2012) aduzem:

Alguns conservadores do Registo Civil são também favoráveis a uma idade núbil
acima dos vinte e um (21 anos para os rapazes e raparigas, sem distinção a
necessidade do casamento exigir uma maturidade humana, física, psicológica e
mental Para estes últimos essa idade evitaria a ocorrência de um número elevado
de divórcios sendo que as mulheres são as mais prejudicadas pois interropem os
estudos para contrair o matrimónio.
15

A palavra administração provém do verbo administrar que é o acto de gerir bens públicos
ou particulares.22
Bem jurídico è a expressão de um interesse, da pessoa ou comunidade na manuntenção
ou integridade de um certo estado, objecto ou bem em si mesmo socialmente relevante e por isso
juridicamente reconhecido como valioso.23
Bens são todas as coisas de carácter estátístico, desprovidos de personalidade susceptiveis de
constituíre+m objecto de relações jurídicas.24

4.2. Limitações para administração de bens

O legislador moçambicano estipula a idade núbil na Lei da Família na a) do n˚1do seu


art.30 a qual é de dezoito anos, (18) mas o legislador foi além pois deverá também o nubente
pedir autorização aos seus representantes legais ( pais, tutor ), e caso haja divergência entre eles
ou oposição deverá pedir autorização judicial para a realização do casamento, caso haja
indiferimento os nubentes poderão casar. Todavia, uma vez sendo menores quanto à capacidade
de exercícios de direitos não poderão administrar por si os seus bens até atingir a maioridade.
Ainda no concernente a idade núbil a proposta sobre a lei da Família colocou uma exepção
dando a possibilidade de a mulher em certas circunstâncias de relevante interesse familiar e
público contrair casamento aos dezasseis (16) anos. Tal exepção foi objecto de algumas críticas
por parte da sociedade civil argumentando-se que tal excepção deveria abranger também ao rapaz
sob pena de em igualdade de circunstâncias estar o rapaz impedido de contrair casamento,
frustrando-se deste modo a situação que a lei pretende salvaguardar.25
Acerca do mesmo contexto o legislador moçambicano chama atenção no art.180 do CRC
os nubentes menores não emancipados devem comunicar o propósito de casar aos pais ou tutor e
pedir o seu consentimento. E, caso não o façam sofrerão sanções especiais prescritas na lei civil
n˚1 do art.185 CRC o menor não emancipado que casar sem pedir o consentimento dos pais ou
do tutor, podendo fazê-lo , sem aguardar a decisão favorável do tribunal de menores, no caso de

22
Dicionário electrónico Aurélio.
23
FIGUEREDO (1996) apud (PRATA et all 2008:69)

24
MONTEIRO e PINTO ( 2005:342)

25
http://www.wlsa.org.mz.lib/artigos
16

oposição, fica sujeito às sanções prescritas na lei civil. conjugado com o art.73 da LF o qual
preceitua que:
o menor que casar sem ter pedido o consentimento dos pais ou tutor, podendo fazê-lo, ou
sem ter aguardado a decião favorável do tribunal no caso de oposição, continua a ser
considerado menor quanto à administração dos bens que leve ao casamento ou que
posteriormente lhe advenham por título gratuito, até à maioridade ou emancipação plena,
mas os rendimentos desses bens são –lhe arbitrados os alimentos necessários ao seu
estado.

4.3. Da administração dos bens dos cônjuges

A administração dos bens do casal incumbe aos cônjuges em igualdade de circunstâncias,


devendo o casal privilegiar o diálogo e o consenso na tomada de decisões que possam afectar o
património comum ou os interesses de filhos menores.26
De acordo com o Coelho (1986:405) os bens subdividem-se em próprios que são de
administração particular e os bens comuns que são da administração conjunta do casal.
À luz do art.142 da LF são considerados próprios os bens que cada um deles tiver ao
tempo da celebração do casamento nomeadamente: os bens que lhes advierem depois do
casamento por sucessão ou doação; os bens adquiridos na constância do matrimónio por virtude
de direito próprio anterior e os instrumentos de trabalho adquiridos por cada um dos cônjuges na
constância do casamento.
O art.144 da LF prevê como bens comuns o produto do trabalho dos cônjuges; os bens
adquiridos pelos cônjuges na constância do matrimónio, que não sejam exceptuados por lei e os
frutos produzidos por bens próprios, sem prejuízo da compensanção eventualmente devida pela
sua manuntenção e conservação. De salientar que se o regime de bens adoptado pelos cônjuges for
o da comunhão geral, o património comum é constituído por todos os bens presentes e futuros,
que não sejam exceptuados por lei.
Quanto à regra de cada cônjuges administrar os seus próprios bens, Coelho ( 1986)
enuncia algumas exepções a essa regra onde um dos cônjuges pode administrar os bens do outro
quando se trate de bens móveis que, embora pertencentes ao outro cônjuge, são exclusivamente
utilizados como instrumentos do trabalho pelo cônjuge administrador no caso de ausência ou

26
Art. 102 da Lei da Família
17

impedimento do outro cônjuge, quando o outro lhe confira por mandato27 revogável, poderes de
administração.
Por seu turno Coelho e Oliveira (2001) afirmam que os bens próprios podem ser administrados
por outro cônjuge quando sejam móveis embora pertencentes ao outro cônjuge, o que significa
que nada obsta que os dois cônjuges administrem um bem próprio de qualquer deles, desde que o
dono tenha concedido poderes de administração ao seu cônjuge por mandato.
Relativamente aos bens comuns a regra é da administração conjunta como tivemos o
cuidado de dizer anteriormente. Mas há bens que embora sejam comuns devem ser administrados
por um dos cônjuges quer porque tenha com esse cônjuge uma ligação privilegiada, quer porque
o outro cônjuge esteja ausente ou impedido de administra-los. Assim, embora se trate de bens
comuns o n˚2 do art.1678 CCP atribui a cada um dos cônjuges a administração:
 Dos proventos que receba do seu trabalho;
 Dos bens comuns que levou para o casamento ou adqueriu à titulo gratuito;
 Dos bens móveis comuns por ele exclusivamente utilizados como instrumento de
trabalho;
 De todos os bens do casal se o outro cônjuge se encontrar ausente ou impedido de
administrar;
 De todos os bens do casal ou parte deles, se o outro cônjuge lhe conferir mandato
revogável , esse poder.
De certo, o legislador logo estabeleceu como regra geral da administração de bens a
administração conjunta em igualdade de circunstâncias, devendo o casal privilegiar o diálogo e o
consenso na tomada de decisões que possam afectar o partimónio comum ou interesses de filhos
menores, Portanto, não faz sentido que o legislador incumba a administração de bens à terceiras
pessoas estranhas a relação conjugal do casal, porque assim sendo estas estariam a invadir a
privacidade do casal.

4.4. O fim da limitação da administração de bens


27
Mandato é o contrato pelo qual uma das partes se obriga a praticar um ou mais actos juríicos por conta da outra.
Este presume-se gratuito excepto se tiver por objecto actos que o mandatário pratique por profissão.Para o caso
concreto deve ser gratuito.
18

A limitação da administração de bens pelo menor casado sem o consentimento dos seus
representantes legais termina com a maioridade, com o consentimento por parte dos pais e pelo
suprimento do consentimento pelo Tribunal.
Como já evidenciamos que os menores aqui tratados não padecem da capacidade nupcial mas
sim da capacidade para exercícios de direitos, em consonância com o art.123 do CC. Assim, a lei
e a doutrina são pacíficas ao estabelecer como solução do problema da administração dos bens do
menor as formas de suprimento de incapacidades como o ( poder parental e subsidiariamente
pela tutela art.124 do CC) . De certo o menor é capaz para contrair o matrimónio mas incapaz
para administrar os seus bens.
A incapacidade é a restrição legal aos exercícios de actos da vida civil, imposta pela lei
somente aos que execepcionalmente necessitam de proteção28. No caso em concreto os menores
casados sem que tenham obtido o consentimento dos seus representantes legais só poderão lhes
ser reconhecida a capacidade de exercícios quando atigirem a maioridade art.130 do CC ou
quando o casamento for consentido pelos seus representantes legais n˚3 do art 73 conjugado com
o n˚ 2 do art.26 ambos da L.F
Ora, tratando-se de irregularidade contratual a incapacidade de exercícios da menor núbil
provoca a anulabilidade dos actos jurídicos praticados pelo menor, mas esta, é suprivel, não
podendo os actos a que se refere ser realizados pelo menor ou procurador mas podendo sê-lo
através dos meios destinados ao suprimento das incapacidades de exercícios como anteriormente
mencionamos o instituto da representação legal ( art.124 e n˚2 do art.125 do CC), 29
por um lado
temos a assistência propriamente dita ( art.153 do CC) e por outro lado temos a assistência do
consentimento conjugal arts. 1682 do CCP o que a nossa lei civil não faz nenhuma referência.
Por seu turno, Monteiro e Pinto ( 2005:223), entendem que esta última modalidade do
instituto de assistência era designada no CC de 1867 por outorga ou autorização arts. 1191 e 1193
do código civil de 1867. Para estes a representação é a forma de suprimento da incapacidade
traduzida em ser admitida a agir outra pessoa em nome e no interesse do menor. A pessoa chama-
se representante legal por ser designada pela lei ou em conformidade com ela . Enquanto a

28
http:// www.edu.br- capacidade jurídica.
29
Art.124 CC« a incapacidade dos menores é suprida pelo poder parental e, subcidiariamente pela tutela, conforme se
dispõe nos lugares respectivos». n˚2 do art. 125 « a anulabilidade dos actos do menor é sanável mediante a
confirmação do menor, depois de atingir a maioridade ou ser emancipado, ou por confirmação do pai, tutor ou
administrador de bens, tratando-se de acto que algum deles pudesse celebrar como representante do menor.»
19

assistência tem lugar quando a lei admite o menor a agir mas exige o consentimento de certa
pessoa ou autoridade .
Entendemos que o representante legal actua em vez do menor e o assistente destina-se a
autorizar o menor a agir , pertencendo a iniciativa do acto a este último. Temos como exemplos de
representantes os pais quando vivos sendo que os tutores substituem o menor na actuação
jurídica e por fim temos como exemplos de assistentes os curadores dos inabilitados, e em
princípio estes impedem o menor de agir ou intervir ao lado dele.30
Resulta do exposto que não se pode falar de assistência a propósito do consentimento dos
representantes legais para o casamento de menores que já atingiram idade núbil na medida em que
estes não são incapazes para aquele acto, pois a falta do consentimento ou autorização não
importa a anulabilidade do acto mas apenas a irregularidade do acto ou só tem em vista a
aplicação de sanções que não contedam a validade do casamento. Ainda assim, a assistência é um
meio de suprimento de incapacidade . Porém pode-se também chamar a emancipação como um
meio de suprimento de incapacidades, sendo esta um mecanismo legal através do qual uma pessoa
abaixo da maioridade, adquire certos direitos civis geralmente idênticos aqueles dos
absolutamente capazes.31A extensão dos direitos adquiridos, assim como as proibições
remanescentes variam de acordo com a legislação de um determinado ordenamento jurídico. 32
Quando a emancipação é obtida pelo casamento a idade de emancipação é geralmente equivalente
á idade miníma para casar em determinados paises. 33
E, de acordo com o Dec-Lei 496/117 de 25

30
No mesmo contexto Monteiro e Pinto (222: 2005) salientam que:
hoje os menores com idade núbil, isto é mais de dezasseis (16) anos que casaram sem o consentimento dos
pais estão sujeitos a sanções especiais mas o casamento é válido, e não é anulável mas apenas irregular
isto porque não se pode falar de incapacidade nupcial de exercícios para menores com mais de dezasseis
(16) anos.
31
http//www.wikipedia.org/wiki/emancipação do menor- 17-09-2012
32
Caso do nosso ordenamento jurídico prevê no art.136 CC a emancipação restrita.” A emancipação por concessão
ou por decisão do tribunal de menores pode respeitar apenas a certos actos de categorias, continuando o emancipado a
ser havido como menor quanto aos actos restantes.” Ainda o artigo 137 do CC ressalta « a emancipação por
concessão ou por decisão do tribunal de menores é revogável por este Tribunal, a requerimento do emacipante ou do
Ministério público, ou oficiosamente, se o emacipado vier a mostrar inaptidão para reger a sua pessoa ou administrar
os seus bens» Esta só produz efeitos apartir do registo.
33
Ao se dispor dezoito (18) anos como idade núbil predendia-se uniformizar com o art.134 do CC o qual ‘’ a A
limitação da administração de bens em menores casados sem o consentimento dos seus representantes legais termina
com a maioridade, com o consentimento por parte dos pais e pelo suprimento do consentimento pelo Tribunal,
emancipação por concessão do pai, da mãe ou do conselho de família só é possível com a aquisciência do menor e
depois de este haver completado dezoito (18) anos de idade.’’
Pelo exposto infere-se que só é concedida a emancipação ao nubente menor quando devidamente autorizado pelos
seus representantes legais e tiver completado dezoito (18) anos assim o mesmo se diga da emancipação resultante
da decisão judicial.
20

de Novembro a emancipação provêm do pleno direito pelo casamento desde que o menor a casar
peça a autorização dos pais ou tutores ou o respectivo suprimento judicial.
Portanto, a administração dos bens dos menores casados sem o consentimento dos seus
representantes legais fica sob tutela dos seus representantes legais, uma vez que este não fica
plenamente emancipado e consequentimente será considerado menor até atingir a maioridade ou
até que lhe concedam consentimento pelo tribunal. Ora, dos bens retirados ao menor não se pode
confiar a sua administração ao outro cônjuge, o que nos parece que o legislador não protegeu o
outro cônjuges do proveito desses bens e nem salvaguardou o princípio de igualdade dos cônjuges
no processo da administração dos bens tendo assim violado também a prossecução dos objectivos
da família constitucionalmente consagrados na CRM.34
Porém, não implica contudo que o menor fique inibido de exercer qualquer acto de
responsabilidade porque a lei considera como válidos de uma forma excepcional os seguintes:
 Os actos da administração ou disposição de bens que o maior de dezasseis anos haja
adquirido por seu trabalho.
 Os negócios jurídicos próprios da vida corrente do menor que estando ao alcance da sua
capacidade natural só impliquem despesas ou disposições de bens, de pequena
importância.
 Os negócios jurídicos relativos a profissão e arte ou ofício que o menor tenha sido
autorizado a exercer ou praticados dessa profissão arte ou ofício.
 Pelos actos relativos a profissão arte ou ofício do menor e pelos actos praticados no
exercício dessa profissão só respondem os bens que o menor tiver a livre disposição.

5. Da comparação legislativa ( Moçambique, Angola e Portugal)

Como anteriormente dissemos que o nosso trabalho versa sobre uma análise da legislação
da Família neste ponto fizemos uma pequena comparação posto que o direito só se resolve
numa pluralidade de instituições, isto é, pelos empréstimos legislativos provinientes de outras
ordens jurídicas.

Assumimos que a nossa comparação não é exaustiva uma vez que requereria muito tempo e
uma multiplicação de cientistas juristas, historiadores, antropólogos, entre outros. Contudo
consiguimos demonstrar as semelhanças e dessemelhançs das ordens jurídicas em causa.

34
n˚3 do art 119 da CRM.
21

O legislador moçambicano define o casamento no seu art.n˚7 da L.F como uma união
voluntária e singular entre um homem e uma mulher, com o propósito de constituir família,
mediante comunhão plena de vida
Por seu turno, o lesgilador angolano define-o no seu art.20 da L.F como a união
voluntária entre um homem e uma mulher, formalizada nos termos da lei com o objctivo de
estabelecer uma plena comunhão de vida.
O legislador português define-o no art.1577 do CC como um contrato celebrado entre
duas pessoas de sexo diferente que pretendem constituir família mediante uma plena comunhão de
vida.
Percebemos que os legisladores lusófonos ora citados para definir o conceito do casamento
deixaram expresso, com clareza que este somente poderá ocorrer se as pessoas forem de sexos
diferentes, cuja finalidade é a comunhão plena de vida .
No que concerne às modalidades de casamento o legislador moçambicano reconhece três
modalidades de casamento art.16 L.F civil, relegioso ou tradicional . O legislador angolano não
estabeleceu nenhuma modalidade de casamento na LF simplesmente optou no seu art.27 em
falar da validade de casamento segundo o qual o casamento só é válido quando celebrado perante
os órgãos do registo civil ou reconhecido de acordo com as regras da presente lei, o que na
verdade abre a possibilidade de se admitir a existência de outros tipos de casamento desde que
sejam reconhecidos pela lei.
Quanto à legislação Portuguesa assim como a doutrina admitem a existência de duas
modalidades o civil e o católico art.1596 e 1600 do CCP.
No concernente à idade núbil o legislador moçambicano dispôs dezoito anos (18) a) n˚1
do art.30 da LF, e no seu art.29 ressalta que têm capacidade para contrair o casamento os que
não se verifica nenhum impedimento matrimonial previsto na lei. O que conscide com o
estabelecido pelo legislador Angolano no seu n˚1 do art.24.LF. E por seu turno o legislador
Português dispôs dezasseis (16) anos e aduz que tem capacidade para contrair o casamento
todos aqueles que não se verifique algum impedimento matrimonial previsto na lei art.1600 do
CCP.
Entretanto, evidencia-se aqui que só tem capacidade para contrair o casamento todo aquele
que não apresentar nenhum impedimento matrimonial previsto em cada lei. Para o legislador
moçambicano assim como o Português prevê os impedimentos impedientes sendo o motivo do
nosso trabalho enquanto o legislador angolano só dispõe de dois impedimentos nomeadamente :
os relativos e absolutos. No entanto, a oposição dos pais ou tutor do nubente menor como
22

impedimento impediente correponde a falta de autorização dos pais, do tutor para o casamento do
menor na legislação Portuguesa. Todavia, este impedimento é que vem originar as sanções
especiais no âmbito da administração dos bens do menor art.1649 do CCP e art.73 da LF, o que a
legislação Angolana não prevê.
No mesmo contexto a autorização e o consentimento para o casamento devem ser
concedidos pelos pais e tutores no ordenamento jurídico moçambicano, podendo também ser
obtida judicialmente, enquanto no ordenamento jurídico Português devem ser concedidos pelos
progenitores que exerçam o poder parental ou pelo tutor . Pode também o conservador do registo
civil suprir a autorização se as razões ponderosas35 justificarem a celebração do casamento e o
menor tiver capacidade fisica e psiquica art.1612 do CCP. Para o ordenamento jurídico angolano
a autorização é concedida pelos pais, tutores ou por quem tiver o menor a seu cargo, podendo ser
suprida pelo Tribunal ouvido o parecer do concelho da família quando a não autorização se
mostrar injustificada n˚2 do art.24 LF, só para casos excepcionais.36
Quanto à administração dos bens do menor o legislador moçambicano foi claro em
afirmar no n˚2 art.73 que os bens são administrados pelos pais ou por um representante designado
pela lei o mesmo acontece na legislação Portuguesa enquanto que o legislador angolano não faz
nenhuma referência sobre o assunto, uma vez não previstas as sanções.
Ora, pelo exposto aconselhariamos que o legislador moçambicano adoptasse o sistema
em vigor no ordenamento jurídico angolano o de não prever sanções de carácter patrimonial no
casamento posto que estas deufraudam as espectativas dos nubentes e consequentimente violam a
prossecução dos objectivos da família constituicionalmente consagrados no art.119 da CRM.

6. CONCLUSÃO
35
De acordo com Coelho ( 278:2001) “ uma coabitação juvenil de modo algum justifica, só por si, que o conservador
defira o pedido de suprimento de autorização dos pais; razão ponderosa , porém não decisiva é a gravidez do
nubente.” Outras situações vides A. Varela,cit, p.247-248 apud Coelho ( 279:2001).
36
N˚2 do art. 24 do Código da Família Angolana Execepcionalmente poderá ser autorizado a casar o homem que
tenha completado dezasseis (16) anos e a mulher que tenha completado quinze (15) anos quando ponderadas as
circunstâncias do caso e tendo em conta o interesse dos menores seja o casamento a melhor solução.
23

O trabalho com tema “A problemática na administração de bens pelo menor casado sem o
consentimento dos seus representantes legais” pretendia analisar o processo da administração de
bens pelo menor casado sem o consentimento dos seus representantes legais e a sua incapacidade
para administrar seus bens.
De facto, o conceito de casamento tem várias definições. Entretanto, ele remete-nos a
união de duas pessoas de sexo diferente, onde cada um tenha capacidade mental e física de
prestar assistência recíproca.
Quanto à menoridade, há interpretações, sendo a destacar o seguinte: no ordenamento
jurídico moçambicano a idade para a capacidade de exercícios é de vinte e um (21) anos , a
idade para votar é de dezoito (18) anos e a idade núbil é também de dezoito (18) anos, a idade
para ingressar ao Aparelho do Estado dezoito (18) anos, a idade para ser empregado no sector
privado quinze (15) anos desde que devidamente autorizado e para a responsabilização criminal
também dezoito (18) anos.
Portanto, em função do exposto e discutido ao longo do trabalho concluímos que a
admissibilidade do casamento do menor sem o consentimento dos seus representantes legais
constitui um mecanismo de impedimento para a administração dos seus bens que leve ao
casamento ou que posteriormente lhe advenham por título gratuito porque a falta deste obsta a
emancipação do menor, restringindo-lhe assim a capacidade de exercício. O facto de a idade núbil
não conscidir com a idade para a capacidade de exercícios restringe o exercício de alguns direitos
civis. Mas, sendo a idade determinante para a administração dos seus bens, falta substancialidade
no art.73 da Lei da Família, uma vez que o casamento em si tem efeitos pessoais e patrimoniais e
consequentimente obriga ao exercício de administração de bens decorrentes do mesmo, e o menor
restringido à capacidade de exercícios pode exerce-los em outras áreas como laboral e comercial.

7. SUGESTÕES
24

Atendendo à importância social do casamento, a lei pretende que os casamentos


celebrados sejam entre as pessoas com capacidade para o fazer, razão pela qual esta o rodeia de
precauções e formalidades.
Portanto, em face das constatações e de outras traçadas sob forma de conclusão em volta
do tema consideramos pertinente avançar algumas sugestões ao órgão legislativo que podem
servir de contributo para revisão do problema da menoridade, casamento e administração de bens:
1. Sugerimos que os bens do menor casado sem o consentimento dos seus representantes
legais sejam por ele administrados ou quando não, sejam entregues ao seu cônjuge de
modo a evitar que pessoas estranhas à relação conjugal possam exercer a administração
destes.
2. Sugerimos que se reveja o art.73 da LF posto que sendo o casamento um acto
constitucionalmente consagrado a que salvaguardar a liberdade de exercício de direitos
matrimoniais.
3. Sugerimos também a uniformização da idade núbil com a idade da maioridade com vista a
evitar a restrição de exercício de certos actos civis.

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
25

1. ABUDO, José Ibraimo. Direito da Família. Maputo, S/Ed., 2005.


2. AZEVEDO, A. Moreira & AZEVEDO, Ana Gonçalves. Metodologia Científica:
Contributos Práticos para a Elaboração de Trabalhos Académicos.9ª ed. Lisboa:
Universidade Católica Editora, 2008.
3. CAMPOS, Diogo Leite. Lições de Direito de Família e Sucessões. 2ª ed. Coimbra,
S/Ed,1997.
4. CARNELUTTI, Francisco. Metodologia de Direito. Lisboa, Escolar Editora, 2012.
5. COELHO, F.M. Perreira. Curso de Direito de Família. Coimbra, 1986.
6. COELHO, Francisco Perreira & OLIVEIRA, Guilherme. Curso de Direito da Família:
introdução direito matrimonial. Vol.1, 2ª ed. Coimbra, S/Ed, 2001.
7. MARTINEZ, Francisco Lerma. Homem e Mulher ele os criou. 8ª edição, Paulinas
Editora, 2012.
8. MONTEIRO, António Pinto & PINTO, Paulo Mota. Título. 4ª ed. Coimbra Editora, 2005.
9. MONTEIRO, Ana Cristina. Lei da Família 1ª Brochura ‘’ O casamento.’’ 2ª ed. Maputo,
WLSA Moçambique, 2007.
10. PRATA, Ana et all. Dicionário jurídico: direito penal e processual penal. 2ª ed. Coimbra,
Almedina, 2008.
11. VARELA, Antunes. Direito da Família. Vol.1. 4ª ed. Coimbra, 1999.

LEGISLACĂO
 Carta Africana sobre os Direitos e bem estar da Criança (Addis-Abeba, Julho de 1990).
Ratificada pela Resolução n˚ 20/98, de Fevereiro de 1990.
 Código do Registo Civil Anotado. Aprovado pela Lei n˚ 12/2004, de 8 de Dezembro.
 Código civil Português Actualizado até á Lei 59/99, de 30 de Junho.
 Código civil e Legislação complementar de Moçambique.2006. Aprovado pelo Decreto-
Lei n˚ 47344, de 25 de Novembro de 1966.
 Constituição da República de Moçambique. Texto de 2004.
 Conveção sobre os Direitos da Criança (Nova York, 20 de Novembro de 1989). Ratificada
pela Resolução n˚ 19/90 de 23 de Outubro.
 Lei n˚ 1/88 de 20 de Fevereiro ( aprova a Lei da Família Angolana).
 Lei n˚ 10/2004 de 25 de Agosto ( aprova a Lei da Família).
 Lei n˚ 7/2008 de 9 de Julho ( aprova a Lei Promoção e proteção dos Direitos da criança).
26

 Lei n˚ 14/2009 de 17 de Março ( aprova o Estatuto Geral dos Fumcionários e Agentes do


Estado).
 Lei n˚ 23/2007 de 1 de Agosto ( aprova a Lei do Trabalho).
27

INTERNET
Sites consultados

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(2012). Disponivel em http://www.wlsa.org.mz/lib/artigos/05-09-2012 22:30 horas
ARTHUR, Maria José at al - Dessiminação da Lei da Família e lógicas da sua apropriação por
parte das instituições do Estado. Publicado in revista “outras vozes “ n˚ 37, Fevereiro (2012).
Disponivel em http://www.WLSA,org.mz/lib/ artigos/26-07-2012.
GAGLIANO, Pablo Stolze – Direito Civil [características do casamento]. Disponivel em
http://www.técnica jurídica. Com.br.acess. 05-09-2012.
SAAD, Martha Solange Scherer – Teorias sobre a natureza jurídica do casamento. Disponivel em
http://www.mackenzie.br/fileadmin/Graduação/ Fdir/Artigos. 07-10-2012 às 12:30 horas
SANCHES, Maria da Glória Perez – Anotações de Direito de Família.
http://www.anotdireitofamíliablogspot.com /26-09-2012 às 15:25 horas
http://www.WLSA.org.mz.artigos/26-07-2012
http//www.wikipédia.org/wiki/emancipação do menor/17-09-2012
http://www.esdrasdantas.blogspot.com-- teorias sobre a natureza jurídica do casamento.html/19-
09-2012.
http://www.edu.br- capacidade jurídica/18-09-2012 às 11:30 horas

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