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Direito Constitucional

O Direito Constitucional é a parcela da ordem jurídica rege o próprio Estado enquanto


comunidade, enquanto poder. É o conjunto de normas que recortam o contexto jurídico
correspondente à comunidade política como um todo e aí delimitam os indivíduos e os
grupos uns face aos outros e em relação ao Estado-Poder. É o Direito da Constituição e
esta pode ser definida como um conjunto de normas jurídicas que definem:
 Estrutura: povo território e poder político
 Fins: segurança justiça e bem-estar económico social
 Funções do Estado: política legislativa judicial e administrativa
 Organização: económica social e política
 Titularidade: órgãos
 Exercício: processo de feitura e execução de leis
 Controlo do poder político: fiscalização da constitucionalidade, tribunais e
Provedor da justiça
A constituição em sentido amplo é a ordem fundamental de uma comunidade
política. Esta definição foi utilizada antes do século XVIII. Já em sentido restrito, uma
constituição é o conjunto de normas jurídicas que ocupa o topo da hierarquia do direito
de um Estado, e que pode, ou não, ser um documento escrito. Esta definição de
constituição passou a ser utilizada a partir do século XVIII.
As normas constitucionais são as mais importantes de um ordenamento jurídico, elas
constituem o suporte e o fundamento das restantes normas jurídicas, que são designadas
como normas ordinárias e que têm de respeitar as primeiras são apenas de
inconstitucionalidade. as normas constitucionais encontram-se assim no topo da
hierarquia, são a fonte hierarquicamente superior do direito. prevalecem sobre as demais
normas jurídicas, existindo mecanismos destinados à apreciação da conformidade destas
relativamente ao conteúdo daquelas.
As normas constitucionais estão em regra reunidas num único diploma. No entanto
podem existir normas constitucionais fora do texto constitucional, que são aquelas que
apesar de assumirem a forma de norma ordinária versam matéria com dignidade
constitucional. pode definir-se lei como um ato normativo geral e abstrato editado pelo
Parlamento cuja finalidade essencial é a defesa da liberdade e propriedade dos cidadãos.
As primeiras constituições escritas e os antecedentes do constitucionalismo
Até ao século XIX ou fins do século XVIII, os governantes consideravam se quando
muito limitados por normas religiosas ou princípios Morais, mas cuja sanção pelo
incumprimento era meramente moral. no entanto podemos já encontrar alguns
documentos que regulavam facetas da organização e exercício do poder político. estes
documentos são Hoje em dia considerados como antecedentes do constitucionalismo,
Uma vez que tinham em vista a limitação do poder e a defesa de direitos.
As constituições escritas são um produto da época moderna. Porém todas as sociedades
politicamente organizadas possuem e possuíram certas formas de ordenação que
podemos designar como uma ideia de Constituição.
Mas a ideia da organização constitucional do Estado só começou a ganhar vulto no
século XVIII, com o movimento constitucional impulsionado pelas revoluções liberais.
Em termos cronológicos, as primeiras constituições escritas apenas surgem
verdadeiramente na transição da idade moderna para a idade contemporânea, mais
precisamente na transição da monarquia absoluta para o estado de direito liberal.
Com a Revolução Francesa, em 1789, pretendeu se pôr termo ao absolutismo real,
mediante a consagração do princípio da separação de poderes. o poder passou a estar
confinado a vários órgãos:
o o poder legislativo caberia ao Parlamento
o o poder executivo ao rei
o o poder judicial aos tribunais
Sistema assim criado, a função executiva ficava subordinada à lei, embora num sentido
negativo, ou seja, a administração podia fazer tudo aquilo que a lei não podia disse isso
executivo viola-se a lei, Parlamento forçá-lo-ia a admitir-se, Enquanto os tribunais
fariam a justiça relativamente aos particulares que violassem a lei. apenas o Parlamento
não estava sujeito a fiscalização vindo se posteriormente a submetê-lo ao direito através
da justiça constitucional.
Passou-se a entender que existiam poder supremo: o poder do povo de elaborar O Pacto
da sua organização, ou seja, a sua Constituição de que constariam os órgãos com
capacidade para exercer o poder, as suas atribuições, bem como os direitos dos cidadãos
perante esses órgãos.
Apareceram então as primeiras constituições escritas. o primeiro texto foi a declaração
de direitos do Estado de Virgínia, em 1776, seguida pelas constituições dos outros
Estados americanos até a Constituição da Confederação dos Estados americanos de
1781, e a Constituição federal de 1787.
O constitucionalismo americano é marcado pelo federalismo, ou seja, existe um poder
constituinte de cada estado dos EUA e a vontade política federal, resulta da agregação
dos poderes políticos dos estados federados. Estão garantidos alguns direitos
fundamentais, tais como, a liberdade de culto, de palavra e de imprensa, direitos de
reunião e de petição; direito ao uso e porte de arma; inviolabilidade do domicílio;
garantias do processo penal; proibição da escravatura; direito ao voto,
independentemente da raça. Há separação de poderes, o executivo pertence ao
presidente, o legislativo às duas camaras do congresso e existe uma completa
independência entre os titulares dos poderes. Além disto, há uma mútua fiscalização dos
poderes legislativo e executivo.
Em 1789, surgiu a declaração dos direitos do Homem e do cidadão e em 1791, A
primeira Constituição francesa, que resulta revolução francesa, reforça assim um ciclo
iniciado com as constituições americanas e precisando se os contornos do chamado
estado constitucional.
O constitucionalismo francês é uma rutura com o Ancien Règime e é a contraposição
entre um Estado Absoluto e um Estado Constitucional. A Constituição francesa é
fundamentalmente lei escrita ao serviço dos direitos e das liberdades e do princípio da
separação de poderes. O poder legislativo é exercido pelas assembleias soberanas e é
expressão da vontade geral e o executivo está subordinado á lei. Os direitos
fundamentais consagrados são o direito á liberdade, á propriedade e á segurança.
A projeção deste constitucionalismo trouxe nos inícios do século XIX, a constituição
Espanhola e Portuguesa e mais tarde, na europa central, a constituição Alemã e
Austríaca. Já no século XX, trouxe o constitucionalismo para os Estados Africanos com
a descolonização.
A partir daqui do constitucionalismo francês, encarou-se a Constituição como um
conjunto de regras jurídicas definidoras das relações de poder, de modo a limitar os
governantes e a legitimar os atos do Estado. No Estado de direito liberal, a principal
preocupação era a limitação do poder, e como tal, A Constituição atendia sobretudo à
organização do poder político, consagrando a separação de poderes e os direitos do
cidadão.
No século XX, a Constituição, sem deixar de regular a vida política, ao mesmo tempo
que se universaliza, pedra referência necessária ao conteúdo liberal e nela bem a caber
quaisquer conteúdos. A Constituição torna-se um conceito mais amplo, aberto uma
polaridade de conteúdos ao mesmo tempo que se universaliza.
O Constitucionalismo Português
Em Portugal após o apogeu do Estado absoluto no século XVIII, assistiu se à
instauração do Estado constitucional no século XIX, em que encontramos 4
constituições típicas do Estado liberal: a Constituição de 1822, de 1826, de 1838 e 1911.
A seguir instauram se um Estado autocrático conservador, refletido na Constituição de
1933. com a Constituição de 1976 surgem os traços caracterizadores de um Estado
social e democrático de direito.
Quanto à forma de governo, encontramos a monarquia até à revolução de 5 de outubro
de 1910, instaurando se a forma de governo republicana.
Constituição de 1822
Surge na sequência da revolução de 1820, tem grande inspiração francesa e também tem
influência da constituição espanhola de 1812. É um regime de monarquia
constitucional. A organização desta parte dos direitos e deveres individuais dos
portugueses e consagra a separação dos poderes com a supremacia das cortes.
Carta constitucional de 1826
obra pessoal de Dom Pedro IV, antes de abdicar do trono português. É um regime de
monarquia constitucional, detendo o rei, alem do poder executivo, o poder moderador.
Este é a chave de toda a organização política e compete privativamente ao rei, como
chefe supremo da nação, para que necessariamente vele sob a manutenção da
Independência, do equilíbrio e harmonia dos demais poderes políticos. os direitos e
deveres fundamentais estão presentes no último artigo, o artigo 145º.
Constituição de 1838
Na sequência da revolução de setembro de 1836, vigorou até 1842. Desenvolveu a
matéria dos direitos fundamentais e há um regresso à tripartição dos poderes políticos.
Entre 1842 e 1910, vigorou a Carta constitucional, que foi alterada sucessivamente:
alterada em 1852, entre outras coisas, abolindo a pena de morte para crimes políticos;
alterada ainda em 1885, 1895 e 1907.
Constituição de 1911
surge na sequência da implantação da República. O Estado torna-se laico, é dada uma
grande importância aos direitos fundamentais dos cidadãos. O poder legislativo pertence
ao congresso da república <e o poder executivo é exercido pelo Presidente e pelos
ministros, existindo ainda um Presidente do Ministério.
De 1926 a 1933, há um período de ditadura constitucional, com latência constitucional,
só começando em 1931 a ser preparada a nova constituição.
Constituição de 1933
Surge na sequência do golpe de 1926, é meramente semântica pois apaga as liberdades
de expressão e imprensa (neste caso havia um sistema de censura previa), a liberdade de
associação e de reunião. Há um domínio da vida política pelo presidente do conselho.
Redução do presidente a uma magistratura representativa.
Constituição de 1976
Surge na sequência da revolução de 25 de abril. O MFA Propôs a eleição por sufrágio
universal, direto e secreto de uma Assembleia constituinte. a Constituição torna-se
complexa e vasta e assenta democracia representativa e na liberdade política. Admite
um órgão de soberania composto por militares, o conselho da revolução. Os direitos
fundamentais são muito desenvolvidos, desde as liberdades clássicas, aos direitos dos
trabalhadores, os direitos de participação política e os direitos sociais.
Revisões constitucionais:
1. 1982: redução das marcas ideológicas de referência ao socialismo; Extinção do
Conselho da Revolução e criação do Tribunal Constitucional;
2. 1989: sequência da adesão de Portugal à União Europeia; introdução do
referendo político e alterações á organização económica.
3. 1992: sequência do tratado de Maastricht; alteração para que os cidadãos
pudessem votar para o Parlamento Europeu.
4. 1997: desconstitucionalização de vários aspetos da organização política; reforço
dos mecanismos de participação dos cidadãos.
5. 2001: sequência da criação do Tribunal Penal internacional;
6. 2004: sequência do processo de integração europeia e a autonomia regional;
carta dos DF da UE.
7. 2005: processo extraordinário de revisão; inclusão do artigo 295º.
O constitucionalismo e os sentidos de Constituição
O constitucionalismo é um movimento social político e jurídico, ou seja, uma corrente
de pensamento e opinião e que pretende fazer emergir as constituições escritas, uma vez
que são estas que regulam a sociedade.
Rogério Soares Maria Lúcia Amaral
Considera que a ideia de Considera que o constitucionalismo é um
constitucionalismo está associada à ideal para moderar o poder político, ou seja,
exigência de uma Constituição escrita trata-se de um controlo do poder

A constituição tem de possuir obrigatoriamente uma organização do poder político


assente num princípio da separação dos poderes, da forma que haja a moderação do
poder político. Além disto tem de ter um catálogo dos direitos fundamentais, limitando
o exercício do poder.
Numa comunidade política, a Constituição desempenha a função de conferir uma
identidade, de garantir a resolução de problemas, a coesão da sociedade e a organização
da mesma, deve demonstrar os direitos e deveres dos cidadãos, deve servir de
mecanismo de defesa do país, e deve organizar politicamente o país e limitar o poder
dos órgãos de soberania.
Existem 2 perspetivas por que pode ser considerada a Constituição: em sentido
material, em que a constituição é o conjunto de normas que a estruturam, dão forma e
organizam o estado. Pode ser um documento escrito ou não e define a estrutura do
sistema de garantias dos cidadãos; em sentido formal, trata-se de um documento escrito
com autor e data, estabelecido pelo poder constituinte, que consagra os valores
princípios e regras considerados fundamentais para o estado.
Assim, a Constituição em sentido material abrangerá todas as normas que versem
matéria com dignidade constitucional e a Constituição em sentido formal será o
conjunto de normas qualificadas de constitucionais e revestidas de força jurídica
superior à de quaisquer outras normas. A Constituição em sentido formal deve vincular-
se à Constituição em sentido material.
A Constituição em sentido instrumental é o documento onde se inserem ou depositam
normas constitucionais. Em sentido amplo a Constituição em sentido instrumental será
todo e qualquer texto constitucional, seja ou não Constituição em sentido formal. Em
sentido mais estrito, é o texto ou documento chamado Constituição e aqui depende
sempre da existência de uma Constituição em sentido formal. a Constituição
instrumental depende depois da existência de uma Constituição formal, mas sem com
ela se confundir forçosamente.
Para existir uma Constituição formal é necessário:
1. Intencionalidade própria na sua formação, ou seja, as normas formalmente
constitucionais são criadas com intenção de serem constitucionais, elaboradas
por um poder com legitimidade para esse fim e de acordo com um processo
específico de formação;
2. Sistematização própria, ou seja, as normas formalmente integram-se num
conjunto sistemático com uma unidade e coerência próprias, dentro da unidade
e da coerência gerais do ordenamento jurídico e entendem se colocadas no topo
desse ordenamento jurídico;
3. Força jurídica superior, ou seja, as normas formalmente constitucionais gozam
de um estatuto ao regime imposto por tais características e pela função que
exercem, o que é notório na sua interpretação, integração, aplicação e garantia
A distinção entre a constituição em sentido formal e em sentido instrumental revela se
importante no caso português. Direito constitucional português recebeu as leis números
8, 16 e 18/75 e 1/76 como leis formalmente constitucionais, ou seja, uma receção
material. Recebeu também a Declaração Universal dos Direitos do Homem, através de
uma receção formal.
Existem quatro elementos de interpretação de uma constituição:
1. Elemento literal, nem a interpretação manda atender a letra do preceito
exatamente ao que está escrito. No processo interpretativo ainda não estamos
perante uma norma, o resultado da interpretação é que corresponde à norma. Ex:
Art 18/2 - A lei tem de ser a Assembleia da República ou um decreto-lei a
autorizar ao governo.
2. Elemento sistemático, implica o reconhecimento da existência de
interdependência semântica entre os preceitos normativos, ou seja, os vários
preceitos estão relacionados.
3. Elemento histórico, trata-se da circunstância do tempo e lugar no qual surgiu o
texto constitucional, que é importante e influência os elementos que foram tidos
em conta na redação da Constituição.
4. Elemento teológico/finalístico, ou seja, ter em conta qual o propósito dos
preceitos constitucionais. Os preceitos servem para concretizar/proteger bens
jurídicos fundamentais, ou seja, valores que são absorvidos pela Constituição.
Esta interdependência abordada no elemento sistemático pode ser analisada de duas
perspetivas:
1. Interdependência total, teia de círculo hermenêutico (interpretativo) de
iluminação recíproca. Assim a forma como um determinado preceito vai ser
interpretado vai influenciar a forma como os outros preceitos vão ser
interpretados. Há ainda uma interdependência entre o todo da Constituição e as
partes que a compõem.
2. Interdependência parcial, existem determinados preceitos da Constituição que
para serem claramente interpretados implica a interpretação em concreto de
outro preceito. Ex: Art 18/2 – “A lei só pode restringir”. Isto pressupõe a
interpretação do artigo 165º/1/b.  Quem restringe é a lei, depois possivelmente
através de um decreto-lei.
A Constituição serve para consagrar os valores jurídicos essenciais/fundamentais de
uma comunidade. Existem princípios que servem para orientar a constituição, e que
devem ser tidos em conta, na resolução de casos práticos.
Princípio da unidade da constituição, pressupõe que a constituição seja tida num único
texto e pressupõe que os vários preceitos que a compõem não estejam numa hierarquia,
ou seja, tenha mesma dignidade normativa, ou por outras palavras, têm o mesmo peso.
Exemplo: Se tiver 2 preceitos: de direito à vida, direito à liberdade. Nenhum favorece de
superioridade em relação ao outro.
Princípio da concordância prática, quando está em causa a interpretação de dois ou
mais preceitos constitucionais, sendo que esta interpretação leva a resultados
contraditórios, segundo este princípio deve ser feita uma espécie de conciliação que
permita dar um sentido útil a ambos os preceitos.
Exemplo: A lei do aborto, garante o direito à liberdade e à vida, mas o aborto é apenas
permitido em casos específicos (ou seja, o seu núcleo fica protegido). Houve uma
conciliação entre o direito à vida e direito à liberdade.
Princípio da máxima efetividade, de entre os vários resultados possíveis, que é possível
retirar de um preceito constitucional, deve ser escolhido o que melhor permite efetivar
as finalidades constitucionais.
Princípio da conformidade funcional, deve-se escolher o preceito que melhor seja
capaz, diante os vários resultados possíveis, de potenciar a separação dos poderes
Exemplo: Artigo 19/ 7, mesmo em estado de emergência tem de ser garantida a
separação de poderes no que toca à autorização de uma lei.
O Poder Constituinte
O Poder Constituinte é o poder de criar uma Constituição. Trata-se do poder mais
elevado do Estado, uma vez que depois deste poder, os restantes aparecem limitados. É
relevante para o direito constitucional, uma vez que é um poder anterior à norma (poder
no limite do jurídico).
Segundo Marcelo Rebelo de Sousa, poder constituinte é o poder de elaborar as normas
constitucionais, a faculdade de um povo definir as grandes linhas do seu futuro coletivo
através da feitura da Constituição. Segundo John Locke é um poder supremo e que
permitia dar forma a uma comunidade sendo que é um poder que pertence ao mesmo
tempo a sociedade. Segundo Abade Sieyès é um poder simultaneamente destituinte e
reconstituinte. Ou seja, é um poder que destrói, que rompe com a legalidade de um
ordenamento jurídico e que reconstrói e cria a partir do nada, uma nova realidade,
instaurando uma nova ordem diferente da antiga.
Esta perspetiva de que o poder constituinte é o poder mais livre, que é capaz de criar
algo a partir do nada é criticada atualmente, dado que nenhum Estado pode criar uma
Constituição totalmente livre, sem ter nenhum compromisso com outros Estados, já que
vivemos numa época de globalização, no qual um Estado requer o seu reconhecimento
pelos outros Estados. Assim a ideia de criar algo novo não é concebível uma vez que
existe uma Constituição material que influencia a formação de uma Constituição formal.
O poder constituinte pode ser originário ou derivado. O poder constituinte originário é
cronologicamente anterior à Constituição e trata-se do poder de criar uma Constituição
nova para um Estado que nunca a teve ou já não a tem em virtude de uma desagregação
social. Este reside na nação que o exerce através de representantes. O poder constituinte
originário só se exerce quando há uma rutura na ordem constitucional a um golpe de
Estado, a não ser que a Constituição admita a revisão total ou seja não estabeleça
limites. Para Marcelo Rebelo de Sousa possui três características:
1. inicial, por não existir dele qualquer poder que lhe sirva de fundamento
2. autónomo, por ser independente, só ele competirá decidir se, como e quando
elaborar a Constituição
3. omnipotente, por não estar subordinada nenhuma regra de fundo ou de forma
O poder constituinte derivado ou poder de revisão terá de se mover dentro dos quadros
constitucionais e é uma faculdade concedida pela Constituição, ou seja, decorre dela.
Como tal é um poder constituído, tal como são os restantes poderes criados pelo poder
constituinte originário: o poder legislativo executivo e o judicial. É um poder que
permite rever a Constituição existente para corrigir imperfeições ou colmatar lacunas ou
ainda para adaptar a Constituição à evolução da sociedade. Este poder está presente na
CRP nos artigos 284º e 289º.
Estado como referente clássico da Constituição
O Estado é o pressuposto de uma constituição. Contudo, há estados em que esta ideia
não vigora, nomeadamente em:
• Regimes autoritários, onde a constituição, mesmo existindo, não limita o
poder político;
• Estados federais – existe uma Constituição para cada Estado Federal, ou seja,
dentro de um só Estado existem várias Constituições.
Nota: Existe um Estado e muitas constituições, mas não existe muitos estados e uma
constituição.
Um Estado ocorre a partir do momento em que toda a comunidade está
politicamente organizada.
Segundo a teoria dos três elementos, defendida por Georg Jellinek, o Estado é
composto por:
• Povo (elemento pessoal)
• Território (elemento territorial)
• Poder (elemento político, soberano que organiza o povo naquele território)
Em Portugal pelos artigos 4º, 5º, 6º da CRP
Portugal é um Estado unitário, possuindo uma Constituição para todo o território.
Quanto ao elemento pessoal, a cidadania portuguesa é reconhecida na Constituição, que
remete para a lei da nacionalidade, definindo assim quem é cidadão português. Desta
forma, a lei da cidadania trata-se de uma norma constitucional, uma vez que é uma lei
que trata de questões constitucionais e por isso pertence á constituição material.
Quanto ao elemento territorial, a Constituição é relativamente mais explícita, embora
remeta novamente para a lei
Especificidade das Normas Constitucionais: Regras e Princípios
Normas que se traduzem em comandos concretos e o mais claros possíveis e que são
diretamente aplicáveis para a facilitação da vida em sociedade. A estas chamamos
regras, por exemplo, as regras do código da estrada. As regras cumprem se através da
obediência e são rígidas.
Art. 2º - “Portugal é uma República soberana, baseada na dignidade da pessoa humana”
Este artigo trata-se de uma norma, mas não é uma regra dado que não obedece a
comandos. Esta norma surge sobre a forma de princípio. O princípio dá-nos apenas
critérios ou indicações para que perante uma situação de facto imprevista possamos
tomar posição a favor de uma ou outra solução.
Aderimos aos princípios, em vez de lhes obedecermos. Trata-se de um comando
abstrato que necessita de ser concretizado para se poder tornar atuante, é maleável
porque não obriga. São dirigidos aos poderes públicos, exigindo deles adesão a tal
princípio para que o possam ir realizando, ir otimizando na prática da vida cívica
quotidiana.
Distinção entre Regras e Princípios
1. Grau de abstração: Os princípios são mais abstratos, tem um caráter mais amplo.
2. Grau de determinabilidade: As regras são mais determinadas
3. Caráter de fundamentalidade: Os princípios têm mais fundamentalidade
4. Natureza normogenética (génese das normas): Os princípios têm natureza
normal genética porque de um princípio nascem mais.
Os princípios são normas impostas de uma otimização, compatíveis com vários graus de
concretização (lógica de ponderação). Ou seja, os princípios podem ser cumpridos pela
metade.
As regras são normas que prescrevem imperativamente uma exigência que é ou não
cumprida (lógica de tudo ou nada). Ou seja, ou se cumpre a regra, ou não se cumpre.

A Constituição é um sistema normativo contém regras e princípios:


Regras: Art. 133º, 164º e 165º
Princípios: Art. 1º, 2º, 13º, 20º, 266º
Em Portugal o sistema normativo é composto por mais princípios do que regras. A fonte
dos princípios fundamentais são, essencialmente, os 11 artigos primeiros da
Constituição. Estes tratam-se de uma espécie de concentração do todo.
Os elementos constituintes do Estado: O direito à nacionalidade
A Lei da Nacionalidade, Lei 37/81, garante a nacionalidade a todos os cidadãos
segundo critérios específicos. Essa garantia é dada através do território de nascimento,
da sua filiação e da vontade de ser português desejada pelo individuo. A nacionalidade é
o vínculo de caracter jurídico que liga um qualquer individuo a um Estado, este vínculo
atribui direitos, mas também deveres aos cidadãos. Existem dois critérios fundamentais
para que um individuo seja considerado cidadão português:
1. Ius soli (solo/lugar de nascimento)
2. Ius sanguinis (descendência/filiação)
Assim sendo, a nacionalidade por atribuição (Art 1º da LN) é concedida aos indivíduos
que nasçam em território nacional e sejam descendentes de portugueses, os filhos que
tenham como parentes pelo menos um individuo de nacionalidade portuguesa, e ainda
os indivíduos que nasçam em Portugal e não possuam qualquer outra nacionalidade.
Podem ainda ser portugueses de origem, os descendentes de judeus sefarditas, servindo
tal medida para reparar a injustiça cometida por D. Manuel ao expulsar os jesuítas de
Portugal. (Artº 6, nº7 da LN)
A nacionalidade por aquisição é concedida aos indivíduos que sejam adotados por
cidadão nacional, aos filhos menores de cidadãos que tenham adquirido a
nacionalidade, mediante uma declaração, e também é concedida a um individuo
estrangeiro que esteja casado há mais de 3 anos com um cidadão nacional.
Além disto, a nacionalidade portuguesa pode ser concedida aos estrangeiros que
satisfaçam cumulativamente uma serie de requisitos. A aquisição da nacionalidade
ocorre para aqueles que sejam maiores de idade, que residam legalmente há pelo menos
cinco anos, que não tenham sido condenados a pena de prisão superior a 3 anos e que
também não sejam considerados uma ameaça para a segurança nacional e por último,
que dominem suficientemente a língua portuguesa. A diferença entre estes cidadãos
Portugueses Naturalizados e os cidadãos portugueses de origem, é que estes não podem
ser Presidentes da República.
A lei da nacionalidade, para além de regular quem possui a nacionalidade quer por
atribuição, quer por aquisição, regula também a perda da nacionalidade.
A perda da nacionalidade acontece quando os indivíduos tendo a nacionalidade de
outro estado, declarem que não querem ser Portugueses. Em circunstância alguma, o
Estado não pode retirar a nacionalidade de uma pessoa.
Um apátrida é um individuo que não é titular de qualquer nacionalidade. Existem cerca
de 12 milhões em todo o Mundo e não possuem nacionalidade devido ao
desmembramento de Estados e por outros motivos.
Todas as constituições até então integram a lei da nacionalidade. A única alteração é
efetuada em 1976 quando a lei deixa de integrar a Constituição Formal e passa a fazer
parte de um texto orgânico e é por isso designada lei orgânica - lei como valor
reforçado.
Em suma, no nosso ordenamento jurídico, a nacionalidade pode ser adquirida
originalmente, ou posteriormente perante uma serie de requisitos.
Os nove postulados de Maria Lúcia Amaral
O constitucionalismo moderno formou-se como uma doutrina herdeira natural do ideal
antigo do governo/poder moderado ou equilibrado, que integra inevitavelmente
postulados de rutura face à tradição clássica, exigidos pelas novas condições
estadualidade moderna. Os nove postulados do constitucionalismo moderno são:
1. Fundamento do poder: a razão do poder político que se exerce numa
comunidade provém da vontade geral de todos os seus membros. Art.º 3 da CRP
2. Forma da Constituição: a ordem fundamental da comunidade política é a
constituição escrita que reflita a soberania popular. (Não é universal, alguns
Estados não obedecem)
3. Legitimidade no exercício do poder: cada órgão de soberania pode apenas
atuar, nos limites do poder que representa, sendo de outro modo, considerado
ilegítimo.
4. Pertença á comunidade política: a condição de cidadão é o que define a
pertença a uma determinada comunidade e não o alinhamento político.
5. Valores fundamentais da comunidade: Os direitos do Homem e dos cidadãos
têm de ser respeitados e protegidos a qualquer custo.
6. Separação entre o poder religioso e político: O estado é laico.
7. Separação entre poderes políticos: Uma comunidade onde não exista a
separação dos poderes, não pode possuir uma constituição.
8. Supremacia da Lei: O poder legislativo consagra-se como sendo o mais
importante dos três, representado num parlamento onde impera a vontade da
maioria.
9. Princípio da Maioria: As decisões políticas devem respeitar a vontade da
maioria. Os votos são contados e não pesados e ganha quem tiver mais. O modo
pelo qual se alcança a maioria é pelo direito de sufrágio.
Princípios Constitucionais Fundamentais
A Constituição é constituída por normas. Todo texto constitucional tem valor
normativo, revela direito pelo que se não pode distinguir nele, entre aquilo que é para
cumprir aquilo que não é. no fundo a Constituição não é uma norma, mas antes um
conjunto de normas de estrutura muito diversa, entre princípios e regras.
Embora Portugal seja um Estado unitário, fala-se em pluralismo constitucional, pelo
facto de o País pertencer à União Europeia. Assim, a Constituição portuguesa convive
com as normas do Tratado da União Europeia.
No artigo 1º e 2º da CRP, são consagrados vários princípios:
• Separação de poderes
• Dignidade da pessoa humana
• Estado Social: democracia económica, social e cultural.
• Estado Republicano
• Estado Democrático
• Estado de Direito
Os princípios constitucionais fundamentais fazem com que todo o sistema
constitucional decorra direta ou indiretamente deles. As normas que os contém possuem
uma função “enunciativa” na exata medida em que dão a conhecer, o “programa” da
constituição.
Estado de Direito
Foi com a alteração introduzida pela lei de revisão constitucional nº1/82, que o termo
“Estado de Direito” passou a integrar o articulado constitucional. Este termo tem uma
matriz germânica uma vez que é um conceito alemão (Rule of Law / Principe de
légalité)
Um Estado de direito é a um Estado que cria direito, mas subordina-se a ele, ou seja, é
um Estado à medida do direito. O seu contrário corresponde ao Estado de arbítrio, que
corresponde ao poder que se exerce por uma autoridade arbitrária, isto é, por um poder
que se exerce ao sabor de decisões imprevisíveis, constantemente tomadas em função da
infinita variedade da vida e são inspiradas pela vontade de quem manda. Se fosse assim
constituída uma comunidade, dificilmente poderia ser concebida como uma comunidade
humana.
As leis devem, em princípio, ser gerais e abstratas, isto é, devem representar para uma
generalidade de casos e representar uma categoria indeterminadas de pessoas. O
exercício do poder político deve ser regulado por estas leis, de tal modo que se evite o
arbítrio de quem, em certo momento, pretende mandar e ser obedecido.
Há uma ideia, segundo a qual só haverá uma comunidade política justa, quando o seu
Estado estiver sujeito á juridicidade, e assim, todo o seu poder se encontrar subordinado
ao Direito. De acordo com Kant, o mais difícil da espécie Humana é o formular uma
constituição de uma sociedade civil que possa ser considerada como universalmente
justa. Surgem então estes estas ideias:
1. A liberdade de cada membro da sociedade como ser Humano: é lei que deve
determinar, onde termina a liberdade de um e onde começa a liberdade dos
outros.
2. A igualdade de um face a todos os outros como súbdito: deve existir uma igual
submissão de todos à mesma lei.
3. A independência de cada membro da comunidade política como cidadão: é livre,
na exata medida em que obedece à lei geral à qual, através de um direito de voto
fundado num princípio contratual, dei o meu consentimento.
O Estado que garanta a cada um a liberdade assim entendida, compatível com a
máxima liberdade de todos os outros, é o Estado de Direito. Aquele que não o fizer não
merece ser qualificado como tal.
O Estado de Direito é por isso, comprometido com a realização de determinados fins, da
segurar a liberdade, a segurança, a justiça e a dignidade da pessoa humana. (ser
humanamente digno – ser igual a todos os outros em capacidade da autonomia da
moral)
Estado de direito deveria organizar-se a partir de três instrumentos fundamentais:
1. Deve organizar-se decorrente do princípio da separação de poderes: é
necessário o cumprimento das normas por todos.
Poder Legislativo: o legislador está também obrigado a respeitar a CRP.
Poder Executivo: está subordinado ao poder judicial.
Poder Judicial: Os tribunais estão também vinculados à lei e á CRP, pelo que
não é um poder livre, mas sim independente, tendo como finalidade suprimir os
litígios.
2. Deve organizar-se decorrente da prevalência da lei geral do Parlamento sobre
a ação do executivo.
3. Deve organizar-se decorrente da necessária proteção da propriedade e
liberdade dos cidadãos
Os Elementos Formais e Materiais do Estado de Direito
Elementos Formais Elementos Materiais
1. Separação dos poderes 1. Dignidade da Pessoa Humana
2. Constitucionalidade das leis 2. Liberdade
3. Legalidade da administração 3. Justiça
4. Independência do poder 4. Segurança
jurisdicional.

Elementos Formais:
1. Separação dos poderes
O poder legislativo é partilhado pelo Parlamento, pelo governo e pelas assembleias
legislativas regionais.
O poder administrativo/executivo é partilhado pelo governo, pelas autarquias locais e
por outras entidades.
Só o poder judicial é que não pode ser um poder partilhado, dado que a CRP reserva-o
aos tribunais, únicos órgãos de soberania com competência para administrar a justiça
em nome do povo.
Este princípio integra o núcleo essencial da ideia de Estado de Direito porque se fosse
permitido a possibilidade da concentração dos poderes no mesmo órgão estar-se-ia a
consentir que ocorressem condições propícias ao mau uso da força por parte de quem
governa. A separação dos poderes não pressupõe, apesar de tudo, a independência de
cada um, pelo contrário está subjacente uma ideia interdependência.
2. Constitucionalidade das leis (supremacia da constituição)
Vincula o legislador e todos os atos estatais à Constituição, estabelecendo o princípio da
reserva da Constituição e vigorando a força normativa da Constituição, instrumento
básico da garantia jurídica.
3. Legalidade da administração
Aparece como medida do direito, isto é, através de um meio de ordenação nacional,
vinculativamente prescritivo de regras, formas e procedimentos que excluem o arbítrio e
a prepotência.
4. Independência do poder judicial
Os tribunais são independentes e apenas estão sujeitos à lei.
Elementos Materiais:
1. Dignidade da pessoa humana
A imagem do Homem do Estado de Direito corresponde a uma pessoa cuja dignidade
tem de ser respeitada e protegida pela Constituição. O imperativo categórico kantiano:
“Age sempre de modo a tratar a humanidade, quer na tua pessoa quer na de outrem,
como um fim em si mesma, e nunca como um meio para a persecução de um fim”
O homem aqui surge como alguém dotado de dignidade própria, não é apenas o ser
livre é também alguém que sendo sempre moralmente autónomo para responder por si
mesmo e pelas suas escolhas, vive por isso em condição de absoluta igualdade de valor
face a todos os outros seres da sua espécie. Por isso deve ver-se a si mesmo e aos
demais como um fim e nunca como um meio ou instrumento para a realização de
objetivos que transcendem a humanidade.

2. Liberdade

Não haverá Estado de Direito onde a Constituição não assegure a cada pessoa a
possibilidade do exercício da sua autonomia e, portanto, da sua responsabilidade
individual. É necessário que a liberdade se torne possível através da consagração, em
direito positivo, de certos direitos fundamentais como:
1. o direito à vida (Artº 24)
2. o direito à integridade pessoal (Artº 25)
3. o direito à liberdade e segurança (Art 27º)
3. Justiça
Justiça como igualdade – tratamento de todos como iguais.
Estado de Direito socialmente empenhado nesta justiça.

4. Segurança
Para os cidadãos a atuação dos poderes públicos deve ser sempre uma atualização ante
visível, calculável e mensurável. Ou seja, num Estado de Direito as pessoas devem
saber com aquilo que contam. O princípio da segurança assim entendido decorre
logicamente dos outros elementos materiais que integram a categoria do Estado de
Direito. Para que o estado possa assegurar a segurança importa respeitar estas 3 normas:
1. Obrigação de um Estado definir leis e normas com clareza e determinação, ou
seja, o estado deve publicitar tais normas com precisão e clareza para que os
indivíduos as possam conhecer.
2. As normas passam por um processo de longa maturação, ou seja, se a norma só
for publicada amanhã não se deve antecipar os seus efeitos
3. Obrigação da proibição de normas retroativas, ou seja, quando existir em
momento anterior ao da prática dos atos pelos indivíduos para que estes as
possam conhecer e atuar em conformidade com elas.
Num Estado de Direito a atuação do legislador deve ser voltada para o futuro e assim
criar normas prospetivas. O que é indesejável num Estado de Direito é que tenham um
caracter retroativo, ou seja, que legislem para o passado. Surge assim o princípio da
proibição da retroatividade.
Normas retroativas   Normas prospetivas
----------------------------------------X-----------------------------------------------------
Entrada em vigor de uma lei

Proibição da retroatividade:
 Art. 18/3 – Leis restritivas de direitos, liberdades e garantias
 Art 29/1 e 4 – Leis Penais
 Art 103/3 – Leis Fiscais
Retroatividade autêntica/pura Retroatividade inautêntica/impura ou
retrospetividade
Caracteriza-se pela aplicação de uma lei Ocorre nos casos em que se pretende a
nova a factos integralmente verificados aplicação dos efeitos da lei nova a factos
antes da sua entrada em vigor cuja verificação ainda se encontra em
curso à data da entrada em vigor.

Deste modo, uma norma retroativa afeta situações jurídicas verificadas no passado,
enquanto uma norma retrospetiva aplica-se apenas para o futuro, mas no quadro de
situações jurídicas duradouras, constituídas no passado, mas que continuam no presente
e continuaram no futuro.
Pense-se numa alteração da lei de arrendamento aplicável aos contratos anteriores à
entrada em vigor da lei ou numa alteração à lei do contrato de trabalho, alterando as
condições existentes quando este foi celebrado e com os quais a ambas as partes
concordam.
------------------------------X--------------------------------------
X----------------------------------
Contrato Entrada em vigor de uma lei
O contrato vai ser afetado por esta nova lei. A isto se chamam normas retrospetivas.
Há ainda certas situações em que se a nova lei for mais favorável ao arguido, do que a
anterior, que foi revogada, deve se optar por julgar o arguido sobre a lei mais favorável.
Lei Crime Sentença
--------------X------------------------------X--------------------------------------X-------
07/11/21 2030
A sentença é determinada sob a lei em vigor, aquando do crime.
--------X-----------------------------X----------------------X---------------------------X-----
Lei penal que admite Crime Abolição da pena Julgamento
a pena capital de morte
Usa-se a lei mais recente, dado que é mais perfeita do que a anterior, porque foi
consagrada há menos tempo. Também se usa esta lei por ser a mais favorável ao
arguido.
Fora estas situações de retroatividade legal expressamente proibida, o legislador pode,
excecionalmente e mediante certos requisitos, criar normas com efeito retroativo, que
afetam desfavoravelmente os cidadãos.
Para que essas normas possam ser consideradas legitimas num Estado de Direito é
necessário que se cumpram determinados requisitos, que a jurisprudência do Tribunal
Constitucional tem desenvolvido.
Princípio da proteção da confiança
É necessário averiguar se a confiança dos cidadãos é merecedora da total jurídica e o
quão intensa deve ser essa tutela. Para isso, impõe-se verificar:
1. Se o Estado criou expectativas de continuidade do quadro legal aplicável;
2. Se as expectativas são legítimas, isto é, fundadas em boas razões;
3. Se os cidadãos fizeram planos de vida com base nessas expectativas.
Se tais requisitos se cumprem, isso significa que existe uma confiança depositada pelos
cidadãos no Estado e, portanto, o Estado não pode ser cego na definição das normas e
deve ter em conta estes aspetos.
É necessário ainda que a mudança normativa seja exigida por um interesse Público que,
pela sua importância e valor, sobreleve o valor das expectativas privadas. Se tal não
acontecer, se da ponderação entre as expectativas jurídicas e o interesse Público, se
concluir que este não sobreleva a importância daquelas, então à violação do princípio
da proteção da confiança, inserido no princípio do Estado de Direito consagrado no
Art.º 2.
Princípio da Proporcionalidade
Para além de o Estado ter de garantir a segurança jurídica, sendo ante visível e
calculável para com todos os cidadãos, o estado tem de ser ainda mensurável, ou seja,
deve agir sobre justa medida. Trata-se do princípio da proporcionalidade ou da
proibição do excesso.
Deve existir um equilíbrio entre uma decisão do Estado e o fim que o Estado procura
atingir com essa decisão. Sempre que o estado atua tem de se ponderar os custos e os
benefícios desta ação. Deste modo, as desvantagens obtidas por todos através dessa
medida estadual devem ser proporcionais, às desvantagens que essa medida causou.
Uma ação deste nível só é justificada quando as suas vantagens superam as
desvantagens. Num estado de direito “não se usam canhões para atirar a pardais”.
A CRP faz referência a este princípio a propósito das leis restritivas de direitos,
liberdades e garantias. Encontra-se no Art 18º/2, Art 19º/4, Art 266º/2, Art 272º/2.
Apesar de apenas ser explícito nestes 3 artigos estamos perante um princípio que se
deve aplicar transversalmente a qualquer atuação do Estado. Cabe aos tribunais verificar
se as atuações dos bens públicos vão de acordo com este princípio.
Para analisar se o estado agiu com proporcionalidade em tal a ação precisamos de
conhecer qual é a finalidade dessa ação. Devemos apreciar este princípio através de 3
critérios:
1. Adequação: Deve-se procurar saber se os meios escolhidos para a realização de
um certo fim são em geral, meios apropriados para a obtenção da finalidade da
ação. Deve-se provar que em situações normais de vida, o meio escolhido para
determinada ação, se apresenta como um meio apto para melhorar a situação e,
portanto, alcançar o fim que tal ação pretende.

2. Necessidade ou exigibilidade: deve-se procurar saber se o estado ao agir


escolheu entre todas as medidas possíveis, igualmente aptas, aquela que entre
todas é justamente o meio menos oneroso para os cidadãos, ou seja, um meio
que traga menos encargos para os cidadãos.

3. Proporcionalidade em sentido estrito ou equilíbrio: Deve-se ainda averiguar


se existe no caso concreto, uma relação de proporção, ou de justa medida no
meio que foi escolhido porque as vantagens decorrentes deste tem de superar
largamente as desvantagens.

Adequação Necessidade Proporcionalidade


O meio é o mais apto Existe outro meio apto, As vantagens decorrentes
para a prossecução do menos oneroso/gravoso da decisão superam as
fim? para os cidadãos? desvantagens?

Princípio da Dignidade da Pessoa Humana


Consagrado no Art 1º e também no 2º da CRP, é considerado um princípio estruturante
do ordenamento jurídico português uma vez que traduz uma ideia fundamental de toda a
ordem jurídico-constitucional, a ideia da pessoa enquanto fundamento e fim do Estado.
Faz parte de quase todas as constituições e de acordo com a filosofia Kantiana, o
homem deve ser visto como um fim e não como um meio para atingir esse fim. A
questão deste princípio impõe se na eutanásia, ou na gestação de substituição.
Na questão da morte medicamente assistida, para uns deve ser legalizada porque a
dignidade de se escolher viver ou não sobrepõe-se, já outros defendem que o direito á
vida, é um direito que deve ser protegido, sejam quais forem as circunstâncias.
Há uns anos foi feita uma alteração no RMG, que foi transformado no RSI. Todos
poderiam requerer esta prestação social, exceto que tivesse entre os 18 e os 25 anos de
idade, com o fundamento de que estes jovens devem trabalhar e não ficar dependentes
deste subsídio para viver. O TC pronunciou-se afirmando a inconstitucionalidade da
norma, por violação do direito a um mínimo de existência condigna inerente ao
princípio da dignidade da pessoa humana.
No Direito Penal, este princípio assume grande importância. Este ramo do direito
assenta na dignidade, uma vez que toda a sua construção gira em torno de uma conceção
do Homem como um ser digno e livre e que, portanto, pode ser responsabilizado pelas
suas condutas, sendo suscetível de um juízo de comensurabilidade, isto é, de culpa. A
culpa pressupõe a liberdade e a dignidade da pessoa humana, na medida em que a pena
se funda num juízo de reprovação do agente por não ter agido em conformidade com o
seu dever cívico quando poderia e deveria tê-lo feito.
Deste modo, este princípio é, na maior parte das vezes, um mero auxiliar de
interpretação. Trata-se de uma ancora de sentido para o TC. Ele tem esta função
normogenética, que faz nascer de si outros direitos que não estão explícitos na
constituição.
Princípio da Igualdade
Intimamente ligado com o princípio da dignidade da pessoa humana está também o
princípio da igualdade. De facto, a dignidade do indivíduo só é verdadeiramente
respeitada se este for tratado em condições de igualdade relativamente aos restantes
indivíduos. encontra-se consagrado no artigo 13º da CRP, apesar de existir várias
referências a este ao longo da constituição, e de decorrer também do princípio do Estado
de Direito (Art 2º), entendido em sentido material, isto é, como um Estado
comprometido na realização da justiça. Para se poder atingi-la está vinculado o respeito
pelo princípio da igualdade entre todos os indivíduos.
A lei deve ser igual para todos, não pode haver tratamentos diferentes dependendo dos
cidadãos. Pode haver uma diferenciação de tratamento, mas ela tem sempre de assentar
numa diferença á partida.
O princípio da igualdade não é um princípio tão fácil de ser aplicado. A violação deste
princípio so acontece quando não há um fundamento, uma razão para esta diferença de
tratamento. O princípio da igualdade só proíbe o arbítrio.
Existem categorias suspeitas (Art 13º/2) que ao longo da história foram sempre
categorias que serviram para distinguir os indivíduos, provocando desigualdades.
Há uma dimensão da igualdade proporcional, ou seja, por exemplo, justifica-se que haja
os cortes do setor público, mas está a haver muitos encargos para estes trabalhadores,
algo que não é proporcional dado que há muitos cortes nuns trabalhadores e noutros
não.
É sabido que, este princípio não proíbe ao legislador que faça distinções – proíbe apenas
diferenciações de tratamento sem fundamento material bastante, sem uma justificação
razoável, segundo critérios objetivos e relevantes.
Igualdade em Igualdade em sentido material Igualdade em sentido
sentido formal proporcional

Todos os cidadãos Tratar de forma igual aqueles que Relaciona-se com o


têm a mesma são iguais, tratar de forma diferente princípio da
dignidade social e aqueles que são diferentes, na proporcionalidade.
são iguais perante a medida dessa diferença. Deve existir uma
lei, Assim, o Estado tem de assegurar igualdade proporcional
independentemente que todos têm igualdade de entre todos os
da raça, sexo ou oportunidades para tudo na indivíduos, mesmo
religião sociedade. quando há elementos
Art 13º/1 Art 13º/2 diferenciadores.

Princípio Democrático
Há, evidentemente, uma relação muito estreita entre Estado de Direito e democracia,
uma vez que o estado de direito em sentido material exige também o respeito pelo
princípio democrático. Este princípio exige que todos em condições de plena igualdade
tenham uma palavra a dizer sobre os destinos coletivos, por isso é uma forma de
legitimação da organização do poder político, assente no princípio da soberania popular,
consagrado no Art 3º/1 e 108º. O princípio democrático manifesta-se na constituição
através da consagração do direito de sufrágio, no Art 10º/1.
Os direitos fundamentais particularmente os direitos, liberdades e garantias de natureza
política só se realizam efetivamente em democracia. Um regime democrático funciona
segundo o princípio da maioria, mas todas as decisões maioritárias, não são
necessariamente livres, pois estão limitadas pelo respeito ao princípio do Estado de
Direito e pelo respeito a todos os direitos fundamentais.
Assim, as maiorias não podem decidir algo contrário aos princípios fundamentais
consagrados na constituição. Deste modo, o princípio do Estado de direito e os direitos
fundamentais funcionam como um garante das minorias. Art 114º/2 – As minorias tem
garantido o direito á oposição democrática. A democracia assenta no respeito pela
vontade das maiorias e numa conceção igualitária do povo. Art 10º, 110º, 115º, 116º e
240º
“Existe democracia onde quer que seja possível afastar governantes do exercício de
poder, sem o derramamento de sangue” – Karl Popper
Democracia Indireta ou Representativa Democracia Direta
Através do exercício do direito de voto as Quem participa na tomada de decisões
pessoas escolhem os seus representantes são todos os cidadãos. Art 245/2 
que irão exercer a soberania em nosso Plenário dos cidadãos eleitores, é
nome. admitido que em freguesias muito
Art 113º  Voto – universal, igual, pequenas, o órgão deliberativo da
direto, livre, secreto e periódico. Todos freguesia possa ser conjunto de cidadãos.
os votos valem o mesmo, não há votos
que valem mais do que outros
dependendo das pessoas.
O nosso sistema é essencialmente democracia representativa, apesar disso a nossa
Constituição institui alguns mecanismos de democracia semidirecta:
O referendo previsto no Art 115º, é dar ao povo a escolha de uma certa matéria que
poderá levar a uma mudança na legislação. Através da resposta a uma questão que lhes
é colocada, fazem-se ouvir. Os referendos são vinculativos, apenas quando o número de
votantes é superior a 50%
O referendo pode ser convocado por uma iniciativa de cidadãos, ou mediante proposta
do Parlamento, á qual compete a decisão do PR. Não é possível fazer um referendo que
implique alterações á constituição, não é possível que os cidadãos decidam sobre os
seus próprios impostos, ou seja, não pode haver referendos sobre questões tributárias,
orçamentais ou financeiras. Além disto, não pode haver referendos sobre as matérias
pertencentes aos artigos 161º e 164º.
Pretende-se com este tipo de mecanismos criar uma maior proximidade entre os
cidadãos e os processos de tomadas de decisão que afetam toda a sociedade.
A forma de ligação entre estas duas democracias é através de petições dirigidas á
assembleia da república.
Princípio do Estado Unitário
O Art 6º afirma que o Estado Português é um Estado Unitário. Os EUA são um exemplo
de um Estado não unitário, de um Estado federativo, um conjunto de Estados que
possuem cada um a sua constituição e que são governados a partir de um poder central.
A Alemanha ou o Brasil também tem este regime. A Constituição é a única fonte da
autoridade do poder, ou dos poderes, que no seu território se exercem e a única fonte de
legitimidade do direito que nele vigora. Há apenas uma constituição em Portugal por
isso, somos um estado unitário. Um estado unitário não é centralista, em que os poderes
são todos exercícios do mesmo sítio do poder.
A única diferença existente no estado português, é que os arquipélagos têm um regime
autónomo. Já dentro do território nacional existe o princípio da autonomia local
(regiões administrativas, freguesias e municípios) e o princípio da descentralização
administrativa.
A estes três princípios: o princípio da autonomia das regiões autónomas, da autonomia
local e da descentralização administrativa chama-se a separação vertical de poderes.
Princípio da Integração Europeia
Este não é um princípio originário na nossa constituição, apenas surgiu após a adesão de
Portugal à comunidade europeia. A entrada para a UE significou um abalo
constitucional muito importante, isto porque a UE é uma grande força normativa e
legislativa, que cria muito direito independentemente, das constituições dos diversos
países.
O Art 7º/5 e 6 trata questões europeias, baliza os poderes do Estado português na
comunidade europeia. O número 6 admite a possibilidade de haver cooperação e
transferência de poderes que a partida seriam concentrados no soberano. O Art 8º trata
de questões europeias com a abertura da nossa ordem política á comunidade europeia.
As normas criadas pela Comissão Europeia (Art 8/4) são normas criadas a nível europeu
e por isso, gozam de um efeito direto e de supremacia relativamente ao direito estadual
Regulamentos da União Europeia Diretivas da União Europeia
Um regulamento, uma vez aprovado, Uma diretiva tem de ser transposta para o
vigora imediatamente em todo o espaço direito interno de cada país e ser,
territorial da UE, sem precisar de ser posteriormente, publicada em diário da
transposto para o direito vigente em cada república. Depois disto, vigoram e devem
Estado ser respeitadas pelos cidadãos.

Por regra para que as diretivas vigorem em Portugal, ela tem de ser transposta, tem de
integrar o ordenamento jurídico português, para vigorar. No artigo 112º, número 8 da
CRP diz nos que a transposição é feita por via de 3 diplomas: lei, decreto-lei ou decreto
legislativa regional. A diretiva sobre o IVA foi transposta para o ordenamento jurídico
português por decreto-lei.
Princípio da Integração e da abertura ao Direito Internacional
Portugal passa de uma ideia de “orgulhosamente sós” para a partir de 1976 querer
participar e cooperar a nível europeu e internacional. Tem vontade “acertar o passo”
pelos avanços no desenvolvimento do direito internacional, em particular do direito
internacional dos direitos humanos. Encontra-se consagrado no Art 7º, 8º e 16º da
Constituição.
Princípio da Sociabilidade
O Art 2º faz ainda referência à realização de uma democracia económica, social e
cultural como objetivo fundamental a prosseguir pelos poderes políticos.
A concretização de uma democracia económica social e cultural implica que o estado
deva procurar atenuar as diferenças reais entre as pessoas, em situações de maior
carência, não pode deixar desprotegidos os seus cidadãos e deve promover a igualdade
de oportunidades entre todos.
A República Portuguesa é, portanto, um Estado de Direito democrático e social e que
deve promover a justiça social.
Há uma estreita ligação desta dimensão social como princípio da dignidade da pessoa
humana, fundamento de todos os direitos fundamentais.
É do princípio da dignidade que se tem feito de elevar direito ao mínimo para a
existência de condigna, direito este juridicamente exequível.
O princípio da socialidade está também intimamente relacionado com o princípio da
igualdade, uma vez que a própria interpretação deste último em estado social implica
que não se possam deixar de ser tidos em conta as diferenças reais entre as pessoas,
sendo inclusivamente exigível que se trate diferentemente, de modo a ser possível
atenuar essas desigualdades.
Assim, o facto de sermos um Estado social de direito significa que não está na livre
disponibilidade do Estado, a garantia dos direitos económicos, sociais e culturais dos
seus cidadãos.
O princípio encontra-se consagrado para além do Art 2º, no Art 9º, 80º e 81º.
O Controlo da Constituição
No início do séc. XX, é discutido quem deve ser o guardião da constituição. Esta
questão entrou em debate levado a cabo por um autor alemão, Carl Schmilt e também
por Hans Kelsen.

Carl Kelsen
O guardião deve ser o poder Defende que o guardião deve ser o poder
supremo/politico, dado que se houver um judicial, dado que seria uma ingenuidade
tribunal a guardar a constituição, é um que o próprio parlamento anulasse as
órgão de soberania, e por isto coloca se suas próprias leis, ou seja, não poderia
em causa o princípio de separação de ser o parlamento a zelar pela
poderes. constituição.

Por isto, o controlo da constituição deve ser diferente na Europa em relação aos EUA.
Assim, Kelsen diz que é preciso criar um tribunal próprio, um tribunal especial para
tratar destas questões de inconstitucionalidade. Assim, não se põem em causa a
separação dos poderes, porque este tribunal não vai legislar normas, irá apenas subtrair
do ordenamento jurídico, as normas que não estão de acordo com o texto constitucional.
É então idealizado e corporizado na Áustria, o Tribunal Constitucional, no ano de 1920.
A partir daqui desenham-se os dois modelos de justiça constitucional: o modelo do
norte-americano e o modelo austríaco. O primeiro é difuso porque qualquer tribunal
pode ser chamado a garantir o controlo da constituição. Já o segundo é concentrado,
uma vez que deve ser um órgão próprio a ser chamado para garantir a
constitucionalidade.
A experiência austríaca não teve muita relevância devido ao período conturbado vivido
nesta época. Após a Guerra, a experiência austríaca ganha força e é nesta época que se
decide fazer o controlo da constituição, um controlo que cabe ao poder judicial, mas
também político.
Em Portugal, a função de guardião da constituição cabia as cortes, durante todas as
constituições do seculo XIX. A primeira constituição republicana, do início do seculo
XX, é a constituição de 1911. O artigo 63º da constituição de 1911, atribui-se a todo o
poder judicial, o poder de apreciar uma norma, se esta suscitar uma dúvida de que pode
não estar de acordo com a constituição vigente.
Entre 1976 e 1982, a CRP foi uma oportunidade de o país, acertar o passo com os
restantes países que já tinham a experiência constitucional, surgem por toda a Europa.
Tendo em conta as diferentes constituições europeias, todas com o mesmo teor. É
necessário inserir um tribunal constitucional ou pelo menos um setor que é chamado
para resolver questões de inconstitucionalidade.
Na constituição de 1976, ainda não está consagrado um tribunal constitucional. A
função de controlar a constitucionalidade cabe a um órgão militar, a um conjunto de
militares. Ao lado do conselho da revolução, a comissão constitucional vai ajudando o
conselho da revolução nas suas decisões.
Em 1982, há uma revisão constitucional que extingue o conselho de revolução e cria-se
o tribunal constitucional. O nosso sistema de fiscalização é híbrido, ou seja, compõe se
de elementos do norte-americano e do austríaco.
O Art 204º concede aos juízes dois poderes, o poder de apreciar e depois, se entenderem
a inconstitucionalidade, o poder de recusarem a utilização da norma. Esta ideia convive
com a existência de um tribunal constitucional, Art 221º e 222º
Qualquer tribunal pode ser chamado para o controlo da fiscalidade constitucional, mas
existe um tribunal específico. O modelo híbrido = Modelo difuso + Modelo
concentrado. Por isso, o nosso modelo é difuso na base e concentrado no topo.
A fiscalização da constitucionalidade: a inconstitucionalidade
A inconstitucionalidade é a desconformidade de uma norma ou de um ato praticado por
órgãos do poder político como o texto da Constituição. Existem vários tipos de
inconstitucionalidade:
Inconstitucionalidade direta Inconstitucionalidade indireta
Quando uma norma infraconstitucional Quando uma norma viola em primeiro
viola diretamente a Constituição ou os lugar a norma a que se encontra
seus princípios. subordinada, e só depois viola a
Art 277º Constituição.

Inconstitucionalidade por ação Inconstitucionalidade por omissão


Acontece quando a Acontece pela não atuação de um órgão legislativo
desconformidade resulta de ou pela sua atuação insuficiente. verifica-se no caso
uma atuação de um órgão de do não desenvolvimento das normas constitucionais
poder não exequíveis por si próprias.

A inconstitucionalidade por ação pode ainda ser:


Inconstitucionalidade material ou substancial que ocorre quando a
inconstitucionalidade resulta da contradição entre um ato normativo e o conteúdo numa
norma ou princípio constitucionais. Inconstitucionalidade formal quando ato normativo
adota uma forma ou um processo diferente dos constitucionalmente prescritos. A falta
de uma formalidade ou a sua prática fora do tempo certo. Ex: Deveria ser um decreto-lei
e é uma lei. Inconstitucionalidade orgânica quando o ato normativo provém de um
órgão constitucionalmente incompetente para o efeito. Ex: Foi o governo que legislou
sobre algo que deveria ser a AR.
Formal Não é respeitado a forma do diploma.
Orgânica Não é respeitado o órgão que imanou o diploma.
Material Não é respeitada a constituição devido ao conteúdo do diploma.
A inconstitucionalidade é total se abrange todo ato normativo e é parcial se abrange só
parte do ato normativo, algum ou alguns artigos. Em regra, a inconstitucionalidade
material é parcial enquanto as inconstitucionalidades orgânicas e formais são totais.
Ainda há a inconstitucionalidade originária que surge quando uma norma
infraconstitucional contraria uma norma de uma constituição que lhe é anterior. Assim,
a norma nasceu torta e ninguém reparou, pelo que ela entrou em vigor no nosso
ordenamento jurídico.
------Norma que entra em vigor------- Pedido de fiscalização 281º----Decisão do TC----
E a inconstitucionalidade superveniente que ocorre quando uma norma ordinária
inicialmente constitucional passa em constitucional por entrar, entretanto em vigor uma
norma constitucional que a contraria. Nestes casos uma norma não nasceu torta, mas
que se tornou inconstitucional por causa das revisões constitucionais.
------Norma de Saúde 1961-------Constituição 1976-------Decisão TC 2021----
Neste caso a retroatividade reporta ao momento em que a constituição entrou em vigor e
tornou inconstitucional a norma mais antiga.
Classificando a fiscalização quanto ao modo da impugnação da inconstitucionalidade
encontramos: a fiscalização concreta e abstrata. Numa trata-se de uma norma aplicada
a um caso concreto, na outra é uma situação abstrata. A dúvida levanta-se a propósito de
um caso concreto, ou seja, num litígio, ou por outro lado a dúvida levanta-se num caso
geral.
Classificando a fiscalização quanto ao momento da impugnação da
inconstitucionalidade temos: fiscalização preventiva e sucessiva. A fiscalização
preventiva é feita antes da norma ser publicada no Diário da República, quando a norma
vai para promulgação pelo Presidente da República. Já a fiscalização sucessiva é feita
depois da norma ser publicada no jornal oficial, independentemente, de já ter ou não
entrada em vigor.
Em suma:
Na fiscalização abstrata, há a diferença entre o nível de perfeição da norma. A norma
já produz os seus efeitos jurídicos, já está em vigor. Então a preventiva, trata-se de
uma norma que já existe, mas que ainda não entrou em vigor, na sucessiva ela já
produz efeitos jurídicos.

Na fiscalização concreta, há ainda a diferença entre a fiscalização concentrada,


quando o órgão competente para fiscalizar é o tribunal constitucional, já a fiscalização
difusa é quando os órgãos competentes para fiscalizar são todos os tribunais.

A inconstitucionalidade por omissão verifica-se no caso do não desenvolvimento das


normas constitucionais que são necessárias para fazer cumprir os preceitos da
constituição.

Fiscalização abstrata preventiva


Encontra-se prevista nos artigos 278 e 279, é feita unicamente pelo tribunal
Constitucional a pedido do Presidente da República ou do Ministro da República quanto
a diplomas regionais. Tem como finalidade prevenir e evitar violações da Constituição
mesmo antes do diploma entrar em vigor.
Quando um diploma é remetido ao Presidente da República para promulgação e este
possui dúvidas sobre a sua constitucionalidade, pode remetê-lo ao tribunal
constitucional para que este aprecie a sua constitucionalidade.
Caso o Tribunal Constitucional não se pronuncie pela inconstitucionalidade o
Presidente pode promulgá-lo ou vetá-lo politicamente. Pelo contrário se se pronunciar
pela inconstitucionalidade, o Presidente é obrigado a vetar o diploma por
inconstitucionalidade, de acordo com o artigo 136/5.
Se o governo ou a Assembleia da República ou ainda, as assembleias regionais
corrigirem a norma inconstitucional, em princípio, o Presidente da República ou o
Ministro da República promulgará e assinará o diploma embora possa voltar a requerer
a fiscalização preventiva.
No caso de o governo não corrigir o diploma o Presidente da República converte o veto
suspensivo, em veto definitivo.
No caso da Assembleia da República ou a Assembleia regional não expurgarem o
diploma que possui inconstitucionalidade e reaprovarem o diploma com a maioria
prevista no artigo 279/2, então Presidente da República e o Ministro da República
poderão promulgar ou vetar definitivamente, por isso irão funcionar como árbitros entre
a decisão do tribunal constitucional e a posição das assembleias.

No caso de inconstitucionalidade há o reenvio do diploma ao órgão que o pretende ver


aprovado, este possui 4 soluções possíveis: a desistência, reformulação, expurgação e
confirmação.
Desistência Reformulação Expurgação Confirmação
Corresponde Muitas vezes não é Retira-se do diploma Trata-se de dar á
a deixar o possível retirar do apenas a norma que Assembleia uma
diploma diploma apenas a possui nova possibilidade de
ficar da norma que padece de inconstitucionalidade insistir na aprovação
mesma inconstitucionalidade, (Art 279/2). Como daquele diploma,
maneira e por isso temos de não corresponde a um mesmo padecendo de
não fazer reformular o diploma. novo ato legislativo, o inconstitucionalidade.
nada. Não Há um novo processo Presidente não pode O diploma tem de ser
se encontra legislativo, ou seja, pedir nova apreciação confirmado por pelo
consagrada um novo diploma e o da menos 2/3 dos
na presidente conserva a constitucionalidade, deputados presentes.
constituição. possibilidade de pois já teve todas as (Art 279/4)
poder pedir nova suas dúvidas sobre a
apreciação. (Art inconstitucionalidade
279/3) resolvidas.
A confirmação é a única destas 4 soluções que até hoje não foi usada. Trata-se de uma
solução com poucos defensores dado que, mesmo que seja aprovado um diploma que
padece de inconstitucionalidade, ele pode ser passado pouco tempo, ser apreciado
novamente, e desta vez pode ser retirada do ordenamento com força jurídica obrigatória.
Há quem entenda que o Presidente pode vetar, e quem entenda que não pode. A última
palavra deve ser da assembleia, e então, com uma maioria tão expressiva, o Presidente
está “obrigado” a promulgar.
Fiscalização abstrata sucessiva
Encontra-se prevista no artigo 281. Incide sobre todas as normas que já se encontram
em vigor. Quando uma norma é publicada no Diário da República qualquer cidadão
fazendo uso do seu direito de petição (Art 52º) pode solicitar, em carta fundamentada, a
qualquer das entidades com legitimidade constitucional, as entidades do artigo 281/2,
que requeira ao tribunal constitucional para apreciar a constitucionalidade dessa norma.
Não está sujeita a prazo nem para o pedido nem para a decisão.
Se houver uma declaração positiva de inconstitucionalidade então, a declaração de
inconstitucionalidade é com força obrigatória geral e ocorrem 3 efeitos:
1. Efeito Invalidatório – É retirada da norma do ordenamento jurídico.
2. Efeito Retroativo – A decisão repercute-se desde a entrada em vigor desta
norma inconstitucional.
3. Efeito Repristinatório – Para mitigar o vazio legal que existe pela retirada da
norma, entra em vigor a norma que vigorava anteriormente, de a norma
inconstitucional entrar em vigor.

Se a declaração for negativa de inconstitucionalidade não tem efeitos preclusivos.


Fiscalização Concreta
Na fiscalização concreta é possível verificar o caracter misto do processo de
fiscalização constitucional. Há um qualquer litígio num tribunal e é levantada uma
dúvida quanto á constitucionalidade de uma norma. Esta dúvida pode ser suscitada pelo
juiz, pelo Ministério Público, ou por uma das partes do caso em julgamento. Assim, esta
fiscalização é por via incidental, porque trata-se de num decorrer de um processo,
incidentalmente, depara-se com uma norma e é suscitada a questão de
inconstitucionalidade. Nas outras fiscalizações a questão central é saber se a norma é
inconstitucional ou não, enquanto nesta, a questão central é o caso concreto, em
resolução.
Então, a questão nasce de um caso concreto e quando é suscitada a dúvida da
inconstitucionalidade, o tribunal deve julgar a constitucionalidade da norma, e decidir:
se considerar que é inconstitucional, não a deve aplicar ao caso concreto; se por outro
lado não a considerar inconstitucional, deve aplicar a norma. O poder de apreciação da
constitucionalidade encontra-se consagrado no artigo 204º. Quando há esta questão, as
decisões dos tribunais são sempre passiveis de recurso, ao abrigo do artigo 280º.
Apesar de ser um caso concreto, a questão que é proposta ao tribunal constitucional, é
se a norma é inconstitucional, ou não, completamente desligada do caso. Já lá, a questão
é julgada em secção de juízes e não em plenário.
Esta fiscalização é difusa no início, porque qualquer tribunal pode ser chamado a
apreciar a constitucionalidade, e passa a concentrada, quando o recurso chega ao
tribunal constitucional, pois é este órgão unicamente que tratará de julgar a
constitucionalidade.
No decurso de um processo judicial pode suceder que o juiz:
1. Se recuse aplicar uma norma por a considerar inconstitucional
Se o juiz se recusa aplicar uma norma constante de: Convenção Internacional
(tratado ou acordo internacional) ou lei, decreto-lei, decreto legislativo regional ou
decreto regulamentar, o Ministério Publico é obrigado a recorrer diretamente para o
Tribunal Constitucional. Trata-se de um recurso “per saltum”, porque não passa
pelas devidas instâncias, é direto para o Tribunal Constitucional, ao abrigo do artigo
280/3. Se a norma constar de outro diploma, o recurso não é obrigatório e não é
direito para o tribunal constitucional.
O Ministério Público é ainda obrigado a recorrer para o Tribunal Constitucional das
decisões que apliquem uma norma anteriormente julgada inconstitucional por esse
tribunal (Art 280/5).
2. Aplique uma norma cuja inconstitucionalidade tenha sido suscitada por uma das
partes do litígio
Se o Juiz aplicar uma norma cuja inconstitucionalidade tenha sido suscitada durante
o processo só poderá recorrer para o Tribunal Constitucional a parte que tenha
suscitado a questão e depois de ter procedido à exaustão dos recursos ordinários. O
processo principal fica suspenso até á decisão do juiz do tribunal recorrido e este
terá de conformar a sua decisão com a que o acórdão do Tribunal Constitucional
proferir sobre a questão.
Então se a norma for considerada inconstitucional sê-lo-á com efeitos particulares, ou
seja, não será aplicada neste mesmo caso concreto, mas continuará em vigor para todos
os restantes casos, até que seja anulado revogada ou suspensa. Porém, se o Tribunal
Constitucional tiver julgado a mesma norma inconstitucional, em 3 casos concretos
pode declarar a sua inconstitucionalidade com força obrigatória geral (Art 281/3).
Fiscalização de inconstitucionalidade por omissão
É uma fiscalização que ocorre quando os órgãos de soberania não produzem normas
para tornar exequíveis os preceitos constitucionais. Pode ser pedida pelo Presidente da
República, pelo Provedor da Justiça ou pelas entidades regionais.
O tribunal constitucional verifica a constitucionalidade, e se houver declaração de
inconstitucionalidade por omissão, terá como efeito o facto, de o tribunal constitucional
irá dar conhecimento ao órgão competente para criar a medida legislativa em falta. Por
outro lado, se não se verificar a inconstitucionalidade, não há nenhum efeito.
Nota: O Tribunal Constitucional não expressa um juízo positivo de que a norma esta de
acordo com a constituição, porque a norma pode muito tempo mais tarde pode voltar a
ser apreciada pelo Tribunal Constitucional.
Revisão Constitucional
A revisão constituição visa garantir que os processos normativos infraconstitucionais se
conformam com a constituição e além disto, tem como finalidade a autorregeneração e
autoconservação, ou seja, eliminação das suas normas já não justificadas e a adição de
elementos novos. A Constituição disciplina a sua própria revisão por que todas as
constituições têm a sua própria identidade e esta restrição da revisão serve para garantir
que a identidade mínima se mantém mesmo quando a se a data à Constituição a
evolução dos tempos. Lucas Pinto considerava que não fazia sentido que condiciona-se
a alteração da constituição. Tratava-se de uma restrição imposta por umas gerações, que
afetava todas as gerações futuras. Por isso dizia que a revisão da constituição
consagrada na própria constituição, se tratava de um abuso do poder constituinte.
Na Constituição atual o título II da parte IV, é dedicada à matéria da revisão da
Constituição. Da leitura desses artigos conclui-se que a nossa Constituição é de tipo
rígido pois exige para a sua modificação um processo agravado em relação ao processo
de formação das leis ordinárias. Então, estas escolhas de um processo agravado de
revisão impedindo a livre modificação da lei fundamental considera-se uma garantia da
Constituição. A rigidez constitucional assegura também uma relativa estabilidade à
Constituição.
Limites ao poder de revisão constitucional
Os limites formais têm a ver com um processo de alteração da Constituição. Na
constituição temos limites quanto ao titular que possui iniciativa de revisão e a
aprovação, e ainda um limite temporal e circunstancial.
O órgão competente para exercer a iniciativa de revisão são os deputados, de acordo
com o artigo 285/1. o órgão competente para aprovar a lei de revisão é a Assembleia da
República, ou seja, o órgão legislativo ordinário, com uma maioria de 2/3 dos
deputados em efetividade de funções, por isso tem de existir um consenso entre a
assembleia e o Presidente da República não pode recusar promulgar a lei de revisão.
A constituição limita as revisões a serem feitas só de 5 em 5 anos. No entanto, isto pode
ser muito rígido, e pode haver circunstâncias excecionais, por isso pode abrir-se um
processo de revisão constitucional, e é necessário que se reúna uma maioria de 4/5.
A constituição impede processos de revisão constitucional, em períodos que vigore um
Estado de sítio ou de emergência. Se já estiver aberto o processo, fica suspenso, senão,
não pode existir.
Os limites materiais relacionam-se com o conteúdo da alteração à constituição. Estão
consagrados no artigo 288º, e correspondem a matérias que não podem estar sujeitas a
revisão constitucional, por se tratar de matérias intocáveis que pertencem ao núcleo e
identidade da constituição.
Há uma problemática em relação a estes limites, em que se coloca a questão de saber se
serão limites absolutos, isto é, se não podem ser superados pelo exercício do poder de
revisão ou limites relativos, se condicionam o exercício do processo de revisão, mas não
impedem a modificabilidade das normas constitucionais desde que cumpridas as
condições por eles por impostas.
Surgiram na nossa doutrina várias teses sobre a relevância jurídica dos limites materiais,
da qual destaco a tese da relevância jurídica absoluta dos limites materiais, que nos diz
que os limites materiais são absolutos e que se alterados modifica-se a essência da
Constituição. É defendida pelo professor Jorge Canotilho e por Vital Moreira. O poder
de revisão é um poder derivado e, portanto, subordina-se ao poder constituinte
originário. As normas constitucionais sobre limites materiais funcionam como limite
exterior e superior e devem ser respeitadas. A violação de normas que impedem a
alteração de outras deixará de ser um ato inconstitucional para ser uma rutura
revolucionária ou um golpe de Estado e por isso, alterá-los seria criar uma nova
Constituição.
Existem 2 questões que se colocam: O artigo 288º pode ser revisto e modificado? Esse
conteúdo do artigo é congelado, ou pode haver alterações desde que não se altere o
núcleo da matéria?
Já houve alterações ao artigo 288º. E sim, pode haver alterações constitucionais nestas
matérias, não pode é haver alterações que desfigurem as opções constituintes básicas.
Ex: Alteração da extradição de Portugueses.
“Os limites materiais devem considerar-se como garantias de determinados princípios,
independentemente da sua concreta expressão constitucional, e não como garantias de
cada princípio na formulação concreta que tem na constituição.” – Jorge Canotilho.
Pode existir eventualmente uma inconstitucionalidade da lei de revisão. Esta lei, não
está sujeita a controlo preventivo de constitucionalidade, porque pelo artigo 286/3, o
Presidente está obrigado a promulgá-la. Assim, está apenas sujeita a uma fiscalização
sucessiva.
É possível uma lei de revisão sofrer de inconstitucionalidade por ter sido aprovada por
um órgão sem poderes constituintes ou mesmo durante o estado de emergência ou
aprovada sem a maioria exigida. Uma lei de revisão que viola os limites formais sofre
de inconstitucionalidade e violando os limites materiais também.

Ângelo Ferreira
A99557

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