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CASO PRÁTICO

Perante um litígio que respeita a uma situação de responsabilidade civil


extracontratual, com origem em factos ocorridos há 2 anos e 10 meses,
as partes pretendem recorrer à mediação. Contudo, a parte lesada receia
que o atraso das sessões de mediação e a eventual frustração do acordo
a prejudiquem em futura ação judicial onde venha a peticionar a respetiva
indemnização, por decorrer, nessa altura, mais de 3 anos sobre a os
factos/data em que teve conhecimento do direito que lhe compete.
a) Caraterize a mediação a que as partes podem recorrer.

R.: O enunciado remete-nos para um litígio em que as partes pretendem


recorrer à mediação, mas tem receio que tal prejudique ação judicial que
futuramente pretendam peticionar.
Neste sentido, interessa referir que estamos perante a mediação, regulada na
lei 29/2013, de 19 de abril, sendo esta a forma de resolução alternativa de
litígios, realizada por entidades públicas ou privadas, através da qual 2 ou mais
partes procuram chegar a acordo com assistência de um mediador de conflitos,
terceiro, imparcial e independente, desprovido de poderes de imposição que
auxiliará as partes na obtenção do referido acordo (2º, alínea a) e b) LM)
Ora, para saber se as partes podem recorrer à mediação, é antes necessário
saber se o litígio é mediável.
Existe mediação pública e mediação privada, estando esta última regulada no
Capítulo III da LM.
Na presente situação prática, estão em causa interesses de natureza
patrimonial, pelo que o litígio é mediável e, estaremos no âmbito da mediação
privada civil (11º/1 e 2 LM)
As partes podem recorrer à mediação, quer previamente à apresentação de
qualquer litígio em tribunal (13º/1 LM), quer na pendência de ação judicial (273º
CPC).
No caso em concreto, as partes ainda estão na pendência de qualquer ação
judicial, segundo decorre do enunciado, pelo que estaríamos perante uma
mediação pré-judicial (13º LM).

b) O receio da parte lesada é fundado?


R.: É certo que, nos termos do 498º/1 CC, o direito de indemnização que a
parte lesada pretende peticionar em ação judicial, no caso de não obter
acordo em sede de mediação, prescreve no prazo de 3 anos a contar do
conhecimento do facto, sendo também certo que restam 2 meses para a
referida prescrição.
Contudo, a parte lesada não necessita de ter qualquer receio, na medida
em que, ao abrigo do artigo 13º/2 LM, o recurso à mediação suspende os
prazos de caducidade e prescrição a partir da data em que for assinado o
protocolo de mediação, sendo este assinado no inicio do procedimento de
mediação (16º/2 LM), devendo dele constar os elementos previstos no 16º/3
LM.
Se as partes não conseguirem chegar a acordo na mediação, os prazos de
caducidade e prescrição retomar-se-ão com a conclusão do procedimento
(13º/3 LM), sendo estes comprovados pelo mediador (13º/5 LM)
Por fim, importa referir que, sempre que solicitado, o mediador deve emitir
comprovativo da suspensão dos prazos (13º/6 LM).

c) No caso de a mediação terminar com acordo das partes, diga em


que circunstâncias estaria formado um título executivo.
R.: Ora, nesta situação, encontra-se em evidência o Principio da
Executoriedade , previsto no artigo 9º LM, sendo certo que, ao abrigo do
artigo 3º LM, os princípios previstos no Capítulo II do LM, são aplicáveis a
todas as mediações realizadas em Portugal, independentemente da
natureza do litígio que seja objeto de mediação, estando aqui, também,
incluído o principio citado.
Neste sentido, o art. 9º/1 LM garante que, sem necessidade de
homologação judicial, tem força executiva o acordo de mediação que
cumprir os requisitos cumulativos previstos nas alíneas deste artigo, pelo
que, estando todos cumpridos, temos título executivo (703º/1 al. D) CPC).
Contudo, mesmo que não estejam cumpridos todos os requisitos, as
partes podem pedir homologação judicial do acordo obtido em mediação
pré-judicial (14º/1 LM).
Para tal, as partes devem requerer, conjuntamente, a homologação judicial
em qualquer tribunal competente em razão da matéria (14º/2 LM), tendo a
homologação judicial a finalidade prevista no artigo 14º/3 LM.
No caso de recusa de homologação, o acordo não produz efeitos e é
devolvido às partes, podendo estas, no prazo de 10 dias, submeter um novo
acordo a homologação (14º/5 LM).
No caso estamos perante um processo de Pagamento Quantia Certa,
empregando-se a forma sumária (550º/2 al. A) CPC).
Temos 2 títulos executivos.
Ao ter sentença, os fundamentos da oposição à execução são mais
reduzidos (729º CPC). Ora, se não houver sentença, todos os fundamentos
são atribuídos (731º CPC).
Se não for Pagamento Quantia Certa, o processo segue forma única.

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