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FILOSOFIA
AULA 1

Prof. Paulo Niccoli Ramirez

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CONVERSA INICIAL

O objetivo desta aula é investigar a passagem do pensamento mítico ao racional. Trata-se de


analisar e compreender as condições históricas e aspectos que caracterizam a formação do que se

entende como sendo filosofia. Nesta aula, vamos estudar as origens do pensamento filosófico na

cultura ocidental. Veremos como o seu surgimento está relacionado ao pensamento grego antigo,

destacando-se, primeiro, os pensadores chamados de pré-socráticos (séculos VII a V a.C.) e,


depois, filósofos como Sócrates, Platão e Aristóteles (séculos IV a III a.C.), todos eles promovendo

a substituição de explicações míticas por racionais.

TEMA 1 – O QUE É MITO?

Compreenderemos, neste tema, quais são as características do pensamento mítico e por quais

motivos a filosofia buscou combatê-lo ao empregar visões consideradas mais racionais.

Antes do surgimento da filosofia e do pensamento considerado racional, na Grécia Antiga, as

explicações em torno da origem e funcionamento do Universo e dos seres humanos eram dadas

com base em concepções míticas. O predomínio do mito na cultura grega se deu entre os séculos

XI ao IV a.C., quando, a partir do século VII e sobretudo IV a.C., a filosofia desponta criticando esse

tipo de compreensão da realidade. Mas, afinal, o que é o mito?

Os mitos representam explicações sobrenaturais e fantásticas sobre a origem do Universo,

dos seres humanos e da natureza. Em grego, o termo deriva da palavra mythos, que significa

narração. Segundo o pesquisador francês Jean Pierre Vernant (2001, p. 255-267), na obra Entre
mito e política, as construções míticas podem ser categorizadas em cosmogonias e teogonias. Do
grego cosmos, universo ou ordem; e gonos, gênese, origem, cosmogonias são mitos que narram a

origem do Universo e da natureza. Quanto às teogonias, do grego theos, deuses, as teogonias

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narram a origem dos deuses, de suas relações, acordos e conflitos.

O mito representa narrações de teor sensível ou emotivo, de modo a expressar tanto os

sentimentos e contradições do comportamento humano, quanto também as forças e ciclos da

natureza. Apresentados na maioria das vezes oralmente, por poetas, ou nos teatros gregos, por

meio das tragédias, os mitos produziam, nos ouvintes, emoções, com as histórias de grandes

heróis. Entre choros e risadas, os ouvintes entravam em transe porque se identificavam com as

histórias, conduzindo ao que se denomina catarse.

Os mitos representavam elementos sagrados da cultura grega. Possuíam também papel de

justificação e organização da sociedade, seja do ponto de vista político, seja do ponto de vista

social, religioso ou econômico. Verifica-se a abrangência da mitologia na cultura grega. Na obra

intitulada O Universo, os deuses, os homens, Vernant (2000, p. 14) indica que o mito “[...] contém

o tesouro de pensamentos, formas linguísticas, imaginações cosmológicas, preceitos morais, etc.,

que constituem a herança comum dos gregos na época pré-clássica”.

As principais fontes de narrativas míticas entre os gregos provinham do poeta Homero, que

teria vivido entre os séculos XIX e VIII a.C. e escrito a Ilíada, referente ao conflito entre gregos e

troianos, e a Odisseia, história que narra a trajetória de Ulisses (ou Odisseu), personagem

considerado racional e que se confronta com os deuses gregos na tentativa de retornar para sua

cidade natal, Ítaca, após a Guerra de Troia (Homero, 2013, 2014). Há dúvidas se Homero teria ou

não existido; se teria de fato escrito essas duas obras ou se representou, na verdade uma escola de

poesia responsável pela compilação de mitos narrados no passado, de forma oral, na Grécia. Por

vezes, Homero é descrito em relatos da Antiguidade como um cego, andarilho que narrava os

mitos gregos de cidade em cidade.

Outra fonte de interpretações míticas, entre os gregos, considerada sagrada eram as

descrições de Hesíodo (2002, 2003), que viveu no século VII e escreveu importantes obras, como

Os trabalhos e os dias e Teogonia. Os mitos de Homero e Hesíodo eram considerados sagrados e


todos os gregos deviam respeito e obediência aos seus preceitos. Veremos, no próximo item, que a

filosofia surgiu, na Grécia, com a intenção de combater essas explicações sensíveis e divinas

presentes nos mitos. Ainda que os mitos sejam atacados pela filosofia, autores como Vernant

(2001) não deixam de apontar que eles, apesar de terem o predomínio de concepções fantásticas e

sobrenaturais, não deixam de possuir grau de racionalidade ao buscarem compreender a

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organização do Universo e do mundo humano.

TEMA 2 – O QUE É FILOSOFIA?

No presente tópico, você estudará o contexto histórico, na Grécia Antiga, que permitiu a

passagem das explicações míticas em direção ao surgimento do pensamento racional e filosófico.

Quando se procura estabelecer que a filosofia nasceu na Grécia Antiga, por volta do século VII a.C.,

com Tales de Mileto, isso não quer dizer que outras culturas ou sociedades não tenham

desenvolvido formas de filosofia. Por exemplo, há a existência de filosofia na Índia ou na China, na


Antiguidade ou mesmo hoje, assim como entre sociedades indígenas e africanas. No entanto, o

que difere a filosofia ocidental das demais e o que fornece a ela um caráter sui generis é a

realização de uma cisão ou divórcio entre a razão (logos) e o mito (mythos). Outros povos e

civilizações desenvolveram filosofias nas quais as forças divinas e naturais misturam-se, em seu

fundamento, ao comportamento e instituições humanas, ou seja, em que as explicações mítico-

religiosas se confundem com as explicações calcadas na racionalidade. No entanto, a filosofia

grega produziu cisma inédito. Buscou separar o racional do mitológico, como também negar e

rebaixar os mitos por considerá-los fontes de interpretações equivocadas, mentirosas, ilusórias ou

fantasiosas, que conduzem ao erro e à ignorância.

A partir do pensamento pré-socrático, que será abordado no próximo item, a cultura ocidental

passará por uma ruptura com a tradição mítica, em direção à construção de modelos racionais que

terão impacto e deixarão heranças nas construções sociais, políticas, econômicas, científicas e

mesmo religiosas da cultura ocidental. Isso se deve ao fato de que, segundo Deleuze e Guatari

(1991), na obra O que é filosofia?, a própria filosofia trabalha com conceitos que procuram, de

forma mais pragmática, definir racionalmente como se dá o funcionamento do Universo e da vida

humana.

A palavra filosofia teria surgido de um pensador pré-socrático conhecido como Pitágoras de

Samos (século V a.C.). Filosofia, em grego é a justaposição de dois termos: philia, que significa

desejo intenso, amizade, gosto ou amor fraternal; e sophos, que expressa a noção de

conhecimento ou sabedoria (Kirk; Raven; Schofield, 1994). Ou seja, filosofia significa um amor ou

amizade pela sabedoria ou conhecimento. É importante destacar que a filosofia desperta nos

indivíduos aquilo que Platão (2007), na obra Teeteto, e Aristóteles (1973), em Metafísica,

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classificam com o termo grego thaumazein, que é traduzido como estranhamento, perplexidade,

assombro, maravilhamento, espanto, estupefação ou estarrecimento.

Isso significa dizer que a filosofia emerge de um movimento de desnaturalização da realidade

a nossa volta, isto é, no instante em que não se observa mais o mundo com os olhos habituais,

como antes estávamos acostumados a enxergar a realidade, ou com uma visão conformada a se

tomar as coisas como se fossem normais ou como se sempre tivessem sido assim. A filosofia surge

do sentimento de que o sentido das coisas está no fato de que nada faz sentido, quando há um

permanente questionamento a respeito da ordem do mundo e de suas interpretações corriqueiras,

como as míticas. Por isso, a filosofia, quando surge na Antiguidade, irá se opor aos mitos, tomados

pelos cidadãos gregos como verdadeiros e fontes legítimas para todas as explicações sobre o

Universo e a vida humana.

Como o papel da filosofia é interrogar todos os aspectos de nossa existência, como a vida

social, a política, as crenças, as hierarquias e a posição que nossa existência ocupa no Universo, ela

não está preocupada com fornecer ou alcançar as respostas verdadeiras (pois elas podem variar de

pensador para pensador); senão, a filosofia procura promover as verdadeiras perguntas. Esse

princípio se torna mais claro com o dito socrático só sei que nada sei, o que significa dizer que

quanto mais se busca o conhecimento ou a verdade, maior a certeza de nossa ignorância.

A filosofia não é uma ciência, embora influencie, com suas questões, todas as demais formas

de conhecimento científico, sejam elas ciências exatas, sejam ciências naturais ou humanas,

exatamente por possuir a percepção de que as verdadeiras perguntas são mais relevantes que a

busca das verdadeiras respostas. Embora a filosofia e a ciência tenham em comum o uso do logos,

ou seja, da razão, vemos a filosofia se diferenciar da ciência na medida em que esta última tem a

tendência a trabalhar com métodos matemáticos, experimentais ou observacionais que visem a se

alcançar comprovações de elementos objetivos dispostos na natureza. Já a filosofia possui como

tendência o trabalho lógico da mente diante de temas mais subjetivos, como a felicidade, o bem

comum, a virtude ou os atributos cognitivos que permitem à mente estar certa ou equivocada.

Outra diferença importante entre filosofia e ciência está no fato de que a ciência é cumulativa,

o que significa dizer que ela evolui, se aprimora ou se desenvolve de tal forma que nos permite

dizer que os achados científicos de hoje são mais avançados ou superiores do que certas

descobertas ou tecnologias existentes no passado. O acúmulo de conhecimentos, portanto,

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conduz ao progresso científico. Já a filosofia não permite esse tipo de constatação, de modo que

não se pode dizer que, por exemplo, a filosofia contemporânea seja melhor ou mais avançada do

que a antiga. São, na realidade, filosofias diferentes, com coordenadas distintas, o que não nos

impede de compará-las, apenas não sendo possível a afirmação da superioridade ou inferioridade

de um filósofo sobre outro. Aprender o pensamento de um filósofo é como aprender um idioma

novo. Há um vocabulário específico a esse pensamento que torna, no início, sua compreensão

difícil. Porém, à medida que ele é estudado e o leitor penetra nas principais questões e conceitos

fornecidos pelos filósofos, lhe é permitido compreender melhor uma determinada filosofia e

conjunto de conceitos e ideias. Enquanto a ciência avança como uma linha do progresso, com seus

métodos e respostas, a filosofia opera como uma espiral, porque seus problemas e perguntas são

transversais, isto é, estão presentes em diferentes épocas, na abordagem de diversos filósofos e

suas linhas de pensamento.

Na obra Convite à filosofia, a filósofa Marilena Chauí (1994) responde de forma irônica à

questão para que serve a filosofia?, geralmente feita pelos críticos do saber filosófico. Os críticos

tendem a observar a filosofia como um amontoado de reflexões desnecessárias e inúteis. Segundo

Chauí (1994, p. 10), geralmente vê-se que “[...] a filosofia não serve para nada. Por isso, se

costuma chamar de ‘filósofo’ alguém sempre distraído, com a cabeça no mundo da Lua, pensando

e dizendo coisas que ninguém entende e que são perfeitamente inúteis.”

Portanto, deve-se responder ironicamente à questão para que serve a filosofia. A resposta é: a

filosofia não serve a nada não porque seja inútil ou desinteressante, senão devido ao fato de que a

filosofia não serve por não ser servil ou escrava de nenhuma forma de poder, domínio ou

hegemonia. A filosofia é um saber livre e libertador que nos permite contradizer e questionar toda

a realidade à nossa volta.

TEMA 3 – OS PRÉ-SOCRÁTICOS

Conforme estudamos no item anterior, a filosofia ocidental se diferencia das filosofias

praticadas por outras culturas devido ao fato de que se promoveu na Grécia Antiga a cisão entre as

explicações míticas e as racionais. Os primeiros filósofos são conhecidos como pré-socráticos e

buscaremos compreendê-los a partir de agora.

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3.1 OS FILÓSOFOS DA NATUREZA

Alguns fatores históricos e geográficos foram determinantes para que a filosofia e a separação

entre os argumentos racionais e os mitológicos tivessem origem na Grécia Antiga. O primeiro

deles está no fato de que a maioria das cidades gregas são portuárias, de modo que isso permitiu

aos seus habitantes, desde cedo, o contato com outras civilizações e mitos diferentes dos seus,

como os povos egípcios, babilônicos, sumérios, fenícios, persas, entre outros. Concebe-se que o

contínuo contato e comparação com outras formas religiosas e míticas de compreensão do

Universo tenha levado alguns pensadores, na Grécia, a partir do século VII ao V a.C., a buscarem
formas e alternativas mais racionais de entendimento da natureza, fugindo dos relatos sensíveis,

sobrenaturais e fantásticos tão comuns, então.

Além disso, as cidades gregas, conhecidas como polis, possuíam leis escritas que transferiram

à filosofia a tradição de fixar na forma de livros as reflexões desses primeiros filósofos, embora

praticamente todas as obras dos pensadores conhecidos como pré-socráticos tenham se perdido

devido a incêndios e destruições de bibliotecas, ainda na Antiguidade. Muito do que sabemos de

seus livros e reflexões se devem à atividade denominada doxografia. Os doxógrafos foram

estudiosos, historiadores e filósofos da Antiguidade que tiveram a oportunidade de ler, na íntegra,

os textos dos pré-socráticos que se perderam. Com isso, citaram trechos ou teceram comentários

sobre essas obras, a que não temos mais acesso.

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Outro fator importante para o surgimento da filosofia na Grécia foi a existência da escravidão,

conforme aponta Vernant (2001), pois o trabalho escravo, embora forçado e oposto à liberdade

humana, possibilitava que alguns homens, considerados cidadãos, tivessem condições como

dispor de tempo livre e ócio para participar da praça pública (como a chamada ágora de Atenas) e

das decisões políticas, além de especular racionalmente sobre indagações filosóficas.

Os pré-socráticos ou primeiros filósofos são também conhecidos como filósofos da natureza.

Isso se deve ao fato de que, diferentemente do que veio a ocorrer a partir da filosofia de Sócrates

(470-399 a.C.), preocupada com questões em torno do ser, da relação entre corpo e alma, da

justiça, das virtudes e do bem-comum na cidade, os pré-socráticos estavam interessados e

direcionados à seguinte questão: qual é o elemento primordial ou qual a origem de tudo o quanto
existe na natureza? Esse elemento primordial que buscavam explicar é designado arché.

A busca da arché, entre os pré-socráticos, conduziu a interpretações distantes das

elaborações sobrenaturais míticas. Embora os primeiros filósofos divirjam a respeito de qual é a

arché, isto é, o elemento primeiro que dá origem e está presente em toda a matéria da natureza, a
sua busca e interpretação é um elemento comum nas construções desses filósofos e, por isso

mesmo, eles são definidos como filósofos da natureza.

2.2 TEORIAS DOS PRÉ-SOCRÁTICOS

A ruptura com o pensamento mítico se deu quando Tales de Mileto (séc. VII e VI a.C.) procurou

por uma explicação pragmática da arché que fosse concreta e distante das construções fantásticas

ou sobrenaturais dos mitos. Filósofo jônio, estabeleceu a água como arché. De acordo com a obra

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Os filósofos pré-socráticos (Kirk; Raven; Schofield, 1994), Tales observou a relação da água com
todos os seres da natureza; e em seus estados sólidos, líquidos e gasosos. No Egito, percebeu

como a terra desértica se tornava fértil com a cheia do Rio Nilo. Em altas montanhas, encontrou

fósseis de animais marinhos. Concluiu, assim, que o mundo era coberto pela água, originalmente.

Tales é considerado o pioneiro do que hoje chamamos de paleontologia (Kirk; Raven; Schofield,

1994).

Influenciado pelas questões em torno da arché de Tales, outro filósofo de Mileto,

Anaximandro (610-547 a.C.), buscou dar uma outra resposta sobre o elemento constituinte de

toda a realidade. Diverge de seu mestre ao propor que a arché é o ápeiron, palavra grega que

significa ilimitado, indeterminado, indefinível, sem origem e inominável, sendo, portanto,

imaterial, infinita e imortal, mas que origina todos os elementos e toda a matéria presente no

Universo. O indeterminado é a origem e a causa de tudo o que existe, sendo apreendido apenas

pelo pensamento e não pela sensibilidade. Anaximandro concebia que o Universo é guiado pelo

movimento eterno e circular do ápeiron, que faz surgir o quente (fogo) e o frio (ar); nele, há

equilíbrio e retribuição entre os contrários ou substâncias opostas. Os seres comuns, quando

morrem, retornam ao ápeiron (Kirk; Raven; Schofield, 1994).

Anaxímenes (Mileto, 585-528/525 a.C.), filósofo jônio, afirma que a arché é o ar (pneuma).

Discorda de Anaximandro, pois a arché não poderia, para ele, ser o indeterminado, posto que o

ápeiron seria inconcebível pelo pensamento, porque abstrato. Diferentemente da água (na tese de
Tales), o ar é invisível, mas nem por isso deixa de ser natural e estar presente em tudo o quanto

existe, sendo o elemento primordial constituinte do Universo. Anaxímenes constata que, do nascer

ao morrer, há a existência do primeiro até o último respiro, sendo o ar determinante para qualquer

ser vivo. O mundo é vivo e respira (ar seria equivalente a alma, algo comparado ao corpo da

natureza) (Kirk; Raven; Schofield, 1994).

Xenófanes de Cólofon (570-475 a.C.) deixou a Jônia em direção ao sul da Península Itálica

quando os persas invadiram a Grécia. Errante, andarilho e recitador de poemas, visitou diversas

cidades, sendo o patrono da escola eleática, da qual farão parte também Parmênides e Zenão.

Segundo Xenófanes, a arché é a unidade na imutabilidade, contida em um deus uno e imutável,

não apresentando nenhum elemento sólido como o princípio de tudo, mas manifestando-se com

base no elemento terra. A concepção de um deus único, imortal e imutável como princípio de tudo

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esboça sua concepção de arché. Xenófanes opôs-se ao antropomorfismo e ao politeísmo   das

religiões que conheceu, sobretudo a grega. Deu-se conta de que a intenção de atribuir aos deuses

as próprias características e potencialidades humanas era natural, porém equivocada (Kirk; Raven;

Schofield, 1994).

Heráclito (Éfeso, 540-470 a.C.) foi um filósofo jônio conhecido como O Obscuro ou O Fazedor

de Enigmas, devido à sua escrita de difícil compreensão e múltiplas interpretações. Defensor do


mobilismo, concepção que dirá que todas as coisas naturais estão em constante movimento, em

constante mudança, num constante devir ou fluir, tendo como sua engrenagem ou arché o fogo,

é-lhe atribuída a sentença Ninguém pode entrar duas vezes no mesmo rio. O mobilismo está

relacionado ao termo criado por Heráclito, o logos (razão ou inteligência) presente na natureza,

havendo assim estabilidade na mudança, sendo o fogo o garantidor do fluxo dos contrários (Kirk;

Raven; Schofield, 1994).

Parmênides e Zenão serão críticos da tese mobilista de Heráclito. Parmênides (515-460 a.C.)

foi um filósofo eleata, fundador da concepção de ontologia (conhecimento do ser e da essência

última dos seres), consequentemente da metafísica e da filosofia num sentido mais abstrato.

Parmênides conheceu e influenciou o então jovem Sócrates e estabeleceu a diferença entre

essência (imutável e verdadeira – alétheia) e aparência (que se transforma sempre, como a doxa –

opinião, algo, portanto, instável, falso e ilusório). O mobilismo de Heráclito não levaria, segundo

Parmênides, ao conhecimento verdadeiro, mas a opiniões variáveis sobre as coisas, o que tornaria

não verdadeira a concepção mobilista dos seres ou a tese do movimento de Heráclito. A verdade,

para Parmênides, é única, imóvel, eterna, imutável, sem princípio nem fim, contínua e indivisível.

Por isso, Parmênides afirma que o ser é (uma essência imutável e verdadeira, afinal a sentença o

que é é o objeto do pensamento). O que muda é o não ser (o que não é é que está em
transformação e é capturado pelos sentidos, sendo, portanto, falso). O acesso à verdade do ser se

dá com o uso da razão, do pensamento, afastando-se da opinião formada pelos hábitos,

impressões sensíveis, que são por si só ilusórios, imprecisos e mutáveis (Kirk; Raven; Schofield,

1994).

Zenão (489-430 a.C.), por sua vez, foi discípulo de Parmênides e seu pensamento consiste na

defesa das teorias monistas (sobre o indivisível, o imutável e o verdadeiro) de seu mestre por meio

de paradoxos (em grego, paradoxo significa, literalmente, contraopinião ou opinião oposta). Os

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paradoxos concluem que não existe movimento e mudança e que esses se tratam de uma confusão

dos sentidos. Entre os mais conhecidos paradoxos de Zenão, destacam-se o de Aquiles e a

tartaruga e o do arqueiro, com base nos quais ele conclui que cada movimento é constituído por

infinitos momentos imóveis. Dessa forma, o movimento é provido de momentos estáticos ou

imóveis (Kirk; Raven; Schofield, 1994).

A respeito de Pitágoras (Samos, 570-496 a.C.), pouco se sabe de sua vida, sendo o

pitagorismo possivelmente uma escola de pensamento e certamente uma seita religiosa secreta,

que no futuro exerceria influência sobre Platão. Pitágoras considera a arché como do âmbito dos

números, das formas geométricas e das suas proporções harmoniosas. A natureza, portanto, é

matemática. Os princípios pitagóricos influenciaram outro pensador eleático, Filolau de Crotona

(século V a.C.), que sugeriu a ideia de movimento da Terra (Kirk; Raven; Schofield, 1994).

Empédocles (Agrigento, 490-435 a.C.) foi político, poeta, médico e cosmólogo e não buscou

um único princípio das coisas. Ao contrário, defendeu que a arché é constituída pelos quatro

elementos: fogo, terra, água e ar. Esses quatro elementos são separados e unidos pelo ódio (que se

forma pelas diferenças) e pelo amor (que reúne as semelhanças). Há em seu pensamento a

atribuição de valores morais à natureza e o reconhecimento da presença de certa unicidade (uno-

divino) entre os quatro elementos (do uno ao múltiplo). Empédocles se aproxima de Parmênides

(unidade) e Heráclito (movimento) (Kirk; Raven; Schofield, 1994).

Anaxágoras (Clazômenas, cerca de 500-428 a.C.), de origem jônia, teria vivido em Atenas por

cerca de 30 anos e por lá fundado uma escola de filosofia. Considera a arché composta de uma

infinidade de pequenos elementos, as chamadas homeomerias (que, em grego, significam

sementes). Os objetos concretos e os elementos materiais dispostos na realidade têm origem de


relações de afinidades entre porções dessas sementes, com defesa do múltiplo, do infinito e do

divisível e não do uno e do limitado. A quantidade de coisas no mundo seria, assim, sempre a

mesma, e tudo seria infinitamente divisível. Nessa visão, não existe o nada. Anaxágoras concebe a

possibilidade de existência de mundos paralelos, de repetição de mundos ou da sucessão deles

(Kirk; Raven; Schofield, 1994).

Leucipo (Mileto, séc. V a.C.) e Demócrito (Abdera, cerca de 460-370 a.C.) são conhecidos

como atomistas. Segundo esses pensadores, existem dois elementos primordiais para a formação

de todas as coisas: o átomo e o vazio. A arché é tomada com base nos átomos (que, em grego,

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significavam partículas indivisíveis, individuais, finitas e invariáveis, eternas e em perpétuo

movimento), que se diferem entre si pela forma, tamanho, posição e ordem. Os átomos se

diferenciam das homeomerias de Anaxágoras por não serem mutáveis ou capazes de se

transformar. Tudo quanto existe seria, com isso, resultado de combinações tidas como

espontâneas de átomos ardentes, leves e esféricos, constituindo a pluralidade do mundo. O

atomismo de Demócrito é avaliado como o pensamento mais rigoroso entre os filósofos da

natureza ou pré-socráticos. Para Demócrito, a lógica e a sabedoria são o resultado do

entendimento da natureza. A alma humana é também constituída por átomos, sujeita à

decomposição e à morte. A natureza deve ser explicada por si mesma e os acontecimentos não

têm uma causa primeira, contendo, sem exceção, tudo o que foi, é e será. Nessa direção, os

humores humanos, como a felicidade, devem ser compreendidos conforme a composição material

da realidade e de seus átomos (Kirk; Raven; Schofield, 1994).

TEMA 4 – A FILOSOFIA DE SÓCRATES E PLATÃO

Vamos investigar agora o principal pensador grego, Sócrates, suas ideias e críticas contra os

costumes e visões de mundo dos gregos, baseados na mitologia. Avaliaremos a relação do mestre

com o discípulo, Sócrates e Platão, e por quais motivos o pensamento socrático deu origem a

novos problemas e formas de se pensar a filosofia.

4.1 QUEM FOI SÓCRATES?

Sócrates (470-399 a.C.) nasceu em Atenas e era filho de uma parteira. Em grego, maiêutica é

o termo que significa dar à luz, parir. Sócrates compara o aprendizado filosófico ao nascimento ou

parto, de forma que o conhecimento seria, em sua visão, um processo doloroso, até que se

consolide o nascimento do pensamento filosófico nos indivíduos. Sócrates nunca escreveu nada,

pois afirmava que escrever seria uma forma de aprisionar o conhecimento. Sabemos da existência

de Sócrates por meio do trabalho de dois de seus discípulos, Platão e Xenofonte. Platão (428-347

a.C.) foi pertencente a uma família abastada e nobre de Atenas; Xenofonte (430-355 a.C.) foi um

poeta e jurista ateniense. Uma terceira visão sobre quem foi Sócrates foi dada por Aristófanes

(447-385 a.C.), um poeta crítico às ideias do filósofo por considerá-lo subversivo por atacar as

tradições políticas e religiosas dos atenienses (Jaeger, 2001).

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Platão torna seu mestre, Sócrates, o principal personagem de suas obras, destacando-se, por

exemplo, o livro A república (Platão, 1988). Comentadores da obra de Platão tendem a demonstrar

dificuldades em separar as ideias do mestre e do discípulo, de modo que o pensamento desses

dois filósofos constitui uma continuidade e certa unidade que dá origem ao complexo de ideias

socrático-platônicas (Châtelet, 1994).

Xenofonte e Platão descrevem Sócrates como homem de mente rigorosa, racional e

questionadora, que produziu severas críticas às crenças nos mitos gregos e na política ateniense, a

democracia. Sócrates foi acusado e declarado culpado por corromper a juventude, atacar a

democracia ateniense e o politeísmo grego; opôs-se às duas principais figuras de sua cidade: os

poetas (responsáveis pela manutenção das tradições religiosas baseadas nos mitos) e os sofistas

(eloquentes educadores e demagogos que manipulavam as decisões políticas tomadas na cidade,

em proveito próprio) (Châtelet, 1994).

O pensamento socrático-platônico desejava substituir a democracia ateniense por um modelo

utópico e idealizado baseado numa monarquia governada por filósofos no lugar, respectivamente,

da democracia e dos sofistas. Sócrates atacou a escravidão nas cidades gregas; defendeu a

participação das mulheres na vida social e política, inclusive a formação de guardiões e guardiãs,

com o fim do casamento monogâmico entre esses guerreiros; propôs que todas as riquezas

fossem confiscadas e administradas pelos filósofos, com o objetivo de se gerar uma cidade justa.

Devido às suas ideias, consideradas radicais, Sócrates foi condenado à morte e envenenado por

ingestão de cicuta. Embora pudesse ter escolhido o exílio, a censura ou o pagamento de uma multa

para se livrar da pena, optou por ingerir o veneno e alcançar a morte, pois considerava a alma e a

razão como eternas e o corpo, os sentidos ou as sensações corporais como corruptíveis, mutáveis e

perecíveis (Châtelet, 1994).

4.2 A DIALÉTICA SOCRÁTICO-PLATÔNICA

Para se opor aos discursos convincentes, porém falsos, de poetas e sofistas, voltados a fazer

aflorarem as emoções, paixões, sensações e crenças equivocadas entre os gregos, Sócrates, e

depois Platão, desenvolveram o primeiro método racional e filosófico da cultura ocidental, a

chamada dialética. Esse método consiste num debate, discussão ou diálogo elaborado por meio de

sucessivas perguntas, sempre realizadas pelo filósofo, que têm como objetivo questionar e

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conduzir à contradição as opiniões (doxa) das pessoas comuns, principalmente poetas e sofistas.

Sócrates e Platão opõem a dialética, relacionada à filosofia e à razão (logos), à opinião (doxa),

considerada vaga, ignorante e equivocada porque vinculada aos mitos, sensações e paixões

humanas. Sócrates deseja que sejamos guiados pela razão, esta sim capaz de conduzir à verdade e

às virtudes, e não pelas paixões ou emoções, fontes de todo erro e de vícios que corrompem o bem

comum e levam a sociedade à degeneração (Châtelet, 1994).

4.3 MUNDO SENSÍVEL E MUNDO INTELIGÍVEL

Sócrates e Platão foram responsáveis por proporem a diferenciação do real do falso, da

verdade da aparência, por meio da oposição entre o que denominaram mundo sensível e mundo

inteligível (ou mundo das ideias). O sensível corresponderia a tudo o que é concreto, físico,
material e sensível (as nossas sensações corporais), aos objetos sensíveis diante dos nossos olhos

e demais sentidos. Tudo que pertence a esse mundo, o mundo material, está em transformação, é

transitório e muda. Quando somos guiados pela sensibilidade (os sentidos), somos conduzidos,

logo, ao erro, pois somos influenciados pelas emoções (elementos presentes no mito e no discurso

dos sofistas). O mundo sensível, portanto, seria dominado pelas aparências, segundo essa linha de

pensamento, posto que o que é transitório e muda a todo instante, como os nossos sentimentos,

não pode corresponder à verdade. As aparências e os sentidos podem produzir os vícios, já que

acomodam o corpo e a mente. Os vícios seriam paixões produzidas pelos sentidos, fazendo do

indivíduo escravo do prazer. O mundo sensível deve ser, assim, relacionado à noção de simulacro

(conjunto de sombras e aparências) (Châtelet, 1994).

O mundo inteligível, por sua vez, só seria acessível por meio do uso da razão. Nesse mundo

estão as verdades, também chamadas de essências, formas ou ideias. A verdade seria eterna,
imutável e universal, não se transformando jamais, o que a diferiria das aparências presentes no

mundo sensível. A razão, por conduzir o homem à verdade, produziria as virtudes e guiaria a vida

para o bom caminho e não para os vícios. Segundo Marilena Chauí (1994, p. 269-270):

Eis por que a ontologia platônica introduz uma divisão no mundo, afirmando a existência de dois

mundos inteiramente diferentes e separados: o mundo sensível da mudança, da aparência, do

devir dos contrários, e o mundo inteligível da identidade, da permanência, da verdade,


conhecido pelo intelecto puro, sem qualquer interferência dos sentidos e das opiniões. O

primeiro é o mundo das coisas. O segundo, o mundo das ideias ou das essências verdadeiras. O

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mundo das ideias ou das essências é o mundo do Ser; o mundo sensível das coisas ou aparências

é o mundo do Não-Ser. O mundo sensível é uma sombra, uma cópia deformada ou imperfeita

do mundo inteligível das ideias ou essências.

Platão concebia a noção de imortalidade da alma e uma doutrina de reencarnação das almas

pela qual indivíduos dedicados à razão, à filosofia e à virtude tenderiam a alcançar o mundo

inteligível após a sua morte, tomando conhecimento pleno do que seja a verdade, a justiça, o bem,

o belo e Deus. É importante ressaltar que Sócrates e Platão são os primeiros filósofos a

defenderam o monoteísmo. Eles são críticos do politeísmo porque os deuses exprimem

comportamentos voláteis e comparáveis aos sentimentos humanos, portanto são falsos. O

monoteísmo é defendido pelos dois filósofos porque Deus deve ser único, eterno, imutável e seus

pensamentos são superiores e inconcebíveis pelos sentimentos humanos (Châtelet, 1994).

Segundo Châtelet (1994), como a relação entre corpo e alma é acidental, quando nossa

existência é dada ainda no mundo sensível apenas é possível alcançar as ideias originais, essências

ou formas do mundo inteligível com o uso da razão, por exemplo, a essência ou o pensamento

perfeito da ideia de uma mesa, casa, ser humano, números ou formas geométricas. As ideias são

perfeitas; porém, no mundo sensível, não encontramos seus correspondentes, a não ser cópias

malfeitas e degeneradas das essências. Além disso, o mundo sensível apresenta dois patamares. O

primeiro deles corresponde ao dos objetos físicos, cópias distorcidas das ideias originais. O

segundo patamar diz respeito aos discursos dos poetas e sofistas, considerados do mais elevado
patamar de mentira, cópias das cópias, que revelam o que há mais falso, levando os indivíduos ao

erro e à ignorância.

A Figura 1 permite compreender as distinções entre os dois mundos avaliados por Sócrates e

Platão.

Figura 1 – Mundo inteligível e mundo sensível

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Fonte: Elaborado com base em Platão, 1988.

Dessa forma, no mundo inteligível estariam nossas ideias originais. É o que se chama de logos

(razão, ciência, conhecimento, discurso racional que nos leva à verdade, ou seja, elementos da

atividade do filósofo). Já no mundo sensível (ou das aparências) apenas vemos as cópias das ideias,

ou seja, as suas sombras. Esse mundo corresponde ao mundo do mito (mythos).

TEMA 5 – A ALEGORIA DA CAVERNA

Vamos estudar agora uma das narrativas mais conhecidas da história da filosofia. Platão e

Sócrates comparam o mundo sensível a uma prisão por meio da chamada alegoria da caverna,

presente no Livro VII da obra A república (Platão, 1988). A alegoria trata de indivíduos que viveram

toda a sua existência acorrentados no interior de uma caverna, ou seja, aprisionados pelas paixões

e sensações, e que apenas poderiam olhar para frente, onde eram projetadas sombras, na parede

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da caverna que habitavam. Assim, essas pessoas tomavam as sombras e aparências como se

fossem verdadeiras, sem saber que atrás deles havia outros indivíduos (leiam-se, sofistas e poetas)

manipulando, na frente de uma fogueira, objetos que davam origem às sombras projetadas na

parede, como em um teatro de sombras de fantoches ou um simulacro.

No entanto, um dos prisioneiros, o filósofo, consegue se desacorrentar, pois seus

instrumentos de libertação são a razão, o estranhamento e os questionamentos. O filósofo

percebe então que havia sido sempre enganado, tomando as aparências como se fossem a

realidade. Decide, depois disso, sair da caverna, para encontrar as ideias, as formas, isto é, a

realidade fora da prisão, e enfim observa a luz do Sol, que representa a verdade, o belo, o bem e a

justiça. O filósofo toma a difícil decisão de retornar à caverna para advertir seus antigos

companheiros a respeito do fato de que estavam sendo enganados, acreditando que as sombras

eram verdadeiras. Ao retornar, esses companheiros não acreditam em suas palavras: acabam por

desmenti-lo e agredi-lo, até matá-lo (Platão, 1988).

Crédito: Matiasdelcarmine/Adobe Stock.

Dessa forma, a alegoria da caverna representa tanto a teoria do conhecimento de Platão e

Sócrates, ou seja, a oposição entre os mundos sensível (a caverna) e inteligível (fora da caverna,

onde há a luz do Sol). Além disso, a mesma alegoria expressa como se deu a morte de Sócrates,

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que, por utilizar a razão e contestar poetas e sofistas, foi condenado ao envenenamento por cicuta,

em Atenas.

NA PRÁTICA

No ano de 2016, o Dicionário Oxford de filosofia cunhou o termo pós-verdade em seus

verbetes, relacionando-o da seguinte maneira ao fenômeno das fake news: “Post-truth (pós-

verdade): relativo ou referente a circunstâncias nas quais os fatos objetivos são menos influentes

na opinião pública do que as emoções e as crenças pessoais” (Word, 2016, tradução nossa). A
noção de pós-verdade diz respeito ao processo de deslegitimação das ciências, de certezas

racionais em nome de opiniões falsas, passionais e geradoras de notícias falsas (as fake news).
Seria possível relacionar a noção de pós-verdade com os problemas identificados por Sócrates em

relação às opiniões dos sofistas? Investigue uma fake news que tenha sido abordada criticamente

por meios de comunicação (jornais, revistas, sites de notícias e afins) e, em seguida, faça uma

comparação com concepções platônicas a respeito da distinção entre os mundos sensível e

inteligível.

FINALIZANDO

Nesta aula, estudamos o surgimento da filosofia ocidental, com base nos pensadores gregos.
Avaliamos que o discurso filosófico na Grécia apareceu com os filósofos conhecidos como pré-

socráticos, que foram responsáveis por produzir reflexões de teor racional, sobre a natureza, em
oposição às intepretações de cunho fantástico e sobrenatural presentes nos mitos. Investigamos a

originalidade do pensamento socrático-platônico, que trouxe novos questionamentos ao

pensamento filosófico. Enquanto os pré-socráticos se perguntavam essencialmente pela arché,

Sócrates inova sobretudo com os seguintes elementos:

a. construção de uma teoria do conhecimento que supõe uma rígida separação entre corpo

(mythos) e alma (logos);

b. crítica da democracia e proposição de um regime político fundado na razão e não mais nos

mitos, modelo que subverteu as tradições gregas ao elaborar sistemática oposição aos mitos,

aos sofistas e à democracia ateniense;

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c. Sócrates e Platão produziram e promoveram, pela primeira vez, um método filosófico, a

dialética, para combater os mitos.

REFERÊNCIAS

ARISTÓTELES. Metafísica. São Paulo: Abril Cultural, 1973. (Os pensadores).

CHÂTELET, F. Uma história da razão: entrevistas com Émile Noël. Rio de Janeiro: Jorge

Zahar, 1994.

CHAUÍ, M. Convite à filosofia. São Paulo: Editora Ática, 1994.

DELEUZE, G.; GUATARI, F. O que é filosofia? São Paulo: Editora 34, 1991.

HESÍODO. Os trabalhos e os dias. São Paulo: Editora Iluminuras, 2002.

_____. Teogonia. Tradução e estudo: Jaa Torrano. São Paulo: Iluminuras, 2003.

HOMERO. Ilíada. São Paulo: Penguin, 2013.

_____. Odisseia. São Paulo: Cosac & Naify, 2014.

JAEGER, W. Paideia: a formação do homem grego. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

KIRK, G. S.; RAVEN, J. E.; SCHOFIELD, M. Os filósofos pré-socráticos. Lisboa: Fundação

Calouste Gulbenkian, 1994.

PLATÃO. A república. Belém: Edufpa, 1988.

_____. Diálogos I: Teeteto, Sofista, Protágoras. São Paulo: Edipro, 2007.

VERNANT, J. P. Entre mito e política. São Paulo: Edusp, 2001.

_____. O Universo, os deuses, os homens. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.

WORD of the Year 2016. Oxford Languages, 2016. Disponível em:

<https://languages.oup.com/word-of-the-year/2016/>. Acesso em: 2 fev. 2022.

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