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Texto de apoio para o uso interno na Escola Secundária CCI 2021

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A Nota introdutória

Eis o resumo dos conteúdos da disciplina de Filosofia da 11ª classe, resultado do manual
básico do currículo actual da disciplina e da compilação de outros manuais que abordam os
conteúdos da 11ª classe.

O objectivo não é ensinar filosofia, mas antes favorecer no aluno uma atitude de reflexão
crítica face a todas as questões que brotam das suas vivências reais e concretas. Uma maneira
de motivar ao aluno a prosseguir e a completar a sua preparação mental face ao confronto
com o mundo contemporâneo fazendo uma retrospectiva.

Quem não tem umas tintas de filosofia é homem que caminha pela vida agrilhoado a
preconceitos que se derivaram do senso – comum, das crenças habituais do seu tempo e do
seu país, das convicções que cresceram no seu espírito sem a cooperação ou consentimento
de uma razão deliberada. Quando começamos a filosofar, pelo contrário, imediatamente
caímos na conta de que até os objectos mais ordinários conduzem o espírito a certas
perguntas a que incompletissimamente se dá resposta. (Bertrand Russell).

Portanto, a preocupação fundamental da filosofia consiste em questionarmos e


compreendermos ideias muito comuns que usamos todos os dias sem pensarmos nelas. A
filosofia faz-se colocando questões, argumentando, ensaiando ideias e pensando em
argumentos possíveis contra elas e procurando saber como funcionam realmente os nossos
conceitos.

Por: dr Daúda Abudo ”

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UNIDADE I: INTRODUÇÃO À FILOSOFIA

1.1 A emergência do filosofar

A emergência de filosofar é um resultado directo do desenvolvimento do homem. Ela


constitui uma resposta à necessidade do homem explicar uma série de fenómenos a sua volta e
que influencio de certo modo a sua própria vida.

Já dia a dia emerge a Filosofia como uma atitude. Platão e Aristóteles afirmavam que a atitude
que levava à reflexão filosófica começava com espanto ou inquietação, eles viam nesta
experiência a atitude do ser humano que descobre problemas onde os outros estão
preguiçosamente habituados a esperar soluções.

Aprender a filosofar é aprender a pensar sobre o mundo, exercitar a razão na aprendizagem


dos vários sistemas, teorias e conceitos filosóficos, mas só na medida em que depois deverá
fazer o uso livre e pessoal da razão, ou seja, pensar por si próprio.

É por isso que a Filosofia nasce do espanto que o mundo provoca no homem, que o faz
começar a filosofar. Aprender a filosofar é essencialmente uma atitude de problematização, de
questionamento e de crítica perante o mundo.

1.2 Tentativas de definição da Filosofia

Não há unanimidade na definição da filosofia devido a grande dificuldade que se tem em


fazê-la.

Etimologicamente, o termo Filosofia provém de duas palavras gregas: philo (amar, amizade
com, gostar de) e sophia (saber, sabedoria). Assim, a palavra Filosofia significa amor da
sabedoria, gosto pelo saber.

A origem do termo Filosofia é atribuída ao pensador grego Pitágoras (filósofo e matemático


do século VI a. C) para referir que o nome de sábio só a Deus convém, e ao homem apenas
compete procurar.

O objecto de estudo da Filosofia é o todo, toda a realidade que cerca o Homem abrangendo
toda a realidade. É por isso que ela é definida sob vários pontos de vista, resultados da
experiência, reflexão e compreensão de cada filósofo e segundo as preocupações do seu
tempo:

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 Aristóteles (Grécia antiga) – A Filosofia é o estudo dos primeiros princípios e causas


últimas de todas as coisas.

 Cícero (Roma antiga/Itália) – A Filosofia é o estudo das causas humanas e divinas das
coisas.

 Hegel entende como um saber absoluto

 Whit Hard - oferece uma explicação orgânica do universo.

 Karl Jasper- filosofar é estar a caminho

 Descartes (França/Idade Moderna) – A Filosofia ensina a raciocinar bem.

 Karl Marx (Alemanha/Idade contemporânea) – A filosofia é uma prática de


transformação social e política.

 Hountondji (Benin/Actualidade) – A Filosofia é uma disciplina científica, teorética e


individual.

 Anyanw (Nigéria/Actualidade) – A Filosofia tem a missão de explicitar o implícito,


tomar consciência do inconsciente.

 Ngoenha (Moçambique/Actualidade) – A Filosofia ajuda a resolver os problemas da


humanidade, é um instrumento de emancipação.

Portanto, cada pensador e filósofo tem a sua própria reflexão e compreensão do mundo fruto
das suas experiências, cultura e meio social. Daí que, como defendia Kant, não se ensina a
filosofia mas sim a filosofar, como forma do exercício pessoal do pensamento.

Apesar desta diversidade na definição da Filosofia, é comum que a Filosofia é um tipo de


saber amplo, radical e exigente.

1.3 Universidade e particularidade da Filosofia (objecto da Filosofia)

A Filosofia estuda a totalidade das coisas. A Filosofia é uma ciência dos porquês; ela pretende
explicar o porquê de todas as coisas, procurando os fundamentos últimos, a origem e a
explicação da vida e mundo humanos.

Diferentemente das outras ciências, a Filosofia é um saber universal na medida em que


engloba todas “filosofias” particulares, de todos os tempos e lugares. Reflecte problemas
universais e atemporais, ou seja, interessam a todos os homens e em todas as épocas (questões

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de sempre e abrangentes). A filosofia procura uma apreensão e compreensão do real na sua


totalidade e é particular porque ela reflecte a subjectividade daquele que filosofa

1.4 Funções da Filosofia (aspectos práticos e teóricos)

A Filosofia não é uma habilidade para exibir em público, não se destina em servir de
espectáculo. O objectivo da Filosofia consiste em dar forma e estrutura à nossa alma, em
ensinar-nos um rumo na vida, em orientar os nossos actos, em apontar-nos o que devemos pôr
de lado.

As funções da Filosofia agrupam-se em duas:

 A teórica, enquanto ajuda o Homem a analisar o mundo, a reflectir sobre todas as


coisas. A Filosofia ensina a pensar bem para bem agir. Filosofia visa conhecer a
essência da realidade, procurando uma compreensão da totalidade das coisas e dos
seres, reflecte ainda sobre vários saberes e os problemas por eles suscitados

 E, a prática, pelo facto de ela nos impelir a uma atitude existencial, a um novo tipo de
comportamento, fruto de reflexão filosófica. A Filosofia conduz-nos a uma autonomia
no agir e a um viver de forma autêntica. A Filosofia orienta a agir bem. A filosofia
ajuda-nos a orientar-nos no mundo, a saber viver, agir de forma responsável a
encontrar uma finalidade para a vida.

1.5 Métodos da Filosofia: justificação lógico-racional e análise crítica

A forma de produção de conhecimentos em Filosofia baseia-se no pensamento, não tem


necessidade de provas formais, e faz-se essencialmente através da colocação de questões, da
argumentação, na produção de ideias, na sua refutação e na análise de conceitos.

Dentre vários métodos, há dois métodos usados em filosofia: o método crítico-analítico, para
o estudo de realidades sociais e que se apoia nos factos, procedendo à sua análise e crítica e o
método lógico-racional ou simplesmente especulativo, usado para o estudo de realidades
meta-empíricas (espirituais).

1.5.1 A leitura de Textos

Os textos dos filósofos devem ser encarados como a via da iniciação filosófica. É a partir da
leitura dos textos filosóficos que melhor podemos conhecer os conceitos, os problemas, as

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teses, as soluções e os argumentos avançados pelos filósofos. Ler textos filosóficos é retomar
pensamentos equivale a repensar, oque significa entregar se a reflexão autonomia.

1.5.2 Explicação dos textos

Explicar um texto é apresentar o que um autor realmente disse. A explicação exige atenção,
mas também uma leitura sem preconceitos, expectativas, nem intrusões da memória ou de
saberes prévio. O sentido do texto encontra se no próprio texto.

Na explicação, depois de se elaborar uma introdução, necessariamente breve, e de preferência


de forma interrogativa é necessário seguir uma ordem lógica,

a) Diferenciar o tema aquilo de que trata o texto da tese, isto é, a posição filosófica que o
autor defende
b) Sinalizar os termos que representam noções filosóficas importantes que deverão ser
analisados em função do contexto,
c) Assinalar as questões e os problemas, inclusive aquelas que estão implícitos, os elementos
da resposta deverão ser procurados no interior do próprio texto.
d) Colocar em evidência as articulações (termos como se então, portanto) e considerá-las
com a maior atenção
e) Explicitar, em cada momento do texto, a questão pressuposto pelas ideias que serão
desenvolvidas, de modo a realçar a argumentação usada pelo autor
f) Explicar os exemplos,
g) Redigir uma conclusão, fazendo um balanço do trabalho efectuado.
De resposta aos seguintes item.
 Tema
 Tese principal
 Argumentação do autor
 Objecção (de alguns modernos)
 Contra argumentação (do autor)

1.5.3 Comentário de texto


O objectivo inerente ao comentário de um texto filosófico é substancialmente diferente
daquele que norteia uma simples explicação.

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Com efeito, no comentário não se procura expor o que o autor diz mas sim dialogar com ele,
verificando a função desse texto na obra em causa e avaliando a função desse texto na obra
em causa e avaliando o seu papel no horizonte de ideias do filósofo em questão. Sendo assim,
o comentário de um texto filosófico pressupõe a explicação do texto.
 Convoca a reflexão pessoal e o conjunto de referências de que dispõe o comentador
 Pressupõe conhecimento da história da filosofia e as perspectivas de outros comentadores
(o que não sucede com explicação)
 Interrogar o autor acerca do que existe de verdade no texto e análise, não se restringindo a
esse texto

1.6 A atitude filosófica e a demanda da verdade

O fim último da Filosofia é a procura da verdade. A atitude filosófica manifesta-se em


qualquer ser humano, havendo interrogações que se põem inevitavelmente a todas as pessoas.
O homem se põe a filosofar porque tem o puro desejo de saber mais o melhor. Por isso, o
filósofo se interroga sobre os “porquês” dos factos.

A atitude filosófica tem como características: o espanto – Platão e Aristóteles afirmavam que
a atitude que levava à reflexão filosófica começava com espanto ou inquietação, eles viam
nesta experiência a atitude do ser humano que descobre problemas onde os outros estão
preguiçosamente habituados a esperar soluções. A dúvida – o distanciar-se das coisas
inquietando e problematizando. O rigor – crítica, ou seja, o questionamento e avaliação
constante do próprio conhecimento. E, insatisfação – a procura constante do saber. A
Filosofia não dá respostas acabadas, sempre uma resposta é motivo de uma nova pergunta.
Nenhuma conclusão satisfaz; o ideal é fazer da procura do saber um modo de vida.

1.7 A natureza das questões filosóficas


O filósofo assume uma postura crítica perante situações particulares com as quais se depara
no seu quotidiano, ele ousa pensar por si mesmo, servindo se da sua própria razão de modo
livre e autónomo. Neste exercício, ele coloca questões que vão à raiz.
As questões filosóficas não são simples proposições terminadas com um ponto de
interrogação; são afirmações ou negações ligadas a certas questões prévias e representam,
muitas vezes, a formulação avaliadora de um princípio que exige justificação.

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Assim, os problemas filosóficos surgem no interior de qualquer actividade humana. Não é


pelo seu conteúdo e formulação imediata que um problema se torna filosófico ou não
filosófico, mas pela forma como ele é abordado e desenvolvido, ou seja, é assumindo uma
atitude filosófica que um problema se torna filosófico.

Portanto, o que faz com que uma pergunta seja considerada filosófica não é apenas o modo
(como é colocada a questão) mas também o conteúdo, que compreende quatro aspectos
fundamentais:

 Universalidade – A Filosofia coloca questões e problemas que são filosóficos na


medida em que são universais, interessam a toda a humanidade, dizem respeito a todos
os homens em todas as épocas, em todas as culturas e em todas as localizações
geográficas.

 Radicalidade – Procura a raiz e a origem dos problemas; o que caracteriza as questões


filosóficas é o aprofundamento do problema e não a busca de soluções imediatas.

 Autonomia – É a capacidade do filósofo ter a liberdade de raciocinar na busca da


verdade e de fundamentos, distanciando-se muitas vezes do que a História terá
definido.

 Historicidade – As questões filosóficas devem ter sempre um enquadramento


histórico; pois cada época histórica coloca questões próprias a que os filósofos
respondem.

1.8 Disciplinas da filosofia

A Filosofia possui disciplinas próprias que, associadas, formam a totalidade do universo pelo
qual a Filosofia se preocupa em responder. Kant, grande filósofo alemão do século XVIII,
colocou questões que suscitam quatro disciplinas da Filosofia: que posso saber? (Teoria do
conhecimento); que devo fazer? (Ética e/ou Moral); que me é permitido esperar? (Religião) e
o que é o Homem? (Antropologia Filosófica).
Principais disciplinas da Filosofia
Metafísica geral – investiga a realidade que está além do que pode ser tratado pelos métodos
da ciência.
Ontologia – estuda a teoria acerca do Ser.

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Metafísica especial – estuda os seres particulares. Esta divide-se em duas partes:


 Cosmologia racional – trata-se do estudo racional da natureza do ponto de vista da sua
especificidade e das suas propriedades, usando unicamente o pensamento lógico. Trata
da natureza do natural, da constituição essencial das coisas, da sua origem e devir.
 Psicologia racional ou Psicologia filosófica – estudo dos fenómenos da psiqué (alma).
Teodiceia – parte da metafísica que se interessa pelo problema de Deus: justificação da
possibilidade da sua existência pela via racional e não pela fé.
Epistemologia – ramo da Filosofia que estuda os métodos e a validade do conhecimento
científico, bem como a sua importância e limites.
Teoria do conhecimento ou Gnosiologia – ocupa-se dos problemas do conhecimento; reflexão
sobre a possibilidade do conhecimento e sua origem.
Lógica – estabelece as regras que devem reger o pensamento humano.
Antropologia filosófica – reflexão que procura compreender a natureza do Homem. Analisa as
dimensões e a especificidade do Homem e o sentido da sua existência.
Estética – disciplina da Filosofia que estuda o Belo, a sua natureza e os fundamentos da arte
enquanto expressão do ser humano.
Ética – área da Filosofia que estuda os costumes do ser humano em comunidade e a acção
humana no que toca aos seus princípios.
Filosofia Política – Pesquisa a melhor forma de organização social com a finalidade de
encontrar formas da realização dos indivíduos que a essa comunidade pertencem.

1.9 A Filosofia e outras ciências

A Filosofia não pode ser identificada com as ciências particulares, nem ser restrita a um
campo ou objecto único. Ela é, num certo sentido, uma ciência universal; o seu campo de
pesquisa não é, como nas outras ciências, restrito a alguma coisa limitada e determinada. Ela
se distingue das outras ciências tanto pelo método de investigação como pelo ponto de vista
em que se coloca.

A Filosofia é o fundamento da realidade; lá onde as outras ciências param, aí entra o filósofo


e começa a investigar.

A filosofia distingue se de outras ciências propriamente ditas por várias razões

a) Pela profundidade de investigação

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A ciência procura as causas próximas e imediatas das coisas

A filosofia procura causas última e finais das coisas

b) Pela reflexão critica

A ciência pressupõe a reflexão e critica n

A filosofia poe em questão tudo o que se apresenta ao espírito para examinar , discutir,
avaliar ,e descobrir o seu significado, inclusive o da própria ciência

c) Pelo grau de generalidade e síntese

A ciência limita se a realidade dos factos, ocupa-se dos fenómenos

A filosofia procura dar unidade total ao saber, pretende penetrar na realidade global.

d) Pela humanidade e valorização

A ciência ocupa se em geral, da realidade estranha ao homem

A filosofia é essencialmente humana e axiológica, isto é, ela dá valor a acção e a


existência humana.

A filosofia para se elevar à princípios gerais do conhecimento, apoia se nas leis


científicas, que coordena e generaliza. O filósofo, para construir hipóteses engenhosas
e deduzir conclusões precisas de bases sólidas fornecidas pela ciência.

Só a filosofia pode à prior elucidar as condições de validade das ciências, orientando a


pesquisa científica e sugerindo uma atitude de questionamento. Por seu turno, a
ciência caberá fornecer conteúdos concertos as formulações abstractas da filosofia

1.10 Contextualização histórica da filosofia


Historicamente, a Filosofia surge Grécia como uma crítica da sabedoria popular, esta crítica
ao mito efectuou se em todas as frentes, moral, sociológica, teológica, gnosiológica. Referece
de uma nova visão da realidade que se esforça em eliminar os pressupostos irracionais do
mito.

Transição do mito à reflexão filosófica


Refere-se que a primeira interpretação filosófica foi a interpretação mitológica, isto é, o
conjunto de narrativas, doutrinas tradicionais dos poetas especialmente Homero e Hesíodo a

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cerca do mundo, Deus e que caracteriza se por oferecer uma explicação total de todas as
eniquimas da vida humana

Apesar da existência destas narrativas fundadoras explicativas criaram condições, na Grécia


Antiga para que aos poucos, se desse a transição do mito a reflexão racional. A filosofia
começa a surgir numa altura em que a Grécia se abre a outras civilizações, nomeadamente nas
suas colónias da Itália meridional e da Asia menor. Não é uma transição brusca, mas aos
poucos, nos finais do século VII a. c começa a existir um quadro político-social favorável ao
aparecimento de uma nova forma de olhar e questionar o real.

Nos primórdios, o Homem ficava satisfeito com as explicações dadas através da utilização de
mitos que explicavam os mistérios da natureza. Os mitos são histórias sagradas que durante
séculos dominaram a vida das comunidades humanas. Portanto, para a explicação da origem
do mundo, do homem e dos fenómenos naturais, recorriam a seres sobrenaturais: deuses como
reveladores dos representantes do povo (sacerdotes, feiticeiros, chefes, etc.).

Os mitos tinham dupla função: por um lado, a função explicativa – os mitos explicavam o
porquê das coisas, acontecimentos ou instituições, dizendo como é que eles foram criados e
como são recriados pelos deuses. Por outro lado, função normativa – os mitos serviam de
regras para a acção dos homens, de modelo que o indivíduo devia imitar; assim, os mitos
respondiam as questões: que devemos fazer? Que fins deveram procura alcançar? etc.

Contrariamente, os primeiros filósofos questionaram-se e procuraram, através da razão,


encontrar uma explicação racional sobre a origem da Natureza (physis – natureza), o que os
levou a serem conhecidos como filósofos da natureza.

Eles procuravam a causa suprema que estaria na origem do mundo e de todas as coisas, os
jónios (Mileto), na Ásia Menos, nas margens do mar Egeu, entre os séculos VII e V a. C:
Tales, Anaximandro e Anaxímenes.

Etapas da Filosofia Grega Clássica: o período cosmológico e antropológico

A etapa cosmológica

O aparecimento da filosofia grega é inseparável das narrativas dos poetas Homero e Hesíodo.
O mito oferecia uma compreensão do cosmo. Essa compreensão tinha implícito s os
principais problemas filosóficos, aos quais se procurava responder através de imagem e
símbolos

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É com a filosofia propriamente dita que se procede a uma sistematização lógica racional
desses problemas e das soluções apontadas. Na primeira etapa da filosofia greca designada de
etapa cosmológica, filósofos procuravam compreender o cosmo e explicar racionalmente a
natureza (a physis), preocupando-se com a investigação do princípio (arché) ou principio ,
concebido como origem , o substrato e a causa que subjazem a toda a realidade.

Os naturalistas ou Pré-socráticos

Escola Jónica

Tales
Considerado o primeiro filósofo por ter inaugurado dar solução racional para o problema da
causa primeira de todas as coisas e do cosmos. Para Tales, tal princípio é a água pois, segundo
ele, a terra repousa sobre a água e tudo é feito de água. Ele é considerado como o pai da
Filosofia grega e toda a Filosofia ocidental

Anaximandro

Discípulo de Tales, discordando o seu mestre, defende que o princípio de todas as coisas, o
elemento primordial não poder ser um elemento determinado como água, fogo ou ar. Para ele,
a causa primeira de todas as coisas deve ser indeterminada ou infinita – o apeiron, tal é eterno
e contém todos os mundos.

Anaxímenes
Para este, a causa primeira de todas as coisas é o ar. Pois, o ar é essencial para o Homem e
para todos os seres vivos. É através do ar que do céu caem a chuva (água) e os raios (fogo) e
que para o céu sobem os vapores e as exalações. Portanto, o ar se presta melhor que qualquer
outro elemento às variações.

Pitagorismo antigo

Pitágoras nascido em samos, aquém se encontram associados aspectos lentaria, fundou em


crotona a sua escola filosófica, que tinha cariz político e religioso.

Para os pitagóricos, a substância das coisas encontra-se no número. Os princípios


matemáticos os números são os elementos de todos os seres. A matemática é muito

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importante na compreensão da ordem das coisas e da unidade do mundo, os corpos consistem


em figuras geométricas, que é conjunto de ponto

Escola Eleática

Parménides de Eleia (470 a. c)


Este traz uma resposta distinta dos anteriores. Ele funda a ontologia ao atribuir a criação do
mundo ao Ser, o qual é incausado e que causa todas as coisas. Parménides defende que o Ser é
a garantia da unidade do mundo, pois é Uno, Eterno, Não-Gerado e Imutável. O que muda são
os seres gerados. “O que é, é , e o que não é, não é.” O não ser é impensável, somente é
pensado em oposição ao Ser porque não é fora do Ser.

Zenão (490-430 a C)

Defendia a doutrina do seu mestre mediante a redução absurdo das suas teses que afirmavam
a pluralidade e o movimento e que assim negava a unidade de ser

Filósofos Pluralistas

Empédocles (495-435 a C)
Procurou uma explicação para o nascimento, a morte e a mudança. Baseava se na união e na
separação dos elementos, esses elementos são as seguintes: terra, água, ar e fogo. Trata se de
princípios eternos e indestrutíveis. Por sua vez , há duais forcas opostas entre si que unem e
separam os elementos. Essas forcas são a amizade ou amor (que unem) e a Discórdia ou ódio
(que separa).

Anaxágoras (499-428 a C)
Defende que as coisas se compõem de outras coisas existentes, e neles se decompõem.
Apresentam uma visão pluralista em que admite a existência de elementos ou sementes que
no princípio se encontravam misturadas de foram caótica e desordenada. Essa mistura estava
imóvel. Ma o espírito imprimiu movimento a essa mistura e introduziu lhe a ordem distinto
das sementes, o espírito é infinito, simples, tendo uma forca própria para separar os
elementos, com tal separação, o mundo passa a ter ordem em que as coisas se diferenciam.

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Demócrito (460-370 a C)
Aceita como indiscutível a afirmação de Parménides, segundo a qual, de uma única realidade
não pode originar se a pluralidade, mas ainda aceita que o real possui características
estabelecidas pelo raciocínio.

Atomistas
Leucipo (440 a C)
Para os atomistas, o ser é o pleno, o não ser é o vazio. Toda via, o pleno não é algo compacto
e uniforme. Pelo contrário ele é constituído por um número infinido de elementos invisíveis e
indivisíveis os átomos.
Distintos pela forma e pelo tamanho os átomos determinam através da união e da
desagregação, o nascimento e a morte.

Etapa Antropológica
De uma perspectiva da explicação da physis (naturalista, fisiológica, cosmológica) passou
para uma perspectiva de explicação do anthropos (Homem), ou seja, uma perspectiva
antropológica e antropocêntrica
Nesta etapa, o objecto central da filosofia passa a ser o homem, esta viragem antropológica da
filósofa decorreu também de circunstância sociopolítico verificadas por essa altura, na Grécia,
nomeadamente advento da democracia ateniense. Este tipo de regime político se fomentava a
participação activa dos cidadãos na esfera política, as decisões passam a ser tomadas pela
assembleia do povo e a liderança depende também da aceitação popular

Esta nova perspectiva foi inaugurada pelos sofistas (de sophos, “sábio”). Eram professores e
mestres que, em Atenas, formavam os jovens atenienses. O objectivo fundamental dos sofistas
era de formar bons cidadãos e colocar o homem no centro de todas as atenções. A partir deles,
o Homem torna-se o centro de toda a problemática filosófica grega.

Etapa Ontológica

Esta nova etapa, os filósofos preocupam se em reflectir sobre o ser, a realidade em geral e
sobre a relação que o homem estabelece com essa realidade, efectuando assim uma síntese
dos problemas analisados nas duais etapas precedentes.

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Plantão

O aspecto fundamental do pensamento de Platão é a teoria das ideias. Para perceber esta
teoria, temos que ter enconta que segundo o filósofo, o homem possui uma alma imortal e o
corpo é a sua prisão. Quando o homem morre, a alma separa se do corpo, sujeita a
reencarnação sucessivas, a alma devera procurar purificar se , sendo a sua dedicação a
filosofia importante no processo de purificação.

Em sintonia com este dualismo antropológico, Platão admite a existência de dois mundos,
dualismo ontológico, cada um dele associado a um determinado nível de conhecimento
dualismo gnosiológico, o mundo sensível, a que acedemos atrás dos sentidos no qual obtemos
o conhecimento sensível ou opinião, sendo caracterizado pela mudança, pela aparência., pelas
sombras, pela imperfeição, e o mundo inteligível, perfeito, do qual obtemos o conhecimento
racional.

Mundo inteligível é o mundo das ideias. E oque são as ideias?

a) São princípios que permitem avaliar as coisas existentes no mundo sensível, avaliamos
coisas belas através da beleza em si, avaliamos acções justas com base na justiça.

b) São realidades essências subsistentes, possuem um ser próprio e caracterizam se como


incorruptíveis, eternas.

c) São modelos paradigma ou arquétipos das coisas sensíveis, estas são feitas por
imitação das ideias, sendo suas copias tendo com elas uma relação de participação, o
mundo sensível é produzido a partir do mundo das ideias.

d) São objectos de conhecimento, sendo apreendidas pela alma que as comtempla no


mundo inteligível, encontra se subordinadas à ideia suprema a ideia do bem.

e) São unidade da multiplicidade que há neste mundo, constituindo assim o fundamento


do conhecimento.

Aristóteles.

Era natural de Estagira, discípulo de Platão. Aristóteles acaba por prestar atenção àquilo que ,
para Platão , constituía objecto de desconfiança : o mundo sensível. Desse mundo procurou

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encontrar a inteligibilidade no próprio universo material e não num mundo transcendente de


ideias separadas.

Ora o mundo em que vivemos é, antes de mais, um mundo material, mas a matéria não é
caótica: encontra se organizada. A matéria é aquilo com o qual algo se faz ou aquilo de onde
um ser provem, é também o substrato, aquilo que está de baixo das mudanças. A forma por
sua vez é a natureza ou essência das coisas estando na base das definições que fazem sobre
elas.

Mas aquilo a que habitualmente chamam matéria (água, ferro, mármore, etc) é uma matéria
segunda, uma vez que já possui uma forma determinada, sendo apenas potencial em relação e
outras formas que possa assumir, não deve ser confundida com a matéria primeira ou matéria-
prima, desta não é possível ter qualquer experiencia, pois é indefinida, incognoscível, pura
indeterminação, é uma potência capaz de receber todas as qualidades e determinações, não
podendo existir separadamente.

A matéria-prima e a forma são dois princípios constitutivos daquilo a que Aristóteles chama
substância (mas só as substâncias sensíveis possuem ambos os princípios, há também
substâncias supra sensíveis, as quais não possuem matéria)

Substância é aquilo que não é inerente a outro ser, que pode substituir por si, possui uma
unidade e é único, determinado, individual, concreto, irredutível existindo em acto. Na visão
Aristotélica existem dois tipos de substância, primaras e segunda.

As primárias são seres individuais, concretos singulares em quanto que as segundas são
conceitos universais, extraído dos seres singulares e aplicáveis a cada um desses seres.

Outro conceito a ter em atenção neste contexto é o conceito de acidente. O acidente é aquilo
que pertence a um ser mas não é necessário, nem constante, nem essencial, pois os acidentes
podem existir ou não, sendo contingentes em relação a uma substância que lhes ser de
suporte, exemplo, um homem concreto é uma substância, características como ser pintor,
gostar de morangos ou usar óculos constituem acidentes dessa substância, pois não são
característica que fazem sua essência.

Segundo Aristóteles, para explicarmos os seres e os fenómenos devemos perceber quais as


causas estão envolvidos no seu surgimento, o filósofo distingue quatro: causa material, causa
formal, causa eficiente e causa final. Se imaginarmos uma estátua de um presidente da
república, feita de mármore, podemos dizer que a concepção ou ideia que o escultor tem desse

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presidente é a causa formal, o mármore é a causa material, a acção de escultor é causa


eficiente, e a finalidade que o escultor tem ao fazer dinheiro, cria beleza e etc é causa final.

Assim as quatro causas podem ser definidas de seguinte forma.

1ª Causa material é aquilo de uma coisa é feita, é substrato das mudanças e das diferentes
qualidades das coisas.

2ª Causa formal refere se à essência ou natureza de uma coisa, àquilo que define, é também a
ideia ou modelo de algo.

3ª Causa eficiente ou motora, é o principio que imprime movimento ou mudança em algo , é


aquilo que produz alguma coisa.

4ª Causa final designa o fim para qual tende o movimento, o para que de algo.

A doutrina de potência e do acto permite explicar o movimento, que é a passagem da potência


ao acto. O movimento característico da realidade sensível decorre da existência combinada de
matéria e forma. Os seres supra sensíveis ou imateriais uma vez que não possuem matéria não
possuem potencialidade nem estão sujeito ao movimento sendo por isso formas puras ou actos
puros. Potência é a possibilidade de sofrer, acto é a própria existência de uma coisa.

A obra especifica do ser humano, e que distingue dos restante seres vivos , é a actividade da
alma orientada pela razão. Por conseguinte, o homem feliz é aquele que vive e age de acordo
com a razão.l

Sócrates e Sofistas

Sócrates era filho de um escultor e de uma parteira, deve ter nascido em 470 ou 469 aC .
Acusado de corromper a juventude e não cré na religião oficial, acabou por condenado à
morte em 399 a C . Nada tendo deixado escrito, Sócrates dedicou a sua vida à sua vida a
filosofia, e acabou por morrer pelas suas próprias ideias

Preocupado com questões de natureza antropológica, Sócrates realçava deste imperativo


conhece-te a ti mesmo. Filosofar, é examina-se a si mesmo e aos outros o auto conhecimento
é inseparável do reconhecimento de somos ignorantes. A afirmação socrática só sei que nada
sei. Reflecte humildade da consciência perante suas próprias limitações. Através da
interrogação, Sócrates procurava provocar no seu interlocutor o reconhecimento da
ignorância. A esse aspecto do seu método, que se baseava no diálogo, chama se a ironia

Compilado por: dr Daúda Abudo , Página 16


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socrática. O outro aspecto é a maiêutica, mediante uma série de questões, Sócrates levava o
seu interlocutor a descobrir a verdade que ele já trazia em si . Afinal, a verdade reside no
interior ]de cada um.

O ideal da educação de Sócrates aos jovens era de ordem dos valores universais e eternos e
não os temporários e relativos defendidos pelos sofistas. Sócrates se opõe ao sofistas, com
efeito estes gostavam de se apresentar como possuidores da sabedoria, eram professores
itinerantes que se faziam pagar pelo seu ensino, contribuíram para o desenvolvimento da
retórica, que é arte de persuadir e manipular mediante a palavra, defendiam que o discurso
deve ser eficaz, orientado para o sucesso, o poder não para saber. Sócrates associou a virtude
com o saber, sendo o vazio um fruto de ignorância

Platão, discípulo de Sócrates, escreve as circunstâncias da morte do deu mestre colocando em


discussão os valores de justiça, liberdade, liberdade de expressão e de toda problemática
acerca do Homem e dos seus valores

Protágoras, um dos grandes representantes dos sofistas, defende que: “o Homem é a medida
de todas as coisas, das que são enquanto são e das que não são enquanto não são.” Aplicada
ao homem individual e concreto, a máxima conduz a duas perspectivas do conhecimento
humano: relativismo – de que não há verdade absoluta e universal, mas uma diversidade de
opiniões; e, o cepticismo – segundo o qual, se há verdade absoluta, não é possível conhecê-la
(Gorgias).

Os sofistas estavam preocupados na educação dos jovens de Atenas, transmitindo um saber


enciclopédico, a formação do espírito em diversos campos, o uso da palavra como
instrumento de persuasão e meio de convencer e arrastar as massas.

É você que me faz eloguecer

Já não sei se amarei outro alguém tal como amo você convencido e orgulho sou feliz

Faço deste olhar meu lindo universo

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UNIDADE II: A PESSOA COMO SUJEITO MORAL

2.1 Noções básicas

O conceito de pessoa

Etimologicamente, a palavra “pessoa” deriva do grego prósopon e do latim personare (fazer


ressoar), que significa máscara – aquilo que um determinado actor punha no seu rosto. Mas,
de uma forma geral, a pessoa é um Homem nas suas relaçòes com o mundo e consigo próprio.

A definição memorável e mais célebre de todas, completa e precisa de ponto de vista


ontológico é afirmado pelo Severino Boécio, e diz: “a pessoa é uma substância individual de
natureza racional”. E para S.Tomás dirá que, “a pessoa é o que de mais nobre há no universo
ou seja, o subsistente de natureza racional”. Para Cícero, a pessoa é “sujeito de direitos e
deveres.” François Jacob diz que « o homem é defenido pela sua apitidão para aprender

Encontramos nestas definições duas vertentes. Enquanto Cícero traz uma abordagem jurídica,
reconhecendo o indivíduo como dotado de direitos e obrigações que limitam a liberdade;
Boécio e S.Tomás realçam o carácter filosófico ao destacar os tres elementos fundamentais na
definição da pessoa: substancialidade, individualidade e a racionalidade

Moral e Ética

Sócrates afirmava que saber como devemos viver ʼ é um assunto de máxima importância. Mas
que significa exactamente este saber como deve viver ? significará o mesmo que cumprir as
regras, as normas vigentes na sociedade, agir em conformidade com os costumes da nossa
cultura? Estas questões são lançadas ao nível da reflexão moral e ética, neste sentido convém
fazer se uma distinção entre moral e etica

A palavra Ética deriva do grego “ethos” e diz respeito aos comportamentos habituais, aos
costumes, àquilo que é habitual os seres humanos fazerem referindo-se à sua interioridade. A
palavra Moral é latina mores que designa também ao que é habitual os seres humanos
fazerem, com a particularidade de indicar o que deve ou não ser feito.

O que têm em como entre a ética e a moral é a preocupação sobre o comportamento do ser
humano e suas acções. Porém, a ética procura reflectir sobre os valores com os quais
avaliamos e sobre os critérios que presidem a uma tal avaliação – em investigar as condições

Compilado por: dr Daúda Abudo , Página 18


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a partir dos quais se pode falar, ou não, em acto moral e em moralidade (os princípios e
fundamentos da moral). A moral tem uma dimensão prática (à vida concreta), ou seja, está
ligada ao agir quotidiano e às suas exigências imediatas.

Em suma, a ética (ou filosofia moral) tem uma dimensão mais universalista por se debruçar
sobre a humanidade da pessoa enquanto tal e sobre os requisitos que definem o respeito pela
dignidade da pessoa humana, e a moral tem uma dimensão mais local, relacionando-se com os
modos concretos da vida de uma dada sociedade.

Sujeito moral, liberdade e responsabilidade

Sujeito moral é um ser dotado de razão, consciente, livre, capaz de decidir com base em boas
razões, é também um ser responsável, preocupados com os outros e capaz de prever o modo
como a sua conduta pode afecta-los.

Liberdade enquanto possibilidade de sujeito deliberar, escolher, decidir e agir


intencionalmente (liberdade pessoal e moral) Segundo Sartre o homem é a liberdade, no
sentido em que é pela liberdade que ele concretiza plenamente a sua existência, o filosofo diz
que , estamos condenados a ser livre , não temos outra forma de ser, somos irremediavelmente
obrigados a fazer escolha, mesmo que decidamos nada fazer, isso já constitui uma escolha.

Por sua vez o personalismo assume a liberdade como abertura a possibilidade, como um
desafio (a construção da pessoa) que se aceite, implicando a adesão a uma hierarquia de
valores. A liberdade é limitada por diferentes condicionantes, variando a sua influência de
pessoa para pessoa em função da situação concreta de cada um. Somos influenciados por
factores externos (meio social, ambientes físicos) factores internos nossa consciência, que
afirma-se em função de valores e princípios, crenças e sentimentos entre outros aspectos
psicológicos.

A vida em sociedade é condição da humanidade. Não se é absolutamente livre, como se pode


viver e usufruir egocêntrica isoladamente da liberdade. O individuou só será genuinamente
livre se o outro também poder usufruir da sua liberdade (seja qual for a sua condição social).
Há assim também um sentido de solidariedade da liberdade humana que nos obriga a
reconhecer a dignidade de todos e de cada um, em quando ser humano. Seremos tanto mais
livre quando mais livre for os que nos rodeiam.

Compilado por: dr Daúda Abudo , Página 19


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Para além de isso, a liberdade implica necessariamente a responsabilidade.

Tipos e formas de liberdade

Liberdade interior, esta compreende:


o Liberdade Psicológica: é a isenção de impulsos internos sobre a nossa vontade de agir de uma
determinada forma. Trata-se da capacidade de decidir por si mesmo.

o Liberdade moral: é a ausência de qualquer constrangimento de ordem moral como o


medo de punições, ameaças, etc. Manifesta-se na adesão voluntária, intencional e
consciente a valores estabelecidos por si como uma meta a atingir ao longo da vida.

Liberdade exterior, que compreende:

o Liberdade sociológica: autonomia do sujeito face aos constrangimentos impostos pela


sociedade.

o Liberdade física: ausência de qualquer constrangimento físico. Por exemplo:


deficiência física.

Liberdade política: ausência de qualquer constrangimento de natureza política. Por exemplo:


não votar porque está preso.

Da liberdade humana à responsabilidade moral


A liberdade está ligada à responsabilidade. A palavra responsabilidade deriva do latim:
respondere, que significa, responder pelos seus próprios actos e ter a obrigação de prestar
contas pelos actos praticados perante a nossa consciência e perante outras pessoas e a
sociedade.

A noção de responsabilidade está estritamente ligada à noção de liberdade, já que um


indivíduo só pode ser responsável por seus atos se é livre, isto é, se realmente teve a intenção
de realizá-los, e se tem plena consciência de os ter praticado. Há, no entanto, casos em que
excepcionalmente o indivíduo pode ser considerado culpado mesmo de atos não-intencionais.

Compilado por: dr Daúda Abudo , Página 20


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Para Nietzsche, só é responsável aquele que pode responder por si e perante si mesmo. Jean
Paul Sartre faz cada um responsável pela humanidade em geral, porque nada é bom para nós
se não for bom para todos.

A responsabilidade pode assumir diferentes formas que são: responsabilidade civil e


responsabilidade moral.

A responsabilidade moral é caracterizada em virtude da qual a pessoa reconhece o que faz,


por isso, para que uma acção seja moralmente responsável exige as seguintes condições:

- Imputabilidade – a pessoa só é responsável pelo acto que é da sua autoria;


- Consciência – quando o indivíduo age com conhecimento de causa;

- Intencionalidade – o acto realizado deriva de uma decisão consciente, voluntária e livre do


sujeito.

Dever mérito justiça e sanção

O dever é uma realidade interior que leva a vontade a agir de determinada maneira. Segundo
Kant (1724 - 1804), o dever é um imperativo categórico porque não impõe condição para o
seu cumprimento e é resultado da escolha de uma vontade livre. A formulação do imperativo
categórico é a seguinte: “age apenas segundo uma máxima tal que possas, ao mesmo tempo
querer que ela se torne lei universal.” Dever correspodem a necessidade de agir por respeito à
alei moral que a razao dá a si mesma

A lei moral, ou dever, não diz o que se deve fazer nesta ou naquela situação, mas indica ao ser
humano como se deverá comportar em todas as situações seguindo determinadas regras.

Fundamentação do dever

Tendência teísta – defende que o verdadeiro fundamento do dever é Deus, criador e


legislador supremo da Natureza e do Homem.

Tendência positivista – defende o dever como algo resultante da pressão exercida pela
sociedade sobre os indivíduos que, com o tempo, se foi interiorizando e se transformou em
uma obrigação da consciência.

Tendência racionalista – defende que o fundamento do dever é a própria razão humana,


autora de todas as leis e, por isso, também das leis morais.

Compilado por: dr Daúda Abudo , Página 21


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O Mérito é o valor moral adquirido por um esforço voluntário para vencer as dificuldades que
se oponham ao cumprimento do dever, e a consciência moral é o juiz desse valor. O mérito de
uma pessoa, são as suas qualidades susceptíveis de admiração. Os méritos morais incluem
virtudes como a benevolência, a temperança

Justiça

Segundo Aristóteles: “Justiça é a virtude humana que consiste na vontade firme e constante de
dar a cada um o que lhe devido.”

Carlos Dias Hernández, filósofo contemporâneo, afirma que existem três dimensões da
Justiça: ético-pessoal que refere à virtude pessoal; ético-social que se refere à sociedade ou o
sistema político justo; jurídico-legal que é o sistema de Leis (Direito) que estabelecem de
modo positiva. A justiça é aplicada quando a lei é cumprida.

Aristóteles propõe formas distintas de justiça em função de diferentes situações da vida em


sociedade:

Justiça comutativa- equilíbrio de intercâmbio de bens e serviços entre individuo

Justiça correctiva- equilíbrio entre cada delito e cada castigo correspondente

Justiça distributiva- equilíbrio na repartição das honras e bens entre individuo dentro de uma
comunidade.

Rawls afirma a justiça como virtude das instituições, é justa a sociedade que reconhece em
todos os cidadãos a igualdade de liberdade e direitos sem que estes sejam postos em causa,
são definitivos, não são negociáveis, não pode ser objecto de calculo de interesses sociais. Por
isso, a aplicação das leis e o funcionamento das instituições devem efectuar-se com toda
imparcialidade: procurar o máximo bem-estar possível de todos, tendo em conta que uns se
encontram em desvantagem relativamente aos outros. Admitindo que os individuo se
empenham em dar o melhor de si em favor da sociedade, porque tem sentido de justiça e
reconhecem no racionalmente, é razoável criar as condições que diminuam desvantagens. No
final não são só os desfavorecidos que ganham com isso, mas toda sociedade.

Compilado por: dr Daúda Abudo , Página 22


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A sanção

Em termos legais, a sanção é o prémio ou o castigo infligidos pelo cumprimento ou violação


de uma lei. Por isso, legalmente, sancionar um acto é sublinhar o seu valor reconhecendo-o
como bom, por meio de elogios ou recompensas, ou tomando-o como mau, através de
censuras ou castigos. Contra o senso comum, a sanção não significa castiga.

ança, a justiça, a misericórdia, etc.

A virtude

A virtude é uma força moral para fazer o bem e adquire-se pela prática constante de actos
bons. A caridade, por exemplo, como virtude, não consiste em dar esmola uma só vez mas
sim no hábito de praticar esse acto. Assim, uma pessoa é virtuosa quando adquire uma força
tal que a leva a cumprir, e até com prazer, o seu dever. A virtude é diferente do vício que é a
tendência constante para fazer o mal.

2.2 A Pessoa e as suas características

Características da Pessoa

Singularidade – cada ser humano é uno, original, autêntico, irrepetível e insubstituível; ou


seja, ninguém é cópia de ninguém, pois, não existem duas pessoas iguais, cada pessoa é ela
mesma.

Unidade – a pessoa é uma totalidade; ou seja, as diferentes partes que a constituem formam
um todo coordenado, uma coesão psicológica.

Interioridade – em cada ser humano há um espaço de reserva e de intimidade, inacessível e


inacessível e inviolável: a consciência moral.

Autonomia – ser humano é centro de decisão e acção, tem em si o princípio e a causa do seu
agir; a pessoa tem a capacidade de autogovernar-se ou autodeterminar-se.

Compilado por: dr Daúda Abudo , Página 23


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Projecto – a pessoa tem de se tornar-se como tal; ser pessoa é uma das possibilidades
humanas que cada um deve realizar por si.

Valor em si – a pessoa é um valor absoluto e, por isso, não pode ser usada como meio ao
serviço de um fim. Não se pode coisificar a pessoa.

2.3 Consciência Moral: etapas do seu desenvolvimento (Piaget e Kohlberg)

Consciência moral

A consciência é o estado ou faculdade de alerta, que nos permite perceber o mundo intrínseco
a nós mesmos e fazer juízos de valor sobre eles, enquanto estamos mentalmente sadios. Ela é
a faculdade humana que permite a distinção do bem e do mal, apreciar os actos e adoptar um
certo modo de conduta. O homem é o único animal consciente das suas acções.

A cosnciência pode ser definida na perspectiva psicológica, ético e moral, político e na teoria
do conhecimento.

Em suma, a consciência moral é a capacidade que o sujeito tem avaliar os princípios básicos
dos seus actos.

Formação e desenvolvimento da consciência moral

Para os filósofos da antiguidade, a consciência moral é inata, pertence ao próprio Homem. No


entanto, os filósofos modernos e contemporâneos advogam que a consciência moral é algo
adquirida pelo Homem em sociedade através da socialização (uma aprendizagem feita pela
família, no grupo social, na escola, na comunidade religiosa, etc.).

O desenvolvimento da consciência moral segundo Jean Piaget

Para Piaget, a moralidade se desenvolve à medida que a inteligência humana se vai


desenvolvendo, seguindo um panorama de três estádios:

 Pré moral aos 2 a 6 anos encontra na criança a moral de obrigação; ela vive uma
moral de respeito absoluto aos mais velhos e as normas são totalmente exteriores a si.

 Realismo moral Entre os 7 aos 11 anos, o adolescente cultiva a moral de solidariedade


entre iguais. Pelo respeito mútuo, desenvolve-se a noção de igualdade entre todos com
a aplicação rigorosa das normas de conduta.

Compilado por: dr Daúda Abudo , Página 24


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 Subjectivismo moral dos 12 anos em diante, o jovem ou o adulto desenvolvem a moral


de equidade ou de autonomia. Desenvolve-se uma moral autónoma: altruísmo, o
interesse pelo outro e a compaixão.

O desenvolvimento da consciência moral segundo Lawrence Kohlberg

A consciência moral é formada num processo de aprendizagem social que atravessa três
estádios de desenvolvimento pré-convencional, convencional e pós-convencional.

 Nível 1, Moralidade pré-convencional: nesta etapa, as pessoas respeitam as normas


sociais, mas receiam o castigo se não as cumprirem ou esperam recompensa pelo
cumprimento.

 Nível 2, Moralidade convencional: as pessoas respeitam as normas sociais porque


consideram importante que cada um desempenhe o seu papel numa sociedade
moralmente organizada.

 Nível 3, Moralidade pós-convencional: as pessoas se preocupam com um juízo


autónomo e com o estabelecimento de princípios morais universais.

2.4 Acção humana e valores


Na filosofia da acção, analisa-se a praxis humana tendo em conta a especificidade do seu
comportamento. Segundo Aristóteles, “fazer, acção tem como finalidade dominar e organizar
uma matéria exterior – produção técnica ou actividade centrada no objecto.”

No agir, a acção não tem como principal finalidade transformar o próprio agente, pois agir
remete uma actividade centrada no sujeito ou no agente da acção.

O agir é um termo usado para traduzir uma acção de determinado tipo de comportamento e
remete para uma dada de conceitos que aparecem interligados: agente, intenção e motivo.

A acção reflecte um projecto, isto é, uma intenção do agente: supõe uma vontade, um querer e
uma possibilidade de optar isso é de poder fazer ou não algo: implica uma explicação ou
justificação, um motivo ou razão de agir.

Condicionamentos da acção humana

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Naturalmente, o Homem é diferente dos outros animais, porque ele faz programação e
comporta-se de acordo com uma pré-programação biológica. O homem é um ser com
possibilidades de escolher e de decidir o que deve fazer porque está aberto em relação ao
futuro.

As características biológicas, as condições físicas do seu ambiente, as representações sociais


influenciam e condicionam a acção humana.

As necessidades básicas ou primárias, tais como a necessidade de alimento, de água, de


oxigénio e de repouso, determinam o próprio ritmo de nossas acções.

Actos involuntários
Os actos involuntários são acções que não implicam uma deliberação de um agente, de agir de
determinado modo e não de outro. Tais acções não são reflectidas nem projectadas a
determinados objectivos. Constituem os comportamentos reflexos e instintivos. Por exemplo:
ressonar, envelhecer, mijar, etc.

Actos voluntários

Trata-se de actos humanos, frutos de uma intenção deliberada de um agente. São resultado de
reflexão, premeditadas e estudadas a longo prazo para atingir determinados objectivos.

Em suma, trata-se de actos que realizamos de forma consciente e, pressupõem os seguintes


elementos:

Agente: o sujeito da acção deve ser capaz de se reconhecer como autor da acção e ter
responsabilidade da acção.

Motivo: o agente deve ter a razão da o leva a agir ou fazer algo; ou seja, a razão que
justifica a acção.

Intenção: o sujeito deve ter um objectivo a responder sobre a sua acção.

Fim: trata-se da orientação para a finalidade da acção.

Da acção aos valores

Em toda acção humana, o ser humano exprime o modo como se relaciona com o mundo,
podendo preferir algo, ou seja, a acção humana está estritamente ligada aos valores. Os
Compilado por: dr Daúda Abudo , Página 26
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valores dão ao sujeito o motivo para agir. Porem, os valores são critérios segundo os quais
damos ou não importância as coisas; são as razoes que justificam ou motivam as nossas
acções, tornando-as preferíveis às outras.

Divisão e Caracterização dos valores


Polaridade dos valores: os valores apresentam-se sempre dispostos em pares opostos, numa
polaridade negativo/positivo; por oposição ao bom (positivo), temos o mau (negativo);
Diversidade : é possivel classificar os valores considerando a sua pluralidade ou diversidade
Hierarquia dos valores: os valores encontram-se sempre dispostos numa hierarquia que
implica a superioridade e prioridade de uns sobre outros; cada pessoa, grupo, cultura ou
comunidade possui a sua própria hierarquia ou tábua de valores.

Historicidade dos valores: a selecção, a hierarquização e o próprio conteúdo dos valores


sofrem condicionalismos e influência da época em que são enunciados.

Tipos de valores

Valores espirituais: religiosos (relação do Homem com a transcendência; pureza, santidade,


perfeição, castidade, santo/profano, divino/demoníaco, milagroso/mecânico,
supremo/derivado etc.); estéticos (os de expressão: beleza, harmonia, feio, etc.); éticos
(referem-se à normas ou critérios de conduta: verdade, leal/ desleal, bom /mau solidariedade,
honestidade, justo etc.) e políticos (o homem na sua qualidade de cidadão: justiça, igualdade,
liberdade de expressão e de associação, etc.) .lógico, verdade/falsidade, conhecimento/erro,
evidente/provável , exacto/aproximado, etc

Valores materiais ou sensíveis: do agradável e do prazer (exprimem as acções de prazer e


de satisfação: comida, bebida, etc.); vitais (referem-se ao estado físico: saúde, força, êxito,
felicidade, amor, etc.) e de utilidades ou económicos (habitação, dinheiro, meios de
comunicação, electrodomésticos, alimentos, etc.)

Relatividade (ou subjectividade) e a objectividade dos valores


Duas posições são defendidas relativamente à natureza dos valores: a sua subjectividade ou
objectividade. Se, para alguns, existem valores objectivos e subjectivos, para outros, os

Compilado por: dr Daúda Abudo , Página 27


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valores são absolutos (objectivos) e, para outros ainda, os valore não podem deixar de ser
relativos (subjectivos).

Liberdade como fundamento da acção humana

A liberdade é a capacidade que todo o homem possui de agir de acordo com a sua própria
decisão. É a capacidade de autodeterminação.

O primeiro pensador a dedicar-se sobre a liberdade foi Sócrates, para ele, o homem é livre
quando se verifica o domínio da própria racionalidade em relação à própria animalidade. Para
Sartre, o homem está condenado a ser livre. Condenado a ser livre porque não se criou a si
mesmo e, no entanto, é livre, porque uma vez lançado ao mundo, é responsável por tudo
aquilo que faz. Para os marxistas, o homem é livre com o fim da alienação, ou seja, o fim da
exploração do homem pelo homem.

Como condição do agir humano, a liberdade pressupõe:

Consciência do sujeito: para que uma acção seja considerada livre, é necessário que a
pessoa seja a causa dos seus próprios actos.

Consciência da acção: a acção humana é a manifestação de uma vontade livre e,


portanto, consciente dos seus actos.

Escolhas fundamentadas em valores: a acção humana implica sempre a


manifestação de certas preferências, implicando o homem nessa escolha.
~
Qualificaçãao moral da acção humana
Estamos habituados a avaliiar as nossas acções e as dos outros a partir de um conjunto de
norma e praticas que aceitamos naturalmente , aque obedecemos e acabamos sem dificuldade
e sem problema de consciencia. A questão que podemos nos colocar é a seguinte: quando é
que uma accao é boa ou é mà?
Existem perspectivas que respodem a esta questao deste as classicas e as conmtemporaneas .
As morais teleologicas propõem como ponto central da sua reflexão o fim , para o qual
tendem as acções . Com efeito , o desenvolvimento e a auto-realização do ser humano
aparecem como esse fim ultimo que procuramos atingir e que significa, na maioria das vezes ,
com a felicidade

Compilado por: dr Daúda Abudo , Página 28


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As morais deontologica assetam na ideia de dever, defendem que o que é importante é agir em
conformidade com deveres exigidos por principios e valores inquestionaveis. A moral
utilitarista indentifica o bem com a felicidade. A felicidade é o estado de prazer e de ausencia
de dor e sofrimento. Todas as acções que dão origem ao sofrimento ou a privacão do prazer
não são uteis ao homem porque o impedem de alcançar a felidade. Utilitarismo a presenta
como criterio de avaliacão moral das acções a sua utilidade. O maximo de bem estar possivel
para o maior numero de pessoas é assim o principio que legitima a moralidade das nossas
acções. Dever correspodem segundo Kant , a necessidade de agir por respeito à lei moral que
a razão dá a si mesma. O bem para kant não é a felicidade, pois a felicidade não é um ideial da
razão, mas da imaginação e , embora todos tenham direito de procurá-la, ela não é o fim que o
ser humano deve procurar.A única coisa que é boa em si mesma é a boa vontade- a vontade
que se deixa guiar e exclusivamente pela razão. Etica material sera segundo Kant, uma etica
que dá relevo ao conteudo ou materia das accões, isto é , que faz depender a validade da acçao
daquilo que se faz e do que dai possa resultar

2.5 A pessoa como um ser de relações

A existência do ser humana compreende diversas dimensões e complemantaridades, sendo


que ele não se limita apenas na sua relação pessoal como sujeito moral, mas também tem
inter-relações com o mundo, com Deus e com o trabalho.

Assim, o valor da pessoa sob ponto de vista ético, emerge aobretudo nas relações
interpessoais.

Relação da pessoa humana com o mundo

Na relação da pessoa com o mundo e outros seres humanos e a natureza é “dominado pela
angústia”, eta, é um sentimento profundo que temos ao perceber a instabilidade de viver num
mundo de acontecimento diversos sem garantia que nossas expectativas sejam realizadas.
A relação com o outro é estabelecida por meio dum contrato que estabelece um conjunto de
regras que vinculam uns com os outros, estabelecendo acordos de vontades. A relação com a
natureza ‘e marcada por altos riscos ao ambiente devido ao progresso científico por um lado e
por outro lado pela falta de exploração racional da natureza.

Compilado por: dr Daúda Abudo , Página 29


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Assim, vivemos num mundo onde tanto é possível a dor como o prazer, o bem como o mal, o
amor como o ódio, o favorável como desfavorável. Um relacionamento com as diversas
instituições humanas (a sociedade e a cultura em que vivemos, o Estado que rege e a sua
política e o sistema legal – Direito – as instituições religiosas, comerciais e laborais, etc.)

Relação da pessoa humana consigo mesmo

Trata-se da forma como a pessoa olha para si e se vê enquanto pessoa, ou seja, a forma como
a pessoa julga as suas acções e finalidades da vida.

Segundo Soren Kierkegaard (1813-1855):

“A relação do Homem consigo mesmo é marcada pela inquietação e pelo desespero. Isso
acontece por duas razões: ou porque o homem nunca está plenamente satisfeito com as suas
possibilidades que realizou, ou porque nào conseguiu realizar o que pretendia, espantado os
limites do possível e fracassando diante das suas expectativas.”

Portanto, é daí que existe a relação do homem consigo mesmo, na medida em que o homem
faz uma referência, isto é, uma relatividade inclusiva. Nas suas relações consigo mesmo, a
consciência é a base do individuo moral. Assim, a relação do homem consigo mesmo é
marcada pela inquietação e desperto.

Deste modo, ele é chamado a cultivar bons hábitos e nobres sentimentos, a respeitar-se como
homem e mulher, reconhecendo a sua dignidade.

Relação da pessoa com Deus

O conceito de Deus possui uma universalidade que se manifesta na oposição, existente em


todas as sociedades, entre o sagrado e o profano, sendo mesmo anterior a todo tipo de
explicação. Quanto ao crente, Deus é o Ser transcendente e perfeito, criador do Universo e,
segundo os dogmas, responsável por tudo o que nele acontece (Providência). Para o descrente,
Deus é uma ilusão antropomórfica construída a partir de uma extensão ao infinito das
qualidades humanas.

A relação da pessoa com Deus seria talvez a única via para a superação da angústia e do
desespero. Contudo é marcado pelo paradoxo de ter de compreender pela fé o que é

Compilado por: dr Daúda Abudo , Página 30


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incompreensível pala razão humana. A única maneira de fazer face as coisas que por nós nos
complica é reconduzir-se a Deus.

Relação da pessoa humana com o trabalho

O termo trabalho vem do latim: tripalium, que significa um instrumento de tortura feito de
três paus. O trabalho é o elemento essencial da relação dialéctica entre o Homem e a
Natureza, entreo saber e o fazer, entre a teoria e a prática.

Portanto, o trabalho é toda a actividade na qual o Homem utiliza a sua energia físca e psíquica
para satisfazer as suas necessidades ou para atingir um determinado fim.
Sendo assim, o trabalho é uma actividade tipicamente humana porque implica a existência de
um projecto mental que determina a conduta a ser desenvolvida para alcançar um objectivo
almejado.

Pelo trabalho, o homem é capaz de expandir as suas energias e desenvolver as suas


potencialidades. Pelo trabalho, o ser humanoé capaz de moldar a natureza e ao mesmo tempo,
transformar o mundo e a nós mesmos.

2.6 Aspectos da bioética questões moram

Noção de bioética

Etimologicamente, Bioética é uma palavra de origem grega: “bio”, que significa “vida” e
“ethos”, que significa “ética.” O termo foi introduzido pela primeira vez pelo biólogo e
médico ecologista Ransslaer Potter em 1971, na sua obra: Ponte para o Futuro.

Segundo David J. Roy, a Bioética é o estudo sistemático das dimensões morais das ciências
da vida e de atenção à saúde. É uma prática racionalizada e conjugada de um saber, uma
experiência e uma competência normativa do agir humano. A Bioética se consolida
filosoficamente depois da II Guerra Mundial por causa das práticas abusivas e desumanas dos
médicos Nazis nos campos de concentração.

Compilado por: dr Daúda Abudo , Página 31


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Depois da II Guerra Mundial, em 1974, o Tribunal de Nuremberga, julgou os crimes


cometidos na II Guerra Mundial e criou um código moral reconhecendo a dignidade de todos
os seres humanos, independentemente de raça ou da cultura, e prescreve que nenhuma
experiência científica pode ser realizada em seres humanos.

Objecto de estudo da bioética

A Bioética é uma disciplina que tem como objecto de estudo as questões éticas levantadas
pelos progressos da medicina e da biologia. Ela enraíza-se na moral médica ao paciente que,
as biotecnologias contemporâneas suscitam interrogações nos temas de particular relevo na
nossa época: a eutanásia, o aborto, o diagnóstico pré-natal, a experimentação do ser humano e
no embrião, as manipulações genéticas, etc.

Três princípios que guiam a reflexão bioética

 O respeito pela pessoa humana;

 A preocupação de fazer o bem;

 O princípio de justiça (os homens são iguais em dignidade).

Três perigos que podem atentar contra o ser humano a serem evitados

 Submissão do ser vivo à lei do mercado (por exemplo: venda de órgãos humanos);

 Auto-instituição do sujeito;

 O excesso do poder médico.

É preciso que, com os progressos tecnológicos se tome uma atitude ética que salvaguarda a
vida humana.

Funções da Bioética

 Função descritiva – descrever e analisar os conflitos que surgem nas sociedades


provocadas pelo progresso da técnica e ciência na medicina;

 Função normativa – estabelecer normas com relação a esses conflitos e prescrever os


comportamentos moralmente aceitáveis;

 Função proteccionista – proteger os valores humanos em favor dos mais fracos.


Compilado por: dr Daúda Abudo , Página 32
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Principais temas da bioética

Eutanásia e distanásia

São procedimentos médicos que têm em comum a preocupação da qualidade da vida humana
e da maneira de lidar com a morte do ser humano.

Eutanásia

A palavra eutanásia é resultado de duas palavras gregas: eu, que significa bem e Thanasia,
que significa morte. Portanto, trata-se de uma morte tranquila.

A Eutanásia é uma morte causada a uma pessoa que padece de uma enfermidade classificada
tecnicamente como incurável. Esta morte visa aliviar o doente que se encontra em agonia
prolongada. A Eutanásia é uma morte piedosa e compassiva para com o doente, pois
pretende-se imediatamente acabar com a dor de uma doença crónica ou grave. É uma boa
morte, um morrer em paz evitando o sofrimento doloroso e prolongado. Mas no contexto
religioso, este acto é pecaminoso e ilícito.

Distanásia

É um procedimento médico que consiste no uso da tecnologia médica para prolongar ao


máximo a vida do paciente que se encontra em fase terminal. Considera a morte como o
grande inimigo e quer combate-lo.

Aborto

É a interrupção da gravidez quando o feto ainda não pode subsistir ou sobreviver fora do
ventre materno.

Tipos do aborto

 Aborto espontâneo – é aquele que ocorre por causas naturais sem a vontade e
intervenção humana. Este é livre de avaliação moral.

 Aborto provocado – é aquele que por causas económicas, ou sócio-psíquicas (desejo


de não ser mãe solteira, ou ter sido por violação), entre outras causas humanas, é
provocado intencionalmente. Este constitui objecto de avaliação moral.

Compilado por: dr Daúda Abudo , Página 33


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 Aborto terapêutico – resulta como meio para salvar a vida da mãe, quando seriamente
ameaçada. Não constitui objecto de avaliação moral.

Constituem também temas de reflexão da bioética

 Tráfico de órgãos humanos;

 Utilização do corpo humano no tráfico de drogas;

 As transfusões sanguíneas e de plasma ou clonagem humanas.

UNIDADE III: TEORIA DO CONHECIMENTO

3.1. Noções básicas

Gnosiologia ou teoria de conhecimento, é uma disciplina filosófica que estuda as relações


entre o sujeito e objecto, procurando esclarecer e analisar criticamente os problemas que essas
relações suscitam. Nomeadamente problemas relativos à origem, natureza, validade e os
limites do conhecimento.

Elementos do conhecimento

No acto do conhecimento estão envolvidos dois elementos fundamentais: o sujeito que


conhece e o objecto que é conhecido. O conhecimento é fruto da correlação destes elementos.
Nesta relação, o sujeito tem um papel activo na acção de recolha da informação e saber acerca
do objecto. O sujeito humano tem capacidades cognitivas que lhe permitem investigar a parte
da realidade a que se chama objecto.

O objecto é tudo aquilo que pode ser percebido pelo sujeito (coisa material ou imaterial,
acção, acontecimento, processo) e que pode ser analisado e explicado.

Conhecimento, Conceito e realidade

Conhecimento é a apreensão pela mente de alguma realidade. É a concordância entre a


imagem e o objecto.

A palavra conhecer é aplicada em dois sentidos: em sentido lato e em sentido restrito. No


sentido lato, conhecer significa recolher e organizar informações sobre o meio envolvente,
tendo em vista a constante adaptação de um organismo ao meio e a sua sobrevivência. No

Compilado por: dr Daúda Abudo , Página 34


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sentido restrito, conhecer é apenas aplicável aos seres humanos, pode ser entendido como a
construção de representações mentais que o sujeito organiza ao longo da vida na sua relação
com a realidade, quer interior (pensar, sentir) quer com o mundo exterior (mundo dos objectos
físicos). Há que considerar três tipos de conhecimento:

a) Saber-fazer, refere-se ao conhecimento de uma actividade, isto é , à capacidade ,


aptidão ou competência para fazer alguma coisa.

b) Conhecimento por contacto refere-se ao conhecimento directo de alguma realidade,


seja de pessoa ou de lugares,

c) Saber que refere-se ao conhecimento proposicional ou conhecimento de verdades.

Conhecimento tem por base conceito, juízo e raciocínio. São estes elementos que nos
permitem pensar e conhecer a realidade.

O conceito é o termo que designa o que se constrói na nossa mente quando dizemos que
conhecemos ou sabemos algo. O conceito é a imagem que o nosso entendimento retém de um
objecto conhecido. Por exemplo: quando dizemos que conhecemos uma mesa, isso quer dizer
que na nossa mente existe o conceito mesa que é abstracto e universal (que se refere a uma e a
todas as mesas que conhecemos).

Realidade é o elemento apreendido, cuja imagem na nossa mente se chama conceito. Por
isso, o conceito representa a realidade na nossa mente de uma forma abstracta. A realidade é o
que há, ou seja, tudo aquilo que pode ser conhecido e representado por nós, quer se trate de
uma realidade física, mental ou virtual.

Faculdades do conhecimento

Faculdades do conhecimento são as capacidades cognitivas que lhe permitem o sujeito


conhecer a realidade. Tais capacidades encontram-se na mente humana.

A mente é a faculdade humana que permite o conhecimento, é através da mente que o ser
humano percepciona a realidade interior e exterior e explica racionalmente.

A mais simples forma do conhecimento que o ser humano possui que lhe permite
percepcionar o mundo e a realidade é a sensação. Os sentidos permitem-lhe, através das
sensações ou experiências sensíveis, experimentar o mundo através da visão, do tacto, da
audição, olfacto e gosto. As sensações e experiencias só nos dão juízos a posterior cuja sua

Compilado por: dr Daúda Abudo , Página 35


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verdade pode ser conhecidas através dos sentidos e não são estreitamente universais.
Contingentes são verdadeiros, mas poderiam ser falso, e negá-los não implica entrar em
contradição Mas nem todos juízos tem mesma origem existem coisas que são conhecidas
apenas pelo pensamento que são juízos a prior cuja sua verdade pode ser conhecida
independentemente de qualquer experiencia, estes são universais.

O trabalho de selecção e organização e enquadramento das nossas sensações chama-se


percepção do mundo ou da realidade. Cada ser humano percepciona a realidade marcado
pelos seus próprios condicionantes culturais, psicológicos, biológicos, físicos, afectivos, etc.

3.2 Perspectivas da análise do conhecimento

Os problemas relacionados com o conhecimento, sobre a possibilidade do conhecimento,


como conhecemos e o que conhecemos não são debruçados apenas pela filosofia, mas
também são objecto de estudo das outras ciências.

Abordagem científica

a) Perspectiva filogenética

Do grego filogénese significa origem da tribo e designa o conjunto de processo de evolução


dos seres vivos, dos animais. No caso da espécie humana, o processo evolutivo resultou de
um conjunto interligado de factores: a libertação da mão, desenvolvimento do sistema
nervoso, criação de sistema e símbolos abstractos, o processo de hominização é também um
processo de humanização

Segundo a Paleontologia, à medida que o ser humano sofria transformações durante sua
história, também evoluía a sua capacidade cognitiva. Neste sentido, o desenvolvimento
cognitivo ocorreu graças à correlação do desenvolvimento das capacidades cognitivas
(memória, linguagem, pensamento) com as capacidades técnicas e desenvolveu-se bio-psico e
socialmente.

Ao longo do processo filogenético, o ser humano constituiu-se numa dialéctica entre a acção e
o conhecimento. A acção provoca conhecimento e este provoca a possibilidade de novas e
melhores acções e, estas possibilitam novos conhecimentos, assim sucessivamente.

b) Perspectiva ontogénetica

Compilado por: dr Daúda Abudo , Página 36


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A ontogéneses designa o processo de desenvolvimento do individuo, deste a fecundação à


idade adulta e perspectiva ontogénetica estuda o conhecimento na perspectiva individual,
partindo da análise das estruturas cognitivas do ser humano desde o nascimento até ao seu
pleno desenvolvimento.

O grande defensor desta perspectiva foi o psicólogo suíço Jean Piaget (1896-1980) que
defendeu que o indivíduo passa por várias etapas de desenvolvimento ao longo da vida e que
o desenvolvimento ocorre porque o organismo amadurece e sofre influência do meio físico e
social por uma gradual adaptação através da assimilação e acomodação.

Assimilação é um processo mental do qual a criança incorpora novos dados e resultados da


sua relação com o meio e a acomodação é o processo mental pelo qual os mecanismos
mentais são alterados em função das novas experiências provenientes da assimilação. E, a
adaptação é uma procura de equilíbrio nas trocas dos seres vivos com o meio.

Assimilação e acomodação são dois processos que concorrem na formação das capacidades
cognitivas de uma criança e que estão presentes em todos os estádios de desenvolvimento.

Estádios de desenvolvimento psíquico segundo Piaget

1. Estádio sensório-motor (dos 0 aos 2 anos): a criança constrói esquemas de acção no


meio e desenvolve o conceito de permanência do objecto. É capaz de imitar.

2. Estádio pré-operatório (dos 2 aos 7 anos): desenvolve o pensamento representativo


mas não realiza operações mentais.

3. Estádio das operações concretas (dos 7 aos 11/12 anos): a criança vai acumulando
experiências físicas e concretas e começa a conceptualizar, criando estruturas lógicas
para a explicação das suas experiências.

4. Estádio das operações formais (dos 11/12 aos 15/16 anos): a criança atinge o
raciocínio abstracto e conceptual e pensa cientificamente.

c) Perspectiva da sociologia do conhecimento

A sociologia é uma ciência humana que estuda o modo do relacionamento dos indivíduos na
sociedade e, a sociologia do conhecimento é a ciência que estuda o fenómeno conhecimento
na perspectiva sociológica.

Compilado por: dr Daúda Abudo , Página 37


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O grande e primeiro defensor foi Karl Marx (1818-1883) que advogou que as ideias e o
conhecimento dependem das circunstâncias histórico-sociais do sujeito e, o conhecimento
humano é condicionado pelo meio social que molda o sujeito cognoscente.

Outro defensor foi Karl Mannheim (1893-1947) que defendeu que o pensamento de um
indivíduo é condicionado pelo dos outros seres humanos e modelado pelo grupo em que
pertence.

Abordagem filosófica

Análise fenomenológica do acto do conhecimento

Fenomenologia é um método de análise ou uma atitude face ao real, que consiste em


descrever aquilo que se manifesta ou aparece numa experiência, quer dizer uma descrição
pura. A palavra fenómeno, nesta perspectiva, significa “o que se manifesta ou se revela, o
que se mostra.”

Para a fenomenologia, no acto do conhecimento existe alguém que conhece (o sujeito) e algo
que pode ser conhecido (o objecto) e, o resultado desse acto do conhecer é a representação da
imagem do objecto na mente do sujeito. Assim, o conhecimento é o acto pelo qual o sujeito
apreende ou representa o objecto.

Descrição fenomenológica do acto do conhecimento

1. Em todo o conhecimento há um cognoscente e um conhecido. Um sujeito e um


objecto encontram-se frente a frente. A relação que existe entre os dois é o próprio
conhecimento.

2. O sujeito não é sujeito se não em relação a um objecto e um objecto não é objecto se


não em relação a um sujeito. A sua relação é uma correlação. Não podem ser
separados.

3. O papel do objecto relativamente a um sujeito é relativamente diferente ao papel do


sujeito a um objecto.

4. A função do sujeito consiste em apreender o objecto; e do objecto é a de poder ser


apreendido pelo sujeito e sê-lo efectivamente.

5. Considerado do lado do sujeito, esta apreensão pode ser descrita como uma saída do
sujeito para fora da sua esfera.
Compilado por: dr Daúda Abudo , Página 38
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6. O conhecimento realiza-se em três tempos: o sujeito sai de si, está fora de si e regressa
finalmente a si.

7. O facto de o sujeito sair de si para apreender o objecto, não muda nada nele. O objecto
não é modificado pelo sujeito, mas sim o sujeito pelo objecto pelo acto do
conhecimento.

Em suma, na perspectiva fenomenológica, o conhecimento resulta da interacção dos dois


elementos (sujeito e objecto) em constante correlação.

3.3 Problemas e correntes filosóficas da teoria do conhecimento

O debate sobre a (im) possibilidade do conhecimento

O debate sobre a impossibilidade ou possibilidade do conhecimento levanta as seguintes


questões: pode o sujeito conhecer verdadeiramente o objecto? O apenas conhece as suas
aparências?

Sobre estes problemas, dentre outras, quatro correntes se debatem: o dogmatismo, o


cepticismo, o criticismo de Immanuel Kant e o Pragmatismo.

1. Dogmatismo

A palavra dogmatismo provém de “dogma” que significa, uma verdade indiscutível,


defendida, muitas vezes, pelas religiões. Por exemplo: é dogma para os cristãos católicos que
Maria deu à luz o menino Jesus e permaneceu virgem.

É uma corrente ou doutrina filosófica que admite a possibilidade da mente humana conhecer
com plena certeza as coisas. Para o dogmatismo, o homem tem meios para atingir a verdade
absoluta, sem dúvida. Esta atitude é própria do senso comum que aceita a realidade sem
questionar. Aqui pode se também falar se de filósofos dogmáticos que são aqueles que
depositam confiança na razão, considera que é possível chegar à certeza e a verdade,
entendendo-se aqui o conceito de certeza como sendo a consciência de que se possui a
verdade, associada a uma adesão sem reservas a isso que se julga ser verdadeiro.

Na idade moderna, alguns filósofos manifestaram uma forte confiança na razão humana. Este
optimismo racionalista, alicerçado na idade de que é possível alcançar a verdade, permite-nos
considerar dogmáticos filósofos como Descartes, (1596-1650), Leibniz (1646-1716) e
Espinosa (1632-1677).

Compilado por: dr Daúda Abudo , Página 39


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Kant por sua vez, considerava dogmático o exercício da razão sem uma crítica prévia da sua
capacidade. Assim, o dogmático equivale a posição filosófica que investiga questões
metafísicas sem ter previamente examinado as capacidade da razão neste domínio.

Existem duas espécies do dogmatismo: espontâneo e crítico.

 O dogmatismo espontâneo supõe que o Homem conhece os objectos tal qual são e
que, entre o conhecimento e a realidade há um perfeito acordo.

 O dogmatismo crítico admite, sim, a possibilidade de o Homem possuir


conhecimentos certos acerca das coisas, mas este conhecimento nem sempre é total e
perfeito; precisa duvidar para chegar ao conhecimento verdadeiro.

2. Cepticismo

É uma doutrina ou corrente filosófica que considera a mente humana incapaz de atingir
qualquer que seja o conhecimento ou a verdade com certeza absoluta. Esta corrente dá uma
resposta negativa sobre o problema da possibilidade do conhecimento.

Esta atitude foi manifestada pelos sofistas que afirmaram que a verdade absoluta é
inacessível.

Pírron (séc. IV-III a.C), o grande expoente do Cepticismo afirmara que não devemos confiar
nos sentidos nem na razão, mas duvidar de tudo e de nada, inclusive da própria dúvida.

 Cepticismo absoluto ou radical que supõe que é impossível ao sujeito apreender o


objecto, não havendo por conseguinte qualquer conhecimento verdadeiro. Por isso
Pirro aconselha a suspensão do juízo.

 Cepticismo mitigado ou moderado, encontra se em Arcesilau (315-241) trata se de um


cepticismo mais moderado que o cepticismo pirrónico. Não estabelece a
impossibilidade do conhecimento, mais sim a impossibilidade de um saber rigoroso.
Não podemos afirmar se este ou aquele juízo é ou não verdadeiro, se corresponde ou
não a realidade, apenas podemos dizer se é ou não provável.

 Cepticismo metafísico, por sua vez, destaca a impossibilidade de conhecermos aquilo


que ultrapassa a nossa experiencia sensível. Deus, alma e todo mundo espiritual não
são realidade acessíveis ao conhecimento humano

Compilado por: dr Daúda Abudo , Página 40


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Argumentos ou fundamentos do cepticismo

 Os erros dos sentidos (os sentidos estão sujeitos a ilusões);

 Relatividade do conhecimento: as informações sensoriais diferem do indivíduo para


indivíduo;

 A impossibilidade da demonstração: tudo é sujeito a provas e não conhecemos tudo; a


verdade é de que nada é seguro.

3. O criticismo de Immanuel Kant

Kant designa o númeno como a realidade como ela é e o fenómeno como a realidade tal como
nos aparece. Para Kant, o intelecto humano não está estruturado de forma a captar as
propriedades do númeno, o mundo das coisas em si. O ser humano pode conhecer as coisas do
mundo material e não das realidades espirituais.

4. O Pragmatismo

O Pragmatismo subordina o conhecimento a um fim prático. Para o pragmatismo, as ideias só


são verdadeiras precisamente e na medida em que nos permitem estabelecer uma relação com
a nossa experiência. É verdadeiro aquilo que é útil ao homem. Esta corrente surgiu e
desenvolveu-se nos EUA no século XX com Willim James, Charles Pierce e John Dewey.

A origem do conhecimento

No problema sobre a origem ou fonte do conhecimento, coloca-se a seguinte questão


fundamental: qual é a fonte que nos dá o conhecimento? A sensibilidade (os sentidos, a
experiência) ou a razão do sujeito (intelecto)?

O problema da origem do conhecimento consiste em determinar como se adquirem as ideias e


os primeiros princípios que normalizam todo o conhecimento.

Sobre a origem do conhecimento, destacam-se, a seguir, quatro teorias que tentam responder
o problema da origem do conhecimento: o empirismo, o racionalismo, o apriorismo ou
intelectualismo e o construtivismo.

1 . O Racionalismo

Compilado por: dr Daúda Abudo , Página 41


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Para o racionalismo, a fonte do conhecimento é a razão. Assim, todo o conhecimento seguro,


a prior e totalmente independente da experiencia sensível tem a sua origem na razão humana.

2.1. Matizes ou posições do racionalismo

Platonismo: para Platão, existem dois mundos: mundo sensível (a que acedemos através dos
sentidos), mundo aparente e imperfeito, e o mundo inteligível (com o qual contactamos
através da razão) mundo verdadeiro e perfeito formado por ideias, dais quais as coisas
sensíveis participaram. Considerando que alma ê imortal e que nesta vida, se encontra
aprisionada no corpo, e que obtemos o verdadeiro conhecimento numa existência superior, na
qual podemos comtemplar as ideias imutáveis.

Reencarnando, a alma esquece o que aprendeu. Se for bem conduzida, acabara por lembrar
todas as noções, segundo esta teoria de reminiscência-, aprender é recordar. Sendo assim as
nossas ideias são copias das verdadeiras ideias, e a opinião (doxa), que provem dos sentidos,
opõe-se o verdadeiro saber (episteme), que ê obtida pela razão Para o Platonismo de Santo
Agostinho, as ideias surgem por iluminação divina.

Inatismo: Descartes, expoente máximo do racionalismo moderno, defende o poder da razão e


admite a existência de vários tipos de ideias: as adventícias (provêm da experiência); factícias
(dos factos, resultantes das adventícias) e as inatas, estas ideias a prior, sendo claras e distintas
foram colgadas por Deus no espírito humano (racionalismo inatista). Entre as ideias inatas
que possuímos encontra-se a noção de um ser omnisciente, omnipotente e sumamente
perfeito. Deus. Deus é o fundamento do ser e do conhecimento que provêm da razão e todos
os nossos conhecimentos são resultados das ideias inatas, únicas e infalíveis. Descartes
procurou o fundamento metafísico do conhecimento, dá métodos que permite guiar a razão (o
bom senso orientando as operações do espírito): a intuição – acto de apreensão directa e
imediata de noções simples, e evidentes e indubitáveis, e a dedução -refere-se ao
encadeamento das intuições envolvendo um movimento de pensamento, deste os princípios
evidentes até as consequências necessárias, o momento mais importante é a dúvida, que por
meio dela recusaremos tudo aquilo em notamos a mínima suspeita de incerteza, a dúvida é
posta ao serviço da verdade. É necessário colocar tudo em causa, no processo de busca de
fundamentais e indubitáveis, mas esta dúvida é provisória, é um meio para atingir a certeza
não constitui um fim em si mesmo, a afirmação da minha existência, enquanto sou um ser que
pensa e que duvida, penso logo existo ou então cogito ergo sum.

Compilado por: dr Daúda Abudo , Página 42


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Leibniz e Espinosa admitem o inatismo virtual: as ideias inatas existem no nosso espírito
como percepções inconscientes que vão consciencializando progressivamente através da
experiência. Características do racionalismo: a razão é a origem do conhecimento verdadeiro
(universal e necessário), as ideias fundamentais do conhecimento são inatas, o sujeito impõe –
se ao objecto através das noções (a prior ) que traz em si

2. O Empirismo

As origens do empirismo remontam a John Locke e David Hume, dois filósofos ingleses do
séc. XVIII. O Empirismo é uma corrente filosófica que surgiu na Inglaterra que defende o
primado da experiência na aquisição do conhecimento. Ou seja, todo o conhecimento provém
da experiência, da sensibilidade, segundo esta corrente não existem ideias, conhecimento ou
princípios inatos

Para John Locke, a mente humana nasce como uma “tabula rasa”, ou como um papel em
branco, onde nada está escrito. É a experiência ou a vivência que preenche de conhecimento a
mente humana. A experiência é fonte do conhecimento por dois modos: sensação, da qual nos
chegam ideias das coisas exteriores e a reflexão, que nos dá o conhecimento daquilo que se
passa dentro de nós.

Da sensação originam ideias simples (duro, vermelho, frio doce) e pela reflexão, todas as
operações da mente: percepção, dúvida, desejo, etc. E, as ideias complexas nascem das
simples através da actividade do sujeito que une, separa, analisa e sintetiza (beleza, universo).

Locke desenvolve uma análise de natureza psicológica-psicologismo. A experiencia seja


externa a (sensação), pelo qual se captam os objectos exteriores e sensíveis, seja experiencia
interna (a reflexão) pelo qual se captam as operações interna da mente- marca os limites do
conhecimento. O conhecimento encontra-se duplamente limitado pela experiencia, ao nível da
sua: extensão: o entendimento é incapaz de ultrapassar os limites impostos pela experiencia,
que é a única fonte de conhecimento, certeza: as certezas de que dispomos referem-se apenas
aquilo que se encontra dentro dos limites da experiencia

Para David Hume, considera que a capacidade cognitiva do entendimento humano é limitada,
não existindo nenhum fundamento metafísico para o conhecimento. As várias percepções
humanas são classificadas por Hume por critério de vivacidade e da força com que são

Compilado por: dr Daúda Abudo , Página 43


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susceptíveis de impressionar o espírito. De acordo com este critério, as percepções que


apresentam maior grau de força e vivacidade designam-se por impressões, assim, todos os
nossos conhecimentos se reduzem a impressões ou a ideias: vista de uma árvore e recordação
dela. As ideias complexas formam-se por associação das simples. Podemos caracterizar o
empirismo com base em três aspectos fundamentais: a experiencia é a origem de todo o nosso
conhecimento, todas ideias têm uma base empírica, até as mas complexas, não existindo
ideias inatas, o objecto impõe-se ao sujeito

3. O apriorismo ou intelectualismo

É a teoria de Kant no seu posicionamento em relação ao problema da origem do


conhecimento. Kant afirma que as duas correntes: empirismo e racionalismo, caíram no erro
por terem absolutizado apenas um lado do conhecimento.

Segundo Kant, o racionalismo defendia os princípios metafísicos, era desenraizado da


experiência e, portanto, dogmático. O empirismo, por sua vez, enraizado na experiência, mas
incapaz de levar o homem além da experiência, conduzia o homem ao cepticismo.

Kant integra o que é de positivo no racionalismo e no empirismo e produz a sua teoria


filosófica através da análise crítica das três principais operações da razão humana:
conhecimento, vontade e sentimentos (sensações).

Para Kant, o nosso conhecimento provém de duas fontes do espírito, das quais a primeira
consiste em receber as representações dos objectos sensíveis e a segunda é a capacidade de
conhecer um objecto mediante estas representações.

4. Construtivismo

A filosofia de Kant representa um exemplo de uma perspectiva construtivista. De acordo com


o construtivismo, o objecto do conhecimento é construído pelo sujeito. Assim o sujeito tem
um papel activo e é graças a ele que o objecto se constitui. Para Piaget, existem dois
procedimentos usados no acto da aquisição conhecimento: assimilação e acomodação.
Através destes dois processos, o Homem cria um equilíbrio mental pela perturbação
provocada pela impressão de novo objecto – é o princípio do equilíbrio.

A revolução copernicana na teoria do conhecimento

Compilado por: dr Daúda Abudo , Página 44


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Para Kant, não é o sujeito que se adapta aos objectos como se afirmava anteriormente, mas o
contrário. É esta a chamada revolução copernicana em Kant na gnosiologia (a nova visão da
relação sujeito/objecto): no acto do conhecimento, os objectos adaptam-se à natureza do
intelecto humano. Assim, é fácil explicar a existência de seres incognoscíveis pelo Homem –
eles não se adaptam à natureza do intelecto humano e, por isso, o Homem não os pode
conhecer.

A natureza do conhecimento

A preocupação fundamental do problema da natureza do conhecimento é: o que é que


conhecemos? Os próprios objectos, ou as representações, em nós, dos mesmos? Destacam-se
pelo menos duas correntes principais que respondem estas questões: Realismo e Idealismo.

1. Realismo

O realismo é uma teoria filosófica que declara que o sujeito no acto de conhecer, capta um
objecto que lhe exterior e independente. Assim para o realismo o objecto do conhecimento
não faz parte do sujeito e pode ser conhecido na sua realidade e independência.

Para o Realismo, Há coisas reais, independentes da consciência. Para os realistas, o universal


é o ente que predica todas as coisas, ou seja, constitui o sustentáculo do todo existente. Sem o
universal não existiriam as coisas particulares.

1.1. Modalidades do Realismo


Realismo ingénuo e natural: é o que não se acha influenciado por nenhuma reflexão crítica
acerca do conhecimento. O problema do sujeito e do objecto ainda não existe. Vê que as
coisas nos são dadas em si mesmas, imediatamente, na sua corporeidade. As coisas são
exactamente tais como as percebemos.

Realismo crítico: assenta em considerações críticas do conhecimento. Não acredita que


convenham às coisas todas as propriedades inseridas nos conteúdos da percepção.

2. O Idealismo
O idealismo é uma teoria segundo a qual o objecto não existe independentemente do sujeito.
Não é uma realidade exterior e transcendente em relação ao sujeito, é pelo contrário, uma

Compilado por: dr Daúda Abudo , Página 45


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realidade interior e imanente. O espírito é conhecido antes da matéria, dai um idealismo


relativo. Pode se distinguir o idealismo subjectivo do idealismo objectivo.

O idealismo subjectivo considera que toda realidade, esta encerada na consciência do sujeito,
ou seja as coisas são apenas conteúdos da nossa consciência, não existindo
independentemente dela, o filosofo Berkeley é representante desta corrente. Segundo este
filósofo, o ser das coisas consiste em serem percebidas. Idealismo subjectivo parte da
consciência individual e o idealismo objectivo parte dos conteúdos objectivos da consciência:
os conceitos. Hegel, expoente máximo do idealismo defende que: “todo o real é ideal e todo o
ideal é real”, no sentido de que a ideia é o fundamento da realidade.

O Valor do conhecimento
A preocupação que se arrasta no problema do valor do conhecimento é: qual é a validade do
nosso conhecimento? É universal ou absoluto, ou depende de cada sujeito?
Duas correntes travam este debate: absolutismo e relativismo.

1. Absolutismo
O absolutismo, não só afirma a objectividade do conhecimento, como também lhe confere um
valor absoluto. Para esta corrente, não há dúvidas sobre o valor do conhecimento e não
apresenta nenhum limite.

2. Relativismo
Atribui valor relativo ao conhecimento, quer em função do sujeito cognoscente, quer em
função do objecto conhecido.

2.1. Subdivisões do relativismo


Relativismo sensorial dos sofistas – para Protágoras (séc. V a.C.), “o Homem é a medida de
todas as coisas”, o que quer dizer que todo o conhecimento é relativo, depende do sujeito. Por
exemplo: a mesma água poder ser fria para uns e quente para outros. Relativismo positivista –
para Augusto Comte, defendendo um relativismo objectivo, defende que todo o conhecimento
que ultrapassa a experiência é impossível e inválido.

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Relativismo prático – para William James, a validade de uma ideia, só pode ser verificado
pelo seu resultado prático. Tudo o que ajuda a agir e produz realmente efeito será verdadeiro
para cada indivíduo.

3.4 Níveis do Conhecimento


Na perspectiva do conhecimento, tendo em consideração o processo de aquisição,
sistematização e as suas exigências, encontramos diferentes níveis de conhecimentos.

1. Senso comum ou conhecimento popular


É o conhecimento que resulta da experiência quotidiana do ser humano, transmissível de
geração em geração. Este tipo de conhecimento não se aprende na escola e adquire-se fora dos
mecanismos sistematizados.

1.1. Características do senso comum


É um conhecimento valorativo porque se fundamenta numa relação operada com base em
estados de ânimo e emoções; é assistemático porque baseia-se na organização particular das
experiências pessoais; é verificável porque diz respeito àquilo que se pode perceber dia-a-dia;
é falível, acrítico, inexacto e superficial porque se conforma com a aparência e com o que se
ouviu dizer a respeito do objecto. Sensitivo, superficial, subjectivo, desordenado, não
disciplinar, dogmático e acritico

2. Conhecimento científico
A ciência é uma organização de conhecimentos e de resultados que são aceites universalmente
pelo uso da experiência, de métodos sistemáticos, teorias e linguagens próprias que visam
compreender e possivelmente, orientar a natureza e as actividades humanas.

A ciência precisa de instrumentos e teorias organizadas e aperfeiçoadas para atingir verdades


universalmente válidas. O método experimental compreende quatro etapas: observação,
formulação de hipóteses, experimentação e conclusão.

2.1. Características do conhecimento científico


É real (factual) porque lida com ocorrências ou factos; é contingente porque as suas hipóteses
têm sua veracidade ou falsidade conhecida através da experimentação; é sistemático porque

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trata-se de um saber ordenado logicamente formando um sistema de ideias (teorias); é


verificável por meio da experiência e é falível em virtude de não ser definitivo.

2.2. Importância, limites e perigos do conhecimento científico


O avanço tecnológico, resultado do conhecimento e da investigação científica proporciona
melhores condições de vida aos homens. A medicina, por exemplo, ajuda a eliminar a dor dos
homens. Acima de tudo, o desenvolvimento científico contribui para a melhoria das condições
de vida humana assim como do mundo, no geral.

Os limites da ciência podem-se notar sob dois aspectos: limites materiais como recursos
financeiros e limites ideológicos como o contexto histórico e social, o paradigma dominante
dentro do qual se faz a ciência, a ética que questiona a utilidade, o interesse, a moralidade de
certas investigações científicas.

Mas o uso descontrolado da tecnologia degrada o meio ambiente, esgota os recursos não
renováveis e deteriorisa a camada do ozono, como também cria problemas de saúde humana
na sua relação com as máquinas e tecnologia, o problema de desemprego, entre outros riscos.
São também áreas de risco da ciência: a energia nuclear, a investigação genética e a base
genética da inteligência.

3. Conhecimento filosófico
É a forma de conhecimento que se detém na intenção de ampliar incessantemente a
compreensão da realidade, no sentido de apreender na sua totalidade e de dar explicaç ões
acerca da existência humana.

3.1. Características do conhecimento filosófico


É valorativo porque seu ponto de partida consiste em hipóteses que não poderão ser
submetidas a observação; não é verificável porque as hipóteses científicas não podem ser
confirmadas nem refutadas; é racional em virtude de consistir num conjunto de enunciados
logicamente correlacionados; é sistemático porque as suas hipóteses visam a uma
representação coerente da realidade estudada e é infalível e exacto já que busca da realidade
capaz de abranger todas as outras vezes.

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Acima de tudo, o conhecimento filosófico é caracterizado pelo esforço da razão pura para
questionar problemas humanas e poder discernir entre o certo e o errado, recorrendo apenas às
luzes da reflexão racional.

4. Outros tipos de conhecimento

Conhecimento religioso – sua fonte primordial é de natureza divina. É inspiracional,


valorativo, sistemático, não verificável, infalível e exacto.

Conhecimento mitológico – narrativa de significação simbólica, transmitida de geração em


geração e considerada verdadeira dentro de um grupo social.

Conhecimento intuitivo – é conhecimento imediato de um objecto na plenitude da sua


realidade. Trata-se de uma percepção imediata sobre algo.

3.5 Classificação das ciências segundo Augusto Comte

Augusto Comte (1798-1857), foi um filósofo francês, considerado como fundador da


Sociologia (ciência que dedica ao estudo da homem na sua relação com os outros – a
sociedade). O ambiente que viveu, séc. XVIII permitiu-lhe fundar a lei dos três estados
comparando o desenvolvimento do psiquismo humano com o crescimento do Homem:
teológico (infância) – justificação teológica, metafísico (juventude) – justificação filosófica e
positivo (maturidade) – justificação científica.

O estado positivo, que Comte advoga, trata-se da ciência, ligada ao empírico, ao prático e ao
mensurável – a relação constante entre os fenómenos observáveis. Assim, o positivismo é
uma corrente que se preocupa em estabelecer procedimentos válidos para uma ciência prática.

Comte, tendo em consideração ao nível de simplicidade e complexidade das ciências,


classificou-as em sete categorias, das mais simples às mais complexas: Matemática,
Astronomia, Física, Química, Biologia, Sociologia e Moral.

3.6 A questão da verdade

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A verdade é a correspondência entre o conceito e a realidade, seja ela empírica ou meta-


empírica. Dizer que algo é verdadeiro, implica a correspondência daquilo que é dito com a
realidade.

Diferentes concepções da verdade


Há varias acepções de verdade: verdade ontológica, lógica, como utilidade, como consenso e
como perspectiva

Verdade como correspondência ou adequação- verdade ontológica


A verdade é a correspondência entre a proposição, o juízo e a realidade, exemplo quando
alguém diz esta calor classificamos intuitivamente o enunciado como verdadeiro ou falso se
corresponde ou não a realidade., este foi adoptado por Platão, Aristóteles, St Aquino.

Verdade como coerência-verdade lógica- evidencia o acordo da razão com as suas próprias
regras e princípios (particularmente o da não contradição.)

Verdade como utilidade


A visão pragmática parte do princípio de que a verdade é uma característica do enunciado ou
da proposição em que é útil acreditar. Assim, a proposição é útil porque é verdadeira ou,
então, é verdadeira porque é como defendia William James. O que define a verdade é a
possibilidade de produzir um efeito que se deseja, ao serviço de um objectivo pratico
qualquer. A verdade é, assim eficácia, a utilidade e a funcionalidade.

Verdade como consenso


O consensualismo afirma extrema dificuldade de obtermos um conhecimento dela. Assim, os
consensos seriam formas de nos aproximarmos da verdade em si.

Verdade como perspectiva


Cada sujeito tem uma perspectiva, subjectiva, sobre o real. A concepção perspectivista de
verdade admite a existência de múltiplas verdades. Na perspectiva de Hegel , a verdade
resulta de um processo continuo em que se vão manifestando os diferentes aspectos da
verdade (contraditórios entre si, mas reunidos numa síntese)- verdade como processo.

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Também Heidegger entende a verdade como desenvolvimento do ser que acontece pela e na
linguagem enquanto casa do ser- verdade como processo

Quatro (4) estados do espírito perante a verdade


1. Ignorância – é a ausência de todo o conhecimento relativamente a um enunciado. Ela
pode ser vencível (possível de fazer desaparecer) ou invencível (impossível de fazê-la
desaparecer); culpável (quando se tem o dever de dominar) e inculpável (quando não
se tem o dever de dominar).

2. Dúvida – estado de equilíbrio entre a afirmação e a negação. Aqui, o espírito não


adere porque os motivos de afirmar e negar se equilibram (dúvida positiva) ou porque
não tem razão alguma para afirmar ou de negar (dúvida negativa).

A dúvida pode ser metódica ou cartesiana, que consiste na suspensão voluntária, mas sempre
provisória, na aceitação de uma verdade dita por certa, com o fim de verificar o seu valor.
Pode ser céptica ou sistemática, que é estado definitivo do espírito relativamente a toda
verdade; considera todas as verdades como incertas.

3. Opinião – é a adesão receosa do espírito à afirmação ou negação de um enunciado. É


um estado intermediário entre a dúvida e a certeza em que já é emitido um juízo, mas
inseguro – trata-se de uma probabilidade.
4. Certeza – é a adesão firme e inabalável do espírito a uma verdade conhecida, sem
receio de errar. Ela supõe a manifestação completa da verdade que se faz mediante a
evidência que é o motivo e o fundamento da certeza.

Critérios de verdade

Critérios da verdade são normas através dos quais distinguimos o conhecimento verdadeiro do
falso. Em teoria do conhecimento, o critério fundamental da verdade é a evidência.

A evidência é a clareza com que a verdade se impõe ao nosso espírito. A evidência ilumina a
verdade pois diz se aquilo que temos no espírito corresponde à verdade.

Como exemplo de evidência encontramos o fideísmo, no qual, para as verdades religiosas, a


fé é o único critério de verdade. No senso comum, são verdadeiros os conhecimentos comuns
a todos os homens e, no pragmatismo, o critério da verdade é a razão.

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1. O erro: causas e remédios


O erro é a adesão firme àquilo que objectivamente é falso, mas que, do ponto de vista
subjectivo, nos parece verdadeiro. É a não conformidade do espírito com a realidade; é a
negação da verdade. Difere da ignorância que consiste em não saber e afirmar.

1.1. Causas do erro


1.1.1. Causas psicológicas – a falta da atenção do espírito que interpreta mal os dados dos
sentidos e a paixão que nos impede raciocinarem correctamente.
1.1.2. Causas morais – a vaidade que resulta da demasiada confiança na nossa pessoa; o
interesse (económico, social, político, etc.) pelo qual preferimos o favorável de acordo com os
nossos objectivos e a preguiça intelectual que não deixa avaliar o valor dos nossos motivos e
aceitamos quaisquer asserções.

1.2. Remédios do erro


Constituem remédio do erro: reflexão sobre as coisas; cautela contra as sugestões da paixão e
da imaginação; suspensão do juízo e dúvida; não aceitar algo como verdadeiro antes de
questionar por meios legítimos.

3.7 Epistemologia contemporânea e o problema da possibilidade ou não do


conhecimento

Actualmente, o campo científico, reconhecendo a evolução das ciências, mostra uma


diversidade de ciências, sendo aceitável apenas falar de ciências que têm características
comuns na sua diversidade.

1.O conhecimento verdadeiro em Descartes e Espinosa

Para Descartes Deus é a garantia da verdade objectiva das ideias claras e distintas,
legitimando o valor da ciência e sendo o fundamento do ser e do conhecimento. Critério de
verdade consiste na evidência ou seja, na clareza e distinção das ideias. Assim o
conhecimento é evidente quando possui clareza e distinção. Pode se dizer que a clareza diz
respeito à presença da ideia ao espírito. Distinção significa separação de uma ideia
relativamente outra , de tal modo que a ela não estejam associados elementos que não lhe
pertençam. Espinosa associa o conhecimento verdadeiro ou evidente (claro e distinto) a
existência de Deus, este filosofo defende a existência de três géneros de conhecimento, o do
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primeiro género -sensível ou imaginativo que é confuso e desordenado, o conhecimento do


segundo género- o conhecimento racional, que é objectivo, claro e distinto, e o conhecimento
do terceiro género , ou ciência intuitiva, esta está ligada a ideia de Deus.

Existem duas perspectivas sobre a evolução da ciência: continuidade ou ruptura.

O continuísmo defende que o desenvolvimento da ciência é linear e cumulativo. O


continuísmo radical defende que a ciência evolui sempre na mesma direcção, os
conhecimentos, uma vez estabelecidos, jamais serão postos em causa. E, o continuísmo
moderado advoga que ao longo da construção da ciência há erros que precisam ser corrigidos
e assim surgem novas descobertas, resultantes dessas correcções.

O descontinuísmo defende que o desenvolvimento da ciência é de forma revolucionária.


Filósofos como Bachelard, A. Koyré, K. Popper e T. Khun, defendem que a ciência conhece
momentos de descontinuidade, de ruptura que separam uma fase da outra e que afectam a
legitimidade dos princípios gerais – a mudança do paradigma.

Positivismo e Neopositivismo, Karl Popper e Thomas Kuhn

1. A teoria de Karl Popper

Popper (1902 - 1994), foi um filósofo austríaco das ciências exactas e humanas. É da posição
descontinuísta. Para ele, a ciência progride através da crítica às teorias anteriores e à inovação
das mesmas e até banindo as anteriores dando lugar as novas teorias capazes e que entram em
consonância com a nova realidade científica. Assim, o progresso da ciência se efectua por
meio das revoluções intelectuais e científicas.

2. A teoria de Thomas Khun


Khun dedica em analisar a fenomenologia das rupturas epistemológicas e usa expressões
como paradigma, ciência normal, anomalia e ciência extraordinária.

Paradigma

É o princípio que regula as pesquisas de uma determinada época. Trata-se de uma teoria
científica dominante, na qual todas as outras se integram. O paradigma define especificamente
a metodologia apropriada para o desenvolvimento da ciência nos moldes estabelecidos pelo

Compilado por: dr Daúda Abudo , Página 53


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paradigma. Ele determina tanto o método de solução dos problemas como os problemas que
devem ser resolvidos.

A ciência normal e anomalia

A ciência normal é o momento em que a comunidade científica desenvolve com sucesso suas
pesquisas mediante o paradigma em vigor. Ora, quando aparecem problemas científicos que
escapam os limites do paradigma, quando não se enquadra na ciência normal, considera-se
anomalia.

Ciência extraordinária

É o período de procura de um novo paradigma. Ou seja, a acumulação de anomalias abala o


paradigma e o comportamento dos cientistas é o de procurar outras teorias e fundamentos que
substituam o paradigma que se encontra ultrapassado.

Revolução científica

A revolução científica acontece quando se descobre um novo paradigma. Trata-se de uma


nova visão do mundo e de adopção de novos critérios para a interpretação dos fenómenos, ou
seja, uma nova forma de fazer a ciência. Já é a superação da crise. A revolução científica
implica a mudança da mentalidade da comunidade científica, no sentido de deixar crer no
antigo paradigma que se mostrou caduco e aceitar, em substituição, no novo paradigma,
chegando-se de novo ao estado de equilíbrio a que se chama ciência normal.

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UNIDADE 4: LÓGICA I

4.1 Conceito da Lógica

A palavra Lógica vem do latim: Logica e do grego Logike, de logos: razão. Em um sentido
amplo, a lógica é o estudo da estrutura e dos princípios relativos à argumentação válida,
sobretudo da inferência dedutiva e dos métodos de prova e demonstração.

A Lógica é a ciência que estuda as regras das operações válidas e os processos utilizados
pelas várias ciências em busca da verdade. Contudo, a Lógica é a ciência que estuda as
condições do pensamento válido, ou seja, do pensamento que procura encontrar a verdade.
Por isso mesmo, a Lógica regula o perfeito discurso da razão e dá o caminho para o correcto
exercício da linguagem e do pensamento na procura da verdade.

Objecto de estudo da Lógica

A Lógica tem seus objectos de estudo divididos em duas vertentes. Encontra-se o objecto
formal e o objecto material de estudo da Lógica.

Quanto ao objecto formal, a Lógica preocupa-se em analisar a relação dos elementos


envolvidos no enunciado, se estes são coerentes e não têm nenhuma contradição interna.

Quanto ao objecto material, a Lógica analisa não só a coerência do enunciado, mas também a
sua concordância com a realidade.

Lógica espontânea e Lógica como Ciência

Nem todo aquele que não teve instruções não é capaz de elaborar enunciados lógicos. Mesmo
as conversas que os homens fazem e os pensamentos que têm exercido têm sempre uma certa
coerência e uma determinada ordem de encadeamento. O facto é de que a inteligência humana

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tem sempre um determinado caminho a seguir, uma determinada ordem de pensamento que é
natural ao Homem e podemos designar de uma Lógica espontânea.

Assim, chama-se Lógica espontânea, à ordem que a razão humana segue naturalmente nos
seus processos de conhecer e nomear as coisas. E, a Lógica como ciência aparece a partir do
momento em que o Homem toma os seus processos cognitivos como objecto de estudo.

Principais características da Lógica

Para Aristóteles, a lógica não era uma ciência teorética, nem prática ou produtiva, mas um
instrumento para as ciências. Eis por que o conjunto das obras lógicas aristotélicas recebeu o
nome de Órganon, palavra grega que significa instrumento. A lógica caracteriza-se como:

Instrumental: é o instrumento do pensamento para pensar correctamente e verificar a


correcção do que está sendo pensado.

Formal: não se ocupa com os conteúdos pensados ou com os objectos referidos pelo
pensamento, mas apenas com a forma pura e geral dos pensamentos, expressa através da
linguagem.

Propedêutica: é o que devemos conhecer antes de iniciar uma investigação científica ou


filosófica, pois somente ela pode indicar os procedimentos (métodos, raciocínios,
demonstrações) que devemos empregar para cada modalidade de conhecimento.

Normativa: fornece princípios, leis, regras e normas que todo pensamento deve seguir se
quiser ser verdadeiro.

Doutrina da prova: estabelece as condições e os fundamentos necessários de todas as


demonstrações. Dada uma hipótese, permite verificar as consequências necessárias que dela
decorrem; dada uma conclusão, permite verificar se é verdadeira ou falsa.

Geral e temporal: as formas do pensamento, seus princípios e suas leis não dependem do
tempo e do lugar, nem das pessoas e circunstâncias, mas são universais, necessárias e
imutáveis como a própria razão.

4.2 A linguagem como fundamento da condição humana


A linguagem é um sistema de signos ou sinais usados para indicar coisas, para a comunicação
entre pessoas e para a expressão de ideias, valores e sentimentos.

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A linguagem é fundamento da acção humana porque o uso dela faz parte essencial da vida
quotidiana e da forma intrínseca de ser e de existir do ser humano. Porque, a verdade é que
não existe nenhuma actividade humana que não comporte, na sua essência, o uso da
linguagem. Isso quer dizer que, o Homem sempre necessita da comunicação num com outro.

Portanto, a linguagem humana é a base de toda a cultura, de todo o saber e de toda a


comunicação, enfim, a linguagem é fundamento da humanidade em qualquer sentido da sua
intersubjectividade. Caso mais concreto é de que, todo o ser humano nasce, para além da
realidade biológica que o incumbe, com um potencial de linguagem e com uma característica
específica de comunicação e nasce com a capacidade de aprender a linguagem, a comunicar-
se.

Mas a aprendizagem da linguagem só pode ser feita através da língua num determinado
ambiente cultural, pois toda a linguagem é linguagem de uma determinada cultura humana.

A Língua é um sistema de signos que exprimem ideias; define-se como um código – código
linguístico – que consiste num conjunto de signos isolados, as palavras, cada uma das quais
está associado um sentido particular e que, ao falar, organizamos de um certo modo, segundo
certas regras, que fazem igualmente parte do código linguístico.

A Língua constitui-se pela prática da fala. É ao falar que os sujeitos pertencentes a uma
mesma comunidade criam esses sistemas de sinais e regras, que cada nova geração recebe
como herança que os vincula e une socialmente aos membros do seu grupo, fornecendo-lhes
uma espécie de molde para dar nome e sentido às suas representações.

Linguagem e comunicação

A aprendizagem da linguagem visa responder a uma grande necessidade humana que é a


comunicação oral e escrita. É através da linguagem que os homens exprimem os seus
pensamentos.

Comunicação é o processo de transmissão e recepção de mensagens simples e complexas no


meio oral, escrito ou gestual. Actualmente, a comunicação é o fenómeno complexo e global
que abrange os meios habituais e em conjunto extenso de novos meios de comunicação
resultantes das novas tecnologias como a rádio, TV, telemóvel, fax, Internet, etc.

Compilado por: dr Daúda Abudo , Página 57


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Durante a história da vida humana, muitos estudiosos procuraram mostrar modelos de


percepção da comunicação em diferentes maneiras. Destacam-se os modelos de Lasswell e
W. Weaver (filósofo da comunicação). Mas o modelo mais acreditado, pela sua maneira de
exposição e orientação é o de Roman Jakobson que influenciou muito os estudos da
linguagem do século XX, e em especial as ciências sociais.

Modelo de explicação de Roman Jakobson

Roman Jakobson (1896 – 1982), linguista americano de origem russa, propôs um modelo de
comunicação, que marcou uma época e que continua a ser estudado até hoje.

Para ele, no processo comunicativo, para além do emissor e receptor, entram no cenário o
contexto (a comunicação ocorre sempre dentro de um determinado contexto ou situação), o
código (a comunicação usa um determinado código, isto é, conjunto de sinais partilhados
entre os interlocutores) e contacto (no acto da comunicação, o emissor e o receptor
estabelecem um contacto entre si). Ele, atribuiu também uma função da linguagem a cada um
dos elementos da comunicação.

As funções da linguagem, segundo Roman Jakobson

a) Função referencial

Esta pode designar-se por informante e se centra no contexto. Neste tipo de discursos, o
emissor (locutor) centra a sua mensagem de forma predominante no contexto (ou referente).
A característica do discurso é objectividade, neutralidade e imparcialidade.

b) Função expressiva
Chama-se também função emotiva e está centrada no emissor. Predomina a atitude do emissor
perante o referente, produzindo uma apreciação subjectiva. No discurso oral, a tonalidade da
voz do emissor é inconstante, ora sobe, ora baixa, ora é grossa, ora é fina e demorada.

b) Função persuasiva

Trata-se da função apelativa, imperativa ou conotativa e se centra no destinatário ou receptor.


Neste tipo de discurso, o emissor procura influenciar o receptor e lhe obriga a reagir sobre o
facto.
Exemplo: votar em mim é votar no progresso.
Compilado por: dr Daúda Abudo , Página 58
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c) Função estética

É de tipo poético e se centra na mensagem em que os emissores mostram-se empenhados em


embelezar e melhorar as suas mensagens.

d) Função fáctica

Esta função se centra no contacto, ou seja, no canal. Com estes discursos, os interlocutores
procuram assegurar, estabelecer, prolongar ou interromper a comunicação ou verificar se o
meio usado funciona. Exemplo: estás a ouvir-me? Como?

e) Função metalinguística

Esta centra-se no código. Com o discurso, os interlocutores procuram definir ou clarificar o


sentido dos signos para que sejam compreendidos entre si. Assim, um enunciado não
corresponde a uma ou única função. As funções da linguagem aparecem combinadas.

f) Função referencial

É a informativa e persuasiva, ou seja, apelativa ou argumentativa, ela nos permite representar


ou descrever factos, estados ou relações entre as coisas; os seus enunciados, frases ou
expressões são susceptíveis de serem verdadeiros ou falsos, conforme o seu conteúdo e
adequação realidade.

2.2. A relação triádica: a Linguagem, o Pensamento e o Discurso

Quotidianamente verificamos que os homens comunicam entre si os seus pensamentos em


forma de discurso oral, escrito ou gestual. Por isso, há uma estreita e indissociável relação
entre estas três realidades.

Primeiro: a Linguagem é um instrumento e meio ao serviço do pensamento. A linguagem é


o suporte do pensamento.

Compilado por: dr Daúda Abudo , Página 59


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Mediante o uso da linguagem os seres humanos exprimem os seus pensamentos. Por isso, o
pensamento e a linguagem não se pode separar e um desenvolve-se em correlação com o
outro.

Segundo: a linguagem regula o pensamento. Se com recurso à linguagem o ser humano pode
formular conceitos ou ideias, juízos e raciocínios que são os instrumentos do pensamento do
pensamento humano.

Terceiro: os seres humanos dispõem de uma linguagem, podendo expressar, em forma de


discurso, os seus pensamentos aos outros e comunicar.

É por também por disporem de uma linguagem que os seres humanos podem expressar, em
forma de discurso, os seus pensamentos e dessa forma conhecer e apreender a realidade
circundante.

Contudo, a relação entre linguagem, pensamento e discurso deve-se ao facto de o discurso ser
uma manifestação do pensamento e um acontecimento da linguagem.

As dimensões dos discursos humanos

Os lógicos introduziram a expressão “universo do discurso” para designar o conjunto ao qual


vinculamos, pelo pensamento, os objectivos dos quais falamos.

As principais dimensões do discurso humano são a sintáctica, semântica e pragmática. O


filósofo americano Charles Morris (1901 – 1979) defendeu que existem três níveis de análise
dos processos de comunicação: nível sintáctico, semântico e pragmático.

a) Dimensão sintáctica

O termo sintaxe deriva do latim syn +táxis, que quer dizer, coordenado. Trata-se da parte da
gramática que trata das regras combinatórias entre os diversos elementos da frase. Ela estuda
as relações internas que os signos mantêm entre si. Assim, seguindo o critério sintáctico:
letras expostas ao acaso não formam uma palavra; palavras expostas ao acaso não formam
uma frase e; frases expostas ao acaso não formam um texto nem um discurso.

Compilado por: dr Daúda Abudo , Página 60


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b) Dimensão semântica

Semantiké, literalmente significa, a arte de significação. É a ciência que se dedica ao estudo


das significações; diz Michel Bréal (1832-1915). Ela trata da relação dos signos com o seu
signofiocado, ou seja, com o mundo. A semântica trata das relações dos signos (palavras ou
frases) com os seus significados (significação) e destes com a realidade a que dizem respeito
(referência).
c) Dimensão pragmática

Do grego pragmatiké, de pragma (acção). Para Michel Meyer, a pragmática é a disciplina que
se prende com os signos na sua relação com os utilizadores. Considera-se como fundador
desta disciplina, Charles Morris, que exigiu a pragmática como complemento da sintaxe e da
semântica.

A atitude pragmática diz respeito a procura de sentido nos sistemas dos signos, tratando-os na
sua relação com os utilizadores, considerando sempre o contexto, os costumes e as regras
sociais. Qualquer texto, oral ou escrito representa a realização de um acto que não é apenas
locutório (produção de um enunciado de acordo com as regras gramaticais, ou seja, o que
diz), mas representa igualmente um acto ilocutório (o que faz, dizendo) e um acto
perlocutório (os efeitos resultantes da acção de dizer).

Em resumo, enquanto a sintaxe preocupa-se como o que se poderia chamar a forma


gramatical da linguagem. A semântica preocupa-se com o significado das palavras e frases
que constituem os nossos enunciados discursivos e a pragmática preocupa-se com a
utilização que fazemos da linguagem num dado contexto.

Dimensões acessórias do discurso


Para além das dimensões básicas do discurso humano, destacam-se algumas dimensões
acessórias do discurso como: linguística (acto individual de fala em que um emissor enuncia
algo numa determinada língua); textual (o discurso efectua-se num texto escrito ou oral);
lógico – racional (o discurso é formulado de acordo com uma dada sequência e
encadeamento lógico de proposições); expressiva/subjectiva (o discurso humano expressa
sempre sentimentos, pensamentos, argumentos, emoções e perspectivas de um dado sujeito);
intersubjectiva/comunicacional (a comunicação com o outro ou outros); argumentativa
(provas para justificar os pensamentos e posições); apofântica (o discurso traduz sempre uma

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representação do real: verdade ou falsidade); comunicacional e institucional (o discurso


configura-se num contexto social, cultural, político, etc; e, segue os critérios estabelecidos) e
ética (o discurso deve obedecer os critérios morais e valorativos que representam o código do
discurso, a fim de ser um discurso verdadeiro).

4.3 Os novos domínios da aplicação da Lógica

A lógica tem uma aplicação prática, ou seja, aplica-se no campo técnico-científico. Assim, os
novos domínios da aplicação da lógica são: cibernética, informática e inteligência artificial.

a) Cibernética

A palavra cibernética deriva do grego: kibernéties, que, segundo Platão, designa a arte de
pilotar navios. A cibernética é a ciência da comunicação e do controlo de homens e máquinas.
Os computadores são fruto da aplicação desta ciência. A sua criação data no século XX.

b) Informática

A palavra informática é híbrida: informação e automática. Foi criada por Philippe Dreyfus em
1962 para referir às disciplinas vocacionadas para o tratamento automático da informação.
Assim, a informática é uma ciência que se dedica ao estudo do tratamento automático da
informação, que é fornecida a uma máquina a partir do meio exterior.

c) Inteligência artificial

Este tipo de lógica chamada de inteligência artificial é um domínio relativamente recente,


encontramos as suas raízes no grande desenvolvimento dos computadores nos anos 50, porque
essas máquinas ofereciam enormes possibilidades e processando informações de alta
velocidade e os investigadores apostaram-se em todos que assemelhassem as potencialidades
de inteligência humana.

Portanto, podemos dizer que a inteligência artificial encontra a sua forte inspiração na
inteligência natural própria dos seres humanos; a construção de máquinas capazes de simular
actividades mentais como a aprendizagem por experiência, resolução de problemas, tomada
de decisões, reconhecimento de formas e compreensão da linguagem.

Compilado por: dr Daúda Abudo , Página 62


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Validade formal e validade material ou verdade

O que a forma e a matéria? Partimos destes conceitos para melhor perceber o que significa, e
filosofia, validade formal e validade material.

A forma refere-se à estrutura do raciocínio ou pensamento, sendo, como tal, sujeito à


validade ou à não validade e a matéria refere-se ao conteúdo de determinado raciocínio ou
pensamento, sendo, por isso, susceptível de ser verdadeiro ou falso.

Do ponto de vista lógico, a validade formal refere-se à estrutura ou à articulação dos


elementos de um raciocínio ou argumento. A validade material ou verdade é a adequação do
conteúdo do nosso raciocínio ou argumento à realidade pensada ou ao mundo real.

4.4 Princípios da razão

Razão, do lat. Ratio, é a faculdade de julgar que caracteriza o ser humano. Os princípios da
razão são fundamentos e garantia de possibilidade de coerência do pensamento. São muito
importantes porque, sem eles não poderíamos pensar nem formular qualquer verdade.

São três princípios fundamentais da razão: identidade, não contradição e terceiro excluído;
foram enunciados por Aristóteles na lógica em termos de coisas e, modernamente são
enunciados em termos de proposições. Uma proposição é a expressão verbal do juízo. E, juízo
é o acto de julgar ou decidir sobre algo.

Princípio de Identidade

Em termos de coisas: uma coisa é o que é. O que é, é; o que não é, não é. A é A.


Em termos de proposição: uma proposição é equivalente a si mesma.

Princípio da não contradição e a negação das proposições

Em termos de coisas: uma coisa não pode ser e não ser simultaneamente, segundo a mesma
perspectiva.

Em termos de proposições: uma proposição não pode ser verdadeira e falsa ao mesmo tempo,
segundo uma mesma perspectiva. Uma proposição e a sua negação não podem ser

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simultaneamente verdadeiras. Duas proposições contraditórias não podem ser


simultaneamente verdadeiras.

Princípio do terceiro excluído (ou do meio excluído) e a negação de conceitos

Em termos de coisas: uma coisa deve ser, ou então não ser; não há uma terceira possibilidade
(o terceiro excluído).

Em termos de proposições: uma proposição é verdadeira, ou então é falsa; não há outra


possibilidade. Se encaramos uma proposição e a sua negação, uma é verdadeira e a outra é
falsa; não há terceiro termo. E, de duas proposições contraditórias, se uma é verdadeira, a
outra é falsa, e se uma é falsa, a outra é verdadeira; não há terceira possibilidade.

Na lógica bivalente, todo o juízo é necessariamente verdadeiro ou falso e os três princípios da


razão fundem-se num só: duas proposições contraditórias que são a negação uma da outra
não podem ser nem ambas verdadeiras nem ambas falsas; se uma verdadeira a outra é falsa
e se uma é falsa reciprocamente a outra é verdadeira.

Princípio de razão suficiente: “tudo quanto existe tem razão suficiente em si mesmo ou
noutro considerado sua causa.”

Princípio da causalidade: “todo o efeito pressupõe uma causa”; “o que vem a ser exige uma
razão explicativa.”

Princípio da substancialidade: “tudo o que é acidental pressupõe a substância”; “o que


muda, supõe algo permanente.”

Princípio da finalidade: “todo o agente age para um fim”; “o fim é a primeira causa na
intenção e a última na realização.”

Princípio do determinismo: “há uma ordem natural das coisas, tal que, as mesmas causas,
postas nas mesmas circunstâncias, produzem os mesmos efeitos.”

Princípio da inteligibilidade: “o ser é inteligível”; “a ordem do ser é a ordem do


pensamento.”

Princípio da realidade: “o mundo exterior existe.”

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4.5 Lógica do conceito/termo

O conceito é a apreensão pela mente da essência, ou seja, das características determinantes de


um objecto. O conceito é o acto mental pelo qual se confere uma certa qualidade ou
qualificação a uma certa classe de objectos com características comuns.

No conceito, temos apenas a essência, as características determinantes de um objecto, e não o


próprio objecto. O conceito constitui a forma mais simples e elementar do pensamento, na
medida em que se limita à apreensão da essência de uma determinada classe de objectos.

O conceito expressa pela linguagem que permite fixá-lo e evocá-lo; trata-se do termo. O
termo é a expressão verbal de um conceito.
Extensão e compreensão dos conceitos

A extensão (ou a denotação) é o conjunto de seres ou objectos abrangidos pelo conceito. E, a


compreensão (conotação ou intenção) de um conceito é o conjunto de propriedades que o
caracterizam e são comuns a todos os seres ou objectos que formam a sua extensão.

Portanto, a extensão de um conceito ou termo é o conjunto de indivíduos ou objectos


designados por ele; a compreensão desse mesmo conceito ou termo é o conjunto das
qualidades que ele designa.

Relação entre extensão e compreensão dos conceitos

Entre a extensão e a compreensão do conceito estabelece-se uma relação qualitativa, podendo


variar na sua razão inversa: quanto maior for extensão, menor será a compreensão; quanto
menor for a extensão, maior será a compreensão.

Relativamente à extensão, o conceito de maior extensão, em relação ao de menor extensão,


chama-se género. O conceito de menor extensão, comparativamente àquele, é denominado
espécie.

Classificação dos conceitos e dos termos. Os conceitos podem ser classificados sob vários
critérios:

Quanto à compreensão
Compilado por: dr Daúda Abudo , Página 65
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a) Simples: não têm (não podem ter) partes. Exemplo: ser (a ideia de ser).

b) Compostos: são divisíveis ou têm partes. Exemplo: homem, animal e planta.

c) Concretos: são aplicáveis às realidades tangíveis, sujeitos ou objectos. Exemplo: gato,


cadeira e livro.

d) Abstractos: aplicam-se a qualidades, acções, pensamentos ou estados. exemplo: amor,


paixão, ódio, amizade, alegria e tristeza.

Quanto à extensão

a) Universais: aplicam-se a todos os elementos de um conjunto ou classe. Exemplo:


homem, caderno e lápis.
b) Particulares: aplicam-se apenas à parte de um todo, ou classe. Exemplo: certos
alunos, alguns pais, estes cadernos.

c) Singulares: aplicáveis apenas a um indivíduo. Exemplo: Tito, Teófilo, este caderno.

Quanto à relação mútua

a) Contraditórios: opõem-se e excluem-se mutuamente. Exemplo: alto/não alto; ser/não


ser e branco/não branco.

b) Contrários: opõem-se mas não se excluem. Exemplo: branco/preto e alto/baixo.

c) Relativos: uma não é sem o outro (implicação mútua).

Quanto ao modo de significação

a) Unívocos: usam-se de um modo idêntico em diversos objectos. Exemplo: chamar


planta ao pau-preto. O conceito planta aplica-se tanto ao pau-preto, quanto às outras
plantas.

b) Equívocos: aplicam-se a sujeitos diversos, mas em sentido completamente diferente.


Exemplo: canto, referindo-se do ângulo formado por duas paredes de uma casa e canto
dito do som melodioso emitido por pássaros ou um coro da igreja.

c) Análogos: aplicam-se a realidades comparáveis, ou seja, não são completamente


idênticos, mas também não são completamente diferentes. Exemplo: pode dizer-se que

Compilado por: dr Daúda Abudo , Página 66


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a Virgínia é uma aluna brilhante; mas também quer o anel de ouro é brilhante. O
conceito brilhante, em Virgínia, foi aplicado de modo análogo.

Quanto à perfeição com que representam o objecto

a) Adequados: representam com perfeição o objecto. Exemplo: carnívoro, dito do cão.

b) Inadequados: representam de forma imperfeita o objecto. Exemplo: aquático,


referindo-se à rã.

c) Claros: levam ao reconhecimento do objecto.

d) Obscuros: são insuficientes para fazer reconhecer o objecto.

e) Distintos: distinguem-se nitidamente dos outros objectos.

f) Confusos: não ajudam na distinção do objecto no meio dos outros.

A definição

A palavra definir deriva do latim: definire, que significa, delimitar ou colocar limites. Por
isso, definir um conceito é indicar os seus limites de modo a não se confundir com os demais
conceitos. Ela é uma operação lógica que consiste em determinar com rigor a compreensão
exacta de um conceito e a explicitação do seu significado.

Como definir um conceito

A definição de um conceito faz-se enumerando as suas qualidades essenciais com clareza e


exactidão, distinguindo-o nitidamente com o que ele não é. Para isso, deve-se indicar o
género mais próximo (o que há de comum) do conceito que pretendemos definir e a sua
diferença específica (o que lhe é próprio), pela qual se distingue uma dada espécie das outras
do mesmo género.
Exemplo:
O Homem é um animal racional

Definido Género Diferença específica


(ou espécie) próximo
7.2. Tipos ou espécies e subtipos de definições
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Tipos Subtipos Caracterização


Essencial (ou Que se faz indicando as notas essenciais: género próximo e
metafísica) diferença específica. Exemplo: triângulo é um polígono de três
lados.
Descritiva Faz-se pela enumeração das características físicas relevantes e
Real significativas. Exemplo: A água é um líquido transparente, incolor,
insípido e inodoro que entra em ebulição a cem grãos centígrados.
Final Que definem o objecto mediante a sua finalidade. Exemplo: a
balança é um aparelho que serve para avaliar a massa de um corpo.
Operacional Consiste em definir um conceito procedendo à suas avaliações e
classificações. Exemplo: o ácido é um composto aquoso que
avermelha o papel azul de tornesol.
Etimológica Esclarece o sentido da palavra a “definir”, pelo recurso à origem,
isto é, ao étimo da palavra. Exemplo: a Filosofia é o amor do
(pelo) saber.
Nominal Sinonímica Que se faz recorrendo a outra palavra com o mesmo significado:
exemplo: o cárcere é uma prisão.
Estipulativa Define o significado que se atribuiu convencionalmente à palavra.
Exemplo: Água – H2O. A força é o produto da massa pela
aceleração.

Regras de definição

a) Primeira regra: A definição deve aplicar-se a todo o definido e só ao definido.

Uma definição é válida quando aquilo que se atribui ao sujeito pertence só e só a ele.
Exemplo: O gato é um animal que mata.

A definição não pode ser nem ampla nem restrita de mais. Se for ampla demais, estará a
abranger seres ou objectos que não estão a ser definidos; se for restrita ou breve demais,
poderá excluir alguns elementos pertencentes à extensão do conceito a definir, não
possibilitando a reciprocidade.

b) Segunda regra: A definição não deve ser circular ou o termo a definir não deve
constar na definição (regra de não circularidade).

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A definição não deve conter o termo a definir, nem termo da mesma família, como por
exemplo: O saboroso é aquilo que tem sabor. Também viola-se a regra da não circularidade
quando ao definirmos qualquer que seja o conceito recorremos ao seu oposto. Por exemplo:
Doce é aquilo que não é amargo.

c) Terceira regra: A definição não deve ser negativa quando pode ser afirmativa.
Os conceitos negativos devem ser definidos negativamente e as positivas, positivamente. Por
exemplo: Órfão é o ser humano que não tem pai nem mãe.

d) Quarta regra: A definição não deve ser expressa em termos figurativos ou


metafóricos.
A linguagem figurada ou metafórica não nos dá com precisão e clareza o significado do termo
a definir. Por isso, temos de evitar construir definições como as que se seguem: a beleza é
espelho da eternidade; o amor é o fogo que arde sem se ver.

Os indefiníveis
Nem todos os conceitos são definíveis. Os conceitos considerados indefiníveis são agrupados
em três espécies:
a) Géneros supremos – são indefiníveis por excesso de extensão, daí não possuírem os
seus géneros mais próximos por onde se possam incluir. Por exemplo: Ser.

b) Indivíduos – são indefiníveis por excesso de compreensão. Por isso, torna-se difícil,
até impossível, encontrar num indivíduo uma característica (diferença específica) que
seja suficiente para que se possa distinguir dos outros conhecidos ou por conhecer. Os
indivíduos só podem ser nomeados: Tito, Teófilo, Angelina, Virgínia; ou então,
descritos; claro, alto, gordo, de olhos castanhos, etc.

c) Dados imediatos da experiência – os dados imediatos da experiência são indefiníveis


por serem por si só claríssimos, nenhuma definição possa clarificá-los ainda mais.
Nenhuma definição do prazer ou dor, amargura ou doçura nos tornará mais claro o
que a experiência sobre eles nos diz. Por isso, compreende melhor o que é prazer ou
dor, amargura ou doçura, quem alguma vez teve essas experiências do que aquele que
ainda não as teve.

Divisao e classificacao

Compilado por: dr Daúda Abudo , Página 69


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Bibliografia

ALVES, Fátima. ARÊDES, José. CARVALHO, José. Introdução à Filosofia 11º Ano–
Pensar e Ser. 4.ed. Texto Editora. Lisboa. 1997.

CHAMBISSE, Ernesto e outros. Emergência do Filosofar. Moçambique Editora. Maputo.


2004.

DIAS, Rui dos Anjos. Filosofia 7º Ano. Livraria Almeida Editora. Coimbra. 1972.

FERREIRA, Maria Luísa Ribeiro. Introdução à Filosofia. 11º Ano. Texto Editora. Lisboa.
1997.

GEQUE, Eduardo. BIRIATE, Manuel. Filosofia 12. Pré-Universitário. Editora Longmam.


Maputo. 2010.

Compilado por: dr Daúda Abudo , Página 70

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