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MANAUS
2012
UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
DEPARTAMENTO DE APOIO À PESQUISA
PROGRAMA INSTITUCIONAL DE INIÇIAÇÃO CIENTÍFICA
RELATÓRIO FINAL
PIB-H/0109/2011
TURENKO BEÇA, JANDR REIS E ARNOLDO CAGI: UMA
APROXIMAÇÃO ANALÍTICA DA SEMIÓTICA VISUAL COM AS ARTES
PLÁSTICAS EM MANAUS (ANOS 1990)
MANAUS
2012
TURENKO BEÇA, JANDR REIS E ARNOLDO CAGI: UMA
APROXIMAÇÃO ANALÍTICA DA SEMIÓTICA VISUAL COM AS ARTES
PLÁSTICAS EM MANAUS (ANOS 1990)
Todos os direitos deste relatório são reservados à Universidade Federal do
Amazonas, ao Núcleo de Estudo e Pesquisa em Ciência da Informação e aos
seus autores. Parte deste relatório só poderá ser reproduzida para fins
acadêmicos ou científicos.
A pesquisa Semiótica Visual das Artes Plásticas em Manaus anos 1990 está vinculada ao
projeto de pesquisa intitulado Processo de criação artística na Amazônia pertencente ao Grupo
de Estudos e Pesquisas em Arte e Tecnologia Interativa GEPARTI/CNPq/UFAM e objetiva
analisar, sob o ponto de vista da semiótica visual, as interelações sígnicas e o processo de
significação cultural das obras produzidas neste período. Para início de pesquisa foi mapeado
e catalogado apenas três artistas emergentes e alguns de seus respectivos estereótipos
produzidos na década de 1990. Arnoldo Cagi, Jandr Reis e Turenko Beça são alguns dos
inúmeros artistas emergentes desse tempo que participaram do ciclo de expositores na capital
de Manaus. Dividimos o trabalho em cinco capítulos. No primeiro capítulo, visualiza-se um
breve recorte sociocultural de alguns acontecimentos que ocorreram nas galerias e escolas de
artes da cidade de Manaus nessa época. Para conhecer esses aspectos socioculturais
utilizamos jornais, livros, folhetos e entrevistas de campo com o intuito de mostrar ao leitor
um dos trechos das artes na Amazônia. No segundo capítulo, a pesquisa revela quem são os
três artistas emergentes de Manaus. Referente ao terceiro capítulo, a investigação mostra a
estrutura teórica de Charles Sanders Peirce empregado ao estudo do “The collected papers of
Charles Sanders Peirce”, (1977). Usamos também o livro de Salles (2000), denominado
Crítica Genética, com o propósito de compreender uma prévia acerca da gênese do processo
de criação artística. Quanto ao quarto capítulo, abordamos acerca da análise semiótica em dois
estereótipos artísticos dos três artistas mapeados. No quinto capítulo pode ser observada uma
pequena descrição dos 65 estereótipos mapeados da produção dos artistas citados. Fechamos
as considerações finais mostrando os resultados alcançados na pesquisa, dificuldades
encontradas para desenvolver a investigação, além de apontar sugestões elementares que
julgamos ser importantes para os acervos artísticos da cidade de Manaus.
Palavras-chave:
Artes plásticas, Manaus, processo de criação.
ABSTRACT
Research Semiotics of Visual Arts in Manaus 1990 is linked to the research project entitled
Process of artistic creation in the Amazon belongs to the Group of Studies and Research in
Art and Technology Interactive GEPARTI / CNPq / UFAM and objectively analyze, from the
point of view of visual semiotics , the interrelations of signs and the process of cultural
significance of the works produced in this period. For early research was mapped and
cataloged only three emerging artists and some of their stereotypes produced in the 1990s .
Arnoldo Cagi , Jandr Reis and Turenko Beça are some of the many emerging artists of that
time participated in the cycle of exhibitors in the capital of Manaus . Divided the work into
five chapters . In the first chapter , displays a brief clipping of some sociocultural events that
occurred in galleries and art schools of the city of Manaus that time . To meet these
sociocultural use newspapers , books , brochures and field interviews in order to show the
reader one of the sections of the arts in the Amazon . In the second chapter , the survey
reveals who are the three emerging artists of Manaus . Regarding the third chapter , the
research shows the theoretical structure of Charles Sanders Peirce employee to the study of
"The collected papers of Charles Sanders Peirce ," (1977 ) . We also used the book Salles
(2000 ) , called Genetic Criticism , with the purpose of understanding a preview about the
genesis of the process of artistic creation . The fourth chapter , we discuss about the semiotic
analysis of two of the three artists artistic stereotypes mapped . In the fifth chapter can be
observed a short description of 65 stereotypes mapped output of the artists mentioned . We
closed the final considerations showing the results achieved in the research , difficulties to
develop research , while identifying basic suggestions which we consider important to the art
collections of the city of Manaus .
Keywords :
Arts , Manaus , creation process .
LISTA DE FIGURAS
INTRODUÇÃO.......................................................................................................................13
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA.....................................................................................30
3.1 Semiótica: por quê e para quê?...........................................................................................30
3.2 Crítica Genética...................................................................................................................40
3.3 Os elementos visuais...........................................................................................................43
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
COSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................................74
REFERÊNCIAS......................................................................................................................77
ANEXOS..................................................................................................................................82
CRONOGRAMA..................................................................................................................103
13
INTRODUÇÃO
A presente pesquisa científica teve por objetivo geral compreender de que modo as
relações culturais estão presentes na composição formal da produção dos artistas plásticos de
Manaus (anos de 1990). Faz-se relevante esclarecer que este objetivo geral, acerca das
“relações culturais presentes” no processo de criação dos artistas, refere-se aos métodos e aos
recursos utilizados pelos mesmos para conceber suas obras. Verificou-se ainda como esses
elementos culturais se apresentaram no objeto artístico, por meio das impressões regionalistas
como marca dos criadores amazônicos.
Neste primeiro momento, a pesquisa não visou analisar todas as produções de artistas
iniciantes e antigos deste período delimitado, visto exigir um tempo além do prazo estipulado
em um projeto de Iniciação Científica, para que se pudesse atender aos estudos bibliográficos,
teóricos e de pesquisa de campo.
Para iniciar esta pesquisa, escolhemos trabalhar apenas com três artistas emergentes,
sendo eles: Arnoldo Cagi, Jandr Reis e Turenko. Pontuamos que em outro momento será
possível incluir e analisar a produção de outros artistas plásticos, igualmente importantes para
a cena artística de Manaus. O estudo da produção artística na cidade de Manaus faz-se de
extrema relevância, não apenas para este projeto que ora se conclui, mas principalmente por
servir de suporte às futuras pesquisas de cunho social, histórico e teórico. Há uma imensa
lacuna no cenário das Artes Brasileiras quanto a dados biográficos, as tendências e as
produções artísticas da cidade, principalmente em Manaus.
No primeiro capítulo, faz-se um levantamento sociocultural prévio do cenário das
Artes Plásticas na cidade de Manaus pertinente à época. Para isso, foram utilizados recortes
de jornais, folhetos e notícias bibliográficas dos anos de 1990. Este campo também foi
delimitado a este período, a fim de que se construísse uma análise concisa.
O segundo capítulo apresenta o mapeamento dos artistas Arnoldo Cagi, Jandr Reis e
Turenko Beça, escolhidos por serem os mais emergentes neste período. Para esta etapa, foi
realizada uma pesquisa de campo, por meio de análise qualitativa, e com auxílio de
entrevistas gravadas.
Já o terceiro capítulo faz uma abordagem acerca da tríade de Charles Sanders Peirce,
que são: o signo em si mesmo, o signo em relação ao seu objeto e o signo em relação ao seu
interpretante. Verificou-se ainda a necessidade de incluir à pesquisa a base teórica da Crítica
14
Genética, sendo esta embasada por meio do livro de mesmo nome, de Cecilia Almeida Salles,
que auxiliou na crítica do processo de criação.
O quarto capítulo apresenta a análise de dois estereótipos de cada um dos três artistas
mapeados, Arnoldo Cagi, Jandr Reis e de Turenko Beça, por meio da teoria semiótica. Esta
investigação não trata apenas de mostrar a produção dos artistas citados, mas, visa identificar
no tempo e no espaço a grande relevância que o código, ou a linguagem, proporciona aos
apreciadores.
O quinto capítulo compreende à descrição dos artefatos mapeados e catalogados dos
três artistas emergentes, peças apresentadas em exposições na cidade de Manaus.
Diante desse desafio de compreender os aspectos da produção dos artistas citados,
aproveitamos para anexar alguns estereótipos, bem como imagens de exposições e premiações
de cada artista citado ou trabalhos coletivos apresentados pelos mesmos.
15
Muitos foram os artistas que participaram das exposições dos anos de 1990, sendo
alguns naturais da cidade de Manaus, outros que residiam no interior do estado do Amazonas,
e ainda pessoas de outras capitais e municípios do Brasil. Todos estes ganharam destaque nas
exposições de Manaus. A partir das análises de jornais, folhetos e entrevistas, podemos
identificar dois grupos de expositores. O primeiro compreende aos artistas experientes, alguns
iniciados nas Artes entre as décadas de 40, 50, 60, 70 e, sobretudo, 1980. Enquanto o segundo
grupo compreende aos artistas considerados emergentes, que ingressaram no início ou entre à
década de 90 no campo das Artes.
No primeiro grupo, que envolve os artistas mais antigos, podemos citar
personalidades como Moacir de Andrade (1927), Anísio Mello (1927), Sergio Cardoso
(1954), Otoni Mesquita (1953), Jair Jacqmont (1954), Óscar Ramos (1938), Rui Machado
(1956), Rita Loureiro (1952), Arnaldo Garcez (1957), Zeca Nazaré (1952), Roberto
Evangelista (1946), Bernadete Andrade (1953), Rita Loureiro (1952), Homero Amazonas
(1953), Eli Bacelar (1960,) Fernando Júnior (1960). Esses e outros artistas executaram
exposições individuais e coletivas que enriqueceram imensamente o cenário artístico da
cidade de Manaus e de outras capitais do Brasil e do mundo. Muitos desses artistas também
adquiriram experiências nos grandes centros culturais do país. A experiência adquirida pelos
16
artistas mais antigos nos centros artísticos do sudeste do país foi e continua sendo repassada
em lugares como ateliês da cidade de Manaus e no curso de Educação Artística da
Universidade Federal do Amazonas (UFAM), sendo este considerado um dos raríssimos
locais de graduação onde se adquire as regras do academicismo. Conforme ensinamentos do
artista plástico e professor da UFAM, Otoni Mesquita, “primeiro, você aprende a construir,
para depois desconstruir”. A longa trajetória desses artistas demonstra a relevância das Artes
na Amazônia no panorama das Artes Brasileira, sendo estes referências do Estado do
Amazonas em nível nacional e internacional.
O segundo grupo foi composto pelos artistas emergentes que ingressaram no início e
entre a década de 1990. Turenko Beça (1970), Jandr Reis (1968), Buy Chaves (1958),
Arnoldo Cagi (1966), Noleto (1953), Claudson Motta de Ouro (Manaus) (1974), Sebastião
Alves, Cristóvão Coutinho, Moacir Bittencour, Tiana Sampaio, Hellen Rossy são alguns
nomes dos novos artistas.
Encontramos indícios artísticos nos jornais de 1990 sobre artistas internacionais que
expuseram nas galerias da cidade de Manaus. A artista espanhola Montserrat Tordera foi um
dos raros exemplos de expositores de outros países que abrilhantaram o cenário artístico da
cidade. Essa exposição ocorreu na galeria da Casa da Cultura e do Centro de Artes Chaminé
(notícia publicada no Jornal A Crítica, no dia 08 de março de 1994, Caderno: A criação).
Outros artistas internacionais também passaram por Manaus, no entanto, a pesquisa em outra
ocasião poderá visualizar a importância desses expositores na cidade de Manaus.
O ensino na cidade de Manaus é bem longínquo, iniciado nos tempos que a mesma
ainda era província. Mesquita (2009, p.116, 117) Fazendo uma longa pesquisa sobre a história
da cidade de Manaus encontra na (Coleção de Leis da Província, 1876, Tomo V, p. 3), uma
lei1 que fala sobre a criação de um “Estabelecimento para educandos artifícies”, esse local
atendeu as “oficinas de marceneiro, ferreiro, sapateiro e alfaiate”. No ano de 1877, esse
estabelecimento recebe o nome de Instituto Amazonense, onde ocorreram várias aulas,
inclusive a de desenho, que foi comandada pelo tenente Carlos Luiz Davd. Mesquita (2009,
p.118).
1
Lei n.º 60 de 1856.
17
2
Jornal A Crítica, 19 de junho de 1996, caderno: Criação, p. D1.
18
ele ensinou foram gratuitos, na escola da União dos Estudantes Secundários do Amazonas
(1955), onde “Moacir Andrade ensinou desenho geométrico” Alencar (2009, p.05).
A carência no ensino de artes na cidade de Manaus leva alguns jovens da capital e de
outros municípios dos estados brasileiros a aprender o ofício na escola de Belas Artes, no Rio
de Janeiro, e nas escolas de Artes de São Paulo. Sergio Cardoso, Otoni Mesquita e Jair
Jacqmont são alguns dos raros artistas que bebem do ensino das escolas de artes do sudeste do
país. Alguns desses artistas amazonenses vão apenas para aperfeiçoar o dom. Na época, a
cidade de Manaus não possuía curso de nível superior em artes, somente nos anos de 1980 é
criado o curso de Licenciatura Plena em Educação Artística – Habilitações em Música e
Desenho pela resolução Nº 005/80 – CONSUNI de 14/08/1980 na Universidade do Amazonas
(UA), hoje Universidade Federal do Amazonas (UFAM). Mas foi em 1986 que o curso
tornou-se referência no estado (Brito, 2009, p. 320). Em 19943, o curso de Educação Artística
é reconhecido. Nesse tempo, os organizadores do curso já pleiteavam o desejo de criar os
cursos de Artes Plásticas, Artes Cênicas e criar o curso de bacharel em Artes.
Outros locais são o Centro de Artes Hahnemann Bacelar (1968), Escola Anísio
Melo, Serviço Social do Comércio - SESC, etc. Alguns desses locais são a continuidade do
ensino-aprendizagem dos grandes centros culturais mais antigos do país. Na escola do artista
Anísio Mello por volta do ano de 1994, o ensino tem influências de três escolas do sudeste
como ele afirmou em uma entrevista cedida ao Jornal A Crítica, do dia 16 de setembro de
1994, caderno: Criação, p. D, “Liceu de Arte de São Paulo, da Escola Pan-Americana de Arte
(SP), e da Escola Nacional de Belas Artes (RJ)”. No Ateliê de Artes da UFAM, existe Otoni
Mesquita, formado pela Faculdade de Belas Artes do Rio de Janeiro.
3
Fonte: RAMOS, Evandro de Morais, folheto,1ª Semana de Artes Plásticas, 22, 23 e 24 de junho de 2005.
19
sortidas. Essas produções não ficam reduzidas apenas às pinturas, mas compreendem também
instalações, esculturas, performances, fotografias, grafismos, xilogravuras e até mesmo na
utilização das novas tecnologias (computador).
Freire (1991)4 comentando sobre o olhar sensível dos artistas sobre a temática do
meio ambiente nos anos de 1990, explicitou que alguns dos novos artistas daquele tempo
“começaram a explorar agora esse tipo de arte. Mas há outros que há tempos desenvolvem a
mesma forma e até mais original. Roberto Evangelista é um dos poucos que podem falar sem
medo sobre esse tema”. Otoni Mesquita, professor do Departamento de Artes, pesquisador e
historiador da Universidade Federal do Amazonas, sempre defendeu a idéia dos artistas
amazonenses não perderem o foco de registrar a identidade regional amazônica. Corrobora
com essa idéia na entrevista noticiada no jornal Amazonas em Tempo, no dia 19 de agosto de
1992, na qual Otoni Mesquita afirma que a “linguagem não é o que se pinta, mas como se
transporta os temas para as telas”. Ao mesmo tempo ele declara que: “as obras refletem a
tendência geral” fazendo alusão ao ecletismo de cores, formas e poéticas infinitas equalizadas
às pinceladas naïf, abstracionista, impressionistas, expressionista, cubista, surrealista,
dadaístas, etc.
Amaral (2006, p. 66), comentando sobre a produção dos artistas brasileiros, inclusive
da cidade de Manaus, pontua que os grandes centros “afloram mais a produção das artes
visuais, e percebe-se mesmo um desejo de registrar o regionalismo” por meio de telas,
instalações, e às vezes por pigmentos e materiais da região, mesclados a combinações de
tintas. Logo, falar dos artistas de Manaus exigiria inúmeras observações e análises de suas
exposições e poética dos materiais, uma vez que cada produção possui características
particulares.
No dia 07 de abril de 1992, o SESC realizou uma exposição com temáticas voltadas
ao dia do índio, os materiais usados nesse evento foram fotografias das exposições de
Marechal Cândido Mariano Rondon relacionadas ao cotidiano indígena. Do dia 09 de
dezembro até o dia 20 do mesmo mês, Manaus vivenciou na galeria do SESC o IX Zonarte
(Zona de Artes). Esse evento, segundo Bell (1992)5, revelou um grande ecletismo de formas ,
e teve como objetivo “mostrar a expressão amazônica e manauara de todas as formas e de
acordo com o estilo de cada artista”. Nesse evento, foram mostradas mais de 100 obras,
algumas de artistas novos e antigos, sendo as produções expostas nesta amostra relacionadas à
Zona Franca de Manaus (ZFM), paisagens amazônicas, devastação da floresta, etc. Os objetos
4
Jornal Amazonas em Tempo do dia 27 de agosto de 1991 no caderno: Cultura do dia, p.5
5
Jornal A Crítica, 09 de dezembro de 1992, caderno: A criação, p. 1.
20
artísticos expostos foram confeccionados com materiais como cuia, pote, papelão, troncos de
árvores, entre outros.
Na ânsia de encontrarmos as produções de Arnoldo Cagi, Jandr Reis e Turenko Beça,
deparamo-nos com muitos artefatos de artistas antigos e novos no Palacete Provincial do
Estado do Amazonas, alguns da década de 90. A breve visualização nos artefatos dos outros
artistas de Manaus encontrados nos ateliês e no Palacete Provincial acabou nos levando a
compreender que os objetos artísticos dos anos de 1990 tendem a evocar e exaltar a
representatividade da floresta, animais, lendas, costumes indígenas, caboclo, misticismo,
simbolismo, etc. Esses objetos artísticos poderão ser analisados em outra ocasião.
No ano de 1993 do dia 10 de agosto, Rui Machado expõe alguns artefatos produzidos
em telas de grande formato, sendo os detalhes desses estereótipos voltados ao cotidiano
indígena, nos quais o artista equaliza as transformações industriais mediante o índio. Esses
artefatos são apresentados em pinturas. No dia 27 de fevereiro do mesmo ano, aconteceu uma
exposição internacional organizada pela empresa não governamental – Soka Gakai, a
exposição passou por cidades como Rio de Janeiro, São Paulo e Curitiba. Os estereótipos
expostos foram fotografias que reportaram à guerra, à fome, ao desmatamento sobre os
conflitos mundiais6. No dia 08 de maio de 1993, ocorre no salão da biblioteca pública a
exposição “O projeto7”, evento que revelou inúmeros materiais com novos conceitos, no qual
Jandr Reis apresenta formas com aspectos que faz alusão a anatomia humana e Turenko Beça
faz uma montagem por meio de sobras de compensados e ripas, revelando umas das infinitas
possibilidades das tendências contemporâneas.
No dia 11 de janeiro de 1994, no espaço do Centro de Artes Chaminé, o artista Jandr
Reis participa com uma exposição individual com o tema “New face8”. Os materiais expostos
foram telas de grande formato e instalações, nos quais o artista transmite o erotismo pela
equalização da mistura de cores fauves9 com pasteis, além de trabalhar com técnica de
6
Jornal Diário do Amazonas, 27 de fevereiro de 1993, caderno: Cidade, p.6.
7
Jornal A Crítica, 08 de março de 1998, caderno: Conexão Manaus, p. D4.
8
Tradução do Inglês: “Assim mesmo”
9
o fauvismo não é uma escola com teorias, manifestos ou programa definido. Para boa parte dos artistas que
adere ao novo estilo expressivo - com forte presença na França entre 1905 e 1907 -, o fauvismo representa
sobretudo uma fase em suas obras. Falar em vida curta e em organização informal de pintores em torno de
questões semelhantes, não significa minimizar as inovações trazidas à luz pelos fauves('feras'). O grupo, sob a
liderança de Henri Matisse (1869-1954), tem como eixo comum a exploração das amplas possibilidades
colocadas pela utilização da cor. A liberdade com que usam tons puros, nunca mesclados, manipulando-os
arbitrariamente, longe de preocupações com verossimilhança, dá origem a superfícies planas, sem claros-escuros
ilusionistas. As pincelas nítidas constroem espaços que são, antes de mais nada, zonas lisas, iluminadas pelos
vermelhos, azuis e alaranjados. Como afirma Matisse a respeito de A Dança (1910): "para o céu um belo azul, o
mais azul dos azuis, e o mesmo vale para o verde da terra, para o vermelhão vibrante dos corpos". Fonte:
Disponível em: <http://www.itaucultural.org.br> Acesso em: 06 outubro 2010.
21
10
Jornal A crítica, 05 de julho de 1994, Caderno: A criação, p. D1.
11
Jornal A Crítica, 08 de novembro de 1994, caderno: Criação, p. D1.
12
Jornal Amazonas em Tempo, 02 de maio de 1995, caderno 3: Arte Final, p.1.
13
Jornal Amazonas em Tempo, 06 de maio de 1995, caderno 3: Arte Final, p.4.
14
Jornal Amazonas em Tempo, 25 de abril de 1996, no caderno: Arte Final, p.2.
15
Jornal A Crítica, 29 de junho de 1996, caderno: Conexão Manaus, p. D1.
16
Claudson Mota de Ouro.
22
materiais com pinceladas que acenam ser dadaísta. A exposição teve por nome “Formas e
Texturas”.
Em 1997 do mês de outubro acontece a exposição do artista Turenko Beça, intitulada
“Exposição Morandugera17”, realizada na Galeria do Centro de Artes da Universidade do
Amazonas. Nessa exposição foram visualizadas lendas amazônicas, mitos e histórias. Os
objetos artísticos foram telas de grande formato equalizadas com pinceladas figurativas.
Nesse mesmo mês, alguns artistas da cidade de Manaus expõem 50 pinturas na cidade do Rio
de Janeiro, com estereótipos que reportam à floresta amazônica, monumentos históricos de
Manaus, devastação da floresta, a ação do ribeirinho na busca de alimentos. O evento teve por
título “Artistas Amazonenses18”, que reuniu entorno de 20 artistas e foi organizado pela artista
plástica Tiana Sampaio.
No ano de 1998, a “exposição Balls19”, do artista plástico Paulo Lino, foi realizada
no Palácio Rio Negro. As obras apresentadas relatam a utopia do autor pela igualdade social.
Os estereótipos expostos transmitem as temáticas da história da humanidade, em seu processo
evolutivo. Nesse mesmo ano, o artista plástico Jandr Reis realiza uma exposição denominada
“Carnívvoras et Perfummada20”, com telas confeccionadas em grande formato e temáticas
voltadas às flores da Amazônia, lírios e tulipas. O artista utiliza cores vivas nesses artefatos
para dá a impressão de pinceladas abstratas.
Em 1999 do dia 16 de maio, inaugura no show-room do SEBRAE a “exposição
Salão de Arte SEBRAE 9921”. Os materiais expostos foram pinturas, esculturas e instalações,
totalizando 60 estereótipos. O evento realizado no Liceu de Artes do Amazonas Esther Mello,
também teve a participação de 52 artistas entre iniciantes e antigos, tendo como curador
Anísio Mello. Alguns dos materiais expostos foram feitos de pedra, cimento, argila, pinturas
óleo sobre tela, entre outros. As temáticas exibidas estavam entre naturezas mortas, flores e
paisagens amazônicas. Nesse período, no palácio Rio Negro, o artista Óscar Ramos expôs 15
estereótipos elaborados com vidros, sementes, tecidos, tela, inseto, fotografia e cartolina, a
exposição “Chock’a’Block”. No dia 21 de março do mesmo ano, Otoni Mesquita faz uma
exposição de litogravuras produzidas por volta de 1982 a 1985. Nessa exposição, Mesquita
mostra quatro fases22: “Saudades da Minha Terra”, “Totens”, “Mulheres ao vento”,
“Mensagens ou Pedra sobre pedra”. Na primeira fase, Otoni reporta seus estereótipos a temas
17
Jornal A Crítica, 25 de outubro de 1997, caderno: Conexão Manaus, p. D1.
18
Jornal A Crítica, 29 de outubro de 1997, caderno: Conexão Manaus, p. D4.
19
Jornal A Crítica, 12 de março de 1998, caderno: Conexão Manaus, p. D4.
20
Jornal A Crítica, 03 de março de 1998, caderno: Criação, p. D1.
21
Jornal A Crítica, 27 de março de 1999, caderno: Criação, p. D2.
22
Jornal A Crítica, 21 de março de 1999, caderno: Conexão Manaus, p. D3.
23
ligados ao cotidiano do caboclo, como catar piolho, mulheres na beira do rio, além de
registrar os costumes sociais das elites. Já na segunda fase, Mesquita faz uma equalização de
formas de animais com vegetais, objetos considerados simbólicos, visando transmitir a
proteção das riquezas. Na terceira fase, o artista faz alusão à passagem e à proteção dos totens,
enquanto na última fase, o artista desenha formas nas pedras com materiais como tintas, graxa
e material químico.
Diante do extenso material de informações, delimitamos apenas nos artefatos das
produções de Arnoldo Cagi, Jandr Reis e Turenko Beça. Frente às obras mapeadas e
catalogadas nos respectivos anexos A, B e C, evidenciamos a diversidade de materiais
mesclados à combinação de nuances e pigmentos da região. As técnicas percebidas nessas
composições foram: óleo sobre tela, guache, infogravura e acrílica. Prontamente, podemos
afirmar que Manaus, nos anos de 1990, viveu também os mesmos frutos das efervescências
artísticas realizadas nas outras capitais do Brasil. As formas das instalações, assim como as
pinturas confeccionadas pelos artistas plásticos de Manaus aludem às tendências
contemporâneas realizadas nos grandes centros culturais do país: Rio de Janeiro e São Paulo.
Isto nos leva a crer que as influências desses locais não deixam de ser fruto dos ensinamentos
das escolas de Artes do sudeste do país, bem como das exposições públicas e privadas nas
décadas passadas.
EXPOSIÇÕES
Quanto às exposições realizadas nesse tempo, podemos destacar que muito tem a ser
explorado também. Os nomes atribuídos a cada evento coletivo e individual, por exemplo,
poderão revelar um universo infinito de linguagens poéticas. Os artistas de Manaus, em
determinadas ocasiões, trabalham com temáticas inspiradas na região, contextos nacionais e
de eventos internacionais de proteção ambiental, etc. Os nomes atribuídos às exposições, em
determinadas ocasiões, são fruto das salas de pintura. Oliveira (1993) falando sobre as
exposições artísticas da cidade de Manaus pontua que alguns artistas mais antigos atuaram
como curadores23 nas galerias de Manaus, como Jair Jacqmont, Sergio Cardoso, Otoni
Mesquita e Moacir Andrade, ofício este que continuam praticando. Na época de 1991, Jair
Jacqmont administrava o Centro de Artes do Estado. Nesse mesmo período, Jacqmont
intitulou alguns nomes às exposições, como “O Projeto”, para fazer alusão a alguns conceitos
23
Jornal Amazonas em Tempo, dia 13 de maio de 1993, no caderno: Cultura 3º.
24
de artes ensinados aos alunos. Estes, por sua vez, teriam que apresentar resultados nas
exposições acerca do ensino-aprendizagem na sala de pintura.
No Jornal A Crítica do dia 20 de agosto de 1991, caderno: Cidade, p.624, aconteceu à
exposição “Imagens do interior” que fez alusão à “história dos caboclos e suas relações com o
meio ambiente”. A mostra coletiva teve a participação de 14 artistas, novos e antigos, dentre
eles Fernando Júnior e Homero Amazonas, personalidades da pintura amazonense que
marcaram presença com seus estereótipos.
Bell (1992) revela outros eventos artísticos realizados na cidade Manaus, um deles é
o Zonarte25. Esse evento realizado pelo Serviço Social do Comércio – SESC, em sua décima
primeira edição, foi dividido em cinco partes: Manaus, a luz, a cor, o movimento, a cidade;
Experiência com arte e paisagem amazônica; Arte Manaus Experiência; Artistas de paisagem;
Salão da diversidade artística. Essas exposições tinham por objetivo “mostrar a expressão
amazônica e manauara de todas as formas e de acordo com o estilo pessoal de cada artista”.
Esse evento reuniu em torno de 40 artistas com aproximadamente 100 obras, e teve por
curadoria o artista Sérgio Cardoso. Não poderíamos esquecer de acentuar que no governo
Gilberto Mestrinho (1991, 1992), o Centro de Artes, naquela época chamado de ex-
Pinacoteca, passando ao nome de Biblioteca Pública do Estado, abrigou também exposições
de artistas falecidos, como Manuel Santiago, A. Rocha, Afrânio Castro, Manuel Borges.
Informação publicada no Jornal A crítica no dia 01 de agosto de 1991, p.7.
Em determinadas exposições os artistas brincam com os nomes, modificando a
estrutura da palavra, em outras existem artistas que nomeiam suas exposições no idioma
inglês. Exemplificado, no anexo C1, o artista Turenko Beça organiza uma exposição que
recebeu o título no idioma inglês, “Black or What?”. Algumas das exposições realizadas na
cidade de Manaus nos anos de 1990 foram: “Arte do Liceu”, “Esther Mello”, “Salão Nacional
de Artes Plásticas do Amazonas”, “II Salão Novos Talentos”, “II Salão Novos Talentos”,
“Itinerante”, “Manaus, a luz, a cor, o movimento”, “Panorama da Pintura Manauara e
Contemporânea”, “Salão Plástica Amazônia 98”, “Novolhar sobre Manaus”, “Inaugural
Centro de Artes Chaminé”, “Manaus, Tempo e Imagem”, “Dia dos Artistas”, “Black or
What?”, “Moranduguera”. Essas são algumas das inúmeras exposições individuais e coletivas
realizadas na cidade de Manaus (Verificar anexo A1, B1 e C1).
Os locais de realizações desses eventos foram em ambientes públicos e particulares
como o Centro de Artes Chaminé, a Casa da Cultura, o Centro de Artes Hahnemann Bacelar,
24
Jornal Diário do Amazonas, do dia 08 de agosto de 1991, caderno: Cidade, p.6
25
Jornal A Crítica, do dia 09 de dezembro de 1992, caderno: A criação, p. 1
25
No que compete aos órgãos responsáveis pelo setor cultural da cidade de Manaus,
deparamo-nos com a Fundação Villas-Lobos27, um dos raríssimos locais dos anos de 1990
que contribuíram para a divulgação dos segmentos artísticos da cidade de Manaus. Costa
(2011) pesquisando sobre os setores responsáveis pela cultura no Estado do Amazonas
explicita que:
Percebe-se que nesse tempo não existia um cuidado especial com a produção artística
na cidade, e mesmo no início dos anos de 1990 o Ministério da Cultura28, criado na gestão de
José Sarney, foi derrubado pelo presidente Fernando Collor (1990-1992). Na época, a lei
Sarney Lei nº 7.505, de 02 de julho de 1986 foi um dos avanços mais importante para o
investimento da cultural no país. A indústria artística no país sofreu terríveis modificações no
26
Mensagem à Assembleia Legislativa, Manaus 15 de fevereiro de 1991, Amazonas (Estado) Governador
Vivaldo Barros Frota 1990, p. 45.
27
A Fundação Villa- Lobos (FVL) foi criada na cidade de Manaus em outubro de 1987 pelo Decreto nº. 5.963
com a finalidade de amparar e estimular as produções artísticas locais. A proposta era promover os diversos
segmentos artístico-culturais da cidade de modo a descobrir, resgatar, produzir e divulgar o trabalho artístico.
COSTA, Rila Arruda da. Política cultural no Amazonas (1997 – 2010). Manaus: UFAM, 2011.
28
Criado e 1985. Fonte: Economia da arte e da cultura/organização César Bolanõ, Cida Golin e Valério
Brittos – São Paulo: Itaú Cultural; São Leopoldo: Cepos/Unisinos; Porto Alegre: PPGCOM/UFRGS; São
Cristóvão: Obscom/UFS, 2010.
26
se deu, principalmente, graças aos artistas antigos e novos que continuam guardando em seus
arquivos pessoais os recortes dos jornais, fotografias e estereótipos dessa época.
29
Fonte: Cesar de Lima (2011) (com base na entrevista realizada no dia 15 de outubro de 2011, concedida por
Cagi).
30
SILVA, Lara Nuccia Guedes da. Panorama da Pintura Contemporânea Amazonense. Manaus: Valer /
Governo do Estado do Amazonas, 2003.
28
conhecimentos na técnica de restauro, orientado pelo professor Edson Mota. Atuou como
professor assistente do Liceu de Artes do Amazonas Esther Mello.
Atualmente estuda Filosofia na Faculdade Salesiana Dom Bosco - FSDB, além de
ensinar e desenvolver trabalhos artísticos.
No que se refere às obras produzidas por Arnoldo Ramos Cagi, verificar anexo A.
Quanto às exposições e premiações verificar anexo A1.
32
Fonte: Cesar de Lima (2011) (com base na entrevista realizada no dia 10 de dezembro de 2011, concedida por
Beça).
33
FREIRE, Wilsa (1992) no Jornal A Crítica no dia 18 de março de 1992, do caderno Criação, p. 04.
30
Turenko Beça possui uma produção extensa, alguns dos artefatos confeccionados nos
anos de 1990 poderão ser apreciados no anexo C. Quanto às exposições e premiações verificar
no anexo C1.
4 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Essas são algumas das questões que deixam muitos intrigados. Parece que o assunto
não tem relação com nossa realidade. No entanto, é através da semiótica que podemos
compreender como o cognitivo age diante de todas as coisas do mundo. Peirce (1990, p. 21) já
falava que “o fato de um leitor deliberadamente procurar instruir-se num tratado de lógica é a
prova de que ele já fez algumas observações e reflexões, e de que já adquiriu certas
concepções”. Logo, por meio da semiótica de Peirce é possível observar, refletir e analisar a
materialidade dos objetos existentes. Utilizando a tríade de Peirce nas Artes Plásticas, por
exemplo, é possível visualizar uma cadeia de códigos impregnados no artefato, além de
descobrir significações do objeto, bem como causa, ações e efeitos do pensamento cognitivo
do artista e também do apreciar do artefato.
Zago (2009, p. 82.) pontua que: “a principal função da Semiótica desenvolvida por
Charles Sanders Peirce é classificar os objetos do mundo, para que as ciências aplicadas
possam pesquisar todo e qualquer fenômeno, bem como classificá-los em categorias gerais”.
Entende-se que esse campo científico auxilia qualquer pesquisador nas observações, ensino e
esclarecimento de assuntos explorados, e em fase de exploração.
31
O SIGNO
Nos manuscritos de Peirce (1990) existem diversas definições sobre o signo. Para ele
“qualquer coisa que conduz alguma outra coisa (seu interpretante) a referir-se a um objeto ao
qual ela mesma se refere por sua vez, em signo, e assim sucessivamente ad infinitum.”
(PEIRCE, 1990, p. 74, grifos do autor)
Segundo o autor supracitado entende-se que signo é uma identificação que é
atribuída para um ser existente ou inexistente. Este tem como finalidade representar o objeto,
mas sua representação não tem o poder de substituí-lo. Exemplificando, o nome Teatro
Amazonas designa uma identificação para uma arquitetura antiga da cidade de Manaus, essa
nomenclatura estipulada é o signo de representação do Teatro Amazonas. Todavia, esta
representação não tem o poder de corporificá-lo e muito menos substituí-lo, apenas designa
referências ao teatro.
32
AS DIVISÕES DO SIGNO
Pelo entender de Peirce, o signo para ser signo necessita de uma ação conjunta
(representamem, objeto e interpretante). Esse conjunto é chamado de semiose, porque
segundo Peirce existe intercâmbio entre ambas as partes, ou seja, dependência de ambas as
partes para ocorrer à interpretação do objeto dinâmico. Santaella (2002, p. 24), uma das
observadoras da semiótica de Peirce, exemplifica que: “o livro está lá na livraria, o mesmo é
carregado de informações que ainda não foram interpretados e que tão logo necessite de um
interprete”. A mesma pode acontecer com o cheiro de um perfume, ou simplesmente na
observação de um pintura, escultura, performance, etc.
O que é o objeto imediato e objeto dinâmico? Peirce (1990, p. 177, grifos do autor),
revela a diferença entre ambos pontuando que:
Objeto Imediato, que é o Objeto tal como o próprio Signo o representa, e cujo Ser
depende assim de sua Representação no Signo, e o Objeto Dinâmico que é a
realidade que, de alguma forma, realiza a atribuição do Signo à sua Representação.
OS INTERPRETANTES
33
Vejamos o que Peirce (1990, p. 177, grifos do autor) declara acerca dos
interpretantes:
Vejamos agora uma das partes da pesquisa que utilizaremos para analisar as obras
artísticas dos artistas Arnoldo Cagi, Jandr Reis e Turenko Beça.
Nesse primeiro momento, vejamos a tabela 1, extraída do livro de Santaella (2002,
p.62) acerca da classificação dos signos e subdivisões segundo o pensamento do autor
supracitado.
O SIGNO EM SI MESMO
34
Um Qualissigno é qualquer qualidade, na medida em que é um sinal. Uma vez que uma qualidade é
positivamente em si, uma qualidade que só pode denotar um objeto em virtude de algum ingrediente comum ou
semelhança, de modo que um qualissigno é necessariamente um ícone. Além disso, uma vez que uma qualidade
é uma simples possibilidade lógica, apenas pode ser interpretado como um sinal de substância, isto é, como um
rema. “Texto traduzido” (CP 2.254, tradução nossa).
35
Peirce aclara que o sinsigno é a ação que revela o algo existente, ou seja, o signo que
faz referência ao objeto. É importante ressaltar que a materialidade do objeto designa uma
convenção para o ser existente.
No entender de Zago (2009, p.93), Peirce quis dizer que “a partir das qualidades do
signo, podemos chegar mais próximo ao sin-signo”. Isto nos revela que por meio do esquema
do signo podemos achar as características intrínsecas de sua complexidade funcional.
Exemplificando: ao mirarmos para uma placa de ônibus antes de sabermos que ela é uma
placa de ônibus, imediatamente as qualidades que estão na placa começam a ser montada por
nossa visão, ocorrendo uma conexão entre sentido e cognitivo (visão e mente). A visão, porta
de entrada das informações, capita a cor, traços, simetria, signo verbal, etc. Enquanto que a
mente processa as informação colhidas. Assim que nosso cognitivo recebe essa carga de
informação o sinsigno emerge. Este processo de codificação identifica o signo. Neste caso, a
placa que foi observada é uma placa de ônibus.
258. An Iconic Legisign [ e.g., a diagram, apart from its factual individuality ] is any
general law or type, in so far as it requires each instance of it to embody a definite
quality which renders it fit to call up in the mind the idea of a like object. Being an
Icon, it must be a Rheme. Being a Legisign, its mode of being is that of governing
single Replicas, each of which will be an Iconic Sinsign of a peculiar kind (CP
2.258).36
35
Um sinsigno icônico [e. g., um diagrama indivíduo] é qualquer objeto de experiência na medida em que
alguma qualidade torna-se determinar a idéia de um objeto. Sendo um Ícone, e, portanto, um cantar puramente
por semelhança, de tudo o que pode ser, só pode ser interpretado como um cantar de essência, ou Rema. Ele vai
encarnar uma Qualissigno. “Texto traduzido” (CP 2.255, tradução nossa).
36
Um legissigno icônico [por exemplo, um diagrama, para além da sua individualidade factual] é uma lei geral
ou tipo, na medida em que exige que cada instância dele para encarnar uma qualidade definida que o torna apto a
chamar-se na mente do idéia de um objeto semelhante. Sendo um Ícone, deve ser um Rema. Sendo um
legissigno, seu modo de ser é a de que regem réplicas individuais, cada uma das quais será um sin-signo icônico
de um tipo peculiar. “Texto traduzido” (CP 2.258, tradução nossa).
36
An Icon is a sign which refers to the Objeto that it denotes merely by virtue of
characters of its own, and which it possesses, just the same, whether any such Object
actually existent or not. It is true that unless there really is such an Object, the Icon
does as a sign; but this has nothing to do with its character as a sign. Anything
whatever, be it quality, existent individual, or law, is a Icon of anything, in so far as
it is like that thing and used as a sign of it (CP 2.247).37
O ícone possui uma qualidade que pode ser relativa ou não ao seu objeto no tempo e
espaço. Isto significa que uma determinada réplica poderá possuir uma bagagem de
informações extraídas de valores culturais com o propósito de identificá-lo. É relevante
considerar que nem sempre o ícone carrega traços de seu objeto, este poderá ser regido de
leis, ainda que as qualidades não sejam idênticas. Outra forma de observar um determinado
ícone segundo os estudos de Peirce são nas características que um determinado objeto
dinâmico com seu representamem pode indicar para uma sociedade particular ou em geral,
este evento pode ser uma identificação cultural. Essas características podem estar nos aspectos
visuais ou simplesmente por atitudes ou leis.
37
Um ícone é um signo que se refere ao Objeto que denota apenas em virtude de caracteres próprios, e que
possui, da mesma forma, se tal objeto realmente existente ou não. É verdade que, se realmente existe tal objeto, o
ícone não como um sinal, mas isso não tem nada a ver com seu caráter como um sinal. Qualquer coisa, seja a
qualidade individual existente, ou a lei, é um ícone de qualquer coisa, na medida em que ela é como essa coisa e
utilizado como um sinal. “Texto traduzido” (CP 2.247, tradução nossa).
37
Peirce (1990, p. 64, grifos do autor) descobriu em sua vasta pesquisa outras três
classificações dentro do ícone outros hipoícones. Vejamos como esses hipoícones são
apresentados:
248. An Index is a sign which refers to the Objeto that it denotes by virtue of being
really affected by that Object. It can’t, therefore, be a Qualisign, because qualities
are whatever they are independently of anything else. In so far as the Index is
affected by the Object, it necessarily has some Quality in common with the Object,
and it is in respect to these that it refers to an Icon of a peculiar kind; and it is not the
mere resemblance of its Object even in these respects which makes it a sign, but it is
the actual modification of it by the Object (CP 2.248).38
Para Peirce, o índice indica a veracidade do objeto. Zago (2009, p 94) exemplifica
que “a fotografia é classificada como um signo de secundidade, ou seja, um índice”. Por
representar similaridade com o objeto. A fotografia carrega detalhes reais que pertencem ao
objeto. A mesma coisa pode acontecer com nosso registro digital, a pegada de um animal, a
marca de uma roda, anúncios de cartazes, placas de trânsito, revistas, jornais, etc.
38
248. Um índice é um signo que se refere ao Objeto que denota em virtude de ser realmente afetado por esse
objeto. Ele não pode, portanto, ser um Qualissigno, porque as qualidades são o que são, independentemente de
qualquer outra coisa. Na medida em que o índice é afetado pelo objeto, ele necessariamente tem alguma
qualidade em comum com o objeto, e é em relação a estes que se trata de um ícone de um tipo peculiar, e não é a
mera semelhança de seu objeto, mesmo nesses aspectos que o torna um sinal, mas é a modificação real do que
pelo objeto. “Texto traduzido” (CP 2.248, tradução nossa).
38
293. A symbol is a law, or regularity of the indefinite future. Its Interpretant must be
of the same description; and so must be also the complete immediate Object, or
meaning. P1 But a law necessarily governs, or "is embodied in" individuals, and
prescribes some of their qualities. Consequently, a constituent of a Symbol may be
an Index, and a constituent may be an Icon (CP 2.293).39
Peirce entende que o símbolo é uma lei cultural que designa potencialidades e
direitos particulares para um objeto imediato. Zago (2009, p.95) elucida que “existe uma
relação arbitrária e de convenções sociais e culturais”. Logo, entende-se que tanto símbolo
quanto objeto podem ser diferentes em aspectos, formas e normas, mas que existem conexões
entre ambos. Exemplificando, a marca da Coca-Cola, Nike possuem normas particulares e
específicas apesar do símbolo ser diferente. Outro exemplo são os bois da cidade de Parintins
do estado do Amazonas, cada um possui seus respectivos símbolos. Os bois Caprichoso e
Garantido carregam em suas testas símbolos diferentes. O Caprichoso uma estrela em tom
azul, o boi Garantindo um coração na tonalidade vermelho. Esses símbolos indicam a
diferença dos bois, bem como suas empresas regidas pelas regras e normas.
Tudo que está diante de nossos sentidos poderá ou não ser interpretado. Nosso
cognitivo constantemente interpreta inúmeros acontecimentos. Ao abrir os olhos nosso
cognitivo entra em processo de aptidão, assim acontece com os outros quatro sentidos:
audição, olfato, paladar e tato. Esses sentidos são as portas de entrada (contato) com o meio.
Assim que os sentidos captam as qualidades do objeto, a mente em seguida fornece a
informação. Pelos estudos de Peirce entende-se que nossas experiências com o meio,
materializa o signo. Vejamos a terceira e última relação de interpretação segundo Peirce
(1990, p. 95, grifos do autor). “A Rheme is a sign which, for its Interpretant, is a Sign of
39
293. Um símbolo é uma lei, ou regularidade do futuro indefinido. Seu interpretante deve ser da mesma
natureza, e assim deve ser também o objeto imediato completo, ou significado. P1 Mas uma lei necessariamente
governa, ou "se encarna em" indivíduos, e prescreve algumas de suas qualidades. Consequentemente, um
componente de um símbolo pode ser um índice e um constituinte pode ser um ícone. “Texto traduzido” (CP
2.293, tradução nossa).
39
qualitative Possibility, that is, is understood as representing such and such a king of possible
Object.” (CP 2.250).40
A rema para Peirce significa suposições cognitivas de causas mediante ao objeto
dinâmico. Essas causas são consequências de interpretações mínimas das qualidades
existentes do objeto. Nosso cognitivo não consegue interpretar a essência do signo. A rema
apenas transmite pequenas qualidades do signo. Muitas vezes quando observamos uma
pintura apenas sentimos suas cores, no entanto seu significado fica distante, gera incertezas,
dúvidas.
251. A Dicent Sign is a sign, which, for its Interpretant, is a Sign of actual existence.
It cannot, therefore, be an Icon, which affords no ground for an interpretation of it as
referring to actual existence. A Dicisign necessarily involves, as a part of it, a
Rhema, to describe the fact which it is interpreted as indicating. (CP 2.251).41
252. An Argument is a Sign which, for its Interpretant, is a Sing of law. Or we may
say that a Rheme is a sign which is understood to represent its object in its
characters merely; that a Dicisign is a sign which is understood to represent its
object in respect to actual existence; and that an Argument is a Sign which is
understood to represent its Object in its character as Sign. Since these definitions
touch upon points at this time much in dispute, a word may be added in defence of
them (CP 2.252).42
40
A rema é um sinal de que, para o seu Interpretante, é um Signo de possibilidade qualitativa, ou seja, é
entendido como representando tal e tal rei do possível objeto. “Texto traduzido” (CP 2.250, tradução nossa)
41
251. Um dicente é um sinal de que, para seu interpretante, é um sinal de existência real. Não pode, portanto,
ser um ícone, que não oferece qualquer fundamento para uma interpretação de como se referindo a existência
real. Um dicente envolve necessariamente, como uma parte da mesma, um rema, para descrever o facto de que
ele é interpretado como uma indicação. “Texto traduzido” (CP 2.251, tradução nossa).
42
252. Um argumento é um signo que, para seu interpretante, é um cantar de direito. Ou podemos dizer que um
rema é um sinal de que é compreendido para representar seu objeto em seus personagens simplesmente, que um
dicente é um sinal de que é compreendido para representar seu objeto no que diz respeito à existência real, e que
um argumento é um sinal que é compreendido para representar seu objeto em seu caráter de sinal. Uma vez que
estas definições tocam pontos neste momento muito em disputa, uma palavra pode ser adicionada em defesa
deles. “Texto traduzido” (CP 2.252, tradução nossa).
40
O argumento segundo Peirce alude ao resultado cognitivo concreto do objeto que foi
observado pelo individuo. Em outras palavras, um argumento bem sucedido deve estar
sustentado nas leis das ciências normativas, porque por meio delas podemos encontrar a
veracidade de informações, porque tudo que o homem produz é ciência. É importante frisar
que não somos dominadores das leis e razões. Exemplificando, o símbolo das emissoras Rede
Globo, SBT, Record, Bandeirantes, etc, denota uma interpretação argumentativa, devido as
emissoras possuírem papel de empresas, cada empresa citada possui suas equipes técnicas
responsáveis por diversas programações culturais, jornalísticas, etc.
5. CRÍTICA GENÉTICA
41
Os primeiros estudos genéticos em Paris foram tão frutíferos, e ao mesmo tempo tão
reveladores que a nova ciência ganhou inúmeros discípulos em diversos locais do mundo,
inclusive no Brasil, Cecília Almeida Salles é um dos raros exemplos no país. No estado do
Amazonas, temos a professora doutora Rosemara Staub de Barros Zago e o professor Valter
Frank de Mesquita Lopes, que a cada dia procuram aprofundar e expandir seus estudos nesse
campo científico, promovendo debates com alunos em sala de aula e levantado pesquisas
acerca de materiais genéticos, inclusive de iniciação científica.
Salles (1998, p. 28) deixa claro que o objetivo geral do estudo da crítica genética
“está voltado para o processo criativo artístico. Trata-se de uma investigação que indaga a
obra de arte a partir de sua fabricação. Como é criada uma obra? Essa é sua grande questão”.
Lopes (2005, p.15-16) levantando um estudo aprofundado sobre o “processo de criação digital
na produção do Amazonas” encontra nos estudos de Cecilia Almeida Salles conceitos acerca
da gênese do processo de criação denominados “causação final e causação eficiente”. Lopes
nos revela com mais clareza este conceito pontuando que:
O propósito pelo qual o artista busca num simples ato de rascunhar o papel, denota
uma causa eficiente. Esta é fundamental para que o propósito almejado pelo criador
seja alcançado. O que ocorre na realidade é uma sucessão de causas eficientes, pois
o objetivo maior não é atingido, já que se encontra numa trama infinita de
experimentação de suas atividades criadoras – um rascunho sucedendo outro e este
um outro mais até se chegar num ponto aceitável pelo artista, a obra pronta.
42
Nesse sentido o ato criador dos artistas é bem mais amplo do que podemos imaginar,
isto porque o processo de criação abarca desde o início das esquematizações de rascunhos,
esboços e anotações para chegarmos aos resultados específicos do estereótipo que Lopes
(2005, p.26) elucida ser “a secundidade, como causa eficiente da qual depende a causação
final para atualizar o signo, e assim gerar a obra de arte”. Salles (1998 p. 26) “ressaltar que,
embora estejamos conscientes de que a Crítica Genética não tem acesso a todo o processo de
criação — não temos o ato criador nas mãos -, mas apenas a alguns de seus índices”, isto nos
leva a crer que existem inúmeras conexões de redes no processo de criação, variando de
artista para artista. Dessa forma, o “movimento criador” de cada artista pode ser mais
complexo pelas habilidades e conhecimentos ou simplesmente simplificado.
Salles (1998, p. 34) aclara que a “pesquisa procura estabelecer relações entre esses
registros, de aparência fragmentária.” Entende-se que os artefatos não são feito de qualquer
forma, porque o criador (artista) transfere e materializa suas esquematizações e planejamentos
por meio de anotações, rabiscos e até mesmo por meio das “tecnologias computacionais”
como pontua Lopes (2005). Esses documentos são as primícias do processo de criação. Salles
(1998 p. 38) fala que esses documentos são conhecidos como “documentos de processo”, por
que esses são os “registros materiais do processo criador. São retratos temporais de uma
gênese que agem como índices do percurso criativo. As fronteiras” (ZAGO, 2002, p. 33). A
pesquisadora explicita que “o movimento desta ação processual nos mostra a criação em seu
estado de constantes metamorfoses, o que não é privilégio somente dos manuscritos literários,
mas de todo tipo de ação em processo”. Entende-se que a gênese do processo criativo está
vinculada às mutações entre objeto e documentos, podendo esses dois revelar novas
significações.
Salles (1998, p. 45) fala também que existe outro aspecto interessante da gênese do
processo de criação artística chamado de “aspecto comunicacional”. Esse processo faz
referência ao “caráter intrapessoal, um exemplo de dialogismo interno”, que o crítico genético
precisa externar as informações existentes das anotações, esboços, esquemas, etc., para
melhor compreendermos as mensagens e as características intrínsecas e particulares do objeto
artístico em sua dimensão.
O crítico genético por ser o investigador dos registros e ao mesmo tempo o indivíduo
que transcreve a materialidade da obra necessita também utilizar “um tratamento teórico fiel à
43
natureza do objeto”, como Salles (1998 p. 76) salienta ser mais que importante para a
relevância da análise. Nesse sentido, ambos os registos e teorias devem fazer conexão de
linguagens para deixar em evidencia a gênese do processo.
6. OS ELEMENTOS VISUAIS
Todos os dias somos afetados por inúmeros códigos prestes a serem codificados por
nosso cognitivo. Essas influências são consequências dos elementos visuais. Cada elemento
possui sua especificidade. Basta olhar para qualquer coisa do cotidiano e perceber a influência
na visão, tato, olfato, paladar, audição. Por meio do ponto, linha, forma, cor, volume é
possível construir infinitas maneiras de representar projetos, desenhos, rabiscos, esquemas,
caricaturas, croquis, plantas. Algumas áreas que utilizam esses códigos são as: Artes Plásticas,
Artes Visuais, Design, Moda, Arquitetura, Engenharia, etc.
A. Dondis (1997, p. 7), uma das pesquisadoras sobre a influência dos elementos,
pontua que a experiência visual “é fundamental no aprendizado para que possamos
compreender o meio ambiente e reagir a ele; a informação visual é o mais antigo registro da
história humana. As pinturas das cavernas representam um relato mais antigo que se
preservou sobre o mundo”.
Isto significa que o homem primitivo deixou um grande legado de experimentações
marcadas por pigmentos nas paredes das cavernas. No passado, esse homem para comunicar-
se utilizava diversos pigmentos extraídos da natureza, a fim de delinear o código. Alguns dos
recursos usados foram: argilas, óleo, sangue, etc. Algumas dessas primeiras experimentações
são copiadas até os dias de hoje, no entanto, com novas ferramentas como lápis, canetas,
pincel, tintas e etc. Esses materiais quando bem utilizados facilitam na percepção visual.
Vejamos agora a influência dos elementos visuais segundo alguns autores.
O PONTO
A LINHA
A FORMA
Para A.Dondis (1997, p. 23) “as formas básicas, o círculo, o quadrado, o triângulo e
todas suas infinitas variações, combinações permutações de planos e dimensões; a direção, o
impulso de movimento que incorpora e reflete o caráter das formas básicas”. Para Gomes
Filho (2000, p.44), o plano “é definido como uma sucessão de linhas. Em geometria, um
plano, por definição, tem somente duas dimensões: largura e altura. No espaço, porém, não é
possível expressar um plano sem espessura, tem de existir como algo material”.
Segundo o posicionamento dos autores entende-se que plano é o encontro e
conexão de duas ou mais linhas. Esse ligamento compõe a forma bidimensional. Esse
elemento visual tem por característica: variação de tamanho e largura, geometrização e
limitação (finito).
A COR
A.Dondis (1997, p. 23) classifica a cor como a “contraparte do tom com o acréscimo
do componente cromático, o elemento visual mais expressivo e emocional”. Para Gomes
Filho (2000, p.65), “a cor é a parte mais emotiva do processo visual. Possui uma grande força
45
e pode ser empregada para expressar e reforçar a informação visual. É uma força poderosa do
ponto de vista sensorial”.
Conforme as definições dos autores, compreende-se que as cores expressam ações de
sentimento devido à complexidade de tons. Basta olhar para qualquer coisa do mundo e
perceber na retina a ação desse elemento visual.
VOLUME
“O volume, ou solidez tridimensional é um efeito que pode ser criado por meio de
artifícios, como na pintura, no desenho, na ilustração e outros, sobre superfície plana. Sua
qualidade visual é a mesma em todos os casos” (FILHO, 2000, p. 45). Ostrower (2004, p.72)
pontua que esse elemento visual é “qualquer volume que representa um conjunto de planos
em superposições diagonais. Alguns dos planos poderão encontrar-se atrás de outros,
escondidos, fora de nossa vista”.
Baseado nos conceitos dos autores entende-se que a altura, largura e profundidade
são algumas características específicas do volume, e poderemos evidenciar esse processo por
meio de representações gráficas em um simples pedaço de papel, madeira, tela, caderno de
desenho e etc. A utilização do dêgrade a partir do jogo de cores, linhas e até mesmo pontos,
causa na forma um efeito especial de sombreamento e a dimensões da forma.
46
O quadro em análise foi produzido ano de 1993, essa tela é uma das mais antigas
obras produzidas por Cagi. Apesar de esse estereótipo ter sido confeccionada recentemente,
seus qualissignos intrínsecos sofreram algumas modificações do tempo, contudo, ainda é
possível compreender o planejamento que o artista inseriu em toda proporção da tela.
As cores visualizadas são: branco, azul, marrom e verde. O verde e marrom são as
nuances mais utilizadas. Essas cores são misturadas com outras tonalidades: branco, amarelo
e vermelho, resultando em dêgrade de tons claros e escuros. As linhas são pouco visualizadas,
devido à preocupação do artista em querer diluir as gradações. Arnoldo Cagi procura sobrepor
as nuanças a fim de camuflar as linhas. Esses detalhes são algumas das qualidades percebidas
nesse estereótipo.
Utilizando a lógica de Peirce, acerca do sinsigno, percebe-se que a presente imagem
é fruto de uma reprodução fotográfica do existente real, ou seja, do artefato do artista Arnoldo
47
Cagi, o idealizador do movimento criador deste objeto dinâmico. A pintura de Cagi evoca um
breve recorte dos aspectos da natureza em pinceladas naïf e figurativas43. Essas informações
intrínsecas do objeto dinâmico aludem ao legissigno.
Terminada a primeira parte, vejamos a segunda parte que compete a relação do signo
para o objeto, conforme a tríade de Peirce. Para compreender a imagem, dividimos o
estereótipo em quatro partes: superior, lateral direita, esquerda e inferior. Seguindo este
planejamento, iniciamos a segunda parte da análise pela parte superior da tela. A cor azul
clara é uma das cores evidenciadas, o artista utiliza essa nuance para evocar a representação
icônica do céu. Sobre esse tom azul a cor branca é mesclada ao amarelo claro evocando ser a
representação icônica das nuvens. O esquema representado pelo artista também simula um
fundo infinito devido à sutileza das cores.
A cor verde é visualizada no lado direito e esquerdo da tela. Essa tonalidade
esverdeada foi usada para indicar as representações icônicas de várias árvores, quanto a cor
marrom, Cagi usa para indicar o tronco das árvores, a cor branca adicionada sobre a cor
marrom alude ser o sombreamento dos troncos das árvores. Esses elementos estão
sobrepostos à representação sígnica de um barranco na tonalidade ocre combinado com o tom
marrom e branco. Esses pequenos detalhes “são considerados imagens porque imitam,
esquematizando visualmente, as pessoas e os objetos do mundo real”. Joly, (1996, p.18).
Passando para o lado esquerdo da pintura é possível visualizar mais representações
icônicas de árvores aglomeradas. Essas representações foram pinceladas na tonalidade verde
clara. O efeito claro dessas representações parece mesclar ao tom azul claro do céu
ocasionando profundidade e a idéia de infinito.
Visualizando o canto inferior esquerdo da tela encontramos graduação de pinceladas
feita com tons: verde claro, verde escuro, e amarelo. Essas pinceladas formam a representação
icônica de uma vegetação toda gradual, harmônica, em primeiro plano. Prosseguindo nesta
mesma parte inferior da tela, verifica-se no segundo plano a representação icônica de um rio
nas cores branco, marrom e amarelo claríssimo para evocar uma água barrenta. A cor verde
escura é dissolvida com um pouco de branco para causar a representação icônica do reflexo
das árvores na água. Essas foram algumas das relações do objeto dinâmico visualizadas.
43
Tipo de arte que se desenvolve principalmente na pintura pela representação, de seres e objetos em suas
formas reconhecíveis para aqueles que as olham. Na arte ocidental a prática da arte figurativa só se transforma,
perdendo sua soberania, a partir do início do século XX, com o surgimento da arte abstrata, que busca expressar
o mundo interior, o mundo dos sentidos, bem como relações concretas usando como referência apenas os
recursos da própria pintura, como a cor, as linhas e a superfície bidimensional da tela.
Disponível em: <http://www.itaucultural.org.br> Acesso em: 09 outubro 2010.
48
44
Fonte: Cesar de Lima (2011) (com base na entrevista realizada no dia 15 de outubro de 2011, concedida por
Cagi).
49
A primeira impressão em relação à segunda pintura está na força das cores, além da
diversidade de elementos visuais: linhas, volumes e texturas ocasionadas pelo escorrimento
das tintas. A união desses códigos evoca especificidade no artefato, ou seja, qualidades
intrínsecas que pertencem ao objeto dinâmico. As cores visualizadas nesta pintura são
tentativas de combinações. No primeiro plano uma mancha avermelhada com a interferência
das cores laranja, creme, azul escuro, preto, vinho e branco. Essas misturas de tons
proporcionam um aspecto diferente na tela. O segundo plano tem a interferência da cor preta.
O terceiro plano é formado pelas cores branca e azul. Neste mesmo plano o artista usou a cor
branca para contornar e sobrepor ao tom azul. A cor ocre no último plano é usada para
ocasionar profundidade.
O excesso de tinta, manchas e massas em algumas partes da tela faz a tinta fluir sobre
a superfície ocasionando um aspecto diferente e interessante. Esses pequenos detalhes
50
aparecem sem ajuda de ferramentas gráficas. Neste artefato, Cagi mistura cores quentes com
cores frias para demonstrar que o efeito aleatório provoca, algumas vezes, resultados
complexos. A cor vermelha, por exemplo, foi aplicada pura e em excesso, resultando no
escorrimento e misturando com outras tintas. Estes pequenos detalhes são algumas das
qualidades sígnicas que será possível visualizar no objeto, segundo o entender de Peirce
acerca dos qualissignos.
Referente ao sinsigno deste artefato, notamos a existência no canto inferior da tela
uma assinatura que remete ao nome do artista Arnoldo Cagi. Essa pintura foi produzida no
ano de 1998. Cagi não economizou tintas para conceber o novo signo artístico. Percebe-se que
as pinceladas neste objeto artístico são ousadas. Espontaneidade nesse novo processo de
criação também não faltou. Observando a pintura no todo, verifica-se distorção, difusão e
tentativa de combinação cromática.
O artefato como um todo evoca também as pinceladas Naïf45. Peirce (1990) pontua
que ao localizamos as referências mediante as leis das “ciências normativas” que qualificam o
objeto, evidencia de imediato o legissigno da pintura. Visualizando novamente a tela para
compreender a relação do signo, percebe-se que os aspectos gerais da pintura são
configurados pelo conjunto de planos gerando um ícone. O primeiro, segundo e terceiro
planos evocam a representação icônica de um indivíduo sobre uma plataforma. Queremos
deixar claro que a forma é abstrata, e ao mesmo tempo subjetiva, por causa das inúmeras
possibilidades de interpretação. Olhando para o canto inferior direito da referida pintura
evidenciamos a representação icônica de algumas tábuas em perspectiva, talvez o artista deva
ter inserido esses detalhes com o propósito de ocasionar uma linguagem mais subjetiva.
Prosseguindo a análise com o intuito de compreender a interpretação cognitiva do
apreciador, chegamos à conclusão de que a pintura de Cagi tende a ser difusa por causa dos
diversos elementos visuais emaranhados na composição. Como o universo das artes é infinito
de possibilidades, supõe que o artista pincelou esse novo esquema com o desejo de estingar a
mente do apreciador ao imaginário de infinitas suposições. Joly (1996, p.53) fala que “a
interpretação vai ter de se basear em um certo número de dados verificáveis ou admitidos para
não se tornar totalmente fantasiosa”.
45
O termo arte naïf aparece no vocabulário artístico, em geral, como sinônimo de arte ingênua, original e/ou
instintiva, produzida por autodidatas que não têm formação culta no campo das artes. Nesse sentido, a expressão
se confunde freqüentemente com arte popular, arte primitiva e art brüt, por tentar descrever modos expressivos
autênticos, originários da subjetividade e da imaginação criadora de pessoas estranhas à tradição e ao sistema
artístico. Disponível em: <http://www.itaucultural.org.br> Acesso em 12 novembro 2010.
51
46
Fonte: Cesar de Lima (2011) (com base na entrevista realizada no dia 15 de outubro de 2011, concedida por
Cagi).
52
utiliza essas tonalidades para detalhar o terceiro plano, que evoca a profundidade para
diferenciar dos outros planos. Percebe-se equilíbrio nesta pintura, devido à distribuição dos
pesos visuais, esses aspectos observados são também algumas das qualidades existentes na
tela.
A pintura também é uma reprodução fotográfica extraída da tela original. Nela é
possível visualizar as qualidades particulares que evocam ao sinsigno do processo de criação
do artista Jandr Reis.
Essa pintura evoca aspectos das pinceladas naïf equalizadas ao abstracionismo e tem
aspectos de características das pinceladas do abstracionismo47 e do surrealismo48. A forma se
distancia da realidade imaginária, isto acontece devido ao nível de dificuldade de
compreensão entre forma e título. Logo, entende-se que esse processo de classificação do
objeto aponta o legissigno da pintura.
Terminada a primeira divisão acerca do signo em si, vejamos agora a segunda parte
acerca da relação do signo para o objeto. Diante da pintura de Jandr Reis, verifica-se uma
única forma no centro da tela, uma imagem icônica de difícil interpretação. Esse ícone é
apresentado em forma geométrica, pincelado com uma cor chapada e com sobreposições de
várias linhas irregulares desordenadas, que evocam ser cipó de árvores em movimento. O
título deste artefato atribuído pelo artista é “Coração Amazônico”.
Vejamos agora a terceira parte da tríade de Peirce: o signo mediante o interpretante.
Salles (1998, p. 73) fala que Peirce “diz que é errado afirmar que uma boa linguagem é
simplesmente importante para um bom pensamento, pois ela é a própria essência deste”.
Dessa forma, o modo de compreender a forma em qualquer obra de arte pode ser muito
complexo. A pintura em análise é confusa e ao mesmo tempo subjetiva. Nesse caso, o
interpretante imediato ficará preso no campo das dúvidas e ao mesmo tempo de possibilidades
devido ao título do artefato. Quando nossos sentimentos cognitivos começam a tentar
esquadrinhar a pintura, é porque nossos sentimentos começam a encontrar indícios que
poderão direcionar ou não ao interpretante dinâmico. Salles (1998, p.91) fala que:
47
Em sentido amplo, abstracionismo refere-se às formas de arte não regidas pela figuração e pela imitação do
mundo. Em acepção específica, o termo liga-se às vanguardas européias das décadas de 1910 e 1920, que
recusam a representação ilusionista da natureza. A decomposição da figura, a simplificação da forma, os novos
usos da cor, o descarte da perspectiva e das técnicas de modelagem e a rejeição dos jogos convencionais de
sombra e luz, aparecem como traços recorrentes das diferentes orientações abrigadas sob esse rótulo. Disponível
em: <http://www.itaucultural.org.br> Acesso em 12 novembro 2010.
48
O termo surrealismo, cunhado por André Breton com base na idéia de "estado de fantasia supernaturalista" de
Guillaume Apollinaire, traz um sentido de afastamento da realidade comum que o movimento surrealista celebra
desde o primeiro manifesto, de 1924. Nos termos de Breton, autor do manifesto, trata-se de "resolver a
contradição até agora vigente entre sonho e realidade pela criação de uma realidade absoluta, uma supra-
realidade". Disponível em: <http://www.itaucultural.org.br> Acesso em 12 novembro 2010.
54
49
Fonte: Cesar de Lima (2011) (com base na entrevista realizada no dia 20 de novembro de 2011, concedida por
Reis).
55
Vejamos agora a segunda análise acerca do movimento criador do artista Jandr Reis
neste novo estereótipo em sua totalidade.
As qualidades intrínsecas visualizadas neste novo signo artístico são tentativas de
combinações de cores: vermelho, azul, amarelo, branco. A cor verde é revelada em várias
tonalidades: verde escura, verde claro misturado a nuance azul. Esses tons são visualizados
nos lados: esquerdo, direito e também na parte superior da pintura. A tentativa de
combinações de cores evoca texturas visuais, sendo que esses detalhes ocasionam
profundidade e ao mesmo tempo perspectiva para o primeiro plano da pintura. No centro da
tela visualiza-se algumas formas geométricas: semicírculo, losango, quadrado preenchidos
com pontilhismo. Na parte inferior da tela uma sequência de linhas verticais irregulares.
Esta pintura foi idealizada por Jandr Reis nos anos de 1990. Observando no canto
inferior direito da tela é possível visualizar a assinatura do artista na tonalidade preta
camuflada entre a tonalidade verde clara e escura. A técnica usada evoca as pinceladas
56
“esse tipo de associação mental, que ajuda a distinguir os diversos elementos uns
dos outros, tem o mérito de permitir a interpretação das cores, das formas, dos
motivos, pelo que são, o que se faz com relativa espontaneidade”.
50
Fonte: Cesar de Lima (2011) (com base na entrevista realizada no dia 20 de novembro de 2011, concedida por
Reis).
57
Os estereótipos de Turenko Beça são repletos de detalhes visuais, a cor, por exemplo,
é um desses elementos que chama atenção. Neste artefato percebe-se que Turenko Beça não
se intimida na utilização das cores quentes: vermelho, amarelo, branco e laranja. Existem
também outras combinações de nuances: ocre, vinho e preto. As cores em determinadas
situações ocasiona sombras e profundidades. As formas geometrizadas são preenchidas por
linhas sinuosas, curvas, tracejadas e com cores em dêgrades. A pintura como um todo é
assimétrica, sem existir preocupações do artista com os pesos visuais.
58
51
A força da pintura reside no poder evocativo das imagens. O seu fim é dar expressão visual ao que está oculto
por meio da linha e da cor que, menos do que representar diretamente a realidade, exprimem idéias. Os
princípios orientadores do simbolismo encontram suporte teórico nas formulações do poeta Jean Moreás (1856 -
1910), autor do Manifesto do Simbolismo (1886). Disponível em: <http://www.itaucultural.org.br> Acesso em
12 dezembro 2010.
59
52
Fonte: Cesar de Lima (2011) (com base na entrevista realizada no dia 10 de dezembro de 2011, concedida por
Beça).
60
Figura 48 – Turenko Beça, Mito da Criação do Sol e da Lua, Técnica: acrílica sobre tela, 1997.
FONTE: Arquivo do Artista.
respectivos cantos inferiores direito e esquerdo da pintura. Abaixo desta imagem visualiza-se
uma forma circular rabiscada com linhas rosa escura e branca, essa forma é preenchida com a
cor lilás. No centro dessa forma há uma voluta na cor branca, e próximo a esta, Turenko Beça
delineou detalhes dos aspectos de peixes, com linhas marcantes em tonalidade branca e
vermelha escura.
Turenko Beça, aprofundando-se em suas leituras rotineiras, mostra-nos nesse
estereótipo uma breve contextualização acerca do “mito da criação do sol e da lua”. Existem
inúmeras narrativas sobre esse mito. Pereira (1980, p.546), um dos pesquisadores sobre
folclore brasileiro, descreve um trecho desse mito contando que:
icônicas dos aspectos do homem, mulher, universo, etc, tendem a mexer com o buscar
significações e referências na pintura.
Quanto à interpretação final de cognição do apreciador mediante ao artefato, Peirce
(1990) deixa claro que o individuo deve possuir “conhecimentos prévios” sobre as “ciências
normativas”, que são as leis científicas da Antropologia, Geografia, História, que estudam o
meio, o modo de vida, etc. A primeira (Antropologia) por visualizar os aspectos de
transformações culturais, a segunda (Geografia) pelos aspectos de localização (lugar), a
terceira (História) pelas exterioridades do tempo. Essas ciências vão muito além do que
imaginamos, e são elas que norteiam em tempo hábil a identificação das coisas. Se um
observador lê muito sobre folclore certamente este possui um argumento quase lógico quando
deparado a tela de Turenko Beça. Em entrevista de campo, o artista declara que esse
estereótipo “faz alusão ao Mito da criação do sol e da lua relembrando o pensamento dos
antigos indígenas53”.
Finalizando a análise podemos classificar este artefato, segundo Peirce, em
qualissigno, icônico, remático e determinadas situações em sinsigno, icônico, discente e
raramente em legissigno, icônico, argumentativo.
53
Fonte: Cesar de Lima (2011) (com base na entrevista realizada no dia 10 de dezembro de 2011, concedida por
Beça).
64
Frente aos materiais achados de Arnoldo Cagi, Jandr Reis e Turenko Beça
encontramos estudos, esboços e anotações acerca do processo de criação desses artistas antes
deles transportarem a tinta para a tela. Salles (2000, p.26) afirma que “vivendo os meandros
da criação, quando em contato com a materialidade desse processo, podemos conhecê-la
melhor”. À medida que nos debruçamos pesquisando cada material, constatamos com grande
dificuldade, alguns dos passos iniciais que esses artistas arquitetaram antes de confeccionar
seus artefatos. Salles (2000, p.24) afirma que os “estudos genéticos nascem de algumas
constatações básicas. Na medida em que lidamos com os registros que o artista faz ao longo
do percurso de construção de sua obra, ou seja, os índices materiais do processo”, pode-se
compreender que estes são fontes norteadoras para entendermos como ocorre o início do
processo de criação.
Atuando como crítico genético no campo de pesquisa (ateliês) procurei envolver-me
progressivamente nas habilidades que Arnoldo Cagi, Jandr Reis e Turenko Beça, procurando
registrar a gênese de seus processos iniciais. Salles (2000, p.55) explicita que essa observação
de atuação do critico genético propicia “o levantamento de hipóteses que, no decorrer da
pesquisa, são testadas”, ou seja, as visualizações sobre o objeto acabado.
Visualizando os documentos de processo de de Arnoldo Cagi, encontramos alguns
rabiscos entre seus diversos documentos (ver figura 07) do anexo A, onde o artista trabalha
com perspectiva e equilíbrio da forma a fim de mostrar a cena da crucificação de Jesus Cristo
em ângulo superior. Encontramos também estudo de rosto e esquematismo de imagens.
Nesses rabiscos, percebemos algumas das metas que o artista utiliza para confeccionar suas
futuras telas. Em outro processo de criação, Cagi utiliza ferramentas tecnológicas para
conceber uma escultura (ver figura 06). O artista molda o perfil feminino procurando detalhar
as silhuetas. Percebe-se nesse processo de criação que o artista está em processo de
aprendizado. Arnoldo Cagi também procura embasar seus conhecimentos teóricos em suas
pinturas, a figura 14, por exemplo, foi confeccionada baseada na montagem de representações
de elementos da natureza e da anatomia humana, na qual o artista agrega funções biológicas
para uma linguagem crítica. Salles (2000, p.59) falando acerca dos vestígios salienta que os
“significados são construídos somente quando esses nexos são estabelecidos”.
65
54
Jornal Amazonas em Tempo, dia 19 de agosto de 1992.
55
Fonte: Cesar de Lima (2011) (com base na entrevista realizada no dia 20 de novembro de 2011, concedida por
Reis).
66
outras significações. Percebe-se que Reis é ousado antes de decompor as formas na tela em
determinadas situações as pinceladas são camufladas.
Quanto à gênese inicial do processo criativo de Turenko Beça encontramos estudos
de formas humanas equalizadas a animais e outras formas figurativas e abstratas, nas quais o
artista apresenta um novo personagem rico em detalhes. Salles (2000, p. 58) explicita que “o
artista, sob essa perspectiva, cria seus próprios instrumentos para a construção intelectual que
envolve o ato criador”. A figura 65 retrata alguns passos iniciais através de esboços e
anotações que o artista tomou para executar as pinceladas. Por meio dos achados de Beça,
podemos constatar como ele planeja, ajusta a pesquisa e organiza seus documentos de
processo, o que Salles (2000, p.39) afirma que são os “registros materiais do processo
criador” da trajetória da criatividade do artista.
A grande maioria das pinturas de Turenko Beça nos anos de 1990 tem por
característica linhas marcantes e desenhos descontruídos, (ver anexo C). Percebe-se que o
artista nesse sentido não perde o ritmo de elaborar e marca seus próprios traços. Essa
percepção diagnosticada por nossas verificações assíduas não deixam de ser uma das
respostas que almejamos desvendar. Salles (2000, p. 22) já falava que o “material tem poder
de ativar descobertas, mostrando a direção que a investigação deve tomar, ou seja, mostrando
quais aspectos do processo criativo podem ser iluminados”.
As pinceladas de Turenko ultrapassa o campo da pintura. O artista nessa nova
perspectiva utiliza o computador para realizar os novos signos artísticos por meio das novas
tecnologias, com as quais o artista configura novos efeitos de composição que são equalizadas
pela utilização do mouse e soft Paintbrush. Salles (2000, p.42) argumenta que o computador
“vem sendo utilizado por muitos como um suporte mais ágil e prático do que lápis, caneta ou
máquina de escrever”, mais a frente ela salienta que a utilização do computador apresenta
“vantagens inegáveis que o meio oferece e procuram por saídas para desvantagens como a
perda de arquivos ou não recuperação de formas rejeitadas, antes resgatáveis e hoje
deletadas”. Por meio dos processos digitais, Turenko desenvolve suas pesquisas desde 1991,
mas suas invenções começam a ser expostas por volta de 1995. Turenko Beça é considerado
um dos primeiros pesquisadores a confeccionar imagens digitais no Estado do Amazonas, a
figura 54 é fruto dessa persistência.
67
Inicia no campo artístico no final dos anos de 1980, mas foi por volta de 1995 que
sua produção começa a ser visualizada nas galerias da cidade de Manaus e de outras capitais
do Brasil. Os estereótipos produzidos por Cagi remetem a temáticas ligadas à ecologia,
espiritualidade, enigmas, etc. Embora, recente participação nas exposições, poucos relatos e
impressos acerca de suas obras foram encontrados. Contudo, apesar do reduzido material
68
mapeado, foi possível conhecer alguns traços das manifestações e elocuções artístico-culturais
pertinentes à década de 90, que nortearam suas criações.
Encontramos na produção de Cagi algumas obras com texturas visuais (ver figuras
02, 03 e 04), nas quais o artista explora as inúmeras possibilidades de conceber seus materiais.
As características das pinceladas são às vezes primitivas como pode ser visualizada na figura
12, cujo signo transmite uma ideia subjetiva de representatividade ao observador, deixando-o
em dúvida quanto a real intenção do artista de mostrar ou não uma forma ou um propósito,
porque as linhas são sobremodo soltas, onduladas e em sua maioria composta por cores
quentes: branco e amarelo, com pouco detalhe da cor fria: azul.
Em outras obras, ele utiliza traços que transformam objetos e imagens de elementos
naturais (árvore, caule, rio, etc) em figurativo. Na figura 01 é possível observar a
representação icônica da paisagem natural. Como o traçado é mais sútil, existe um cuidado na
mistura da escala de tons esverdeados. Além da preocupação com as cores também há uma
preocupação em mostrar as formas em diferentes ângulos, sem a inquietação de estar usando
os pesos visuais da luz e sombra. Na figura 11 existe um cuidado do artista em tentar mostrar
o movimento nas formas, como as representações icônicas dos vários pássaros suscitando a
ideia de movimento pelo detalhe das asas.
As cores usadas nos artefatos são diversificadas com variações de escalas de verde,
ocre, marrom, azul, amarelo, vermelho, que são visíveis. As formas em determinadas
situações dá ideia de subjetividade, devido à pretensão do artista (ver figura 04). Esse signo,
nesta imagem, remonta dúvidas do que o artista almejou produzir. Seria um skatista? Ou outra
forma? O efeito tipo cascata, pelo escorrimento das tintas, cria outros tons. Esse aspecto é
evidenciado também nesta imagem. Além dessas características é possível visualizar também
pinceladas que suscitam o surrealismo, nas quais o artista apresenta uma preocupação com
temáticas de proteção ao meio ambiente, associando representações icônicas da anatomia
humana (pulmão) com a representação icônica de uma árvore, formando esses signos o
formato de uma representação icônica do planeta terra (ver figura 14).
Os desenhos saturados nas pinturas (ver figura 02, 03, 04, 10, 11, e 17) imprimem
ideias de desconstruções das formas, ocasionando às vezes subjetividade devido ao
distanciamento da realidade. Segundo entrevista de campo, Arnoldo Cagi destaca que “seus
artefatos construídos nesse tempo são baseados em muita pesquisa e estudos”56, a Escola de
Artes Esther Mello, foi um dos redutos desse aprendizado.
56
Fonte: Cesar de Lima (2011) (com base na entrevista realizada no dia 15 de outubro de 2011, concedida por
Cagi).
69
Atua no cenário artístico por volta de 1985, mas foi em 90 que ele emerge com
grande destaque nas elocuções artísticas na cidade de Manaus. Podemos dizer que ele
produziu e vendeu muito. Observando cuidadosamente essas obras, constata-se uma produção
repleta de nuanças, formas e expressividade. Na presente pesquisa foram levantadas apenas
24 obras dos anos de 1990: nove sem data de publicação, uma de 1992, duas de 1994, uma de
1996, cinco de 1998 e cinco de 1999.
Em entrevista de campo, Reis afirma que houve fatores que influenciaram
diretamente em seu processo de criação, sendo alguns: “nas observações das exposições que
participou com alguns artistas renomados dos anos de 1980 e de décadas anteriores na cidade
de Manaus; porque na época ele desenvolvia seus trabalhos aleatoriamente”.57Outro método
importante em sua carreira foi à influência marcante dos conselhos do artista manauara
renomado Jair Jacqmont.
Jandr Reis pontua que as características de algumas obras de sua produção remetem
às pinceladas abstratas. No entanto, é possível verificar pelas configurações impregnadas,
heterogeneidade de pinceladas, devido algumas formas serem geometrizadas, outras
57
Fonte: Cesar de Lima (2011) (com base na entrevista realizada no dia 20 de novembro de 2011, concedida por
Reis).
70
desconstruídas, outras ainda por incrementos de objetos simbólicos, etc. Jandr Reis também
ressalta que muito antes de emergir no cenário artístico da cidade de Manaus, desenhou
animais: pássaros, onças, entre outros bichos, além de plantas da Amazônia. Explicita também
que esse processo ocorreu muito antes de ser lançado.
Jandr Reis utiliza a técnica mista sintetizada pela mistura de pigmentos naturais da
região, combinados pela sobra de tinta guache, óleo e também pelo incremento de
composições de remédios. Com base nas entrevistas de campo, Jandr Reis explicita que teve
dificuldades para obter materiais para compor seus artefatos no inicio da carreira. Em meio a
esse desafio, experimentou vários pigmentos naturais (argilas, urucu, carvão, folhas secas,
etc), entre outros produtos (esmalte, batom, pó compacto, violeta e etc). Cada item era
misturado a sobras de tintas (guache, acrílica), gerando outras substâncias, que chegaram a
um resultado surpreendente. A figura 37 do anexo B é um dos raros exemplos dessas
concepções. Além de tintas, Jandr Reis utilizou como suportes: papelão, papel cartão, esponja,
etc.
Por volta do início dos anos de 1990, Reis afirmou ter recebido influências do artista
Jair Jacqmont, para mudar a forma de compor suas pinturas para um processo mais
camuflado, em pinceladas abstratas. Nas figuras 18, 19, 20, 25 e 32 esse processo é nítido.
Neste aglomerado de artefatos percebe-se que Jandr Reis utilizou cores fortes, muito laranja e
verde, pouco amarelo e vermelho.
Os elementos visuais usados nas pinturas são linhas distorcidas propositalmente.
Alguns desses traçados parecem demonstrar formas de plantas (ver figuras 23, 25, 29, 35).
Em outra ocasião, o artista desfoca a forma com vários tons, originando sobreposição de cores
sem diluir a tinta, camuflando as formas (ver figuras 18, 19 e 20). O escorrimento da tinta na
tela é uma das características nos artefatos mapeados. Jandr Reis utilizou a esponja como
ferramenta de trabalho, a fim de causar esse efeito particular sobre os outros signos,
acarretando linhas aleatórias, o que suscitou formas de cipó em primeiro plano (ver 28, 29, 32,
35 e 37).
Em 1996, o artista segue com as desconstruções das formas expondo uma instalação
(ver figura 22). Nas figuras 26, 27, 34, 39, 40 e 41 segue com as tendências contemporâneas,
transformando materiais de utilidade, como bombril, cotonete, colheres e etc, em artefatos, os
quais são introduzidas nas composições e passam a imprimir novos signos carregados de
qualidades e contextualizações. No presente processo de criação também são atribuídas
temáticas que fazem alusão ao problema de contaminação das doenças sexualmente
transmissíveis (ver figura 34). As figuras 18, 23, 25, 28, 29, 30, 31, 32, 35 e 37 fazem alusão
71
ao meio ambiente em aspectos retorcidos, com traços e cores misturadas. A figura 38 remonta
a questão da miscigenação no Brasil, mostrando a mistura das raças. Enquanto, a figura 40
pode ser entendida como uma manifestação das consequências que o tabagismo ocasiona ao
fumante.
No material mapeado, não foi possível localizar estudos e esboços de anatomia
humana nos anos de 1990. A figura 36 remete apenas à aproximação dos aspectos da forma
humana. Todavia, os traços distorcidos remetendo a silhuetas do gênero masculino e
feminino, com pinceladas figurativas que ocasionam subjetividade pelo contexto. Seria um
casal? Como podemos observar Jandr Reis procurou manifestar suas pretensões por meio de
muitas investigações, que vão de uma simples mistura para um grande resultado.
Quanto aos artefatos de Turenko Beça é necessário ponderar acerca das diversas
facetas, planejamentos, esquematizações, elaboradas em cada objeto artístico. Cada signo
produzido em pinceladas naïf revelam as lendas da Amazônia, fenômenos da natureza
equalizados em cores fortes. Foi influenciado pelo pai Aníbal Augusto Ferro de Madureira
Beça. Entre os artistas emergentes, Turenko Beça ganha destaque nas elocuções artísticas dos
anos de 1990 por inovar com construções poéticas nas exposições da cidade de Manaus. Ele
inovou também por utilizar em alguns de seus artefatos as novas tecnologias, como o
computador, revelando heterogeneidade na qualidade das cores dos ícones e especificidades
nas formas.
Lopes (2005) investigando sobre os artistas que trabalharam com computação gráfica
esclarece que: “no Estado do Amazonas, a criação artística de imagens com o uso de
computador é bem recente. Data do final dos anos 1990, quando Turenko Beça fez
experimentações com o computador, criando imagens digitais”. Isto nos leva a crer que
Turenko Beça foi um dos pioneiros na utilização das novas tecnologias no campo das Artes,
na cidade de Manaus.
Segundo entrevista de campo, Turenko Beça pontua que “suas novas criações foram
arquitetadas pelo uso do Soft Paintbrush, gerando inúmeros signos ligados às novas
linguagens. As impressões das novas imagens foram por impressoras a jato de tintas”58. Ele
também destaca que as impressões foram na sua grande maioria em preto e branco, existindo
58
Fonte: Cesar de Lima (2011) (com base na entrevista realizada no dia 10 de dezembro de 2011, concedida por
Beça).
72
casos de impressão coloridas. A figura 54 “rio de costa para cidade”, confeccionada em 1999,
é uma das evidências desse processo. Essa imagem produzida por computação gráfica faz
alusão aos dois ícones do festival folclórico do município de Parintins, no Estado do
Amazonas. Percebe-se que a imagem é fantasiosa, porque a representação sígnica do disco
voador no centro superior da tela remete à invasão de seres alienígenas, estes seriam os bois
Garantido e Caprichoso.
O pincel, outra ferramenta utilizada antes do computador, não é desativado, como
podemos observar no anexo C. Com base nas pesquisas de campo, Turenko Beça comenta
que seus trabalhos são fundamentados em diversas leituras, livros de Artes e de História. As
características das pinceladas são traços marcantes; linhas pouco diluídas; formas distorcidas
e desconstruídas propositalmente; utilização de cores puras com pouca combinação de tons;
conexão de elementos visuais que evocam formas primitivas da mitologia combinados a
temas da diversidade religiosa, da exaltação aos símbolos das lendas amazônicas, etc. Ao
observar o anexo C é possível evidenciar vários detalhes intrínsecos, evidenciando essas
distinções.
A simplicidade dos traços de Turenko Beça demonstra que sua maneira de conceber
os artefatos com linhas marcantes e pouca diluição teve início antes mesmo de sua carreira ser
reconhecida, e que perdura até os dias de hoje como marca do artista.
As combinações de nuances também são nítidas, em maioria são primárias, poucas
secundárias e terciárias. Os sombreamentos são em dêgrade pouco dissolvidos. Na figura 45,
ele manifesta o clima da região pelas cores quentes: vermelho, amarelo e laranja. O fenômeno
da piracema (ver figura 64) é imaginado em formas distorcidas na cor branca, acompanhado
da cor preta para simbolizar a água.
Em algumas obras, Turenko Beça utiliza cores vibrantes, como na figura 61 as
formas parecem flutuar sobre a cor azul. As cores rosa, roxo, laranja, amarelo, laranja e verde
claro causam efeito especial nessa tela. Esse efeito de cores fortes é visualizado também nas
figuras 48 e 55. Em outros artefatos, ele também apresenta pinceladas de órgãos do corpo
humano em perspectivas, algumas parecem sugerir a reprodução do raio-X de um crânio, de
uma vista superior (ver figura 56), combinados com formas geometrizadas e sobrepostas ao
lado esquerdo e direito dessa obra. Outra característica visível em algumas obras é a utilização
de títulos extraídos no idioma inglês (ver figuras 42, 52 e 57).
Encontramos nessa produção, que data de 1998, um artefato produzido em técnica
mista (ver figura 42). Nessa instalação é possível evidenciar que Turenko Beça tem o intuito
de enfatizar três fases marcantes de sua trajetória. Os ícones, os índices e os símbolos
73
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Realizar um estudo sobre as composições formais dos artistas Arnoldo Cagi, Jandr
Reis e Turenko Beça na cidade de Manaus nos anos de 1990 foi muito gratificante, dada à
fascinação que as exposições causaram àqueles que expuseram e ao mesmo tempo
apreciaram. Quem não viu o que foi exposto naquela época agora poderá visualizar uma
pequena prévia dos tempos auges das grandes galerias da cidade de Manaus. Hoje podemos
afirmar que uma parte dessa produção faz-se fonte histórica e referência para as futuras
pesquisas de cunho social e teórico do Estado do Amazonas. É importante frisar que nesse
primeiro momento a pesquisa não visou separar os artistas por ano e nem por produção, mas
buscou compreender os aspectos de realização do processo de criação dos três artistas no
início da carreira. Enfatizo que em outro momento a pesquisa analisará outros artistas
amazonenses que contribuíram com o enriquecimento cultural por meio de seus estereótipos
mostrando os diversos assuntos da cidade de Manaus e da região Amazônica.
A gênese do processo de criação de Arnoldo Cagi, Jandr Reis e Turenko Beça nos
anos de 1990 são frutos dos experimentos dos cursos livres de artes da cidade de Manaus,
alguns desses cursos foram conduzidos pelos artistas Jair Jacquemont, Sergio Cardoso, Anísio
Mello, etc. Sergio Cardoso e Jair Jacquemont foram as personalidades dessa época de 1990
que mais lançaram e divulgaram artistas emergentes, expondo os frutos do ensino em diversas
galerias da cidade de Manaus e até mesmo em outras capitais do Brasil como, por exemplo,
Rio de Janeiro e São Paulo. Os três artistas são raros jovens dos anos de 1990 que tem alguns
de seus objetos artísticos expostos fora do país. Em 1996 na exposição Itinerante Amazônia o
trabalho desses e de outros jovens artistas foram divulgados em algumas capitais da Itália. Em
1998 Jandr Reis é contemplado com uma viagem para a Itália por ter ganhado no concurso de
pintura.
Na busca continua de compreendermos o processo de criação dos artistas Arnoldo
Cagi, Jandr Reis e Turenko Beça, surpreendeu-se pela forma que eles produziram seus
códigos culturais. Jandr Reis, por exemplo, utiliza folhas secas de árvores que aparentemente
parecem ser inutilizados, noutras o artista utiliza colheres que são objetos de utilidade
transformando em novos signos artísticos. Percebe-se que os estereótipos de Jandr Reis são na
grande maioria camuflados em pinceladas abstratas, todavia, existe o cuidado do artista em
registrar o efeito da floresta Amazônica através do colorido das folhas, flores, solo, etc. Esse
detalhe de equalização de cores somente foi possível compreender devido aos títulos que o
75
artista batiza seus artefatos. Uma das características dessa produção é o efeito tipo cascata
ocasionado pelo escorrimento de tintas, sendo esta uma das características específicas de
Jandr Reis. Na produção de Turenko Beça podemos constatar nos estereótipos registros de
desconstruções das formas, algumas aparentam com aspectos de animais. Outro aspecto
interessante desta produção é como o artista transmite as lendas Amazônicas por meio de
contextualização imaginária e simbólica da cultura indígena, as pinceladas verificadas são na
grande maioria naïf com pequenos detalhes do grafismo indígena, misturados com formas
geométricas em tonalidades vibrantes, noutras o artista utiliza desenhos esquemáticos de
cardumes da piracema com tintas preta e branca para fazer referências ao encontro das águas,
esse detalhe é também outra característica que o artista utiliza para fazer referências aos
pontos turísticos da região em linguagem poética. Nos anos de 1990 Turenko Beça também se
destaca com a utilização da computação gráfica, sendo este o primeiro artista amazonense a
desenvolver pinturas por meio do computador. Quanto aos estereótipos de Arnoldo Cagi
verificamos que ele pincela as telas e instalações de diversas maneiras, todavia, as pinceladas
figurativas são as mais visíveis. Percebemos na produção de Arnoldo Cagi que ele trabalha
com diversas temáticas voltadas à sensibilidade ambiental, desigualdades sociais e protestos
de descontentamento da população amazonense contra a política brasileira dos anos de 1990
que resultou na desativação de empresas do parque industrial da Zona Franca de Manaus
desempregando muitos industriários.
Apesar dos três artistas possuírem traços diferenciados, os mesmos têm algo em
comum, o de registrar e exaltar as temáticas, enigmas e características da Amazônia por meio
dos quadros de grande formato que naquele tempo também foi outra característica utilizada
por muitos artistas amazonenses e de outras cidades do Brasil. Percebemos também que nessa
primeira fase os três artistas ainda estavam em fase de experimentações e buscando modos
próprios que facilitassem o reconhecimento de suas pinturas. Quanto ao mercado artístico,
percebe-se entre esses três artistas que Jandr Reis e Turenko Beça foram os que mais
venderam objetos artísticos para os acervos públicos e particulares.
Aqui, chego também a comentar outros resultados alcançados e não realizados de
modo simplificado. Para os objetivos específicos limitamos a quantidade de obras mapeadas
por causa do prazo estipulado em um projeto de Iniciação Científica, para que se pudesse
atender aos estudos bibliográficos, teóricos e de pesquisa de campo. Os estereótipos
mapeados totalizam 65, 17 são de Arnoldo Cagi e 24 de Turenko Beça e Jandr Reis. É de
nosso conhecimento que a produção realizada por estes jovens não se fecham ao total
mapeado, porque muitos dos objetos artísticos foram vendidos e extraviados, não sabendo os
76
REFERÊNCIAS
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Periódicos
Figura 03 – Lago do Limão, técnica: Acrílica Figura 04 – O skatista do futuro, técnica: Mista
s/tela. 1993. s/tela. 1999.
FONTE: Arquivo digital do artista FONTE: Arquivo digital do artista
83
Figura 05 – desigualdade social, instalação, Sem Figura 06 – Nossas raízes, escultura. Sem data.
data. FONTE: Arquivo digital do artista
FONTE: Arquivo digital do artista
Figura 08 – Brasil 500 anos, fotografia. Sem Figura 09 – Cristo Hoje, performance, Sem data.
data. FONTE: Arquivo digital do artista
FONTE: Arquivo digital do artista
84
Figura 10 – Abstrato 2, técnica: Acrílico s/tela. Figura 11 – Dança nas entranhas da floresta
1996. amazônica Sem Título, técnica: acrílica s/ tela.
FONTE: Arquivo digital do artista 1998.
FONTE: Arquivo digital do artista
Figura 12 – Nascente Amazônico, técnica: Mista Figura 13 – Padroeira do Amazonas, painel dos
s/ tela, 1992. festejo de Nossa Senhora da Conceição, na av
FONTE: Arquivo digital do artista Eduardo ribeiro com a visitade 100 mil pessoas
técnica: óleo s/ compensado, 1998.
FONTE: Arquivo digital do artista
85
1997 Salão Flamboyant da SBBA – Sociedade Brasileira de Belas Artes – Rio de Janeiro;
Figura 20 – O Belo, acrílica s/tela, 1994. Figura 21 – Abajur, acrílica s/tela, 1994.
FONTE: Gerência de Restauro de Obras de FONTE: Gerência de Restauro de Obras de
Artes – Reserva Técnica Artes – Reserva Técnica
88
Figura 22 – Folhas Musicais, ferro, 1996 Figura 23 – Garden, Jandr Reis, acrílica s/tela,
FONTE: Pinacoteca do Amazonas 1998.
FONTE: Centro Cultural dos Povos da
Amazônia – Sala de Leitura Ypiranga
Figura 26 – Colheres de sopa, mista s/compensado, Figura 27 – Série Antúrio XX, mista/tela, 1998
1998. FONTE: Gerência de Restauro de Obras de
Fonte: Gerência de Restauro de Obras de Artes – Artes – Reserva Técnica
Reserva Técnica
Figura 34 – Sem Título, Sem data. Figura 35 – Sem Título, Sem data.
FONTE: Arquivo digital do artista FONTE: Arquivo digital do artista
Figura 36 – Sem Título, técnica: mista. Sem Figura 37 – Sem Título, técnica mista. Sem data.
data. FONTE: Arquivo digital do artista
FONTE: Arquivo digital do artista
92
Figura 38 – Sem Título, Sem data. Figura 39 – Sem Título, Escultura, Sem data.
FONTE: Arquivo digital do artista FONTE: Arquivo digital do artista
Figura 40 – Sem Título, Instalação, Sem data. Figura 41 – Sem Título, instalação, Sem
FONTE: Arquivo digital do artista data.
FONTE: Arquivo digital do artista
93
Prêmio Arte em Selo – ECT – Brasília/DF, Espaço Cultural dos Correios, Rio de Janeiro,
1997
RJ;
1998 Prêmio Salão Plástica Amazônia 98 – Prêmio Manuel Borges – Viagem a Roma.
94
Figura 42 – Self made man – I did it, Técnica Figura 43 – Sem título, Técnica: Acrílica s/tela,
Mista/ Madeira, 1998 1994
FONTE: Pinacoteca do Amazonas FONTE: Centro Cultural Palácio da Justiça
Figura 44 – Curupira, Técnica: Acrílica s/tela, Figura 45 – Mormaço, Técnica: Acrílica s/tela,
1997 1994
FONTE: Gerência de Restauro de Obras de FONTE: Gerência de Restauro de Obras de
Artes – Reserva Técnica Artes – Reserva Técnica
95
Figura 52 – Skin eye, Técnica Mista, Figura 53 – Sem título, Aníbal Turenko
Técnica: guache s/ papel, 1999 Beça, Acrílica/tela, S/ data
FONTE: Arquivo do Artista FONTE: Arquivo do Artista
97
Figura 54 – Rio de costas para cidade, Técnica Figura 55 – Viagem na Barriga, Técnica
Mista, Técnica: infogravura, 1999 acrílica sobre tela, 1997
FONTE: Arquivo do Artista FONTE: Arquivo do Artista
Figura 56 – Totem, Técnica Mista, Figura 57 – Dark face, Técnica Mista, 1998
Técnica: Mista, 1998 FONTE: Arquivo do Artista
FONTE: Arquivo do Artista
98
FORMULÁRIO DE ENTREVISTA
CRONOGRAMA
Ago Jan
Nº Descrição Set Out Nov Dez Fev Mar Abr Mai Jun Jul
2011 2012
Reuniões
01 com a x x x x x x x x x x x x
orientadora
Leitura e
fichamento
02 de x x x
referencial
teóricos
Coleta de
03 x x x x x x
Dados
Análise da
04 Coleta de x x x x x x x
dados
Elaboração
05 dos relatórios x x x x x x x x x x x x
mensais
Apresentação
06 x
Parcial Oral
Elaboração
do Resumo e
Relatório
Final
07 x x
Preparação
da
Apresentação
Final para o
CONIC