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GRR20073015
MEMORIAL DE COMPOSIÇÃO:
“NINFAS DA NOITE CURITIBANA”
Curitiba/PR
2011
DEDICATÓRIA
Este projeto é um estudo sobre composição musical serial: atonalismo livre; contraponto
dodecafônico; e princípios de segmentação e tropos. Primeiramente o autor esclarece aspectos
composicionais, e posteriormente apresenta um memorial descritivo.
ABSTRACT
This project is a study of serial musical composition: free atonalism; dodecaphonic counterpoint;
and principles of segmentation and tropes. First, the author clarifies composional aspects, and then
presents a descriptive memorial.
Introdução .............................................................................................................................................1
1.1 Serialismo..............................................................................................................................3
2. Composições...................................................................................................................................15
Conclusão ...........................................................................................................................................36
Anexos ................................................................................................................................................40
Embora o serialismo esteja sendo abandonado pelos compositores em favor de um livre uso das doze
notas (total cromatismo), o serialismo contém muitos dos princípios composicionais envolvidos na
escrita livre, podendo ser considerado como a melhor disciplina que um aluno pode submeter-se a fim
de ter um completo domínio das técnicas de composição modernas.1
1 Reginal Smith Brindle, Serial composition (London: Oxford University Press, 1966), 2.
2 “(...) sistema de Tropos desenvolvido por Josef Matthias Hauer [Josef Matthias Hauer, Zwölftontechnik: Die Lehre von
den Tropen (Dodecafônismo: A Teoria dos Tropo. trad. do autor) (Universal Edition: Wien, 1926)]. Neste caso, o
“tropo”, tal como a série passa a ser designada, não é tratado como uma estrutura única, mas como uma combinação de
dois hexacordes de conteúdo excludente e sem qualquer especificação quanto a sua ordem.” Sérgio Nogueira Mendes,
Claudio Santoro: serialismo, (Anais do XVI Congresso da ANPOM (Associação Nacional de Pesquisa e Pós
Graduação em Música), São Paulo, 2007) , 6.
3 “Lampades” foi composta com uma pequena série, esta formada pelas primeiras quatro notas da série de doze notas
utilizada em “Hyades” e “Aurae”. Ou seja, a pequena série é um ‘fragmento da série’ de doze notas.
2
No primeiro capítulo “Fundamentos históricos teóricos” procura-se esclarecer aspectos
teóricos auditivamente perceptíveis que afetam diretamente a música e que estão relacionados à
composição, com o auxílio de análises de partituras de compositores do início do séc. XX à
atualidade. No segundo capítulo “Composições”, é exposto o processo composicional de cada peça,
com descrição detalhada do que se busca; da justificativa, sempre que possível, das decisões; e das
sugestões e críticas do orientador. Na conclusão apresenta-se a reflexão sobre a importância da
consciência do compositor sobre o que deseja, e como conseqüência, a otimização de processos de
pesquisa estética, planejamento, análise e crítica.
Além de todas as razões citadas acima, o autor vê neste trabalho a oportunidade de
desenvolver sua identidade como compositor, e sua linguagem e estética composicional.
3
1. Fundamentos históricos teóricos
1.1 Serialismo
Nos últimos cem anos, o conceito de harmonia mudou tremendamente pelo desenvolvimento do
cromatismo. A idéia de que uma nota base, a fundamental, dominava a construção de acordes e
regulava sua sucessão—o conceito de tonalidade—teria que desenvolver-se primeiro num conceito de
tonalidade ampliada. Além disso, tornou-se duvidoso se o aparecimento da tônica no início, no fim,
ou em qualquer outro lugar realmente tinha significado estrutural (...) um desenvolvimento que
terminou naquilo que chamo de emancipacão da dissonância.6
A emancipação, segundo Jim Samsom é o modo como o ouvido vai se acostumando a uma
sonoridade dentro de um contexto particular, como a sonoridade gradualmente se torna
‘emancipada’ daquele contexto e procura um novo7. A emancipação da dissonância8 , é uma
conseqüência do esgotamento do sistema tonal; trata-se da dissonância que se desvincula de sua
função tonal harmônica, de tensão que necessita resolução. Em seguida, deixou de haver evidente
4 “aparecem em nossos modos maior e menor (...) o fato de que, em qualquer tonalidade (naquilo que denominamos
“tonalidade ampliada” [erweiterte Tonalität]) podemos introduzir, pretextando um desvio passageiro, quase tudo o que é
próprio de outras tonalidades muito distantes, mas, ainda assim, próprio também da tonalidade em questão. (...) Logo:
ainda assim fica existindo a tonalidade? Ou será que, propriamente dito, já não fica dessa maneira revogada a idéia de
tonalidade.” Arnold Schoenberg, Harmonia, trad. Madern Maluf (São Paulo: Editora da UNESP, 1999), 71.
5 “discorrer sobre a tonalidade suspensa e a tonalidade flutuante. Tal não pode ser demonstrado em forma de pequenas
frases, por ser algo a que pertence uma ampla articulação. Quem deseje examiná-lo, encontrará muitos exemplos em
Mahler e outros compositores.” Idem, 527-28.
6 Arnold Schoenberg, Style and Idea: Selected Writings of Arnold Schoenberg (London: Faber & Faber Limted, 1975),
216.
7Jim Samson, Music in Transition: A study of Tonal Expansion and Atonality (New York: W.W. Norton & Company,
1977), 146-47.
8 “A emancipação das dissonâncias de dominante seguiu esse padrão, com a sétima de dominante desenvolvendo-se em
status: de uma nota contrapontística do séc. XVI para uma nota quase-consonante no início do séc. XIX. No final do
séc. XIX, as dissonâncias de dominante acima da sétima, haviam também adquirido status harmônico, com resolução
em retardo ou omitida completamente.” Idem.
4
separação entre consonância e dissonância, ambas tornaram-se uma única gama do consonante ao
dissonante – distinguíveis apenas de modo referencial.
Com isso, os compositores buscaram novos modos de organização musical, explorando as
tensões como elemento estrutural. Primeiramente9 , as tensões melódicas, rítmicas e harmônicas
(não o campo harmônico limitado dos sistemas tonais maior ou menor, mas o uso artístico de todas
as infinitas possibilidades da gama cromática10).
Um estilo baseado nesta premissa trata as dissonâncias como consonâncias (...) As primeiras
composições neste novo estilo foram escritas por mim por volta de 1908 e, logo em seguida, pelos
meus discípulos, Anton von Webern e Alban Berg.11
9 Posteriormente, ainda houveram outras explorações da tensão: enquanto textura (Ligeti - Atmóspheres, Penderecki -
Trenodia); enquanto timbre (Varése - Ionisation); e na estrutura formal (forma aberta de Stockhausen, Pousseur, Cage).
10 Brindle 1966, 62.
11 Schoenberg 1975, 217.
12Maurício Dottori, “A dodecafonia sobe — com Balzac e Proust — os degraus ao paraíso,” in Ictus-Periódico do
PPGMUS/UFBA (2007), 2.
13 Brindle 1966, 62.
14 Composições atonais anteriores ao dodecafonismo.
15George Perle, Serial Composition and Tonality: An Introduction to the Music of Schoenberg, Berg and Webern,
(Berkeley: University of Califonia Press, 1962), 10.
5
Como podemos ver são apenas três notas, com os intervalos de terça menor e segunda
menor, que formam o grupo gerador da peça. Esta é portanto, uma série curta: as séries curtas
possuem limitações melódicas, e tendem (usadas verticalmente) a formar os mesmos agrupamentos
harmônicos. Por outro lado, podem contribuir significativamente para a unidade de uma obra, caso
todos os detalhes sejam formados da mesma célula16.
Outros17 compositores que também trabalharam desta forma foram Stravinsky 18, e
Maurício Dottori. Este contemporâneo, em sua Sonata für pianoforte (2003-6), utilizou o recurso de
adicionar harmônicos19 em uma voz superior. Embora o uso de partes livres (não seriais), não se
encaixe à prática serial rigorosa, é possível compor duas ou mais partes (seriais) principais, e em
seguida adicionar uma parte livre acima ou abaixo 20.
Sugere-se que, em cada composição, seja utilizada apenas uma série (forma original) e
suas variantes. Por processos de transposição, retrogradação e inversão existem 48 formas22. Logo,
garante-se a organização e controle sobre o material musical, e sua variação, que resulta em coesão.
Esse esforço de se estabelecer unidade também estava presente na obra de todos mestres do passado
(...) Assim, uma idéia deve ser expressa de todas as formas possíveis (...) uma delas é o movimento
recorrente: a retrogradação; uma outra forma é o espelho: a inversão (...) um grau de coerência tão
abrangente pode ser alcançado na música de doze sons (...) Aí se achava a concretização do esforço de
se estabelecer a coerência máxima. Quanto ao resto, compõe-se como antes23.
Porém, com isso surgiu a dificuldade de evitar dobramentos de oitava e falsas relações de
oitava. Consciente disto, Schoenberg tentou eliminar este problema construindo séries especiais 29.
Este apego ao método e às regras, nada mais era do que medo de perder o equilíbrio atonal 30 da
gama cromática. Mas,
No passar dos últimos dez anos, parte da rigidez das regras relacionadas a dobramentos de oitava, e ao
uso de acordes fundamentais da harmonia tonal foi enfraquecida. A princípio, ficou claro que tais
eventos únicos não poderiam transformar o estilo da atonalidade em tonalidade. 31
Em seu Concerto para piano e orquestra (1942), Schoenberg utiliza a série como melodia,
e o trabalho no acompanhamento é bastante livre: com falsas relações de oitava; repetições de notas
Mais tarde, talvez será permitido utilizar-se de ambos recursos de mesmo modo, um junto ao outro,
assim como recentemente um estilo misto, parcialmente homofônico, parcialmente polifônico,
permitiu que, estes dois princípios de composição (que de fato diferiam muito mais) misturassem-se.34
Foi isto o que aconteceu. Como afirma Brindle, muitos dos nossos maiores compositores
seriais incluíram sugestões de tonalidade nos seus trabalhos, e alguns deliberadamente cortejaram
implicações tonais com facilidade.35 É o caso de Berg, Dallapiccola e muitos outros.
Sugere-se agora, uma breve retrospectiva do método: a necessidade de organização,
exploração e desenvolvimento de novas sonoridades no âmbito cromático; o esgotamento máximo
das possibilidades nos limites do método, e algumas exceções; a percepção de que, utilizar recursos
antigos e sugestões tonais, não tornam o estilo tonal; e finalmente a fusão do novo ao antigo.
Outro sistema dodecafônico foi criado por Josef Matthias Hauer. A série de Hauer, ou “tropos”, como
ele denomina, não é uma estrutura unitária, mas uma combinação de dois grupos de seis notas com
conteúdo mutuamente exclusivo, dentro dos quais somente o conteúdo, não a ordem, é especificado.
Assim, a ordem a ser escolhida é uma questão puramente composicional. 36
Entretanto, o foco não será neste método, mas sim nas possíveis segmentações da série em
grupos de notas com ordenação mutável ou não. A ordenação mutável gera mais possibilidades e
flexibilidades melódicas e harmônicas, e o material fica mais suscetível à vontade do compositor.
Claudio Santoro, em trechos da sua peça Pequena Tocata (1942), utiliza dois tropos de seis
notas, princípio similar37 ao sistema de Hauer. Com a análise de Mendes, é fácil observar o trabalho
com os tropos de constante manipulação e ordenação das notas38.
36 Perle 1962, 6.
37 Santoro não fez uso consciente dos princípios de Hauer, ou ao menos, ele nunca o mencionou em documentos.
38“Nas passagens extraídas da Pequena Tocata (...) o tratamento dispensado aos hexacordes parece indicar uma técnica
de manipulação cromática baseada em elementos provenientes, tanto do sistema de Hauer, quanto de Schoenberg.
Assim, conviverão harmoniosamente, tanto a preservação do conteúdo de cada hexacorde, quanto a repetição de
determinados padrões de ordenação, o que permitirá o retorno à hipotética série dodecafônica.” Mendes 2007, 8.
10
Luigi Dallapiccola, em sua música Quaderno Musicale di Annalibera (1952), I. Simbolo39,
trabalha com a segmentação da série em grupos menores de duas ou três notas.
A objeção original às oitavas era de que elas trariam uma nota para proeminência e,
portanto, tenderiam a formar um centro tonal. Mas se isto fosse verdade, não seria lógico e nem
racional permitir o dobramento de uma nota que lhe desse proeminência40 . Talvez a proibição de
dobramentos de oitava possa ser comparada com a proibição de oitavas paralelas na música tonal41.
Ou como diz o Gradus ad Parnassum de Johann Fux42 , evitadas consonâncias perfeitas por
movimento paralelo ou direto.
Isto ocorre por razões de estilo e sonoridade: ao mesmo tempo que se foge das sonoridades
“duras” do estilo antigo, as novas sonoridades (a serem encontradas) acabam construindo a
estrutura do novo estilo, e o seu equilíbrio e forma passam a depender delas. Na música serial e
dodecafônica, iniciou-se a exploração da gama cromática de forma radical, evitando e negando a
utilização de recursos antigos por razões já explicadas. Conseqüentemente surgiu um novo estilo e
as sonoridades passaram a desempenhar novas funções como explica Brindle:
I. Função estrutural:
A verdadeira objeção às oitavas, é bem diferente. Em músicas altamente cromáticas, o poder completo
de todas as relações entre as notas, só pode ser alcançado se cada nota possuir o ‘brilho da novidade’.
Cada nota, quando ocorrer, seja na melodia, ou como parte da harmonia, deve parecer nova e fresca.
Se uma nota é repetida muitas vezes, seja em uníssono ou em algum outro registro, o fato da mesma
nota aparecer em dois acordes adjacentes, é suficiente para diminuir o efeito completo do segundo
acorde. 43
Com a renúncia das vantagens formais pertencentes à coesão tonal, a apresentação da idéia tornou-se
razoavelmente difícil; falta-lhe a relação intercontextual e auto-suficiência que este simples e natural
princípio de composição (tonalidade) trouxe melhor do que qualquer um dos outros princípios usados
junto a ele. Pelo menos, nenhum foi capaz de realizar tanto por apenas estar presente: as relações
rítmicas não puderam fazer nada parecido, nem pôde a repetição motívica, e nem nenhuma das
relações mais complexas.45
Brindle, entretanto, consegue explicar quais foram estes vazios e quais elementos os
preencheram ao assumir novas funcionalidades. O primeiro a ser tratado será o impulso harmônico
tonal, e posteriormente o fluxo harmônico tonal.
A melodia tradicional tem como principal característica a sua simetria rítmica entre as frases. Muitas
vezes, os ritmos permanecem inalterados, ou apenas levemente variados, ao longo de períodos
consideráveis. Mas em todos os casos, os ritmos das frases estão relacionados às harmonias, as quais
fornecem o impulso tonal, e conferem completa unidade e lógica ao desenvolvimento da música.
Como, na música atonal, este impulso tonal se faz ausente (ou pelo menos, é tão complexo que já
perdeu muito do seu poder), a simetria rítmica perde sua validade, e frases repetitivas tornam-se
triviais e banais. 46
O ritmo na música atonal deve, portanto, assumir parte da função da sugestão harmônica
da música tonal. Ele deve impulsionar a música para os pontos de tensão e climax, e também
conduzir a sucessão de sons para períodos de relaxamento e repouso 47. Ou seja, na música clássica,
os padrões rítmicos permanecem constantes e a diversidade é obtida pelo uso de notas diferentes.
Mas como na música serial são as notas que permanecem as mesmas (as séries), a diversidade é
obtida pelo uso de diferentes ritmos 48.
O ritmo, enquanto impulso, não se trata de pulso, mas sim de gestos musicais. Logo, os
ritmos em melodias atonais são geralmente assimétricos e não-repetitivos. As frases freqüentemente
consistem de um complexo de diferentes elementos rítmicos 49.
Junto ao trabalho rítmico que assume parte das funções do impulso tonal, deve existir algo
que assuma parte da função do fluxo harmônico tonal. Um bom fluxo, ou melhor, as tensões e
(...) contanto que existam zonas de tensão e repouso suavemente interconectadas, aonde o compositor
as deseja, e com a medida certa de intensidade, podemos ter certeza que, não só as demandas de
controle de tensão foram satisfeitas, mas também que um bom fluxo harmônico foi obtido. Pois um
bom fluxo harmônico, é praticamente a mesma coisa que um bom fluxo de tensão. (...) Eles são quase
idênticos de um ponto de vista composicional quando se trata de música altamente cromática do tipo a
que pertence o serialismo. 50
Não seria sensato manter uma ordenação estrita e inflexível da série em nossas composições
ignorando a possibilidade de melhoramento que a manipulação serial permite. A manipulação da série
é, na realidade, não apenas um meio de aperfeiçoar um método defeituoso, mas também um dos
primeiros passos que levam para o completo relaxamento to uso serial.54
uma técnica que (...) substitui a idéia pelo dogma torna-se rígida, e é inútil para a criação artística
genuína. Isto não seria mais arte e teria muito pouco a ver com os objetivos de vida e ensinamentos de
Schoenberg: A crença na técnica como uma dádiva salvadora deve ser desencorajada, e a luta pelo
encontro da veracidade encorajada. 56
Para adaptar a técnica à expressão individual, vários compositores fizeram uso de ambas
técnicas de Schoenberg e Hauer57. O método serve então apenas como um meio para um fim – uma
das possíveis organizações da gama cromática, e funciona como um recurso facilitante para o
pensamento composicional. Sendo que o uso de qualquer um dos métodos de dodecafonismo não
define um estilo58, o que seria então a música dodecafônica?
Qual é a música composta de acordo a este método? O que é música dodecafônica? Pois, a resposta é
bem curta e simples: é uma música como qualquer outra. Ou seja, é música boa ou ruim, dependendo
se provém de um bom ou mal compositor, de uma mente criativa e clara ou de uma pobre e confusa,
de alguém que conhece seu trabalho ou de um grande trapalhão. É exatamente o mesmo para todas as
outras músicas, quer ela siga o princípio da tonalidade ou qualquer outro princípio. 59
O objetivo foi compor um Rondó utilizando uma série de 4 notas dentro de uma quarta
justa. Sempre encadeando a série e economizando material.
Primeira orientação: Compor 5-6 compassos com uma série de 4 notas em espaço interno
de uma 4ª justa. O grupo escolhido foi [Si Dó# Mi Ré], que seguido de transposições em quarta60
formam um ciclo de quatro oitavas – o grupo é transposto nas 12 formas possíveis.
Segunda orientação: Compor uma forma Rondo [A, B, A’, C, A’’]. Em B e C serão
explorados elementos de A; e em A’ e A’’ se utilizará o mesmo ritmo de A mas com relação de notas
diferente.
60Como a série tem extensão de uma quarta justa e o encadeamento ocorre na terceira nota, conseqüentemente a série é
sempre transposta uma quarta justa ascendente.
16
Decisão de que a seção B teria um impulso rítmico levemente acelerado e uma dinâmica
maior. Foi composta uma frase de quatro compassos. Percebe-se que é necessária outra frase como
resposta à primeira. Nesta busca-se explorar os mesmos ritmos e relação de intervalos, encerrando
com o mesmo ritmo do início de B.
Grande dificuldade pois o autor não encontra idéias derivadas da seção A para utilizar em
C sem cair na banalidade. E também não consegue pensar na característica distinta que destacaria a
nova seção do resto da música. Resolve-se entretanto seguir adiante mesmo insatisfeito com os dois
primeiros compassos (cc. 21-22), e então encontra-se a tal característica: uma espécie de “eco” de
dinâmica mais fraca que ocorre após certas notas.
Antes de tentar refazer o trecho, o autor se afasta da composição por um mês para estudar
os livros Principles of Rhythm de Paul Creston, e Il contrappunto de Diether de la Motte.
Retornando a composição o autor tem idéia imediata de como refazer:
Segue seção C:
19
A seção A’’ foi composta com mesmo ritmo de A, mas com uma escolha mais livre das
notas buscando criar maior contraste em relação as seções A’ e A. E aplica-se a idéia de algumas
notas com dinâmica menor que outras proveniente do eco da seção C.
O objetivo foi compor uma música com contraponto a três vozes utilizando três formas
distintas da mesma série: original na voz de cima; retrógrada na voz de baixo; e alguma inversão ou
inversão retrógrada na voz do meio.
Primeira orientação: Criar uma série dodecafônica iniciando com as mesmas 4 notas da
primeira música, e compor 7-8 compassos em contraponto a três vozes com três formas distintas da
série: original na voz de cima; retrógrada na de baixo; e alguma inversão ou inversão retrógrada na
voz do meio. Segue a série:
Segunda orientação: Decide-se que pela relação das três notas acentuadas em registro
agudo Sib, Si e Fá# (elemento ‘b’), a música terá três seções: na seção B as três formas da série
serão transpostas um semitom acima, e na seção C uma quinta justa acima.
23
Inicia-se a busca pela seção B. Transpõe-se as séries um semitom acima. Decide-se que
será uma seção de ritmo marcato e rápido, e iniciará com anacruse para semelhança com os dois
inícios de fraseado melódico. Porém a dificuldade torna-se grande por buscar-se uma textura
pontilística com contraponto de três formas da série, e pela falta de habilidade do autor em moldar a
série à sua vontade. Foi portanto, apenas possível compor este pequeno trecho.
Ocorreu então uma idéia inspirada no acompanhamento dos fagotes do [Concerto para
Piano de Schoenberg (cc. 107-113)] que repete-se sem mudanças por seis compassos, porém a
melodia do oboé sugere certo deslocamento rítmico. O autor resolve utilizar um deslocamento com
24
um acompanhamento de 5 unidades contra 4 do pulso, e em dinâmica piano para constraste e
expressividade. Também buscou-se utilizar uma voz interna como foi estudado em Il contrappunto
de Diether de la Motte, no capítulo “La voce interna” recomendado pelo orientador. Na primeira
melodia (c. 11) há referência a [Die Jakobsleiter de Schoenberg]. Seguida de uma pequena melodia
em pp e um crescendo de ritmo, densidade e dinâmica (c. 12).
Percebendo que a série da voz superior utilizou todas as suas doze notas, ocorre a tentativa
de utilizar o mesmo material apenas alterando o intervalo entre Fá e Mi: de 7M para 9m. Aumenta-
se o trabalho rítmico com articulações únicas para cada voz: grandes saltos staccato na voz superior;
micro-melodias legato em voz interna aos grandes saltos; e notas longas acentuadas que pontuam o
fraseado na voz inferior. A tensão vai aumentando até o segundo climax da peça, e então ocorre um
repouso ao retornar ao material inicial da seção B (c. 8) espalhado em dois compassos.
25
Esta é a estrutura da seção B, cada letra corresponde a um sistema na partitura:
26
Cria-se um início para a seção C, com as séries transpostas uma quinta acima, utilizando o
material de blocos da seção A, porém com apenas uma nota em cada “bloco”.
Quarta orientação: O autor revela insatisfação sobre como o compasso 9 funciona como
antecessor do que segue, porém não é explorado e aparenta ser material avulso em relação ao resto
da composição. O orientador então sugere que utilize-se o ritmo deste compasso manipulado por
processos de expansão rítmica para a seção C, e que repita-o no máximo 3 ou 4 vezes. Sugere-se
também que se busque fazer referência à harmonia do primeiro fraseado melódico da seção A.
O objetivo foi compor uma música aérea e extremamente curta utilizando princípios de
segmentação e tropos, e não utilizar transposições ou inversões. Busca-se o uso de idéias simples e
economia de material como Luigi Dallapiccola em seu Quaderno Musicale di Annalibera.
Busca por música aérea para piano. Grande dificuldade ao perceber que os sons
naturalmente percussivos do piano não ajudam, enquanto que instrumentos de sopro facilitariam a
busca; e preocupação pela forma. Audição e análise de For the portraiture of clouds and sky (2007)
de Maurício Dottori.
Planejamento:
Resultado final:
35
2.3.2 Referências estéticas e composicionais
61“A música consiste de combinações de vários efeitos de tensão e relaxamento, e pode até haver interação entre fatores
constrastantes. Por exemplo, alguns elementos que tendem a criar tensão, como movimento rápido e acelerado, pode ser
cancelado por outros que compensam para o relaxamento, como dinâmica tranqüila, ritmos fluentes, fraseado legato,
etc. É o efeito total resultante da interação dos diversos fatores que deve ser considerado.” Brindle 1966, 28.
37
Na segunda, “Hyades”, também houve pouco planejamento prévio com apenas as decisões
da forma, e das três vertentes da série para o contraponto. Porém, como esta teve apenas o início
composto diretamente ao piano, houve maior planejamento durante o processo. Pela análise de
aspectos motívicos, melódicos, harmônicos e rítmicos das seções, gerou-se maior desenvolvimento
e reiteração de material. E pela liberdade técnica, foi possível maior exploração da linguagem e
gestualidades do instrumento, resultando em melhor concepção e elaboração de fraseados 62, e
riqueza de contrastes entre as seções.
E na última, “Aurae”, a composição foi inteiramente no papel. Nesta ocorreu intensa
pesquisa estética prévia de qualquer decisão ou planejamento; escutou-se e analisou-se inúmeras
músicas em busca de maior consciência do que se desejava. Houve muito planejamento prévio
como a duração da peça, a segmentação da série, as inter-relações de dinâmica, o uso de técnicas
extendidas, e a forma. A pesquisa continuou e concedeu maior direcionalidade aos planejamentos
durante o processo, por compreender a importância do silêncio63 e aplicá-lo, e pela escolha da
forma espelho. E como demonstrou-se no planejamento do último trecho composto (p. 34), o
pensamento tornou-se independente de limitações com o foco puramente na gestualidade.64
Um último detalhe que exemplifica bem a crescente conscientização composicional do
autor, seria que a descrição de “Aurae”, música de pouco mais de 1 minuto e de poucas notas, foi
quase tão extensa quanto de “Hyades”, que tem duração de 2m40s e é repleta de notas, melodias,
harmonias, seções e contrastes.
Este trabalho foi importante para a compreensão da música atonal, do processo de
composição em geral independente das técnicas utilizadas, e a formação da identidade do autor
como compositor.
62 “Os fraseados devem ser cuidadosamente elaborados, com indicações apropriadas de legato, staccato e sforzando,
para reforçar as estruturas de ritmo e dinâmica. De modo bem geral, a tensão é produzida por fraseado staccato, volume
alto, ou grandes contrastes de dinâmica, e relaxamento por fraseado legato, volume baixo, e pequenas flutuações na
dinâmica.” Brindle 1966, 27.
63“O silêncio tem um lugar importante na melodia atonal, e na música atonal em geral. Ele pode ter um feito dramático
em pontos de grande tensão, e em momentos de relaxamento pode produzir o efeito máximo de repouso. O silêncio é o
maior constraste ao stress rítmico, à tensão harmônica, e ao movimento rápido e acelerado. É o meio mais eficaz para
formar frases.” Idem, 26.
64 “Entretanto, uma das grandes dificuldades dos estudantes é precisamente ver os símbolos musicais escritos como
cristalizações de gestos concretos e não como abstrações.” Maurício Dottori, “De gêneros, de macacos e do ensino da
composição musical”, in Beatriz Illari (ed.), Em busca da mente musical: Ensaios sobre os processos cognitivos em
música – da percepção à produção (Curitiba: Editora UFPR, 2006) 151-52.
38
Referências bibliográficas
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39
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London: Faber and Faber Limted, 1975.
WEBERN, Anton. O caminho para a música nova. Tradução de Carlos Kater. São Paulo: Ed.
Novas Metas, 1984.
40
Anexos
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11
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13
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mp mf f mf f
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&4 4
nœ
bœ ! nœ ! b œ nbœœ bœ.
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ÿ
U
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C
bœ
Adagio q = 35
‰
& 45 Ó ‰ 98
17
mp mf mp
? 45 Œ ˙. Œ 98
bw
Hyades – ninfas da chuva 3
e = 70 ˘ 3
#œ œœ œ
j j j nœ # œn œ œ n œœ œ Œ œ
poco accel. a tempo
9 nœ nœ 12 œ 9
& 8 b œŒ . œœ ..n œ œœ œ n œ b œœ
18
b œœ œœ .. œ œ 8 n œœ . #œ œ 8
J- J- n œ .. # œ . J
- - - â
molto espressivo pp p
bœ nœ nœ #œ œ j
œ œ ‰ nœ nœ
œ Œ
3
? 98 ! nœ ! bœ nœ 12
8 ! bœ œ Œ ! œ 98
œ nœ #œ œ nœ œ
ä
a tempo a tempo
j
rit.
nœ b b œœœ
poco accel.
nœ j
D e = 80
bœ bœ œ nœ œ bœ bœ nœ œ œ œ œ
3
b œœ œ
n œœ œ
& 98 ‰ b œ b œ ‰ ! œ b œœœ œ b œœ œ œœ .. #œ # œœ 78
20
J b œœœ
œ œ œ #œ. œ n œœ Œ
3 - R
(p) mp pp mp p f pp p
#œ
? 98 œj
œ b œ- . ‰. ‰ 78
! bœ œ ‰ &
?
3
lentamente ritardando
e = 80 e = 70
j œ œœ
& 78 # œ #œ # œœœ œ œ œ 68 b œœ œ œ 85
22
nœ nœ nœ #œ œ
J
mf f pp
nœ
? 78 n œ bœ ! bœ bœ 68 n œ bœ œ. bœ 85
e = 60 e = 50 e = 40
bœ bœ nw
bœ nœ
3
bœ œœ #w
& 85 bb œœœ .. 42 n œ n œ 44
24
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
mp p pp
nœ nœ bw
? 85 ! n œ n œ nœ bœ
42 44
!u r a e ________
n i n f a s d a s b r i s a s c o n g e_____
_______________ lantes
œo
q = 40
œ œ œ
Suavemente q = 55
#œ #œ œ #œ œ #œ œ œ
3 ‰
antes de tocar, segurar a corda
œ œ œ
para retirar o harmônico
&4 #œ
3
5
ppp pp ppp
? 43 œ œ.
una corda
° manter pressionado
o oj
região mais próxima ao capotasto
3 simile
#œ œ œ .. œ œ œ
#œ.
&œ
3
œœœœœœœ
5
suonare come
p
bater levemente na harpa do piano com as
f una campana mp
?
pontas dos dedos, na região antes do feltro
b —— —— œ .. œ œ œ
! > >
senza una corda ppp
#œ œ
® #œ œ œnœ œ œ
7
" ‰. b œœ ..
5
& œœœœœ ‰
5
bœ œ bœ œ
3 5 œ
mf pp
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una corda
#
Ÿ~~~~~~~~~~
Ÿ~~~~~~~~~
7
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& œœ œ œ
7
œ bœ œ J
3
Ÿ~~~~~~~~~
ppp
Ÿ~~~~~~~~ b œ œ
mp
" # œ . (œ ) œ œ . (œ)
b
‰. # œ (œ ) œ œ ‰.
&Œ J
( )
?
3
#œ
- œ. œ œ œ œ œ œœ# œ # œ U
& b œœ œœ b œ 44 " œ œ simile
œ œ œ œœ ‰ . Œ Œ
9
bœ
5 3
7:8
pp ppp p f mp
? 44
senza una corda
* ° manter pressionado
o o
œ .. œ œ œ .. œ
&® 43
11
suonare come
f una campana
? 3
4
œ .. œ œ œ .. œ ppp b —— ..
! > >
œ.
j j œ.
& 43 ‰
poco ritardando
œ œ œ
12 3
5 3
#œ œ
#œ
ppp pp pppp
? 43 œ.
una corda
______________________
ampades
ninfas das luzes
! ________________
Luiz F. Malucelli (2011)
j
œ œœ œœ ..
3
. œ œ
5 œœœ ..
A Delicado e expressivo e = 84
# œ .. ‰ 4 œ
6
& 8 œ. œ. œ 8 8 b œœ œœ . 6
8
J J œ
p pp p mp p
# œœ .. œœ .. œœ ..
? 68 ‰ . œ. 85
œœ ..
œ. œ 48 œ œ 68
°
3
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pp p pp
bœ. œ nœ.
? 68 b œ . Œ bœ œ œ œ œ nœ. 85 bœ œ. 42
J J J J
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B
& 42 ˙ œ nœ œ 43
7 accel.
! #œ œ œœ
p mp
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? 42 ‰ #œ
Œ Œ 43
œ œ. œ œ œ .
3 J œ. œ 2 œ. œ œ bœ œ œœœ b œœ . 5
&4 Œ bœœ
10 a tempo
4 8
3
mf mp p
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p
? 43 œ œ œ. bœ .
œ œ œœ œœ 42 œ œ 85
œ b œœ œ. bœ. nœ œ œ œ
œ b œœ .. œ . œ
rit.
& 85 ! b bœœ 34 œ 68
a tempo
bœ œ nœ
13
J
mp p pp mp p pp p pp
nœ. bœ. œ œ
? 85 b œ œ. nœ. œ œ 43 œ œ œ 68
œ
œ. œ. œœ .. . bœ œ j
58 œœœœœ ... ‰ bœ
3
A'
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b œœ .. œœ .. 42 bœ 85
16
& 8 ‰. œ. b œœ ... bb œœ œœ
p
? 68 œ. œ
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3
U
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5
&8 œ 24 ˙˙ 85
19
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pp
? 85 J œ. 42 85
3
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3
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3
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C
5
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22
b
‰ Œ.
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3
pp
?5 2 8
8 4 8
1/2 ° °
una corda
˘j j j
. œœ .. .
8 b œœ 5 b œœ
œ
b œœœ . œœœ
bœ
bœ œ. b œœ .. b œœ œ 2
25
&8 J J œ. 8 J 4
J
fl pp
mf
? 88 85 42
1/2
°
una corda
bœ
accel. a tempo
œœ bœ n b œœ nœ
b œœœ. œ b œœ œ bœ
& 42 b œ œ b œœ
27
œ bœ nœ
œ #œ
nœ
mp p
? 42
Lampades – ninfas das luzes 3
U
a tempo
rit.
# n œœ nœ œ. œ .. œ .. œœ ..
A''
n œœœ # œœ 68 œ .
& n # œœ œ . œœ . œ 85
30
œ œ #œ
n œœ b œœœ ...
bœ
œ bœ. œ.
pp u
pp p pp
? 68 85
j bœ nœ
3
b œœ .. ‰ œ
3
nœ œ œ
3
5 œ bœ
& 8 œœœ ... 42
33
b œœ
#œ œ
œ.
p pp p
ppp
? 85 b œ . bœ. œ 42
#œ
#œ nœ
3
œ bœ
68 ˙ . ˙.
36
& b˙. ˙.
ppp
? 68 j j
n˙ bœ
bœ
œ œœ œœ ˙˙˙ ..
bœ .
o m u n d o i n t e i r o , e s t i m u l a n d o p r o g r e s s o e e v o l u ç ã o. "
Albert Einstein