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1.

1
-N introduz na filosofia os conceitos de sentido e de valor. (valor e sentido)
-Inversão crítica: valores apreciam fenômenos, mas o problema crítico é: o valor dos valores (valor dos valores)
-Criação dos valores: maneiras de ser, alto e baixo, elemento diferencial dos valores (elemento diferencial);
(sentimento de distância (distanciamento cultural?))
-Dois movimentos da filosofia crítica: referir tudo a valores, referir valores a uma origem. Dupla luta:
-Crítica contra os operários da filosofia (inventariam valores ou criticam com base em valores dados).
-Crítica aos que derivam valores de fatos objetivos. (não seria um problema em si, mas um reducionismo em
questão ética).
-Cartógrafos dos valores; templários de um valor (críticos por um valor; fundamento; juiz de tribunal);
cientistas objetivistas dos valores (derivação causal, começo insípido; mecânico)
- “O filósofo é o genealogista.” – Genealogia: origem dos valores, valor da origem.
-Nobre e vil: elemento propriamente genealógico ou crítico. Elemento positivo de uma criação, uma ação.
-A crítica genealógica (Zaratustra) difere da vingança, rancor e ressentimento (macaco, bufão, demônio). Ela é
expressão ativa e existência ativa; ataque, agressividade natural, maldade divina (destruição, crítica necessária para
a perfeição).
-Manejar o elemento diferencial, crítico-criador, como martelo.

1.2
-Sentido é determinado pela força que explora parte da realidade (sentido e força)
-Fenômenos são signos, sintomas, de forças, de sentidos.
-História e forças.
-Pluralismo, forma de pensar inventada pela filosofia. A conquista do verdadeiro conceito.
-A delicada pesagem, a arte de interpretar.
-Essência, força em maior afinidade à coisa – onde não se sabe mais quem domina: que domina a coisa, ou quem a
coisa domina? Agir soberanamente sobre si mesma.
-O surgimento da nova força (nova essência, nova coisa) vem por meio da máscara. O caso do filósofo, força
antirreligiosa.
-Olhar muito no passado pode ser enganador (“em todas as coisas só os graus superiores importam”). A raiz
oriental-sacerdotal da filosofia por exemplo. Interpretar é também rasgar máscaras, mas se deve esperar a
realização elevada da máscara para se certificar da proeminência da força/essência, do sentido real do fenômeno.
“origem concebida como genealogia só pode ser determinada em relação com os graus superiores”. O filósofo é
grau superior de seu passado sacerdote, mas ainda carrega uma máscara que se assemelha a esse. Não é o
surgimento do processo/força que interessa tanto, mas a diferença (hierarquia) dela frente a outras forças, como
origem de um fenômeno (por exemplo um valor)
-A amizade do filósofo, sua anti-sabedoria, seu imoralismo. O sábio e o asceta são tomados pela filosofia, por uma
força nova, o que é feito de seus valores de humildade, pobreza, castidade?

1.3
-O próprio objeto é força.
-Força é sempre plural. Força é dominação, mas também o objeto sobre o qual uma dominação se exerce.
Pluralidade de forças agindo e sofrendo à distância (elemento diferencial).
-Vontade se exerce necessariamente sobre uma outra vontade. Assim, a Vontade é múltipla. (Em Schopenhauer é
una). Toda força se relaciona com outra. Com vontade falamos da relação entre as forças, vontade é vontade de ser
obedecida, mas só uma vontade obedece ao que a comanda.
-Nosso problema é o problema da origem, da diferença na origem, da hierarquia, isso é, a relação de uma força
dominante com uma força dominada. Hierarquia é o fato originário.
-Sentido é a relação de uma coisa com a força que se apodera dela, valor é a hierarquia (a diferença na origem) de
forças que se exprimem na coisa enquanto fenômeno complexo. Sentido parece falar da relação das forças, valor
fala da diferença na origem dessas forças em relação.

1.4
-O pluralismo é o único inimigo profundo da dialética. Antihegelianismo, fio condutor da agressividade em Nietzsche.
-A relação entre forças nunca é elemento negativo em essência. Uma força quando domina, afirma sua diferença e
se regozija com esta diferença. “O negativo não está presente na essência como aquilo de que a força tira sua
atividade, pelo contrário, ele resulta dessa atividade, da existência de uma força ativa e da afirmação de sua
diferença.” (não a negação, mas a afirmação da diferença é o primário).
-O negativo é produto da existência, agressividade de uma afirmação
-Vontade e agressividade não são atos humanos, mas elementos básicos dos movimentos mais primários do mundo,
elementos afirmativos.
-Negação como conceito: pálido contraste
-Elemento especulativo da negação, oposição ou contradição é substituído pelo elemento prático da diferença.
(empirismo nietzscheano).
-Gozo da diferença x trabalho do negativo. O “sim” de Nietzsche se opõe ao “não” dialético. (checar p. 9)
-A vontade que quer a dialética, reação, não tem força para afirmar sua diferença (Vontade da dialética). Nega tudo
que ela não é, e faz disso sua essência. O não é seu ato criador.
-Vingança e ressentimento tomam o lugar da agressividade.
-Poder concebido não como vontade de poder, mas representação de poder, obj de uma recognição

1.5
-Visão trágica de mundo
-Perspectiva da dialética sobre a tragédia;
-Nascimento da Tragédia cheirando a hegelianismo.
-Contradições: unidade primitiva-individuação, querer-aparência, vida-sofrimento.
-A vida, acusada por tais contradições, precisa ser justificada. Categorias dialéticas cristãs: justificação,
redenção, reconciliação.
-Dionísio (1) e Apolo (2) como duas formas de resolução da contradição. (2): aparência da aparência, apaga a
dor. (1): destrói o indivíduo, prazer de participar da superabundância da unidade do querer universal.
-Unidade, antítese resolvida, o que fizeram os gregos dionisíacos que se tornaram apolíneos: “D. é como a
tela sobre a qual A. borda a bela aparência; mas, sob A., é D. quem ruge.”
-Sofrimentos da individuação é o que vemos na tragédia, reabsorvidos no prazer do ser original.
-A Tragédia é essa reconciliação, aliança dominada por D.. Apolo desdobra o trágico em drama. Coro
dionisíaco projeta fora um mundo de imagens apolíneas, um sonho

1.6
-Mais importante em D não é a dissolução da dor ou a absorção do múltiplo no fundo primitivo, mas da dor a
afirmação e faze-la o prazer de alguém. D se metamorfoseia em afirmações múltiplas.
-2 grandes descobertas do NT: caráter afirmador de D; a oposição mais profunda que D e A, mas entre D e Sócrates.
Apolo não se opõe, não assassina o trágico.
-Desenvolvimento da oposição D.-Sócrates, para ser afinal Dionísio-Cristo. O cristianismo não é nem apolíneo nem
dionisíaco.

1.7
-Dionísio e Cristo são fenômenos iguais em sentidos opostos (na linha entre vida e sofrimento). Mesma paixão e
martírio.
-Cristianismo: na vida há sofrimento, ela não é justa, é injusta, injustiça essencial, é culpada, precisa ser justificada,
ela precisa sofrer para ser salva. Ela é culpada, visto que sofre. Ela deve sofrer visto que é culpada. (Má consciência
ou interiorização da dor, niilismo cristão). Máquina de fabricar culpa e máquina de multiplicar a dor
-O cristianismo é dialético
-A vida essencialmente justa, trata de justificar até o mais áspero sofrimento. (não tendo contradição ou negação
primordial, todas as negações se tornam secundárias e não contraditórias, justas, afirmativas quando no limite. ‘D
faz da dor o prazer de alguém’.) “ela não resolve a dor interiorizando-a, afirma-a no elemento de sua exterioridade.”.
(dor é afirmação, é exterioridade da vida afirmativa).
-Oposição D-C ponto por ponto. Afirmação-negação da vida; mania D-mania C; embriaguez D-C; laceração D –
crucificação; Ressurreição D-C; transvaloração D-transubstanciação C.
-Duas espécies de sofrimento e sofredores. Sofrer de superabundância de vida; embriaguez uma atividade.
-empobrecimento de vida; embriaguez como convulsão ou torpor; sofrimento para acusar a vida e para
redimí-la (cristão). Nem toda embriaguez é dionisíaca.
-Dionísio lacerado, afirmação mais drástica da vida, mais difícil.
-O salvador mais belo: carrasco, vítima e consolador. A santa trindade da má consciência.
-Laceração de Dionísio: símbolo da afirmação múltipla; A cruz: imagem da contradição e sua resolução.
-“Eu coloco em todos os abismos minha afirmação que abençoa.” (abismo é a imagem do contraditório, do
problemático, do mistério mais obscuro).
-A dialética é niilista pois esvazia o mundo em nome de uma essência abstrata, a negação ou contradição.

1.8
-A afirmação múltipla é a essência do trágico
-Afirmação é alegria.
-A tragédia não suscita medo ou piedade no espectador alegre. O sentido medíocre da tragédia, que vê medo e
piedade ao observá-la, que a usa para sublimar a moral e purgações médicas, veio da má consciência.
-O herói é alegre. Renuncia ao drama: não uma tragédia dramática, mas heróica.
1.9
-Hybris
-Anaximandro (Apeiron e devir culpado, redimindo-se em sua dor) e Schopenhauer.
-Difere do cristianismo pois não é faltoso e responsável (em relação a um deus, ou a um bem primário e/ou
superior?), falta-lhe a má consciência. Por isso atrai Nietzsche no início de sua obra. Os homens não negam a
existência em favor de algo, não há maldade em seu olhar...
-A hybris, o sofrimento essencial, a redenção em dor. Mas não a falta perante outrem, não o julgamento de deus,
não a má consciência. Esse é o traço que diferencia os arianos (filhos de Ariadne), os gregos, dos cristãos, filhos do
pecado original.
-Ariane, noiva inseparável da afirmação dionisíaca. É preciso ter a dor, mesmo como núcleo, sem a má-consciência,
para ser capaz de adentrar no terreno de Dioniso.
-A vingança frente à culpa. Separar-se da existência para olha-la vingativamente. O ressentimento. É sua culpa de
tudo não ser melhor para mim! A mãe e a irmã.
-Ressentimento (a culpa é tua) e má-consciência (a culpa é nossa), ambos compartilham da responsabilidade.
-“A Irresponsabilidade o mais nobre e mais belo segredo de Nietzsche”. Já vindo no nascimento da tragédia, com a
diferença entre a feminilidade semita e a masculinidade ariana.
-Mas ainda assim, a existência é injusta. A questão principal ainda precisa vir à tona. Não a responsabilidade ou
irresponsabilidade (que diferem em apenas um passo, uma mudança em algo da estrutura), mas a culpa ou
inocência da existência.

1.10
- “As coisas se relacionam com uma força capaz de interpretá-las”: uma força de apodera desta coisa (que também é
força). “Toda força se relaciona com aquilo que pode, do qual é inseparável”: Uma força age sempre sobre outra
força. Afirmar e ser afirmado (mesmo em sua própria destruição) é como funcionam as forças.
-Um naufrágio de uma interpretação, de uma força, de um desejo, é observado por nós. Depreciamos o mundo
então, parece que nada tem mais sentido e é vão. Interpretamos, avaliamos tudo então como a falta daquilo que
naufragou, como um mundo negativo, problemático, em relação àquilo que era e não é mais.
-Heráclito compreende a existência a partir de um instinto de jogo, fenômeno estético. Faz do devir uma afirmação.
-Afirma o devir (abolindo o antigo ser) e afirma o ser do devir. Não há ser além do devir, além do múltiplo.
Dois pensamentos que são um elemento só. “O múltiplo é a manifestação inseparável, a metamorfose essencial, o
sintoma constante do único.”
-O ser do devir é o tornar a vir, o eterno retorno. Lei do devir, justiça (justificação do devir amoral) e ser.
-Ver o ser do devir, é contemplar; devir no devir é participar. Um jogo de dois tempos com um terceiro termo: o
jogador-artista-criança; Zeus-criança: Dioníso. “Ora, é o ser do devir que joga o jogo do devir consigo mesmo”.

1.11
-O céu e a terra como mesas para os dados lançados
-A necessidade se afirma com o acaso no sentido exato em que o ser se afirma no devir e o um no múltiplo.
Necessidade, portanto, nunca abole o acaso, mas é sua própria combinação (de dados).
-O que é negado na transmutação é o próprio negativo, o niilismo.
-A aranha é o mau jogador, conta com diversas jogadas do dado, dispõe da causalidade para trazer a combinação
que ele tem como um objetivo a ser obtido, oculto atrás da causalidade. Aranha da razão.
-A aranha abole o acaso, pegando-o com a pinça da causalidade. Não afirma a necessidade, conta com uma
finalidade.
-O mau jogador perde o mundo, pois ele se separa do acaso e lida apenas com o objetivo. O mundo sem o objetivo se
torna para ele negativo, a falta do que se perdeu.
-Tais operações do mau jogador tem sua raiz na razão.
-A Razão tem sua raiz no ressentimento e na má consciência na crença numa finalidade.
-Para jogar bem, é necessária uma certeza, o universo precisa não ter finalidades a esperar, nem causas a conhecer.
Não afirmando o bastante o acaso, perde-se o lance de dados; não se produz o número fatal que reúne
necessariamente seus fragmentos (do acaso) e que traz necessariamente de volta o lance de dados.
-Substitui causa/probabilidade-finalidade por acaso-necessidade/destino dionisíaco. “Não uma probabilidade
repartida em muitas vezes, mas todo o acaso em uma vez só; não uma combinação final desejada, querida, aspirada,
mas a combinação fatal, fatal e amada, o amor fati; não o retorno de uma combinação pelo número de lances, mas
a repetição do lance de dados pela natureza do número obtido fatalmente.”

1.12
-O eterno retorno é o segundo tempo do jogo, a combinação dos dados, afirmação da necessidade, mas também é o
retorno do primeiro tempo, a “boa-vinda” do acaso.
-Muitos acasos vêm como senhores. Invocam sua probabilidade, solicitando vários lances. Estes são fragmentos do
acaso escravos que querem falar como senhores (“acasos-terríveis”). É preciso ferver e cozinhar o acaso como o
jogador que esquenta os dados na mão – só assim o acaso é afirmado, e é amigo que vem ver seu amigo.
-Ciclo-caos, eterno retorno-devir, não são termos opostos de um jogo (como fez Platão com devir louco, hybris, e o
demiurgo). Não há uma lei exterior ao devir que o imponha limites. O que há é a presença da lei no devir, e do jogo
na necessidade.

1.13
-A afirmação múltipla, o lançamento dos dados, é o acaso todo de uma vez só. Essa afirmação é simbolizada pelo
fogo e pelos rios de chamas.
-Este um afirmado do múltiplo quando o múltiplo é afirmado, é a estrela dançarina.
-Caos-fogo-constelação, essas imagens formam o jogo dionisíaco.
-N e a física
-O poema e o aforismo em N. O jogo de imagens nunca substituiu em N o jogo mais profundo dos conceitos e
pensamento filosófico.
-O aforismo é interpretação, o poema é avaliação. Mas o poema deve ser avaliado e o aforismo interpretado. “Um
aforismo, cuja fundição e a cunhagem são o que devem ser, não basta ser lido para ser decifrado; falta muito ainda,
pois a interpretação apenas começou.”. O elemento diferencial ainda está oculto e implícito no poema e no
aforismo, como uma segunda dimensão do sentido e dos valores. “É desenvolvendo esse elemento e
desenvolvendo-se nele que a filosofia, em sua relação essencial com o poema e o aforismo, constitui a interpretação
e a avaliação completas, isto é, a arte de pensar, a faculdade de pensar superior ou “faculdade de ruminar”.”. Todo
aforismo deve ser lido duas vezes.

1.14
-Nietzsche e Mallarmé. Quatro pontos de ligação.
(1) Pensar é emitir um lance de dados.
(2) O homem não sabe jogar. Mesmo o homem superior é impotente para produzir o lance de dados. O velho
senhor é uma ponte, algo que deve ser superado.
-Quem sabe lançar os dados? Quem sabe se meu sofrimento é como o deles? Desde quando minha tristeza foi igual?
Minha memória fraqueja, mas por que será? Mesmo em minha decadência, eu sei que os dados tomam um número
fatal; eu sei que a flecha atravessa o espaço para perfurar o mundo, em uma distância específica, em uma altura
específica. Eu não sei ainda lançar as flechas, mas posso aprender. E quanto a quem nem sabe o que é um arco?
Uma flecha? Da distância e da altura? Minha tristeza é diferente, minha memória serve a forças diferentes às deles.
(3) O lançamento de dados é um ato insensato e irracional, absurdo e sobre-humano, mas além disso, constitui a
tentativa trágica e o pensamento trágico por excelência.
(4)O número-constelação é a obra de arte, como coroamento e justificação do mundo. O livro é único e móvel.
-Diferenças: Mallarmé ainda opõe a necessidade ao acaso.
- A depreciação da vida e a exaltação do inteligível são inseparáveis na perspectiva nietzscheana, eles compõem o
niilismo.
-O lance de dados não é mais nada se nele o acaso é oposto à necessidade.

1.15 O pensamento trágico


-A má consciência, o ressentimento, etc., não são determinações psicológicas, ou acontecimentos históricos, ou uma
corrente ideológica, mas algo que as produz. Eles são o elemento diferencial na hierarquia de forças.
-Espírito de vingança: ressentimento, má-consciência, ideal ascético.
-Ideal ascético: uma vontade que se sente culpada e responsável.
-A psicologia é a do ressentimento
-Niilismo não é acontecimento histórico, mas o motor dessa história, elemento da história enquanto tal.
-Niilismo pressuposto de toda a metafísica. E por isso a metafísica é nossa inimiga, pela sua raiz. Nossa luta é contra
essa raiz, a negação da vida.
-Retificação do próprio princípio genealógico. Uma transmutação.
-Um pensamento afirmativo, que afirma a vida e a vontade da vida. Pensamento que expulsa o negativo. Acreditar
na inocência do futuro e passado, no eterno retorno. Nem a vontade nem a existência são culpadas. A alegre
mensagem, o pensamento trágico.
-Vontade: liberador e mensageiro da alegria
-O trágico não está nem mesmo na luta contra o niilismo. Trágico = alegre. Querer = criar

1.16 Pedra de toque


-Observando um filósofo: em seu pensamento, qual a parte remanescente – quanto subsiste- o ressentimento, má
consciência e ideal ascético na sua forma de compreender?
-Senso de exterioridade. Interioridade é a própria aranha, que faz filosofia derivar do descontentamento
-Saltar não é dançar, apostar não é brincar.
-A aposta de Pascal nada tem de comum com o lance de dados.
-“A aposta é antropológica, refere-se apenas a dois modos de existência do homem: a existência do homem
que diz que Deus existe e a existência do homem que diz que Deus não existe. A existência de Deus, não estando em
questão na aposta, é, ao mesmo tempo, a perspectiva que a aposta supõe, o ponto de vista segundo o qual o acaso
se fragmenta em acaso de ganho e acaso de perda.
-Fragmenta-se o acaso e se deixa um fragmento falar como senhor.
-Hybris é a pedra de toque do heracliteano
-O ressentimento, a má consciência, o ideal ascético, o niilismo, são a pedra de toque de todo nietzscheano, onde
podemos mostrar se compreendemos ou não o verdadeiro sentido do trágico.

2.1 O corpo
-Modéstia da consciência. Cs é sintoma de forças que não são de ordem espiritual.
-Diferença com caráter da cs em Freud: exterioridade N: superioridade, em termos de valores. “Essa diferença é
essencial numa concepção geral do consciente e do inconsciente.”.
-Cs é sempre cs de um inferior em relação ao superior ao qual ele se subordina ou se incorpora. Cs do escravo em
relação a um senhor.
-Duas forças quaisquer, sendo desiguais, constituem um corpo desde que entrem em relação.
-Relação de forças constitui o corpo: químico, biológico, social, político.
-O acaso, a relação da força com a força (uma dominada e uma que domina), é essência da força.
-Hierarquia: diferença das forças (superior-dominante-ativa e inferior-dominada-reativa) qualificadas conforme sua
quantidade.

2.2 A distinção das forças


-Obedecer refere-se tanto ao poder quanto comandar: “nenhuma força renuncia ao seu próprio poder”.
-Conceito de reação: acomodações mecânicas e utilitárias, as regulações, mecanismo e finalidade (que se opõem na
teoria da vida).
-Forças reativas só são captadas como tais se as referimos às forças que as dominam.
-Preeminência fundamental das forças ativas: de uma ordem espontânea, agressiva, conquistadora, usurpadora,
transformadora, que dá incessantemente novas direções. Tender ao poder. Apropriar-se, apoderar-se , subjugar,
dominar. Impor formas, criar formas explorando as circunstâncias, força plástica. Força de metamorfose.
-Consciência, memória e hábito, essencialmente reativos. Nutrição, reprodução, conservação, adaptação tbm.
-A ciência é reativa

2.3 Quantidade e qualidade


-A qualidade da força corresponde à sua diferença em quantidade.
-Somente com quantidades não se esclarece os fenômenos, só os descreve.
-Uma força não é separável de sua quantidade, menos ainda das outras forças com as quais está em relação.
Quantidade então não é separável da diferença de quantidade, que é essência da força, a relação da força com a
força.
-Sonhar com duas forças iguais, mesmo em oposição de sentido, é aproximação grosseira
-Quantidade como conceito abstrato anula a diferença de quantidade
-O que mais interessa N aqui é a irredutibilidade da diferença de quantidade à igualdade – o não anulável na
diferença de quantidade.
-Subjetividade do universo, cósmica e não antropomórfica
-As forças não entram todas em relação ao mesmo tempo. Os encontros de forças são as partes afirmativas do
acaso. Os membros de Dionísio.
-Inseparabilidade das duas gêneses (qualidade e quantidade), não se calcula abstratamente as forças, mas
concretamente

2.4 Nietzsche e a ciência


-Ciência tende a igualar as quantidades
-Crítica à identidade lógica, igualdade matemática e o equilíbrio físico. (três formas do indiferenciado)
-Essa ciência participa do niilismo do pensamento moderno (nega a vida, deprecia a existência, lhe promete uma
morte (calorífica ou outra) em que o universo se precipita no indiferenciado).
-Qual a relação entre a ótica para as forças reativas, a negação da diferença na força e o ressentimento?
-Mecanicismo pseudo-afirma o eterno retorno (igualdade em todos os estados de um sistema fechado).
-Termodinâmica tende a negar o eterno-retorno (a diferenciação decai até o indiferenciado na evolução do sistema)
-Nos dois casos encontramos um fim do devir, como Ser (mecanicismo) ou Não-ser, Nada (termodinâmica).
-Sendo assim, ambos supõem o idêntico para o devir, como lei do mundo. Um idêntico perene (mecanicismo) ou um
destino que torna tudo idêntico

-Em ambos os casos o acaso se torna indiferente.

-Eterno retorno não é um pensamento do idêntico, mas o princípio da reprodução do diverso, a repetição da
diferença. Assim ele não pode ser consequência ou aplicação da identidade. “não é o mesmo ou o um que retornam,
mas o próprio retorno é o um que se diz somente do diverso e do que difere”.

2.5 Primeiro aspecto do eterno retorno: como doutrina cosmológica e física

-Crítica do estado terminal ou do estado de equilíbrio; infinidade do tempo passado.

-Pensar e observar um devir qualquer seria impossível se o universo fosse capaz de fixidez ou um instante de ser no
sentido estrito.

-Devir como o que não pode começar ou acabar de tornar-se

-Voltar é o ser do que devem. (no infinito de tempo tudo que vem, voltaria). “”Dizer que tudo volta é aproximar ao
máximo o mundo do devir e o devir do ser, cume da contemplação””.

-O instante carrega relação sintética consigo mesmo como presente, passado e futuro, fundando sua relação com
outros instantes.

-Não é o ser que retorna, mas o próprio retornar constitui o ser. Não é o um que retorna, mas o próprio retornar é o
um afirmado do diverso ou do múltiplo. A identidade no eterno retorno não designa a natureza do que retorna, mas,
ao contrário, o fato de retornar para o que difere. O eterno retorno é síntese do tempo e de suas dimensões, assim
como síntese da dupla afirmação (do devir e do ser afirmado do devir).

-O mecanicismo e a hipótese cíclica.

-Eterno retorno como expressão de um princípio que é a razão do diverso e de sua reprodução, da diferença e de
sua repetição. Vontade de potência.

2.6 O que é a vontade de poder?


-Ao conceito de força, um complemento, um querer interno. Ao mesmo tempo complemento e algo interno. Mas
não é a força quem quer, e sim a vontade de potência – ela não se deixa delegar ou alienar em nenhum outro
sujeito.

-“A vontade de potência é o elemento do qual decorrem, ao mesmo tempo, a diferença de quantidade das forças
postas em relação e a qualidade que, nessa relação, cabe a cada força.

-Princípio essencialmente plástico, em cada caso se determina com o que determina (a força). Não é separável de
tais ou quais forças determinadas.

-Inseparável, mas não idêntico. Confundir força com vontade: não se compreende mais força enquanto tal, recai-se
no mecanicismo.

-“A força é quem pode, a vontade de potência é quem quer.”

-As relações de forças permanecem indeterminadas sem a vontade de potência

-Vontade de potência é elemento genealógico da força e das forças. É pela VP que uma força prevalece, domina,
sobre outras. E é também por ela que uma força obedece.

-Como se dá a relação entre VP e ER?

-Nietzsche e Kant

2.7 A terminologia de Nietzsche

-O acaso é o relacionamento das forças. A VP é o princípio determinante dessa relação, em quantidade e qualidade.

-Problema da interpretação: dado um fenômeno, estimar a qualidade da força que lhe dá sentido.

-Elementos qualitativos fluentes, primordiais, seminais. “ativo e reativo designam as qualidades originais da força,
mas afirmativo e negativo designam as qualidades primordiais da vontade de potência.

-Há afirmação em toda ação, negação em toda reação. Mas ação/reação são antes meios, instrumentos da VP. Algo
que às forças ultrapassa.

-Afirmação e negação são qualidades imediatas do próprio devir. Afirmação não é ação, mas poder de se tornar
ativo; devir ativo em pessoa. Negação é um devir reativo

-Como se A/N fossem ao mesmo tempo imanentes e transcendentes em relação às forças. Constituem a corrente do
devir com a trama das forças.

-Afirmação nos faz entrar no mundo de Dionísio, o ser do devir; a negação nos precipita no fundo de onde saem as
forças reativas.

-Interpretar: determinar a força que dá sentido à coisa. Avaliar: determinar a VP queda valor à coisa. Assim, não se
deixam abstrair do ponto de vista.

-Na quebra dos receptáculos, só as estátuas de nobreza se reformam, assim como os membros esparsos de Dionísio.

-O decaimento da filosofia crítica dos valores, assumida pelos escravos: bajulações, ressentimento (guardião da
ordem estabelecida, dos valores em curso), esquecimento das qualidades, esquecimento das origens.

-Princípio = criar
2.8 Origem e imagem invertida

-Na origem existe a diferença entre as forças ativas e reativas

-A relação entre ação e reação não é de sucessão, mas de coexistência na própria origem.

-Força reativa, mesmo obedecendo, limita a força ativa, impõe-lhe limitações e restrições parciais, já está possuída
pelo espírito do negativo.
-A origem comporta uma Imagem invertida de si mesma

-Inversão do olhar apreciador


-Genealogia, nas lentes invertidas, torna-se evolução – dialética ou utilitária
-Negam, desde origem, a diferença na origem.
- “mediocridade do pensamento” para N, a mania de interpretar ou avaliar os fenômenos a partir de forças reativas.
-Esta própria mania tem sua origem na origem, na imagem invertida. Consciência, um aumento desta imagem
reativa.
-O passo seguinte: dado certas circunstâncias, as forças reativas sobrepujem e neutralizem a ativa. Saímos da origem
– um desenvolvimento da imagem, uma inversão dos próprios valores.
-Trunfaram pela vontade negativa, pela vontade de nada que desenvolve a imagem
-No triunfo das forças reativas, elas não se tornam ativas – elas decompõem, separam a força ativa do que ela pode,
subtraem o poder, juntando a si a força ativa, tornando-a reativa em um novo sentido.
-Dois significados de reação
-A separação repousa sobre uma ficção, mistificação ou falsificação. Na operação da subtração, sempre há algo
imaginário.
-Transcrição matemática (em termos de positivo e negativo)
-Uma ficção separa a força ativa do que ela pode, é exatamente por este meio que ela se torna reativa.
-Vil, ignóbil, escravo. Forças reativas que se colocam no alto, atraem a força ativa para uma armadilha, substituindo
os senhores por escravos que não param de ser escravos.

2.9 Problema da medida de forças


-Quantidade e qualidade não podem ser determinadas com uma unidade abstrata, baseados numa suposta
realidade do sistema
-O resultado da luta não é suficiente pra concluir quem é ativo e reativo. Por vezes as coisas terminam em
detrimento dos fortes; Interpretação: tais forças vencem enquanto dominadas ou dominantes? “Neste domínio não
há fatos, só há interpretações.”; ato fundamental de uma física concreta (não abstrata), arte de interpretar
-Cálicles e Sócrates. O sofista e o dialético. Distinção natureza e lei. Lei é tudo que separa uma força do que ela pode;
os fracos não compõem uma força mais forte, e desejo (natureza, força forte), não é associação de prazer e dor
(somente reações, propriedades das forças reativas, atestados de adaptação ou desadaptação).
-Reativo é tudo que separa uma força, e também o estado de uma força separada do que pode.
-Ativa é toda força que vai até o fim de seu poder. Ir até o fim como o contrário de uma lei.

2.10 A hierarquia
-Os livres pensadores como os ‘Sócrates’ de Nietzsche: Acham que o vitorioso é o mais forte
-O positivismo e humanismo do livre-pensador: Faitalisme (fatalismo, factualismo): impotência em
interpretar, ignorância das qualidades da força. Toda força humana, todo fato humano é aplaudido, sem se
perguntar a origem. Esses fatos aplaudidos se assemelham mais “a um bezerro do que a um deus”.
-Oposição livre-pensador – espírito livre. “Não há fatos, nada além de interpretações.”
-Crítica a diferentes ideologias com essa oposição: positivismo, humanismo, dialética.
-Duplo sentido de hierarquia: da diferença entre as forças, e entre as forças reativas que separam as ativas do que
elas podem: o reino da lei e da virtude. São como que inversos.
-Não é o menos forte que é o escravo, mas aquele que está separado do que pode: “a medida das forças e sua
qualificação não dependem em nada da quantidade absoluta, e sim da efetuação relativa.
-Três passos para julgar as forças, levar em conta:

11. Vontade de poder e sentimento de poder


-Duplo aspecto da VP: “determina a relação das forças entre si, do ponto de vista da gênese e da produção das
forças, mas é determinada pelas forças em relação, do ponto de vista de sua própria manifestação.”
-VP como sensibilidade da força, poder de ser afetado.
-O poder de ser afetado (VP) é realizado necessariamente, e a força entrará numa história ou num devir sensível
(mesma coisa?)
-Não basta confrontar os caracteres de força ativa e reativa. Vários vir-a-ser de forças podem lutar uns contra outros.
Vontade de potência é sensibilidade de forças, e também devir sensível das forças (devir das próprias qualidades das
forças), como qualidade da vontade de potênca em pessoa. As qualidades da força não podem ser abstraídas de seu
devir.

2.12 O devir reativo das forças


- “Não se deve dizer que a força ativa torna-se reativa porque as forças reativas triunfam; ao contrário, elas triunfam
porque, ao separarem a força ativa do que ela pode, abandonam-na à vontade de nada como a um devir-reativo
mais profundo do que elas mesmas.”
-Por que só sentimos e conhecemos um devir-reativo? O homem é essencialmente reativo. Uma nova sensibilidade
-O homem, ser reativo, e o eterno retorno. Eterno retorno se torna angústia e a angústia para com o eterno retorno
do pequeno homem. Ele põe a contradição no eterno retorno. A serpente, animal do eterno retorno, se torna a
“pesada serpente negra”, na boca. Como o ser do devir poderia se afirmar de um devir niilista?
-Cortar e cuspir a cabeça da serpente. O pastor estava transformado, aureolado, e ria como jamais se riu. Um outro
devir, uma outra sensibilidade: o super-homem.
2.13. Ambivalência do sentido e dos valores.
-A doença revela-nos um novo poder, abrem um ponto de vista. Separam-nos de nosso poder, mas dão-nos ao
mesmo tempo um outro poder, quão “perigoso”, quão “interessante”.
-A força reativa não é só uma: uma separa-me do que posso, outra me dota de um novo poder. Mudam de nuance
conforme desenvolvam mais ou menos seu grau de afinidade com a vontade de nada.
- “Uma força reativa que, ao mesmo tempo, obedece e resiste: uma força reativa que separa a força ativa
do que ela pode; uma força reativa que contamina a força ativa, que a arrasta até o fim do devir-reativo, na vontade
do nada; uma força reativa que foi inicialmente ativa mas que se tornou reativa, separada de seu poder, depois
arrastada para o abismo e voltando-se contra si”
-Problema da interpretação: interpretar em cada caso o estado das forças reativas, isto é, o grau de
desenvolvimento que elas atingiram na relação com a negação, com a vontade de nada. Esse problema recai
também sobre as forças ativas. E assim,
-Forças reativas grandiosas e forças ativas que caem: a avaliação apresenta ambivalências ainda mais profundas do
que as da interpretação.
-Parte extremamente importante na avaliação da genealogia. Tento sintetizá-la com: avaliar a potência de forças
ativas, afirmativas, através do poder da doença. O doente que encara a afirmação e julga se ela é forte como o
doente, se ela segue na afirmação suficientemente. E o outro lado é, a afirmação plena observando até onde a
doença consegue se afirmar, quais são as honras de sua vitória em sua vontade pelo nada.
-Mas uma força ativa que vai até o fim do que ela pode não se torna ativa. Não deixemos essa ambivalência dos
sentidos e valores nos confundir. Suas últimas consequências são em relação à negação, à vontade de nada, seu
niilismo. E não com uma afirmação.

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