• Crítico da tradição filosófica e de seus valores
• Filosofia afirmativa da vida
Nietzsche: Apolo e Dionísio Tragédias: equilíbrio entre espírito apolínio e espírito dionisíaco. Apolo: deus da racionalidade, da medida, da ordem. Dionísio: deus da música, da dança, da embriaguez, deus que não habita o Olimpo, mas a natureza; deus da força vital, da alegria e do excesso.
Surgimento da filosofia socrática: triunfo do espírito apolínio sobre o dionisíaco.
A história da tradição filosófica é a história do triunfo do espírito apolínio em detrimento do dionisíaco. Sócrates: o homem de uma visão só que instaura o predomínio da razão, da racionalidade argumentativa, da lógica, do conhecimento científico e da demonstração. Nietzsche: Apolo e Dionísio • Com a filosofia socrática o homem perde sua proximidade com a natureza, com suas forças vitais, com seu corpo, com seu si-mesmo (Selbst) enquanto vir-a-ser. • O desejo e a afirmação da vida são progressivamente reprimidos. • O advento do cristianismo reforçará esta direção com o espírito do sacrifício e da submissão, com o pecado e a culpa. • Nossa cultura ocidental se constrói sobre “forças reativas”, por isso é fraca e decadente. • Kant funda filosoficamente a responsabilidade (o dever) para manter a existência humana atrelada à culpa, ao castigo e a expiação. Nietzsche: tipo aristocrático e tipo ressentido • Tipo aristocrático: predominantemente ativo e afirmativo. A partir de um sentimento de plenitude e excesso, a força valorativa cria, projeta- se para fora. • “Toda moral nobre nasce de um triunfante Sim a si mesma [...] o nobre age e cresce espontaneamente, busca seu oposto apenas para dizer Sim a si mesmo com ainda maior júbilo e gratidão”. • “Naturezas fortes e plenas, em que há excesso de força plástica, moderadora, regeneradora, propiciadora do esquecimento.” Nietzsche: tipo ressentido • Os fracos vencem sua depressão, sua doença juntando-se ao rebanho e transformando a fraqueza em virtude. • “os oprimidos, pisoteados, ultrajados exortam uns aos outros, dizendo, com a vingativa astúcia da impotência: ‘sejamos outra coisa que não os maus, sejamos bons! E bom é todo aquele que não ultraja, que não fere, que não ataca, que não acerta contas ... que se mantém na sombra como nós, que foge de toda maldade e exige pouco da vida, como nós, os pacientes, humildes e justos’” • “A fraqueza é mentirosamente mudada em mérito ... e a impotência que não acerta contas é mudada em ‘bondade’” Nietzsche: tipo ressentido • “Enquanto toda moral nobre nasce de um triunfante Sim a si mesma, já de início a moral escrava diz Não a um “fora”, um “outro”, um “não- eu” – e este Não é seu ato criador. Esta inversão do olhar que estabelece valores – este necessário dirigir-se para fora, em vez de voltar-se para si – é algo próprio do ressentimento: a moral escrava sempre requer, para nascer, um mundo oposto e exterior, para poder agir em absoluto – sua ação é no fundo reação.” Nietzsche: tipo ressentido • Trata-se da vontade de igualdade, contra tudo que tem poder. • “Vingança vamos praticar, e difamação de todos que não são iguais a nós” – assim juram os corações das tarântulas. • “E ‘vontade de igualdade’ – esse mesmo será doravante o nome para ‘virtude’; e contra tudo que tem poder levantaremos nosso grito!” • “Ó pregadores da igualdade, é o delírio tirânico da impotência que assim grita em vós por “igualdade”; vossos mais secretos desejos tirânicos assim se disfarçam em palavras de virtude!” Nietzsche: tipo ressentido • Ainda há um importante aspecto para a constituição do tipo ressentido: todo seu ódio deve voltar contra si mesmo, tarefa realizada pelo sacerdote asceta. • “‘Eu sofro: disso alguém deve ser culpado’ – assim pensa toda ovelha doente. Mas seu pastor, o sacerdote ascético, lhe diz: ‘Isso mesmo, minha ovelha! Alguém deve ser culpado: mas você mesma é esse alguém – somente você é culpada de si! ... ‘ Isso é ousado bastante, falso bastante: mas com isto se alcança uma coisa ao menos, com isto, como disse, a direção do ressentimento é – mudada.’” Nietzsche: tipo ressentido • Desenvolve-se então um novo prazer: de infligir dor em si mesmo: • “a terra é a estrela ascética por excelência, um canto de criaturas descontentes, arrogantes e repulsivas, que jamais se livram de um profundo desgosto de si, da terra, de toda a vida, e que a si mesmas infligem o máximo de dor possível, por prazer em infligir dor – provavelmente o seu único prazer.” Nietzsche: teoria do ressentimento • Trata-se de usar a força, a própria agressividade, contra a origem da própria força: • “uma vida ascética é uma contradição: aqui domina um ressentimento ímpar, aquele de um insaciado instinto e vontade de poder que deseja senhorear-se, não de algo da vida, mas da vida mesma, de suas condições maiores, mais profundas e fundamentais; aqui se faz a tentativa de usar a força para estancar a fonte da força; aqui o olhar se volta, rancoroso e pérfido, contra o florescimento fisiológico mesmo, em especial contra a sua expressão, a beleza, a alegria; enquanto se experimenta e se busca satisfação no malogro, na desventura, no fenecimento, no feio, na perda voluntária, na negação de si, autoflagelação e autosacrifício. ... torna-se inclusive mais triunfante e confiante à medida que diminui o seu pressuposto, a vitalidade fisiológica.” Nietzsche: tipo ressentido • É uma loucura da vontade, vontade de se sentir desprezível, de ser castigado, de se torturar. • “Há uma espécie de loucura da vontade, nessa crueldade psíquica, que é simplesmente sem igual: a vontade do homem de sentir-se culpado e desprezível, até ser impossível a expiação, sua vontade de crer-se castigado, sem que o castigo possa jamais equivaler a culpa [dívida], sua vontade de infectar e envenenar todo o fundo das coisas com o problema do castigo e da culpa, para de uma vez por todas cortar para si a saída desse labirinto de “idéias fixas”, sua vontade de erigir um ideal – o do “santo Deus” – e em vista dele ter a certeza tangível de sua total indignidade.” Nietzsche: Ética: estética da existência • Nietzsche propõe no entanto uma outra ética que não a do Dever, da culpa e da responsabilidade. • A “auto-supressão” da moral cristã e do ressentimento, a supressão do sentimento de culpa abre o horizonte para a inocência da existência, para a afirmação incondicional da totalidade da vida, da justificação estética da existência do mundo e nele da existência humana. • Tornar-se o que se é, quer dizer, compreender-se como um vir-a-ser, um ser conquistado e adquirido nas vicissitudes da vida, nos encontros com os outros, uma tarefa que implica primeiramente em desgarrar-se do próprio “eu”, da consciência, e seguir o fio condutor da grande razão do corpo, um organismo composto por alianças, oposições e hierarquias. Nietzsche: a estética da existência • A honestidade intelectual, a busca pela verdade, autosuprimiu as próprias bases da verdade. • “A vontade de verdade teria tomado consciência de si mesma como problema”. • O ressentimento se autosuprime, no niilismo. • Trata-se então da possibilidade do Além do homem, da abertura de novos horizontes para a aventura humana na história.