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Mas seria igualmente tão inevitável quanto previsível que um tal artigo
(se) colocasse a (e à) disposição para articular a pertinência e atualidade
deste legado. É uma operação em que a memória atiça o exemplo
regenerador.
Pensar nos 50 anos da morte de André Bazin faz pensar nos últimos e nos
próximos 50 anos da existência da própria crítica de cinema.
Teoria que até explica o fascínio que a arte do filme exerce há mais de cem
anos. Não é possível pensar estetica e historicamente o cinema sem a
“ontologia da imagem” de Bazin. Que, por sua vez, é crucial para se
entender o cinema que surge após quase findar a era da natureza de índice
(fotográfico) da imagem, o chamado cinema digital, pós-fílmico.
Haveria hoje algum crítico de cinema capaz de cumprir o pão diário das
resenhas e fermentar uma teoria do cinema (além de traçar “a evolução da
linguagem do cinema”, título de um de seus artigos)? Pois Bazin resenhava
na imprensa de grande circulação e em revistas especializadas, quando
bolou uma das teorias mais fecundas e duradouras para o cinema e a
fotografia.
Não foi por acaso que André Bazin salvou da delinquência o pequeno
moleque marginal François Truffaut e o transformou no crítico que
assinaria o polêmico “Uma certa tendência do cinema francês” e que,
depois, seria diretor de filmes, um dos mais respeitáveis da França. A
conduta adotiva fazia parte da pedagogia do crítico de cinema.
É curioso e fatídico acaso que "Os Incompreendidos", o filme de Truffaut
que arrebentaria a Nouvelle Vague na tela de Cannes, tenha começado a
ser filmado na mesma noite que Bazin morreu. O filme foi dedicado a
Bazin, que não teve tempo de ver os caminhos e descaminhos, entre
radicalizações políticas e e(s)téticas temperadas por intrigas, seguidos
por seus pupilos.
Bazin também foi baliza para outro elemento "bande à part". Colin
MacCabe defende a hipótese (no livro ''Um Retrato do Artista aos 70") de
que todo o cinema de Godard pode ser explicado à luz de Bazin. Godard
não se cansou de bisar uma idéia seminal de Bazin como epígrafe de seus
filmes –está, por exemplo, em "O Desprezo" (1963) e "História(s) do
Cinema" (1998): “O cinema substitui ao nosso olhar um mundo que está
em acordo com nosso desejo”.
1. Saber escrever
3. Saber ler o texto e entender o contexto
4. Saber articular seu repertório em função da obra
5. Saber ter generosidade, desinteresse, honestidade
Publicado em 17/3/2009
Carlos Adriano
É cineasta e doutor em ciências da comunicação pela USP. Todos os seus
filmes foram apresentados no 56º Festival de Locarno (seção "Cineastas
do Presente") e no 16º Videobrasil (sala no eixo curatorial "Cinema Vídeo
Arte"). Realizou "Remanescências" (coleção New York Public Library), "A
Voz e O Vazio: A Vez de Vassourinha" (melhor curta documentário Chicago
Film Festival) e "Militância" (exibido no MoMA, Nova York). Teve roteiros
premiados por Petrobras, Ministério da Cultura e Bolsa Vitae. Com
Bernardo Vorobow é autor do livro "Peter Kubelka: A Essência do Cinema"
e organizador de "Julio Bressane: CinePoética".